domingo, 2 de outubro de 2022

A MÍDIA COLOCA A ESQUERDA COMO VENCEDORA DAS ELEIÇÕES - SERÁ?

 

Eleições

Por
Leonardo Coutinho

O presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a solenidade de posse dos ministros da Justiça e Segurança Pública; e da Advocacia-Geral da União no Palácio do Planalto


O presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição no pleito do próximo domingo (2)| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Qualquer um que acompanha o mínimo sobre a política brasileira no exterior já leu ou já ouviu afirmações de que, se derrotado, o presidente Jair Bolsonaro não entregará o poder. Há meses, por sinal, a conjunção subordinativa condicional “se” nem aparece mais nas afirmações cada vez mais comuns e nos mais diversos idiomas. O que era uma dúvida virou uma certeza. Bolsonaro vai perder a eleição e dará um golpe. De Washington a Pequim, o clima é de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já ganhou. Mas há uma pergunta necessária que até agora ninguém fez para Lula e as instituições brasileiras: e se Bolsonaro vencer a eleição?

Os institutos de pesquisa, os analistas de vários dos principais meios de comunicação, os relatórios dos bancos sustentam que a questão acima não é necessária. Afinal, a eleição deste domingo é apenas uma formalidade. “Lula já ganhou”.

Mas volto à pergunta: E se Bolsonaro vencer a eleição?

Lula, os partidos que lhe dão sustentação, os movimentos de esquerda, as instituições (entre as quais é preciso ressaltar o Supremo Tribunal Federal e suas linhas auxiliares no Tribunal de Contas da União e Congresso) e a imprensa estarão dispostos a aceitar o resultado?

Essa é uma pergunta necessária, mas que vem sendo negligenciada. Por mais incômodo e improvável que possa parecer para muitos, Bolsonaro pode vencer a eleição. Caso o improvável aconteça, como o resultado das urnas será encarado?

A eleição de Bolsonaro em 2018 não só surpreendeu, como chocou, quem apostou na infalibilidade das sondagens. Problema também registrado nos Estados Unidos, em 2016, quando Donald Trump venceu uma eleição que era considerada “garantida” para a sua opositora, a democrata Hillary Clinton.

Não se trata de duvidar dos institutos que tentam prever os resultados com base em entrevistas e métodos estatísticos. Mas não é nada razoável tratar como dogma o que pretende ser visto com ciência. A dúvida, nesses casos, é mais do que necessária. É virtude.

O clima de “já ganhou” nos corredores de Washington, D.C. (lembre-se de que estou falando de Lula, obviamente), é tão generalizado que não se discute ou negocia mais nada sem considerar que o próximo presidente do Brasil será o petista.

A recente eleição para a diretoria da Organização Panamericana de Saúde (Opas) talvez seja o melhor exemplo. O brasileiro Jarbas Barbosa foi eleito com o apoio dos bolivarianos. Ex-membro da direção nacional do PT, foi carreado até a direção da Opas pelos padrinhos petistas. Além do próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que endossou a candidatura e determinou que se movesse céus e terra para angariar os votos necessários, o petista teve o apoio irrestrito do colombiano Gustavo Petro, que retirou o apoio ao candidato de seu país e orientou sua diplomacia a trabalhar pelo PT; e do mexicano Andrés Manuel López Obrador, que fez o mesmo em favor de Barbosa.

Sem falar, é claro, do apoio e voto de Cuba, que tem na Opas uma espécie de sucursal de seus interesses em Washington.

Não é diferente na indústria do lobby. Em entrevista ao jornal Valor, o lobista Thomas Shannon, que já teve em sua carteira o presidente da Argentina, Alberto Fernández, e o de El Salvador, Nayib Bukele, não esconde a torcida por Lula. Para Shannon, que foi embaixador dos Estados Unidos e ocupou temporariamente a função de secretário de Estado, há uma expectativa pela volta de Lula. Segundo ele, o “Lula é bem conhecido pelo governo dos EUA, tanto por republicanos quanto por democratas. Os EUA tiveram uma relação muito produtiva [com o Brasil] durante sua presidência”.

Muita gente pensa assim. Assim como muitos pensam que a capital do Brasil é Buenos Aires.

A democracia brasileira está definitivamente sob teste. E uma das questões é: e se Bolsonaro vencer? Nesse cenário absurdo para muitos, a vontade da maioria vai desagradar pesos-pesados de Brasília. Estariam eles dispostos a se sujeitar ao resultado? Ou, para “salvar a democracia”, vale matá-la e depois esperar que ela ressuscite?


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A UCRÂNIA É BEM DIFERENTE DO IRAQUE

 

Guerra na Europa

Por
Luis Kawaguti


Putin discursa na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado dos líderes de ocupação das áreas ucranianas anexadas pela Rússia .| Foto: EFE/EPA/SERGEI KARPUKHIN/SPUTNIK/KREMLIN

Com a recente ordem de mobilização “parcial” de combatentes russos e a anexação de territórios invadidos na Ucrânia, a guerra parece ter cruzado uma linha a partir de onde não é mais possível retornar.

Diferentemente do sentimento em 24 de fevereiro, quando a queda de Kyiv era quase dada como certa, não é mais possível dizer quem vai vencer a guerra. Após a cerimônia de anexação de Kherson, Luhansk e partes de Donetsk e Zaporizhzhia na sexta-feira (30), o presidente russo Vladimir Putin sinalizou para o retorno à mesa de negociações de paz.

Mas isso ocorre em um momento em que os ucranianos detêm a iniciativa no campo de batalha e o presidente Volodymyr Zelensky respondeu que só negociará com o próximo presidente russo – sugerindo uma eventual queda de Putin. A invasão foi brutal demais para que a atual geração de ucranianos seja capaz de perdoar e esquecer.

Putin prepara seus contingentes de soldados recém-convocados para tentar prolongar a guerra ao máximo – à espera de que governos europeus caiam pela pressão da inflação e da crise energética, ou que um presidente mais amigável chegue à Casa Branca em 2024. Sua esperança é que o Ocidente corte o apoio econômico e militar que tem sido vital para a sobrevivência da Ucrânia.

Por causa disso, o destino de ucranianos e russos vai depender de um fator intangível muito importante: como o mundo vai encarar a partir de agora o apoio de Washington e de seus aliados europeus a Kyiv na guerra?

Dentro dos EUA e no sul global (grupos de países em desenvolvimento que inclui o Brasil), o envolvimento indireto de Washington na Ucrânia vem sendo comparado à segunda invasão americana ao Iraque, em 2003 – uma operação moralmente injustificável, que se baseava numa busca por armas de destruição em massa inexistentes.

Outra associação comum é com a retirada militar atrapalhada do Afeganistão em 2021 – após quase 20 anos de uma operação militar de resposta aos atentados de 11 de setembro que tinha embasamento legal, mas que gerou críticas sobre a legitimidade do intervencionismo norte-americano.

Parte dessas associações de imagem pode ser atribuída a um esforço de propaganda russo, inserido na atual guerra de informação e na tentativa russa de evitar o isolamento diplomático.

Mas a Ucrânia não é o Iraque de 2003. Dessa vez, o Ocidente não está envolvido em uma guerra de contrainsurgência para impor valores – ou simplesmente eleições – a uma cultura completamente diferente. Pelo contrário, está oferecendo apoio, indireto mas vital, para uma democracia estabelecida que luta para não ser anexada no projeto expansionista e autoritário da Rússia.

Em um artigo publicado na revista americana Foreign Affairs, o professor de história da Universidade de Yale Timothy Snyder comparou a situação atual na Ucrânia com o Acordo de Munique, de 1938 – episódio que ajudou a desencadear a anexação da Tchecoslováquia pela Alemanha e a Segunda Guerra Mundial.

Na ocasião, a Alemanha nazista reivindicava a posse dos Sudetos, um território da Tchecoslováquia onde havia maioria de alemães étnicos. O processo aconteceu de forma semelhante ao que a Rússia faz com a Ucrânia hoje. Hitler acusava a democracia tcheca de autoritarismo e de violações de direitos de alemães étnicos que viviam em seu território. Putin faz o mesmo com a Ucrânia.

Segundo Snyder, a Tchecoslováquia tinha forças armadas decentes, a melhor indústria de armas da Europa e defesas naturais melhoradas pela construção de linhas de fortalezas nas montanhas. Segundo o historiador, talvez a Alemanha não tivesse conseguido bater os tchecos em uma guerra aberta, ou ao menos teria tido uma grande dificuldade para fazê-lo – isso se a Tchecoslováquia tivesse recebido apoio de seus aliados da época, a França e o Reino Unido.

Mas Édouard Daladier (então premiê da França), Neville Chamberlain (premiê do Reino Unido) e Benito Mussolini (líder da Itália) decidiram entregar os Sudetos a Hitler para apaziguá-lo, sem ao menos deixar o governo tcheco participar das negociações. Esse foi o pacto de Munique.

Winston Churchill, um dos maiores críticos de Chamberlain à época, afirmou na ocasião: “Você pôde escolher entre a guerra e a desonra. Você escolheu a desonra e vai receber a guerra”.

Após tomar os Sudetos sem combate, a Alemanha anexou toda a Tchecoslováquia. Com as armas pilhadas no país, invadiu em seguida a Polônia e sua campanha militar ganhou momentum – o que atraiu aliados e deflagrou a guerra.

Snyder especula que, se Hitler tivesse enfrentado uma batalha dura na Tchecoslováquia, talvez o apelo popular de seu regime tivesse sido menor e o Reino Unido e a França teriam tido tempo de se preparar para o combate. Isso eventualmente poderia ter impedido a deflagração da Segunda Guerra.

Putin está enfrentando uma batalha dura na Ucrânia. Para o historiador, o mundo pode estar hoje em um cenário semelhante ao de 1938 – com a diferença de que o Ocidente dessa vez decidiu agir e mandar socorro a uma democracia colocada em xeque por um regime autoritário.

Mas, para se evitar uma guerra nuclear, o apoio vem sendo em forma de sanções e isolamento de Moscou, além de remessas de recursos financeiros, armamentos e informações de inteligência – sem o envio de tropas.

Não é possível saber com certeza até onde vai o apetite expansionista de Putin. Ele invadiu a Geórgia em 2008 e ao fazer isso percebeu que suas Forças Armadas precisavam ser modernizadas. Isso foi implementado de forma parcial. Em 2014, anexou a Crimeia e fomentou movimentos separatistas no Donbas ucraniano.

Sabe-se, por meio de ensaio publicado por ele em 2021, que suas ambições são inspiradas em uma visão distorcida da história, segundo a qual a Rússia atual teria “direito natural” de dominar uma série de territórios vizinhos. Este foi o tema da nossa coluna na semana passada.

Em discurso na sexta-feira, ele disse que “gerações de russos” já lutaram pelas terras em processo atual de anexação na Ucrânia. Isso seria uma possível referência à expansão militar promovida pela imperatriz Catarina II no século 18. Putin também classificou o Ocidente como “inimigo” e uma ditadura de elites voltadas contra todas as sociedades, que professam uma religião satanista.

No seu ensaio do ano passado, o presidente russo lamentou decisões do período soviético tomadas por Lenin, que separaram diversas regiões que ele acreditava serem por direito da Rússia.

Se os planos de Putin forem retomar os territórios do que chama de “Rússia histórica”, então cidadãos de países como Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Polônia, Belarus, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão, Turcomenistão e Tadjiquistão devem ter razão para se preocupar. Também é uma incógnita se Putin desejaria reaver essas áreas militarmente ou por meio de influência política ou instalação de governos títeres.

Putin está preparando mais 300 mil homens para enviar à Ucrânia. Mas há indícios no próprio decreto de mobilização parcial (que tem artigos secretos) de que o número pode passar de um milhão de soldados – o que dobraria o efetivo das Forças Armadas da Rússia. Não se mobiliza um contingente assim só para fazer pressão diplomática.

As tropas podem ser destinadas a manter as regiões já conquistadas na Ucrânia – e sufocar movimentos de resistência – ou podem ser usadas em novas ofensivas que podem até extrapolar o território ucraniano.

Estado totalitário
Mas ao formar esse novo exército, Putin quebra um acordo informal que tinha com o povo russo: “impunidade para as ações do governo em troca de privacidade e prosperidade para os cidadãos”.

Na medida em que os recrutadores batem nas portas dos cidadãos russos, o debate político volta à sociedade. As trapalhadas do início da mobilização parcial – como a convocação de deficientes e idosos – coloca em evidência a incompetência e a falta de determinação dos militares russos e alimenta ainda mais o nascente debate político.

Para continuar com a formação de seu novo exército, Putin terá que endurecer ainda mais os instrumentos de repressão às liberdades individuais do país. Ele terá, por exemplo, que evitar mais episódios de incêndios de centros de recrutamento e assassinatos de recrutadores. Se não fizer isso, pode perder a capacidade de governar. A Rússia vai se tornar cada vez mais um Estado totalitário e policial.

Assim, uma eventual vitória russa na Ucrânia pode significar o fortalecimento não só de Putin e de seu projeto expansionista, mas estimular a proliferação de outros governos autocráticos, classificados por Snyder como “tirânicos”.

Ou seja, segundo o historiador, o resultado dessa guerra vai estabelecer os princípios das relações diplomáticas do século 21 e influenciar diretamente o futuro das democracias.

Além disso, se a Ucrânia e seus aliados do Ocidente não forem capazes de reconquistar Kherson, Luhansk, partes de Donetsk, Zaporizhzhia e a Crimeia (tomada pela Rússia em 2014), o mundo pode retornar a uma era mais violenta, que até então tinha praticamente acabado junto com a Segunda Guerra: a era das guerras motivadas por conquista territorial.

Os piores aspectos desse tipo de guerra são os efeitos sobre a população civil – que sempre acaba submetida a políticas de repressão e até é alvo de políticas de retirada ou aniquilação para diminuição de densidade populacional de determinadas áreas.

Alguns desses aspectos já ocorreram nos sete meses de guerra na Ucrânia. Alguns exemplos são o bombardeio indiscriminado de alvos civis e militares em Mariupol e Kharkiv e a alegada remoção forçada de contingentes populacionais ucranianos inteiros de áreas ocupadas e sua transferência para o interior remoto da Rússia.

Ameaça nuclear
A última tentativa de ressuscitar esse tipo de conflito para expansão de territórios havia sido feita pelo Iraque, ao invadir o Kwait em 1990. O país acabou expulso do território vizinho por uma coalizão ocidental.

Mas o Iraque não tinha armas de destruição em massa, como se provou na desastrada invasão americana seguinte, em 2003. A Rússia, por outro lado, é a detentora do maior arsenal nuclear do planeta e vem ameaçando usá-lo caso as áreas recentemente anexadas sejam atacadas.

Embora as ameaças tenham que ser tratadas com seriedade, é pouco provável que a Rússia quebre o chamado “tabu nuclear”, mesmo se utilizar uma bomba de natureza tática (de menor poder de destruição). Isso porque tal ação poderia levar a OTAN (aliança militar ocidental) a participar diretamente do conflito, com o envio de tropas, navios e aeronaves. Esse é um cenário que Putin quer evitar.

As recentes ameaças de usar bombas nucleares parecem mais uma tentativa russa de dissuadir o Ocidente de enviar armas convencionais ainda mais poderosas para a Ucrânia.

Se não conseguir um acordo de paz para dizer que a Rússia venceu a guerra ao anexar 20% do território ucraniano, Putin vai tentar estender o conflito usando mais recrutas e armas convencionais.

Críticos do Ocidente podem argumentar que a indústria americana está lucrando ao vender armas para serem usadas na guerra da Ucrânia e exportar gás para o mercado europeu.

O Reino Unido e a União Europeia, por sua vez, já estão se endividando para tentar lidar com a escassez de energia e a inflação em crescimento, resultantes das sanções à Rússia.

Mas, do ponto de vista do Ocidente, se Putin não for detido agora, o que está em jogo não é só a economia, mas o próprio futuro da liberdade dos povos e da democracia – diante do autoritarismo e do expansionismo por vias militares da estratégia russa.

O desafiador ato de anexação realizado pelos russos na última sexta-feira deve levar as potências ocidentais a avaliar a viabilidade de medidas como a inclusão da Ucrânia na OTAN (o que legalmente é bem complicado), a imposição de um teto mundial de preços para exportação de petróleo ou o envio de armas ainda mais potentes para a Ucrânia.

Por isso, é esperado que Washington e seus aliados tentem retratar cada vez mais seu apoio indireto à Ucrânia como parte de uma guerra justa, desvinculada das campanhas de contrainsurgência do século 21 no Oriente Médio. Para ter sucesso, eles deverão mostrar que o apoio à Ucrânia pode parar a Rússia agora e assim impedir (e não deflagrar) uma Terceira Guerra Mundial.


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A ESQUERDA QUER QUE A IGREJAS EVANGÉLICAS FIQUEM CALADAS

 

Intolerância religiosa

Por
Guilherme de Carvalho – Gazeta do Povo


Site The Intercept publicou fortes críticas à Assembleia de Deus por cartilha que reafirma princípios cristãos às vésperas da eleição.| Foto: Unsplash

Li a cartilha da editora Kaleo para a Assembleia de Deus de Santa Catarina, inteira, antes de ler o chilique jornalístico do The Intercept, publicado em 20 de setembro. E sigo me perguntando se a redação desse grande jornal foi instalada no planeta Terra ou pelo menos aqui perto, na Lua.

O que defende a “cartilha raivosa” dos crentes catarinenses, como a rotularam os autores da pérola jornalística? Em essência, coisas de crentes. Coisas que se ouvem (em versões incultas, concedo) nos corredores das igrejas, em seus grupos on-line e em suas casas: que o marxismo é ateísta, que o todo com as partes sabidamente doentes do PNDH-3 foram coisa de Lula et caterva, que a revolução sexual é incompatível com a religião cristã, que a cultura do movimento LGBTQIA+ é incompatível com a religião cristã, que segundo a Bíblia Deus criou homem e mulher – e o gênero não pode ser separado do sexo biológico –, que o feminismo ajudou a aumentar o número de divórcios, que o divórcio deve ser combatido, que a esquerda tende a descurar, quando não destruir ativamente, a instituição familiar etc.

Ademais, essa perspectiva geral sempre foi ensinada, de um jeito ou de outro, em todas as grandes igrejas, e alguns dos pontos acima são ensinados até mesmo por aquelas igrejas mais modernizadas e abertas a alguns valores progressistas. Então, por que o chilique?

Porque isso pode afetar… as eleições, quem diria!

Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito

É claro que a teologia das igrejas sempre afetou, afeta e deve mesmo afetar as eleições. A teologia cristã afeta tudo, seja ela bem-feita ou malfeita. A teologia calvinista favoreceu as revoluções constitucionais na Europa. A teologia dos puritanos racistas os fez legitimar a escravidão nos EUA. A teologia dos “cristãos alemães” os fez apoiar Hitler. A teologia dos Quakers, dos metodistas e de alguns anglicanos os fez abolicionistas, como foi o caso do grande William Wilberforce. A teologia de São João Crisóstomo o fez defender o direito dos pobres. A teologia de Bartolomeu de las Casas o fez defender os índios. A Teologia da Libertação fez o PT se fantasiar como “o partido de Deus” e desestabilizar o país. A teologia da “igreja confessante” a fez produzir a declaração de Barmen, contra a manipulação estatal e ideológica do regime nazista, e por isso a maior parte dos seus signatários foi enviada por Hitler para o front oriental, onde morreram congelados ou nas baionetas russas.

E é a ateologia progressista – incluindo a conversa fiada de que os evangélicos são companheiros desorientados, que o problema é a liderança, e eles que só precisam de um bom pastor para votar corretamente e retornar ao aprisco revolucionário – o que está por trás da crítica serelepe levantada pelo Intercept.

Tenho minhas críticas à cartilha. Penso que ela não deveria ter recomendado o conservadorismo como o ponto de partida da visão cristã de ética e sociedade, sem mais. E essa é a minha crítica teológico-política: isso está simplesmente errado, e eu disse isso diretamente a um dos pastores responsáveis pelo documento. Tratei disso aqui na Gazeta, quando apontei o fato incontornável de que a libertação de Israel do Egito, relatada no Êxodo, envolveu o desmantelamento de um discurso de ordem idólatra e uma batalha de Deus contra os opressores. A fé bíblica afirma uma ordem criacional, mas às vezes tem uma posição “revolucionária” (não no sentido marxiano, evidentemente) diante do establishment.


Medo-de-crente
O que as igrejas deveriam fazer com seus membros progressistas?
Seja qual for a teologia política cristã, ela precisará balancear claramente Criação e Êxodo, conservação e transformação. Como fazer isso é outra história, que não cabe desfiarmos aqui.

Mas suponhamos que eu esteja certo e a cartilha tenha errado a mão nesse ponto; nada muda, absolutamente. A Igreja Católica há séculos desenvolve a sua doutrina social, revisando e refinando suas posições, e já condenou tanto o marxismo ateu quanto o capitalismo laissez-faire. A Doutrina Social da Igreja trata a família como célula básica da sociedade, e condena todos os pecados que o Intercept costuma celebrar. Como eu já mencionei antes e insisto, toda igreja tem o direito de ensinar a sua doutrina àqueles que quiserem ser seus membros, e os pais têm o direito de dar a seus filhos a educação religiosa e moral de sua preferência. Não havendo incitação ao ódio a pessoas, nem à violência, nem à subversão da democracia, as igrejas estão no seu direito. Os pastores estão no seu direito. As escolas dominicais estão no seu direito, e os pais que mandam seus filhos para lá estão no seu direito.

E aí está a raiz da reportagem raivosa da Intercept: o que incomodou não foram os erros na cartilha dos crentes, mas os seus acertos. O documento que eles atacam rejeita ideias morais caras à esquerda.

É claro que a teologia das igrejas sempre afetou, afeta e deve mesmo afetar as eleições. A teologia cristã afeta tudo, seja ela bem-feita ou malfeita

A cartilha faz algumas generalizações realmente enervantes, como quando condena o feminismo em bloco ou quando culpa o “marxismo cultural” por toda a desordem no campo da ética sexual, como se o liberalismo e o capitalismo não tivessem culpa nenhuma (e eu mesmo já fiquei, por assim dizer, roxo de tanto discutir o tema nessa coluna). Nesse caso, no entanto, os jornalistas deveriam ser jornalistas e apontar os erros. Os erros. Mas o que eles fazem é puxar alguns fios soltos para condenar o discurso inteiro.

Consideremos o subtítulo da matéria, que vai direto no calcanhar de Aquiles da cartilha: associar o feminismo à zoofilia é mesmo demais. Mas e quanto à pedofilia? Também o seria, não fosse a própria Simone de Beauvoir uma defensora da descriminalização da pedofilia. Que azar, gente! Então, me pergunto: do que esses jornalistas estão reclamando? O trabalho deles não é entregar informação?

O que a matéria faz, no melhor estilo do jornalismo contemporâneo, é acusar uma “raiva santa”, um “ódio” etc., sentimentalizando a coisa. Mentira, a cartilha não é raivosa; é apenas explícita sobre o valor das ideias: algumas ideias merecem ser ignoradas, e algumas são tão ruins que merecem ser detestadas. Ora, meus amigos, ninguém tem de respeitar ideias que lhe parecem detestáveis. O candomblecista não tem de respeitar o monoteísmo; ele tem de respeitar os monoteístas. O marxista não tem de respeitar o conservadorismo; ele tem de respeitar os conservadores. E os cristãos não têm de respeitar as degenerações morais da esquerda brasileira. Eles têm, sim, de representá-las do modo mais honesto possível, ao fazer suas críticas; mas respeitá-las? Oh, céus! Que fanfarronice!

Algumas ideias merecem ser ignoradas, e algumas são tão ruins que merecem ser detestadas. Ora, ninguém tem de respeitar ideias que lhe parecem detestáveis

Reivindico, aqui, os meus direitos de cidadão e meus deveres de evangélico: a agenda moral da esquerda brasileira é detestável. Críticas desonestas contra a infeliz são dignas de toda a reprovação, mas poderia isso redimi-la da sua feiura natural? Não obstante a incompetência da crítica evangélica conservadora, a geringonça não vale um tostão.

Tivesse eu poderes para tanto, declararia aberta a temporada das cartilhas eclesiásticas! E pra já mesmo, a partir de segunda-feira. Que as igrejas formem comissões teológicas e componham suas cartilhas de doutrina social e política, para crianças, jovens, adolescentes, mulheres, homens e idosos. Que as igrejas leiam e discutam em seus grupos essas denúncias jornalísticas desesperadas, e exponham de casa em casa esses órgãos ideológicos metidos a magistério teológico.

O candomblecista não tem de respeitar o monoteísmo; ele tem de respeitar os monoteístas. O marxista não tem de respeitar o conservadorismo; ele tem de respeitar os conservadores. E os cristãos não têm de respeitar as degenerações morais da esquerda brasileira

E, em vez de se infiltrar nas igrejas estabelecidas, a militância laicista pode dar um trato mais honroso ao seu recalque. Ela pode também plantar suas igrejas sem Deus, formar suas famílias sem biologia, fazer suas orações de punho cerrado, ensinar seus filhos a “amar” (pegar) todo mundo no fim de semana, e esperar alegremente o Sol, que é para todos, virar uma gigante vermelha e engolir a Terra, junto com sua utopia igualitária.

Mas enquanto não chega esse tão esperado dia, vamos honrar John Locke, John Stuart Mill, a nossa Constituição, e aprender a tolerar uns aos outros. Afinal, só Deus poderia curar nossas divergências; mas até nisso nós divergimos, não é?


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A ELEIÇÃO DO CONGRESSO É A MAIS IMPORTANTE DE TODAS

 

  1. Opinião 

A eleição mais importante

É o Legislativo que faz as leis, altera a Constituição, aprova o Orçamento, controla o Executivo e dá a última palavra sobre a composição do STF

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Hoje, o Brasil vai às urnas definir os rumos do País para os próximos anos, nos âmbitos federal e estadual. São decisões fundamentais para o desenvolvimento social e econômico da Nação: como enfrentaremos a atual crise em suas várias dimensões, como lidaremos com nossas desigualdades sociais, como nos prepararemos para os desafios e oportunidades futuros, como reafirmaremos o Estado Democrático de Direito. Engana-se, no entanto, quem pensa que isso tudo será definido pela disputa presidencial. A grande eleição, a mais decisiva, é a do Congresso: o voto para senador e o voto para deputado federal.

Muito se diz, hoje em dia, que o Supremo Tribunal Federal (STF) dá a última palavra no País. De fato, num Estado Democrático de Direito, é a Corte constitucional quem dá a decisão final sobre a interpretação da Constituição. É necessário que seja assim. Os direitos e liberdades fundamentais, bem como aspectos fundantes do Estado, não podem estar reféns da vontade da maioria. No entanto, quem manda na Constituição – na imensa parte que não está protegida por cláusulas pétreas – é o Legislativo, com seu poder de emendá-la. De fato e de direito, quem manda no País – quem cria as leis, o único instrumento apto a obrigar alguém a fazer ou deixar de fazer alguma coisa – é o Congresso.

Essa particular preponderância do Legislativo não é uma realidade a ser lamentada. Ao contrário: o Congresso é o órgão, por excelência, de representação da população, em suas legítimas e múltiplas particularidades. Em toda a estrutura estatal, o Legislativo é quem expressa, de forma mais fidedigna, a plural vontade da população. E, como numa democracia todo o poder emana do povo, é no Congresso que ocorre a mais importante disputa política.

Equivoca-se, portanto, quem pensa que a grande decisão de hoje se refere ao Executivo federal. Certamente, no sistema presidencialista, o presidente da República tem um peso especial nos rumos do País; em concreto, sobre a própria agenda do Congresso. De toda forma, o chefe do Executivo federal está submetido às leis que o Legislativo redige, bem como ao controle exercido pelos senadores e deputados.

Exemplo recente da relevância do Congresso foi a CPI da Covid. O trabalho da comissão foi fundamental não apenas para que a população tomasse conhecimento do descalabro que foi o enfrentamento da pandemia pelo Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro, como também para que o próprio governo se desse conta de que havia limites. Com a CPI da Covid, o Palácio do Planalto percebeu que nem tudo podia ser coberto por decretos de sigilo. Por exemplo, os senadores revelaram à população a apatia do governo Bolsonaro para comprar vacinas e sua diligência para participar de negociações estranhas, com reuniões até mesmo em um shopping. A defesa da moralidade pública passa diretamente por um Congresso responsável, altivo e independente.

A Constituição atribui competências exclusivas à Câmara e ao Senado sobre o processamento dos crimes comuns e de responsabilidade das principais autoridades do País. Trata-se de uma atribuição especialmente importante, seja para evitar a impunidade, seja para impedir que esses processos sirvam para perseguições políticas.

Além disso, cabe ao Senado avaliar os nomes indicados pelo presidente da República, entre outros cargos, à chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR), às diretorias das agências reguladoras, ao STF e aos demais tribunais superiores. Assim, toda a composição das Cortes superiores, que definem as linhas interpretativas do Direito a serem seguidas em todo o País, precisa ser aprovada pelos senadores. Ou seja, o Congresso tem especial responsabilidade sobre o Poder Judiciário e a efetiva vigência das regras jurídicas.

Por essas razões, é importante que o Legislativo represente, de forma cada vez mais fidedigna, a pluralidade da população brasileira. Hoje, nas urnas, a voz de todos têm rigorosamente o mesmo peso. Que ela seja uma voz livre e responsável, a eleger um Congresso igualmente livre e responsável.

O QUE É MELHOR A DIREITA OU A ESQUERDA?

 

Luc Ferry

Foto: Taba Benedicto/Estadão

Por Marcelo Godoy – Jornal Estadão

Filósofo francês diz como reagir ao medo para exercer a cidadania e como defender a democracia

Filósofo e ex-ministro da Educação da França, Luc Ferry encontrou o Brasil em meio a campanha eleitoral polarizada entre Luiz Inácio Lula da Silva Jair Bolsonaro, que se desenvolveu sob o receio de uma escalada da violência após dois assassinatos por razões políticas: um no Paraná e outro em Mato Grosso. Ele esteve há dez dias no País para conferências no evento Fronteiras do Pensamento, em São Paulo e em Porto Alegre, ao mesmo tempo em que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgou pesquisa na qual 67% dos eleitores disseram ter medo de serem ameaçados em razão de suas posições políticas.

Para o filósofo, é preciso recuperar o equilíbrio no debate público para enfrentar o medo e exercer a cidadania diante dos avanços da extrema direita no Brasil e na Europa e dos erros da esquerda, que deixou de ser “social para se tornar societária”. Ferry dialoga aqui com intelectuais como Raymond Aron e Jean-Paul Sartre. Ele é conhecido por não poupar em suas intervenções no debate público o senso comum. Era ministro quando o uso de véu islâmico foi proibido nas escolas públicas da França. Queria, então, reafirmar a laicidade do Estado. Estava em São Paulo, quando, em um almoço, pediu à reportagem que encaminhasse as perguntas por escrito, a fim de que pudesse elaborar suas respostas. Ei-las.

Imagem do filósofo francês Luc Ferry em hotel na região central de São Paulo
Imagem do filósofo francês Luc Ferry em hotel na região central de São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Refletindo sobre o princípio de um governo autoritário em Democracia e Totalitarismo, Raymond Aron afirma ter encontrado dois sentimentos: medo e fé. ‘Aqueles que não acreditam na doutrina oficial devem estar convencidos de sua impotência.’ No Brasil, uma pesquisa recente mostrou que 67% da população tem medo de ser ameaçada por causa de posições políticas. Qual é a consequência desta situação para a democracia? É possível manter a democracia quando as pessoas têm medo de exercer sua cidadania?

A resposta está na pergunta. O problema é mais saber baixar o nível de medo ou, como outra maneira de ver as coisas, aumentar o nível de coragem. Em uma sociedade onde a violência é endêmica, é necessário que a mídia assuma a responsabilidade. É essencial que ela tenha a coragem de organizar debates com o contraditório, mas bem argumentado. Cabe a ela escolher convidados que, embora em desacordo entre eles, sejam razoáveis o suficiente para dar ao debate democrático uma imagem pacífica, porque centrado em conceito e argumentos.

Raymond Aron também dizia que os cidadãos em um regime constitucional-pluralista devem ter três qualidades: “respeitar as leis e, em particular, a norma constitucional; eles devem provar as paixões partidárias para animar o regime e impedir o sonho da uniformidade e, finalmente, eles não devem levar as paixões partidárias até o ponto onde desaparece a possibilidade de entendimento, isso quer dizer, eles devem ter o senso do compromisso”, que não se confunde com o acordo espúrio. O que deve ser feito para formar esse tipo de cidadão em nossas sociedades?

O problema com as paixões é que elas são difíceis de restringir. Por definição, um debate acalorado é apenas muito dificilmente um debate fundamentado. Aron está certo, temos de reconciliar ambos: sem paixão, o debate é fraco, mas sem a discussão, volta-se para o boxe, para a violência. Aqui, novamente, é antes de mais nada para os grandes meios de comunicação, em particular para a televisão, a tarefa de fazer de tudo para que uma imagem desta aliança entre paixão e razão seja dada ao público em geral. É possível escolher inteligentemente os palestrantes em um programa de debate político. O problema é que muitas vezes a lógica da mídia é a do Ibope e, o que infelizmente acontece, é que o pugilato se vende melhor do que a discussão argumentada.

Em que medida é importante resistir aos desafios da nova extrema direita? E qual é o papel da nova esquerda nesse debate?

Acho que ainda não medimos todos os efeitos e todas as consequências do colapso da União Soviética e, em geral, do comunismo. A verdade é que a queda do comunismo acabou trazendo consigo a queda do socialismo e, em última análise, de todas as formas de social-democracia. Na Europa, a extrema direita continua ganhando terreno, chega ao poder na Suécia e na Itália e, na França, está muito próxima. Aos olhos de um jovem tentado pelo radicalismo, a esquerda parece fraca e sem ideias afiadas em comparação com o extremismo de direita. A esquerda deve hoje repensar seu software intelectual de cima para baixo, deve repensá-lo fora do comunismo em relação ao qual sempre se posicionou como simplesmente reformista e não revolucionária. Hoje, o reformismo se situa no centro, mais à esquerda, e, para muitas pessoas, é a extrema direita que melhor encarna, senão a ideia revolucionária, pelo menos a de radicalismo.

Em 1945, logo após a derrota do nazi-fascismo, Jean-Paul Sartre escreveu O Que é um Colaborador? Sartre disse, então, que a democracia sempre foi um terreno fértil para os fascistas porque tolera, por sua natureza, todas as opiniões; no final das contas, ‘leis restritivas devem ser feitas: não deve haver liberdade contra liberdade’. Diante do recrudescimento de movimentos extremistas de direita e de esquerda no mundo, esse seria o caminho que devemos seguir?

De jeito nenhum. A tese de Sartre é, como muitas vezes, totalitária e draconiana. Simone de Beauvoir teve a coragem de escrever isso no início de seu livro sobre moral: ‘A verdade é uma, só o erro é múltiplo, por isso a direita é pluralista!’ Com esse tipo de raciocínio, vai-se direto ao partido único e ao totalitarismo. Sejamos honestos: se a extrema direita chega ao poder é porque a esquerda entrou em colapso e não conseguiu resolver os problemas do povo, especialmente os da classe trabalhadora. Na França, são esmagadoramente os trabalhadores que votam na extrema direita, que devem fazer pensar a esquerda, que abandonou o social pelo societário, a classe trabalhadora pelas lutas de identidade…

Sartre disse, também no mesmo texto de 1945, que a tese favorita do colaborador – bem como do fascista – era a do realismo. Ele conclui que, em face dele, a resistência, que acabou triunfando, ‘mostra que o papel do homem é saber dizer não aos fatos mesmo quando parece que temos que nos submeter a isso’. E, hoje, como podemos resistir e defender o democracia? Seria necessária a coragem de um novo manifesto de 18 de junho de 1940, como fez o general De Gaulle?

Mais uma vez Sartre está errado. O realismo não consiste em se submeter ao real, o realismo não é resignação, mas aceitar compreender o real para poder, se necessário, mudá-lo. A tese de Freud sempre me pareceu sobre esse assunto mais convincente: a utopia é o ‘princípio do prazer’, que reivindica a felicidade sem esperar, aqui e agora. É o princípio que rege o mundo da infância. O ‘princípio de realidade’ obedece a outra lógica sem, contudo, opor-se de maneira absoluta ao princípio do prazer. Para dizer a verdade, como diz Freud, ele não é jamais que uma ‘modalidade’, uma variante que, simplesmente, leva em conta os limites que nos coloca o real. Seu objetivo continua sendo a realização de desejos, mas o indivíduo adulto agora sabe que devemos levar em conta os obstáculos que geralmente povoam o mundo real. A utopia sempre tem sempre alguma coisa de infantil e, além disso, no mundo real, leva sempre ao desastre. A Revolução Cultural Chinesa, à qual Sartre aderiu, fez mais de 60 milhões de mortes! Então, sejamos realistas, vamos lutar contra o medo e a opressão que sempre desperta, mas levando em conta a realidade, não fugindo dela e, novamente, volto a isso, a responsabilidade da mídia é crucial: em democracia, o “quarto poder” é muitas vezes o primeiro!

NEM SEMPRE OS MELHORES PRODUTOS DOMINAM O MERCADO

 

Bruno Nardon | G4 Educação

Deixa eu te contar algo que você já sabe: nem sempre as empresas que produzem os melhores produtos dominam o mercado.

Na verdade, muitas vezes, as empresas líderes de certos segmentos tem um produto mediano (ou até abaixo da média). Isso não é verdade apenas para um tipo de mercado, como tecnologia ou alimentação.

Em absolutamente todas as vertentes de negócios, o product-market fit (o alinhamento entre o produto e a necessidade do mercado) é apenas um dos fatores que determinam o tamanho da participação da empresa no market share.

O que você (provavelmente) não sabe é quais outros fatores compõem este processo – e são responsáveis pelo potencial de crescimento de uma operação.

Resumidamente, há uma estrutura de quatro fits (Four Fits Framework) que é usada para mapear como os diferentes componentes de uma empresa “se encaixam” para impulsionar (ou impedir) seu crescimento. São eles:

Product-Market Fit – como o mercado se encaixa com o produto que você vende;

Model-Market Fit – como o mercado se encaixa no modelo de negócios do seu produto;

Market-Channel Fit – como o mercado se encaixa com seus canais de aquisição;

Product-Channel Fit – como seu produto se encaixa com seus canais de aquisição.

E quanto a velha história de que “tudo que você precisa é de um bom produto”?

Basta olhar para as empresas que lideram os mais variados mercados e você verá que nem sempre o melhor produto é o que “vence”.

Por que você está ignorando a ferramenta de vendas mais poderosa do mundo?

Guilherme Dias – Diretor de Comunicação e Marketing da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG)

Eu vejo todos os dias o anunciante separando seus R$ 10.000,00 pra fazer uma campanha no rádio, R$ 3.000,00 para sair em uma revista local, pelo menos R$ 9.000,00 para fazer uns 3 pontos de mídia exterior, mas na hora de tirar o escorpião do bolso pra comprar mídia online, qualquer “milão” é “caro demais”.

Eu sinceramente não sei de onde veio este mito de que fazer anúncios na internet merece menos atenção financeira do que outros meios. A lógica deveria ser justamente a inversa.

Nenhum outro tipo de mídia retém tanta atenção do público comprador como na internet.

O Brasil é o terceiro país do mundo onde as pessoas mais ficam conectadas, passando mais de 10 horas por dia online (DEZ HORAS POR DIA!).

Ficamos atrás apenas de África do Sul e Filipinas.

Qual outra mídia prende a atenção das pessoas por DEZ HORAS?

Qual outra mídia pode colocar sua marca literalmente na mão do seu cliente ideal?

Qual outra mídia pode colocar sua marca na mão do seu cliente no EXATO momento que ele está propenso a fazer uma compra?

Qual outra mídia pode rastrear, seguir o seu cliente de acordo com os hábitos de consumo dele?

Qual outra mídia pode segmentar um anúncio de acordo com os interesses, medos, desejos, ações, intenções…

Qual outra mídia pode oferecer um contato com seu cliente ideal 24 horas por dia, 7 dias por semana?

Absolutamente nenhuma além da internet.

E agora, me conta…qual o motivo da internet receber menos investimento comparado à mídia tradicional?

Marketing Digital é barato, mas não é de graça.

Vamos fazer uma conta de padaria:

Quanto custa imprimir 1.000 flyers (folhetos) e distribuir no sinal?

Papel couchè brilho 90g 4×4 cores, em gráfica de internet (qualidade bem meia boca), com frete sai em torno de R$ 250,00.

Para a distribuição, você não vai encontrar quem faça por menos de R$ 70 a diária.

Você não tem a garantia de entrega. Já ví muito “panfleteiro” jogando metade do material no bueiro, ou entregando 2 de uma vez só em cada carro. Mas vamos tirar essa margem da conta.

Estamos falando de R$ 320 para 1 mil impactos.

Hoje estava otimizando uma campanha de Instagram, da minha conta pessoal, e o meu CPM (custo por mil impressões) estava girando em torno de R$ 5,51.

Ou seja cerca de 1,72% do valor de uma ação de rua com flyer.

Essa lógica pode ser aplicada a qualquer meio de comunicação tradicional, seja rádio, tv, outdoor, busdoor…

E a conta também deve ser levada em consideração além dos anúncios de Google, LinekedIN, Facebook, Instagram e TikTok.

Banners em portais e publieditoriais, este último ainda pouco explorado por pequenos e médios anunciantes, também apresentam números disparados na frente do marketing tradicional.

Então, quando você se perguntar se está tendo ou não resultados com mídia online, pense nessa continha.

Marketing digital, em comparação, é barato sim, mas será que você deveria deixar a menor faixa de verba do seu orçamento de marketing para o meio de vendas MAIS PODEROSO QUE EXISTE?

Deixo a reflexão.

Preferências de Publicidade e Propaganda

Moysés Peruhype Carlech – Fábio Maciel – Mercado Pago

Você empresário, quando pensa e necessita de fazer algum anúncio para divulgar a sua empresa, um produto ou fazer uma promoção, qual ou quais veículos de propaganda você tem preferência?

Na minha região do Vale do Aço, percebo que a grande preferência das empresas para as suas propagandas é preferencialmente o rádio e outros meios como outdoors, jornais e revistas de pouca procura.

Vantagens da Propaganda no Rádio Offline

Em tempos de internet é normal se perguntar se propaganda em rádio funciona, mas por mais curioso que isso possa parecer para você, essa ainda é uma ferramenta de publicidade eficaz para alguns públicos.

É claro que não se escuta rádio como há alguns anos atrás, mas ainda existe sim um grande público fiel a esse setor. Se o seu serviço ou produto tiver como alvo essas pessoas, fazer uma propaganda em rádio funciona bem demais!

De nada adianta fazer um comercial e esperar que no dia seguinte suas vendas tripliquem. Você precisa ter um objetivo bem definido e entender que este é um processo de médio e longo prazo. Ou seja, você precisará entrar na mente das pessoas de forma positiva para, depois sim, concretizar suas vendas.

Desvantagens da Propaganda no Rádio Offline

Ao contrário da televisão, não há elementos visuais no rádio, o que costuma ser considerado uma das maiores desvantagens da propaganda no rádio. Frequentemente, os rádios também são usados ​​como ruído de fundo, e os ouvintes nem sempre prestam atenção aos anúncios. Eles também podem mudar de estação quando houver anúncios. Além disso, o ouvinte geralmente não consegue voltar a um anúncio de rádio e ouvi-lo quando quiser. Certos intervalos de tempo também são mais eficazes ao usar publicidade de rádio, mas normalmente há um número limitado,

A propaganda na rádio pode variar muito de rádio para rádio e cidade para cidade. Na minha cidade de Ipatinga por exemplo uma campanha de marketing que dure o mês todo pode custar em média 3-4 mil reais por mês.

Vantagens da Propaganda Online

Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia digital.

Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda mais barato.

Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança, voltando para o original quando for conveniente.

Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e de comentários que a ela recebeu.

A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.

Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a empresa.

Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.

Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não estão.

Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.

A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos: computadores, portáteis, tablets e smartphones.

Vantagens do Marketplace Valeon

Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as marcas exporem seus produtos e receberem acessos.

Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual. 

Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente. Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos diferentes.

Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma, proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.

Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em 2020. 

Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua marca.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

sábado, 1 de outubro de 2022

PLANOS DE GOVERNO DOS PRESIDENCIÁVEIS

 


Salário, estatais, reformas e mais: o que candidatos propõem para 15 temas econômicos

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Lula (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).| Foto: Ricardo Stuckert/PT; André Coelho/EFE; Reprodução/Facebook; Jefferson Rudy/Agência Senado

Os planos apresentados pelos candidatos a presidente da República apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e divulgados ao longo da campanha mostram diferentes visões para a economia brasileira.

Confira a seguir o que Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB) – os quatro primeiros em intenção de votos, segundo a mais recente pesquisa BTG/FSB – propõem para 15 temas econômicos:

Combustíveis
Crescimento econômico
Emprego e renda
Energia
Estatais e privatizações
Indústria
Inflação
Infraestrutura
Reformas da Previdência, trabalhista e tributária
Salário mínimo
Tabela do Imposto de Renda
Teto de gastos
Transferências de renda
O que a indústria espera do futuro presidente da República? Fiesp apresenta propostas
Quais os desafios econômicos de quem governar o país a partir de 2023
Teto de gastos, câmbio livre e meta de inflação são essenciais no próximo governo, diz CNI

Combustíveis
Ciro Gomes – Propõe mudar a política de preços da Petrobras “para beneficiar a sociedade brasileira” e recuperar e ampliar a capacidade de suas refinarias.

Jair Bolsonaro – O plano do presidente menciona a inflação dos combustíveis e afirma que “o governo adotou as medidas possíveis e conectadas com os fatos e continuará a fazê-lo no novo mandato, sempre respeitando a Constituição e a responsabilidade que deve caracterizar a gestão do erário público”. A proposta de governo entregue ao TSE não faz menção a qual pode ser a política de preços da Petrobras.

Lula – O plano de governo considera que é preciso “abrasileirar” o preço dos combustíveis e ampliar a produção nacional de derivados com expansão do parque de refino.

Simone Tebet – O plano de governo de Simone Tebet não faz menção aos preços dos combustíveis.

Crescimento econômico
Ciro Gomes – Propõe mudar o modelo econômico adotado pelos últimos governos e implantar um novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND), para gerar crédito, renda e emprego.

Jair Bolsonaro – Fala em “avançar e consolidar o crescimento econômico sustentado no médio e longo prazo”, com foco em ganho de produtividade, eficiência econômica e recuperação do equilíbrio fiscal.

Lula – Diz ter compromisso com o desenvolvimento econômico sustentável com estabilidade, para superar a crise e conter a inflação, num ambiente de “justiça tributária e transparência na definição e execução dos orçamentos públicos”.

Simone Tebet – Propõe realizar mudanças estruturais que permitam sair da armadilha do baixo crescimento. Para isso, segundo ela, é necessário que as fundações da democracia brasileira estejam sólidas e o tecido social, recuperado.

Emprego e renda
Ciro Gomes – Criação do Plano Emergencial do Pleno Emprego, orientado às obras de infraestrutura, com a finalidade de gerar 5 milhões de postos de trabalho nos dois primeiros anos de governo.

Jair Bolsonaro – Desenvolvimento de políticas para a formalização de trabalhadores e redução da taxa de informalidade, que em estados do Norte e Nordeste chega a 70%. Conectar empregabilidade com educação, a fim de preparar as pessoas para os novos desafios e propiciar a elas a migração segura de empregos que estão se tornando obsoletos para os novos postos de trabalho. Retirar da população o peso do Estado e deixar cada cidadão, com o apoio necessário do governo, exercitar sua criatividade, capacidade gerencial, visão empresarial e liberdade.

Lula – O ex-presidente afirma que as oportunidades de emprego e trabalho serão criadas por meio da retomada dos investimentos em infraestrutura e habitação; a reindustrialização nacional em novas bases tecnológicas e ambientais; a reforma agrária e o estímulo à economia solidária, à economia criativa e à verde, que será baseada na conservação, na restauração e no uso sustentável da biodiversidade.

Simone Tebet – Reduzir o desemprego, o subemprego e o desalento, incentivar a geração do emprego e renda, com maior formalização e melhor remuneração para os trabalhadores.

Energia

Ciro Gomes – Transformar a Petrobras numa empresa de ponta no desenvolvimento de novas fontes de energia, como a eólica, a solar e a baseada na produção de hidrogênio verde. Eliminar, até 2030, o uso da energia termelétrica.

Jair Bolsonaro – Gerar com eficiência e oferecer energia de acordo com a demanda atual, lançando as bases para as futuras necessidades. Diversificação na produção e utilização de energia sustentável, renovável e limpa.

Lula – Garantir a soberania e a segurança energética do país, com ampliação da oferta de energia, e aprofundar a diversificação da matriz energética, com expansão de fontes limpas e renováveis a preços compatíveis com a realidade brasileira.

Simone Tebet – Acelerar a transição para uma matriz ainda mais limpa, renovável, segura, barata e eficiente de energia de baixo carbono, por meio de competição entre diferentes fontes.

Estatais e privatizações

Ciro Gomes – O plano de governo de Ciro Gomes não faz referência a estatais ou privatizações. O candidato diz não ser contra privatizações, mas colocou-se contra a venda de Petrobras e da já privatizada Eletrobras, por atuarem em setores que considera estratégicos.

Jair Bolsonaro – Propõe deixar a cargo do Estado aquilo que somente ele pode realizar, em função de altos custos de investimento e complexidades inerentes à gestão, ou concentrando esforços em exercer “função estabilizadora” a fim de controlar, por exemplo, choques econômicos sobre a renda e o consumo. Fora isso, o programa prevê ampliação do processo de desestatização, o que segundo o documento trará benefícios diretos e indiretos ao cidadão e permitirá ao Estado focar em questões como saúde, educação, segurança e bem-estar. Não menciona a privatização da Petrobras, nem a dos Correios.

Lula – O petista fala em proteger o patrimônio do país e recompor o papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais para que cumpram seu papel no processo de desenvolvimento econômico e progresso social, produtivo e ambiental. Ele se opõe às privatizações da Petrobras, Pré-Sal Petróleo (PPSA), Eletrobras e Correios.

Simone Tebet – A proposta de governo da candidata fala em promover desestatizações, privatizações, concessões e parcerias público-privadas, com o objetivo de criar maior competição, eficiência e aumento de produtividade da economia. A ideia é destinar os recursos obtidos com desestatizações a políticas de redução da pobreza e à educação infantil. Tebet se manifestou contrária, no entanto, à privatização da Petrobras.

Indústria
Ciro Gomes – Ênfase especial a quatro complexos industriais: agronegócio; petróleo, gás e derivados; saúde e defesa. O impulso seria dado por um conjunto de políticas públicas que inclui estímulos à pesquisa e inovação, financiamentos específicos, compras públicas e incentivo às exportações.

Jair Bolsonaro – O programa fala em agregar valor no que é exportado, transformando commodities em produtos acabados ou semiacabados, que aumentem as divisas nacionais e respeitem o meio ambiente. Defende aumentar a produção nacional de fertilizantes. Siderurgia, a metalurgia e as indústrias de base também devem receber especial atenção para agregar valor.

Lula – Fortalecer e modernizar a estrutura produtiva por meio da reindustrialização e do estímulo a projetos inovadores. Elevar a taxa de investimentos públicos e privados e reduzir o custo do crédito.

Simone Tebet – Ampliar aportes tecnológicos nas indústrias brasileiras, com processos mais eficazes, para ganhos de produtividade, ampliar sua internacionalização e participação em cadeias globais.

Inflação
Ciro Gomes – O pedetista afirma que o Banco Central deve continuar atuando com autonomia operacional, dentro de um regime de metas que deverá buscar a menor inflação e o pleno emprego, “a exemplo do Banco Central americano”. Atualmente o BC tem autonomia técnica, operacional, administrativa e financeira, e tem como objetivo principal “assegurar a estabilidade de preços”; nesse modelo, “fomentar o pleno emprego” é um dos objetivos “secundários”, ao lado de “zelar pela estabilidade e eficiência do sistema financeiro” e “suavizar as flutuações do nível de atividade econômica”. Em abril, Ciro disse que não respeitaria o atual formato de autonomia do BC, trabalhando para substituí-lo por outro modelo ainda nos seis primeiros meses de governo, e que convidaria sua direção a se demitir no primeiro dia.

Jair Bolsonaro – Segundo o programa de governo, a inflação foi fortemente influenciada pela pandemia de coronavírus e a guerra na Ucrânia, que geraram forte desequilíbrio nas cadeias de fornecimento global e aumento dos preços do petróleo. O presidente afirma que o governo continuará respeitando o regime de metas de inflação e a independência do Banco Central.

Lula – O ex-presidente fala em coordenar a política econômica para combater a inflação, particularmente a dos alimentos, combustíveis e eletricidade.

Simone Tebet – Combater a inflação de forma permanente, com política fiscal responsável, contribuindo para a efetividade da política monetária sob comando de um Banco Central independente.

Infraestrutura

Ciro Gomes – Propõe a retomada das obras de infraestrutura logística e social e a criação de um fundo de investimento em infraestrutura. O pedetista fala em elevar os investimentos em infraestrutura de R$ 25 bilhões para R$ 180 bilhões por ano, retomando 14 mil obras públicas paradas.

Jair Bolsonaro – Promover a intermodalidade do sistema nacional de transporte; ampliar a cobertura e qualidade do transporte ferroviário e ampliar e melhorar a navegação de cabotagem e hidroviária; e ampliar e modernizar a logística nacional de produtos e mercadorias. O presidente afirma que a desestatização ou privatização e as concessões de ativos de infraestrutura para a iniciativa privado são fundamentais, assim como outras parcerias públicas de investimentos.

Lula – O ex-presidente defende garantir a modernização e ampliação da infraestrutura de logística de transporte, social e urbana com um vigoroso programa de investimentos públicos, com foco na volta do crescimento e a redução dos custos de produção.

Simone Tebet – A candidata do MDB propõe modernizar a infraestrutura viária por meio de maiores investimentos privados e melhor governança dos investimentos públicos.

Reforma da Previdência
Ciro Gomes – Pretende concluir a reforma da Previdência a partir de três pilares: renda básica garantida, parte da renda associada ao regime de repartição e outra parcela de capitalização.

Jair Bolsonaro – Fala em aprimorar o sistema previdenciário “com o objetivo de garantir a sustentabilidade financeira e a justiça social”.

Lula – Propõe “reconstrução” da seguridade e da Previdência Social, para ampla inclusão dos trabalhadores. Medidas tomadas pelo atual governo seriam revistas. O objetivo é um modelo previdenciário que concilie o aumento da cobertura com o financiamento sustentável.

Simone Tebet – O plano de governo não menciona este ponto específico. Mas a candidata fala em reduzir a contribuição previdenciária da faixa de um salário mínimo para todos os trabalhadores, como forma de estimular a formalização.

Reforma trabalhista
Ciro Gomes – Pretende redigir um novo Código Brasileiro do Trabalho (CBT), que abranja as melhores e mais modernas práticas de proteção internacionais e as convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Jair Bolsonaro – Afirma que a nova legislação trabalhista será mantida com segurança jurídica, ajudando a combater abusos empresarias e de sindicatos. Também pretende prosseguir nos avanços da legislação para facilitar as contratações.

Lula – O programa propõe uma nova legislação trabalhista, marcada por extensa proteção social a todas as formas de ocupação, de emprego e de relação de trabalho. E defende especial atenção a autônomos, domésticos, quem trabalha em home office e quem tem trabalho mediado por aplicativos e plataformas.

Simone Tebet – A candidata avalia que o Brasil não precisa de uma nova reforma trabalhista. Porém, defende que a legislação passe a garantir um mínimo de proteção para trabalhadores informais que atuam com serviços de aplicativos.

Reforma tributária
Ciro Gomes – Propõe a recriação do imposto sobre lucros e dividendos e taxação de grandes fortunas, bem como a redução da tributação sobre a produção e o consumo – um dos instrumentos seria a junção de ISS, IPI, ICMS, PIS e Cofins – e a elevação de impostos sobre a renda.

Jair Bolsonaro – Propõe reformar o sistema tributário por meio da simplificação da arrecadação e aumento da progressividade, e fala em torná-lo concorrencialmente neutro.

Lula – Defende uma estrutura tributária mais simples e progressiva. Pretende coibir a sonegação de impostos e aumentar a tributação, via Imposto de Renda, dos muito ricos.

Simone Tebet – Implementar, nos seis primeiros meses de gestão, a reforma tributária, com os objetivos de simplificação e justiça social. Criar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e reformar o Imposto de Renda.

Salário mínimo

Ciro Gomes – O programa oficial de governo não trata da questão. Publicamente, o candidato tem defendido a recomposição do salário mínimo, argumentando que ele está em seu pior nível em 20 anos.

Jair Bolsonaro – O programa de governo não trata dessa questão.

Lula – O petista propõe retomar a política de valorização do salário mínimo, objetivando recuperar o poder de compra.

Simone Tebet – A candidata fala em preservar o poder de compra do salário mínimo com reajustes anuais baseados, pelo menos, na inflação.

Tabela do Imposto de Renda
Ciro Gomes – Plano não faz menção a correção da tabela do Imposto de Renda.

Jair Bolsonaro – Propõe correção de 31% da tabela do Imposto de Renda para Pessoas Físicas, isentando os trabalhadores celetistas que recebam até R$ 2,5 mil mensais. Sem a pandemia e com crescimento econômico, o programa avalia que será possível perseguir o objetivo de isentar os trabalhadores que recebem até cinco salários mínimos.

Lula – Prometeu, em campanha, reajustar a tabela do Imposto de Renda em seu primeiro ato oficial. A intenção é aumentar a faixa de isenção para R$ 5 mil.

Simone Tebet – Plano não faz menção à correção da tabela do Imposto de Renda.

Teto de gastos

Ciro Gomes – Em campanha, o candidato diz que o teto de gastos é uma aberração, alegando que ele não protege o equilíbrio das contas públicas. Ciro defende a revogação do teto desde a campanha de 2018, com a substituição por outro mecanismo.

Jair Bolsonaro – O atual presidente já indicou que pretende mudar a forma de controle fiscal partir do ano que vem. Uma das ideias em discussão no Ministério da Economia é a adoção de uma meta de dívida pública.

Lula – O programa do candidato petista prevê a revogação do teto de gastos e a revisão do regime fiscal brasileiro. Segundo ele, um novo modelo fiscal seria construído, seguindo premissas de credibilidade, previsibilidade e sustentabilidade.

Simone Tebet – Defende a manutenção do teto de gastos, mas destaca a necessidade de definir uma “nova roupagem”, sem explicitar do que se trata.

Transferências de renda
Ciro Gomes – Propõe implantar o programa de renda mínima universal, englobando os pagamentos feitos pelo Auxílio Brasil, seguro-desemprego e aposentadoria rural. Defendeu, em campanha, que o governo transfira mensalmente R$ 1 mil a famílias que tiverem renda mensal de até R$ 417.

Jair Bolsonaro – O candidato afirma que um dos compromissos será a manutenção do valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil, a partir de janeiro de 2023.

Lula – Propõe renovar e ampliar o programa Bolsa Família – que foi substituído pelo Auxílio Brasil no atual governo – para garantir renda compatível com as atuais necessidades da população. Para isso, prevê um programa orientado por princípios de cobertura crescente no rumo de um sistema universal e uma renda básica de cidadania.

Simone Tebet – Defende um programa de transferência de renda permanente, focado nas famílias mais necessitadas, com cuidados que induzam melhoria das condições de vida. Uma das alternativas, segundo ela, é elevar a linha da miséria para ampliar o público que pode receber os benefícios sociais.

Metodologia da pesquisa citada
O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 23 e 25 de setembro de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-08123/2022.


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O FUTURO DO BRASIL DEPENDE DO SEU VOTO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Urna eletrônica| Foto: ASICS/TSE

“Pela primeira vez não vamos ter um candidato de direita na campanha. Não é fantástico isso? Querem conquista melhor do que em uma campanha a gente não ter nenhum candidato de direita?”, afirmou, em 2009, o então presidente Lula durante um discurso, em mais uma das inúmeras ocasiões em que ele demonstrou sua concepção bastante peculiar de democracia, aquela em que a direita é silenciada. Não, não há nada de “fantástico” nem de “conquista” quando o eleitor não tem à disposição, diante da urna, um leque amplo de concepções a respeito dos temas que lhe são caros e fica impossibilitado de escolher, já no primeiro turno, quem tenha um ideário ao menos semelhante ao seu.

Felizmente, nos últimos anos o pensamento de direita, o conservadorismo na pauta de costumes e o liberalismo econômico recuperaram carta de cidadania e viabilidade política no debate público brasileiro, após décadas relegados ao ostracismo. A chamada “janela de Overton” – o “intervalo” dentro do qual estão as ideias que um candidato pode defender para ser eleitoralmente viável – foi alargada e uma multidão de brasileiros que se resignava a optar por “males menores” passou a se ver representada por postulantes ao Palácio do Planalto. A variedade de respostas possíveis aos enormes desafios que a realidade coloca diante do Brasil se tornou muito maior – e só mentes autoritárias, fechadas ao debate, haverão de lamentar que isso tenha ocorrido.

Executivo e Legislativo que tenham consciência do que precisa ser feito deixarão um legado positivo que transcende os quatro anos da próxima legislatura e dos próximos mandatos de presidente e governadores

Quais são os papéis do Estado, da iniciativa privada e da sociedade civil organizada na economia e na oferta de serviços básicos? Qual é o alcance da liberdade de expressão, da liberdade econômica, da liberdade religiosa, da liberdade de imprensa, do direito de propriedade? Como combater o preconceito em suas várias formas? Quem são os brasileiros mais vulneráveis, e como eles devem ser protegidos e ajudados? Como colocar o Brasil em uma rota de crescimento econômico sustentável que proporcione prosperidade e bem-estar ao máximo possível de cidadãos? Como lidar com a violência urbana, o crime organizado e a corrupção? Como fortalecer uma democracia ainda jovem, que sofre de “dores de crescimento”? Cada brasileiro se faz essas perguntas e cria sua hierarquia de temas que merecem maior prioridade ou relevância. Para cada questão, há tantas respostas possíveis quanto candidatos aos cargos que estão em jogo neste 2 de outubro.


E o futuro do país depende da escolha de quem ofereça as melhores respostas. Executivo e Legislativo que tenham consciência do que precisa ser feito deixarão um legado positivo que transcende os quatro anos da próxima legislatura e dos próximos mandatos de presidente e governadores. Por outro lado, um governo e um Congresso apegados às respostas erradas criam buracos dos quais um país só consegue sair depois de muito sacrifício, que invariavelmente cai nas costas dos brasileiros mais pobres ou mais indefesos. Toda eleição é crucial para o Brasil, mas não exageramos quando afirmamos que esta – realizada após uma pandemia que abalou completamente nosso modo de vida e em meio a uma série de incertezas globais e locais, com grandes potências em guerra e ataques à democracia em âmbito interno – traz consigo uma importância ainda maior.

Ao longo desta campanha, a Gazeta do Povo expôs ao leitor-eleitor os nossos desejos para o Brasil. Esperamos que a leitura tanto desses desejos quanto de nossas convicções, publicadas em 2017, tenha servido como ajuda para uma escolha que é única e exclusivamente de cada um, diante da urna eletrônica e de sua consciência. Sabemos que nem todos concordarão conosco em tudo, ou terão as mesmas prioridades que elencamos, mas temos a esperança de que também os que discordam compreendam que há todo um conjunto de ideias com as quais verdadeiros democratas dialogam, em vez de tentar calar.


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PT AINDA NÃO APRESENTOU PLANO DE GOVERNO

Estratégia política
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

AME1058. RIO DE JANEIRO (BRASIL), 30/09/2022.- El expresidente y candidato a la presidencia de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ofrece una rueda de prensa hoy, en Río de Janeiro (Brasil). EFE/ Antonio Lacerda


Campanha de Lula desistiu de apresentar plano mais detalhado de governo, mas mantém uma lista de diretrizes entregue ao TSE.| Foto: Antonio Lacerda/EFE

A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu não apresentar a versão final do plano de governo antes do primeiro turno da eleição, que acontece no próximo domingo (2). O movimento é calculado e faz parte da estratégia para ampliar o número de apoios políticos em busca do voto útil e evitar a disputa em segundo turno.

De acordo com articuladores da campanha, a apresentação de um plano consolidado nesse momento poderia inviabilizar alianças que o petista vem buscando fora do campo da esquerda nessa reta final. Até o momento, as propostas de Lula para o campo econômico são as que mais geram incertezas. Contudo, o petista tem feito declarações públicas sobre o que pretende fazer e sinalizações para reformas, como a tributária e a administrativa.

Na última segunda-feira (27), durante ato com artistas e influenciadores em São Paulo, o candidato do PT afirmou que “não preciso ficar fazendo promessas porque sou avalista das políticas que vou fazer. Um legado de oito anos, de muito sucesso neste país para todos os segmentos da sociedade”.

No dia seguinte, ao jantar com empresários em São Paulo, o ex-presidente buscou sinalizar que seu eventual governo será marcado pela responsabilidade fiscal. Segundo interlocutores do PT, Lula reforçou o compromisso de trabalhar com o todos os setores da sociedade para discutir o texto da reforma tributária. Ele defendeu ainda que é preciso pensar em uma política tributária que equalize o pagamento de impostos, onde os que ganham menos não sejam penalizados.

Plano de Lula poderia inviabilizar apoio de economistas críticos ao PT
Nessa reta final, Lula recebeu o apoio de economistas com diferentes visões políticas e econômicas diferentes. Entre eles, Henrique Meirelles, ex-ministro do governo Michel Temer (MDB); André Lara Resende, um dos pais do Plano Real; e Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Lara Resende e Bresser-Pereira sempre fizeram oposição crítica ao PT.

Satisfeito com o alinhamento deles, Lula disse que os convidaria para ouvir suas propostas na área econômica. No entanto, avisou que não abre mão de promessas na área social feitas na campanha em prol de “ajustes fiscais”.

Para a campanha de Lula, se já houvesse um programa de governo fechado, conforme idealizado inicialmente, não seria possível negociar apoios nessa reta final para o primeiro turno. Nos cálculos dos estrategistas, a medida consolidou o movimento de Lula posicionar sua candidatura no centro do espectro político.

Primeiro esboço do plano gerou críticas de aliados
Desenhado pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, presidente da Fundação Perseu Abramo, uma prévia do plano de governo de Lula gerou diversos embates dentro de partidos aliados ainda durante a pré-campanha. Pontos como a promessa de revogação da reforma trabalhista e do teto de gastos, e até a possibilidade de regulação da produção agrícola precisaram ser revistos ao longo deste período.

Para amenizar as críticas, uma segunda versão do plano de diretrizes trocou o termo “revogação” por “revisão” da reforma trabalhista. Depois, já com o plano protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o trecho que citava a regulação agrícola gerou críticas de empresários do agronegócio, segmento que o petista tentou atrair ao longo da campanha.


No texto que havia sido apresentado ao TSE junto ao registro da candidatura constava ser “imprescindível agregar valor à produção agrícola, com regulação e a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial”.

Mas na última versão passou para: “é imprescindível agregar valor à produção agrícola com a constituição de uma agroindústria de primeira linha, de alta competitividade mundial”. Ao todo, o documento, intitulado “Diretrizes para o Programa de Reconstrução e Transformação do Brasil”, contém 121 tópicos. Apesar de sinalizar as intenções do candidato, o plano não especifica quais serão as medidas adotadas em um eventual governo.

Em nota, Mercadante justificou que foram apresentadas ao TSE “propostas inovadoras e consistentes, realizados eventos temáticos e apresentados textos complementares aprofundando nossas iniciativas”. Além disso, o argumento da campanha é que propostas também estão sendo divulgadas nos atos públicos e em entrevistas do ex-presidente.

Diretrizes não contam com promessas já sinalizadas por Lula 
Além de não apresentar o plano de governo consolidado, a campanha de Lula não incluiu nas diretrizes apresentadas ao TSE promessas já feitas pelo candidato petista. Até o momento, o documento não traz a promessa de isenção do Imposto de Renda para o trabalhador que ganha até R$ 5 mil.

O petista indicou ainda que pretende voltar com o Bolsa Família, atualmente chamado de Auxílio Brasil, e garantir o pagamento mínimo de R$ 600. O documento, no entanto, não apresenta fonte de recursos para bancar o acréscimo de R$ 150 por criança de até 6 anos beneficiária do programa, que foi divulgado no horário eleitoral.

Apesar disso, integrantes do partido de Lula defendem que o texto protocolado junto ao TSE e as declarações pública de Lula (“sou avalista das políticas que vou fazer”) garantem as intenções do petista junto ao eleitorado. “Não vamos entregar um novo documento de mais de 200 páginas. Esse tipo de detalhamento não é necessário, as diretrizes estão todas lá”, defendeu o deputado Nilto Tatto (PT-SP), integrante da Fundação Perseu Abramo.

Interlocutor de Lula com integrantes do mercado financeiro, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) garante que o ambiente que vem sendo criado é o do diálogo e do planejamento conjunto. “Questões que foram levantadas anteriormente, como a reforma trabalhista, já estão claras. O [ex-] presidente Lula tem uma preocupação com as mulheres e trabalhadores por aplicativos. Ele quer fazer isso em um espaço de diálogo, quer liderar um novo ciclo de crescimento, com responsabilidade fiscal e reconhecimento internacional”, afirmou.


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