domingo, 11 de setembro de 2022

A INFLAÇÃO NEGATIVA ESTÁ SE REPETINDO MÊS A MÊS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Alívio tributário e queda no preço dos combustíveis levou a nova deflação em agosto.| Foto: Atila Alberti/Tribuna do Paraná/Arquivo

Pelo segundo mês consecutivo, o IPCA, índice oficial de inflação, ficou no campo negativo, indicando recuo nos preços. A deflação de agosto foi de 0,36%, contra retração de 0,68% em julho. E, pela primeira vez desde setembro de 2021, o acumulado de 12 meses voltou à casa de um dígito, estando agora em 8,73%. O índice continua muito acima dos 5% que constituem o limite máximo de tolerância da meta oficial de inflação, que é de 3,5%, mas ainda assim indica que provavelmente o pior momento da pressão inflacionária já ficou para trás, enquanto boa parte do mundo continua às voltas com preços em alta – especialmente na Europa, onde a falta de alternativas ao gás russo está elevando o custo da energia no exato momento em que o inverno se aproxima.

Esta nova deflação continua se devendo principalmente aos recuos nos preços de combustíveis e energia. Há um “rescaldo” da diminuição nas alíquotas de ICMS que começou a vigorar no fim de junho, mas especificamente no caso dos combustíveis houve novas reduções de preços nas refinarias, por decisão da Petrobras, em linha com a política de preços que acompanha as flutuações do mercado internacional. A gasolina, que havia recuado 15,48% em julho, caiu mais 11,64% em agosto; o etanol baixou 8,67%; e o diesel, 3,76%. Por mais que se argumente que a diminuição nos preços praticados pelos postos beneficia especialmente as classes média e alta, que têm carro, não há como negar que combustível mais barato, especialmente o diesel, também ajuda a reduzir custos como o frete rodoviário, o que por sua vez tem efeito em diversos outros preços, ainda que não tão evidente.

Com esta segunda deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do IPCA em setembro, a porta para a manutenção da Selic no atual patamar fica mais aberta

Outro grupo cuja variação nos preços precisa ser acompanhada muito de perto é o de Alimentação e Bebidas, que havia registrado alta de 1,30% em julho; desta vez, o aumento desacelerou para 0,24%, mas o acumulado do ano ainda preocupa, pois está em 13,43%. Um produto que ganhou muito destaque no índice de julho, o leite longa vida, teve queda de 1,78% em agosto, depois de ter subido 25,46% no mês anterior. Como o fim da entressafra está próximo, a oferta de leite deve voltar a subir, embora seja difícil prever se os preços do produto e seus derivados voltarão aos patamares anteriores à disparada recente.

O grande desafio, no momento, é tornar a queda de preços – ou, ao menos, sua estabilidade – mais abrangente. O índice de difusão (a porcentagem de itens medidos pelo IBGE que tiveram aumento nos preços) se manteve estável, passando de 63% em julho para 65% em agosto. Ou seja, há deflação hoje porque houve quedas expressivas em alguns poucos itens que têm muito peso no cálculo, não porque a maioria dos produtos e serviços está ficando ligeiramente mais barata. Se por um lado há produtos, especialmente os da agropecuária, cuja oscilação é natural devido à sazonalidade, por outro lado ainda há uma série de eventos extraordinários que estão desorganizando os preços, como a insistência chinesa em lockdowns que paralisam cadeias produtivas (um dos mais recentes atingiu o importante polo tecnológico de Shenzhen) e os efeitos do ataque russo à Ucrânia. Ao lado destes dois choques de oferta, é preciso monitorar internamente os efeitos do novo Auxílio Brasil de R$ 600 sobre a demanda.


O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou na última segunda-feira, dia 5 (antes, portanto, da divulgação do IPCA de agosto), que ainda não há previsão de corte nos juros, pois a luta contra a inflação está longe de ser vencida. E ele tem razão: nem os atuais 8,73% no acumulado de 12 meses, nem os 6,61% previstos para 2022 no mais recente boletim Focus são índices que deixam o brasileiro confortável – e o fato de outros países estarem registrando inflações maiores que a nossa não serve de consolo no momento em que alguém vai ao mercado e percebe a queda no seu poder de compra. Mas, com esta segunda deflação seguida e a perspectiva de um novo recuo do IPCA em setembro, a porta para a manutenção da Selic no atual patamar, em vez de um novo aumento na reunião marcada para os dias 20 e 21, fica mais aberta. Seria um alívio bem-vindo para o setor produtivo.

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MINISTRO MORAIS DO STF ATUA NA CONTRAMÃO DO DIREITO

 

Decisão contra os oito empresários
Por
Leonardo Desideri
Brasília

Ministro Alexandre de Moraes na última sessão plenária deste ano judiciário de 2021. Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF


O ministro Alexandre de Moraes, do STF, ordenou que a Polícia Federal fizesse busca e apreensão em endereços de oito empresários que trocavam mensagens num grupo de WhatsApp| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Ao autorizar a operação policial de busca e apreensão contra oito empresários, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes fez mais do que criar uma aberração dentro do Poder Judiciário: ele passou por cima do Ministério Público Federal (MPF), relativizando a importância de um órgão essencial para a garantia do devido processo legal.

Além de ter aberto ele próprio a série de inquéritos relacionados às fake news e aos chamados “atos antidemocráticos”, em usurpação de funções que são do MPF, Moraes negou os diversos pedidos de arquivamento dos inquéritos feitos pela Procuradoria Geral da República (PGR) e não intimou o procurador-geral da República antes das medidas contra os empresários.

“É absolutamente inviável que medidas cautelares restritivas de direitos fundamentais, que não constituem um fim em si mesmas, sejam decretadas sem prévio pedido e mesmo sem oitiva do Ministério Público Federal”, disse a vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, em uma manifestação após a decisão. Nesta sexta-feira (9), Lindôra pediu que o STF encerre as investigações contra os oito empresários.

A prática de escantear o MPF tem se repetido nos últimos meses, o que preocupa muitos procuradores e promotores. Em comunicado recente, a Associação Nacional MP Pró-Sociedade afirmou que as medidas de Moraes são “capazes de abalar os alicerces mais profundos e importantes do regime democrático, do devido processo legal e da proteção das demais liberdades individuais”.

Para Marcelo Rocha Monteiro, procurador de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), o que vemos é o retorno à lógica da Inquisição. “Ele [Moraes] está ignorando o sistema acusatório. Está nos levando de volta ao sistema anterior ao acusatório, que era chamado de sistema da inquisição. O juiz inquisidor era o único sujeito do processo. Ele investigava, ele acusava, ele processava e ele julgava. A ideia do sistema acusatório é separar essas funções. Tudo isso existe para quê? A pessoa está correndo o risco de ir para a cadeia. O sistema acusatório foi criado para preservar a neutralidade do juiz”, comenta.

Monteiro recorda que “o Poder Judiciário é inerte” e não pode tomar nenhuma medida de investigação ou contra o réu por iniciativa própria. “Ele só pode tomar qualquer medida como bloqueio de contas, busca e apreensão domiciliar, interceptação telefônica ou até mesmo prisão atendendo a pedido. De qualquer um? Não. Quem são os atores do nosso sistema de Justiça na fase de investigação? São dois: polícia e Ministério Público”, explica. “O que a gente tem visto neste episódio e em vários outros é que o ministro Alexandre de Moraes tem passado por cima do Ministério Público.”

Para Monteiro, o que torna o caso ainda mais grave é que Moraes atendeu a um pedido de medidas cautelares feito pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-PE), que é coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência da República. “É um candidato adversário daquele apoiado pelos investigados. Este senador não tem legitimidade e não tem isenção, porque ele está pedindo a um juiz medidas contra adversários do candidato dele, sendo que ele não é polícia e não é Ministério Público. É uma ilegalidade gravíssima. Quando quem faz um pedido ao juiz não tem legitimidade para fazer o pedido, o juiz tem que decidir o seguinte: ‘Não tomo conhecimento deste pedido. Não estou analisando nem o mérito. Não conheço do pedido, porque a parte que formulou o pedido é ilegítima.’”

Ignorar pedidos de arquivamento da PGR, por si só, já é ilegal

Além de não intimar o MPF sobre as ações, de ferir o princípio da inércia do Judiciário e de ter aceitado o pedido feito por uma parte ilegítima, Moraes também tem ignorado os diversos pedidos de arquivamento dos inquéritos relacionados às fake news. Isso, por si só, segundo Monteiro, é uma grave ilegalidade, sem precedentes recentes no Poder Judiciário. Moraes está agindo como se o MPF não existisse.

“Esse inquérito continua em andamento porque o Alexandre de Moraes desrespeitou essa regra. O inquérito já é ilegal desde sempre. Para se ter uma ideia, este pedido de arquivamento foi feito pela Raquel Dodge [ex-PGR]”, recorda.

Quando o procurador-geral da República pede o arquivamento de um inquérito ao Judiciário, o pedido é tratado como uma mera formalidade: o Judiciário não tem outra coisa a fazer senão arquivar o inquérito. Essa dinâmica é prevista pelo artigo 28 do Código de Processo Penal, em uma redação que ainda está em vigor:

“Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.”

Há uma nova redação para esse dispositivo – suspensa temporariamente por uma liminar do ministro do STF Luiz Fux – que torna ainda mais clara a legitimidade do Ministério Público para arquivar um inquérito. “Na nova redação, o arquivamento nem sequer passa pelo Poder Judiciário”, diz Monteiro.

Na redação antiga, que ainda está em vigor, o promotor precisa pedir o arquivamento formalmente ao juiz. Se o juiz discordar, ele deve remeter o inquérito para o procurador-geral. Mas, se o procurador-geral insistir no pedido de arquivamento, o juiz é obrigado a atender.

“Quando o pedido de arquivamento já vem do próprio procurador-geral, o juiz não vai nem perguntar, não vai mandar o inquérito de novo para o procurador-geral para saber se o procurador-geral concorda com o pedido de arquivamento, porque você estaria perguntando se ele concorda com ele próprio. Seria um caso de esquizofrenia. Então, em razão disso, o Supremo, ao longo dos últimos 80 anos, decidiu o seguinte, várias vezes, em um entendimento consolidado: quando o pedido de arquivamento já vem do próprio procurador-geral, o Poder Judiciário não tem outra coisa a fazer senão arquivar”, explica Monteiro.

Isso não é o que vem acontecendo, no entanto. Moraes tem ignorado pedidos reiterados de arquivamento da PGR sobre os inquéritos relacionados às fake news. No começo de agosto, por exemplo, ele negou um pedido da vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, para arquivar uma investigação contra o presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). Em fevereiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, havia feito o mesmo pedido, mas também foi ignorado. O caso é referente ao suposto vazamento de dados sigilosos de um inquérito da Polícia Federal sobre um ataque hacker contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018.

Atropelando e passando por cima do MPF, Moraes tem feito o Brasil regredir, segundo Monteiro, ao tipo de processo penal da Idade Média, em que não havia preocupação com a neutralidade e a imparcialidade do juiz, e no qual o juiz assumia as funções de promotor. “Tem um velho ditado que a gente usa para falar do sistema da Inquisição: ‘Quem é julgado pelo seu acusador precisa de Deus para fazer sua defesa’. Se você vai ser julgado por quem está te acusando, então já está condenado, porque ele já estava te acusando antes de te julgar”, conclui.


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EXEMPLOS DE EDUCAÇÃO PELO MUNDO DEVERIAM SERVIR PARA O BRASIL

 

Metas agressivas
Por
Leonardo Desideri
Brasília


Exemplos de outros países mostram que não é necessário esperar muito tempo para uma grande transformação na educação.| Foto: Pixabay

No primeiro debate televisivo entre os candidatos à Presidência das eleições de 2022, no domingo passado (28), a educação foi uma figurante: nos poucos segundos dedicados ao tema, os participantes fizeram somente críticas genéricas à situação do Brasil na área, sem apresentar ideias concretas para a solução de problemas.

Isso pode ser, em certa medida, um reflexo do que acontece na própria população: em maio de 2022, na última pesquisa “What Worries the World”, do instituto Ipsos – que mede os temas que mais preocupam a população de diversos países –, a educação apareceu apenas em sétimo lugar no Brasil, atrás de pobreza, saúde, inflação, desemprego, corrupção e violência.

Os problemas da educação vêm perdendo interesse no debate público nacional, ainda que a situação do Brasil não justifique essa tendência. Há décadas, os estudantes brasileiros evoluem a passos curtíssimos nos exames nacionais, e o país tem desempenho pífio em comparação com outras nações no Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, aparecendo nas últimas colocações.

Para alguns especialistas que se negam a integrar o status quo das discussões sobre educação no país, há um fenômeno que colabora para esta estagnação nos índices: a comunidade educadora está se acostumando com a mediocridade. Predomina entre alguns pedagogos com grande influência no debate público a ideia de que o aumento na escolarização e as pequenas evoluções de desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) seriam satisfatórias, e desprezam-se como ultrapassadas as receitas de sucesso de países, estados ou municípios que deram grandes saltos na educação em pouco tempo.

Portugal, um dos exemplos de nações que avançaram rapidamente no Pisa nas últimas décadas, recorreu a uma estratégia que costuma agradar pouco a correntes mais ideológicas da pedagogia, mas que tende a ser chave em praticamente todos os grandes casos de sucesso em políticas educacionais: o foco em resultados, com metas agressivas de qualidade. Segundo o ex-ministro da Educação do país, Nuno Crato, isso pode ser reproduzido em qualquer país.

“Se um país como o Brasil seguir as políticas corretas, e seguir com decisão, pode, em uma década, uma década e pouco, começar a ver resultados muito bons. Não é uma coisa que demore muito tempo, acho eu”, diz. “Olhem, por exemplo, para o Japão, para a Coreia do Sul, após a guerra. Em 10, 15, 20 anos, eles mudaram tudo. E, neste momento, o ensino na Coreia é um dos melhores do mundo, o ensino em Singapura é dos melhores do mundo, porque eles, a seguir à guerra, decidiram investir na educação – que não é só pôr dinheiro na educação”, observa.

Crato diz que, no caso de Portugal, a rápida melhoria nos índices se apoiou em dois pilares: avaliações exigentes e um currículo bem definido. “Essas são as duas coisas essenciais. São coisas relativamente simples, mas são as coisas que muita gente evita”, diz. “Muitas vezes, quando vou ao Brasil, eu digo: ‘Você quer perder peso? Então, pode inventar mil coisas diferentes, mas, se você comer menos e fizer mais exercício, perde peso. Não vale a pena estar a desviar com outras coisas… Pôr um oleozinho na barriga, olhar para o Sol no crepúsculo e respirar fundo, ir à curandeira… Isso não serve de nada. É muito fácil: você come menos e faz mais exercício. Para 99% das pessoas, a solução é esta, acabou. Não vale a pena estar a evitar o problema. Com a educação, é a mesma coisa: não vale a pena estar a evitar o problema. Não vale a pena estar a fugir.”

Outro componente importante do sucesso português, segundo ele, foi que as várias gestões do ministério entre 2003 e 2015 seguiram o mesmo modelo e “trabalharam essencialmente na mesma direção” da atenção aos resultados. “Foi uma ideia central para todas as pessoas que trabalharam em educação durante esse tempo”, afirma.

Para Gabriel Corrêa, líder de Políticas Educacionais da ONG Todos Pela Educação, “reformas educacionais, quando bem formuladas, implementadas e sustentadas, conseguem gerar resultados substanciais em oito a dez anos”. “É possível e preciso ter esse otimismo no Brasil, mas é um otimismo que precisa se traduzir em cobrança contínua do poder público”, diz.

O que atravanca o salto de qualidade na educação do Brasil?
Para a educadora Ilona Becskeházy, ex-secretária de Educação Básica do MEC, o Brasil também poderia ter resultados em pouco tempo, caso o status quo da comunidade educacional não se opusesse à adoção de metas mais agressivas e de modelos que já deram certo. “Se as receitas usadas em outros países forem usadas aqui, o resultado é rápido. Esta balela de eternidade para dar resultados é parte do discurso da resistência, e é o que realmente pode atrasar o processo todo de superação da ignorância gerada na escola”, diz.

Na visão dela, a receita da eficácia escolar tem os seguintes componentes: currículo, livros didáticos, avaliação e formação docente. “Em cada um desses campos há interesses consolidados que nunca permitiram que o país avançasse na direção já trilhada por países desenvolvidos. O caminho é sem novidades, portanto. Mas quem faz currículo está de mãos dadas com quem dá aula e com quem vende material educativo. Um currículo sério vai de encontro a muitos interesses, e é sistematicamente atropelado”, comenta.

Para Ilona, o caminho para um salto na educação do Brasil é simples – o que não significa fácil. O que mais dificulta uma transformação expressiva, segundo ela, são os interesses comerciais e ideológicos de pessoas e entidades com muito poder.

“População educada não interessa a populistas enganadores. Material de qualidade para quem só está acostumado a vender produtos rasos e preguiçosos significa sair da zona de conforto e perder margem. Avaliação séria incomoda, e formação docente para ensinar em vez de militar em sala de aula é impensável no contexto atual”, diz.

Fazendo a ressalva de que não é brasileiro e não deseja pontificar sobre a educação de um país onde não vive, Nuno Crato observa que o modelo de Sobral, no Ceará, poderia indicar uma boa direção para o Brasil nos próximos anos.

“Eu diria que vocês têm um problema fundamental, que é o problema da alfabetização. A alfabetização generalizada dos jovens na idade escolar do ensino fundamental I é uma coisa que é relativamente fácil de ser atingida, e que é decisiva, porque, sem estarem alfabetizados, os jovens não vão progredir nas outras disciplinas”, diz.

Crato se opõe aos modelos de ensino que pregam a alfabetização tardia. “Os jovens conseguem estar alfabetizados, conseguem estar a ler aos seis, sete anos. Conseguem. Não há razão nenhuma para não estarem alfabetizados aos seis, sete anos – até antes. Claro que alguns vão mais depressa ou mais devagar, mas não há razão nenhuma para esperar.”

Outro ponto importante, segundo ele, é o foco nas disciplinas básicas: a matemática e o português. “Centrar nisso, centrar na matemática e no português na primeira, segunda, terceira série… A seguir, claro, as ciências, as línguas – é preciso saber inglês, saber as ciências, a história, a geografia.”

Uma novidade que pode dificultar ainda mais a busca agressiva pela qualidade é o Sistema Nacional de Educação (SNE), um projeto de lei já aprovado pelo Senado federal e em tramitação na Câmara. O SNE é uma estrutura que tira do Ministério da Educação (MEC) a função de induzir políticas de qualidade, atribuindo a tarefa de definir políticas de educação a um conselho formado por entidades da sociedade civil, ONGs e alguns representantes do poder público. A consequência pode ser o engessamento dos modelos educacionais e a padronização da mediocridade, como mostrou reportagem de dezembro de 2021 da Gazeta do Povo.

Com o SNE, será menor a flexibilidade para a adoção de modelos de ensino eficazes que fujam dos padrões estabelecidos pelo conselho. Com isso, haverá menos chance, por exemplo, de fenômenos como o de Sobral (CE), ou da realização de parcerias público-privadas. A tendência é que se cristalize o modelo de ensino público de administração estatal, que tem sido um dos responsáveis por colocar o Brasil entre os piores do mundo em educação.

Resultados negativos também podem aparecer rápido
Crato lamenta que a gestão que o substituiu no Ministério da Educação em Portugal tenha abandonado as políticas educacionais que deram resultados positivos entre 2003 e 2015. A influência de certas concepções ideológicas acabou sendo determinante para isso, e a queda no desempenho já começa a ser sentida nos exames internacionais.

“O que é muito curioso é que a política mudou em nome da equidade, em nome da igualdade, em nome dos mais desfavorecidos. Mas, se formos ver as estatísticas, quem mais sofreu foram os mais desfavorecidos. Os mais desfavorecidos foram aqueles que mais sofreram com esta política mais laxista e menos exigente. E nós vemos que o número de estudantes abaixo dos mínimos necessários aumentou entre 2015 e 2019, tanto no PISA como no TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study, avaliação internacional de matemática).”

Outro exemplo de país que tem bom desempenho nos rankings internacionais mas está abandonando seu modelo de sucesso é a Finlândia. Segundo Crato, a decadência do ensino finlandês já se observa.

“A Finlândia agora dá muita atenção à chamada ‘multidisciplinaridade’ e ao chamado ‘ensino baseado no fenômeno’. A multidisciplinaridade está bem, tudo bem, mas ela significa que nós sabemos biologia e sabemos física. E, depois de saber biologia, de saber física, vamos tentar encontrar soluções para certos problemas – sei lá, para a hidráulica do coração –, ou seja, tentar perceber se aquilo que sabemos de física se aplica àquilo que sabemos de biologia. Vamos tentar juntar as duas coisas depois de saber cada uma delas. Mas o que a Finlândia está a fazer em algumas escolas é que, em vez de aprender biologia e aprender física, o aluno aprende as duas coisas ao mesmo tempo. Só aprende aquilo que interessa às duas coisas. Isso é altamente prejudicial, porque, com isso, nem se aprende bem física, nem biologia. Desestrutura a maneira como as coisas são feitas”, comenta.

Para Crato, “as disciplinas são fundamentais para a estruturação do pensamento”, e o ensino baseado no fenômeno, que suprime ou diminui a importância das disciplinas, tende a gerar maus resultados. “É má ideia acabar com as disciplinas ou pelo menos diluí-las num conjunto de coisas em que não se sabe bem o que se está a estudar. E é isso que é recomendado pelos líderes da Finlândia neste momento”, diz.

Outro erro da Finlândia, segundo ele, é que a ideia de seguir a vontade dos estudantes tem ficado cada vez mais popular. “Dizem que deve-se seguir muito a vontade dos alunos, que deve-se deixar os alunos, eles próprios, terem a sua iniciativa de estudo etc. Sim, é bom seguir a vontade dos alunos, mas o fundamental é seguir um currículo, e não a vontade dos alunos.”


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O VOTO TEM CONSEQUÊNCIAS

 

Por
Salim Mattar

DemonstraÁ¿o do uso da urna eletrÙnica para as eleiÁ¿es de 2006.


| Foto: Nelson Junior/Divulgação/TSE

O voto em uma democracia exemplar deveria ser um direito do cidadão, mas não uma obrigação. Muito correto o art. 14 da Constituição de 1988 quando diz que “a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos”, mas fraqueja quando em seguida diz que será obrigatório para os maiores de dezoito anos. Acredito que nossos ilustres constituintes pensaram que tendo o princípio do voto obrigatório nossa democracia seria mais pura e resiliente. Obrigatoriedade do voto tem correlação com autoritarismo, com imposição, opressão e tirania. De fato, a obrigatoriedade de votar foi iniciada em 1965 num ambiente de regime forte quando os militares estavam no poder. A decisão de votar ou não deveria ser do indivíduo e não do estado. O estado existe para servir ao indivíduo e não para lhe impor certas obrigações contrariando seus direitos e sua liberdade. Uma democracia se revela mais madura e autêntica quanto mais respeita e dá liberdade aos seus cidadãos.

Em 1932, decreto do então presidente Getúlio Vargas que criou a Justiça Eleitoral, contemplou o direito de voto da mulher que foi um grande avanço institucional e democrático e não era obrigatório. Em 1933, noventa anos atrás, as mulheres puderam, pela primeira vez, votar e serem eleitas para a Assembleia Nacional Constituinte. A Constituição de 1934 consolidou o voto feminino facultativo.

A decisão de votar ou não deveria ser do indivíduo e não do estado. O estado existe para servir ao indivíduo e não para lhe impor certas obrigações contrariando seus direitos e sua liberdade

Em 1985, no primeiro ano de governo civil após o período militar, através de Emenda Constitucional, ficou garantido também aos analfabetos o direito de votar e assim atingimos uma democracia onde impera o sufrágio universal. É discutível, mas não deveríamos nos gabar de dar o direito de votar aos analfabetos, mas sim erradicar o analfabetismo. Temos 11 milhões de pessoas nessa condição que deveriam receber especial atenção do estado e dos governos para eliminar essa estatística que nos expõe perante países vizinhos e outras nações.

A democracia se enfraquece quando de posse do direito e obrigação de votar, analfabetos, pobres e miseráveis, todos em estado de fragilidade social, podem ser facilmente conduzidos pelos discursos e falácias de políticos populistas. Daí a importância de retirar essas pessoas da pobreza, inseri-las na sociedade de consumo com inclusão social, moradia, educação e alimentação saudável. Nossa democracia só será fortalecida se tivermos uma sociedade com menos desigualdade e sem tamanha pobreza.

O eleitor fica perdido diante de mais de 30 partidos sem claras linhas de atuação e posicionamento ideológico. Fica confuso por tão parecidas ou diferentes propostas de candidatos, promessas que jamais acontecerão, falácias que encantam seus ouvidos e suprem sua esperança. Carência do eleitor gera fragilidade que influi no direito de escolha que nem sempre seria a melhor. Muitos dos candidatos eleitos, que legalmente deveriam representar o povo, se transformam em legisladores e governantes que servem principalmente ao establishment, seus partidos, interesses corporativistas e pessoais deixando as prioridades de seus eleitores em segundo plano. Não é verdade que todo povo tem o governo que merece.

Na maioria das vezes os discursos de palanque são abandonados, promessas para se obter votos que encheram pessoas de esperança são esquecidas e o eleitor decepcionado perde a confiança nos políticos.

Um certo número de eleitores, cidadãos que são de fato o povo, vê com desconfiança o sistema de urnas eletrônicas sem a comprovação do voto em papel. Criticar o atual sistema de votos propondo melhorias é quase um crime pois a justiça eleitoral defende as urnas como se perfeitas fossem. Aliado a isso, no momento há também uma intensa polarização entre os principais candidatos, e muitos buscarão manifestar seu descontentamento no voto nulo ou em branco.

O voto de cada um é a maior contribuição do cidadão para a causa do país onde vive. É momento de grande responsabilidade pois cada um deveria fazer um exercício de escolha dos melhores candidatos, independentemente de viés ideológico, fazendo se representar por pessoas de ilibada reputação, fichas limpas, não envolvidas em crimes ou corrupção e com passado que lhe recomende. O eleitor deve se sentir representando e escolher um político que venha a defender os seus interesses, de sua família, de sua comunidade e de seus valores.

Deve o eleitor fazer detida análise dos candidatos, mas evitar votar em branco ou anular seu voto pois este posicionamento talvez não seja o melhor. Escolha um candidato e vote de acordo com a sua consciência. Isso é exercício da cidadania e a forma de cada eleitor contribuir para o futuro de todos.

Salim Mattar, empresário e presidente do Conselho do Instituto Liberal.
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MESTRE DA FICÇÃO CIENTÍFICA GANHA REEDIÇÃO APÓS 30 ANOS DA SUA MORTE

 

Foto: Apple Tv+

Por André Cáceres – Jornal Estadão

Autor é relembrado em box com tetralogia policial sobre robôs e outra coleção com três space operas

Em 1571, um decreto da rainha Elizabeth I obrigava seus súditos acima de seis anos a vestir, aos domingos e feriados, uma touca de lã feita na Inglaterra, de modo a proteger a indústria local. Dezoito anos mais tarde, o inventor William Lee construiu uma engenhosa máquina de bordar e viajou a Londres para solicitar uma patente à rainha, que negou: “Considere o que sua invenção poderia fazer aos meus pobres súditos. Ela seguramente os levaria à ruína por privá-los de emprego, transformando-os em pedintes.” Esse episódio curioso é um dos marcos iniciais do processo de mecanização do trabalho, uma das maiores preocupações da sociedade moderna e um dos grandes eixos temáticos na obra do escritor russo-americano Isaac Asimov (1920-1992).

Considerado um dos mestres da ficção científica do século 20, Asimov dedicou diversos contos e romances a imaginar o impacto dos robôs na sociedade. Entre suas principais narrativas sobre o assunto está a tetralogia composta pelas obras policiais futuristas As Cavernas de Aço (1954), O Sol Desvelado (1957), Os Robôs da Alvorada e Robôs e Império (1985), que acabam de ganhar uma nova edição no Brasil pela Aleph. Além dessa, a mesma editora lança outro box com Pedra no Céu, Poeira de Estrelas, As Correntes do Espaço.

Retrato do escritor de ficção científica Isaac Asimov
Retrato do escritor de ficção científica Isaac Asimov  Foto: Acervo Estadão

Na série da tetralogia, Asimov instituiu as três leis da robótica: um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal; um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei; um robô deve proteger a própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis. Por mais banal que o conjunto de regras possa parecer, versões atualizadas desse código moral influenciam até hoje o debate ético em torno da inteligência artificial e outras tecnologias.

Asimov, entretanto, não foi o inventor da ideia de robôs. O conceito remonta à poesia homérica nos autômatos forjados por Hefesto, passando por mais elaboração a partir de Frankenstein ou o Prometeu Moderno (1818), de Mary Shelley, e dos contos O Homem de Areia (1816), de E.T.A. Hoffmann, The Bell-Tower (1855), de Herman Melville, e O Feitiço e o Feiticeiro (1899), de Ambrose Bierce.

Um dos aspectos abordados por Asimov em seus livros de robôs é o desemprego, que está no cerne do termo. “Robô” é uma palavra cunhada por Josef Capek, pintor, escritor e poeta checo. “Robota” significa “trabalho forçado” em sérvio e sua raiz é “rab”, escravo. Seu primeiro uso em uma obra foi na peça A Fábrica de Robôs (Rossum’s Universal Robots), do irmão de Josef, Karel Capek, na peça de mesmo nome, escrita em 1920. A questão trabalhista fica evidente em um diálogo entre Helena, presidente da Liga da Humanidade, e Domin, gerente da fábrica de robôs: “Que tipo de trabalhador você pensa ser o melhor?” / “O melhor tipo de trabalhador? Suponho ser o honesto e dedicado.” / “Não. O melhor tipo de trabalhador é o trabalhador mais barato. O que tem menos necessidades.”

Cena da série 'Foundation', baseada no livro de contos Fundação, de Isaac Asimov.
Cena da série ‘Foundation’, baseada no livro de contos Fundação, de Isaac Asimov.  Foto: Apple Tv+

A problemática fica clara em As Cavernas de Aço, em que o detetive decadente Elijah Baley é designado para trabalhar em um caso aparentemente insolúvel ao lado de um parceiro robótico, Daneel Olivaw – como é de praxe entre terráqueos, Baley odeia robôs. Em dado momento, a dupla improvável depara-se com um tumulto em uma loja. “Não há nada de errado com meus homens”, argumenta o gerente. “Eles não são homens. São robôs”, interpela uma cliente em meio à multidão ensandecida. “Eles roubam os empregos dos homens. É por isso que sempre são protegidos pelo governo. Eles trabalham em troca de nada e, por causa disso, famílias têm que morar lá nos abrigos e comer purê de levedura cru.”

Embora Asimov se preocupe com a mecanização e precarização do trabalho, ele é partidário de uma solução conciliadora. Para ele, o ódio à tecnologia é análogo à xenofobia, ou um medo irracional do desconhecido – filho de imigrantes russos, o autor sabia bem o que era ser alvo desse temor. Alguns de seus personagens robóticos mais carismáticos, como o próprio Olivaw, são retratados como vítimas da sanha tecnofóbica. “Tornou-se muito comum, nas décadas de 1920 e 1930, retratar os robôs como inventos perigosos que invariavelmente destruiriam seus criadores”, escreve o autor sobre sua tetralogia robótica. Asimov considerava essa solução narrativa (adotada por Shelley, Capek e companhia), além de fácil, perigosamente anti-intelectualista. A ele interessava mais propor maneiras para que a tecnologia – de avanço inevitável – trouxesse consigo benefícios. Daí advêm as Três Leis.

A questão da intolerância é outro mote central para a tetralogia dos robôs de Asimov. O autor estabelece que, nesse futuro, a espécie humana iniciou uma tímida expansão interplanetária, logo abortada, o que originou uma divisão: os terráqueos se acotovelam em cidades subterrâneas, verdadeiros formigueiros de gente sob austero racionamento de leveduras, sujeitos a doenças e vivendo vidas curtas, de no máximo cem anos; e os Siderais, que vivem confortavelmente por séculos nas colônias, planetas mais desenvolvidos social e economicamente que a decadente Terra. Enquanto os terráqueos sofrem de agorafobia e nutrem ódio contra os robôs, os Siderais coexistem pacificamente com eles, mas a tecnologia afasta os indivíduos do convívio interpessoal, reduzindo a taxa de natalidade.

Cena da série Foundation, baseada no livro de contos 'Fundação', de  Asimov
Cena da série Foundation, baseada no livro de contos ‘Fundação’, de Asimov  Foto: Helen Sloan/Apple Tv +

Os livros da tetralogia tratam dessa difícil relação entre a claustrofóbica Terra e as idílicas colônias, numa comparação que involuntariamente soa como metáfora dos hemisférios Norte e Sul no mundo contemporâneo, inclusive abordando os mesmos problemas migratórios que hoje são escancarados no noticiário.

Ao longo dos três primeiros romances, a dupla Baley e Olivaw ganha entrosamento e soluciona assassinatos que estremecem a diplomacia entre terráqueos e Siderais num cenário político conturbado e polarizado, sempre colocando em xeque e testando os limites técnicos, éticos e filosóficos das leis da robótica.

O quarto livro, Robôs e Império, que estava fora de catálogo há anos, se passa décadas após a morte do detetive humano, com flashbacks que o recolocam em ação, mas dá protagonismo a Gladia, uma Sideral que se envolveu com Baley em livros anteriores, uma das mais instigantes e bem construídas figuras femininas na obra de Asimov, tão pobre em boas personagens.

Foundation, a série baseada no livro de contos Fundação, do escritor Isaac Asimov
Foundation, a série baseada no livro de contos Fundação, do escritor Isaac Asimov  Foto: Giles Keyte /Apple Tv+

Embora continue sendo uma ode ao pensamento lógico e às conclusões racionais às quais chegam seus personagens – humanos ou robóticos –, o último livro da saga deixa de lado as raízes policialescas dos três anteriores para acompanhar Gladia na tentativa de impedir um conflito generalizado entre os Siderais e os colonizadores terráqueos, que ameaça o futuro da espécie humana – talvez numa analogia do temor de aniquilação durante o auge da Guerra Fria.

Se nos demais romances as Três Leis são instauradas e postas à prova, em Robôs e Império elas são levadas às últimas consequências. No romance, a primeira e mais importante lei da robótica é burlada diante de um mecanismo lógico de desumanização: se um robô é programado para não enxergar algumas pessoas como seres humanos, como impedir que ele provoque dano a elas? Asimov demonstra, com essa analogia, como o desprezo institucionalizado coloca em risco a sobrevivência de determinados grupos na sociedade e antecipa problemas que estão sendo enfrentados atualmente por inteligências artificiais..

Robôs e Império, escrito nos últimos anos de vida do autor, faz parte de um esforço, na década de 1980, para unificar todo o seu universo ficcional, especialmente as séries dos Robôs, do Império Galáctico e da Fundação, iniciadas nos anos 1940 e 1950. É por isso que o romance foge do tom policialesco dos demais e amplia seu escopo para retratar a humanidade em um ponto de virada e explicar como, na saga da Fundação, a espécie humana se espalhou pela Galáxia e não há robôs em planeta algum.

Mais importante do que isso, no entanto, é a noção que o romance parece sugerir: é preciso se expandir para sobreviver, mas para se expandir é fundamental que tolerância e cooperação vençam preconceito e ódio. Isaac Asimov não tinha como saber quão necessária essa ideia se tornaria hoje em dia, 30 anos após a sua morte.

MORRE O SÉCULO XX E SUAS GRANDES PERSONALIDADES

 

Tempo, tempo, tempo

Por
Paulo Polzonoff Jr.


Com a morte da rainha Elizabeth II já não dá mais para negar aquilo de que todos desconfiam desde 2001: o século XX é passado.| Foto:

Outro dia morreu o Jô Soares. Foi como se tivesse morrido um amigo. Na correria do dia-a-dia, contudo, fui deixando a homenagem para depois e depois e depois e, quando vi, o texto tinha caído no poço das intenções perdidas. Mas ficou a sensação de que não era apenas a morte de uma pessoa que divertiu e, no meu caso, ensinou. Parecia a morte de algo maior. De um tempo.

Semana passada, morreu Gorbachev. Nesse caso, senti como se tivesse morrido uma estátua. Ou um personagem de enciclopédia. Aquele cara com aquela mancha na testa com o qual comparavam meu pai e que aparecia o tempo no telejornal. Por acaso, também fui obrigado a me lembrar da morte de um amigo que teve o privilégio de entrevistar Gorbachev. Foi assim, tangencialmente, que também sofri a morte não só de uma estátua ou personagem de enciclopédia. Novamente era um tempo que morria.

As sensações difusas ganharam força com a morte da rainha Elizabeth II. Já agora é possível definir melhor esse “um tempo” que soltou o último suspiro. É o século XX que se vai. E, com ele, duas guerras que – graças a Deus – não vivi, tragédias que não sofri, revoluções que não enfrentei, o pouso na Lua que não acompanhei pela TV. E e as últimas gerações a grafarem o século com algarismos romanos.

Cem anos de dramas eloquentes dos quais aproveitei apenas duas décadas e uns quebrados. Durante as quais vi as duas potencias da Guerra Fria se unirem para salvar duas baleias; o Muro de Berlim cair; a União Soviética voltar a ser a Rússia velha de guerra; Romário fazer aquele gol de cabeça contra a Suécia; e mais um punhado de grandes eventos históricos dos quais não me lembro no momento.

Isso sem falar nos eventos da, digamos, história íntima. Todos concentrados entre 1977 e 2000. Primeiros passos, primeiras letras, primeiro beijo. Crises existenciais de adolescente, draminhas acadêmicos sem nenhuma relevância no presente. E, já nos estertores do século, o mindinho do pé mergulhado na idade adulta. Se bem que no ano 2000 nem barba eu tinha direito.

Com o século XX (ou 20, para os mais jovens), morre também a hegemonia cultural norte-americana no Ocidente. E não me escapa a ironia de eu ter me dado conta disso por causa da morte de uma monarca britânica. De certa forma, morre todo tipo de informação centralizada. Assim, morrem também as celebridades absolutas e os ícones culturais. Morre a música que aprendi a ouvir. Morre (e aqui vocês me perdoem um pessimismo que, reconheço, não combina nem comigo nem com o sábado) o que restava da sensação de ser um indivíduo cercado por uma sociedade, e não uma sociedade sufocando um indivíduo.

Me reconheço, assim, um homem do meu tempo, que é um tempo passado. Um século passado. É a essa preteritude que recorro quando preciso me revelar “antenado” ao presente a fim de vislumbrar o futuro. E você, leitor atento, deve ter percebido que o “antenado” aí denuncia não apenas a idade, mas também a antiguidade de quem escreve. O século XX foi o de semear. Agora já estou no meio da colheita. Pelo menos há fartura!

Dizer que o século XX fará falta seria absurdo. Assim como não faria sentido algum dizê-lo insubstituível. Pelo contrário. Com seus cabelos coloridos, alargadores nas orelhas, sexo fluído e ultraniilismo, o século XXI já se apresentou para cumprir as funções de tempo presente – e para tanto escolheu o nome de século 21. Dizem que, ao contrário das tragédias e dos dramas muito humanos que marcara seu antecessor, o novo tempo-rei quer ser reconhecido pelo triunfo derradeiro da técnica sobre a imperfeição dos tais Homo sapiens.

Só nos resta esperar que tenha algum juízo, o novo soberano. E, se calhar, algum senso de humor. De minha parte miniminiminiminúscula, rezo para que o novo século ao menos tenha noção da própria finitude – que infelizmente não terei o prazer de testemunhar. Rezo para que este século termine não com um estrondo nem com um gemido, e sim com um suspiro de quem sabe ter cumprido seu papel na Eternidade.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/morreu-o-seculo-xx-vida-longa-ao-seculo-21/
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O MERCADO EXIGE NOVAS HABILIDADES

 

Saiba quais são as habilidades mais requeridas pelas empresas e como desenvolvê-las!

Por Sabrina Bezerra

Estima-se que cerca de 800 milhões de empregos vão sumir até 2030 por causa dos robôs e dos programas de inteligência artificial, segundo um estudo da consultoria McKinsey.

O dado, apesar de assustar, traz a importância em investir nas habilidades técnicas para estar um passo à frente nas tecnologias do futuro (confira as áreas que mais vão crescer).

Mas não apenas. É preciso também desenvolver habilidades comportamentais, afinal, à medida que as máquinas ganham espaço, ter uma visão estratégica de resolução de problemas se torna importantíssima.

Assim, uma nova tendência do mercado de trabalho surge: as power skills ou habilidade de poder.

O que são Power Skills?

Ainda pouco conhecida, de forma resumida, a Power Skill é a junção de hard skill (habilidade técnica) e soft skill (habilidade comportamental) e está ganhando cada vez mais forma no mundo corporativo.

Na prática, pessoas com Power Skills conseguem colocar em prática todo o seu conhecimento técnico, experiências únicas e habilidades comportamentais de forma estratégica no negócio.

Um dos seus maiores diferenciais está na capacidade de analisar e construir cenários futuros — dois pilares importantes no Mundo BANI do qual vivemos hoje.

“Isso porque, as Power Skills compõem um conjunto de habilidades interpessoais, muitas vezes de difícil mensuração de forma isolada, com habilidades técnicas de cada profissional”, diz em entrevista à StartSe Patricia Suzuki, diretora de recursos humanos da Catho.

“Quando pensamos em um colaborador com power skill elevada, identificamos um profissional potente no que faz — como solucionar problemas e como inovar — engajando o time, colaborando, trabalhando em equipe”, completa a especialista.

Power Skill: Quais são as diferenças entre hard skill e soft skill?

Enquanto a Power Skill é um conjunto completo de habilidades do profissional, “as hard skills são habilidades técnicas que podem ser adquiridas ao longo da vida e que podem ser  facilmente comprovadas”, conta Patrícia.

Já as soft skills são habilidades pessoais, “ligadas diretamente a personalidade de cada indivíduo, como comportamento, autoconhecimento, habilidades emocionais e sociais”, completa.

Quais são as principais soft skills para 2022?

Segundo a pesquisa de Tendências de RH para 2022, feita pela consultoria Catho, as cinco principais soft skills que as empresas estão de olho neste ano, são:

• Proatividade

• Trabalho em equipe

• Resolução de problemas

• Relacionamento interpessoal

• Criatividade

Carreira, trabalho, reunião, computador, escritório

Power Skills se tornam cada vez mais importante no mundo corporativo

Hard skills: o que são e por que são tão importantes na carreira

Soft skills: o que são e por que são tão importantes na carreira

Por que as Power Skills são importantes para a carreira?

Elas são essenciais para se destacar no trabalho. Se você não tiver essas habilidades, mesmo com um currículo técnico promissor, você não estará um passo à frente.

“São as Power Skills que tornam o profissional único, pois cada pessoa tem suas vivências de aprendizados diferentes uma das outras. As que conseguem unir habilidades técnicas e emocionais, consequentemente, terão ainda mais sucesso dentro das organizações”, afirma Patrícia.

“Não basta apenas o conhecimento técnico e não ter o comportamental adequado. O contrário também funciona da mesma forma, não basta ser uma excelente habilidade de comunicação, por exemplo, e não ter o conhecimento técnico para executar as tarefas”, completa.

Quais são as Power Skills mais requisitadas?

Segundo a Forbes, são:

1- Saber se comunicar de forma eficaz e trabalhar em equipe

Seja no trabalho presencial, híbrido ou remoto, é necessário se comunicar com diversas equipes, transmitir ideias com clareza e precisão, por exemplo.

2- Flexibilidade e capacidade de se adaptar rápido

O Mundo BANI exige dos profissionais a capacidade de agir rápido e seguir em frente apesar da incerteza. Ou seja, não ser resistente à mudanças, pois elas são necessárias.

3- Autogestão e liderança

A capacidade de se autoliderar e controlar as responsabilidades diárias se torna cada vez mais importante.

4- Resolver problemas de forma rápida

Novos desafios aparecem constantemente, por isso, trabalhadores que conseguirem manter o controle e resolvê-los de forma rápida e eficaz saem na frente. Não à toa essa habilidade foi destaque do Fórum Econômico Mundial.

Como desenvolver as Power Skills?

As Power Skills estão  relacionadas às vivências e ao conhecimento adquiridos ao longo da vida e da carreira, “no entanto, é possível aprimorar e acelerar essas habilidades por meio de treinamentos”, diz a especialista.

“A dica aqui é olhar além do que é esperado, se propor a desenvolver atividades que possam ampliar o conhecimento”, completa.

Também é importante perguntar para a liderança e área de recursos humanos da empresa como podem ajudar você a desenvolver as Power Skills — já que estamos na era da transparência entre funcionário e empresa.

Para você ter uma noção, as companhias estão, cada vez mais, apoiando o desenvolvimento de seus times. “No relatório feito pela Catho, 67,3% dos recrutadores entrevistados disseram que vão aumentar os investimentos em treinamentos e capacitações de profissionais”, conta Patrícia.

“Mas é importante lembrar que a gestão da carreira é de responsabilidade de cada profissional, pois só ela sabe onde quer chegar e quais passos entende que são importantes a dar”, afirma.

Diante da declaração, é possível afirmar que a carreira que você quer trilhar depende das habilidades que você irá construir ao longo da vida.

E nunca tivemos tantas transformações — e necessidade de aprendizado — do que agora.

Desde novas tecnologias como NFT, metaverso e inteligência artificial, até novas skills humanas e modelos de negócios; quem entende e começa a aplicar esses conceitos primeiro são aqueles que vão abraçar as melhores oportunidades do mercado no futuro.

Mas no meio de tanta informação e mudanças: qual a melhor forma de aprender sobre tudo isso? A StartSe e a Nova SBE, de Portugal, construiu com os maiores nomes do Vale do Silício um programa para te capacitar sobre tudo isso no menor tempo possível.

O xBA é uma formação internacional de 10 semanas onde você vai aprender na prática como essas transformações estão impactando carreiras, negócios e construindo oportunidades exponenciais.

Tudo com aulas ao vivo e gravadas com grandes nomes mundiais da inovação e com professores da própria Nova SBE, direto de Portugal.Você pode conhecer mais sobre o programa neste link aqui e ver todos os 10 temas e +30 experts internacionais que podem ajudar sua carreira a ir para o próximo nível no meio dessas transformações.

Vale a pena ler qualquer semelhança será mera coincidência !!!

Autor desconhecido

Um ladrão entrou no banco gritando para todos:

” Ninguém se mexe, porque o dinheiro não é seu, mas suas vidas pertencem a vocês.”

Todos no banco ficaram em silêncio e lentamente se deitaram no chão.

Isso se chama CONCEITOS PARA MUDAR MENTALIDADES

Mude a maneira convencional de pensar sobre o mundo.

Com isso, uma mulher ao longe gritou: ” MEU AMOR, NÃO SEJA RUIM PARA NÓS, PARA NÃO ASSUSTAR O BEBÊ “, mas o ladrão gritou com ela:

“Por favor, comporte-se, isso é um roubo, não um romance!”

Isso se chama PROFISSIONALISMO

Concentre-se no que você é especializado em fazer.

Enquanto os ladrões escapavam, o ladrão mais jovem (com estudos profissionais de contabilidade) disse ao ladrão mais velho (que tinha acabado de terminar o ensino fundamental):

“Ei cara, vamos contar quanto temos.”

O velho ladrão, obviamente zangado, respondeu:

“Não seja estúpido, é muito dinheiro para contar, vamos esperar a notícia para nos contar quanto o banco perdeu.”

Isso se chama EXPERIÊNCIA

Em muitos casos, a experiência é mais importante do que apenas o papel de uma instituição acadêmica.

Depois que os ladrões foram embora, o supervisor do banco disse ao gerente que a polícia deveria ser chamada imediatamente.

O gerente respondeu:

“Pare, pare, vamos primeiro INCLUIR os 5 milhões que perdemos do desfalque do mês passado e relatar como se os ladrões os tivessem levado também”

O supervisor disse:

“Certo”

Isso se chama GESTÃO ESTRATÉGICA

Aproveite uma situação desfavorável.

No dia seguinte, no noticiário da televisão, foi noticiado que 100 milhões foram roubados do banco, os ladrões só contaram 20 milhões.

Os ladrões, muito zangados, refletiram:

“Arriscamos nossas vidas por míseros 20 milhões, enquanto o gerente do banco roubou 80 milhões em um piscar de olhos.”

Aparentemente, é melhor estudar e conhecer o sistema do que ser um ladrão comum.

Isto é CONHECIMENTO e é tão valioso quanto ouro.

O gerente do banco, feliz e sorridente, ficou satisfeito, pois seus prejuízos foram cobertos pela seguradora no seguro contra roubo.

Isso se chama APROVEITANDO OPORTUNIDADES ..

ISSO É O QUE MUITOS POLÍTICOS FAZEM ESPECIALMENTE NESTA *PANDEMIA, ELES A USAM PARA ROUBAR E RESPONSABILIZAR O VÍRUS.

A startup digital ValeOn daqui do Vale do Aço, tem todas essas qualidades, não me refiro aos ladrões e sim no nosso modo de agir:

Estamos lutando com as empresas para MUDAREM DE MENTALIDADE referente à forma de fazer publicidade à moda antiga, rádio, tv, jornais, etc., quando hoje em dia, todos estão ligados online através dos seus celulares e consultando as mídias sociais a todo momento.

Somos PROFISSIONAIS ao extremo o nosso objetivo é oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes e respeitando a sociedade e o meio ambiente.

Temos EXPERIÊNCIA suficiente para resolver as necessidades dos nossos clientes de forma simples e direta tendo como base a alta tecnologia dos nossos serviços e graças à nossa equipe técnica altamente especializada.

A criação da startup ValeOn adveio de uma situação de GESTÃO ESTRATÉGICA apropriada para atender a todos os nichos de mercado da região e especialmente os pequenos empresários que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.

Temos CONHECIMENTO do que estamos fazendo e viemos com o propósito de solucionar e otimizar o problema de divulgação das empresas da região de maneira inovadora e disruptiva através da criatividade e estudos constantes aliados a métodos de trabalho diferenciados dos nossos serviços e estamos desenvolvendo soluções estratégicas conectadas à constante evolução do mercado.

Dessa forma estamos APROVEITANDO AS OPORTUNIDADES que o mercado nos oferece onde o seu negócio estará disponível através de uma vitrine aberta na principal avenida do mundo chamada Plataforma Comercial ValeOn 24 horas por dia e 7 dias da semana.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (WP)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

sábado, 10 de setembro de 2022

BOLSONARO É CONTRA A VIOLÊNCIA POLÍTICA INCENTIVADA PELO PT

 

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – Em meio à escalada da violência política do país, com a morte de um apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por um bolsonarista, o presidente Jair Bolsonaro (PL) radicalizou o discurso contra o PT e disse que varrerá partido para o lixo da história.

Em ato político na tarde desta sexta-feira (9) em Araguatins, cidade do norte do Tocantins, o presidente destacou a redução dos preços dos combustíveis e afirmou que os senadores da bancada do PT votaram contra a redução da alíquota do ICMS pelos estados.

“Essa praga sempre está contra a população. Esse pessoal não produz nada, só gera desgraça para o povo brasileiro. Com essa nossa reeleição, […] varreremos para o lixo da história esse partido dito dos trabalhadores, mas na verdade é composto por desocupados”, afirmou.

O presidente voltou a tratar a disputa eleitoral como uma luta “do bem contra o mal” e colocou a pauta de costumes no centro do seu discurso, com acusações aos adversários.

“Não podemos errar, sabemos que é uma luta do bem contra o mal. O lado de lá quer o comunismo, quer desarmar o povo de bem do Brasil, quer a ideologia de gênero, quer liberar as drogas, quer legalizar o aborto e não respeita a propriedade privada, tampouco a nossa família”, afirmou.

Vídeo relacionado: Bolsonaro: ‘não foram ao 7 de Setembro por escolha’

No restante do discurso, o presidente falou da pauta econômica, citando a redução do preço dos combustíveis, o reajuste do valor do Auxílio Brasil. Também voltou a repetir que não houve corrupção em seu governo, a despeito das investigações em curso envolvendo seus familiares e ex-ministros.

Em nenhum momento, o presidente fez referência ao tema da violência política nem comentou sobre o assassinato de um apoiador de Lula em Confresa (a 1.160 km de Cuiabá).

Autor do crime, Rafael de Oliveira, 24, passou por audiência de custódia, e a Justiça de Mato Grosso manteve a prisão preventiva. Ele confessou, segundo a polícia, ter matado a facadas o colega de trabalho Benedito Cardoso dos Santos, 44, depois de uma discussão política. De acordo com a polícia, o autor tentou decapitar a vítima e, após o crime, ainda filmou o corpo.

Nesta sexta-feira, o ex-presidente Lula usou termos como intolerância, ódio e selvageria ao se referir ao assassinato do apoiador.

Bolsonaro desembarcou por volta das 11h em Imperatriz, no sul do Maranhão, onde foi recepcionado por apoiadores. Participou de uma motociata que teve como destino final a cidade de Araguatins, que fica do outro lado da divisa estadual, no norte Tocantins.

O presidente foi acompanhado pelo senador Eduardo Gomes (PL) e pelo candidato a governador do Tocantins Ronaldo Dimas (PL).

PRESIDENCIÁVEIS RECUSAM COMENTAR SOBRE ESCOLHA DE MINISTROS DO STF

 

Executivo e Judiciário
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília


Forma de escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal é motivo de críticas recorrentes de opositores| Foto: Carlos Moura/STF

Discutir uma mudança na forma de escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) não figura entre as prioridades dos principais candidatos a presidente da República em 2022. O presidente Jair Bolsonaro (PL) não menciona o assunto no programa de governo. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também não. Já o ex-ministro e ex-governador Ciro Gomes (PDT) defende a continuidade do modelo atual.

Lula, Bolsonaro e Ciro são, respectivamente, os três primeiros colocados na última pesquisa para a Presidência divulgada pela Genial Quaest.

A situação de 2022, ao menos até agora, é diferente da verificada na eleição presidencial de 2018, quando a composição do Supremo foi discutida. À época, tanto Bolsonaro quanto o PT propuseram alterações que atingiriam o STF.

Atualmente, de acordo com a Constituição, a escolha dos ministros é feita pelo presidente da República quando um deles se aposenta, decide deixar a Corte por vontade própria ou morre. E a indicação tem de ser aprovada pelo Senado. O ministro, após ser empossado, fica no cargo até a aposentadoria compulsória, aos 75 anos, independentemente de quanto tempo isso dure.

Em 2018, Bolsonaro sugeriu que o número de ministros da Corte deveria passar dos atuais 11 para 21, mas não propôs mudanças na prerrogativa presidencial de fazer as indicações. A medida garantiria ao presidente eleito indicar dez ministros “isentos”, segundo Bolsonaro disse à época.

Já Lula defendeu, em 2017, que os ministros fossem selecionados por meio de um colegiado – ou seja, um grupo maior de pessoas além do presidente da República. Ele também propôs que os ministros tivessem um mandato com tempo delimitado. No ano seguinte, durante a eleição de 2018, o programa de governo do então presidenciável Fernando Haddad (PT) também apoiava a ideia de mandatos para os ministros do Supremo – além de mais “transparência” na seleção dos indicados.


Embora o atual sistema de escolha de ministros do STF divida a responsabilidade entre o presidente e o Senado, na prática costuma vigorar a decisão do chefe do Executivo. O Senado não tem o hábito de reprovar os nomes sugeridos pelo presidente. As únicas indicações ao STF barradas pelos senadores ocorreram durante o governo do Marechal Floriano Peixoto, ainda no século 19.

O que os candidatos a presidente dizem sobre a escolha de ministros do STF
A Gazeta do Povo procurou os 11 candidatos a presidente da República em 2022 para saber o que pensam sobre o modelo de indicação de ministros do STF.

A assessoria de Jair Bolsonaro não atendeu à solicitação. Já a do ex-presidente Lula informou que a campanha ainda não tem posição sobre o tema.

Ciro Gomes declarou que não pretende “mudar o sistema de escolha de ministros do STF”. “A escolha deve atender ao que rege a nossa Constituição, que determina que o indicado tenha notório saber jurídico e reputação ilibada. O meu compromisso com o povo brasileiro é seguir estes critérios e me afastar de escolhas a partir de conveniências pessoais”, disse o pedetista.

Posição semelhante é a do candidato Felipe D’Ávila (Novo): “não acredito que precisamos mudar os critérios de seleção para os membros do Supremo Tribunal Federal. O que é necessário é que o Senado cumpra seu papel e sabatine os indicados de forma rigorosa – rejeitando quem não estiver à altura do cargo”.

Na avaliação de D’Ávila, a falta de critérios por parte do Senado na apreciação da indicação presidencial faz com que o cargo seja entregue a “a ministros cujo principal ‘saber jurídico’ é a relação pessoal com o presidente da República, e isso não é aceitável numa democracia que funciona”.

A candidata do União Brasil, Soraya Thronicke, também cobrou que o Senado indague melhor os possíveis futuros novos membros do STF. “Para ser ministro do STF, o candidato precisa cumprir dois requisitos: ter conduta ilibada e notório saber jurídico. Este notório saber jurídico deveria ser melhor aferido durante a sabatina. Isso não tem acontecido de forma satisfatória no tocante à verificação da capacidade jurídica do candidato à vaga. Isso precisa ser revisto”, declarou a candidata, que é senadora pelo Mato Grosso do Sul.

Soraya é também favorável a mandatos com tempo limitado, entre oito e dez anos, para os ministros do STF.

Para Sofia Manzano, a candidata do PCB ao Palácio do Planalto, a ideia para o STF é a implantação de um sistema que permita “a elegibilidade e revogabilidade dos mandatos [de ministros], exigindo a participação de organizações populares e sociais no processo de sabatina e eleição dos juízes”.

A possibilidade de destituição dos mandatos de ministros do STF também é defendida pela candidata Vera Lúcia (PSTU), que propõe ainda a eleição de ministros. “Defendemos mais liberdades democráticas no atual regime, não menos. Isso passa pela eleição direta dos ministros do STF”. Vera Lúcia também propõe o fim dos “atuais supersalários”.

A reportagem não obteve retorno, até a publicação desta reportagem, das assessorias de Simone Tebet (MDB), José Maria Eymael (DC), Leonardo Péricles (UP) e Padre Kelmon (PTB), que substituiu Roberto Jefferson após este ter a candidatura indeferida.

Quais são os resultados da Lei da Ficha Limpa, que Lula quer mudar se for eleito
Mudança era prioridade para o Congresso em 2020
Embora grande parte dos presidenciáveis tenha posição sobre mudança no modelo de indicação de ministros do STF, eventuais alterações devem ser aprovadas pelo Congresso. Isso porque o processo de escolha faz parte da Constituição; e mudanças no texto constitucional só podem ser feitas pelos deputados federais e senadores.

Atualmente, tramitam no Congresso algumas propostas para modificar o STF. As sugestões contemplam a ideia de um mandato com tempo delimitado e a composição de uma lista tríplice formada a partir da consulta a diversos segmentos sociais, cabendo ao presidente a escolha de um entre os três nomes pré-selecionados.

No início de 2020, o então presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), elencou a mudança no modelo de escolha dos ministros do STF como uma das prioridades do Legislativo para aquele ano. Alcolumbre destacava uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que previa o mandato de dez anos para os ministros do STF e a escolha do nome também por meio de lista tríplice.

Poucas semanas após Alcolumbre definir o tema como prioridade, porém, o Brasil foi atingido pela pandemia de coronavírus – o que acabou modificando a agenda do Congresso. A proposta acabou não avançando.

Metodologia da pesquisa citada
A pesquisa foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 1º e 4 de setembro de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral sob o protocolo BR-00807/2022.


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BOLSONARO ENTRA NA JUSTIÇA CONTRA LULA POR COMPARAR ATOS DE 7 DE SETEMBRO COM A KU KLUX KLAN

 

Acusação de difamação
Por
Gazeta do Povo


Lula comparou atos pró-Bolsonaro no 7 de setembro a reunião do grupo supremacista branco Ku Klux Klan durante comício em Nova Iguaçu (RJ)| Foto: Fernando Bizerra Jr/EFE

A coordenação jurídica do presidente Jair Bolsonaro (PL) entrou com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) remova das redes sociais vídeos em que o petista compara os atos de 7 de setembro pró-Bolsonaro com uma reunião da Ku Klux Klan (KKK). A declaração de Lula foi feita durante comício em Nova Iguaçu (RJ), na quinta-feira (8).

O KKK é um grupo supremacista branco que perseguiu e matou milhares de negros nos Estados Unidos entre 1870 e 1920. Lula disse: “Foi uma coisa muito engraçada o ato do Bolsonaro. Parecia uma reunião da Ku Klux Klan. Só faltou o capuz. Não tinha negro, não tinha pardo, não tinha pobre, trabalhador. O artista principal era o velho da Havan, que aparecia como se fosse o Louro José da campanha do Bolsonaro”.

A defesa de Bolsoanro alega que Lula extrapolou o “palco da crítica política” ao comparar “um evento cívico-democrático, em que se comemorava, ordeiramente, o Bicentenário da Independência do Brasil, a uma reunião de um dos movimentos mais reprováveis da história da humanidade que, sob ideais reacionários e extremistas, defendeu ideologias como a supremacia branca, o nacionalismo branco e a anti-imigração.”

“A odiosa ofensa perpetrada por Lula, portanto, dirige-se não apenas ao candidato opositor, o que já seria indesculpável, mas aos milhões de brasileiros que se dirigiram com suas famílias ao evento para celebrar o amor à pátria. Segundo Lula, os brasileiros orgulhosos do seu país, presentes ao evento, ‘não eram trabalhadores’, mas sim algo próximo de vagabundos e racistas”, afirmam os advogados de Bolsonaro na representação.

“A liberdade de expressão não pode e não deve servir de escudo jurídico para a prática de condutas ilícitas, como no caso concreto, ao imputar claramente comportamento criminoso ao Presidente da República, verdadeiro discurso de ódio”, argumentou ainda a defesa, solicitando que seja reconhecida a prática de ilícito.


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