Veja a íntegra do discurso de Jair Bolsonaro na Assembleia-Geral da ONU
Presidente abriu falas de líderes mundiais nesta terça-feira (20) em Nova York, nos Estados Unidos
Da CNN*
O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou nesta quarta-feira (20) na
77ª reunião da Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York,
nos Estados Unidos.
Em sua fala, Bolsonaro afirmou que a economia brasileira está “em
plena recuperação” e o governo federal eliminou o que chamou de
“corrupção sistêmica”. Ele falou após o secretário-geral da ONU, António
Guterres.
Apesar da crise mundial, o Brasil
chega ao final de 2022 com uma economia em plena recuperação. Temos
emprego em alta e inflação em baixa. A economia voltou a crescer. A
pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia. No Brasil,
ela já começou a cair de forma acentuada.disse Bolsonaro na ONU
Veja a íntegra:
Senhor Chába Corózi, Presidente da Septuagésima Sétima
Assembleia-Geral das Nações Unidas, Senhor António Guterres,
Secretário-Geral das Nações Unidas, Senhoras e Senhores chefes de
Estado, de governo e de delegações, Senhoras e Senhores, começo por
cumprimentá-lo, Embaixador Chába Corózi, pela eleição para presidir esta
Assembleia Geral. Esteja certo de contar com o apoio do Brasil.
O tema escolhido para este Debate Geral gira em torno de um conceito
que se aplica perfeitamente ao momento que vivemos: um divisor de águas.
Senhor Presidente, Nossa responsabilidade coletiva, nesta Assembleia
Geral, é compreender o alcance dos desafios que compõem esse divisor de
águas. E, a partir daí, construir respostas que tirem sua força dos
objetivos que são comuns a todos nós.
A tarefa não é simples. Mas, a rigor, não temos alternativa.
Esse esforço tem de começar no interior de cada um dos nossos países.
Antes de tudo, é aquilo que realizamos no plano interno que dá a medida
da autoridade com que agimos no plano internacional.
Deixe-me falar da perspectiva do meu País.
Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos
isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da
Covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos.
Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a
primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais
necessitados.
O nosso objetivo foi proteger a renda das famílias para que elas
conseguissem enfrentar as dificuldades econômicas decorrentes da
pandemia. Beneficiamos mais de 68 milhões de pessoas, o equivalente a
1/3 da nossa população.
Em paralelo, lançamos um amplo programa de imunização, inclusive com
produção doméstica de vacinas. Somos uma nação com 210 milhões de
habitantes e já temos mais de 80% da população vacinada contra a
Covid-19.
Todos foram vacinados de forma voluntária, respeitando a liberdade individual de cada um.
Da mesma forma, no terreno da economia, o Brasil traz a autoridade de
um país que, em nome de um crescimento sustentável e inclusivo, vem
implementando reformas para a atração de investimentos e melhoria das
condições de vida de sua população.
No meu governo, extirpamos a corrupção sistêmica que existia no país.
Somente entre o período de 2003 e 2015, onde a esquerda presidiu o
Brasil, o endividamento da Petrobras por má gestão, loteamento político
em e desvios chegou a casa dos US$ 170 bilhões de dólares.
O responsável por isso foi condenado em três instâncias por
unanimidade. Delatores devolveram US$ 1 bilhão de dólares e pagamos para
a bolsa americana outro bilhão por perdas de seus acionistas.
Esse é o Brasil do passado.
Aprimoramos os serviços públicos com redução de custos e investimento
em ciência e tecnologia. Hoje, por exemplo, o Brasil é o 7º país mais
digitalizado do mundo: são 135 milhões de pessoas que acessam 4.900
serviços do meu governo. O Brasil foi pioneiro na implantação do 5G na
América Latina.
Levamos adiante uma abrangente pauta de privatizações e concessões, com ênfase na infraestrutura.
Concluímos o projeto de transposição do Rio São Francisco, levando
água para o Nordeste brasileiro. Adotamos novos marcos regulatórios,
como o do saneamento básico, o das ferrovias e o do gás natural. Além
disso, melhoramos o ambiente de negócios, com a lei de liberdade
econômica e a lei de start-ups.
Como resultado, criamos oportunidades para o jovem empreender e ter empregos de qualidade.
Coroando todo esse esforço de modernização da economia brasileira,
estamos avançando, a passos largos, para o ingresso do Brasil como
membro pleno da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico, a OCDE.
Apesar da crise mundial, o Brasil chega ao final de 2022 com uma
economia em plena recuperação. Temos emprego em alta e inflação em
baixa. A economia voltou a crescer. A pobreza aumentou em todo o mundo
sob o impacto da pandemia. No Brasil, ela já começou a cair de forma
acentuada.
Os números falam por si só. A estimativa é de que, no final de 2022,
4% das famílias brasileiras estejam vivendo abaixo da linha da pobreza
extrema. Em 2019, eram 5,1%. Isso representa uma queda de mais de 20%.
O Auxílio Brasil, programa de renda mínima criado pelo meu governo,
durante a pandemia, que atende 20 milhões de famílias, faz pagamentos de
quase US$ 4 por dia as mesmas.
O desemprego caiu 5 pontos percentuais, chegando a 9,1%, taxa que não
se via há 7 anos. Reduzimos a inflação, com estimativa de 6% no
corrente ano. Tenho a satisfação de anunciar que tivemos deflação
inédita no Brasil nos meses de julho e agosto.
Desde junho, o preço da gasolina caiu mais de 30%. Hoje, um litro no
Brasil custa cerca de US$ 0,90. O preço da energia elétrica também teve
uma queda de mais de 15%. Quero ressaltar que o custo da energia não
caiu por causa de tabelamento de preços ou qualquer outro tipo de
intervenção estatal. Foi resultado de uma política de racionalização de
impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional.
Em 2021, o Brasil foi o 4º maior destino de investimento estrangeiro
direto do mundo. Nosso comércio exterior alcançou a marca histórica de
39% do PIB, mesmo diminuindo ou zerando impostos de milhares de
produtos.
No plano interno, também estamos batendo recordes em três áreas:
arrecadação fiscal, lucros das empresas estatais e relação entre dívida
pública e PIB. Aliás, em 2021 tivemos superávit no resultado consolidado
de contas públicas. O PIB brasileiro aumentou 1,2% no segundo
trimestre. A projeção de crescimento para 2022 chega a 3%.
Temos a tranquilidade de quem está no bom caminho. O caminho de uma
prosperidade compartilhada. Compartilhada entre os brasileiros e, mais
além, compartilhada com nossos vizinhos e outros parceiros mundo afora.
É isso que vemos, por exemplo, na produção de alimentos. Há quatro
décadas, o Brasil importava alimentos. Hoje, somos um dos maiores
exportadores mundiais.
Isso só foi possível graças a pesados investimentos em ciência e
inovação, com vistas à produtividade e à sustentabilidade. Faço aqui um
tributo à pessoa de Alysson Paulinelli, candidato brasileiro ao Prêmio
Nobel da Paz, por seu papel na expansão da fronteira agrícola brasileira
com o uso de novas tecnologias.
Este ano, o País já começou a colheita da maior safra de grãos da
nossa história. Estima-se pelo menos 270 milhões de toneladas. O Brasil
também, em poucos anos, passará de importador a exportador de trigo.
Para o período 2022/2023, a previsão é que a produção total
ultrapasse os 300 milhões de toneladas. Como afirmou a Diretora-Geral da
Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não
fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois
alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo.
O nosso agronegócio é orgulho nacional.
Senhor Presidente, quero lembrar que, também na área do
desenvolvimento sustentável, o patrimônio de realizações do Brasil é
fonte de credibilidade para a ação internacional do nosso País. Em
matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte
da solução e referência para o mundo.
Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação
nativa, que se encontra exatamente como estava quando o Brasil foi
descoberto, em 1500. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa
Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do
que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional.
É fundamental que, ao cuidarmos do meio ambiente, não esqueçamos das
pessoas: a região amazônica abriga mais de 20 milhões de habitantes,
entre eles indígenas e ribeirinhos, cuja subsistência depende de algum
aproveitamento econômico da floresta. Levamos internet a mais de 11 mil
escolas rurais e a mais de 500 comunidades indígenas.
O Brasil começou sua transição energética há quase meio século, em
reação às crises do petróleo daquela época. Hoje, temos uma indústria de
biocombustíveis moderna e sustentável. Indústria que contribui para a
matriz energética mais limpa entre os países do G20.
Cerca de 84% da nossa matriz elétrica atualmente é renovável, e esse é
o objetivo que muitos países desenvolvidos esperam alcançar somente
depois de 2040 ou 2050.
No ano passado, o Brasil foi escolhido pelas Nações Unidas como país
“campeão da transição energética”. Temos capacidade para ser um grande
exportador mundial de energia limpa. Contamos com um excedente, já em
construção, que pode chegar a mais de 100 Gigawatts entre biomassa,
eólica terrestre e solar, além da oportunidade, ainda não explorada, de
eólicas marítimas de 700 Gigawatts, com um dos menores custos de
produção do mundo. Essas fontes produzirão hidrogênio verde para
exportação.
Parte desta energia 100% limpa abre a possibilidade de sermos
fornecedores de produtos industriais altamente competitivos,
especialmente no Nordeste brasileiro, com uma das menores pegadas de
carbono do mundo.
A agenda do desenvolvimento sustentável é afetada, de várias
maneiras, pelas ameaças à paz e à segurança internacional. Erguemos as
Nações Unidas em meio aos escombros da Segunda Guerra Mundial. O que nos
motivava, naquele momento, era a determinação de evitar que se
repetisse o ciclo de destruição que marcou a primeira metade do século
XX. Até certo ponto, podemos dizer que fomos bem-sucedidos.
Mas, hoje, o conflito na Ucrânia serve de alerta. Uma reforma da ONU é
essencial para encontrarmos a paz mundial. No caso específico do
Conselho de Segurança, após 25 anos de debates, está claro que
precisamos buscar soluções inovadoras. O Brasil fala desse assunto com
base em uma experiência que remonta aos primórdios da ONU.
É pela décima-primeira vez que ocupamos assento não permanente no
Conselho. Temos buscado dar o melhor de nós para a solução pacífica e
negociada dos conflitos internacionais, sempre guiados pela Carta da ONU
e pelo Direito Internacional.
O Brasil também tem um longo histórico de participação em missões de
paz da ONU. De Suez a Angola, do Haiti ao Líbano, sempre estivemos ao
lado da manutenção da paz.
Também contribuímos para a paz ao abrirmos nossas fronteiras para
aqueles que buscam uma chance de reconstruir suas vidas em nosso país.
Desde 2018, mais de seis milhões de irmãos venezuelanos foram obrigados a
deixar seu país. Muitos deles vieram para o Brasil.
Nossa resposta a esse desafio foi a “Operação Acolhida”, que se
tornou referência internacional. Já são mais de 350 mil venezuelanos que
encontraram, em território brasileiro, assistência emergencial,
proteção, documentação e a possibilidade de um recomeço. Todos têm
acesso ao mercado de trabalho, a serviços públicos e a benefícios
sociais.
Nos últimos meses, chegam por dia ao Brasil, a pé, cerca de 600
venezuelanos, a grande maioria dos quais mulheres e crianças pesando em
média 15 quilos a menos do que antes, fugindo da violência e da fome.
A política brasileira de acolhimento humanitário vai além da
Venezuela. Temos também recebido haitianos, sírios, afegãos e
ucranianos.
Senhor Presidente, o conflito na Ucrânia já se estende por sete meses
e gera apreensão não apenas na Europa, mas em todo o mundo.
Quero, em primeiro lugar, renovar o agradecimento do Brasil aos
países que ajudaram na evacuação de brasileiros que se encontravam na
Ucrânia quando começou o conflito. Refiro-me especialmente à Eslováquia,
Hungria, Polônia, Romênia e República Tcheca. A operação foi exitosa.
Não deixamos ninguém para trás, nem mesmo seus animais de estimação.
Diante do conflito em si, o Brasil tem-se pautado pelos princípios do
Direito Internacional e da Carta da ONU. Princípios que estão
consagrados também em nossa Constituição. Defendemos um cessar-fogo
imediato, a proteção de civis e não-combatentes, a preservação de
infraestrutura crítica para assistência à população e a manutenção de
todos os canais de diálogo entre as partes em conflito. Esses são os
primeiros passos para alcançarmos uma solução que seja duradoura e
sustentável.
Temos trabalhado nessa direção. Nas Nações Unidas e em outros foros,
temos tentado evitar o bloqueio dos canais de diálogo, causado pela
polarização em torno do conflito. É nesse sentido que somos contra o
isolamento diplomático e econômico.
As consequências do conflito já se fazem sentir nos preços mundiais
de alimentos, de combustíveis e de outros insumos. Estes impactos nos
colocam a todos na contramão dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável.
Países que se apresentavam como líderes da economia de baixo carbono
agora passaram a usar fontes sujas de energia. Isso configura um grave
retrocesso para o meio ambiente.
Apoiamos todos os esforços para reduzir os impactos econômicos desta
crise. Mas não acreditamos que o melhor caminho seja a adoção de sanções
unilaterais e seletivas, contrárias ao Direito Internacional. Essas
medidas têm prejudicado a retomada da economia e afetado direitos
humanos de populações vulneráveis, inclusive em países da própria
Europa.
A solução para o conflito na Ucrânia será alcançada somente pela negociação e pelo diálogo.
Faço aqui um apelo às partes, bem como a toda a comunidade
internacional: não deixem escapar nenhuma oportunidade de pôr fim ao
conflito e de garantir a paz. A estabilidade, a segurança e a
prosperidade da humanidade correm sério risco se o conflito continuar.
Senhor Presidente, tenho sido um defensor incondicional da liberdade
de expressão. Além disso, no meu governo, o Brasil tem trabalhado para
trazer o direito à liberdade de religião para o centro da agenda
internacional de direitos humanos. É essencial garantir que todos tenham
o direito de professar e praticar livremente sua orientação religiosa,
sem discriminação.
Quero aqui anunciar que o Brasil abre suas portas para acolher os
padres e freiras católicos que tem sofrido cruel perseguição do regime
ditatorial da Nicarágua. O Brasil repudia a perseguição religiosa em
qualquer lugar do mundo.
Outros valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo
na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à
vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de
gênero.
Quero também destacar aqui a prioridade que temos atribuído à
proteção das mulheres. Nosso esforço em sancionar mais de 70 normas
legais sobre o tema desde o início de meu governo, em 2019, é prova
cabal desse compromisso.
Combatemos a violência contra as mulheres com todo o rigor. Isso é
parte da nossa prioridade mais ampla de garantir segurança pública a
todos os brasileiros.
Os resultados aparecem em nosso governo: queda de 7,7% no número de
feminicídios e diminuição do número geral de mortes por homicídio. Em
2017 eram 30 mortes por 100 mil habitantes. Agora são 19.
A violência no campo também caiu ao mesmo tempo em que aumentamos a
regularização da propriedade da terra para os assentados. No meu
governo, entregamos 400 mil títulos rurais, 80% deles para mulheres.
Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e
independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem. A Primeira
Dama, Michelle Bolsonaro, trouxe novo significado ao trabalho de
voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de
deficiências e doenças raras.
Senhor Presidente, Senhor Secretário-Geral, Senhoras e Senhores
chefes de Estado e de governo, Senhoras e Senhores, neste 7 de setembro,
o Brasil completou 200 anos de história como nação independente.
Milhões de brasileiros foram às ruas, convocados pelo seu presidente,
trajando as cores da nossa bandeira.
Foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, Pátria, família e liberdade.
Muito obrigado.
*Publicado por Rafaela Lara, da CNN, em São Paulo