segunda-feira, 3 de outubro de 2022

ALIADOS DE BOLSONARO VENCEM EM VÁRIOS CARGOS E MESMO ASSIM LULA TEM MUITOS VOTOS

Eleições e pesquisas

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


O ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas foi um dos vários aliados de Bolsonaro a ter votação expressiva no primeiro turno.| Foto: Douglas Gomes/divulgação

Vamos para o segundo turno em 30 de outubro – para presidente e governador em alguns estados. Andei fazendo as contas e cheguei a 30 milhões de eleitores que não foram votar, que deixaram que os outros decidissem por eles. Achei estranho o resultado, porque esperava uma decisão em primeiro turno a favor de Bolsonaro, pelo amarelo que vi nas filas de votação no Brasil inteiro, não apenas em Brasília. E pelas manifestações de um lado e de outro: a tradicional militância do PT estava silenciosa, discreta, enquanto os “amarelos” estavam todos exibindo a bandeira nacional, festejando.

Mas a votação acabou com esse resultado em que Lula termina com 5 milhões de votos à frente de Bolsonaro, e ficamos nos perguntando de onde saíram esses votos. Porque, se olharmos as eleições estaduais, Bolsonaro elegeu quase todos os seus candidatos a governador e senador, com exceção de alguns – a mais marcante delas, a do meu amigo Gilson Machado, em Pernambuco, que fez uma excelente campanha para o Senado, mas não conseguiu a vaga.

Em toda parte, auxiliares do presidente venceram: a ex-ministra Damares Alves foi um trator em Brasília, fez quase o dobro dos votos da Flávia Arruda. Bia Kicis, uma das maiores apoiadoras de Bolsonaro, foi a mais votada no Distrito Federal para deputada federal, e o mesmo quase aconteceu com a Carla Zambelli, em São Paulo, a maior apoiadora do presidente na Câmara, que ficou em segundo. Magno Malta, ligadíssimo a Bolsonaro, volta ao Senado. Gustavo Gayer, que é conhecido apoiador do presidente nas redes sociais, foi o segundo mais votado em Goiás. Tereza Cristina, no Mato Grosso do Sul, teve quatro vezes mais votos que o ex-ministro Mandetta para o Senado. O Capitão Contar, que teve o apoio de Bolsonaro “renovado” no último debate, vai para o segundo turno.


No Rio, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello foi o deputado federal mais votado, e Romário foi reeleito senador; Cláudio Castro foi reeleito governador com o dobro de votos de Marcelo Freixo. No Rio Grande do Norte, Rogerio Marinho, também ex-ministro de Bolsonaro, foi eleito senador; no Rio Grande do Sul, e o atual vice de Bolsonaro, general Mourão, ganhou para o Senado e o ex-ministro Onyx Lorenzoni vai para o segundo turno contra o ex-governador Eduardo Leite. O deputado Hiran Gonçalves, grande apoiador de Bolsonaro na Câmara, derrotou Romero Jucá e será senador por Roraima. O ex-secretário da Pesca Jorge Seif se elegeu senador por Santa Catarina, derrotando veteranos como Raimundo Colombo e Dario Berger. Jorginho Mello, outro aliado de Bolsonaro no Senado, vai para o segundo turno contra o PT para o governo catarinense.

Em São Paulo, nem se fala. As pesquisas diziam que Tarcísio de Freitas e o astronauta estavam lá atrás; pois Marcos Pontes foi eleito senador com 50% dos votos e Tarcísio vai para o segundo turno já com uma diferença grande sobre Haddad. Lembro, ainda, das pessoas que ficaram contra Bolsonaro: Katia Abreu teve três vezes menos votos que a professora Dorinha em Tocantins. E a Lava Jato foi vitoriosa no Paraná, onde Ratinho Junior fez mais que o dobro dos votos de Roberto Requião. Sergio Moro deixou Alvaro Dias em terceiro lugar para o Senado, e Deltan Dallagnol foi o mais votado para deputado federal. São resultados cheios de significado.

Em Minas, o segundo maior colégio eleitoral, Zema passeou, reeleito em primeiro turno. O pessoal todo votou pra senador no Cleitinho Azevedo. Para deputado, no Nikolas Ferreira; como é que toda essa gente vai votar no Lula? Mas Lula venceu em Minas, e foi fundamental esse resultado dele no primeiro turno. Então, fica essa dúvida sobre de onde vieram tantos votos para o PT.

E as pesquisas erraram. Nove pesquisas davam entre 31% e 39% para Bolsonaro – no Datafolha, 33%; no Ipec 31% – e ele teve mais de 43%. É tudo difícil de digerir por enquanto.


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PARTIDO DO PRESIDENTE BOLSONARO ELEGE A MAIOR BANCADA DO SENADO

Vitória bolsonarista
Senado: veja como fica a distribuição de forças
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília


Senado é historicamente visto como a casa dos parlamentares mais experientes| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

As eleições deste domingo (2) indicaram os ocupantes de 27 cadeiras do Senado e consagraram o partido do presidente Jair Bolsonaro. O PL fez 6 senadores e agora tem 14 representantes no Senado, a maior bancada da casa.

A vice-liderança fica com o PSD, que ficará com 11 nomes. A terceira posição é do União Brasil, de 10 senadores.

Composição do Senado em 2022

Fonte: TSE. Mais infográficos

O ambiente pró-Bolsonaro que o Senado passará a ter em 2023 diverge do cenário atual, em que a casa, embora não seja exatamente dominada pela oposição, fez jogo duro para o presidente durante todo o mandato do atual chefe do Executivo.

O Senado, por exemplo, instalou a CPI da Covid, que foi conduzida por adversários de Bolsonaro, e não avançou com pedidos de impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), uma demanda do presidente e seus aliados. O presidente do Senado é Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que em muitas vezes divergiu publicamente de Bolsonaro, especialmente em assuntos ligados às urnas eletrônicas e à segurança do processo eleitoral.

O Senado tem 81 membros e faz sua renovação de forma alternada: em uma eleição são selecionados um representante para cada estado e para o Distrito Federal, totalizando 27 parlamentares, e na seguinte são dois para cada unidade da federação, o que resulta em 54 vagas. Os eleitos tomarão posse em fevereiro.

A renovação de 2022 pode ser maior, caso os senadores que disputam as eleições para os governos de seus estados sejam vitoriosos. Estão na disputa do segundo turno os senadores Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Braga (MDB-AM), Rogério Carvalho (PT-SE) e Rodrigo Cunha (UB-AL). Se eles vencerem, seus primeiros suplentes assumem os mandatos.

Como está o Senado hoje

Atualmente, a maior bancada do Senado é a do MDB, que tem 13 representantes. Na relação estão desde parlamentares eleitos em 2014 e 2018 e também suplentes que estão no exercício do mandato, como Ivete da Silveira (SC) e Luiz Pastore (ES).

A segunda colocação é do partido do presidente do Senado, o PSD. Além de Pacheco, a agremiação conta com outros 11 representantes. Três deles buscaram a renovação de seus mandatos neste domingo, Alexandre Silveira (MG), Otto Alencar (BA) e Omar Aziz (AM). Alencar e Aziz venceram a eleição e Silveira foi derrotado.

PP e Podemos, ambos com oito nomes cada, têm as terceiras maiores bancadas. O único nome do Podemos que disputou a reeleição foi Alvaro Dias (PR), que acabou derrotado. Lasier Martins (RS) concorreu a uma vaga de deputado e os demais estão na metade de seus mandatos.

Os partidos de Lula e Bolsonaro, PT e PL, têm sete senadores cada, assim como o União Brasil, da agora ex-presidenciável Soraya Thronicke (MS).

Confira a relação dos eleitos em 2022
AC
Alan Rick (União Brasil)

AL
Renan Filho (MDB)

AP
Davi Alcolumbre (União Brasil)

AM
Omar Aziz (PSD)

BA
Otto Alencar (PSD)

CE
Camilo Santana (PT)

DF
Damares Alves (Republicanos)

ES
Magno Malta (PL)

GO
Wilder Moraes (União Brasil)

MA
Flávio Dino (PSB)

MG
Cleitinho (PSC)

MS
Tereza Cristina (PP)

MT
Wellington Fagundes (PL)

PA
Beto Faro (PT)

PB
Efraim Filho (União Brasil)

PE
Teresa Leitão (PT)

PI
Wellington Dias (PT)

PR
Sérgio Moro (União Brasil)

RJ
Romário (PL)

RN
Rogério Marinho (PL)

RO
Jaime Bagatolli (PL)

RR
Hiran Gonçalves (PP)

RS
General Mourão (Republicanos)

SC
Jorge Seif (PL)

SE
Laércio Oliveira (PP)

SP
Marcos Pontes (PL)

TO
Professora Dorinha (União Brasil)


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/senado-pl-ganha-7-vagas-e-vira-maior-bancada-veja-como-fica-a-distribuicao-de-forcas/
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INSTITUTOS DE PESQUISA FALHAM NAS SUAS PREVISÕES

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Jair Bolsonaro em ato de campanha na véspera do primeiro turno: votação real superou prognósticos da maioria das pesquisas de intenção de voto divulgadas no sábado.| Foto: Sebastião Moreira/EFE

Em uma disputa muito mais equilibrada do que as pesquisas de opinião indicavam, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula (PT) foram para o segundo turno da disputa pelo Palácio do Planalto. Bolsonaro chegou a liderar a apuração durante boa parte do tempo, mas Lula o ultrapassou na metade final da contagem de votos e terminou com cinco pontos porcentuais de vantagem, considerando-se apenas os votos válidos. A estratégia petista de pedir o “voto útil” em Lula para encerrar a disputa já no primeiro turno não prosperou por apenas 1,7 ponto porcentual, a quantidade que faltou para Lula superar a barreira dos 50%.

E, justamente porque este primeiro turno foi mais acirrado que o previsto, novamente o desempenho desastroso dos institutos de pesquisa deve ganhar relevância, a ponto de ter sido destacado na imprensa internacional. A eleição de 2018 foi marcada por erros nada menos que grotescos, em que os resultados reais foram radicalmente diferentes daqueles apontados às vésperas do pleito. Foi assim com os desempenhos de Romeu Zema em Minas Gerais, Wilson Witzel no Rio de Janeiro, e Carlos Moisés em Santa Catarina; ainda que se possa alegar que pesquisas são “retratos de momento”, em nenhum desses casos houve algo que pudesse causar tamanha reviravolta em poucas horas. Os erros foram ainda mais numerosos na disputa para o Senado, na qual, alegou-se à época, o fato de haver duas cadeiras em jogo levou a muitas escolhas de última hora que desbancaram candidatos cuja eleição era dada como certa, como Roberto Requião e Beto Richa no Paraná, Dilma Rousseff em Minas Gerais, José Fogaça no Rio Grande do Sul e Eduardo Suplicy em São Paulo.

Jogar a culpa dos erros de 2018 nas costas de uma suposta volubilidade do eleitor foi apenas uma maneira de empurrar o problema para a frente, e ele volta a explodir bem diante dos institutos, que precisam admitir que o produto que entregam não está correspondendo ao que se promete

Quatro anos depois, houve uma nova série de erros bastante significativos, como o desempenho do ex-ministro Tarcísio Gomes de Freitas (PL), que vai para o segundo turno em São Paulo com sete pontos de vantagem sobre um Fernando Haddad (PT) que era o líder absoluto das pesquisas. Ou a reeleição em primeiro turno do fluminense Cláudio Castro (PL), quando as sondagens davam como certo um segundo turno contra Marcelo Freixo (PSB). A situação não foi diferente em disputas para o Senado – desta vez, sem a desculpa das duas vagas –, em que houve erros significativos em estados como o Espírito Santo, onde Magno Malta (PL) derrotou a líder Rose de Freitas (MDB); Paraná, em que Sergio Moro (União Brasil) venceu e Alvaro Dias (Podemos), líder das pesquisas, terminou em terceiro lugar; São Paulo, onde Marcos Pontes (PL) desbancou Márcio França (PSB) por 13,5 pontos porcentuais de vantagem, quando a pesquisa mais benéfica ao ex-ministro o mostrava rigorosamente empatado com o ex-governador paulista; e Rio Grande do Sul, onde o general Hamilton Mourão (Republicanos) se elegeu senador apesar de figurar em terceiro lugar nas pesquisas.

Por fim, é preciso também mostrar que, assim como ocorrera em 2018, a performance eleitoral de Bolsonaro no primeiro turno foi amplamente subestimada por todos os principais institutos de pesquisa. Enquanto a votação de Lula pode ser considerada dentro da margem de erro das pesquisas, ou muito próxima dela, várias sondagens de véspera colocavam o atual presidente com menos de 40%. Este fato, aliás, chama a atenção para um “padrão” nos erros de 2018 e 2022: os candidatos cujas votações são bem superiores ao projetado pelas pesquisas costumam ser conservadores, de centro-direita ou direita; já aqueles com intenções de voto “infladas” nas pesquisas são seus oponentes de centro-esquerda ou esquerda, como ocorreu agora com os paulistas Haddad e França.


Que isso tenha ocorrido em duas eleições gerais sucessivas é sinal de que existe algo muito grave no mundo dos institutos de pesquisa. O “retrato do momento” está desfocado, distorcido, alterado por lentes coloridas. Na melhor das hipóteses, metodologias equivocadas estão levando a resultados radicalmente diferentes da realidade – algo que deveria ter sido corrigido já a partir de 2018, tamanhas as diferenças entre o que diziam as pesquisas e o que disseram as urnas. Jogar tudo nas costas de uma suposta volubilidade do eleitor foi apenas uma maneira de empurrar o problema para a frente, e ele volta a explodir bem diante dos institutos, que precisam vir a público e fazer seu mea culpa, admitindo que o produto que entregam não está correspondendo ao que se promete.

Também a imprensa, com este episódio, precisa rever o tratamento que dá às pesquisas de intenção de voto. Já há muitos anos a Gazeta do Povo, por exemplo, fez a opção de não destacar como manchetes os resultados de tais pesquisas, limitando-se a apresentar seus dados ao leitor-eleitor como um serviço relevante, pois “os resultados divulgados têm potencial de influenciar decisões de partidos, de lideranças políticas e até mesmo os humores do mercado financeiro”, como escrevemos ao fim de cada publicação com dados de pesquisas eleitorais. Se essa influência está ocorrendo como resultado de números enviesados, mesmo que de forma não intencional, é chegada a hora de outros veículos se questionarem sobre a real dimensão que tais pesquisas merecem em seu noticiário.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/eleicoes-erros-institutos-pesquisa/
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LAVA JATO RESSURGE NO CONGRESSO NACIONAL COM AS PRESENÇAS DE SÉRGIO MORO E DELTAN DALLAGNOL

 

Representatividade

Por
Roger Pereira


O senador eleito Sergio Moro (dir.) ao lado do deputado federal reeleito Felipe Francischini.| Foto: Fernando de Jesus/ Gazeta do Povo

O eleitor do Paraná demonstrou, neste domingo, que mantém apoio à Operação Lava Jato e mandou para o Congresso Nacional os dois principais personagens da maior operação de combate à corrupção da história do país, com votações consagradoras. O juiz da maioria das ações penais que tramitaram na 13ª Vara Federal de Curitiba, Sergio Moro, foi eleito senador pelo estado, enquanto o coordenador da força-tarefa no Ministério Público Federal, Deltan Dallagnol foi o deputado federal mais votado do estado. A bancada ainda será reforçada por Rosangela Moro, mulher do novo senador paranaense, eleita deputada federal em São Paulo.

A eleição para o Senado coroa uma primeira candidatura conturbada de Sergio Moro. O ex-juiz, que estava trabalhando na iniciativa privada, nos Estados Unidos, desde que deixou o Ministério da Justiça, em 2020, voltou para o Brasil em novembro de 2021 para ser o pré-candidato à Presidência da República da “terceira via”. Moro filiou-se ao Podemos, a convite do senador Alvaro Dias, a quem acabou derrotando nesta eleição.

Em abril, o ex-juiz trocou de partido, buscando uma legenda com maior estrutura para seu projeto nacional, filiando-se ao União Brasil, mas, logo, sofreu um revés interno, com o partido barrando sua candidatura a presidente e lançando-o pré-candidato ao Senado por São Paulo. No entanto, seu domicílio eleitoral paulista foi negado pela Justiça Eleitoral e ele acabou disputando a eleição pelo Paraná, polarizando a campanha contra seu ex-padrinho político, Alvaro Dias (Podemos).

Neste domingo, no entanto, Moro teve tranquila vantagem de 10 pontos percentuais sobre Dias, mas travou uma disputa acirrada com Paulo Martins (PL). Moro recebeu pouco mais de 33% dos votos válidos, ante 29% de Martins e 24% de Alvaro Dias. O resultado mostra um acerto da estratégia de campanha de Moro, que focou no eleitor bolsonarista, não tratando, em sua campanha, das desavenças com o presidente que o levaram a sair do governo e nacionalizando seu discurso ao apresentar-se como antagonista ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com isso, o ex-juiz conseguiu conter o crescimento de Martins, candidato oficial de Bolsonaro e do governador reeleito Carlos Massa Ratinho Junior (PSD). Moro também utilizou a estratégia de associar Alvaro Dias à esquerda, explorando a presença do PSB na coligação do adversário, além de uma declaração de petistas sobre “voto útil” no candidato do Podemos para tentar evitar a eleição de Moro.

“Foi uma eleição difícil porque nós lutamos contra todo um sistema político, que não queria a gente em Brasília e, por isso, se posicionou contra nós. Tivemos poucos aliados políticos, mas tivemos aliados valorosos. Vamos retomar a luta pela integridade, pelo combate à corrupção e pela honestidade na política, que é o pressuposto de tudo para gente mudar esse país”, comentou Moro, ao chegar no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná para comemorar a vitória.


“Lava Jato renasceu como uma fênix”

Já Deltan Dallagol seguiu o caminho inicial de Moro, deixando o Ministério Público federal para filiar-se ao Podemos, mas manteve-se no partido mesmo após a mudança de Moro. Chegou à eleição como favorito e confirmou essa condição, sendo o deputado federal mais votado no Paraná, com a segunda maior votação da história, com 344.917 votos. Só Ratinho Junior, em 2010, com 359 mil votos, teve uma votação maior que a recebida por Deltan neste domingo.

“O recado que a sociedade está mandando é um recado claro para os corruptos: que a Lava Jato renasceu hoje como uma fênix. Não das cinzas, mas das urnas, a partir do coração das pessoas. O povo deixou uma mensagem muito clara de que os corruptos não vão nos vencer”, comentou Dallagnol à coluna. “Para a gente analisar o futuro do combate à corrupção vai depender muito da composição do Congresso. Uma, duas, cinco, dez pessoas não vão mudar o Brasil. Por isso, a gente precisa da nossa força e do apoio das pessoas a essa causa, o combate à corrupção”.

Deltan já deixou claro que a eleição deste domingo marca o início de uma carreira política que ele pretender ser de longo prazo. “A capacidade nossa de acabar com o foro privilegiado, de aprovar a prisão em segunda instância e outras medidas contra a corrupção vai depender dessa configuração do Congresso. Se não tivermos um Congresso bom neste momento, vamos ter que lutar por isso para a próxima legislatura. Não adianta a gente achar que a luta contra as injustiças históricas e arraigadas vão ser vencidas da noite para o dia. Precisaremos de anos, décadas, e, novamente, do apoio das pessoas”, afirmou. “Além da pauta do combate à corrupção, defenderemos a reforma política, reforma tributária, reforma administrativa, uma educação com melhores resultados e uma política pública nacional em relação aos autistas. Não saí buscando um cargo. Saí por uma transformação, que sei que será de longo prazo”, concluiu.


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MELHORES CANAIS DE VENDAS

 

BERTHOLDO

Para que o produto, oferecido pelo lojista em sua loja virtual, chegue até o consumidor, um meio de intermediação se faz necessário. Afinal, sem um contato, os clientes nem mesmo conhecerão a loja em questão. É nesse momento que os canais de venda surgem como ferramentas altamente relevantes. Basicamente, eles atuam fazendo a ponte entre o consumidor e o dono de um comércio — seja uma loja física, seja um e-commerce — viabilizando, assim, a interação entre as duas partes.

É importante ressaltar, porém, que a efetividade desses pontos de conexão — entre cliente e lojista — está diretamente relacionada à eficiência com que são utilizados. Pensando nisso, preparamos este conteúdo para apresentar os melhores canais de venda para os donos de e-commerce e listar algumas dicas para que eles sejam usados de maneira mais efetiva. Confira!

Melhores canais de venda

Plataforma própria

Pensando em toda a operação de um e-commerce, é fácil chegar à conclusão de que o canal de venda mais relevante é a sua plataforma própria. Isto é, um site particular devidamente configurado e registrado em nome do dono do negócio.

A grande vantagem de contar com uma plataforma própria é que o lojista tem mais liberdade para oferecer os seus produtos e criar ofertas. Além disso, nesse modelo de operação, ele não precisa lidar com taxas de administração.

O sucesso de uma plataforma própria está diretamente relacionado à qualidade dos produtos, ao seu preço — incluindo o frete — e à divulgação. Nesse contexto, é indispensável que o proprietário crie a sua loja virtual pensando nos motores de busca e no SEO. Além disso, ele deve usar as redes sociais de maneira inteligente para atrair o público para o seu negócio.

Marketplace

Dentre os canais de venda para negócios online, podemos dizer que os marketplaces estão entre os mais tradicionais. Afinal, hoje em dia, é difícil para uma pessoa pensar em fazer compras na internet sem usar algumas plataformas, como a Valeon— mesmo que seja apenas para uma pesquisa de preço.

Esses “shoppings” virtuais abrem espaço para que lojas sejam criadas dentro de sua plataforma. A Valeon não cobra um valor fixo e nem recebe comissão a cada venda realizada, cobramos apenas uma pequena mensalidade. A grande vantagem dos marketplaces é que eles atraem um grande número de visitantes todos os dias. Para transformar esses visitantes em clientes, porém, o lojista precisa se destacar, oferecendo produtos de qualidade e um bom atendimento.

Redes sociais

Atualmente, o lojista não pode separar as redes sociais das estratégias de marketing de seu e-commerce. Afinal, por meio delas, o cliente é capaz não apenas de conferir as novidades em sua loja virtual, mas também de tirar dúvidas e até mesmo de realizar compras. A Valeon divulga o seu Site Marketplace em todas as Redes Sociais.

Nesse cenário, é dever do empreendedor compreender o uso de tais ferramentas e estar presente naquelas mais alinhadas ao modelo da sua loja online. É necessário que ele entenda a melhor linguagem para se comunicar com os seus clientes e que identifique determinados fatores, como o melhor horário para se fazer postagens e a quantidade ideal de publicações por dia.

Melhores canais de venda

Plataformas de Ads

Por mais efetivas que sejam as redes sociais, muitas vezes, a concorrência — e a falta de experiência do lojista — faz com que o seu alcance seja limitado. Nesse contexto, as plataformas de Ads, como o Google Ads e o Facebook Ads, surgem como soluções úteis.

Ao fazer uso delas, o dono de um e-commerce pode impulsionar um post de suas redes sociais para um grande número de pessoas ou fazer com que a sua loja apareça em primeiro lugar nas pesquisas feitas nos motores de busca. Mas, uma vez que a eficiência desses anúncios está diretamente ligada a uma segmentação adequada de público, é importante que o empreendedor compreenda esse fator antes de recorrer a elas.

Plataforma eficiente

Outro fator importante — quando pensamos nos recursos essenciais no e-commerce — é a plataforma em que ele será hospedado, o Servidor. O que faz todo o sentido, quando levamos em consideração que a plataforma será responsável por armazenar e garantir a eficácia de todas as funções da loja online. Nesse aspecto o Site da Valeon está hospedado na melhor plataforma disponível no momento.

O ideal é que o lojista opte por uma plataforma moderna, compatível com ferramentas — como o envio de e-mail marketing — e amigável com as boas práticas de SEO. Além disso, a plataforma em questão deve ser capaz de se adaptar ao crescimento do e-commerce, garantindo suas funcionalidades conforme o número de vendas, e de acessos, aumenta.

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domingo, 2 de outubro de 2022

QUEM VAI GANHAR AS ELEIÇÕES?

 

Hora da decisão

País chega ao 1.º turno polarizado e com dois projetos para escolher
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília


Os candidatos a presidente Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: EFE/Joédson Alves; Sérgio Dutti/PSB

O Brasil chega ao primeiro turno da eleição presidencial de 2022, neste domingo (2), com 11 opções na urna, mas é quase certo que o resultado caminha para duas possibilidades: a volta ao poder do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou a reeleição de Jair Bolsonaro (PL).

Há seis anos, em março de 2016, o atual presidente viajou a Curitiba e, em manifestação perto da sede da Polícia Federal, soltou foguetes para comemorar a condução coercitiva de Lula, que prestaria seu primeiro depoimento à Operação Lava Jato. Já naquela data, Bolsonaro falava como candidato à Presidência da República: “Pela primeira vez a direita vai mostrar sua cara. Temos propostas e temos voz. O processo da roubalheira do PT era um projeto político, que graças a Deus está acabando”, afirmou, em declaração à Gazeta do Povo.

Dois anos depois, em 2018, Lula começaria a cumprir a sua pena de 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e Bolsonaro seria eleito presidente da República. O petista nunca recebeu um veredito de absolvição – como tenta insistentemente sugerir ao longo desta campanha –, e as provas de sua participação em um megaesquema de corrupção com o objetivo de perpetuar o PT no poder continuam sendo robustas; mas, em uma sequência de decisões controversas com inegável teor político, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou a condenação dele em 2021 e definiu que Lula poderia se candidatar.

No meio-tempo das decisões do Supremo que recolocaram Lula no jogo, a pandemia da Covid-19 criou problemas inesperados para Bolsonaro. O presidente precisou lidar com os efeitos socioeconômicos das medidas de isolamento social, ao mesmo tempo em que entrava em intenso conflito com políticos de dentro e fora do governo, formadores de opinião influentes e o próprio STF por conta de seus posicionamentos polêmicos sobre lockdown, vacinas e tratamento para a Covid.

Mesmo após a passagem de Lula pela prisão e os efeitos negativos da pandemia sobre a imagem de Bolsonaro, a sensação de que a eleição estaria polarizada entre os dois cresceu progressivamente no país, seja pela falta de apelo popular dos vários políticos que se apresentaram como potenciais alternativas – a chamada “terceira via” –, seja pelo carisma das duas figuras que chegam como favoritas à disputa deste domingo.

A votação para as eleições de 2022, que ocorrerá de forma simultânea em todo o Brasil, começa às 8h do horário de Brasília e vai até as 17h deste domingo.


Terceira via não conseguiu furar polarização
O ex-juiz Sergio Moro (União Brasil), o ex-governador de São Paulo João Doria (PSDB), a senadora Simone Tebet (MDB) e o candidato Ciro Gomes (PDT) foram todos cogitados como possíveis alternativas à polarização entre Bolsonaro e Lula. Nenhum deles chegou próximo de vingar. Moro e Doria nem mesmo se tornaram candidatos a presidente.

Para o cientista político Christian Lohbauer, a dificuldade de se constituir uma terceira via nestas eleições começa no fato de que os dois principais candidatos são grandes conhecidos do público. “É uma eleição plebiscitária. É uma disputa em que o povo elege entre duas histórias de vida”, afirma. “Algo inédito é que um ex-presidente concorre contra um presidente. As pessoas, o cidadão comum, conhecem muito essas figuras. Para alguém aparecer como terceira via, teria que ser uma figura com a mesma dimensão. E não tem. Isso contribui para dificultar a terceira via.”

Para além da popularidade dos dois, contudo, Lohbauer vê outro empecilho para a terceira via: a sua falta de organização e de carisma. “Esse movimento forçado, de gente bacana, bonita e cheirosa, para lançar um candidato de terceira via não tem mais força política nenhuma. Me choca alguém achar que vai organizar uma coisa desse tipo 90 dias antes da eleição. Não vai mesmo. Estava na cara que ia acontecer isso. Lançar uma candidatura como a da Simone Tebet – que é uma figura respeitável, tem uma carreira política, teve cargos públicos relevantes, não é de São Paulo e Rio, ou seja, [tem] todo um perfil bonitinho… Mas você achar que vai pegar uma figura como essa, que 90% dos brasileiros não sabiam quem era… Não vai chegar nem a 5%. Como eles acham que vão lançar uma candidatura como essa em três meses? O cidadão olha e fala: ‘Quem é essa? De onde ela apareceu?’ Os próprios políticos falam: ‘Quem é essa? Já conversou comigo?’ Querem achar que vão resolver um problema aos 47 do segundo tempo. Não vão. Vai ser Bolsonaro e Lula mesmo”, comenta.

Paulo Kramer, doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), aponta também a identificação dos principais nomes da terceira via com um modo de fazer política que não é mais capaz de atrair o eleitor brasileiro. “A terceira via, para o eleitor médio, tem muito aquela cara da velha política, que o eleitorado, de uma maneira geral, repudia. Na política, a interpretação vale mais do que os fatos. Sabemos que nem Lula nem Bolsonaro são ‘outsiders’. Sabemos que ambos estão dentro do sistema já há muito tempo. Mas, de qualquer maneira, eles conseguem projetar para seus públicos a imagem de que eles são antissistema, coisa que os candidatos da chamada terceira via não conseguem.”

Lula e Bolsonaro continuam com um forte poder de mobilização do povo, cada qual a seu modo, observa o sociólogo Lucas Azambuja, professor do Ibmec-BH. “A máquina de mobilização do PT, por mais que talvez não seja do mesmo tamanho que foi no passado, ainda exerce influência – principalmente quando ela tem do lado, de maneira consciente ou inconsciente, a colaboração de artistas, de alguns jornalistas e de parte das instituições de ensino que transmitem certa visão de mundo”, diz.

“Já o Bolsonaro soube capitalizar muito bem este momento que a gente vive hoje na política em que a mobilização é muito mais importante através das redes sociais e com a linguagem de redes sociais do que a mobilização característica do PT, que é a mobilização de bar, de associações, de sindicatos e tudo mais”, complementa Azambuja.

Para Lohbauer, Bolsonaro e Lula têm algo muito parecido: a capacidade de transmitir proximidade com o povo. “O Lula é um encantador de serpentes, um mago, um Macunaíma, um mentiroso, que cumpre o ideal weberiano do populista demagógico já conhecido universalmente. E o Bolsonaro fala uma linguagem muito próxima das pessoas, faz umas piadinhas inconvenientes, ignora o plural… Isso, se não for natural, vai ser identificado como mentiroso e não vai ter efeito. Se for autêntico, é muito poderoso”, comenta.

O aumento da popularidade de Bolsonaro no Brasil coincidiu com a ascensão, na opinião pública, das chamadas pautas de costumes – isto é, um conjunto de temas relacionados a valores fundamentais cuja discussão era monopolizada por formadores de opinião de esquerda e que a velha política não se interessava em abordar: aborto, ideologia de gênero, liberdade de expressão, porte de armas, drogas, enfrentamento da violência etc.

“Principalmente na eleição de 2018, Bolsonaro tinha um discurso muito coerente com uma parcela expressiva da população que começou a não ter medo de se definir como direita, de se identificar com pautas conservadoras”, diz Azambuja.

De olho nessa parcela do eleitorado, Lula fez alguns movimentos para tentar atrair evangélicos e, pela primeira vez, sentiu a necessidade de falar com frequência em Deus durante a campanha. O petista, no entanto, deixou escapar falas que tendem a repelir de imediato grande parte dos cristãos do país. Deixou claro, por exemplo, que simpatiza com a ideia de expandir o direito ao aborto, e não conseguiu reprimir sua essência marxista, reiterando durante a campanha o mesmo tipo de discurso de estímulo ao conflito que marcou toda sua carreira política.

Em relação ao combate ao narcotráfico e à violência urbana, o petista já sugeriu que pretende retomar ideias falidas que levaram o país aos maiores índices de homicídios de sua história, afetando especialmente os pobres. Lula propõe menos rigor na repressão e uma “atualização de doutrinas” na formação dos profissionais de segurança pública, aderindo a um discurso cada vez mais comum na extrema-esquerda de aversão à classe policial e racialização do debate sobre a violência.

“Com essa história de jogar brancos contra pretos, nordestinos contra sulistas, ricos contra pobres, MST contra o agronegócio, quem instaurou esse clima [de conflito] no país foi o lulopetismo. E tem provado do seu próprio veneno nos últimos quatro ou cinco anos”, afirma Paulo Kramer.

Para o cientista político, o fato de Bolsonaro e Lula exacerbarem com mais clareza duas visões de mundo conflitantes é o motivo principal pelo qual os dois chegam como favoritos à Presidência. “Eles traduzem melhor e com mais eloquência do que qualquer outro candidato duas visões antagônicas de Brasil. A terceira via fica naquela coisa morna, nem lá nem cá. Muito embora a gente tenha no Parlamento um multipartidarismo exacerbado, quando se trata das disputas para o Executivo, o que a gente tem é o ‘contra’ e o ‘a favor’. É sempre assim.”

Bolsonaro e Lula opõem busca por liberalização da economia contra Estado regulador

Na economia, Bolsonaro e Lula também apresentam, ao menos à primeira vista, visões opostas do que seria ideal para o Brasil.

Bolsonaro chegou ao poder com a promessa de um governo “conservador nos costumes e liberal na economia”, em oposição ao Estado mais regulador dos 14 anos da era PT. A pandemia dificultou o plano liberalizante do ministro da Economia Paulo Guedes.

Mas, ainda assim, houve uma tentativa inédita nesse sentido, de acordo com Lohbauer. “Se você olhar o primeiro ano do governo Bolsonaro, eles fizeram um exercício genuíno de mudança de estrutura. Fizeram uma limpeza da dívida. Ficaram muito longe de aplicar um plano liberal, porque não conseguiram privatizar nada. Existe uma resistência das corporações, que faz parte da história de nosso país, contra a redução do tamanho do Estado. Mas eles começaram. Se não houvesse a pandemia, eles iam conseguir? Acho que não iam conseguir, porque há muitas forças contra uma agenda liberal de verdade no Brasil. Mas esse governo tentou. E logo veio a pandemia. Quando vem a pandemia, não tem plano liberal que se aplique em um ambiente de emergência, de guerra, de fome, de queda de PIB. Não tem. Até os países do mundo com perfil mais liberal fizeram programas sociais massivos, com recurso público na veia”, comenta.

Para Lohbauer, o desastre na administração das estatais e a vista grossa para as invasões de terra, por si só, já deveriam ser suficientes para o brasileiro rechaçar a volta de uma gestão petista da economia. Bolsonaro teve “menos tempo e mais dificuldade para governar, e o que ele entregou foi bem menos pior em matéria de governança, corrupção, transparência, crescimento, investimentos etc.”, afirma ele.

Outro ponto importante para qualquer análise, de acordo com o especialista, é que o PT pegou a economia em circunstâncias privilegiadas. “Não dá para comparar maçã com banana, comparar o crescimento econômico do período do PT com o crescimento econômico do período do Bolsonaro. Para começar, a Dilma teve dois anos de pujança mundial, comercial e econômica, e o Brasil cresceu -3% e -3,5% em 2015 e 2016. Isso é o PT. Essa é a capacidade que eles têm de adotar políticas públicas econômicas erradas e fazer com que o país cresça -3,5% enquanto o mundo cresce 5%. No atual governo, aconteceu algo que não ocorreu nos últimos 100 anos: uma pandemia universal, uma paralisação da economia mundial, um endividamento absoluto de todas as economias, inclusive as economias desenvolvidas. E o Brasil passou pela pandemia com uma situação econômica administrável. O país conseguiu atravessar a pandemia, e os primeiros resultados de retomada estão aí nos números oficiais”, observa.

Para ele, o PT desperdiçou oportunidades de promover um crescimento expressivo do Brasil não só na gestão de Dilma como também no período em que Lula governou o país. “O período dos governos Lula, primeiro e segundo, pelo menos até 2008, foi um dos períodos de maior crescimento da história da economia mundial. Deu ferro, soja, milho e petróleo a preços impagáveis. E o Brasil recebeu tanto dinheiro como nunca recebeu na vida, e gastou tudo, se endividou ainda mais. Isso foi o período do Lula. As pessoas têm que estudar história recente. Querem comparar essa passagem histórica com a atual, agora, com a pandemia? Não dá”, afirma.

Para Paulo Kramer, na hipótese de Lula ganhar a eleição, “ele teria espaço de manobra para fazer política econômica muito mais limitado do que teve quando governou o Brasil pela primeira vez”. “Primeiro, por causa de todas as dificuldades que a herança do lulopetismo deixou, provando a inviabilidade de uma política econômica baseada mais no Estado que no mercado. Há, por outro lado, uma direita de conservadores e liberais que já não têm medo de se assumir publicamente – e eu não me refiro apenas aos políticos, mas também aos eleitores, ao povo. Tudo isso vai criar um ambiente de limitações”, diz.

Na opinião de Lohbauer, o problema de Lula na economia começa na imprevisibilidade – até agora, o candidato não deixou claro o que pretende fazer, como apontou editorial recente da Gazeta do Povo. “Como ‘la garantía soy yo’, pode sair qualquer coisa. Ele faz o que quer e fala o que quer. Ninguém questiona nada. Não duvido que eles resolvam tributar a exportação agrícola. Isso seria um verdadeiro desastre. Tem quem diga que ele não faria isso, mas não dá para ter ideia do que o PT faria. Só tenho a convicção de que a qualidade da administração federal cairia de forma absoluta. Já é ruim, e ficaria pior ainda”, diz.

Já o governo Bolsonaro, em caso de reeleição, deverá mostrar – já sem as limitações impostas pela pandemia – até que ponto a sua crença em uma agenda liberal e na importância da responsabilidade fiscal se sobrepõe ao populismo imediatista. Para Kramer, isso não significa que Bolsonaro deva deixar de lado as políticas sociais. “Não existe contradição entre uma política social ativa e vigorosa e uma economia liberal. Até porque o liberal sabe que o que é capaz de resgatar com eficiência e rapidez a dívida social é a economia de mercado, e não a economia estatizada. A economia estatizada leva a estagnação, corrupção, crescimento negativo e estouro das contas públicas.”

Lohbauer comenta que, mesmo que ganhe, Bolsonaro não deverá conseguir implementar uma agenda liberal autêntica. “Se ele ganhar e tiver um segundo mandato completo, não consegue trazer nesse período uma transformação para um país liberal. O que pode conseguir, e eu tenho esperança de que consiga, é uma retomada de desenvolvimento, que é uma coisa que a gente não vê desde 2008. Isso envolve criação de riqueza, criação de emprego e aumento de renda. Isso já seria um pedaço de uma agenda liberal, para começar a pensar em agenda liberal verdadeira”, observa.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/bolsonaro-ou-lula-pais-chega-ao-1-o-turno-polarizado-e-com-dois-projetos-para-escolher/
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AS RESTRIÇÕES DA VOTAÇÃO IMPOSTAS PELO TSE

 

Serviço
Uso do celular, horário de votação, e-Título, candidatos
Por
Gazeta do Povo

detalhe da mão de um eleitor pelo voto biométrico antes da urna eletronica


Veja na Gazeta do Povo como votar na eleição do dia 2 de outubro, onde está a sua zona de votação e os documentos obrigatórios.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

Os brasileiros vão às urnas no dia 2 de outubro escolher quem será o próximo presidente da República e mais outros quatro cargos. Mas, é preciso ficar atento às regras do que pode e o que não pode neste dia, como levar o celular na cabine de votação, se precisa do título de eleitor impresso ou pode ser o digital, quais os documentos obrigatórios, o horário de abertura e fechamento das urnas, entre outros.

Para ajudar o eleitor a tirar as principais dúvidas sobre o domingo de eleição, a Gazeta do Povo preparou uma série de orientações com base na Resolução 23.669/2021, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que determina as regras para o pleito.

Veja, abaixo, as orientações do que pode e o que não pode no dia, com mais informações em cada uma delas.

Horário e local de votação
Programe-se para votar. O TSE unificou a votação em todos os estados seguindo o horário de Brasília, independentemente do fuso em algumas regiões. Com isso, todos os brasileiros vão votar entre 8 e 17 horas, com adequações no Norte e em Fernando de Noronha. Veja aqui qual o horário de votação no seu estado.

Após saber qual o horário de funcionamento das urnas, é preciso descobrir o local de votação. Nos títulos eleitorais impressos em papel, você encontra os números da zona e da seção em que está cadastrado, mas é necessário conferir antes se o endereço ainda é aquele que está habituado. Para isso, basta fazer uma consulta no site do TSE, veja aqui como fazer isso.

Para quem já tem o e-Título, o aplicativo de celular com o título de eleitor digital, basta abrir o aplicativo e localizar o endereço da zona e da seção eleitoral. Saiba aqui como baixar o e-Título no seu celular.

Não pode arma de fogo
Se você não está a serviço de nenhuma força de segurança, não pode portar armas de fogo a menos de 100 metros das seções eleitorais, mesmo com autorização, de acordo com a nova redação da Resolução 23.669/2021. Saiba aqui quem pode e quem não pode entrar na zona eleitoral com arma de fogo e quais as sanções por descumprimento.

Camiseta, adesivo ou broche de candidato
Está liberado o uso de camiseta, adesivo, broche ou boné alusivos a candidatos ou partidos no local de votação, desde que de forma silenciosa e apenas na sua vestimenta. Chegar com o seu celular tocando o jingle de campanha em alto e bom som? Não mesmo, e nem andar com vários amigos juntos vestindo as mesmas roupas, o que pode caracterizar boca de urna. Veja aqui que tipo de manifestação a favor do seu candidato é permitida no dia da votação.

Documentos para votar
Após identificar o seu local de votação, você vai precisar levar o seu título de eleitor impresso e um documento com foto que o identifique, mesmo que já esteja expirado. Caso já tenha o e-Título instalado e validado no celular, não precisa de nenhum documento a mais. No local de votação, todos os eleitores terão a identificação feita também por biometria. Saiba aqui quais documentos podem ser usados no dia da votação e o que acontece se a biometria não for registrada.


Não pode celular

Após a identificação, você será orientado a ir para a cabine de votação, mas precisará deixar o seu telefone celular desligado com o mesário, de acordo a nova redação da resolução 23.669/2021. O objetivo é evitar que os brasileiros registrem o seu voto – que é secreto. Saiba mais sobre a proibição aqui.

Ordem de votação e “cola” dos candidatos
O eleitor pode recorrer a popular “colinha” com os números dos candidatos para votar, mas precisa escrever os números em um papel. Ela é realmente necessária nas eleições deste ano. Afinal, você vai votar para cinco cargos, nesta ordem: deputado federal (4 números), deputado estadual ou distrital (5 números), senador (3 números), governador (2 números) e presidente (2 números). Veja aqui qual será a ordem dos candidatos nas urnas eletrônicas.

Não pode votar com acompanhantes

A não ser que você realmente precise de ajuda para votar, como apertar as teclas da urna eletrônica, é proibido entrar com algum acompanhante na cabine de votação. E não, nem mesmo o seu filho pequeno pode te ajudar a exercer a sua cidadania. Saiba aqui quem pode e quem não pode entrar com você na cabine de votação.

Que urna eletrônica diferente é essa?
Alguns brasileiros vão encontrar uma urna eletrônica diferente nesta eleição daquela que estão habituados. É um modelo novo, mais moderno, que faz parte do projeto de atualização dos equipamentos. Além de ter um tamanho maior e de melhor processamento, o modelo oferece mais recursos de acessibilidade a quem possui alguma deficiência visual ou auditiva. Conheça aqui a diferença entre as urnas que serão usadas nesta eleição.

Falhas na urna eletrônica

As urnas eletrônicas utilizadas nas eleições brasileiras passam por diversos testes de funcionamento e têm suas baterias carregadas para funcionarem durante todo o dia de votação. No entanto, se algum problema ou falha acontecer, há um plano de contingência para cada ocorrência que não afeta a coleta dos votos – e nem o acesso externo, já que a urna não é conectada a nenhum tipo de rede com e sem fio. Saiba aqui o que fazer caso a urna eletrônica apresente alguma falha na hora em que você for votar.

Não poderei votar, como justifico o voto?
É possível justificar o voto pela internet, através do e-Título e nas próprias zonas eleitorais tanto antes como após a votação. No entanto, para cada período há regras específicas, como prazo máximo de justificativa dependendo do motivo da ausência. Saiba aqui como justificar seu voto e a data limite para isso.

Não votei no primeiro turno, posso votar no segundo?

Sim, pois o TSE considera cada turno da eleição uma votação única. Você só não pode votar se o seu título tiver sido cancelado ou em situação eleitoral irregular. Saiba aqui o que pode ou não te impedir de votar no segundo turno das eleições.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/saiba-como-votar/como-votar-eleicoes-2022/
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A MÍDIA COLOCA A ESQUERDA COMO VENCEDORA DAS ELEIÇÕES - SERÁ?

 

Eleições

Por
Leonardo Coutinho

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a solenidade de posse dos ministros da Justiça e Segurança Pública; e da Advocacia-Geral da União no Palácio do Planalto


O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição no pleito do próximo domingo (2)| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Qualquer um que acompanha o mínimo sobre a política brasileira no exterior já leu ou já ouviu afirmações de que, se derrotado, o presidente Jair Bolsonaro não entregará o poder. Há meses, por sinal, a conjunção subordinativa condicional “se” nem aparece mais nas afirmações cada vez mais comuns e nos mais diversos idiomas. O que era uma dúvida virou uma certeza. Bolsonaro vai perder a eleição e dará um golpe. De Washington a Pequim, o clima é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ganhou. Mas há uma pergunta necessária que até agora ninguém fez para Lula e as instituições brasileiras: e se Bolsonaro vencer a eleição?

Os institutos de pesquisa, os analistas de vários dos principais meios de comunicação, os relatórios dos bancos sustentam que a questão acima não é necessária. Afinal, a eleição deste domingo é apenas uma formalidade. “Lula já ganhou”.

Mas volto à pergunta: E se Bolsonaro vencer a eleição?

Lula, os partidos que lhe dão sustentação, os movimentos de esquerda, as instituições (entre as quais é preciso ressaltar o Supremo Tribunal Federal e suas linhas auxiliares no Tribunal de Contas da União e Congresso) e a imprensa estarão dispostos a aceitar o resultado?

Essa é uma pergunta necessária, mas que vem sendo negligenciada. Por mais incômodo e improvável que possa parecer para muitos, Bolsonaro pode vencer a eleição. Caso o improvável aconteça, como o resultado das urnas será encarado?

A eleição de Bolsonaro em 2018 não só surpreendeu, como chocou, quem apostou na infalibilidade das sondagens. Problema também registrado nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump venceu uma eleição que era considerada “garantida” para a sua opositora, a democrata Hillary Clinton.

Não se trata de duvidar dos institutos que tentam prever os resultados com base em entrevistas e métodos estatísticos. Mas não é nada razoável tratar como dogma o que pretende ser visto com ciência. A dúvida, nesses casos, é mais do que necessária. É virtude.

O clima de “já ganhou” nos corredores de Washington, D.C. (lembre-se de que estou falando de Lula, obviamente), é tão generalizado que não se discute ou negocia mais nada sem considerar que o próximo presidente do Brasil será o petista.

A recente eleição para a diretoria da Organização Panamericana de Saúde (Opas) talvez seja o melhor exemplo. O brasileiro Jarbas Barbosa foi eleito com o apoio dos bolivarianos. Ex-membro da direção nacional do PT, foi carreado até a direção da Opas pelos padrinhos petistas. Além do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que endossou a candidatura e determinou que se movesse céus e terra para angariar os votos necessários, o petista teve o apoio irrestrito do colombiano Gustavo Petro, que retirou o apoio ao candidato de seu país e orientou sua diplomacia a trabalhar pelo PT; e do mexicano Andrés Manuel López Obrador, que fez o mesmo em favor de Barbosa.

Sem falar, é claro, do apoio e voto de Cuba, que tem na Opas uma espécie de sucursal de seus interesses em Washington.

Não é diferente na indústria do lobby. Em entrevista ao jornal Valor, o lobista Thomas Shannon, que já teve em sua carteira o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o de El Salvador, Nayib Bukele, não esconde a torcida por Lula. Para Shannon, que foi embaixador dos Estados Unidos e ocupou temporariamente a função de secretário de Estado, há uma expectativa pela volta de Lula. Segundo ele, o “Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [com o Brasil] durante sua presidência”.

Muita gente pensa assim. Assim como muitos pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires.

A democracia brasileira está definitivamente sob teste. E uma das questões é: e se Bolsonaro vencer? Nesse cenário absurdo para muitos, a vontade da maioria vai desagradar pesos-pesados de Brasília. Estariam eles dispostos a se sujeitar ao resultado? Ou, para “salvar a democracia”, vale matá-la e depois esperar que ela ressuscite?


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/leonardo-coutinho/de-washington-a-pequim-clima-e-de-ja-ganhou-para-lula-mas-e-se-bolsonaro-vencer/
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A UCRÂNIA É BEM DIFERENTE DO IRAQUE

 

Guerra na Europa

Por
Luis Kawaguti


Putin discursa na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado dos líderes de ocupação das áreas ucranianas anexadas pela Rússia .| Foto: EFE/EPA/SERGEI KARPUKHIN/SPUTNIK/KREMLIN

Com a recente ordem de mobilização “parcial” de combatentes russos e a anexação de territórios invadidos na Ucrânia, a guerra parece ter cruzado uma linha a partir de onde não é mais possível retornar.

Diferentemente do sentimento em 24 de fevereiro, quando a queda de Kyiv era quase dada como certa, não é mais possível dizer quem vai vencer a guerra. Após a cerimônia de anexação de Kherson, Luhansk e partes de Donetsk e Zaporizhzhia na sexta-feira (30), o presidente russo Vladimir Putin sinalizou para o retorno à mesa de negociações de paz.

Mas isso ocorre em um momento em que os ucranianos detêm a iniciativa no campo de batalha e o presidente Volodymyr Zelensky respondeu que só negociará com o próximo presidente russo – sugerindo uma eventual queda de Putin. A invasão foi brutal demais para que a atual geração de ucranianos seja capaz de perdoar e esquecer.

Putin prepara seus contingentes de soldados recém-convocados para tentar prolongar a guerra ao máximo – à espera de que governos europeus caiam pela pressão da inflação e da crise energética, ou que um presidente mais amigável chegue à Casa Branca em 2024. Sua esperança é que o Ocidente corte o apoio econômico e militar que tem sido vital para a sobrevivência da Ucrânia.

Por causa disso, o destino de ucranianos e russos vai depender de um fator intangível muito importante: como o mundo vai encarar a partir de agora o apoio de Washington e de seus aliados europeus a Kyiv na guerra?

Dentro dos EUA e no sul global (grupos de países em desenvolvimento que inclui o Brasil), o envolvimento indireto de Washington na Ucrânia vem sendo comparado à segunda invasão americana ao Iraque, em 2003 – uma operação moralmente injustificável, que se baseava numa busca por armas de destruição em massa inexistentes.

Outra associação comum é com a retirada militar atrapalhada do Afeganistão em 2021 – após quase 20 anos de uma operação militar de resposta aos atentados de 11 de setembro que tinha embasamento legal, mas que gerou críticas sobre a legitimidade do intervencionismo norte-americano.

Parte dessas associações de imagem pode ser atribuída a um esforço de propaganda russo, inserido na atual guerra de informação e na tentativa russa de evitar o isolamento diplomático.

Mas a Ucrânia não é o Iraque de 2003. Dessa vez, o Ocidente não está envolvido em uma guerra de contrainsurgência para impor valores – ou simplesmente eleições – a uma cultura completamente diferente. Pelo contrário, está oferecendo apoio, indireto mas vital, para uma democracia estabelecida que luta para não ser anexada no projeto expansionista e autoritário da Rússia.

Em um artigo publicado na revista americana Foreign Affairs, o professor de história da Universidade de Yale Timothy Snyder comparou a situação atual na Ucrânia com o Acordo de Munique, de 1938 – episódio que ajudou a desencadear a anexação da Tchecoslováquia pela Alemanha e a Segunda Guerra Mundial.

Na ocasião, a Alemanha nazista reivindicava a posse dos Sudetos, um território da Tchecoslováquia onde havia maioria de alemães étnicos. O processo aconteceu de forma semelhante ao que a Rússia faz com a Ucrânia hoje. Hitler acusava a democracia tcheca de autoritarismo e de violações de direitos de alemães étnicos que viviam em seu território. Putin faz o mesmo com a Ucrânia.

Segundo Snyder, a Tchecoslováquia tinha forças armadas decentes, a melhor indústria de armas da Europa e defesas naturais melhoradas pela construção de linhas de fortalezas nas montanhas. Segundo o historiador, talvez a Alemanha não tivesse conseguido bater os tchecos em uma guerra aberta, ou ao menos teria tido uma grande dificuldade para fazê-lo – isso se a Tchecoslováquia tivesse recebido apoio de seus aliados da época, a França e o Reino Unido.

Mas Édouard Daladier (então premiê da França), Neville Chamberlain (premiê do Reino Unido) e Benito Mussolini (líder da Itália) decidiram entregar os Sudetos a Hitler para apaziguá-lo, sem ao menos deixar o governo tcheco participar das negociações. Esse foi o pacto de Munique.

Winston Churchill, um dos maiores críticos de Chamberlain à época, afirmou na ocasião: “Você pôde escolher entre a guerra e a desonra. Você escolheu a desonra e vai receber a guerra”.

Após tomar os Sudetos sem combate, a Alemanha anexou toda a Tchecoslováquia. Com as armas pilhadas no país, invadiu em seguida a Polônia e sua campanha militar ganhou momentum – o que atraiu aliados e deflagrou a guerra.

Snyder especula que, se Hitler tivesse enfrentado uma batalha dura na Tchecoslováquia, talvez o apelo popular de seu regime tivesse sido menor e o Reino Unido e a França teriam tido tempo de se preparar para o combate. Isso eventualmente poderia ter impedido a deflagração da Segunda Guerra.

Putin está enfrentando uma batalha dura na Ucrânia. Para o historiador, o mundo pode estar hoje em um cenário semelhante ao de 1938 – com a diferença de que o Ocidente dessa vez decidiu agir e mandar socorro a uma democracia colocada em xeque por um regime autoritário.

Mas, para se evitar uma guerra nuclear, o apoio vem sendo em forma de sanções e isolamento de Moscou, além de remessas de recursos financeiros, armamentos e informações de inteligência – sem o envio de tropas.

Não é possível saber com certeza até onde vai o apetite expansionista de Putin. Ele invadiu a Geórgia em 2008 e ao fazer isso percebeu que suas Forças Armadas precisavam ser modernizadas. Isso foi implementado de forma parcial. Em 2014, anexou a Crimeia e fomentou movimentos separatistas no Donbas ucraniano.

Sabe-se, por meio de ensaio publicado por ele em 2021, que suas ambições são inspiradas em uma visão distorcida da história, segundo a qual a Rússia atual teria “direito natural” de dominar uma série de territórios vizinhos. Este foi o tema da nossa coluna na semana passada.

Em discurso na sexta-feira, ele disse que “gerações de russos” já lutaram pelas terras em processo atual de anexação na Ucrânia. Isso seria uma possível referência à expansão militar promovida pela imperatriz Catarina II no século 18. Putin também classificou o Ocidente como “inimigo” e uma ditadura de elites voltadas contra todas as sociedades, que professam uma religião satanista.

No seu ensaio do ano passado, o presidente russo lamentou decisões do período soviético tomadas por Lenin, que separaram diversas regiões que ele acreditava serem por direito da Rússia.

Se os planos de Putin forem retomar os territórios do que chama de “Rússia histórica”, então cidadãos de países como Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Polônia, Belarus, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Turcomenistão e Tadjiquistão devem ter razão para se preocupar. Também é uma incógnita se Putin desejaria reaver essas áreas militarmente ou por meio de influência política ou instalação de governos títeres.

Putin está preparando mais 300 mil homens para enviar à Ucrânia. Mas há indícios no próprio decreto de mobilização parcial (que tem artigos secretos) de que o número pode passar de um milhão de soldados – o que dobraria o efetivo das Forças Armadas da Rússia. Não se mobiliza um contingente assim só para fazer pressão diplomática.

As tropas podem ser destinadas a manter as regiões já conquistadas na Ucrânia – e sufocar movimentos de resistência – ou podem ser usadas em novas ofensivas que podem até extrapolar o território ucraniano.

Estado totalitário
Mas ao formar esse novo exército, Putin quebra um acordo informal que tinha com o povo russo: “impunidade para as ações do governo em troca de privacidade e prosperidade para os cidadãos”.

Na medida em que os recrutadores batem nas portas dos cidadãos russos, o debate político volta à sociedade. As trapalhadas do início da mobilização parcial – como a convocação de deficientes e idosos – coloca em evidência a incompetência e a falta de determinação dos militares russos e alimenta ainda mais o nascente debate político.

Para continuar com a formação de seu novo exército, Putin terá que endurecer ainda mais os instrumentos de repressão às liberdades individuais do país. Ele terá, por exemplo, que evitar mais episódios de incêndios de centros de recrutamento e assassinatos de recrutadores. Se não fizer isso, pode perder a capacidade de governar. A Rússia vai se tornar cada vez mais um Estado totalitário e policial.

Assim, uma eventual vitória russa na Ucrânia pode significar o fortalecimento não só de Putin e de seu projeto expansionista, mas estimular a proliferação de outros governos autocráticos, classificados por Snyder como “tirânicos”.

Ou seja, segundo o historiador, o resultado dessa guerra vai estabelecer os princípios das relações diplomáticas do século 21 e influenciar diretamente o futuro das democracias.

Além disso, se a Ucrânia e seus aliados do Ocidente não forem capazes de reconquistar Kherson, Luhansk, partes de Donetsk, Zaporizhzhia e a Crimeia (tomada pela Rússia em 2014), o mundo pode retornar a uma era mais violenta, que até então tinha praticamente acabado junto com a Segunda Guerra: a era das guerras motivadas por conquista territorial.

Os piores aspectos desse tipo de guerra são os efeitos sobre a população civil – que sempre acaba submetida a políticas de repressão e até é alvo de políticas de retirada ou aniquilação para diminuição de densidade populacional de determinadas áreas.

Alguns desses aspectos já ocorreram nos sete meses de guerra na Ucrânia. Alguns exemplos são o bombardeio indiscriminado de alvos civis e militares em Mariupol e Kharkiv e a alegada remoção forçada de contingentes populacionais ucranianos inteiros de áreas ocupadas e sua transferência para o interior remoto da Rússia.

Ameaça nuclear
A última tentativa de ressuscitar esse tipo de conflito para expansão de territórios havia sido feita pelo Iraque, ao invadir o Kwait em 1990. O país acabou expulso do território vizinho por uma coalizão ocidental.

Mas o Iraque não tinha armas de destruição em massa, como se provou na desastrada invasão americana seguinte, em 2003. A Rússia, por outro lado, é a detentora do maior arsenal nuclear do planeta e vem ameaçando usá-lo caso as áreas recentemente anexadas sejam atacadas.

Embora as ameaças tenham que ser tratadas com seriedade, é pouco provável que a Rússia quebre o chamado “tabu nuclear”, mesmo se utilizar uma bomba de natureza tática (de menor poder de destruição). Isso porque tal ação poderia levar a OTAN (aliança militar ocidental) a participar diretamente do conflito, com o envio de tropas, navios e aeronaves. Esse é um cenário que Putin quer evitar.

As recentes ameaças de usar bombas nucleares parecem mais uma tentativa russa de dissuadir o Ocidente de enviar armas convencionais ainda mais poderosas para a Ucrânia.

Se não conseguir um acordo de paz para dizer que a Rússia venceu a guerra ao anexar 20% do território ucraniano, Putin vai tentar estender o conflito usando mais recrutas e armas convencionais.

Críticos do Ocidente podem argumentar que a indústria americana está lucrando ao vender armas para serem usadas na guerra da Ucrânia e exportar gás para o mercado europeu.

O Reino Unido e a União Europeia, por sua vez, já estão se endividando para tentar lidar com a escassez de energia e a inflação em crescimento, resultantes das sanções à Rússia.

Mas, do ponto de vista do Ocidente, se Putin não for detido agora, o que está em jogo não é só a economia, mas o próprio futuro da liberdade dos povos e da democracia – diante do autoritarismo e do expansionismo por vias militares da estratégia russa.

O desafiador ato de anexação realizado pelos russos na última sexta-feira deve levar as potências ocidentais a avaliar a viabilidade de medidas como a inclusão da Ucrânia na OTAN (o que legalmente é bem complicado), a imposição de um teto mundial de preços para exportação de petróleo ou o envio de armas ainda mais potentes para a Ucrânia.

Por isso, é esperado que Washington e seus aliados tentem retratar cada vez mais seu apoio indireto à Ucrânia como parte de uma guerra justa, desvinculada das campanhas de contrainsurgência do século 21 no Oriente Médio. Para ter sucesso, eles deverão mostrar que o apoio à Ucrânia pode parar a Rússia agora e assim impedir (e não deflagrar) uma Terceira Guerra Mundial.


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A ESQUERDA QUER QUE A IGREJAS EVANGÉLICAS FIQUEM CALADAS

 

Intolerância religiosa

Por
Guilherme de Carvalho – Gazeta do Povo


Site The Intercept publicou fortes críticas à Assembleia de Deus por cartilha que reafirma princípios cristãos às vésperas da eleição.| Foto: Unsplash

Li a cartilha da editora Kaleo para a Assembleia de Deus de Santa Catarina, inteira, antes de ler o chilique jornalístico do The Intercept, publicado em 20 de setembro. E sigo me perguntando se a redação desse grande jornal foi instalada no planeta Terra ou pelo menos aqui perto, na Lua.

O que defende a “cartilha raivosa” dos crentes catarinenses, como a rotularam os autores da pérola jornalística? Em essência, coisas de crentes. Coisas que se ouvem (em versões incultas, concedo) nos corredores das igrejas, em seus grupos on-line e em suas casas: que o marxismo é ateísta, que o todo com as partes sabidamente doentes do PNDH-3 foram coisa de Lula et caterva, que a revolução sexual é incompatível com a religião cristã, que a cultura do movimento LGBTQIA+ é incompatível com a religião cristã, que segundo a Bíblia Deus criou homem e mulher – e o gênero não pode ser separado do sexo biológico –, que o feminismo ajudou a aumentar o número de divórcios, que o divórcio deve ser combatido, que a esquerda tende a descurar, quando não destruir ativamente, a instituição familiar etc.

Ademais, essa perspectiva geral sempre foi ensinada, de um jeito ou de outro, em todas as grandes igrejas, e alguns dos pontos acima são ensinados até mesmo por aquelas igrejas mais modernizadas e abertas a alguns valores progressistas. Então, por que o chilique?

Porque isso pode afetar… as eleições, quem diria!

Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito

É claro que a teologia das igrejas sempre afetou, afeta e deve mesmo afetar as eleições. A teologia cristã afeta tudo, seja ela bem-feita ou malfeita. A teologia calvinista favoreceu as revoluções constitucionais na Europa. A teologia dos puritanos racistas os fez legitimar a escravidão nos EUA. A teologia dos “cristãos alemães” os fez apoiar Hitler. A teologia dos Quakers, dos metodistas e de alguns anglicanos os fez abolicionistas, como foi o caso do grande William Wilberforce. A teologia de São João Crisóstomo o fez defender o direito dos pobres. A teologia de Bartolomeu de las Casas o fez defender os índios. A Teologia da Libertação fez o PT se fantasiar como “o partido de Deus” e desestabilizar o país. A teologia da “igreja confessante” a fez produzir a declaração de Barmen, contra a manipulação estatal e ideológica do regime nazista, e por isso a maior parte dos seus signatários foi enviada por Hitler para o front oriental, onde morreram congelados ou nas baionetas russas.

E é a ateologia progressista – incluindo a conversa fiada de que os evangélicos são companheiros desorientados, que o problema é a liderança, e eles que só precisam de um bom pastor para votar corretamente e retornar ao aprisco revolucionário – o que está por trás da crítica serelepe levantada pelo Intercept.

Tenho minhas críticas à cartilha. Penso que ela não deveria ter recomendado o conservadorismo como o ponto de partida da visão cristã de ética e sociedade, sem mais. E essa é a minha crítica teológico-política: isso está simplesmente errado, e eu disse isso diretamente a um dos pastores responsáveis pelo documento. Tratei disso aqui na Gazeta, quando apontei o fato incontornável de que a libertação de Israel do Egito, relatada no Êxodo, envolveu o desmantelamento de um discurso de ordem idólatra e uma batalha de Deus contra os opressores. A fé bíblica afirma uma ordem criacional, mas às vezes tem uma posição “revolucionária” (não no sentido marxiano, evidentemente) diante do establishment.


Medo-de-crente
O que as igrejas deveriam fazer com seus membros progressistas?
Seja qual for a teologia política cristã, ela precisará balancear claramente Criação e Êxodo, conservação e transformação. Como fazer isso é outra história, que não cabe desfiarmos aqui.

Mas suponhamos que eu esteja certo e a cartilha tenha errado a mão nesse ponto; nada muda, absolutamente. A Igreja Católica há séculos desenvolve a sua doutrina social, revisando e refinando suas posições, e já condenou tanto o marxismo ateu quanto o capitalismo laissez-faire. A Doutrina Social da Igreja trata a família como célula básica da sociedade, e condena todos os pecados que o Intercept costuma celebrar. Como eu já mencionei antes e insisto, toda igreja tem o direito de ensinar a sua doutrina àqueles que quiserem ser seus membros, e os pais têm o direito de dar a seus filhos a educação religiosa e moral de sua preferência. Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito.

E aí está a raiz da reportagem raivosa da Intercept: o que incomodou não foram os erros na cartilha dos crentes, mas os seus acertos. O documento que eles atacam rejeita ideias morais caras à esquerda.

É claro que a teologia das igrejas sempre afetou, afeta e deve mesmo afetar as eleições. A teologia cristã afeta tudo, seja ela bem-feita ou malfeita

A cartilha faz algumas generalizações realmente enervantes, como quando condena o feminismo em bloco ou quando culpa o “marxismo cultural” por toda a desordem no campo da ética sexual, como se o liberalismo e o capitalismo não tivessem culpa nenhuma (e eu mesmo já fiquei, por assim dizer, roxo de tanto discutir o tema nessa coluna). Nesse caso, no entanto, os jornalistas deveriam ser jornalistas e apontar os erros. Os erros. Mas o que eles fazem é puxar alguns fios soltos para condenar o discurso inteiro.

Consideremos o subtítulo da matéria, que vai direto no calcanhar de Aquiles da cartilha: associar o feminismo à zoofilia é mesmo demais. Mas e quanto à pedofilia? Também o seria, não fosse a própria Simone de Beauvoir uma defensora da descriminalização da pedofilia. Que azar, gente! Então, me pergunto: do que esses jornalistas estão reclamando? O trabalho deles não é entregar informação?

O que a matéria faz, no melhor estilo do jornalismo contemporâneo, é acusar uma “raiva santa”, um “ódio” etc., sentimentalizando a coisa. Mentira, a cartilha não é raivosa; é apenas explícita sobre o valor das ideias: algumas ideias merecem ser ignoradas, e algumas são tão ruins que merecem ser detestadas. Ora, meus amigos, ninguém tem de respeitar ideias que lhe parecem detestáveis. O candomblecista não tem de respeitar o monoteísmo; ele tem de respeitar os monoteístas. O marxista não tem de respeitar o conservadorismo; ele tem de respeitar os conservadores. E os cristãos não têm de respeitar as degenerações morais da esquerda brasileira. Eles têm, sim, de representá-las do modo mais honesto possível, ao fazer suas críticas; mas respeitá-las? Oh, céus! Que fanfarronice!

Algumas ideias merecem ser ignoradas, e algumas são tão ruins que merecem ser detestadas. Ora, ninguém tem de respeitar ideias que lhe parecem detestáveis

Reivindico, aqui, os meus direitos de cidadão e meus deveres de evangélico: a agenda moral da esquerda brasileira é detestável. Críticas desonestas contra a infeliz são dignas de toda a reprovação, mas poderia isso redimi-la da sua feiura natural? Não obstante a incompetência da crítica evangélica conservadora, a geringonça não vale um tostão.

Tivesse eu poderes para tanto, declararia aberta a temporada das cartilhas eclesiásticas! E pra já mesmo, a partir de segunda-feira. Que as igrejas formem comissões teológicas e componham suas cartilhas de doutrina social e política, para crianças, jovens, adolescentes, mulheres, homens e idosos. Que as igrejas leiam e discutam em seus grupos essas denúncias jornalísticas desesperadas, e exponham de casa em casa esses órgãos ideológicos metidos a magistério teológico.

O candomblecista não tem de respeitar o monoteísmo; ele tem de respeitar os monoteístas. O marxista não tem de respeitar o conservadorismo; ele tem de respeitar os conservadores. E os cristãos não têm de respeitar as degenerações morais da esquerda brasileira

E, em vez de se infiltrar nas igrejas estabelecidas, a militância laicista pode dar um trato mais honroso ao seu recalque. Ela pode também plantar suas igrejas sem Deus, formar suas famílias sem biologia, fazer suas orações de punho cerrado, ensinar seus filhos a “amar” (pegar) todo mundo no fim de semana, e esperar alegremente o Sol, que é para todos, virar uma gigante vermelha e engolir a Terra, junto com sua utopia igualitária.

Mas enquanto não chega esse tão esperado dia, vamos honrar John Locke, John Stuart Mill, a nossa Constituição, e aprender a tolerar uns aos outros. Afinal, só Deus poderia curar nossas divergências; mas até nisso nós divergimos, não é?


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