Alívio tributário e queda no preço dos combustíveis levou a nova
deflação em agosto.| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná/Arquivo
Pelo segundo mês consecutivo, o IPCA, índice oficial de inflação,
ficou no campo negativo, indicando recuo nos preços. A deflação de
agosto foi de 0,36%, contra retração de 0,68% em julho. E, pela primeira
vez desde setembro de 2021, o acumulado de 12 meses voltou à casa de um
dígito, estando agora em 8,73%. O índice continua muito acima dos 5%
que constituem o limite máximo de tolerância da meta oficial de
inflação, que é de 3,5%, mas ainda assim indica que provavelmente o pior
momento da pressão inflacionária já ficou para trás, enquanto boa parte
do mundo continua às voltas com preços em alta – especialmente na
Europa, onde a falta de alternativas ao gás russo está elevando o custo
da energia no exato momento em que o inverno se aproxima.
Esta nova deflação continua se devendo principalmente aos recuos nos
preços de combustíveis e energia. Há um “rescaldo” da diminuição nas
alíquotas de ICMS que começou a vigorar no fim de junho, mas
especificamente no caso dos combustíveis houve novas reduções de preços
nas refinarias, por decisão da Petrobras, em linha com a política de
preços que acompanha as flutuações do mercado internacional. A gasolina,
que havia recuado 15,48% em julho, caiu mais 11,64% em agosto; o etanol
baixou 8,67%; e o diesel, 3,76%. Por mais que se argumente que a
diminuição nos preços praticados pelos postos beneficia especialmente as
classes média e alta, que têm carro, não há como negar que combustível
mais barato, especialmente o diesel, também ajuda a reduzir custos como o
frete rodoviário, o que por sua vez tem efeito em diversos outros
preços, ainda que não tão evidente.
Com esta segunda deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do
IPCA em setembro, a porta para a manutenção da Selic no atual patamar
fica mais aberta
Outro grupo cuja variação nos preços precisa ser acompanhada muito de
perto é o de Alimentação e Bebidas, que havia registrado alta de 1,30%
em julho; desta vez, o aumento desacelerou para 0,24%, mas o acumulado
do ano ainda preocupa, pois está em 13,43%. Um produto que ganhou muito
destaque no índice de julho, o leite longa vida, teve queda de 1,78% em
agosto, depois de ter subido 25,46% no mês anterior. Como o fim da
entressafra está próximo, a oferta de leite deve voltar a subir, embora
seja difícil prever se os preços do produto e seus derivados voltarão
aos patamares anteriores à disparada recente.
O grande desafio, no momento, é tornar a queda de preços – ou, ao
menos, sua estabilidade – mais abrangente. O índice de difusão (a
porcentagem de itens medidos pelo IBGE que tiveram aumento nos preços)
se manteve estável, passando de 63% em julho para 65% em agosto. Ou
seja, há deflação hoje porque houve quedas expressivas em alguns poucos
itens que têm muito peso no cálculo, não porque a maioria dos produtos e
serviços está ficando ligeiramente mais barata. Se por um lado há
produtos, especialmente os da agropecuária, cuja oscilação é natural
devido à sazonalidade, por outro lado ainda há uma série de eventos
extraordinários que estão desorganizando os preços, como a insistência
chinesa em lockdowns que paralisam cadeias produtivas (um dos mais
recentes atingiu o importante polo tecnológico de Shenzhen) e os efeitos
do ataque russo à Ucrânia. Ao lado destes dois choques de oferta, é
preciso monitorar internamente os efeitos do novo Auxílio Brasil de R$
600 sobre a demanda.
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na
última segunda-feira, dia 5 (antes, portanto, da divulgação do IPCA de
agosto), que ainda não há previsão de corte nos juros, pois a luta
contra a inflação está longe de ser vencida. E ele tem razão: nem os
atuais 8,73% no acumulado de 12 meses, nem os 6,61% previstos para 2022
no mais recente boletim Focus são índices que deixam o brasileiro
confortável – e o fato de outros países estarem registrando inflações
maiores que a nossa não serve de consolo no momento em que alguém vai ao
mercado e percebe a queda no seu poder de compra. Mas, com esta segunda
deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do IPCA em setembro, a
porta para a manutenção da Selic no atual patamar, em vez de um novo
aumento na reunião marcada para os dias 20 e 21, fica mais aberta. Seria
um alívio bem-vindo para o setor produtivo.
Decisão contra os oito empresários Por Leonardo Desideri Brasília
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenou que a Polícia
Federal fizesse busca e apreensão em endereços de oito empresários que
trocavam mensagens num grupo de WhatsApp| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
Ao
autorizar a operação policial de busca e apreensão contra oito
empresários, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de
Moraes fez mais do que criar uma aberração dentro do Poder Judiciário:
ele passou por cima do Ministério Público Federal (MPF), relativizando a
importância de um órgão essencial para a garantia do devido processo
legal.
Além de ter aberto ele próprio a série de inquéritos relacionados às
fake news e aos chamados “atos antidemocráticos”, em usurpação de
funções que são do MPF, Moraes negou os diversos pedidos de arquivamento
dos inquéritos feitos pela Procuradoria Geral da República (PGR) e não
intimou o procurador-geral da República antes das medidas contra os
empresários.
“É absolutamente inviável que medidas cautelares restritivas de
direitos fundamentais, que não constituem um fim em si mesmas, sejam
decretadas sem prévio pedido e mesmo sem oitiva do Ministério Público
Federal”, disse a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo,
em uma manifestação após a decisão. Nesta sexta-feira (9), Lindôra pediu
que o STF encerre as investigações contra os oito empresários.
A prática de escantear o MPF tem se repetido nos últimos meses, o que
preocupa muitos procuradores e promotores. Em comunicado recente, a
Associação Nacional MP Pró-Sociedade afirmou que as medidas de Moraes
são “capazes de abalar os alicerces mais profundos e importantes do
regime democrático, do devido processo legal e da proteção das demais
liberdades individuais”.
Para Marcelo Rocha Monteiro, procurador de Justiça do Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o que vemos é o retorno à lógica da
Inquisição. “Ele [Moraes] está ignorando o sistema acusatório. Está nos
levando de volta ao sistema anterior ao acusatório, que era chamado de
sistema da inquisição. O juiz inquisidor era o único sujeito do
processo. Ele investigava, ele acusava, ele processava e ele julgava. A
ideia do sistema acusatório é separar essas funções. Tudo isso existe
para quê? A pessoa está correndo o risco de ir para a cadeia. O sistema
acusatório foi criado para preservar a neutralidade do juiz”, comenta.
Monteiro recorda que “o Poder Judiciário é inerte” e não pode tomar
nenhuma medida de investigação ou contra o réu por iniciativa própria.
“Ele só pode tomar qualquer medida como bloqueio de contas, busca e
apreensão domiciliar, interceptação telefônica ou até mesmo prisão
atendendo a pedido. De qualquer um? Não. Quem são os atores do nosso
sistema de Justiça na fase de investigação? São dois: polícia e
Ministério Público”, explica. “O que a gente tem visto neste episódio e
em vários outros é que o ministro Alexandre de Moraes tem passado por
cima do Ministério Público.”
Para Monteiro, o que torna o caso ainda mais grave é que Moraes
atendeu a um pedido de medidas cautelares feito pelo senador Randolfe
Rodrigues (Rede-PE), que é coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) à Presidência da República. “É um candidato adversário
daquele apoiado pelos investigados. Este senador não tem legitimidade e
não tem isenção, porque ele está pedindo a um juiz medidas contra
adversários do candidato dele, sendo que ele não é polícia e não é
Ministério Público. É uma ilegalidade gravíssima. Quando quem faz um
pedido ao juiz não tem legitimidade para fazer o pedido, o juiz tem que
decidir o seguinte: ‘Não tomo conhecimento deste pedido. Não estou
analisando nem o mérito. Não conheço do pedido, porque a parte que
formulou o pedido é ilegítima.’”
Ignorar pedidos de arquivamento da PGR, por si só, já é ilegal
Além de não intimar o MPF sobre as ações, de ferir o princípio da
inércia do Judiciário e de ter aceitado o pedido feito por uma parte
ilegítima, Moraes também tem ignorado os diversos pedidos de
arquivamento dos inquéritos relacionados às fake news. Isso, por si só,
segundo Monteiro, é uma grave ilegalidade, sem precedentes recentes no
Poder Judiciário. Moraes está agindo como se o MPF não existisse.
“Esse inquérito continua em andamento porque o Alexandre de Moraes
desrespeitou essa regra. O inquérito já é ilegal desde sempre. Para se
ter uma ideia, este pedido de arquivamento foi feito pela Raquel Dodge
[ex-PGR]”, recorda.
Quando o procurador-geral da República pede o arquivamento de um
inquérito ao Judiciário, o pedido é tratado como uma mera formalidade: o
Judiciário não tem outra coisa a fazer senão arquivar o inquérito. Essa
dinâmica é prevista pelo artigo 28 do Código de Processo Penal, em uma
redação que ainda está em vigor:
“Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,
requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de
informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões
invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao
procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do
Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de
arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.”
Há uma nova redação para esse dispositivo – suspensa temporariamente
por uma liminar do ministro do STF Luiz Fux – que torna ainda mais clara
a legitimidade do Ministério Público para arquivar um inquérito. “Na
nova redação, o arquivamento nem sequer passa pelo Poder Judiciário”,
diz Monteiro.
Na redação antiga, que ainda está em vigor, o promotor precisa pedir o
arquivamento formalmente ao juiz. Se o juiz discordar, ele deve remeter
o inquérito para o procurador-geral. Mas, se o procurador-geral
insistir no pedido de arquivamento, o juiz é obrigado a atender.
“Quando o pedido de arquivamento já vem do próprio procurador-geral, o
juiz não vai nem perguntar, não vai mandar o inquérito de novo para o
procurador-geral para saber se o procurador-geral concorda com o pedido
de arquivamento, porque você estaria perguntando se ele concorda com ele
próprio. Seria um caso de esquizofrenia. Então, em razão disso, o
Supremo, ao longo dos últimos 80 anos, decidiu o seguinte, várias vezes,
em um entendimento consolidado: quando o pedido de arquivamento já vem
do próprio procurador-geral, o Poder Judiciário não tem outra coisa a
fazer senão arquivar”, explica Monteiro.
Isso não é o que vem acontecendo, no entanto. Moraes tem ignorado
pedidos reiterados de arquivamento da PGR sobre os inquéritos
relacionados às fake news. No começo de agosto, por exemplo, ele negou
um pedido da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, para
arquivar uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no
Supremo Tribunal Federal (STF). Em fevereiro, o procurador-geral da
República, Augusto Aras, havia feito o mesmo pedido, mas também foi
ignorado. O caso é referente ao suposto vazamento de dados sigilosos de
um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker contra o Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) em 2018.
Atropelando e passando por cima do MPF, Moraes tem feito o Brasil
regredir, segundo Monteiro, ao tipo de processo penal da Idade Média, em
que não havia preocupação com a neutralidade e a imparcialidade do
juiz, e no qual o juiz assumia as funções de promotor. “Tem um velho
ditado que a gente usa para falar do sistema da Inquisição: ‘Quem é
julgado pelo seu acusador precisa de Deus para fazer sua defesa’. Se
você vai ser julgado por quem está te acusando, então já está condenado,
porque ele já estava te acusando antes de te julgar”, conclui.
Exemplos de outros países mostram que não é necessário esperar
muito tempo para uma grande transformação na educação.| Foto: Pixabay
No
primeiro debate televisivo entre os candidatos à Presidência das
eleições de 2022, no domingo passado (28), a educação foi uma figurante:
nos poucos segundos dedicados ao tema, os participantes fizeram somente
críticas genéricas à situação do Brasil na área, sem apresentar ideias
concretas para a solução de problemas.
Isso pode ser, em certa medida, um reflexo do que acontece na própria
população: em maio de 2022, na última pesquisa “What Worries the
World”, do instituto Ipsos – que mede os temas que mais preocupam a
população de diversos países –, a educação apareceu apenas em sétimo
lugar no Brasil, atrás de pobreza, saúde, inflação, desemprego,
corrupção e violência.
Os problemas da educação vêm perdendo interesse no debate público
nacional, ainda que a situação do Brasil não justifique essa tendência.
Há décadas, os estudantes brasileiros evoluem a passos curtíssimos nos
exames nacionais, e o país tem desempenho pífio em comparação com outras
nações no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes,
aparecendo nas últimas colocações.
Para alguns especialistas que se negam a integrar o status quo das
discussões sobre educação no país, há um fenômeno que colabora para esta
estagnação nos índices: a comunidade educadora está se acostumando com a
mediocridade. Predomina entre alguns pedagogos com grande influência no
debate público a ideia de que o aumento na escolarização e as pequenas
evoluções de desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb) seriam satisfatórias, e desprezam-se como ultrapassadas as
receitas de sucesso de países, estados ou municípios que deram grandes
saltos na educação em pouco tempo.
Portugal, um dos exemplos de nações que avançaram rapidamente no Pisa
nas últimas décadas, recorreu a uma estratégia que costuma agradar
pouco a correntes mais ideológicas da pedagogia, mas que tende a ser
chave em praticamente todos os grandes casos de sucesso em políticas
educacionais: o foco em resultados, com metas agressivas de qualidade.
Segundo o ex-ministro da Educação do país, Nuno Crato, isso pode ser
reproduzido em qualquer país.
“Se um país como o Brasil seguir as políticas corretas, e seguir com
decisão, pode, em uma década, uma década e pouco, começar a ver
resultados muito bons. Não é uma coisa que demore muito tempo, acho eu”,
diz. “Olhem, por exemplo, para o Japão, para a Coreia do Sul, após a
guerra. Em 10, 15, 20 anos, eles mudaram tudo. E, neste momento, o
ensino na Coreia é um dos melhores do mundo, o ensino em Singapura é dos
melhores do mundo, porque eles, a seguir à guerra, decidiram investir
na educação – que não é só pôr dinheiro na educação”, observa.
Crato diz que, no caso de Portugal, a rápida melhoria nos índices se
apoiou em dois pilares: avaliações exigentes e um currículo bem
definido. “Essas são as duas coisas essenciais. São coisas relativamente
simples, mas são as coisas que muita gente evita”, diz. “Muitas vezes,
quando vou ao Brasil, eu digo: ‘Você quer perder peso? Então, pode
inventar mil coisas diferentes, mas, se você comer menos e fizer mais
exercício, perde peso. Não vale a pena estar a desviar com outras
coisas… Pôr um oleozinho na barriga, olhar para o Sol no crepúsculo e
respirar fundo, ir à curandeira… Isso não serve de nada. É muito fácil:
você come menos e faz mais exercício. Para 99% das pessoas, a solução é
esta, acabou. Não vale a pena estar a evitar o problema. Com a educação,
é a mesma coisa: não vale a pena estar a evitar o problema. Não vale a
pena estar a fugir.”
Outro componente importante do sucesso português, segundo ele, foi
que as várias gestões do ministério entre 2003 e 2015 seguiram o mesmo
modelo e “trabalharam essencialmente na mesma direção” da atenção aos
resultados. “Foi uma ideia central para todas as pessoas que trabalharam
em educação durante esse tempo”, afirma.
Para Gabriel Corrêa, líder de Políticas Educacionais da ONG Todos
Pela Educação, “reformas educacionais, quando bem formuladas,
implementadas e sustentadas, conseguem gerar resultados substanciais em
oito a dez anos”. “É possível e preciso ter esse otimismo no Brasil, mas
é um otimismo que precisa se traduzir em cobrança contínua do poder
público”, diz.
O que atravanca o salto de qualidade na educação do Brasil? Para a
educadora Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do MEC, o
Brasil também poderia ter resultados em pouco tempo, caso o status quo
da comunidade educacional não se opusesse à adoção de metas mais
agressivas e de modelos que já deram certo. “Se as receitas usadas em
outros países forem usadas aqui, o resultado é rápido. Esta balela de
eternidade para dar resultados é parte do discurso da resistência, e é o
que realmente pode atrasar o processo todo de superação da ignorância
gerada na escola”, diz.
Na visão dela, a receita da eficácia escolar tem os seguintes
componentes: currículo, livros didáticos, avaliação e formação docente.
“Em cada um desses campos há interesses consolidados que nunca
permitiram que o país avançasse na direção já trilhada por países
desenvolvidos. O caminho é sem novidades, portanto. Mas quem faz
currículo está de mãos dadas com quem dá aula e com quem vende material
educativo. Um currículo sério vai de encontro a muitos interesses, e é
sistematicamente atropelado”, comenta.
Para Ilona, o caminho para um salto na educação do Brasil é simples –
o que não significa fácil. O que mais dificulta uma transformação
expressiva, segundo ela, são os interesses comerciais e ideológicos de
pessoas e entidades com muito poder.
“População educada não interessa a populistas enganadores. Material
de qualidade para quem só está acostumado a vender produtos rasos e
preguiçosos significa sair da zona de conforto e perder margem.
Avaliação séria incomoda, e formação docente para ensinar em vez de
militar em sala de aula é impensável no contexto atual”, diz.
Fazendo a ressalva de que não é brasileiro e não deseja pontificar
sobre a educação de um país onde não vive, Nuno Crato observa que o
modelo de Sobral, no Ceará, poderia indicar uma boa direção para o
Brasil nos próximos anos.
“Eu diria que vocês têm um problema fundamental, que é o problema da
alfabetização. A alfabetização generalizada dos jovens na idade escolar
do ensino fundamental I é uma coisa que é relativamente fácil de ser
atingida, e que é decisiva, porque, sem estarem alfabetizados, os jovens
não vão progredir nas outras disciplinas”, diz.
Crato se opõe aos modelos de ensino que pregam a alfabetização
tardia. “Os jovens conseguem estar alfabetizados, conseguem estar a ler
aos seis, sete anos. Conseguem. Não há razão nenhuma para não estarem
alfabetizados aos seis, sete anos – até antes. Claro que alguns vão mais
depressa ou mais devagar, mas não há razão nenhuma para esperar.”
Outro ponto importante, segundo ele, é o foco nas disciplinas
básicas: a matemática e o português. “Centrar nisso, centrar na
matemática e no português na primeira, segunda, terceira série… A
seguir, claro, as ciências, as línguas – é preciso saber inglês, saber
as ciências, a história, a geografia.”
Uma novidade que pode dificultar ainda mais a busca agressiva pela
qualidade é o Sistema Nacional de Educação (SNE), um projeto de lei já
aprovado pelo Senado federal e em tramitação na Câmara. O SNE é uma
estrutura que tira do Ministério da Educação (MEC) a função de induzir
políticas de qualidade, atribuindo a tarefa de definir políticas de
educação a um conselho formado por entidades da sociedade civil, ONGs e
alguns representantes do poder público. A consequência pode ser o
engessamento dos modelos educacionais e a padronização da mediocridade,
como mostrou reportagem de dezembro de 2021 da Gazeta do Povo.
Com o SNE, será menor a flexibilidade para a adoção de modelos de
ensino eficazes que fujam dos padrões estabelecidos pelo conselho. Com
isso, haverá menos chance, por exemplo, de fenômenos como o de Sobral
(CE), ou da realização de parcerias público-privadas. A tendência é que
se cristalize o modelo de ensino público de administração estatal, que
tem sido um dos responsáveis por colocar o Brasil entre os piores do
mundo em educação.
Resultados negativos também podem aparecer rápido Crato lamenta
que a gestão que o substituiu no Ministério da Educação em Portugal
tenha abandonado as políticas educacionais que deram resultados
positivos entre 2003 e 2015. A influência de certas concepções
ideológicas acabou sendo determinante para isso, e a queda no desempenho
já começa a ser sentida nos exames internacionais.
“O que é muito curioso é que a política mudou em nome da equidade, em
nome da igualdade, em nome dos mais desfavorecidos. Mas, se formos ver
as estatísticas, quem mais sofreu foram os mais desfavorecidos. Os mais
desfavorecidos foram aqueles que mais sofreram com esta política mais
laxista e menos exigente. E nós vemos que o número de estudantes abaixo
dos mínimos necessários aumentou entre 2015 e 2019, tanto no PISA como
no TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study,
avaliação internacional de matemática).”
Outro exemplo de país que tem bom desempenho nos rankings
internacionais mas está abandonando seu modelo de sucesso é a Finlândia.
Segundo Crato, a decadência do ensino finlandês já se observa.
“A Finlândia agora dá muita atenção à chamada ‘multidisciplinaridade’
e ao chamado ‘ensino baseado no fenômeno’. A multidisciplinaridade está
bem, tudo bem, mas ela significa que nós sabemos biologia e sabemos
física. E, depois de saber biologia, de saber física, vamos tentar
encontrar soluções para certos problemas – sei lá, para a hidráulica do
coração –, ou seja, tentar perceber se aquilo que sabemos de física se
aplica àquilo que sabemos de biologia. Vamos tentar juntar as duas
coisas depois de saber cada uma delas. Mas o que a Finlândia está a
fazer em algumas escolas é que, em vez de aprender biologia e aprender
física, o aluno aprende as duas coisas ao mesmo tempo. Só aprende aquilo
que interessa às duas coisas. Isso é altamente prejudicial, porque, com
isso, nem se aprende bem física, nem biologia. Desestrutura a maneira
como as coisas são feitas”, comenta.
Para Crato, “as disciplinas são fundamentais para a estruturação do
pensamento”, e o ensino baseado no fenômeno, que suprime ou diminui a
importância das disciplinas, tende a gerar maus resultados. “É má ideia
acabar com as disciplinas ou pelo menos diluí-las num conjunto de coisas
em que não se sabe bem o que se está a estudar. E é isso que é
recomendado pelos líderes da Finlândia neste momento”, diz.
Outro erro da Finlândia, segundo ele, é que a ideia de seguir a
vontade dos estudantes tem ficado cada vez mais popular. “Dizem que
deve-se seguir muito a vontade dos alunos, que deve-se deixar os alunos,
eles próprios, terem a sua iniciativa de estudo etc. Sim, é bom seguir a
vontade dos alunos, mas o fundamental é seguir um currículo, e não a
vontade dos alunos.”
O voto em
uma democracia exemplar deveria ser um direito do cidadão, mas não uma
obrigação. Muito correto o art. 14 da Constituição de 1988 quando diz
que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com igual valor para todos”, mas fraqueja quando
em seguida diz que será obrigatório para os maiores de dezoito anos.
Acredito que nossos ilustres constituintes pensaram que tendo o
princípio do voto obrigatório nossa democracia seria mais pura e
resiliente. Obrigatoriedade do voto tem correlação com autoritarismo,
com imposição, opressão e tirania. De fato, a obrigatoriedade de
votar foi iniciada em 1965 num ambiente de regime forte quando os
militares estavam no poder. A decisão de votar ou não deveria ser do
indivíduo e não do estado. O estado existe para servir ao indivíduo e
não para lhe impor certas obrigações contrariando seus direitos e sua
liberdade. Uma democracia se revela mais madura e autêntica quanto mais
respeita e dá liberdade aos seus cidadãos.
Em 1932, decreto do então presidente Getúlio Vargas que criou a
Justiça Eleitoral, contemplou o direito de voto da mulher que foi um
grande avanço institucional e democrático e não era obrigatório. Em
1933, noventa anos atrás, as mulheres puderam, pela primeira vez, votar e
serem eleitas para a Assembleia Nacional Constituinte. A Constituição
de 1934 consolidou o voto feminino facultativo.
A decisão de votar ou não deveria ser do indivíduo e não do estado. O
estado existe para servir ao indivíduo e não para lhe impor certas
obrigações contrariando seus direitos e sua liberdade
Em 1985, no primeiro ano de governo civil após o período militar,
através de Emenda Constitucional, ficou garantido também aos analfabetos
o direito de votar e assim atingimos uma democracia onde impera o
sufrágio universal. É discutível, mas não deveríamos nos gabar de dar o
direito de votar aos analfabetos, mas sim erradicar o analfabetismo.
Temos 11 milhões de pessoas nessa condição que deveriam receber especial
atenção do estado e dos governos para eliminar essa estatística que nos
expõe perante países vizinhos e outras nações.
A democracia se enfraquece quando de posse do direito e obrigação de
votar, analfabetos, pobres e miseráveis, todos em estado de fragilidade
social, podem ser facilmente conduzidos pelos discursos e falácias de
políticos populistas. Daí a importância de retirar essas pessoas da
pobreza, inseri-las na sociedade de consumo com inclusão social,
moradia, educação e alimentação saudável. Nossa democracia só
será fortalecida se tivermos uma sociedade com menos desigualdade e
sem tamanha pobreza.
O eleitor fica perdido diante de mais de 30 partidos sem claras
linhas de atuação e posicionamento ideológico. Fica confuso por tão
parecidas ou diferentes propostas de candidatos, promessas que jamais
acontecerão, falácias que encantam seus ouvidos e suprem sua esperança.
Carência do eleitor gera fragilidade que influi no direito de escolha
que nem sempre seria a melhor. Muitos dos candidatos eleitos, que
legalmente deveriam representar o povo, se transformam em legisladores e
governantes que servem principalmente ao establishment, seus partidos,
interesses corporativistas e pessoais deixando as prioridades de seus
eleitores em segundo plano. Não é verdade que todo povo tem o governo
que merece.
Na maioria das vezes os discursos de palanque são abandonados,
promessas para se obter votos que encheram pessoas de esperança são
esquecidas e o eleitor decepcionado perde a confiança nos políticos.
Um certo número de eleitores, cidadãos que são de fato o povo, vê com
desconfiança o sistema de urnas eletrônicas sem a comprovação do voto
em papel. Criticar o atual sistema de votos propondo melhorias é quase
um crime pois a justiça eleitoral defende as urnas como se perfeitas
fossem. Aliado a isso, no momento há também uma intensa polarização
entre os principais candidatos, e muitos buscarão manifestar seu
descontentamento no voto nulo ou em branco.
O voto de cada um é a maior contribuição do cidadão para a causa do
país onde vive. É momento de grande responsabilidade pois cada um
deveria fazer um exercício de escolha dos melhores candidatos,
independentemente de viés ideológico, fazendo se representar por pessoas
de ilibada reputação, fichas limpas, não envolvidas em crimes ou
corrupção e com passado que lhe recomende. O eleitor deve se sentir
representando e escolher um político que venha a defender os seus
interesses, de sua família, de sua comunidade e de seus valores.
Deve o eleitor fazer detida análise dos candidatos, mas evitar votar
em branco ou anular seu voto pois este posicionamento talvez não seja o
melhor. Escolha um candidato e vote de acordo com a sua consciência.
Isso é exercício da cidadania e a forma de cada eleitor contribuir para o
futuro de todos.
Autor é relembrado em box com tetralogia policial sobre robôs e outra coleção com três space operas
Em 1571, um decreto da rainha Elizabeth I obrigava
seus súditos acima de seis anos a vestir, aos domingos e feriados, uma
touca de lã feita na Inglaterra, de modo a proteger a indústria local.
Dezoito anos mais tarde, o inventor William Lee construiu uma engenhosa
máquina de bordar e viajou a Londres para solicitar uma patente à
rainha, que negou: “Considere o que sua invenção poderia fazer aos meus
pobres súditos. Ela seguramente os levaria à ruína por privá-los de
emprego, transformando-os em pedintes.” Esse episódio curioso é um dos
marcos iniciais do processo de mecanização do trabalho, uma das maiores
preocupações da sociedade moderna e um dos grandes eixos temáticos na
obra do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992).
Considerado um dos mestres da ficção científica do século 20, Asimov
dedicou diversos contos e romances a imaginar o impacto dos robôs na
sociedade. Entre suas principais narrativas sobre o assunto está a
tetralogia composta pelas obras policiais futuristas As Cavernas de Aço (1954), O Sol Desvelado (1957), Os Robôs da Alvorada e Robôs e Império (1985), que acabam de ganhar uma nova edição no Brasil pela Aleph. Além dessa, a mesma editora lança outro box com Pedra no Céu, Poeira de Estrelas, As Correntes do Espaço.
Na série da tetralogia, Asimov instituiu as três leis da robótica: um
robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser
humano sofra algum mal; um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam
dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a
Primeira Lei; um robô deve proteger a própria existência, desde que tal
proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. Por mais
banal que o conjunto de regras possa parecer, versões atualizadas desse
código moral influenciam até hoje o debate ético em torno da
inteligência artificial e outras tecnologias.
Asimov, entretanto, não foi o inventor da ideia de robôs. O conceito
remonta à poesia homérica nos autômatos forjados por Hefesto, passando
por mais elaboração a partir de Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley, e dos contos O Homem de Areia (1816), de E.T.A. Hoffmann, The Bell-Tower (1855), de Herman Melville, e O Feitiço e o Feiticeiro (1899), de Ambrose Bierce.
Um dos aspectos abordados por Asimov em seus livros de robôs é o
desemprego, que está no cerne do termo. “Robô” é uma palavra cunhada por
Josef Capek, pintor, escritor e poeta checo. “Robota” significa
“trabalho forçado” em sérvio e sua raiz é “rab”, escravo. Seu primeiro
uso em uma obra foi na peça A Fábrica de Robôs (Rossum’s Universal Robots),
do irmão de Josef, Karel Capek, na peça de mesmo nome, escrita em 1920.
A questão trabalhista fica evidente em um diálogo entre Helena,
presidente da Liga da Humanidade, e Domin, gerente da fábrica de robôs:
“Que tipo de trabalhador você pensa ser o melhor?” / “O melhor tipo de
trabalhador? Suponho ser o honesto e dedicado.” / “Não. O melhor tipo de
trabalhador é o trabalhador mais barato. O que tem menos necessidades.”
A problemática fica clara em As Cavernas de Aço, em que o
detetive decadente Elijah Baley é designado para trabalhar em um caso
aparentemente insolúvel ao lado de um parceiro robótico, Daneel Olivaw –
como é de praxe entre terráqueos, Baley odeia robôs. Em dado momento, a
dupla improvável depara-se com um tumulto em uma loja. “Não há nada de
errado com meus homens”, argumenta o gerente. “Eles não são homens. São
robôs”, interpela uma cliente em meio à multidão ensandecida. “Eles
roubam os empregos dos homens. É por isso que sempre são protegidos pelo
governo. Eles trabalham em troca de nada e, por causa disso, famílias
têm que morar lá nos abrigos e comer purê de levedura cru.”
Embora Asimov se preocupe com a mecanização e precarização do
trabalho, ele é partidário de uma solução conciliadora. Para ele, o ódio
à tecnologia é análogo à xenofobia, ou um medo irracional do
desconhecido – filho de imigrantes russos, o autor sabia bem o que era
ser alvo desse temor. Alguns de seus personagens robóticos mais
carismáticos, como o próprio Olivaw, são retratados como vítimas da
sanha tecnofóbica. “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930,
retratar os robôs como inventos perigosos que invariavelmente
destruiriam seus criadores”, escreve o autor sobre sua tetralogia
robótica. Asimov considerava essa solução narrativa (adotada por
Shelley, Capek e companhia), além de fácil, perigosamente
anti-intelectualista. A ele interessava mais propor maneiras para que a
tecnologia – de avanço inevitável – trouxesse consigo benefícios. Daí
advêm as Três Leis.
A questão da intolerância é outro mote central para a tetralogia dos
robôs de Asimov. O autor estabelece que, nesse futuro, a espécie humana
iniciou uma tímida expansão interplanetária, logo abortada, o que
originou uma divisão: os terráqueos se acotovelam em cidades
subterrâneas, verdadeiros formigueiros de gente sob austero racionamento
de leveduras, sujeitos a doenças e vivendo vidas curtas, de no máximo
cem anos; e os Siderais, que vivem confortavelmente por séculos nas
colônias, planetas mais desenvolvidos social e economicamente que a
decadente Terra. Enquanto os terráqueos sofrem de agorafobia e nutrem
ódio contra os robôs, os Siderais coexistem pacificamente com eles, mas a
tecnologia afasta os indivíduos do convívio interpessoal, reduzindo a
taxa de natalidade.
Os livros da tetralogia tratam dessa difícil relação entre a
claustrofóbica Terra e as idílicas colônias, numa comparação que
involuntariamente soa como metáfora dos hemisférios Norte e Sul no mundo
contemporâneo, inclusive abordando os mesmos problemas migratórios que
hoje são escancarados no noticiário.
Ao longo dos três primeiros romances, a dupla Baley e Olivaw ganha
entrosamento e soluciona assassinatos que estremecem a diplomacia entre
terráqueos e Siderais num cenário político conturbado e polarizado,
sempre colocando em xeque e testando os limites técnicos, éticos e
filosóficos das leis da robótica.
O quarto livro, Robôs e Império, que estava fora de catálogo
há anos, se passa décadas após a morte do detetive humano, com
flashbacks que o recolocam em ação, mas dá protagonismo a Gladia, uma
Sideral que se envolveu com Baley em livros anteriores, uma das mais
instigantes e bem construídas figuras femininas na obra de Asimov, tão
pobre em boas personagens.
Embora continue sendo uma ode ao pensamento lógico e às conclusões
racionais às quais chegam seus personagens – humanos ou robóticos –, o
último livro da saga deixa de lado as raízes policialescas dos três
anteriores para acompanhar Gladia na tentativa de impedir um conflito
generalizado entre os Siderais e os colonizadores terráqueos, que ameaça
o futuro da espécie humana – talvez numa analogia do temor de
aniquilação durante o auge da Guerra Fria.
Se nos demais romances as Três Leis são instauradas e postas à prova, em Robôs e Império elas
são levadas às últimas consequências. No romance, a primeira e mais
importante lei da robótica é burlada diante de um mecanismo lógico de
desumanização: se um robô é programado para não enxergar algumas pessoas
como seres humanos, como impedir que ele provoque dano a elas? Asimov
demonstra, com essa analogia, como o desprezo institucionalizado coloca
em risco a sobrevivência de determinados grupos na sociedade e antecipa
problemas que estão sendo enfrentados atualmente por inteligências
artificiais..
Robôs e Império, escrito nos últimos anos de vida
do autor, faz parte de um esforço, na década de 1980, para unificar todo
o seu universo ficcional, especialmente as séries dos Robôs, do Império Galáctico e da Fundação,
iniciadas nos anos 1940 e 1950. É por isso que o romance foge do tom
policialesco dos demais e amplia seu escopo para retratar a humanidade
em um ponto de virada e explicar como, na saga da Fundação, a espécie humana se espalhou pela Galáxia e não há robôs em planeta algum.
Mais importante do que isso, no entanto, é a noção que o romance
parece sugerir: é preciso se expandir para sobreviver, mas para se
expandir é fundamental que tolerância e cooperação vençam preconceito e
ódio. Isaac Asimov não tinha como saber quão necessária essa ideia se
tornaria hoje em dia, 30 anos após a sua morte.
Com a morte da rainha Elizabeth II já não dá mais para negar
aquilo de que todos desconfiam desde 2001: o século XX é passado.| Foto:
Outro
dia morreu o Jô Soares. Foi como se tivesse morrido um amigo. Na
correria do dia-a-dia, contudo, fui deixando a homenagem para depois e
depois e depois e, quando vi, o texto tinha caído no poço das intenções
perdidas. Mas ficou a sensação de que não era apenas a morte de uma
pessoa que divertiu e, no meu caso, ensinou. Parecia a morte de algo
maior. De um tempo.
Semana passada, morreu Gorbachev. Nesse caso, senti como se tivesse
morrido uma estátua. Ou um personagem de enciclopédia. Aquele cara com
aquela mancha na testa com o qual comparavam meu pai e que aparecia o
tempo no telejornal. Por acaso, também fui obrigado a me lembrar da
morte de um amigo que teve o privilégio de entrevistar Gorbachev. Foi
assim, tangencialmente, que também sofri a morte não só de uma estátua
ou personagem de enciclopédia. Novamente era um tempo que morria.
As sensações difusas ganharam força com a morte da rainha Elizabeth
II. Já agora é possível definir melhor esse “um tempo” que soltou o
último suspiro. É o século XX que se vai. E, com ele, duas guerras que –
graças a Deus – não vivi, tragédias que não sofri, revoluções que não
enfrentei, o pouso na Lua que não acompanhei pela TV. E e as últimas
gerações a grafarem o século com algarismos romanos.
Cem anos de dramas eloquentes dos quais aproveitei apenas duas
décadas e uns quebrados. Durante as quais vi as duas potencias da Guerra
Fria se unirem para salvar duas baleias; o Muro de Berlim cair; a União
Soviética voltar a ser a Rússia velha de guerra; Romário fazer aquele
gol de cabeça contra a Suécia; e mais um punhado de grandes eventos
históricos dos quais não me lembro no momento.
Isso sem falar nos eventos da, digamos, história íntima. Todos
concentrados entre 1977 e 2000. Primeiros passos, primeiras letras,
primeiro beijo. Crises existenciais de adolescente, draminhas acadêmicos
sem nenhuma relevância no presente. E, já nos estertores do século, o
mindinho do pé mergulhado na idade adulta. Se bem que no ano 2000 nem
barba eu tinha direito.
Com o século XX (ou 20, para os mais jovens), morre também a
hegemonia cultural norte-americana no Ocidente. E não me escapa a ironia
de eu ter me dado conta disso por causa da morte de uma monarca
britânica. De certa forma, morre todo tipo de informação centralizada.
Assim, morrem também as celebridades absolutas e os ícones culturais.
Morre a música que aprendi a ouvir. Morre (e aqui vocês me perdoem um
pessimismo que, reconheço, não combina nem comigo nem com o sábado) o
que restava da sensação de ser um indivíduo cercado por uma sociedade, e
não uma sociedade sufocando um indivíduo.
Me reconheço, assim, um homem do meu tempo, que é um tempo passado.
Um século passado. É a essa preteritude que recorro quando preciso me
revelar “antenado” ao presente a fim de vislumbrar o futuro. E você,
leitor atento, deve ter percebido que o “antenado” aí denuncia não
apenas a idade, mas também a antiguidade de quem escreve. O século XX
foi o de semear. Agora já estou no meio da colheita. Pelo menos há
fartura!
Dizer que o século XX fará falta seria absurdo. Assim como não faria
sentido algum dizê-lo insubstituível. Pelo contrário. Com seus cabelos
coloridos, alargadores nas orelhas, sexo fluído e ultraniilismo, o
século XXI já se apresentou para cumprir as funções de tempo presente – e
para tanto escolheu o nome de século 21. Dizem que, ao contrário das
tragédias e dos dramas muito humanos que marcara seu antecessor, o novo
tempo-rei quer ser reconhecido pelo triunfo derradeiro da técnica sobre a
imperfeição dos tais Homo sapiens.
Só nos resta esperar que tenha algum juízo, o novo soberano. E, se
calhar, algum senso de humor. De minha parte miniminiminiminúscula, rezo
para que o novo século ao menos tenha noção da própria finitude – que
infelizmente não terei o prazer de testemunhar. Rezo para que este
século termine não com um estrondo nem com um gemido, e sim com um
suspiro de quem sabe ter cumprido seu papel na Eternidade.
Saiba quais são as habilidades mais requeridas pelas empresas e como desenvolvê-las!
Por Sabrina Bezerra
Estima-se que cerca de 800 milhões de empregos vão sumir até 2030 por
causa dos robôs e dos programas de inteligência artificial, segundo um
estudo da consultoria McKinsey.
O dado, apesar de assustar, traz a importância em investir nas
habilidades técnicas para estar um passo à frente nas tecnologias do
futuro (confira as áreas que mais vão crescer).
Mas não apenas. É preciso também desenvolver habilidades
comportamentais, afinal, à medida que as máquinas ganham espaço, ter uma
visão estratégica de resolução de problemas se torna importantíssima.
Assim, uma nova tendência do mercado de trabalho surge: as power skills ou habilidade de poder.
O que são Power Skills?
Ainda pouco conhecida, de forma resumida, a Power Skill é a junção de
hard skill (habilidade técnica) e soft skill (habilidade
comportamental) e está ganhando cada vez mais forma no mundo
corporativo.
Na prática, pessoas com Power Skills conseguem colocar em prática
todo o seu conhecimento técnico, experiências únicas e habilidades
comportamentais de forma estratégica no negócio.
Um dos seus maiores diferenciais está na capacidade de analisar e
construir cenários futuros — dois pilares importantes no Mundo BANI do
qual vivemos hoje.
“Isso porque, as Power Skills compõem um conjunto de habilidades
interpessoais, muitas vezes de difícil mensuração de forma isolada, com
habilidades técnicas de cada profissional”, diz em entrevista à StartSe
Patricia Suzuki, diretora de recursos humanos da Catho.
“Quando pensamos em um colaborador com power skill elevada,
identificamos um profissional potente no que faz — como solucionar
problemas e como inovar — engajando o time, colaborando, trabalhando em
equipe”, completa a especialista.
Power Skill: Quais são as diferenças entre hard skill e soft skill?
Enquanto a Power Skill é um conjunto completo de habilidades do
profissional, “as hard skills são habilidades técnicas que podem ser
adquiridas ao longo da vida e que podem ser facilmente comprovadas”,
conta Patrícia.
Já as soft skills são habilidades pessoais, “ligadas diretamente a
personalidade de cada indivíduo, como comportamento, autoconhecimento,
habilidades emocionais e sociais”, completa.
Quais são as principais soft skills para 2022?
Segundo a pesquisa de Tendências de RH para 2022, feita pela
consultoria Catho, as cinco principais soft skills que as empresas estão
de olho neste ano, são:
Power Skills se tornam cada vez mais importante no mundo corporativo
Hard skills: o que são e por que são tão importantes na carreira
Soft skills: o que são e por que são tão importantes na carreira
Por que as Power Skills são importantes para a carreira?
Elas são essenciais para se destacar no trabalho. Se você não tiver
essas habilidades, mesmo com um currículo técnico promissor, você não
estará um passo à frente.
“São as Power Skills que tornam o profissional único, pois cada
pessoa tem suas vivências de aprendizados diferentes uma das outras. As
que conseguem unir habilidades técnicas e emocionais, consequentemente,
terão ainda mais sucesso dentro das organizações”, afirma Patrícia.
“Não basta apenas o conhecimento técnico e não ter o comportamental
adequado. O contrário também funciona da mesma forma, não basta ser uma
excelente habilidade de comunicação, por exemplo, e não ter o
conhecimento técnico para executar as tarefas”, completa.
Quais são as Power Skills mais requisitadas?
Segundo a Forbes, são:
1- Saber se comunicar de forma eficaz e trabalhar em equipe
Seja no trabalho presencial, híbrido ou remoto, é necessário se
comunicar com diversas equipes, transmitir ideias com clareza e
precisão, por exemplo.
2- Flexibilidade e capacidade de se adaptar rápido
O Mundo BANI exige dos profissionais a capacidade de agir rápido e
seguir em frente apesar da incerteza. Ou seja, não ser resistente à
mudanças, pois elas são necessárias.
3- Autogestão e liderança
A capacidade de se autoliderar e controlar as responsabilidades diárias se torna cada vez mais importante.
4- Resolver problemas de forma rápida
Novos desafios aparecem constantemente, por isso, trabalhadores que
conseguirem manter o controle e resolvê-los de forma rápida e eficaz
saem na frente. Não à toa essa habilidade foi destaque do Fórum
Econômico Mundial.
Como desenvolver as Power Skills?
As Power Skills estão relacionadas às vivências e ao conhecimento
adquiridos ao longo da vida e da carreira, “no entanto, é possível
aprimorar e acelerar essas habilidades por meio de treinamentos”, diz a
especialista.
“A dica aqui é olhar além do que é esperado, se propor a desenvolver atividades que possam ampliar o conhecimento”, completa.
Também é importante perguntar para a liderança e área de recursos
humanos da empresa como podem ajudar você a desenvolver as Power Skills —
já que estamos na era da transparência entre funcionário e empresa.
Para você ter uma noção, as companhias estão, cada vez mais, apoiando
o desenvolvimento de seus times. “No relatório feito pela Catho, 67,3%
dos recrutadores entrevistados disseram que vão aumentar os
investimentos em treinamentos e capacitações de profissionais”, conta
Patrícia.
“Mas é importante lembrar que a gestão da carreira é de
responsabilidade de cada profissional, pois só ela sabe onde quer chegar
e quais passos entende que são importantes a dar”, afirma.
Diante da declaração, é possível afirmar que a carreira que você quer
trilhar depende das habilidades que você irá construir ao longo da
vida.
E nunca tivemos tantas transformações — e necessidade de aprendizado — do que agora.
Desde novas tecnologias como NFT, metaverso e inteligência
artificial, até novas skills humanas e modelos de negócios; quem entende
e começa a aplicar esses conceitos primeiro são aqueles que vão abraçar
as melhores oportunidades do mercado no futuro.
Mas no meio de tanta informação e mudanças: qual a melhor forma de
aprender sobre tudo isso? A StartSe e a Nova SBE, de Portugal, construiu
com os maiores nomes do Vale do Silício um programa para te capacitar
sobre tudo isso no menor tempo possível.
O xBA é uma formação internacional de 10 semanas onde você vai
aprender na prática como essas transformações estão impactando
carreiras, negócios e construindo oportunidades exponenciais.
Tudo com aulas ao vivo e gravadas com grandes nomes mundiais da
inovação e com professores da própria Nova SBE, direto de Portugal.Você
pode conhecer mais sobre o programa neste link aqui e ver todos os 10
temas e +30 experts internacionais que podem ajudar sua carreira a ir
para o próximo nível no meio dessas transformações.
Vale a pena ler qualquer semelhança será mera coincidência !!!
Autor desconhecido
Um ladrão entrou no banco gritando para todos:
” Ninguém se mexe, porque o dinheiro não é seu, mas suas vidas pertencem a vocês.”
Todos no banco ficaram em silêncio e lentamente se deitaram no chão.
Isso se chama CONCEITOS PARA MUDAR MENTALIDADES
Mude a maneira convencional de pensar sobre o mundo.
Com isso, uma mulher ao longe gritou: ” MEU AMOR, NÃO SEJA RUIM PARA
NÓS, PARA NÃO ASSUSTAR O BEBÊ “, mas o ladrão gritou com ela:
“Por favor, comporte-se, isso é um roubo, não um romance!”
Isso se chama PROFISSIONALISMO
Concentre-se no que você é especializado em fazer.
Enquanto os ladrões escapavam, o ladrão mais jovem (com estudos
profissionais de contabilidade) disse ao ladrão mais velho (que tinha
acabado de terminar o ensino fundamental):
“Ei cara, vamos contar quanto temos.”
O velho ladrão, obviamente zangado, respondeu:
“Não seja estúpido, é muito dinheiro para contar, vamos esperar a notícia para nos contar quanto o banco perdeu.”
Isso se chama EXPERIÊNCIA
Em muitos casos, a experiência é mais importante do que apenas o papel de uma instituição acadêmica.
Depois que os ladrões foram embora, o supervisor do banco disse ao gerente que a polícia deveria ser chamada imediatamente.
O gerente respondeu:
“Pare, pare, vamos primeiro INCLUIR os 5 milhões que perdemos do
desfalque do mês passado e relatar como se os ladrões os tivessem levado
também”
O supervisor disse:
“Certo”
Isso se chama GESTÃO ESTRATÉGICA
Aproveite uma situação desfavorável.
No dia seguinte, no noticiário da televisão, foi noticiado que 100
milhões foram roubados do banco, os ladrões só contaram 20 milhões.
Os ladrões, muito zangados, refletiram:
“Arriscamos nossas vidas por míseros 20 milhões, enquanto o gerente do banco roubou 80 milhões em um piscar de olhos.”
Aparentemente, é melhor estudar e conhecer o sistema do que ser um ladrão comum.
Isto é CONHECIMENTO e é tão valioso quanto ouro.
O gerente do banco, feliz e sorridente, ficou satisfeito, pois seus
prejuízos foram cobertos pela seguradora no seguro contra roubo.
Isso se chama APROVEITANDO OPORTUNIDADES ..
ISSO É O QUE MUITOS POLÍTICOS FAZEM ESPECIALMENTE NESTA *PANDEMIA, ELES A USAM PARA ROUBAR E RESPONSABILIZAR O VÍRUS.
A startup digital ValeOn daqui do Vale do Aço, tem todas essas
qualidades, não me refiro aos ladrões e sim no nosso modo de agir:
Estamos lutando com as empresas para MUDAREM DE MENTALIDADE referente
à forma de fazer publicidade à moda antiga, rádio, tv, jornais, etc.,
quando hoje em dia, todos estão ligados online através dos seus
celulares e consultando as mídias sociais a todo momento.
Somos PROFISSIONAIS ao extremo o nosso objetivo é
oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade,
comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de
nossos clientes e respeitando a sociedade e o meio ambiente.
Temos EXPERIÊNCIA suficiente para resolver as
necessidades dos nossos clientes de forma simples e direta tendo como
base a alta tecnologia dos nossos serviços e graças à nossa equipe
técnica altamente especializada.
A criação da startup ValeOn adveio de uma situação de GESTÃO ESTRATÉGICA apropriada
para atender a todos os nichos de mercado da região e especialmente os
pequenos empresários que não conseguem entrar no comércio eletrônico
para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
Temos CONHECIMENTO do que estamos fazendo e viemos
com o propósito de solucionar e otimizar o problema de divulgação das
empresas da região de maneira inovadora e disruptiva através da
criatividade e estudos constantes aliados a métodos de trabalho
diferenciados dos nossos serviços e estamos desenvolvendo soluções
estratégicas conectadas à constante evolução do mercado.
Dessa forma estamos APROVEITANDO AS OPORTUNIDADES
que o mercado nos oferece onde o seu negócio estará disponível através
de uma vitrine aberta na principal avenida do mundo chamada Plataforma
Comercial ValeOn 24 horas por dia e 7 dias da semana.
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Em meio à escalada da violência política
do país, com a morte de um apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) por um bolsonarista, o presidente Jair Bolsonaro (PL)
radicalizou o discurso contra o PT e disse que varrerá partido para o
lixo da história.
Em ato político na tarde desta sexta-feira (9) em Araguatins, cidade
do norte do Tocantins, o presidente destacou a redução dos preços dos
combustíveis e afirmou que os senadores da bancada do PT votaram contra a
redução da alíquota do ICMS pelos estados.
“Essa praga sempre está contra a população. Esse pessoal não produz
nada, só gera desgraça para o povo brasileiro. Com essa nossa reeleição,
[…] varreremos para o lixo da história esse partido dito dos
trabalhadores, mas na verdade é composto por desocupados”, afirmou.
O presidente voltou a tratar a disputa eleitoral como uma luta “do
bem contra o mal” e colocou a pauta de costumes no centro do seu
discurso, com acusações aos adversários.
“Não podemos errar, sabemos que é uma luta do bem contra o mal. O
lado de lá quer o comunismo, quer desarmar o povo de bem do Brasil, quer
a ideologia de gênero, quer liberar as drogas, quer legalizar o aborto e
não respeita a propriedade privada, tampouco a nossa família”, afirmou.
Vídeo relacionado: Bolsonaro: ‘não foram ao 7 de Setembro por escolha’
No restante do discurso, o presidente falou da pauta econômica,
citando a redução do preço dos combustíveis, o reajuste do valor do
Auxílio Brasil. Também voltou a repetir que não houve corrupção em seu
governo, a despeito das investigações em curso envolvendo seus
familiares e ex-ministros.
Em nenhum momento, o presidente fez referência ao tema da violência
política nem comentou sobre o assassinato de um apoiador de Lula em
Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).
Autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de
custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele
confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho
Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política. De
acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime,
ainda filmou o corpo.
Nesta sexta-feira, o ex-presidente Lula usou termos como
intolerância, ódio e selvageria ao se referir ao assassinato do
apoiador.
Bolsonaro desembarcou por volta das 11h em Imperatriz, no sul do
Maranhão, onde foi recepcionado por apoiadores. Participou de uma
motociata que teve como destino final a cidade de Araguatins, que fica
do outro lado da divisa estadual, no norte Tocantins.
O presidente foi acompanhado pelo senador Eduardo Gomes (PL) e pelo candidato a governador do Tocantins Ronaldo Dimas (PL).
Executivo e Judiciário Por Olavo Soares – Gazeta do Povo Brasília
Forma de escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal é
motivo de críticas recorrentes de opositores| Foto: Carlos Moura/STF
Discutir
uma mudança na forma de escolha dos ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) não figura entre as prioridades dos principais candidatos a
presidente da República em 2022. O presidente Jair Bolsonaro (PL) não
menciona o assunto no programa de governo. O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) também não. Já o ex-ministro e ex-governador Ciro
Gomes (PDT) defende a continuidade do modelo atual.
Lula, Bolsonaro e Ciro são, respectivamente, os três primeiros
colocados na última pesquisa para a Presidência divulgada pela Genial
Quaest.
A situação de 2022, ao menos até agora, é diferente da verificada na
eleição presidencial de 2018, quando a composição do Supremo foi
discutida. À época, tanto Bolsonaro quanto o PT propuseram alterações
que atingiriam o STF.
Atualmente, de acordo com a Constituição, a escolha dos ministros é
feita pelo presidente da República quando um deles se aposenta, decide
deixar a Corte por vontade própria ou morre. E a indicação tem de ser
aprovada pelo Senado. O ministro, após ser empossado, fica no cargo até a
aposentadoria compulsória, aos 75 anos, independentemente de quanto
tempo isso dure.
Em 2018, Bolsonaro sugeriu que o número de ministros da Corte deveria
passar dos atuais 11 para 21, mas não propôs mudanças na prerrogativa
presidencial de fazer as indicações. A medida garantiria ao presidente
eleito indicar dez ministros “isentos”, segundo Bolsonaro disse à época.
Já Lula defendeu, em 2017, que os ministros fossem selecionados por
meio de um colegiado – ou seja, um grupo maior de pessoas além do
presidente da República. Ele também propôs que os ministros tivessem um
mandato com tempo delimitado. No ano seguinte, durante a eleição de
2018, o programa de governo do então presidenciável Fernando Haddad (PT)
também apoiava a ideia de mandatos para os ministros do Supremo – além
de mais “transparência” na seleção dos indicados.
Embora o atual sistema de escolha de ministros do STF divida a
responsabilidade entre o presidente e o Senado, na prática costuma
vigorar a decisão do chefe do Executivo. O Senado não tem o hábito de
reprovar os nomes sugeridos pelo presidente. As únicas indicações ao STF
barradas pelos senadores ocorreram durante o governo do Marechal
Floriano Peixoto, ainda no século 19.
O que os candidatos a presidente dizem sobre a escolha de ministros do STF A
Gazeta do Povo procurou os 11 candidatos a presidente da República em
2022 para saber o que pensam sobre o modelo de indicação de ministros do
STF.
A assessoria de Jair Bolsonaro não atendeu à solicitação. Já a do
ex-presidente Lula informou que a campanha ainda não tem posição sobre o
tema.
Ciro Gomes declarou que não pretende “mudar o sistema de escolha de
ministros do STF”. “A escolha deve atender ao que rege a nossa
Constituição, que determina que o indicado tenha notório saber jurídico e
reputação ilibada. O meu compromisso com o povo brasileiro é seguir
estes critérios e me afastar de escolhas a partir de conveniências
pessoais”, disse o pedetista.
Posição semelhante é a do candidato Felipe D’Ávila (Novo): “não
acredito que precisamos mudar os critérios de seleção para os membros do
Supremo Tribunal Federal. O que é necessário é que o Senado cumpra seu
papel e sabatine os indicados de forma rigorosa – rejeitando quem não
estiver à altura do cargo”.
Na avaliação de D’Ávila, a falta de critérios por parte do Senado na
apreciação da indicação presidencial faz com que o cargo seja entregue a
“a ministros cujo principal ‘saber jurídico’ é a relação pessoal com o
presidente da República, e isso não é aceitável numa democracia que
funciona”.
A candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, também cobrou que o
Senado indague melhor os possíveis futuros novos membros do STF. “Para
ser ministro do STF, o candidato precisa cumprir dois requisitos: ter
conduta ilibada e notório saber jurídico. Este notório saber jurídico
deveria ser melhor aferido durante a sabatina. Isso não tem acontecido
de forma satisfatória no tocante à verificação da capacidade jurídica do
candidato à vaga. Isso precisa ser revisto”, declarou a candidata, que é
senadora pelo Mato Grosso do Sul.
Soraya é também favorável a mandatos com tempo limitado, entre oito e dez anos, para os ministros do STF.
Para Sofia Manzano, a candidata do PCB ao Palácio do Planalto, a
ideia para o STF é a implantação de um sistema que permita “a
elegibilidade e revogabilidade dos mandatos [de ministros], exigindo a
participação de organizações populares e sociais no processo de sabatina
e eleição dos juízes”.
A possibilidade de destituição dos mandatos de ministros do STF
também é defendida pela candidata Vera Lúcia (PSTU), que propõe ainda a
eleição de ministros. “Defendemos mais liberdades democráticas no atual
regime, não menos. Isso passa pela eleição direta dos ministros do STF”.
Vera Lúcia também propõe o fim dos “atuais supersalários”.
A reportagem não obteve retorno, até a publicação desta reportagem,
das assessorias de Simone Tebet (MDB), José Maria Eymael (DC), Leonardo
Péricles (UP) e Padre Kelmon (PTB), que substituiu Roberto Jefferson
após este ter a candidatura indeferida.
Quais são os resultados da Lei da Ficha Limpa, que Lula quer mudar se for eleito Mudança era prioridade para o Congresso em 2020 Embora
grande parte dos presidenciáveis tenha posição sobre mudança no modelo
de indicação de ministros do STF, eventuais alterações devem ser
aprovadas pelo Congresso. Isso porque o processo de escolha faz parte da
Constituição; e mudanças no texto constitucional só podem ser feitas
pelos deputados federais e senadores.
Atualmente, tramitam no Congresso algumas propostas para modificar o
STF. As sugestões contemplam a ideia de um mandato com tempo delimitado e
a composição de uma lista tríplice formada a partir da consulta a
diversos segmentos sociais, cabendo ao presidente a escolha de um entre
os três nomes pré-selecionados.
No início de 2020, o então presidente do Senado e do Congresso, Davi
Alcolumbre (União Brasil-AP), elencou a mudança no modelo de escolha dos
ministros do STF como uma das prioridades do Legislativo para aquele
ano. Alcolumbre destacava uma proposta de emenda à Constituição (PEC)
que previa o mandato de dez anos para os ministros do STF e a escolha do
nome também por meio de lista tríplice.
Poucas semanas após Alcolumbre definir o tema como prioridade, porém,
o Brasil foi atingido pela pandemia de coronavírus – o que acabou
modificando a agenda do Congresso. A proposta acabou não avançando.
Metodologia da pesquisa citada A pesquisa foi realizada pelo
instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000
eleitores presencialmente entre os dias 1º e 4 de setembro de 2022 em
todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos
percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de
95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o
protocolo BR-00807/2022.
Lula comparou atos pró-Bolsonaro no 7 de setembro a reunião do
grupo supremacista branco Ku Klux Klan durante comício em Nova Iguaçu
(RJ)| Foto: Fernando Bizerra Jr/EFE
A coordenação jurídica do
presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou com representação no Tribunal
Superior Eleitoral (TSE) para que a campanha de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) remova das redes sociais vídeos em que o petista compara os
atos de 7 de setembro pró-Bolsonaro com uma reunião da Ku Klux Klan
(KKK). A declaração de Lula foi feita durante comício em Nova Iguaçu
(RJ), na quinta-feira (8).
O KKK é um grupo supremacista branco que perseguiu e matou milhares
de negros nos Estados Unidos entre 1870 e 1920. Lula disse: “Foi uma
coisa muito engraçada o ato do Bolsonaro. Parecia uma reunião da Ku Klux
Klan. Só faltou o capuz. Não tinha negro, não tinha pardo, não tinha
pobre, trabalhador. O artista principal era o velho da Havan, que
aparecia como se fosse o Louro José da campanha do Bolsonaro”.
A defesa de Bolsoanro alega que Lula extrapolou o “palco da crítica
política” ao comparar “um evento cívico-democrático, em que se
comemorava, ordeiramente, o Bicentenário da Independência do Brasil, a
uma reunião de um dos movimentos mais reprováveis da história da
humanidade que, sob ideais reacionários e extremistas, defendeu
ideologias como a supremacia branca, o nacionalismo branco e a
anti-imigração.”
“A odiosa ofensa perpetrada por Lula, portanto, dirige-se não apenas
ao candidato opositor, o que já seria indesculpável, mas aos milhões de
brasileiros que se dirigiram com suas famílias ao evento para celebrar o
amor à pátria. Segundo Lula, os brasileiros orgulhosos do seu país,
presentes ao evento, ‘não eram trabalhadores’, mas sim algo próximo de
vagabundos e racistas”, afirmam os advogados de Bolsonaro na
representação.
“A liberdade de expressão não pode e não deve servir de escudo
jurídico para a prática de condutas ilícitas, como no caso concreto, ao
imputar claramente comportamento criminoso ao Presidente da República,
verdadeiro discurso de ódio”, argumentou ainda a defesa, solicitando que
seja reconhecida a prática de ilícito.