segunda-feira, 12 de setembro de 2022

SEU FILHO LOBINHO PRECISA DE VOCÊ

 

Por
Samia Marsili – Gazeta do Povo

happy family dad mom and daughters walking on the field stand admiring the sunset looking at the sky and the sun. Healthy lifestyle for children and parents. family relationships.


| Foto: Bigstock

Ficou famosa a história daquele menino perdido, na Índia, que cresceu sem nenhum contato humano, e passou anos sendo criado pelos lobos no meio da mata — sobretudo porque a história foi romanceada nos livros de Rudyard Kipling e, mais tarde, na animação da Walt Disney Pictures. Acontece que, se na ficção, além do garoto, todos os animais falam, têm sentimentos humanos e conflitos morais, na história real é o menino que, assim como os animais de verdade, não é capaz de falar. E mais: anda de quatro e não gosta de comida cozida, mas prefere, imitando seus primeiros professores, morder a caça crua e se lambuzar de sangue. Será preciso um longo tempo até que, bem instruído, ele consiga abandonar seus hábitos arraigados de ferocidade, que o privam de desfrutar de tudo aquilo que é genuinamente humano, como as alegrias do amor e do intercâmbio intelectual, e conquiste, enfim, o seu lugar como um igual entre todos que vivem na aldeia. Esse exemplo basta para que se possa concluir: seria uma tolice afirmar que não é necessário nenhum tipo de educação, ou então, como reza a sentença do filósofo Rousseau que ficou popular, que “o homem nasce bom”, é “um bom selvagem” que “a sociedade humana corrompe”. Muito ao contrário.

Do mesmo modo que o menino lobo, os nossos filhos também precisam aprender de nós, ou com a nossa ajuda, como se comporta um ser humano e, acima de tudo, como desenvolver e fazer florescer aquelas qualidades e faculdades que são especificamente humanas, uma vez que o ser humano não é só mais um animal entre os outros. Ora, eu não conheço ninguém que negue a necessidade absoluta de algum tipo de educação, de uma condução das crianças para que, de criaturinhas que não falam, elas se tornem pessoas de verdade, e sejam capazes de viver, sozinhas e já sem a proteção dos pais, no mundo dos adultos, entre os pares. Mas esse consenso geral termina muito rapidamente, tão logo alguém se pergunte, tendo como dado que alguma educação é certamente necessária, qual seria essa educação. Quando ela deve começar? Quem deve conduzi-la, e de que modo? Qual o nível de sua interferência nos processos naturais, e com que métodos se deve fazer isso? Quais coisas devem ser ensinadas primeiro, ou só depois, ou nunca? E, mais importante, mas tantas vezes esquecido — e é bem isto que eu quero apontar aqui —, com que objetivo se faz o que se faz, isto é, qual é exatamente o ideal, o tipo de “pessoa de verdade” que se imagina e em que se almeja transformar os lobinhos?

Do mesmo modo que o menino lobo, os nossos filhos também precisam aprender de nós, ou com a nossa ajuda, como se comporta um ser humano

Esta é uma reflexão que, em meu trabalho, procuro sempre suscitar, porque ela é de fundamental importância. Não exatamente porque os pais e educadores em geral tenham para si um ideal ruim, uma idéia errada a respeito da educação, ou uma teoria falsa sobre a natureza humana e os valores que ela deve cultivar; não. Isso seria relativamente fácil de resolver, porque idéias erradas são corrigidas pelo diálogo, pela simples apresentação de argumentos melhores e por um bom raciocínio (se todos os envolvidos estiverem realmente interessados na melhor idéia, e não em manter a sua a qualquer custo). O que acontece, na verdade, é que a maioria das pessoas não tem claro para si um ideal de ser humano, e portanto de educação. Na maioria dos casos, vejo que isso se dá simplesmente porque ele não nos foi transmitido em nossa própria educação, e a cultura, de modo geral, não nos forneceu as imagens, os exemplos e os modelos suficientes para que ele se sedimentasse em nós. E, não tendo clara a questão, acabamos nos tornando vítimas de pessoas, e principalmente de instituições, que vão incutindo em nós, sem que nos demos conta, seus próprios ideais e valores a respeito. Sem que o percebamos, muitas das nossas ações e escolhas estão contribuindo para a conquista de objetivos com os quais, se os enxergássemos com clareza e os trouxéssemos à consciência, não concordaríamos. E isso porque os objetivos dessas instituições — e deixo para citá-las e tratar deste ponto mais de perto, quem sabe, numa próxima ocasião — não são que os nossos filhos sejam pessoas livres, sábias, nobres, que saibam amar e tenham reverência pelo divino. Não, as suas diretrizes estão mais para que populações inteiras troquem o amor pelo sexo animalesco, a família pelo prazer imediato, a sabedoria pela eficiência, a vida real por uma tela, e Deus pelo próprio ego.

E, apesar das múltiplas possibilidades de educação e dos tantos ideais possíveis que se pode ter como fim dela, eu nunca conheci alguém que quisesse, francamente, o pior para os seus filhos. Todos os pais que eu conheço querem sinceramente o melhor para eles; mas se, como eu disse, não tivermos consciente e claro o nosso ideal, e se não pautarmos nele cada uma das nossas ações e escolhas cotidianas (ou ao menos as julgarmos com base nele, quando falharmos), esse nosso impulso de “desejar o melhor para os nossos filhos” será como uma força cega, um cavalo sem condutor, a ser orientado por quem tenha algum objetivo. Dito de outo modo: Se, na frase, a palavra “melhor” não tiver um referente claro, se for uma caixinha vazia, alguém vai preenchê-la para nós. Por isso é imprescindível olhar para dentro dessa caixinha, isto é, meditar, sempre e de novo, sobre qual cremos ser a finalidade da vida humana e, assim, a que fim a educação dos nossos filhos deve conduzi-los. E, nessa contínua meditação, ir enriquecendo e aprofundando a nossa própria compreensão desse fim, com exemplos e testemunhos de pessoas do passado e do presente, gente de verdade e personagens da ficção. Afinal, se o que guia a educação das crianças é um ideal de perfeição humana, nós mesmos devemos desejar essa perfeição, e com base nela pautar, não somente as nossas atitudes enquanto pais e educadores, mas todas elas — também você e eu temos ainda muito de Mogli.

Não, as suas diretrizes estão mais para que populações inteiras troquem o amor pelo sexo animalesco, a família pelo prazer imediato, a sabedoria pela eficiência, a vida real por uma tela, e Deus pelo próprio ego

Vejamos, agora, um exemplo breve, e reflitamos muito rapidamente sobre uma atitude geral de alguns pais para com a educação dos seus filhos, dessas que são, sem dúvida nenhuma, motivadas pelo desejo intenso de “dar o melhor” para eles, mas cuja idéia de “melhor” talvez esteja um pouco confusa, e tenha sido invadida por concepções um tanto estrangeiras. Em meu último artigo, quando falávamos sobre o uso de telas e sobre as variadas motivações que levam os pais a adotá-lo, mencionei, como sendo uma delas, o desejo de proporcionar aos filhos a maior quantidade possível de estímulos, para que desenvolvam habilidades, aprendam coisas, aproveitem todos os “períodos críticos” do seu crescimento e não desperdicem nada de todo o potencial da sua neuroplasticidade. Meditemos com um pouco mais de atenção sobre esse anseio.

Não convém tanto embarcar, agora, numa análise dos estudos científicos, que, adianto a vocês, nem sempre confirmam essas teorias. Mas nós podemos assumir, provisoriamente, que de fato exista, da maneira como hoje se apregoa, toda essa coisa de períodos críticos do desenvolvimento cerebral, que favorecem excepcionalmente as sinaptogêneses, quer dizer, que contribuem para a formação de conexões cerebrais perfeitas, que jamais serão esquecidas. O que isso passa a significar, em outras palavras (mais especificamente, nas palavras do anúncio do colégio, e outras propagandas)? Ora, que não se pode perder tempo. Que é preciso fornecer às crianças, nesses primeiros anos, o máximo de estímulos possível, para que essa época fértil da sua absorção de informações, habilidades e conteúdos, que não vai voltar, não seja desperdiçada. Os pais encantados por essa conversa, como querem o melhor para os seus filhos, movem-se prontamente a fazer até sacrifícios para que as crianças consigam dar conta de tudo. Em primeiro lugar, a melhor escola, que seja a mais atualizada, que já tenha ensino forte de inglês, e quem sabe mais uma língua estrangeira, e também de robótica, e cujo uso de materiais multimídia e tablets seja a regra. E, se houver expediente extracurricular, como mais habilidades a aprender, como um instrumento musical, o melhor é garantir a vaga. Fora da escola, mais aula de língua — e andam dizendo hoje dia que o melhor para a criança é logo aprender latim! —, e talvez seja bom reforçar a matemática no Kumon, fora o judô, a natação, o ballet, e também ir ao teatro, e fazer a viagem, conhecer, experimentar, esquiar! E em casa o uso de telas, as horas jogando, os mil e um aplicativos que “fazem bem” ao cérebro… Muito bem, mas paremos um instante. Para que tudo isso mesmo? Para que a criança, ao crescer, tenha como que instaladas em seu cérebro, da melhor maneira possível, o maior número de destrezas e habilidades e, como um computador de última geração, seja maximamente funcional. Não se perde uma oportunidade sequer, e mesmo os jogos e passeios são aproveitados como algo educativo, até que, enfim, eis! Uma super-criança, um super-homem! — que pode até ser um pouco sofisticado e cool. Foi uma infância corrida, cheia de leva-e-traz, não passamos muito tempo juntos, não houve muito ócio e muitos momentos descontraídos, mas, vá lá… é preciso fazer sacrifícios, afinal. Não lhes vai faltar emprego nunca!

Desculpe perguntar, mas… é de fato este o “melhor” que queríamos para os nossos filhos? Emprego garantido? Será que era essa formação do profissional do futuro o que pretendíamos fazer quando formamos nossa família, ou acabamos sendo pressionados, e até angustiados, pelo bombardeio da propaganda? Talvez tenhamos sido ludibriados, e estejamos, como no conto, chocando no nosso ninho, sob a casca da palavra “melhor”, o ovo de outra ave. Porque essa educação para a funcionalidade, para o alto desempenho e para o “sucesso” é muito pobre na perspectiva de tudo aquilo que a natureza humana é capaz, e é um ideal muito medíocre. Um menino lobo que passe a caçar com armas, e não só com as mãos e os dentes, ainda não é um homem, é só um super-lobo.

Talvez tenhamos sido ludibriados, e estejamos, como no conto, chocando no nosso ninho, sob a casca da palavra “melhor”, o ovo de outra ave

E reduzir a educação tão-somente à aquisição de informações e de habilidades, para que se tenha sucesso profissional e social, não é somente uma perda, como se avançássemos até metade do caminho, e ficássemos sem conhecer o resto. Quando se persegue na educação um ideal que é inferior ao que merece o ser humano, desconsiderando a sua dignidade espiritual e a sua grandeza, mais que uma redução acontece uma subversão: não é meio caminho, é o caminho errado, e para o lugar errado. Quero dizer com isso que, embora, na maior parte dos casos, não haja nada de intrinsecamente mau no aprendizado de tal ou qual habilidade, e no treino deste ou daquele jogo, é mesmo verdade que não se pode perder tempo; não correndo com pressa, mas desperdiçando o valioso e maravilhoso tempo da infância com essas ninharias.

Tem um valor incalculavelmente maior, e dura para além desta vida, criar nossas crianças para que sejam alguém, primeiro, antes e independentemente de que sejam mais ou menos eficientes; que sejam verdadeiramente livres, capazes de dominar seus impulsos mais baixos com vistas àquilo que vale mais, de amar verdadeiramente o próximo, e não somente a própria satisfação e o próprio prazer. Como disse o filósofo Platão, a educação consiste propriamente em ensinar as crianças a desejar o desejável, a querer por si aquilo que é melhor. Por isso digo que o verdadeiro desenvolvimento não é, em primeiro lugar, o das destrezas, físicas ou mentais, mas, por meio delas, o desenvolvimento das motivações interiores. E por isso salientei, e repito, que a atividade própria da criança é o brincar, o tranqüilo e descompromissado ato de brincar. Na brincadeira, elas aprendem a narrar as suas experiências, e põem à prova aquilo que vinham absorvendo do mundo: as situações, os sentimentos, as relações de causa e efeito, etc. É brincando que a criança processa e integra todas aquelas formas que seu olhar, naturalmente maravilhado e curioso, colheu de fora, e é assim que começam a construir, nos rudimentos, a sua identidade biográfica, a sua personalidade.

É preciso, portanto, que haja esse tempo para brincar, e que o dia-a-dia dos pequenos seja entremeado por salutares períodos de ócio, que às vezes, ao olhar desatento, se parecem com nada, parecem tempo perdido. Não, não é tempo perdido: é o tempo que as sementes, escondidas na terra, precisam para crescer, em que nós não as vemos, apenas confiamos. É o tempo de “digestão” da imaginação, em que todos os estímulos são integrados e passam a realmente significar alguma coisa, passam a verdadeiramente fazer parte da pessoa — e não apenas do profissional do futuro. E o principal, nessa grande aventura da escalada da razão, não é outra coisa senão a relação com o adulto, com aquele que a educa e a ama, aquele que a conduz. Não importa tanto a quantidade de estímulos e de informações, mas a relação afetiva, profunda e estável, entre o educador e a criança, porque é através desse vínculo que ela vai enxergar o mundo, e é por meio dele que vai interpretá-lo e articular um mundo semelhante dentro de si.

Nós nos preocupamos e inquietamos com muitas coisas, quando apenas uma é necessária. Não se aflija tanto com o fato de as coisas serem caras, longe, difíceis; não se descabele tanto, indo buscar fora — fora de casa e fora de si — as coisas de que seu filho precisa, o que é necessário para melhor educá-lo, da melhor maneira possível… A única coisa de que o seu lobinho realmente precisa é de você.

ROCK IN RIO NO METAVERSO

Confira as estratégias do festival para se manter inesquecível

Por Ana Julia Guimarães

O festival, nascido em 1985, tinha o objetivo de trazer grandes estrelas da música internacional que não costumavam vir até a América do Sul. E conseguiu! Logo no início, seu palco já contava com um terreno de aproximadamente 250 mil metros quadrados com o maior palco já construído até então no país.

Conforme os artistas foram chegando até aqui, o Rock In Rio foi ganhando fama. No evento, o público via uma grande oportunidade de conhecer seus ídolos. Mas isso não foi o que manteve o festival de pé – e engajando tantas pessoas até hoje.

Os idealizadores do evento criaram visões empreendedoras que fortaleceram a experiência do público. Entre elas: um espaço único e inesquecível. Isso significa que, além de entregar a sua proposta de valor – com os shows mais esperados do ano, a ideia é levar objetos, alimentos e cenários que tornem o momento memorável.

Veja abaixo as novidades de 2022.

Rock in Rio no Metaverso

Chamado de Rock in Verse, o projeto – criado pela agência A-LAB, o game foi construído dentro de uma ilha do jogo Fortnite.

Através de espaços interativos do Rock in Verse inspirados em atrações da edição deste ano do festival com elementos históricos, o público se divertiu: eles puderam tocar guitarra com a dupla de DJs Cat Dealers e participar de questionários interativos.

Além disso, no “Orbital Spinning”, era possível se encontrar com pessoas e brincar em um globo sem gravidade, em que os avatares podiam flutuar aleatoriamente.

Cão-robô e reconhecimento facial

Capaz de reconhecer eventos suspeitos, o Yellow – apelidado de cão-robô, garantiu a segurança do espaço – e se tornou uma celebridade.

Criado pela empresa Boston Dynamics, o cão foi equipado com a plataforma de inteligência artificial GenzAI, que o torna capaz de fazer rondas, para analisar o ambiente e alertar os agentes de monitoramento sobre irregularidades no evento.

5G no festival

Foi o primeiro teste da tecnologia em um evento grande. Com a parceria da TIM, a Cidade do Rock estava conectada através da transmissão de dados 5G.

Com 25 antenas de transmissão, foi possível garantir todos os vídeos, stories e fotos inesquecíveis ao público.

Por que importa?

As inovações do festival foram cruciais para garantir a fidelização do público e tornar a experiência ainda mais individualizada. Isso faz com que o público se lembre, além dos seus ídolos, de toda a estrutura que o festival proporcionou.

E mais, com a estratégia de ter colocado o 5G no local, o conteúdo foi altamente compartilhado. Algo que impulsiona o Rock in Rio ainda para mais lugares do globo e eleva as chances de parcerias com marcas de grande porte.

Por que você está ignorando a ferramenta de vendas mais poderosa do mundo?

Guilherme Dias – Diretor de Comunicação e Marketing da Associação Comercial, Empresarial e Industrial de Ponta Grossa (ACIPG)

Eu vejo todos os dias o anunciante separando seus R$ 10.000,00 pra fazer uma campanha no rádio, R$ 3.000,00 para sair em uma revista local, pelo menos R$ 9.000,00 para fazer uns 3 pontos de mídia exterior, mas na hora de tirar o escorpião do bolso pra comprar mídia online, qualquer “milão” é “caro demais”.

Eu sinceramente não sei de onde veio este mito de que fazer anúncios na internet merece menos atenção financeira do que outros meios. A lógica deveria ser justamente a inversa.

Nenhum outro tipo de mídia retém tanta atenção do público comprador como na internet.

O Brasil é o terceiro país do mundo onde as pessoas mais ficam conectadas, passando mais de 10 horas por dia online (DEZ HORAS POR DIA!).

Ficamos atrás apenas de África do Sul e Filipinas.

Qual outra mídia prende a atenção das pessoas por DEZ HORAS?

Qual outra mídia pode colocar sua marca literalmente na mão do seu cliente ideal?

Qual outra mídia pode colocar sua marca na mão do seu cliente no EXATO momento que ele está propenso a fazer uma compra?

Qual outra mídia pode rastrear, seguir o seu cliente de acordo com os hábitos de consumo dele?

Qual outra mídia pode segmentar um anúncio de acordo com os interesses, medos, desejos, ações, intenções…

Qual outra mídia pode oferecer um contato com seu cliente ideal 24 horas por dia, 7 dias por semana?

Absolutamente nenhuma além da internet.

E agora, me conta…qual o motivo da internet receber menos investimento comparado à mídia tradicional?

Marketing Digital é barato, mas não é de graça.

Vamos fazer uma conta de padaria:

Quanto custa imprimir 1.000 flyers (folhetos) e distribuir no sinal?

Papel couchè brilho 90g 4×4 cores, em gráfica de internet (qualidade bem meia boca), com frete sai em torno de R$ 250,00.

Para a distribuição, você não vai encontrar quem faça por menos de R$ 70 a diária.

Você não tem a garantia de entrega. Já ví muito “panfleteiro” jogando metade do material no bueiro, ou entregando 2 de uma vez só em cada carro. Mas vamos tirar essa margem da conta.

Estamos falando de R$ 320 para 1 mil impactos.

Hoje estava otimizando uma campanha de Instagram, da minha conta pessoal, e o meu CPM (custo por mil impressões) estava girando em torno de R$ 5,51.

Ou seja cerca de 1,72% do valor de uma ação de rua com flyer.

Essa lógica pode ser aplicada a qualquer meio de comunicação tradicional, seja rádio, tv, outdoor, busdoor…

E a conta também deve ser levada em consideração além dos anúncios de Google, LinekedIN, Facebook, Instagram e TikTok.

Banners em portais e publieditoriais, este último ainda pouco explorado por pequenos e médios anunciantes, também apresentam números disparados na frente do marketing tradicional.

Então, quando você se perguntar se está tendo ou não resultados com mídia online, pense nessa continha.

Marketing digital, em comparação, é barato sim, mas será que você deveria deixar a menor faixa de verba do seu orçamento de marketing para o meio de vendas MAIS PODEROSO QUE EXISTE?

Deixo a reflexão.

Preferências de Publicidade e Propaganda

Moysés Peruhype Carlech – Fábio Maciel – Mercado Pago

Você empresário, quando pensa e necessita de fazer algum anúncio para divulgar a sua empresa, um produto ou fazer uma promoção, qual ou quais veículos de propaganda você tem preferência?

Na minha região do Vale do Aço, percebo que a grande preferência das empresas para as suas propagandas é preferencialmente o rádio e outros meios como outdoors, jornais e revistas de pouca procura.

Vantagens da Propaganda no Rádio Offline

Em tempos de internet é normal se perguntar se propaganda em rádio funciona, mas por mais curioso que isso possa parecer para você, essa ainda é uma ferramenta de publicidade eficaz para alguns públicos.

É claro que não se escuta rádio como há alguns anos atrás, mas ainda existe sim um grande público fiel a esse setor. Se o seu serviço ou produto tiver como alvo essas pessoas, fazer uma propaganda em rádio funciona bem demais!

De nada adianta fazer um comercial e esperar que no dia seguinte suas vendas tripliquem. Você precisa ter um objetivo bem definido e entender que este é um processo de médio e longo prazo. Ou seja, você precisará entrar na mente das pessoas de forma positiva para, depois sim, concretizar suas vendas.

Desvantagens da Propaganda no Rádio Offline

Ao contrário da televisão, não há elementos visuais no rádio, o que costuma ser considerado uma das maiores desvantagens da propaganda no rádio. Frequentemente, os rádios também são usados ​​como ruído de fundo, e os ouvintes nem sempre prestam atenção aos anúncios. Eles também podem mudar de estação quando houver anúncios. Além disso, o ouvinte geralmente não consegue voltar a um anúncio de rádio e ouvi-lo quando quiser. Certos intervalos de tempo também são mais eficazes ao usar publicidade de rádio, mas normalmente há um número limitado,

A propaganda na rádio pode variar muito de rádio para rádio e cidade para cidade. Na minha cidade de Ipatinga por exemplo uma campanha de marketing que dure o mês todo pode custar em média 3-4 mil reais por mês.

Vantagens da Propaganda Online

Em pleno século XXI, em que a maioria dos usuários tem perfis nas mídias sociais e a maior parte das pessoas está conectada 24 horas por dia pelos smartphones, ainda existem empresários que não investem em mídia digital.

Quando comparada às mídias tradicionais, a propaganda online é claramente mais em conta. Na internet, é possível anunciar com pouco dinheiro. Além disso, com a segmentação mais eficaz, o seu retorno é mais alto, o que faz com que o investimento por conversão saia ainda mais barato.

Diferentemente da mídia tradicional, no online, é possível modificar uma campanha a qualquer momento. Se você quiser trocar seu anúncio em uma data festiva, basta entrar na plataforma e realizar a mudança, voltando para o original quando for conveniente.

Outra vantagem da propaganda online é poder acompanhar em tempo real tudo o que acontece com o seu anúncio. Desde o momento em que a campanha é colocada no ar, já é possível ver o número de cliques, de visualizações e de comentários que a ela recebeu.

A mídia online possibilita que o seu consumidor se engaje com o material postado. Diferentemente da mídia tradicional, em que não é possível acompanhar as reações do público, com a internet, você pode ver se a sua mensagem está agradando ou não a sua audiência.

Outra possibilidade é a comunicação de via dupla. Um anúncio publicado em um jornal, por exemplo, apenas envia a mensagem, não permitindo uma maior interação entre cliente e marca. Já no meio digital, você consegue conversar com o consumidor, saber os rastros que ele deixa e responder em tempo real, criando uma proximidade com a empresa.

Com as vantagens da propaganda online, você pode expandir ainda mais o seu negócio. É possível anunciar para qualquer pessoa onde quer que ela esteja, não precisando se ater apenas à sua cidade.

Uma das principais vantagens da publicidade online, é que a mesma permite-lhe mostrar os seus anúncios às pessoas que provavelmente estão interessadas nos seus produtos ou serviços, e excluir aquelas que não estão.

Além de tudo, é possível monitorizar se essas pessoas clicaram ou não nos seus anúncios, e quais as respostas aos mesmos.

A publicidade online oferece-lhe também a oportunidade de alcançar potenciais clientes à medida que estes utilizam vários dispositivos: computadores, portáteis, tablets e smartphones.

Vantagens do Marketplace Valeon

Uma das maiores vantagens do marketplace é a redução dos gastos com publicidade e marketing. Afinal, a plataforma oferece um espaço para as marcas exporem seus produtos e receberem acessos.

Justamente por reunir uma vasta gama de produtos de diferentes segmentos, o marketplace Valeon atrai uma grande diversidade e volume de público. Isso proporciona ao lojista um aumento de visibilidade e novos consumidores que ainda não conhecem a marca e acabam tendo um primeiro contato por meio dessa vitrine virtual. 

Tem grande variedade de ofertas também e faz com que os clientes queiram passar mais tempo no site e, inclusive, voltem com frequência pela grande diversidade de produtos e pela familiaridade com o ambiente. Afinal de contas, é muito mais prático e cômodo centralizar suas compras em uma só plataforma, do que efetuar diversos pedidos diferentes.

Inserir seus anúncios em um marketplace como o da Valeon significa abrir um novo “ponto de vendas”, além do e-commerce, que a maioria das pessoas frequenta com a intenção de comprar. Assim, angariar sua presença no principal marketplace Valeon do Vale do Aço amplia as chances de atrair um público interessado nos seus produtos. Em suma, proporciona ao lojista o crescimento do negócio como um todo.

Quando o assunto é e-commerce, os marketplaces são algumas das plataformas mais importantes. Eles funcionam como um verdadeiro shopping center virtual, atraindo os consumidores para comprar produtos dos mais diversos segmentos no mesmo ambiente. Por outro lado, também possibilitam que pequenos lojistas encontrem uma plataforma, semelhante a uma vitrine, para oferecer seus produtos e serviços, já contando com diversas ferramentas. Não é à toa que eles representaram 78% do faturamento no e-commerce brasileiro em 2020. 

Vender em marketplace como a da Valeon traz diversas vantagens que são extremamente importantes para quem busca desenvolver seu e-commerce e escalar suas vendas pela internet, pois através do nosso apoio, é possível expandir seu ticket médio e aumentar a visibilidade da sua marca.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

 

domingo, 11 de setembro de 2022

O GOVERNO SÓ TEM 6% DO ORÇAMENTO PARA GASTAR EM OBRAS

 

Dinheiro público
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília


Vista da Esplanada a partir do prédio do Congresso: recursos federais são comprometidos por amarras da Constituição e outras normas.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

O próximo presidente do Brasil – seja Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou outro candidato – comandará país com pouco margem de manobra orçamentária. Cerca de 94% do orçamento federal está comprometido com despesas obrigatórias – como, por exemplo, salários de servidores, pagamento de aposentadorias, também investimentos obrigatórios em saúde e educação e pagamento de emendas parlamentares obrigatórias. Ou seja, são aproximadamente 6% à disposição para que o presidente decida como aplicar. E o Congresso quer diminuir ainda mais essa fatia.

A situação não é nova. A determinação de gastos mínimos para saúde e educação, por exemplo, foi firmada pela Constituição de 1988. Mas se acentuou nos últimos anos. O Congresso Nacional criou mecanismos para garantir a deputados e senadores mais controle sobre o orçamento. E esse domínio poderia ser ainda mais expressivo se alguns dos projetos dos parlamentares não tivessem ficado pelo caminho.


O “travamento” do orçamento do Brasil é um dos mais significativos do mundo. Dados de 2017 da agência Moody’s diziam que o “engessamento” na Argentina é de 85%, no Chile é de 74% e no México, de 70%. Em 2021, os EUA tinham apenas 61,3% do seu orçamento já “carimbado”.

A política de fixar o destino de parte dos recursos públicos é, segundo especialistas, positiva em alguns aspectos e prejudicial em outros. A parte benéfica vem em assegurar recursos a áreas essenciais e à garantia de direitos, o que poderia ser inviabilizado por um governo menos afeito a esses compromissos. Já a parte negativa se dá pela impossibilidade de se fazer mudanças expressivas na estrutura de gastos, se isso for necessário, e na consolidação de uma sistemática que estimula despesas ineficientes.

Como ocorreu o engessamento do orçamento
A Constituição de 1988 criou obrigações para os gastos em saúde e educação que valem tanto para a União quanto para os estados e municípios. A União precisa investir o mínimo de 18% do seu orçamento em educação e 15% e saúde. Para os estados, a exigência é de 25% em educação e 12% em saúde. E os municípios têm gasto mínimo de 15% em saúde e 25% em educação.

Há ainda os pagamentos de salários e aposentadorias ao funcionalismo, que corresponde a 53% das despesas primárias. Existem ainda outras transferências estabelecidas pela Constituição, como Fundo de Participação dos Estados (FPE) e Municípios (FPM), Fundo Constitucional do Distrito Federal, transferências do Fundeb, transferências do salário educação, transferência de royalties das compensações financeiras.

Em tempos mais recentes, as amarras passaram a ser pautadas pelas emendas ao orçamento feitas pelo Congresso Nacional. Essas emendas são indicações feitas por deputados e senadores que pedem a destinação de parte dos recursos a obras e programas indicados pelos parlamentares. O mecanismo nasceu como uma forma de aproximar o orçamento federal dos cidadãos, já que os congressistas são representantes diretos da população. Mas se tornou uma ferramenta de barganha para gerenciar o apoio do Legislativo ao presidente da República.

Em 2015, o Congresso aprovou uma emenda à Constituição que transformou em impositivas as emendas individuais dos parlamentares. Ou seja, o governo federal passava a ser obrigado a cumprir o pagamento do que havia sido solicitado pelos deputados e senadores. Em 2019, a impositividade passou a vigorar também para as emendas de bancadas estaduais – decididas pelo conjunto de parlamentares de um estado.

Outra medida que travou o orçamento foi a aprovação, em 2016, da chamada “PEC do Teto”, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limitou a evolução dos gastos públicos ao reajuste pela inflação no ano anterior, segundo o índice IPCA. Pela norma, o governo perdeu a liberdade de, por exemplo, elevar seus gastos para áreas específicas como a saúde, por exemplo – o aumento de despesas ficou restrito ao ajuste da inflação. “A emenda estabeleceu que os gastos daquele ano de 2016, um ano de crise, só seriam corrigidos pelo IPCA. Não importando se tivermos dinheiro a mais, crescimento, mais nada”, afirma a economista Maria Lúcia Fattorelli.

O economista Marcos Mendes, professor do Insper, ressalta que existem diferenças entre dois tipos de “gastos compulsórios”: os vinculados, como os porcentuais para saúde e educação, e as despesas obrigatórias, que é onde entram os pagamentos de salários e aposentadorias. Segundo ele, as despesas obrigatórias admitem um grau maior de maleabilidade, por estarem sujeitas a decisões políticas – por exemplo, a concessão ou não de reajustes aos servidores e o estabelecimento de regras mais ou menos rígidas para aposentadoria. Já as despesas vinculadas, por serem pautadas por um porcentual, são menos flexíveis e aumentam a margem de “carimbo” dos recursos públicos. As despesas vinculadas também impedem um ajuste condicionado ao aumento de impostos, por serem conectadas a um percentual da arrecadação, não a valores absolutos.

“Qualquer presidente que ganhe as eleições terá como um dos seus desafios reequilibrar o poder de decisão. Hoje, temos um Congresso Nacional com muito poder de decisão, mas com poucas responsabilidades pelas decisões que toma”, diz Mendes.

Margem de manobra poderia ser ainda menor
As amarras ao orçamento poderiam ser ainda maiores se outros mecanismos propostos por deputados e senadores tivessem sido aprovados. Durante as discussões para a elaboração do orçamento de 2023, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) sugeriu que as chamadas emendas de relator ao orçamento também tivessem caráter impositivo. A proposta acabou sendo retirada após resistência de parte do Congresso.

As emendas de relator foram criadas há poucos anos. Trata-se de um acerto entre o relator do orçamento e o Poder Executivo. O relator do orçamento é um cargo cujo ocupante varia a cada ano, sempre alternando entre um deputado e um senador. As verbas das emendas de relator foram apelidas de “orçamento secreto” porque são pagas sem que haja critérios claros sobre os parlamentares beneficiados. A ferramenta é vista, hoje, como um elemento decisivo para que o presidente Bolsonaro consiga manter uma robusta base de apoio no Congresso.

O professor Marcos Mendes diz que, por outro lado, nos últimos anos houve algumas medidas que acabaram diminuindo um pouco as restrições do orçamento. Uma delas foi a aprovação da reforma da Previdência, em 2019. A medida reduziu em parte o montante gasto pelo governo federal em aposentadorias e pensões. Outra foi a decisão de se fazer a elevação anual do salário mínimo apenas de acordo com a inflação, sem ir além desse parâmetro. Como o salário mínimo é referência para uma série de gastos, qualquer medida a ele imposta tem efeito em cascata.

Mendes cita ainda um trecho da PEC do Teto de 2016, que impôs uma limitação aos gastos de outras esferas do poder público como o Judiciário, o Ministério Público e os tribunais de contas. “Esses órgãos passaram a ter uma barreira para aumentar suas despesas com pessoal”, destacou o professor do Insper.


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A INFLAÇÃO NEGATIVA ESTÁ SE REPETINDO MÊS A MÊS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Alívio tributário e queda no preço dos combustíveis levou a nova deflação em agosto.| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná/Arquivo

Pelo segundo mês consecutivo, o IPCA, índice oficial de inflação, ficou no campo negativo, indicando recuo nos preços. A deflação de agosto foi de 0,36%, contra retração de 0,68% em julho. E, pela primeira vez desde setembro de 2021, o acumulado de 12 meses voltou à casa de um dígito, estando agora em 8,73%. O índice continua muito acima dos 5% que constituem o limite máximo de tolerância da meta oficial de inflação, que é de 3,5%, mas ainda assim indica que provavelmente o pior momento da pressão inflacionária já ficou para trás, enquanto boa parte do mundo continua às voltas com preços em alta – especialmente na Europa, onde a falta de alternativas ao gás russo está elevando o custo da energia no exato momento em que o inverno se aproxima.

Esta nova deflação continua se devendo principalmente aos recuos nos preços de combustíveis e energia. Há um “rescaldo” da diminuição nas alíquotas de ICMS que começou a vigorar no fim de junho, mas especificamente no caso dos combustíveis houve novas reduções de preços nas refinarias, por decisão da Petrobras, em linha com a política de preços que acompanha as flutuações do mercado internacional. A gasolina, que havia recuado 15,48% em julho, caiu mais 11,64% em agosto; o etanol baixou 8,67%; e o diesel, 3,76%. Por mais que se argumente que a diminuição nos preços praticados pelos postos beneficia especialmente as classes média e alta, que têm carro, não há como negar que combustível mais barato, especialmente o diesel, também ajuda a reduzir custos como o frete rodoviário, o que por sua vez tem efeito em diversos outros preços, ainda que não tão evidente.

Com esta segunda deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do IPCA em setembro, a porta para a manutenção da Selic no atual patamar fica mais aberta

Outro grupo cuja variação nos preços precisa ser acompanhada muito de perto é o de Alimentação e Bebidas, que havia registrado alta de 1,30% em julho; desta vez, o aumento desacelerou para 0,24%, mas o acumulado do ano ainda preocupa, pois está em 13,43%. Um produto que ganhou muito destaque no índice de julho, o leite longa vida, teve queda de 1,78% em agosto, depois de ter subido 25,46% no mês anterior. Como o fim da entressafra está próximo, a oferta de leite deve voltar a subir, embora seja difícil prever se os preços do produto e seus derivados voltarão aos patamares anteriores à disparada recente.

O grande desafio, no momento, é tornar a queda de preços – ou, ao menos, sua estabilidade – mais abrangente. O índice de difusão (a porcentagem de itens medidos pelo IBGE que tiveram aumento nos preços) se manteve estável, passando de 63% em julho para 65% em agosto. Ou seja, há deflação hoje porque houve quedas expressivas em alguns poucos itens que têm muito peso no cálculo, não porque a maioria dos produtos e serviços está ficando ligeiramente mais barata. Se por um lado há produtos, especialmente os da agropecuária, cuja oscilação é natural devido à sazonalidade, por outro lado ainda há uma série de eventos extraordinários que estão desorganizando os preços, como a insistência chinesa em lockdowns que paralisam cadeias produtivas (um dos mais recentes atingiu o importante polo tecnológico de Shenzhen) e os efeitos do ataque russo à Ucrânia. Ao lado destes dois choques de oferta, é preciso monitorar internamente os efeitos do novo Auxílio Brasil de R$ 600 sobre a demanda.


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na última segunda-feira, dia 5 (antes, portanto, da divulgação do IPCA de agosto), que ainda não há previsão de corte nos juros, pois a luta contra a inflação está longe de ser vencida. E ele tem razão: nem os atuais 8,73% no acumulado de 12 meses, nem os 6,61% previstos para 2022 no mais recente boletim Focus são índices que deixam o brasileiro confortável – e o fato de outros países estarem registrando inflações maiores que a nossa não serve de consolo no momento em que alguém vai ao mercado e percebe a queda no seu poder de compra. Mas, com esta segunda deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do IPCA em setembro, a porta para a manutenção da Selic no atual patamar, em vez de um novo aumento na reunião marcada para os dias 20 e 21, fica mais aberta. Seria um alívio bem-vindo para o setor produtivo.

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MINISTRO MORAIS DO STF ATUA NA CONTRAMÃO DO DIREITO

 

Decisão contra os oito empresários
Por
Leonardo Desideri
Brasília

Ministro Alexandre de Moraes na última sessão plenária deste ano judiciário de 2021. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF


O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenou que a Polícia Federal fizesse busca e apreensão em endereços de oito empresários que trocavam mensagens num grupo de WhatsApp| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Ao autorizar a operação policial de busca e apreensão contra oito empresários, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes fez mais do que criar uma aberração dentro do Poder Judiciário: ele passou por cima do Ministério Público Federal (MPF), relativizando a importância de um órgão essencial para a garantia do devido processo legal.

Além de ter aberto ele próprio a série de inquéritos relacionados às fake news e aos chamados “atos antidemocráticos”, em usurpação de funções que são do MPF, Moraes negou os diversos pedidos de arquivamento dos inquéritos feitos pela Procuradoria Geral da República (PGR) e não intimou o procurador-geral da República antes das medidas contra os empresários.

“É absolutamente inviável que medidas cautelares restritivas de direitos fundamentais, que não constituem um fim em si mesmas, sejam decretadas sem prévio pedido e mesmo sem oitiva do Ministério Público Federal”, disse a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, em uma manifestação após a decisão. Nesta sexta-feira (9), Lindôra pediu que o STF encerre as investigações contra os oito empresários.

A prática de escantear o MPF tem se repetido nos últimos meses, o que preocupa muitos procuradores e promotores. Em comunicado recente, a Associação Nacional MP Pró-Sociedade afirmou que as medidas de Moraes são “capazes de abalar os alicerces mais profundos e importantes do regime democrático, do devido processo legal e da proteção das demais liberdades individuais”.

Para Marcelo Rocha Monteiro, procurador de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o que vemos é o retorno à lógica da Inquisição. “Ele [Moraes] está ignorando o sistema acusatório. Está nos levando de volta ao sistema anterior ao acusatório, que era chamado de sistema da inquisição. O juiz inquisidor era o único sujeito do processo. Ele investigava, ele acusava, ele processava e ele julgava. A ideia do sistema acusatório é separar essas funções. Tudo isso existe para quê? A pessoa está correndo o risco de ir para a cadeia. O sistema acusatório foi criado para preservar a neutralidade do juiz”, comenta.

Monteiro recorda que “o Poder Judiciário é inerte” e não pode tomar nenhuma medida de investigação ou contra o réu por iniciativa própria. “Ele só pode tomar qualquer medida como bloqueio de contas, busca e apreensão domiciliar, interceptação telefônica ou até mesmo prisão atendendo a pedido. De qualquer um? Não. Quem são os atores do nosso sistema de Justiça na fase de investigação? São dois: polícia e Ministério Público”, explica. “O que a gente tem visto neste episódio e em vários outros é que o ministro Alexandre de Moraes tem passado por cima do Ministério Público.”

Para Monteiro, o que torna o caso ainda mais grave é que Moraes atendeu a um pedido de medidas cautelares feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-PE), que é coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. “É um candidato adversário daquele apoiado pelos investigados. Este senador não tem legitimidade e não tem isenção, porque ele está pedindo a um juiz medidas contra adversários do candidato dele, sendo que ele não é polícia e não é Ministério Público. É uma ilegalidade gravíssima. Quando quem faz um pedido ao juiz não tem legitimidade para fazer o pedido, o juiz tem que decidir o seguinte: ‘Não tomo conhecimento deste pedido. Não estou analisando nem o mérito. Não conheço do pedido, porque a parte que formulou o pedido é ilegítima.’”

Ignorar pedidos de arquivamento da PGR, por si só, já é ilegal

Além de não intimar o MPF sobre as ações, de ferir o princípio da inércia do Judiciário e de ter aceitado o pedido feito por uma parte ilegítima, Moraes também tem ignorado os diversos pedidos de arquivamento dos inquéritos relacionados às fake news. Isso, por si só, segundo Monteiro, é uma grave ilegalidade, sem precedentes recentes no Poder Judiciário. Moraes está agindo como se o MPF não existisse.

“Esse inquérito continua em andamento porque o Alexandre de Moraes desrespeitou essa regra. O inquérito já é ilegal desde sempre. Para se ter uma ideia, este pedido de arquivamento foi feito pela Raquel Dodge [ex-PGR]”, recorda.

Quando o procurador-geral da República pede o arquivamento de um inquérito ao Judiciário, o pedido é tratado como uma mera formalidade: o Judiciário não tem outra coisa a fazer senão arquivar o inquérito. Essa dinâmica é prevista pelo artigo 28 do Código de Processo Penal, em uma redação que ainda está em vigor:

“Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.”

Há uma nova redação para esse dispositivo – suspensa temporariamente por uma liminar do ministro do STF Luiz Fux – que torna ainda mais clara a legitimidade do Ministério Público para arquivar um inquérito. “Na nova redação, o arquivamento nem sequer passa pelo Poder Judiciário”, diz Monteiro.

Na redação antiga, que ainda está em vigor, o promotor precisa pedir o arquivamento formalmente ao juiz. Se o juiz discordar, ele deve remeter o inquérito para o procurador-geral. Mas, se o procurador-geral insistir no pedido de arquivamento, o juiz é obrigado a atender.

“Quando o pedido de arquivamento já vem do próprio procurador-geral, o juiz não vai nem perguntar, não vai mandar o inquérito de novo para o procurador-geral para saber se o procurador-geral concorda com o pedido de arquivamento, porque você estaria perguntando se ele concorda com ele próprio. Seria um caso de esquizofrenia. Então, em razão disso, o Supremo, ao longo dos últimos 80 anos, decidiu o seguinte, várias vezes, em um entendimento consolidado: quando o pedido de arquivamento já vem do próprio procurador-geral, o Poder Judiciário não tem outra coisa a fazer senão arquivar”, explica Monteiro.

Isso não é o que vem acontecendo, no entanto. Moraes tem ignorado pedidos reiterados de arquivamento da PGR sobre os inquéritos relacionados às fake news. No começo de agosto, por exemplo, ele negou um pedido da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, para arquivar uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). Em fevereiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, havia feito o mesmo pedido, mas também foi ignorado. O caso é referente ao suposto vazamento de dados sigilosos de um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018.

Atropelando e passando por cima do MPF, Moraes tem feito o Brasil regredir, segundo Monteiro, ao tipo de processo penal da Idade Média, em que não havia preocupação com a neutralidade e a imparcialidade do juiz, e no qual o juiz assumia as funções de promotor. “Tem um velho ditado que a gente usa para falar do sistema da Inquisição: ‘Quem é julgado pelo seu acusador precisa de Deus para fazer sua defesa’. Se você vai ser julgado por quem está te acusando, então já está condenado, porque ele já estava te acusando antes de te julgar”, conclui.


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EXEMPLOS DE EDUCAÇÃO PELO MUNDO DEVERIAM SERVIR PARA O BRASIL

 

Metas agressivas
Por
Leonardo Desideri
Brasília


Exemplos de outros países mostram que não é necessário esperar muito tempo para uma grande transformação na educação.| Foto: Pixabay

No primeiro debate televisivo entre os candidatos à Presidência das eleições de 2022, no domingo passado (28), a educação foi uma figurante: nos poucos segundos dedicados ao tema, os participantes fizeram somente críticas genéricas à situação do Brasil na área, sem apresentar ideias concretas para a solução de problemas.

Isso pode ser, em certa medida, um reflexo do que acontece na própria população: em maio de 2022, na última pesquisa “What Worries the World”, do instituto Ipsos – que mede os temas que mais preocupam a população de diversos países –, a educação apareceu apenas em sétimo lugar no Brasil, atrás de pobreza, saúde, inflação, desemprego, corrupção e violência.

Os problemas da educação vêm perdendo interesse no debate público nacional, ainda que a situação do Brasil não justifique essa tendência. Há décadas, os estudantes brasileiros evoluem a passos curtíssimos nos exames nacionais, e o país tem desempenho pífio em comparação com outras nações no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, aparecendo nas últimas colocações.

Para alguns especialistas que se negam a integrar o status quo das discussões sobre educação no país, há um fenômeno que colabora para esta estagnação nos índices: a comunidade educadora está se acostumando com a mediocridade. Predomina entre alguns pedagogos com grande influência no debate público a ideia de que o aumento na escolarização e as pequenas evoluções de desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) seriam satisfatórias, e desprezam-se como ultrapassadas as receitas de sucesso de países, estados ou municípios que deram grandes saltos na educação em pouco tempo.

Portugal, um dos exemplos de nações que avançaram rapidamente no Pisa nas últimas décadas, recorreu a uma estratégia que costuma agradar pouco a correntes mais ideológicas da pedagogia, mas que tende a ser chave em praticamente todos os grandes casos de sucesso em políticas educacionais: o foco em resultados, com metas agressivas de qualidade. Segundo o ex-ministro da Educação do país, Nuno Crato, isso pode ser reproduzido em qualquer país.

“Se um país como o Brasil seguir as políticas corretas, e seguir com decisão, pode, em uma década, uma década e pouco, começar a ver resultados muito bons. Não é uma coisa que demore muito tempo, acho eu”, diz. “Olhem, por exemplo, para o Japão, para a Coreia do Sul, após a guerra. Em 10, 15, 20 anos, eles mudaram tudo. E, neste momento, o ensino na Coreia é um dos melhores do mundo, o ensino em Singapura é dos melhores do mundo, porque eles, a seguir à guerra, decidiram investir na educação – que não é só pôr dinheiro na educação”, observa.

Crato diz que, no caso de Portugal, a rápida melhoria nos índices se apoiou em dois pilares: avaliações exigentes e um currículo bem definido. “Essas são as duas coisas essenciais. São coisas relativamente simples, mas são as coisas que muita gente evita”, diz. “Muitas vezes, quando vou ao Brasil, eu digo: ‘Você quer perder peso? Então, pode inventar mil coisas diferentes, mas, se você comer menos e fizer mais exercício, perde peso. Não vale a pena estar a desviar com outras coisas… Pôr um oleozinho na barriga, olhar para o Sol no crepúsculo e respirar fundo, ir à curandeira… Isso não serve de nada. É muito fácil: você come menos e faz mais exercício. Para 99% das pessoas, a solução é esta, acabou. Não vale a pena estar a evitar o problema. Com a educação, é a mesma coisa: não vale a pena estar a evitar o problema. Não vale a pena estar a fugir.”

Outro componente importante do sucesso português, segundo ele, foi que as várias gestões do ministério entre 2003 e 2015 seguiram o mesmo modelo e “trabalharam essencialmente na mesma direção” da atenção aos resultados. “Foi uma ideia central para todas as pessoas que trabalharam em educação durante esse tempo”, afirma.

Para Gabriel Corrêa, líder de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação, “reformas educacionais, quando bem formuladas, implementadas e sustentadas, conseguem gerar resultados substanciais em oito a dez anos”. “É possível e preciso ter esse otimismo no Brasil, mas é um otimismo que precisa se traduzir em cobrança contínua do poder público”, diz.

O que atravanca o salto de qualidade na educação do Brasil?
Para a educadora Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do MEC, o Brasil também poderia ter resultados em pouco tempo, caso o status quo da comunidade educacional não se opusesse à adoção de metas mais agressivas e de modelos que já deram certo. “Se as receitas usadas em outros países forem usadas aqui, o resultado é rápido. Esta balela de eternidade para dar resultados é parte do discurso da resistência, e é o que realmente pode atrasar o processo todo de superação da ignorância gerada na escola”, diz.

Na visão dela, a receita da eficácia escolar tem os seguintes componentes: currículo, livros didáticos, avaliação e formação docente. “Em cada um desses campos há interesses consolidados que nunca permitiram que o país avançasse na direção já trilhada por países desenvolvidos. O caminho é sem novidades, portanto. Mas quem faz currículo está de mãos dadas com quem dá aula e com quem vende material educativo. Um currículo sério vai de encontro a muitos interesses, e é sistematicamente atropelado”, comenta.

Para Ilona, o caminho para um salto na educação do Brasil é simples – o que não significa fácil. O que mais dificulta uma transformação expressiva, segundo ela, são os interesses comerciais e ideológicos de pessoas e entidades com muito poder.

“População educada não interessa a populistas enganadores. Material de qualidade para quem só está acostumado a vender produtos rasos e preguiçosos significa sair da zona de conforto e perder margem. Avaliação séria incomoda, e formação docente para ensinar em vez de militar em sala de aula é impensável no contexto atual”, diz.

Fazendo a ressalva de que não é brasileiro e não deseja pontificar sobre a educação de um país onde não vive, Nuno Crato observa que o modelo de Sobral, no Ceará, poderia indicar uma boa direção para o Brasil nos próximos anos.

“Eu diria que vocês têm um problema fundamental, que é o problema da alfabetização. A alfabetização generalizada dos jovens na idade escolar do ensino fundamental I é uma coisa que é relativamente fácil de ser atingida, e que é decisiva, porque, sem estarem alfabetizados, os jovens não vão progredir nas outras disciplinas”, diz.

Crato se opõe aos modelos de ensino que pregam a alfabetização tardia. “Os jovens conseguem estar alfabetizados, conseguem estar a ler aos seis, sete anos. Conseguem. Não há razão nenhuma para não estarem alfabetizados aos seis, sete anos – até antes. Claro que alguns vão mais depressa ou mais devagar, mas não há razão nenhuma para esperar.”

Outro ponto importante, segundo ele, é o foco nas disciplinas básicas: a matemática e o português. “Centrar nisso, centrar na matemática e no português na primeira, segunda, terceira série… A seguir, claro, as ciências, as línguas – é preciso saber inglês, saber as ciências, a história, a geografia.”

Uma novidade que pode dificultar ainda mais a busca agressiva pela qualidade é o Sistema Nacional de Educação (SNE), um projeto de lei já aprovado pelo Senado federal e em tramitação na Câmara. O SNE é uma estrutura que tira do Ministério da Educação (MEC) a função de induzir políticas de qualidade, atribuindo a tarefa de definir políticas de educação a um conselho formado por entidades da sociedade civil, ONGs e alguns representantes do poder público. A consequência pode ser o engessamento dos modelos educacionais e a padronização da mediocridade, como mostrou reportagem de dezembro de 2021 da Gazeta do Povo.

Com o SNE, será menor a flexibilidade para a adoção de modelos de ensino eficazes que fujam dos padrões estabelecidos pelo conselho. Com isso, haverá menos chance, por exemplo, de fenômenos como o de Sobral (CE), ou da realização de parcerias público-privadas. A tendência é que se cristalize o modelo de ensino público de administração estatal, que tem sido um dos responsáveis por colocar o Brasil entre os piores do mundo em educação.

Resultados negativos também podem aparecer rápido
Crato lamenta que a gestão que o substituiu no Ministério da Educação em Portugal tenha abandonado as políticas educacionais que deram resultados positivos entre 2003 e 2015. A influência de certas concepções ideológicas acabou sendo determinante para isso, e a queda no desempenho já começa a ser sentida nos exames internacionais.

“O que é muito curioso é que a política mudou em nome da equidade, em nome da igualdade, em nome dos mais desfavorecidos. Mas, se formos ver as estatísticas, quem mais sofreu foram os mais desfavorecidos. Os mais desfavorecidos foram aqueles que mais sofreram com esta política mais laxista e menos exigente. E nós vemos que o número de estudantes abaixo dos mínimos necessários aumentou entre 2015 e 2019, tanto no PISA como no TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study, avaliação internacional de matemática).”

Outro exemplo de país que tem bom desempenho nos rankings internacionais mas está abandonando seu modelo de sucesso é a Finlândia. Segundo Crato, a decadência do ensino finlandês já se observa.

“A Finlândia agora dá muita atenção à chamada ‘multidisciplinaridade’ e ao chamado ‘ensino baseado no fenômeno’. A multidisciplinaridade está bem, tudo bem, mas ela significa que nós sabemos biologia e sabemos física. E, depois de saber biologia, de saber física, vamos tentar encontrar soluções para certos problemas – sei lá, para a hidráulica do coração –, ou seja, tentar perceber se aquilo que sabemos de física se aplica àquilo que sabemos de biologia. Vamos tentar juntar as duas coisas depois de saber cada uma delas. Mas o que a Finlândia está a fazer em algumas escolas é que, em vez de aprender biologia e aprender física, o aluno aprende as duas coisas ao mesmo tempo. Só aprende aquilo que interessa às duas coisas. Isso é altamente prejudicial, porque, com isso, nem se aprende bem física, nem biologia. Desestrutura a maneira como as coisas são feitas”, comenta.

Para Crato, “as disciplinas são fundamentais para a estruturação do pensamento”, e o ensino baseado no fenômeno, que suprime ou diminui a importância das disciplinas, tende a gerar maus resultados. “É má ideia acabar com as disciplinas ou pelo menos diluí-las num conjunto de coisas em que não se sabe bem o que se está a estudar. E é isso que é recomendado pelos líderes da Finlândia neste momento”, diz.

Outro erro da Finlândia, segundo ele, é que a ideia de seguir a vontade dos estudantes tem ficado cada vez mais popular. “Dizem que deve-se seguir muito a vontade dos alunos, que deve-se deixar os alunos, eles próprios, terem a sua iniciativa de estudo etc. Sim, é bom seguir a vontade dos alunos, mas o fundamental é seguir um currículo, e não a vontade dos alunos.”


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O VOTO TEM CONSEQUÊNCIAS

 

Por
Salim Mattar

DemonstraÁ¿o do uso da urna eletrÙnica para as eleiÁ¿es de 2006.


| Foto: Nelson Junior/Divulgação/TSE

O voto em uma democracia exemplar deveria ser um direito do cidadão, mas não uma obrigação. Muito correto o art. 14 da Constituição de 1988 quando diz que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos”, mas fraqueja quando em seguida diz que será obrigatório para os maiores de dezoito anos. Acredito que nossos ilustres constituintes pensaram que tendo o princípio do voto obrigatório nossa democracia seria mais pura e resiliente. Obrigatoriedade do voto tem correlação com autoritarismo, com imposição, opressão e tirania. De fato, a obrigatoriedade de votar foi iniciada em 1965 num ambiente de regime forte quando os militares estavam no poder. A decisão de votar ou não deveria ser do indivíduo e não do estado. O estado existe para servir ao indivíduo e não para lhe impor certas obrigações contrariando seus direitos e sua liberdade. Uma democracia se revela mais madura e autêntica quanto mais respeita e dá liberdade aos seus cidadãos.

Em 1932, decreto do então presidente Getúlio Vargas que criou a Justiça Eleitoral, contemplou o direito de voto da mulher que foi um grande avanço institucional e democrático e não era obrigatório. Em 1933, noventa anos atrás, as mulheres puderam, pela primeira vez, votar e serem eleitas para a Assembleia Nacional Constituinte. A Constituição de 1934 consolidou o voto feminino facultativo.

A decisão de votar ou não deveria ser do indivíduo e não do estado. O estado existe para servir ao indivíduo e não para lhe impor certas obrigações contrariando seus direitos e sua liberdade

Em 1985, no primeiro ano de governo civil após o período militar, através de Emenda Constitucional, ficou garantido também aos analfabetos o direito de votar e assim atingimos uma democracia onde impera o sufrágio universal. É discutível, mas não deveríamos nos gabar de dar o direito de votar aos analfabetos, mas sim erradicar o analfabetismo. Temos 11 milhões de pessoas nessa condição que deveriam receber especial atenção do estado e dos governos para eliminar essa estatística que nos expõe perante países vizinhos e outras nações.

A democracia se enfraquece quando de posse do direito e obrigação de votar, analfabetos, pobres e miseráveis, todos em estado de fragilidade social, podem ser facilmente conduzidos pelos discursos e falácias de políticos populistas. Daí a importância de retirar essas pessoas da pobreza, inseri-las na sociedade de consumo com inclusão social, moradia, educação e alimentação saudável. Nossa democracia só será fortalecida se tivermos uma sociedade com menos desigualdade e sem tamanha pobreza.

O eleitor fica perdido diante de mais de 30 partidos sem claras linhas de atuação e posicionamento ideológico. Fica confuso por tão parecidas ou diferentes propostas de candidatos, promessas que jamais acontecerão, falácias que encantam seus ouvidos e suprem sua esperança. Carência do eleitor gera fragilidade que influi no direito de escolha que nem sempre seria a melhor. Muitos dos candidatos eleitos, que legalmente deveriam representar o povo, se transformam em legisladores e governantes que servem principalmente ao establishment, seus partidos, interesses corporativistas e pessoais deixando as prioridades de seus eleitores em segundo plano. Não é verdade que todo povo tem o governo que merece.

Na maioria das vezes os discursos de palanque são abandonados, promessas para se obter votos que encheram pessoas de esperança são esquecidas e o eleitor decepcionado perde a confiança nos políticos.

Um certo número de eleitores, cidadãos que são de fato o povo, vê com desconfiança o sistema de urnas eletrônicas sem a comprovação do voto em papel. Criticar o atual sistema de votos propondo melhorias é quase um crime pois a justiça eleitoral defende as urnas como se perfeitas fossem. Aliado a isso, no momento há também uma intensa polarização entre os principais candidatos, e muitos buscarão manifestar seu descontentamento no voto nulo ou em branco.

O voto de cada um é a maior contribuição do cidadão para a causa do país onde vive. É momento de grande responsabilidade pois cada um deveria fazer um exercício de escolha dos melhores candidatos, independentemente de viés ideológico, fazendo se representar por pessoas de ilibada reputação, fichas limpas, não envolvidas em crimes ou corrupção e com passado que lhe recomende. O eleitor deve se sentir representando e escolher um político que venha a defender os seus interesses, de sua família, de sua comunidade e de seus valores.

Deve o eleitor fazer detida análise dos candidatos, mas evitar votar em branco ou anular seu voto pois este posicionamento talvez não seja o melhor. Escolha um candidato e vote de acordo com a sua consciência. Isso é exercício da cidadania e a forma de cada eleitor contribuir para o futuro de todos.

Salim Mattar, empresário e presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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MESTRE DA FICÇÃO CIENTÍFICA GANHA REEDIÇÃO APÓS 30 ANOS DA SUA MORTE

 

Foto: Apple Tv+

Por André Cáceres – Jornal Estadão

Autor é relembrado em box com tetralogia policial sobre robôs e outra coleção com três space operas

Em 1571, um decreto da rainha Elizabeth I obrigava seus súditos acima de seis anos a vestir, aos domingos e feriados, uma touca de lã feita na Inglaterra, de modo a proteger a indústria local. Dezoito anos mais tarde, o inventor William Lee construiu uma engenhosa máquina de bordar e viajou a Londres para solicitar uma patente à rainha, que negou: “Considere o que sua invenção poderia fazer aos meus pobres súditos. Ela seguramente os levaria à ruína por privá-los de emprego, transformando-os em pedintes.” Esse episódio curioso é um dos marcos iniciais do processo de mecanização do trabalho, uma das maiores preocupações da sociedade moderna e um dos grandes eixos temáticos na obra do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992).

Considerado um dos mestres da ficção científica do século 20, Asimov dedicou diversos contos e romances a imaginar o impacto dos robôs na sociedade. Entre suas principais narrativas sobre o assunto está a tetralogia composta pelas obras policiais futuristas As Cavernas de Aço (1954), O Sol Desvelado (1957), Os Robôs da Alvorada e Robôs e Império (1985), que acabam de ganhar uma nova edição no Brasil pela Aleph. Além dessa, a mesma editora lança outro box com Pedra no Céu, Poeira de Estrelas, As Correntes do Espaço.

Retrato do escritor de ficção científica Isaac Asimov
Retrato do escritor de ficção científica Isaac Asimov  Foto: Acervo Estadão

Na série da tetralogia, Asimov instituiu as três leis da robótica: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal; um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei; um robô deve proteger a própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. Por mais banal que o conjunto de regras possa parecer, versões atualizadas desse código moral influenciam até hoje o debate ético em torno da inteligência artificial e outras tecnologias.

Asimov, entretanto, não foi o inventor da ideia de robôs. O conceito remonta à poesia homérica nos autômatos forjados por Hefesto, passando por mais elaboração a partir de Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley, e dos contos O Homem de Areia (1816), de E.T.A. Hoffmann, The Bell-Tower (1855), de Herman Melville, e O Feitiço e o Feiticeiro (1899), de Ambrose Bierce.

Um dos aspectos abordados por Asimov em seus livros de robôs é o desemprego, que está no cerne do termo. “Robô” é uma palavra cunhada por Josef Capek, pintor, escritor e poeta checo. “Robota” significa “trabalho forçado” em sérvio e sua raiz é “rab”, escravo. Seu primeiro uso em uma obra foi na peça A Fábrica de Robôs (Rossum’s Universal Robots), do irmão de Josef, Karel Capek, na peça de mesmo nome, escrita em 1920. A questão trabalhista fica evidente em um diálogo entre Helena, presidente da Liga da Humanidade, e Domin, gerente da fábrica de robôs: “Que tipo de trabalhador você pensa ser o melhor?” / “O melhor tipo de trabalhador? Suponho ser o honesto e dedicado.” / “Não. O melhor tipo de trabalhador é o trabalhador mais barato. O que tem menos necessidades.”

Cena da série 'Foundation', baseada no livro de contos Fundação, de Isaac Asimov.
Cena da série ‘Foundation’, baseada no livro de contos Fundação, de Isaac Asimov.  Foto: Apple Tv+

A problemática fica clara em As Cavernas de Aço, em que o detetive decadente Elijah Baley é designado para trabalhar em um caso aparentemente insolúvel ao lado de um parceiro robótico, Daneel Olivaw – como é de praxe entre terráqueos, Baley odeia robôs. Em dado momento, a dupla improvável depara-se com um tumulto em uma loja. “Não há nada de errado com meus homens”, argumenta o gerente. “Eles não são homens. São robôs”, interpela uma cliente em meio à multidão ensandecida. “Eles roubam os empregos dos homens. É por isso que sempre são protegidos pelo governo. Eles trabalham em troca de nada e, por causa disso, famílias têm que morar lá nos abrigos e comer purê de levedura cru.”

Embora Asimov se preocupe com a mecanização e precarização do trabalho, ele é partidário de uma solução conciliadora. Para ele, o ódio à tecnologia é análogo à xenofobia, ou um medo irracional do desconhecido – filho de imigrantes russos, o autor sabia bem o que era ser alvo desse temor. Alguns de seus personagens robóticos mais carismáticos, como o próprio Olivaw, são retratados como vítimas da sanha tecnofóbica. “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930, retratar os robôs como inventos perigosos que invariavelmente destruiriam seus criadores”, escreve o autor sobre sua tetralogia robótica. Asimov considerava essa solução narrativa (adotada por Shelley, Capek e companhia), além de fácil, perigosamente anti-intelectualista. A ele interessava mais propor maneiras para que a tecnologia – de avanço inevitável – trouxesse consigo benefícios. Daí advêm as Três Leis.

A questão da intolerância é outro mote central para a tetralogia dos robôs de Asimov. O autor estabelece que, nesse futuro, a espécie humana iniciou uma tímida expansão interplanetária, logo abortada, o que originou uma divisão: os terráqueos se acotovelam em cidades subterrâneas, verdadeiros formigueiros de gente sob austero racionamento de leveduras, sujeitos a doenças e vivendo vidas curtas, de no máximo cem anos; e os Siderais, que vivem confortavelmente por séculos nas colônias, planetas mais desenvolvidos social e economicamente que a decadente Terra. Enquanto os terráqueos sofrem de agorafobia e nutrem ódio contra os robôs, os Siderais coexistem pacificamente com eles, mas a tecnologia afasta os indivíduos do convívio interpessoal, reduzindo a taxa de natalidade.

Cena da série Foundation, baseada no livro de contos 'Fundação', de  Asimov
Cena da série Foundation, baseada no livro de contos ‘Fundação’, de Asimov  Foto: Helen Sloan/Apple Tv +

Os livros da tetralogia tratam dessa difícil relação entre a claustrofóbica Terra e as idílicas colônias, numa comparação que involuntariamente soa como metáfora dos hemisférios Norte e Sul no mundo contemporâneo, inclusive abordando os mesmos problemas migratórios que hoje são escancarados no noticiário.

Ao longo dos três primeiros romances, a dupla Baley e Olivaw ganha entrosamento e soluciona assassinatos que estremecem a diplomacia entre terráqueos e Siderais num cenário político conturbado e polarizado, sempre colocando em xeque e testando os limites técnicos, éticos e filosóficos das leis da robótica.

O quarto livro, Robôs e Império, que estava fora de catálogo há anos, se passa décadas após a morte do detetive humano, com flashbacks que o recolocam em ação, mas dá protagonismo a Gladia, uma Sideral que se envolveu com Baley em livros anteriores, uma das mais instigantes e bem construídas figuras femininas na obra de Asimov, tão pobre em boas personagens.

Foundation, a série baseada no livro de contos Fundação, do escritor Isaac Asimov
Foundation, a série baseada no livro de contos Fundação, do escritor Isaac Asimov  Foto: Giles Keyte /Apple Tv+

Embora continue sendo uma ode ao pensamento lógico e às conclusões racionais às quais chegam seus personagens – humanos ou robóticos –, o último livro da saga deixa de lado as raízes policialescas dos três anteriores para acompanhar Gladia na tentativa de impedir um conflito generalizado entre os Siderais e os colonizadores terráqueos, que ameaça o futuro da espécie humana – talvez numa analogia do temor de aniquilação durante o auge da Guerra Fria.

Se nos demais romances as Três Leis são instauradas e postas à prova, em Robôs e Império elas são levadas às últimas consequências. No romance, a primeira e mais importante lei da robótica é burlada diante de um mecanismo lógico de desumanização: se um robô é programado para não enxergar algumas pessoas como seres humanos, como impedir que ele provoque dano a elas? Asimov demonstra, com essa analogia, como o desprezo institucionalizado coloca em risco a sobrevivência de determinados grupos na sociedade e antecipa problemas que estão sendo enfrentados atualmente por inteligências artificiais..

Robôs e Império, escrito nos últimos anos de vida do autor, faz parte de um esforço, na década de 1980, para unificar todo o seu universo ficcional, especialmente as séries dos Robôs, do Império Galáctico e da Fundação, iniciadas nos anos 1940 e 1950. É por isso que o romance foge do tom policialesco dos demais e amplia seu escopo para retratar a humanidade em um ponto de virada e explicar como, na saga da Fundação, a espécie humana se espalhou pela Galáxia e não há robôs em planeta algum.

Mais importante do que isso, no entanto, é a noção que o romance parece sugerir: é preciso se expandir para sobreviver, mas para se expandir é fundamental que tolerância e cooperação vençam preconceito e ódio. Isaac Asimov não tinha como saber quão necessária essa ideia se tornaria hoje em dia, 30 anos após a sua morte.

MORRE O SÉCULO XX E SUAS GRANDES PERSONALIDADES

 

Tempo, tempo, tempo

Por
Paulo Polzonoff Jr.


Com a morte da rainha Elizabeth II já não dá mais para negar aquilo de que todos desconfiam desde 2001: o século XX é passado.| Foto:

Outro dia morreu o Jô Soares. Foi como se tivesse morrido um amigo. Na correria do dia-a-dia, contudo, fui deixando a homenagem para depois e depois e depois e, quando vi, o texto tinha caído no poço das intenções perdidas. Mas ficou a sensação de que não era apenas a morte de uma pessoa que divertiu e, no meu caso, ensinou. Parecia a morte de algo maior. De um tempo.

Semana passada, morreu Gorbachev. Nesse caso, senti como se tivesse morrido uma estátua. Ou um personagem de enciclopédia. Aquele cara com aquela mancha na testa com o qual comparavam meu pai e que aparecia o tempo no telejornal. Por acaso, também fui obrigado a me lembrar da morte de um amigo que teve o privilégio de entrevistar Gorbachev. Foi assim, tangencialmente, que também sofri a morte não só de uma estátua ou personagem de enciclopédia. Novamente era um tempo que morria.

As sensações difusas ganharam força com a morte da rainha Elizabeth II. Já agora é possível definir melhor esse “um tempo” que soltou o último suspiro. É o século XX que se vai. E, com ele, duas guerras que – graças a Deus – não vivi, tragédias que não sofri, revoluções que não enfrentei, o pouso na Lua que não acompanhei pela TV. E e as últimas gerações a grafarem o século com algarismos romanos.

Cem anos de dramas eloquentes dos quais aproveitei apenas duas décadas e uns quebrados. Durante as quais vi as duas potencias da Guerra Fria se unirem para salvar duas baleias; o Muro de Berlim cair; a União Soviética voltar a ser a Rússia velha de guerra; Romário fazer aquele gol de cabeça contra a Suécia; e mais um punhado de grandes eventos históricos dos quais não me lembro no momento.

Isso sem falar nos eventos da, digamos, história íntima. Todos concentrados entre 1977 e 2000. Primeiros passos, primeiras letras, primeiro beijo. Crises existenciais de adolescente, draminhas acadêmicos sem nenhuma relevância no presente. E, já nos estertores do século, o mindinho do pé mergulhado na idade adulta. Se bem que no ano 2000 nem barba eu tinha direito.

Com o século XX (ou 20, para os mais jovens), morre também a hegemonia cultural norte-americana no Ocidente. E não me escapa a ironia de eu ter me dado conta disso por causa da morte de uma monarca britânica. De certa forma, morre todo tipo de informação centralizada. Assim, morrem também as celebridades absolutas e os ícones culturais. Morre a música que aprendi a ouvir. Morre (e aqui vocês me perdoem um pessimismo que, reconheço, não combina nem comigo nem com o sábado) o que restava da sensação de ser um indivíduo cercado por uma sociedade, e não uma sociedade sufocando um indivíduo.

Me reconheço, assim, um homem do meu tempo, que é um tempo passado. Um século passado. É a essa preteritude que recorro quando preciso me revelar “antenado” ao presente a fim de vislumbrar o futuro. E você, leitor atento, deve ter percebido que o “antenado” aí denuncia não apenas a idade, mas também a antiguidade de quem escreve. O século XX foi o de semear. Agora já estou no meio da colheita. Pelo menos há fartura!

Dizer que o século XX fará falta seria absurdo. Assim como não faria sentido algum dizê-lo insubstituível. Pelo contrário. Com seus cabelos coloridos, alargadores nas orelhas, sexo fluído e ultraniilismo, o século XXI já se apresentou para cumprir as funções de tempo presente – e para tanto escolheu o nome de século 21. Dizem que, ao contrário das tragédias e dos dramas muito humanos que marcara seu antecessor, o novo tempo-rei quer ser reconhecido pelo triunfo derradeiro da técnica sobre a imperfeição dos tais Homo sapiens.

Só nos resta esperar que tenha algum juízo, o novo soberano. E, se calhar, algum senso de humor. De minha parte miniminiminiminúscula, rezo para que o novo século ao menos tenha noção da própria finitude – que infelizmente não terei o prazer de testemunhar. Rezo para que este século termine não com um estrondo nem com um gemido, e sim com um suspiro de quem sabe ter cumprido seu papel na Eternidade.


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