Educação Por Gabriel de Arruda, especial para a Gazeta do Povo
Escola municipal com o nome do educador Paulo Freire em Salvador (BA).| Foto: Reprodução
Existem
muitas maneiras de se medir a influência intelectual de uma figura
pública. No campo da educação, uma delas é olhar para os nomes
escolhidos para batizar as escolas país afora.
Por este critério, ninguém ultrapassa Paulo Freire, autor de
Pedagogia do Oprimido e ícone da esquerda universitária tanto quanto
anátema entre os conservadores, que enxergam nele boa parte da
responsabilidade pela baixa qualidade da educação no Brasil.
Em um levantamento exclusivo feito pela Gazeta do Povo na base de
dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira), o autor de Pedagogia do Oprimido surge em primeiro
lugar entre 60 figuras históricas brasileiras. São 346 escolas com o
nome de Freire – uma a mais do que as 345 batizadas como Rui Barbosa. A
pesquisa levou em conta grafias alternativas como “Ruy Barbosa” e
variações como “Paulo Reglus Neves Freire”, nome completo do primeiro
colocado.
A lista dos dez nomes mais comuns também inclui Tancredo Neves (322
escolas), Monteiro Lobato (319), Tiradentes (276), Getúlio Vargas (232),
Dom Pedro I (174), Dom Pedro II (165), Santos Dumont (147) e Cecília
Meireles (145).
Como a base de dados inclui escolas municipais e estaduais, a escolha
se dá por formas variadas: decisão da prefeitura, votação da Câmara de
Vereadores ou deliberação da comunidade escolar. Ou seja: a profusão de
escolas com o nome de Paulo Freire não resulta da imposição de um órgão
centralizado, como o Ministério da Educação. É, em vez disto, um sinal
de quão influente o pedagogo se tornou no establishment educacional do
país.
A liderança de Freire é ainda mais impressionante porque ele morreu
em 1997, há muito menos tempo do que os outros nomes no topo da lista.
Rui Barbosa, por exemplo, morreu em 1923. Como a regra é homenagear
apenas aqueles já falecidos (embora haja exceções), houve bem menos
tempo para homenagear Freire do que Monteiro Lobato, Dom Pedro II ou
Santos Dumont.
Outros nomes, menos cotados, também são reveladores. O Brasil tem
onze escolas públicas batizadas com o nome do guerrilheiro comunista
Ernesto Che Guevara (11), muito mais do que o ex-presidente Itamar
Franco (6) e o escritor José Lins do Rego (7). O guerrilheiro Carlos
Marighella foi o homenageado em quatro escolas. Olga Benario (18) é mais
popular do que Tom Jobim (14).
Em uma lista repleta de políticos, uma presença curiosa é a de Ayrton
Senna (70), que aparece à frente de Deodoro da Fonseca (52), Zumbi dos
Palmares (41) e Floriano Peixoto (40).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é nome de seis escolas. A
ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em 2017, dá nome a quatro.
Dona Lindu, mãe de Lula, a duas.
O presidente Jair Bolsonaro não é nome de escola, mas o pai dele sim:
inaugurada em 2018, uma unidade de ensino gerenciada pela Polícia
Militar em Duque de Caxias (RJ) recebeu o nome de Percy Geraldo
Bolsonaro.
Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor têm,
cada um, uma escola com o seu nome. Dilma Rousseff e Michel Temer não
aparecem na lista.
Dentre os vivos, ninguém supera José Sarney, são: 42 unidades de
ensino, das quais 32 estão no Maranhão. Aliás, o sobrenome Sarney
aparece em 95 escolas do país (83 delas no Maranhão). A maior parte
homenageia pessoas em vida, como Roseana Sarney (filha do ex-presidente)
e Marly Sarney (a esposa dele).
Opção ideológica Para Jean-Marie Lambert, professor aposentado da
Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, a popularidade de Paulo
Freire tem mais a ver com as inclinações ideológicas dele do que com a
originalidade de seu trabalho. “O Paulo Freire, chamado de pai da
educação brasileira, na realidade é o pai da colonização educacional
brasileira. Ele simplesmente importou uma forma de pensar a educação
concebida pelo John Dewey, um autor marxista americano”, afirma ele.
Isso também explicaria por que Freire é tão popular nos Estados
Unidos, onde ele é um dos autores mais citados em trabalhos acadêmicos
na área da Pedagogia. Lambert diz que Freire foi hábil em “pegar carona”
nas correntes progressistas americanas. “Quando você fala o que eles
querem ouvir, ganha a admiração deles”, afirma.
Recentemente, a Gazeta do Povo mostrou que Lucas do Rio Verde (MT),
cidade com cerca de 100.000 habitantes que é uma das capitais do
agronegócio no Brasil, moradores organizaram um abaixo-assinado para que
o nome de Freire seja removido de uma escola municipal. A ideia é levar
a proposta à Câmara de Vereadores quando a meta de 2.500 assinaturas
for atingida.
Se a iniciativa for bem-sucedida, Paulo Freire dividirá o primeiro
lugar do ranking de maiores homenageados das escolas brasileiras: ele
passará a ter os mesmos 345 que Rui Barbosa. Organizador da iniciativa, o
microempresário Gláuber Olive afirma que a mobilização já está rendendo
frutos. “Vale a pena. Aqui na cidade não existe nenhuma escola com o
nome de uma figura local. Precisamos começar a limpeza pelo nosso
quintal”.
Depois de sucessivos escândalos, o
Facebook, que agora se chama Meta, anunciou esforços específicos para
combater desinformação nas eleições de países que não falam inglês.
Trabalhar nesse tema exige que você construa toda uma estrutura de
inteligência artificial voltada para o idioma e também para suas
particularidades regionais.
Conforme uma delação feita recentemente no Congresso dos Estados
Unidos, o Facebook investe nos idiomas dos países que estão mais
próximos de impor sanções para os danos que ele causa. Não é o caso do
Brasil. Aqui as autoridades ainda não compreendem a complexidade das
operações de desinformação, em especial nas eleições, e estão focadas em
derrubar post e censurar conteúdo.
Basta financiar duas ou três iniciativas que são baratas para o
Facebook e celebradas pela mídia afirmando combater desinformação sem
apresentar resultados e fazer um pouco de marketing.
Por esse foco, a plataforma sabe que estão muito longe de tocar em
questões realmente importantes para os negócios. Então não precisa
gastar dinheiro investindo pesado no que realmente combate
desinformação. Basta financiar duas ou três iniciativas que são baratas
para o Facebook e celebradas pela mídia afirmando combater desinformação
sem apresentar resultados e fazer um pouco de marketing.
É uma forma de ganhar tempo e distribuir investimentos. Quando um
país começa a chegar perto de regulamentar de forma a tornar mais caro
causar prejuízo à democracia do que investir em inteligência artificial
de combate à desinformação, o investimento é feito.
Aqui é preciso separar operações de desinformação de imprecisões,
falhas ou mentiras. São coisas diferentes com diferentes níveis de
sofisticação. Desinformação é utilizada até em operações de guerra,
também pode ser feita só com verdades, é intencional e organizada.
No debate político brasileiro, muita gente importante traduz de
maneira errônea fake news como notícia falsa ou mentira. Isso iguala
fenômenos muito diferentes, com desdobramentos e soluções absolutamente
diferentes.
O Facebook é uma das plataformas que aderiu a compromissos oficiais
de combate à desinformação nas eleições com o TSE. O problema dessa
história é que não cumprir não traz consequências. Então ele não cumpre.
E eu desconfio que ninguém vai mover uma palha para cumprir. Além de
colocar a assinatura, fez seu marketing, criando uma página específica
sobre o que faz para combater desinformação nas eleições e dizendo quais
países são prioritários. O Brasil é um deles.
“Investimos amplamente em equipes e tecnologias para dar mais
segurança às eleições. Desde 2016, triplicamos o tamanho das nossas
equipes que trabalham nas questões de segurança e proteção para incluir
mais de 35 mil pessoas. Além disso, criamos a central de operações
eleitorais para importantes eleições nos EUA, no Brasil, na Índia, na
Europa e em outras partes do mundo. Também realizamos melhorias
significativas para reduzir a disseminação de desinformação e oferecer
mais transparência em relação aos anúncios sobre temas sociais, eleições
ou política”, diz o Facebook.
Pois bem, a ONG internacional Global Witness resolveu testar. O
ambiente digital pré-eleitoral do Brasil é muito semelhante ao que foi
verificado em Myanmar, Etiópia e Quênia. Os três países tiveram
confrontos físicos decorrentes dessa tensão social. No Quênia, houve um
processo de desconfiança da urna eletrônica, que foi substituída por
cédulas de papel. Daí começaram a desconfiar das cédulas de papel.
Agora, desconfiam da contagem. Teve observador internacional do mundo
todo, o resultado é apertado e ninguém se arrisca a bater o martelo em
quem seja o vencedor. Ninguém reconhece a derrota.
Em todos esses países, o Facebook foi incapaz de detectar operações
de desinformação amplas nas eleições, que depois foram levantadas por
pesquisadores. No Brasil, provavelmente ocorre o mesmo. A ONG Global
Witness resolveu fazer um teste sobre o empenho do Facebook em combater
desinformação em português. Começou com o básico do básico. E a falha
foi vergonhosa.
Esqueça essas operações amplas de desinformação simultâneas em várias
plataformas, usando fatos verificáveis e conexões duvidosas entre eles.
Vamos ao básico do básico: informação que você paga para o Facebook
distribuir e sinaliza que é de política. Segundo a Big Tech, existe um
rigor maior sobre esse material. Moralmente é o mínimo, já que eles
aprovam antes e lucram diretamente com a distribuição. “Para veicular um
anúncio sobre temas sociais, os anunciantes primeiro devem passar pelo
nosso processo de autorização, que inclui o fornecimento de informações
sobre a identidade e a localização deles. Anúncios sobre temas sociais,
eleições ou política incluem os rótulos ‘Pago por’ para mostrar quem é o
responsável pelo anúncio.”, diz o site da empresa.
Adultos brasileiros continuam acreditando que Big Techs combatem
desinformação, mesmo sendo quem mais lucra com isso e o único setor
econômico que lucra com isso.
A ONG resolveu testar e montou 10 anúncios em português. Primeiro
verificou todas as políticas de uso do Facebook para garantir que
burlaria com certeza. Metade eram anúncios com mentiras deliberadas e a
outra era desacreditando as urnas eletrônicas. Nesse rigoroso processo,
para poder fazer anúncios políticos pagos, você teria de verificar a
conta, ou seja, fornecer sua identidade para o Facebook. Tomaram o
cuidado de fazer de uma conta não verificada.
Um exemplo de mentira foram anúncios com a data errada da votação ou
locais errados de votação. São fatos e facilmente verificáveis, não há
desculpa. A política do Facebook diz que não permite anúncios que possam
induzir o eleitor a erro que o leve a não votar. Os anúncios e
pagamentos foram feitos do Quênia e de Londres, pagos em moeda local
deles. A ONG não preencheu a informação de quem paga o anúncio que,
segundo o site do Facebook, é algo obrigatório. Todas as exigências mais
básicas foram burladas. A ONG ficou por alguns dias esperando que os
anúncios fossem rejeitados. Para surpresa da Global Witness, sem que
houvesse nenhuma nova ação, o Facebook aprovou todos e colocou em
circulação.
Foi a própria Global Witness que tirou imediatamente os anúncios do
ar e procurou o Facebook para entender o que aconteceu. A resposta foi
simplesmente sensacional: “estamos e sempre estivemos profundamente
comprometidos em proteger a integridade das eleições no Brasil e em
torno do mundo”. Sinceramente, me faltam até comentários. Não houve
nenhuma intervenção do Ministério Público Eleitoral nem do Tribunal
Superior Eleitoral depois do evento.
Adultos brasileiros continuam acreditando que Big Techs combatem
desinformação, mesmo sendo quem mais lucra com isso e o único setor
econômico que lucra com isso. Nessas horas, não tenho certezas e uma
única dúvida me martela a cabeça: que tipo de ficção será capaz de
superar nossa realidade?
Foto de satélite mostra a usina nuclear de Zaporizhzhia, em Enerhodar, na Ucrânia| Foto: EFE/EPA/MAXAR TECHNOLOGIES
O
risco de acidente na usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia,
está mais ligado a uma sucessão de falhas de equipamentos e erros –
catalisados pela guerra – do que à possibilidade de um disparo direto
atingir um reator. Apesar disso, o impacto da concretização de um
acidente nuclear seria tão alto que a comunidade internacional aumentou
dramaticamente nesta semana a pressão sobre a Rússia, que controla a
instalação nuclear.
Pela primeira vez na história, uma usina nuclear de grande porte está
no meio do campo de batalha em uma guerra de alta intensidade. Ela é a
maior usina da Europa e fica na cidade de Enerhodar, no oblast (estado)
de Zaporizhzhia. É responsável por 19% do suprimento de energia elétrica
da Ucrânia.
O complexo foi invadido por forças russas em 4 de março. A ação
provocou um incêndio em instalações não essenciais e deflagrou uma onda
de críticas internacionais. A tomada da usina foi parte de um avanço
rápido do exército russo que resultou na captura de uma grande faixa do
sul da Ucrânia logo na primeira semana de guerra.
A frente de batalha logo avançou rumo nordeste, em direção à cidade
de Zaporizhzhia, capital do oblast. Assim, a região da usina, em
território ocupado, passou a desfrutar de relativa tranquilidade.
Uma parte dos cerca de 10 mil funcionários continuou operando a
planta, porém de maneira forçada pelos russos. Ela passou a operar em
capacidade mínima, com apenas dois dos seis reatores funcionando, mas
continua fornecendo energia para regiões sob controle do governo
ucraniano.
Mesmo com os combates ocorrendo a cerca de 60 quilômetros da usina, a
possibilidade de um míssil atingir um dos seis reatores nucleares
sempre apavorou moradores da região. Testemunhei isso na manhã de 26 de
abril, quando a cidade de Zaporizhzia foi bombardeada. Rapidamente se
espalharam pela região relatos de pessoas que viram mísseis de cruzeiro
sobrevoarem a usina. O pânico se espalhou pela cidade, mas não houve
danos à instalação nuclear.
Porém, relatos de explosões na usina voltaram a ocorrer em agosto.
Uma central de bombeiros e centrais de medição de radiação foram
destruídas. Rússia e Ucrânia culparam uma à outra pelos ataques.
Esses eventos começaram a ocorrer após o início de uma grande
contraofensiva ucraniana para tentar retomar parte do oblast de Kherson,
que fica cerca de 180 quilômetros a sudoeste de Enerhodar, ao longo do
rio Dnipro. Até então, os maiores combates da guerra haviam se
concentrado no norte e no leste do país.
Ao menos 20 mil combatentes russos foram redirecionados para o sul
com o objetivo de frustrar a contraofensiva ucraniana. Unidades da
artilharia russas foram então posicionadas entre os seis reatores da
usina para disparar principalmente contra a cidade de Nikopol ou contra
tropas ucranianas que tentassem cruzar o rio Dnipro. Ou seja, a usina
passou a ser usada por Moscou como uma espécie de escudo, possibilitando
que os russos disparem livremente sem ameaça de contra-ataque.
A Rússia acusou a Ucrânia de atos de terrorismo, por supostamente
disparar contra a usina. Já as autoridades ucranianas dizem ter provas
de que os russos estariam forjando falsos ataques para tentar culpar o
governo do presidente Volodymyr Zelensky por facilitar uma catástrofe.
Segundo os ucranianos, uma equipe de filmagem russa teria sido
flagrada encenando um falso ataque ucraniano. A filmagem seria usada na
guerra de informação.
Não é possível verificar por ora, de forma independente, qual é a versão correta desses fatos.
Riscos reais à usina Sabe-se que Rússia e Ucrânia combatem na
região de Zaporizhzhia principalmente usando fogos de artilharia. Eles
incluem disparos de morteiros e obuseiros (que são tipos de canhões que
disparam granadas em trajetória de parábola) e foguetes. Esses
armamentos podem destruir veículos blindados e fortificações.
Porém, todos os reatores nucleares e piscinas de material radioativo
descartado na usina de Zaporizhzhia estão protegidos sob estruturas de
concreto e aço com cerca de 1,2 metro de espessura. Elas são suficientes
para aguentar impactos acidentais de artilharia à colisão de uma
aeronave de grandes proporções.
Porém, existe a possibilidade de vazamento radioativo provocado por falhas nos sistemas de resfriamento do combustível nuclear.
A usina de Enerhodar foi construída nos anos de 1980 e usa tecnologia
do tipo VVER (reator nuclear de água pressurizada). Segundo o
engenheiro Dagoberto Lorenzetti, especialista em energia nuclear, o
sistema é parecido com a tecnologia utilizada nas usinas de Angra, no
Brasil.
“A água nesse tipo de reator é, ao mesmo tempo, elemento moderador e fluido refrigerante”, afirmou.
Isso significa que, como um elemento moderador, a água é capaz de
reduzir para níveis adequados a energia dos nêutrons que são emitidos em
cada fissão nuclear de urânio 235. Isso faz com que esses nêutrons
gerem novas reações nucleares, criando uma reação em cadeia e produzindo
energia.
Essa energia aquece um outro sistema hidráulico. Nele, a água se
transforma em vapor e movimenta uma turbina que gera eletricidade.
Além disso, a água também é usada para resfriar os reatores e uma
série de piscinas onde é colocado o combustível nuclear descartado. Todo
esse sistema de resfriamento funciona a partir de bombas alimentadas
por energia elétrica.
Cenário de desastre Segundo um relatório da ONG Greenpeace
divulgado em março deste ano, em um cenário hipotético, os combates
podem destruir os cabos elétricos que trazem energia de outras fontes
para dentro da usina nuclear. É essa energia que sustenta o
funcionamento das bombas de água da usina.
Após a divulgação do relatório, três das quatro linhas que alimentam a usina foram avariadas por bombardeios.
Assim, se a energia externa for completamente cortada, todo o sistema
de bombas de água da usina passaria a operar de forma emergencial, com
eletricidade fornecida por geradores a diesel que existem dentro do
complexo.
Na hipótese de que um grupo desses geradores falhe e não seja
substituído rapidamente, existe a possibilidade de superaquecimento de
todo o sistema.
Mesmo antes da guerra, parte desses geradores a diesel já
apresentaram problemas devido à falta de peças e manutenção, segundo uma
investigação de 2020 feita pela agência reguladora ucraniana.
Para agravar o cenário, muitos técnicos e funcionários da usina
envolvidos no processo de resposta à emergência podem ter dificuldade de
chegar ao local – devido aos combates e a restrições impostas pelas
tropas russas. Isso poderia atrasar a resposta à emergência.
Nos reatores, com a vaporização parcial ou a secagem completa da
água, a reação nuclear em cadeia se extinguiria e os equipamentos se
desligariam automaticamente. Só que, mesmo desligados, tanto os reatores
quanto as piscinas de combustível usado ainda precisam de refrigeração –
para retirar o calor gerado pelo decaimento dos produtos de fissão
nuclear.
No cenário levantado pelo estudo, se a refrigeração parar por
completo, há uma chance de fusão (meltdown) de um ou mais reatores
nucleares.
“Não teríamos uma catástrofe da dimensão de Chernobyl (1986), mas
mesmo assim poderia ocorrer um acidente de graves consequências. Esta
sequência de eventos é possível, mas pouco provável’, avaliou
Lorenzetti.
Outra possibilidade, com um pouco mais de chances de ocorrer, é um
incêndio nas piscinas de material nuclear usado, por falta de água. Esse
evento poderia causar o vazamento de material radioativo na atmosfera,
mesmo que a estrutura de proteção do reator não tenha sido comprometida.
Ou seja, a possibilidade de um acidente nuclear em Zaporizhzhia
depende da ocorrência de uma série de fatores sucessivos e não de um
evento único. Porém, o nível de estresse a que os funcionários
ucranianos da planta estão submetidos, sob o controle dos russos, pode
facilitar a ocorrência de acidentes.
A organização Greenpeace também apontou a possibilidade de alagamento
e consequente falha nos sistemas de refrigeração da usina caso diques
de contenção do rio Dnipro, nas proximidades, sejam danificados por fogo
de artilharia.
O relatório alertou ainda para um cenário de acidente nuclear de
proporções menores, no qual um disparo de arma pesada poderia levar à
destruição de parte dos 160 tonéis de concreto que armazenam combustível
nuclear usado (de menor teor radioativo) em um pátio da usina.
Diplomacia e energia
A concretização de um acidente nuclear em Zaporizhzhia não seria
positiva nem para a Ucrânia, nem para a Rússia – mesmo para fins de
propaganda de guerra. Até agora, a persistência dos combates na região
parece ser motivada pela crença, especialmente dos russos, de que a
estrutura da usina vai suportar eventuais erros de cálculo em operações
militares.
O governo ucraniano vem acusando Moscou de querer redirecionar a
produção de energia da usina de Zaporizhzhia para o território ocupado. A
Rússia nega essa possibilidade. Mas, se ela acontecer, poderia criar um
cenário de escassez de energia na Ucrânia, devido à importância da
usina.
Em tese, o país poderia ser ajudado por vizinhos, pois sua rede
elétrica foi conectada à da União Europeia no início da guerra,
exatamente para mitigar esse tipo de risco. Mas a própria Europa corre o
risco de escassez elétrica se a Rússia interromper o fornecimento de
gás natural – que é usado para alimentar muitas usinas elétricas no
continente.
Moscou comunicou na sexta-feira (19) que vai interromper o
fornecimento por três dias para supostos trabalhos de manutenção no
gasoduto Nord Stream 1.
O secretário geral da ONU, António Guterres, defendeu na semana
passada, com apoio do governo ucraniano, a criação de uma zona
desmilitarizada em Enerhodar. Mas a proposta foi rejeitada por Putin.
Por outro lado, em conversa com o presidente francês Emmanuel Macron,
o russo disse que concordaria com a entrada na usina de uma delegação
da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A visita está
prevista para setembro e será liderada pelo chefe do órgão, Rafael
Grossi.
Ele havia afirmado que qualquer nova escalada de violência na região
relacionada aos seis reatores de Zaporizhzhia “pode levar a um acidente
nuclear severo com potenciais consequências graves para a saúde humana e
o meio ambiente na Ucrânia e em outros locais”.
A ONU já conseguiu costurar um acordo para retomar a exportação de
grãos na Ucrânia e facilitar o escoamento da produção russa. A ideia era
diminuir a possibilidade de uma crise mundial de alimentos.
Agora, Guterres diz acreditar que, com negociações de bastidores,
será possível chegar a um acordo para impedir um desastre nuclear que
pode afetar grande parte da Europa e até mesmo da Rússia.
Engenheiro-agrônomo Alysson Paolinelli concorre pela segunda vez ao Prêmio Nobel da Paz| Foto: Divulgação / Redepaolinelli
Em
outubro, será conhecido o ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2022. E pelo
segundo ano consecutivo concorre o brasileiro Alysson Paolinelli, 86
anos, que recebeu 183 cartas de apoio, de 78 países, de gente ligada à
ciência, pesquisa, desenvolvimento, educação e cooperação internacional.
“Acho muito difícil imaginar, numa guerra dessa que nós estamos, que o
Brasil seja generosamente aquinhoado por um prêmio Nobel”, diz um
realista Paolinelli. Ele, no entanto, não esconde a satisfação por ser
reconhecido como o líder da chamada “revolução agrícola tropical
sustentável” que deu autossuficiência de alimentos ao Brasil e, mais do
que isso, transformou o país em potência estratégica para a segurança
alimentar mundial.
Como ministro da agricultura de Ernesto Geisel, em meados dos anos
1970, Paolinelli montou uma grande força-tarefa para tirar o Brasil da
condição de importador de alimentos básicos. Foi o mineiro do pequeno
município de Bambuí que estruturou a maior empresa de tecnologia
agropecuária do hemisfério Sul, a Embrapa, criando 26 das 42 unidades
descentralizadas. Foi ele também o mentor do Programa de Desenvolvimento
dos Cerrados (Polocentro), que enviou mais de 1.500 técnicos
brasileiros ao exterior com bolsas de estudo; ao retornarem, os jovens
cientistas ajudaram os produtores a transformar o Centro-Oeste no grande
cinturão verde da América do Sul.
Números de uma revolução agrícola no Brasil Central
Os números traduzem a conquista. Atualmente, os 1.102 municípios do
bioma Cerrado produzem 46% da soja do país, 49% do milho, 93% do algodão
e 25% do café. Na pecuária, é responsável por 32% do rebanho de
bovinos, 22% dos frangos e 22% dos suínos, segundo dados do IBGE. Com a
revolução agrícola de Paolinelli, a produção brasileira de grãos saltou
de 39,4 milhões de toneladas para 252 milhões de toneladas, entre 1975 e
2020.
Nesta entrevista à Gazeta do Povo, Alysson Paolinelli – a quem o
ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues já definiu como “o maior
brasileiro vivo” – defende a agricultura no Cerrado e lembra que o bioma
ainda detém 54% de sua vegetação nativa preservada. “Eu não acho que
deva usar todo ele (o Cerrado), mas só o que nós já antropizamos dá para
abastecer o mundo hoje, com as tecnologias já disponíveis”.
Paolinelli defende a volta da extensão rural para levar tecnologia e
renda para milhões de produtores, que ainda praticam uma agricultura
extrativista e amadora. E alerta para os modelos esquerdistas de
Venezuela, Argentina e Peru. “Não é por falta de recurso que o povo vai
passar fome. É por burrice mesmo. A ideologia leva a isso”. Confira.
Chance de aproveitar a potência biotecnológica do clima tropical
O senhor é reconhecido por seus pares no setor agropecuário, mas
também por cientistas de todo mundo, como um dos principais responsáveis
pela revolução da agricultura tropical que tirou o Brasil da condição
de importador para exportador de alimentos. Hoje está pregando uma nova
revolução no setor. Que revolução é essa?
Quem tirou o país da condição de importador de alimentos foi o
produtor, nós fizemos tudo para ele, e ele acreditou. O que eu prego não
é uma nova revolução, eu estou querendo que o Brasil dê o terceiro
salto. O primeiro foi o Borlaug que deu (Norman Borlaug, Nobel da Paz de
1970 e “pai” da Revolução Verde que evitou a morte de milhões de fome
pelo melhoramento genético de sementes), o segundo foi o Brasil, na
agricultura tropical, e agora quero que o Brasil continue com a
agricultura tropical, mas já incluindo a parte da biotecnologia, que
acho que é onde nós vamos ganhar muito. Porque o clima tropical tem
muito mais potência biotecnológica do que todas as outras regiões do
mundo. E nós precisamos aproveitar isso. O que eu defendo é usar o
máximo da tecnologia que já possuímos e esmerar agora no campo da
biotecnologia. Temos que dar o terceiro salto. É produtividade, gestão,
conservação de recursos naturais, e distribuir socialmente isso.
Segundo a Embrapa, 87% do valor da produção do agro brasileiro vêm de
500 mil propriedades. Há um universo de 4 milhões de propriedades com
renda bruta de menos de meio salário mínimo. Como atacar essa pobreza
rural que persiste?
Esse é um drama que nós temos aqui. Você tocou o dedo na ferida. Eu
alego que quem causou tudo isso foi a burrice dos governos de fechar o
sistema de extensão e assistência técnica. Não podia nunca ter fechado.
Eles ficaram com uma arma como a Embrapa, as universidades, etc, mas
agora estão até judiando delas, visto que estão sem recurso e precisavam
ter mais apoio. E não é de agora, já tem mais de 30 anos que eles vêm
dilapidando isso. A minha grande preocupação é que nós hoje estamos
perdendo muito do que já fizemos. Os próprios companheiros da Embrapa e
das universidades falam que ainda não utilizamos 50% da tecnologia que
foi desenvolvida nesses últimos 50 anos. Então, precisamos utilizar ao
máximo.
Agricultura extrativista x agricultura tecnológica Quando acabaram
com a Embrater ( Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Rural,
extinta no governo Collor) , acabaram com todos os programas que havia
para mudar a feição do produtor. No mundo inteiro existe a dicotomia:
uma agricultura tecnificada, desenvolvida, bem gerida, com boa
governança, que tem produtividade, conquista mercado e ganha dinheiro. E
tem a outra que não usa tecnologia, porque não sabe usar. Eles não
repõem o que retiram do solo. São extrativistas. E olha, não é só
pequeno produtor. Se você pegar esses 4 milhões de propriedades, quase
4,5 milhões, existe pequena, média e grande propriedade fazendo
extrativismo. Eles extraem o que o solo tem e depois mudam de posição. É
muito comum isso, em vários lugares do país. Tá errado, nós temos que
usar o solo com uma vivência permanente, tratando dele, repondo o que
dele se retira, trazendo tecnologias novas, assistência técnica e
creditícia, para poder fazer, e não ficar só na conversa.
Esse para mim é o grande drama. E olha, nós já estamos há 32 anos sem
a nossa Embrater. Muita gente nem sabe que existia. Para ter um
resultado bom, você tem que ter pesquisa inovadora, que gere riqueza
onde não tem. Segundo: você precisa transferir isso, não pode ficar só
na pesquisa. Tem que transferir a quem faz, que é o produtor. Então, na
assistência, primeiro você precisa de um grupo que te ajude a selecionar
quais são as inovações que podem dar resultado numa determinada região.
Trazer as inovações e, com o produtor, discutir como é que vai fazer
uso dessas inovações. Depois tem o crédito para financiar. Sem crédito,
ele acaba não fazendo porque não tem dinheiro, não compra semente, nem
adubo, neutralizantes, defensivos, etc. Você tira dele o poder de mudar.
Você tem que dar a ele esse poder de mudar. Agora, se ele topou mudar,
você precisa influenciar a família dele. Dar um mínimo de capacidade de
gestão.
Sabe como eu consigo verificar isso? No pote de água que se coloca na
casa do produtor, quando antes ele bebia água a correr do rego. Só esse
pote já é uma melhora. Depois você vê a eletricidade, a luz, o
telefone, a televisão, a comunicação, tudo isso. E daí vêm as melhorias
que ele precisa ter. A máquina, o modo de implantar essa inovação, o que
for preciso.
EXPEDIÇÃO
SAFRA 2019 – ARGENTINA – COLHEITA DE SOJA, DISTRITO: VICTORIA, PROV.
ENTRE RIOS. FOTO: MICHEL WILLIAN/GAZETA DO POVO – 11.04.2019
Durante o auge da safra, colheita de soja avança inclusive no período noturno| Michel Willian / Arquivo Gazeta do Povo Mudança de hábitos alimentares vai gerar empregos O
mundo vive um momento em que milhões de pessoas entraram na zona de
insegurança alimentar, devido à pandemia seguida pela guerra na Ucrânia.
Isso tem impacto apenas passageiro ou pode fomentar uma aceleração nas
mudanças da geopolítica de produção de alimentos?
Primeira coisa. Causou uma mudança de hábito alimentar bom, que para
nós é bom. Sabe por quê? Por que os que passaram pela pandemia e têm
dinheiro, eles estão mudando o hábito alimentar. Estão querendo produtos
que sejam mais naturais, mais nutritivos, menos ofensivos ao corpo
humano, à sua fisiologia. Então, tudo isso vai ser muito bom para o
Brasil. Por que esse alimento que eles estão querendo, você não faz com
máquina. Hoje você tem uma máquina que colhe o algodão por mil pessoas,
uma máquina de soja que colhe por 500 pessoas, uma plantadeira que
planta por 500 pessoas. Mas você não tem um hortifrutigranjeiro que
possa ser feito por essa máquina. Ali a mão do indivíduo, o contato, é
fundamental, é outro tipo de agricultura. Vai exigir muito mais mão de
obra do que automação. E você precisa utilizar essa mão de obra em
coisas rentáveis. E ela é rentável porque eles pagam qualquer preço que
você pede. O Sul do Brasil já está fazendo isso, de São Paulo para baixo
já se está fazendo isso. As cooperativas do Paraná todas já estão
fazendo isso com brilhantismo. Por que fazemos lá e não fazemos no
Nordeste, no norte de Minas? É porque estamos perdendo tempo, não temos
mais a Embrater.
Somos grandes exportadores de grãos. Há uma velha crítica de que
deveríamos exportar mais produtos processados do que commodities
agrícolas. Como o senhor vê essa questão?
Isso é mercado. Eu defendo naturalmente que cada vez você agregue
mais valor. Mas você só agrega mais valor o dia que o mercado favorece
para isso. Não dá para dizer: vou parar de vender soja para a China e
vou vender frango, vou vender porco. Ela não quer. Mas na medida em que
você vai demonstrando que o seu frango, o seu porco, a sua carne de boi,
etc, é mais conveniente, ela vai querer. Por quê? Primeiro, por
qualidade, segundo, por preço, terceiro, porque você tem constância de
oferta. Em função de preço, qualidade e constância de oferta, ela vai
preferir o seu. É o mercado que está oferecendo essa oportunidade, daí
você pode fazer.
Não adianta querer bater o pé e falar eu não exporto mais soja, só
vou exportar frango. Não existe isso, gente. Você pode melhorar suas
condições de produção, ser mais eficiente. Aí sim, o mercado vai te dar
essa primazia. O consumidor compra o que é melhor para ele. Se ele paga
dez reais por um quilo de frango e você chega com um frango melhor, que
custa oito, ele vai querer. É logico.
Alysson Paolinelli foi indicado pelo segundo ano consecutivo ao Prêmio Nobel da Paz| Gerhard Waller / Abramilho
O seu nome foi indicado, mais uma vez, para concorrer ao Prêmio Nobel
da Paz. É uma indicação endossada por cientistas, pela colaboração que o
senhor deu no desenvolvimento de uma agricultura tropical de alta
produtividade, produzindo alimentos em regiões antes vistas como
inaptas, como o Cerrado. É uma conquista, mas, do ponto de vista
ideológico, para alguns foi um “pecado” colocar agricultura no bioma
Cerrado. Como o senhor vê essa questão?
Isso é burrice. Você falou certo, é ideológico. Não mexe com isso
não, que é só porcaria. O ideológico não pensa, ele age. Não tem nenhum
sentido isso. Acabaram as terras boas do mundo, nós vamos passar fome?
Não tem mais as planícies centrais da Europa, nem a asiática, nem a
americana, que sustentaram o mundo por até 4 mil anos. Agora chegou a
nossa vez. Nós criamos uma nova tecnologia, uma agricultura tropical,
sustentável, altamente competitiva, e que ganhou o mercado deles.
Não é por falta de recurso que o povo vai passar fome. É por burrice
mesmo. A ideologia leva a isso. Olha o que está acontecendo na
Venezuela, Argentina, Peru e adjacências
Só o Brasil abastece o mundo. Agora você tem que lembrar que o Brasil
tem 2 milhões de km2 de bioma cerrado. A África tem 4 milhões. A Ásia
tem 1 milhão daquele estepe, que é o Cerrado, é a mesma cosia. Quer
dizer, não é por falta de recurso que o povo vai passar fome, não. É por
burrice mesmo. Eles têm é que ser racionais. A ideologia leva a isso.
Olha o que está acontecendo na Venezuela, Argentina, Peru e adjacências.
Vai vendo aí.
Nós temos ainda 54% do cerrado brasileiro sem mexer, absolutamente
virgem. Eu não acho que deva usar todo ele, mas só o que nós já
antropizamos dá para abastecer o mundo hoje, com as tecnologias
disponíveis. Especialmente esse ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-
Floresta), que, para mim é a tecnologia mais inovadora que o mundo já
fez: integrar num mesmo ano, na mesma terra, três a quatro culturas, e
tirar o maior proveito possível. Só na área tropical você faz isso. É
absolutamente impossível fazer nas regiões temperadas.
Floresta em pé tem que valer mais do que a derrubada Como vencer o desmatamento ilegal? Como virar o jogo na questão da preservação da Amazônia?
Ah, isso aí tem que botar a polícia em cima. O desmatamento ilegal.
Agora, temos que evitar aquele condicionamento de que o sujeito que não
tem renda vai derrubar a floresta, isso aí é perigoso. Vai derrubar a
floresta porque não tem renda. Ou a ciência faz a floresta em pé valer
mais do que a derrubada, ou nós temos que dar a ele uma outra forma de
renda. É o que nós estamos tentando. Através de todas as produções. Ah, a
pecuária está estragando… não é só a pecuária não. Todas as outras
produções que são malfeitas, atrapalham. Agora, se a pecuária for pelo
ILPF, ela é altamente sustentável, produz carne verde, absorve carbono
em grande quantidade e resulta no que tem de melhor. Veja que a
tecnologia muda as coisas.
O senhor acredita que o País irá receber o que merece por sua
agricultura sustentável no mercado de pagamento por créditos de carbono?
Eu não tenho dúvida, não só sobre o carbono, mas sobre a tecnologia
de um modo geral. Por que não é só o carbono. É a biotecnologia que nós
vamos desenvolver. Você vai resolver fazendo uma agricultura muito mais
natural, muito menos química. Os adubos, que são solúveis em água, foram
feitos para agricultura temperada. Tem que levar o adubo mais solúvel
possível para a plantar absorver rápido e produzir o máximo em seis
meses, e é uma lavoura só. Aqui não. Você joga o adubo com três anos de
antecedência e a planta aproveita. Olha, isso aí vai mudar muito.
Eu defendo que nós precisaremos ter um novo 1974. Pegar uma turma de
gente boa, recém-formados, doutores, que foram brilhantes, mandar para
os grandes centros biotecnológicos do mundo, para ver o que estão
fazendo. Nós já estamos na frente deles, mas é não deixar eles passarem
na frente.
“Fui um aventureiro que pensou maluquices que deram certo”
Eu fui um aventureiro que juntou um grupo de malucos pensantes, que
pensaram maluquices, mas deu certo, porque teve apoio do governo e nós
fizemos. Na época, enviamos 1.530 formados, a maioria deles foi fazer
doutorado no exterior. Foram os 100 milhões de dólares mais bem gastos
pelo Brasil. Hoje a gente paga isso aí com uns quilinhos de soja, mas na
época não.
Na época, o senhor teve um respaldo político? Porque parecia uma loucura mandar tanta gente para fora do país…
Tivemos respaldo total. Isso não foi ganho no lábio não. Tivemos que
comprovar. Eu saí da universidade, com isso em mente, vim para Minas,
trabalhei três anos aqui num programa de Cerrado. Na hora que deu certo,
daí veio todo mundo a nosso favor. Eu montei a equipe e essa equipe
comandou o processo no Brasil, de 1974 a 1979.
Aqueles 1.500 foram um exército de inovação?
Ah foi, não tenho dúvida. Eles tinham uma bolsa que era maior do que o
salário da Embrapa. Ué, mas por que você está fazendo isso? Por uma
razão muito simples. Eu quero que você esteja trabalhando lá, mas que
tenha um recurso a mais, para, num sábado ou domingo, convidar o teu
adviser para comer um churrasco, para almoçar na tua casa, fazer um fim
de semana junto. Porque eu quero que ele te conheça como pessoa, não
como uma massa detentora de conhecimento. E quero que ele conheça o que é
a agricultura tropical. Além disso, eu quero que vocês venham aqui pelo
menos 2 a 3 vezes por ano, para não se desvincularem dos trabalhos da
Embrapa. Para estarem ligados ao que estamos fazendo. Então, a definição
foi essa: ciência lá, tecnologia e inovação aqui, no bioma tropical
brasileiro. Essa foi a regra, e deu certo. Foram os 100 milhões de
dólares mais bem gastos pelo País.
Para onde eles foram enviados?
Para todos os países que eram desenvolvidos. A maioria deles para os
EUA, mas também para a Europa, Ásia, Austrália. Foram para todas as
regiões do mundo que tinham agricultura sendo trabalhada. E aqui no
Brasil também. Você tinha Piracicaba, Viçosa, Lavras, e as outras
universidades, no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, etc. Aqui
também tinha gente trabalhando.
Se o prêmio Nobel vier, será dos produtores rurais
Sobre o prêmio Nobel, eu sou muito franco. Me honrou muito, me
emocionou, porque são meus colegas que indicaram, gente que trabalha
comigo há tantos anos. Hoje a maioria deles trabalha sem receber, como
eu faço. Agora, o que é impossível é que você queira imaginar que numa
guerra dessa que nós estamos, que o Brasil vai ser generosamente
aquinhoado por um prêmio Nobel. Eu acho muito difícil. Se ganhar, vou
ser muito franco, esse prêmio é dos produtores, não é meu não.
Como o senhor gostaria de ser lembrado pelas próximas gerações? Sua biografia já está completa?
A única coisa que eu quero realmente é que essa juventude que está aí
entenda o que nós fizemos, critique, converse, discuta. Por que essa
juventude é muito mais preparada do que nós. Essa tecnologia da
informação, eles absorveram isso muito melhor. Vejo aqui em casa. Eu
vivo no computador, preso nele, lendo as notícias, o diabo a quatro. Dá
uma zebra aqui ou no meu smartphone, chamo minha neta de 11 anos. Ela
vem, dá uma olhada, com três ou quatro toques e diz “eh, vô, você não
aprende, hein?”.
Se essa juventude compreender realmente os desafios que nós passamos,
como enfrentamos, e que ela será responsável para dar esse terceiro
salto, fico muito animado com eles. Aqueles que não se contaminaram, que
querem o Brasil como quer o brasileiro, um país livre, democrático,
onde todos têm o direito de pensar, de fazer, de falar, de ouvir, esse é
o país que eu acredito.
Um reflexo do desenvolvimento de tecnologias e da globalização, veja onde a inovação digital já está sendo aplicada corretamente
A inovação digital está com tudo. Onde quer que você olhe, é provável
que enxergue ao menos um pequeno impacto causado pela mudança do que
antes era apenas analógico, seja por sua implementação nos processos
tradicionais ou pela completa substituição do antigo pelo novo.
Para entendermos exatamente o que a expressão significa, precisamos
primeiro saber o que significa digital, um termo tão comumente usado em
nosso dia a dia, mas que nem sempre paramos para pensar qual é o seu
significado.
De acordo com o dicionário Michaelis, o adjetivo denota um
dispositivo que opera exclusivamente com valores binários, enquanto o
substantivo denomina tanto um computador que opera com números ou
informações expressas por algarismos quanto um computador cujos dados
são processados por representações discretas.
Podemos fazer a comparação entre uma carta e um e-mail, em que a
primeira seria a alternativa analógica e a segunda corresponderia à
digital: ainda que o propósito seja o mesmo, a maneira de operar é
diferente. Na prática, o que é digital está relacionado à informática,
tecnologia e inovação.
O termo transformação digital também está em alta, o qual, no
contexto corporativo, trata da integração de tecnologias digitais em
todas as áreas de um negócio, mudando fundamentalmente sua forma de
operar e entregar valor aos consumidores.
Tal transformação, porém, não se relaciona apenas ao uso das
tecnologias digitais mas também a mudanças culturais nas empresas. Elas
precisam desafiar constantemente sua realidade atual, fazer testes e
perceber que as falhas fazem parte do processo.
Confira quais são esses segmentos e como o digital está impactando
sua forma de lidar com o tradicional, em uma mudança que traz seus
desafios, é verdade, mas também – e principalmente – seus louros.
Quais são os principais setores que implementaram a inovação digital?
Para os seis primeiros da lista, os setores e algumas informações
serão retirados do e-book “Which are The Most Digital Industries And
Why?”, do Digital Marketing Institute (DMI). Além disso, trouxemos
estatísticas, estimativas e números de outras fontes, tendo os outros
setores sido escolhidos por diferentes pesquisas. Confira:
1 – Serviços financeiros
De acordo com o e-book do DMI, os níveis de habilidades digitais para
o setor de serviços financeiros é de 38% na Irlanda, 33% no Reino Unido
e 46% nos Estados Unidos, o que mostra como sua relação é intensa neste
sentido.
Um dos grandes destaques em relação ao setor é o avanço no uso dos
dispositivos móveis, cuja adoção está em franca ascensão. O mobile
banking, inclusive, já está definitivamente entre as principais
tecnologias para as instituições financeiras, com os clientes fazendo
seus serviços através de aplicativos.
Em relação à transformação digital, os serviços financeiros ainda
ficam atrás de outros setores pelo fato de que muito de sua documentação
é baseada em papéis. Além disso, seus funis de vendas também costumam
ser padronizados, e não personalizados.
2 – Hospitalidade e lazer
O relacionamento com os clientes é essencial para este setor, já que
avaliações e notas de usuários interferem diretamente nas decisões
tomadas por outros. Portanto, os dados são parte fundamental de seu
funcionamento, bem como as análises e a personalização dos conteúdos.
Algumas tendências que podem surgir e ganhar cada vez mais força são
os “test-drives” dos quartos e estabelecimentos através da realidade
virtual, como em tours 360º, o que traz uma experiência imersiva e
fidedigna aos consumidores.
As reservas de quartos pela internet são outra grande força da
inovação digital, que permite aos usuários escolherem tudo o que
precisam no conforto de suas casas ou onde estiverem.
Até mesmo check-ins virtuais já são uma realidade, com boa parte do
processo sendo realizada por e-mail, com alguns dias de antecedência.
Então, no dia do check-in, os clientes podem se dirigir a um tablet para
assinar digitalmente o consentimento da estadia, sem precisarem de
atendimento humano.
Outra tendência que está em forte ascensão é a reserva através de
sites terceiros ao invés dos próprios hotéis, em serviços como Expedia e
Hoteis.com, além de plataformas como o Airbnb, que reduzem
significativamente os preços para os usuários.
3 – Tecnologia
Ao falar sobre inovação digital, podemos comentar sobre mídias
sociais, dispositivos móveis, análise de dados, computação na nuvem,
internet das coisas (IoT), cibersegurança, Big Data, realidade virtual
(VR) e realidade aumentada (AR), os quais exibem curvas ascendentes de
adoção e de movimentação financeira.
Se a transformação digital é essencial, aqui ela assume praticamente
um papel mandatório, pois uma empresa de tecnologia que não se preocupa
com as inovações digitais quase que certamente tem seus dias contados.
4 – Alimentos e bebidas
O faturamento do setor de alimentos e bebidas é estimado a atingir
US$ 76,647 bilhões em 2020, de acordo com o portal Statista. Em uma área
que movimenta cifras tão elevadas, a inovação digital também se coloca
em uma posição de grande importância.
Um destaque fica para as plataformas digitais de comunicação, usadas
para aumentar o reconhecimento da marca e também para criar novas
oportunidades de negócio, especialmente para mobile e em mídias sociais.
Com temas como a veiculação de anúncios para crianças e a obesidade
ganhando tanta relevância em nossa sociedade, tornou-se necessário
pensar em uma aproximação diferente com o público, o que fica bem mais
fácil através das plataformas digitais.
O portal Statista divulgou que há aproximadamente 4,54 bilhões de
usuários de internet ativos em todo o mundo, o que mostra como a
comunicação digital é uma estratégia de transformação digital nas
empresas com grandes chances de dar certo.
5 – Educação
O cenário da educação está se tornando bastante competitivo,
especialmente no ensino superior, com as instituições querendo atrair
mais pessoas. Como elas perceberam que os alunos também são clientes que
precisam de engajamento, a experiência do usuário ganhou um grande
destaque.
De acordo com a QS, ao pesquisar por uma instituição de ensino
superior, 63% dos alunos dizem que ter um website é essencial para sua
decisão, enquanto as mídias sociais são um pouco ou muito importantes
para 66% deles. Por ser uma pesquisa de 2015, os números devem ser ainda
maiores agora.
Com tantas pessoas conectadas, como vimos anteriormente, uma
aproximação multicanal, com uma presença relevante tanto no “mundo
físico” quanto virtual, é determinante para que os alunos possam decidir
onde desejam estudar e, assim, movimentar o mercado de educação.
6 – Varejo
De acordo com a Forrester, metade de todas as vendas do varejo nos
Estados Unidos são impactadas por meios digitais. Como se o número já
não fosse grande, estima-se que ele suba para 58% até 2023, o que mostra
como a inovação digital é imprescindível neste setor.
A previsão foi feita de acordo com dados históricos desde 2004 sobre
as vendas influenciadas pelo digital em 30 categorias do varejo,
mostrando qual é a porcentagem de vendas “offline” que foram
influenciadas por resultados de pesquisa em celulares.
Este é apenas um dos indicativos que comprovam a transformação
digital no varejo, segmento este que movimentou US$ 23,96 trilhões em
todo o mundo em 2018, de acordo com o portal Statista, valor estimado a
atingir US$ 29,76 trilhões em 2023.
As vendas no varejo tendem naturalmente a crescer, e o auxílio do
digital certamente será essencial para que os números sejam ainda mais
significativos.
7 – Inovação na Construção civil
Nós comentamos bastante sobre o tema em nosso artigo sobre inovação
na construção civil. Ele mostrou bem como o digital está influenciando
diretamente na área, com uso de robôs, drones, aplicação de inteligência
artificial, cidades inteligentes, impressão 3D e por aí vai.
A área, que voltou a crescer no Brasil depois de 20 trimestres
consecutivos de queda, tem muito a se aproveitar da inovação digital,
resultando em entregas mais rápidas e confiáveis aos clientes, além da
possibilidade de economizar em mão de obra e matéria prima.
8 – Inovação para Indústria
O conceito de indústria 4.0 é perfeito para demonstrar como a
inovação tecnológica chegou às fábricas, em um movimento que tende a
crescer cada vez mais daqui em diante.
Este é o nome dado a uma grande revolução nas indústrias, em que ela
não apenas é automatizada, mas sim interconectada dentro de um sistema
que permite observar o andamento de todos os seus processos em tempo
real e, assim, tomar decisões rápidas e efetivas.
A indústria 4.0 se baseia fortemente na Internet das Coisas, em que
muitas coisas que estão ao nosso redor podem ser conectadas, não apenas
os dispositivos eletrônicos. Assim, quando uma máquina para de
funcionar, é possível saber disso imediatamente e providenciar as
manutenções o quanto antes.
Um estudo da MarketsandMarkets estimou que o valor de mercado da
indústria 4.0 fosse de US$ 71,7 bilhões em 2019 e que ele deve subir
para US$ 156,6 bilhões em 2024, com uma taxa de crescimento anual
composta (CAGR) de 16,9% entre 2019 e 2024, uma prova de quão promissor é
este setor que, na verdade, já é realidade.
9 – Inovação na Saúde
Para finalizar a lista, trazemos o setor da saúde, em que a inovação
digital é capaz de mexer ainda mais diretamente com as nossas vidas – de
forma literal.
Impressão de órgãos, inteligência artificial, dispositivos
“vestíveis” (wearables) que ajudam no monitoramento da saúde e Big Data
são algumas das inovações mais disruptivas dessa área, o que fará com
que os cuidados com a saúde e a relação entre médicos e pacientes seja
totalmente diferente daqui em diante.
Em nosso e-book sobre “HealthTech: como a tecnologia está
revolucionando a Saúde e a Medicina”, abordamos a questão com riqueza de
detalhes, mostrando como nossa saúde será impactada, com grandes
benefícios que, até alguns anos, pareciam inovações distantes de filmes
futuristas, mas que hoje são realidade.
A transformação digital nas empresas que querem se manter no topo é
questão de tempo. Quem não se movimentar neste sentido tende a perder
cada vez mais espaço no mercado, o que pode ser irreversível.
Se você já trilha o caminho da inovação digital, continue assim, e se
ainda não o faz, não perca mais nenhum minuto. A oportunidade de poder
ser considerado como um negócio inovador, disruptivo e relevante para os
interesses do público está em suas mãos.
A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma Plataforma
Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um
forte relacionamento com a tecnologia.
Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito
inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades
do mercado.
Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no
modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o
mercado já oferece para se destacar ainda mais.
Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma
ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a
inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a
concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas
funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até
mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo
ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.
A inovação é
a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções
criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas
pelo mercado.
Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode
moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é
colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn
possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o
seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e
reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a
experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende
as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A
ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio,
também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para
ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser.
Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem
a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos
potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar
empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de
escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente e corregedor do TRE
(Tribunal Regional Eleitoral) do Distrito Federal, Sebastião Coelho da
Silva, anunciou aposentadoria nesta sexta-feira (19), durante a sessão
do plenário, afirmando que a atitude era uma reação à sua insatisfação
com o Supremo Tribunal Federal e com o discurso de posse de Alexandre de
Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). |…
Coelho da Silva, que também é desembargador do Tribunal de Justiça,
disse que Moraes fez uma “declaração de guerra ao país” em sua fala
diante do presidente Jair Bolsonaro (PL) e os ex-presidentes da
República, em vez de promover uma fala de conciliação.
“Estou nesse tribunal há 30 anos, 1 meses e 8 dias”, disse Coelho da Silva, comunicando em seguida a aposentadoria.
“Vão me perguntar: ‘Por que você vai se aposentar, Sebastião Coelho
da Silva’? E eu respondo: sr. presidente, colegas, eu há muito tempo, e
eu não posso falar outra palavra, preciso tomar cuidado com elas, há
muito tempo não estou feliz com o Supremo Tribunal Federal.”
Mais adiante, o vice-presidente e corregedor do TRE-DF disse que
esteve na posse de Moraes e afirmou que esperava que o novo presidente
do TSE aproveitasse a presença dos ex-presidentes da República, dos
principais candidatos e de Bolsonaro “para fazer um conclamação de paz
para a nação”.
“Mas, ao contrário, o que eu vi, ao meu sentir, o eminente ministro
Alexandre de Moraes fez uma declaração de guerra ao país. O seu discurso
é um discurso que inflama, é um discurso que não agrega, e eu não quero
participar disso.”
O desembargador afirmou que irá, em seus últimos dias de atividade,
cumprir as leis, mas não “discurso de ministro, seja ele em posse, seja
em Twitter, seja ele em redes sociais”.
O novo presidente do TSE disse que não iria se manifestar sobre o episódio.
O sistema eletrônico de votação foi exaltado e ovacionado na posse de
Moraes como presidente do TSE. Os longos aplausos a um trecho do
discurso de Moraes ocorreram em frente a Bolsonaro, que costuma atacar
as urnas eletrônicas e insinuar que a corte pretende fraudar as eleições
deste ano para lhe derrotar.
Moraes fez um discurso com diversos recados ao chefe do Executivo,
que participou da cerimônia e ficou frente a frente com o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), rival na disputa deste ano.
“Somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados
eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e
transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, disse Moraes,
enquanto Bolsonaro se manteve sério, sem aplaudir.
Em outro trecho, o novo presidente do TSE afirmou que a liberdade de expressão não é igual a liberdade de agressão.
“Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, não é liberdade
de destruição da democracia, das instituições, da dignidade e da honra
alheias. Não é liberdade de propagação de discursos de ódio e
preconceituosos”, declarou o novo presidente do TSE.
Moraes agradeceu a presença de Bolsonaro na solenidade e disse que a
cerimônia “simboliza o respeito às instituições como único caminho para
fortalecimento” do Brasil.
“A Justiça Eleitoral não poderia comemorar melhor e de forma mais
honrosa seus 90 anos de instalação, com presença nessa cerimônia do
nosso chefe de Estado e de governo, presidente Jair Bolsonaro,
presidente do Congresso, senador [Rodrigo] Pacheco, presidente da
Câmara, Arthur Lira, do nosso presidente do STF e chefe maior do
Judiciário e orgulho de todos os magistrados, Luiz Fux, bem como
ex-presidentes da República.”
Ex-presidente e candidato do PT, Lula acusou Lava Jato de “destruir” a Braskem com “mentiras”.| Foto: EFE/Fernando Bizerra
O ex-presidente, ex-presidiário, ex-condenado e candidato à
Presidência da República Lula continua empenhado em reescrever o passado
recente do Brasil no grito. Duas afirmações recentes são a mais nova
tentativa de recontar a história da Operação Lava Jato e do impeachment
de Dilma Rousseff. No primeiro caso, Lula quer transformar a mais bem
sucedida operação de combate à corrupção já ocorrida no país – ao menos
até os processos chegarem ao Supremo Tribunal Federal – em uma trama de
juízes e procuradores para prejudicar o PT e a indústria nacional; no
segundo caso, o petista quer transformar uma justa punição a uma
presidente que brincou com o orçamento em uma vingança de ricos
inconformados.
“Eu sonhava que o Brasil tivesse a terceira maior indústria
petroquímica do mundo e queria que a Braskem fosse essa grande empresa.
Apareceu a Lava Jato para destruir a Braskem. Em nome de quem? De um
fedelho chamado Dallagnol, que encheu a cabeça de vocês de mentira, que
conseguiu criar um mundo de mentiras”, afirmou Lula na Fiesp, em 9 de
agosto, pretendo encher de mentiras a cabeça daqueles que o ouviam na
ocasião. Afinal, as delações premiadas de executivos da Odebrecht e da
Braskem, o acordo de leniência assinado pela petroquímica e o conjunto
probatório levantado pela Lava Jato mostrou bem como é que Lula quis
fazer da Braskem uma “grande empresa”.
As histórias da “Lava Jato destruidora de empresas” e do “impeachment
como vingança da elite” não resistem à exposição pura e simples da
verdade, mas Lula e o petismo insistem nelas, na esperança de fazer
colar a mentira à base da repetição incessante
Os próprios Emílio Odebrecht e Pedro Novis – que comandaram a
Odebrecht, dona da Braskem, entre 1991 e 2009 – explicaram
detalhadamente à Lava Jato como Lula, uma vez eleito presidente, passou a
tomar várias decisões favoráveis à Braskem como “agradecimento” pelo
apoio financeiro dado às campanhas de 2002 e 2006, a ponto de os
interesses da empresa terem sido colocados à frente dos da estatal
Petrobras. A petroquímica, em seu acordo de leniência com a
Advocacia-Geral da União e a Controladoria-Geral da União (CGU),
concordou em devolver R$ 2,8 bilhões referentes a “pagamentos de dano,
enriquecimento ilícito e multa no âmbito de contratos fraudulentos
envolvendo recursos públicos federais e de edição de atos normativos
produzidos a partir de pagamentos de vantagens indevidas”. José Carlos
Grubisch, ex-presidente da Braskem, se declarou culpado diante de um
tribunal norte-americano e foi condenado a prisão e multa em outubro do
ano passado; ele admitiu ter desviado US$ 250 milhões para pagar suborno
a partidos políticos e funcionários públicos no Brasil. Mas tudo isso,
para Lula, não passa de “mentiras” produzidas por Dallagnol.
A arrogância de quem depredou o Brasil e jamais terá de pagar por
isso novamente teve sua sequência no primeiro comício de Lula, uma vez
aberto o prazo para a campanha eleitoral de 2022. Em Belo Horizonte,
nesta quinta-feira, dia 18, o petista disse que “Vocês deram o golpe na
Dilma porque a empregada doméstica tinha carteira assinada, porque os
adolescentes [pobres] estavam nas universidades”, em referência à PEC
das Domésticas, aprovada pela Câmara em 2012 e pelo Senado em 2013, e ao
ProUni, criado em 2005. O petista, obviamente, não menciona que a PEC
das Domésticas nem foi proposta pelo seu partido, mas por um parlamentar
do então PMDB, e passou pelo Congresso com apoio de todos os partidos,
inclusive os de oposição ao governo Dilma.
E o principal: Lula esconde que Dilma sofreu o impeachment por ter
cometido uma série de crimes de responsabilidade, maquiando o orçamento,
atrasando repasses e retendo valores destinados à Caixa, ao FGTS e ao
BNDES, editando decretos de abertura de crédito suplementar sem
autorização – todos atos que violavam a lei orçamentária e se encaixavam
à perfeição na legislação que define as práticas que devem ser punidas
com a cassação do mandato. Que Dilma tenha levado o Brasil à pior
recessão da história e fosse conhecida por sua dificuldade em trabalhar
com o Congresso pouco importa: o impeachment não foi uma orquestração
política destinada a remover uma gestora inocente, mas a correta
aplicação da Constituição contra quem transformou orçamentos em peças de
ficção, enganando todo um país sobre a situação das contas públicas.
Nenhum dos temas de Lula é novo: a Lava Jato ainda estava em curso
quando o petismo começou a afirmar que as investigações estavam
“destruindo a indústria nacional”, e houve até quem tivesse
responsabilizado a operação pelas quedas no PIB. Da mesma forma,
praticamente desde o início de seu governo o ex-presidente dizia ser
perseguido pela elite por “feitos” como permitir aos pobres viajar de
avião – como se empresários não vissem com bons olhos a ascensão social
de dezenas de milhões de brasileiros, que se tornariam consumidores dos
bens e serviços que oferecem. Ambas as histórias não resistem à
exposição pura e simples da verdade, mas Lula e o petismo insistem
nelas, na esperança de fazer colar a mentira à base da repetição
incessante – e o fato de infelizmente tais narrativas serem aceitas por
parte da sociedade deixaria Joseph Goebbels orgulhoso.
O que Lula segue espalhando é uma total inversão de valores, na qual
quem “destrói” empresas não são os corruptores e corruptos, mas aqueles
que investigam os crimes cometidos; e na qual uma presidente perde seu
mandato não por irregularidades reais, mas por mera sede de vingança.
Bandidos e maquiadores de orçamento se transformam em vítimas inocentes,
enquanto aqueles que fizeram justiça, seja investigando e punindo os
ladrões do petrolão, seja aplicando a Constituição e cassando Dilma, se
tornam os vilões. É o império da mentira, que o petismo pretende elevar a
política de Estado caso tenha sucesso em outubro.
Opressão sandinista Por Gazeta do Povo e Agência EFE
Bispo de Matagalpa, preso nesta sexta-feira (19), entrou na mira
do ditador Daniel Ortega ao pedir pela democratização da Nicarágua|
Foto: EFE/Jorge Torres
Rolando José Álvarez Lagos, 55 anos, já
era um símbolo da resistência da Igreja Católica e da sociedade da
Nicarágua contra a ditadura sandinista.
Nesta sexta-feira (19), essa simbologia ganhou ainda mais força: após
muitas hostilidades por parte do regime do ditador Daniel Ortega,
Álvarez e outras sete pessoas foram presos pelas autoridades
nicaraguenses na sede episcopal de Matagalpa, no centro-oeste do país.
Ortega considera que bispos e padres apoiaram manifestações que
pediram sua saída em 2018, protestos que foram reprimidos com extrema
violência, resultando em mais de 300 mortes.
Neste ano, o ritmo da perseguição contra a Igreja aumentou: antes da
prisão de Álvarez, o regime sandinista havia expulsado do país o núncio
apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag, prendido três padres, fechado
oito emissoras de rádio católicas, retirado três canais católicos da
programação da televisão por assinatura e invadido uma paróquia, de onde
foram expulsas 16 freiras missionárias da ordem Madre Teresa de
Calcutá.
A irmã mais velha de Álvarez, Vilma, relatou à revista Magazine, do
jornal La Prensa, que seu irmão, nascido na capital Manágua, mostrou
vocação para o sacerdócio desde cedo: criança, ele reunia a família em
casa para celebrar a missa e chamava a si mesmo de padre Miguel.
Ainda de acordo com o relato de Vilma, Álvarez se recusou a cumprir o
serviço militar obrigatório da ditadura sandinista na década de 1980.
Chegou a ser preso “duas ou três vezes” e a casa da família foi
revistada. Para fugir da perseguição, viveu um tempo como refugiado na
Guatemala.
Álvarez teve uma namorada e chegou a cogitar casamento, mas o chamado
da Igreja foi mais forte: em dezembro de 1994, aos 28 anos, foi
ordenado sacerdote na Catedral de Manágua. Em 2011, assumiu a Diocese de
Matagalpa.
O bispo entrou na mira da ditadura sandinista em 2018, quando a
Igreja tentou intermediar o diálogo entre Ortega e oposicionistas. À
época, Álvarez afirmou que não havia “outro caminho” a não ser “a
democratização da República da Nicarágua”.
Sua posição como liderança social contra a repressão ganhou força
este ano: em maio, Álvarez denunciou a perseguição contra a Igreja e
anunciou que faria um jejum por tempo indeterminado em protesto.
No início de agosto, quando o bispo denunciou que havia sido retido
na sua cúria por forças policiais sem saber o motivo, juntamente com
seis sacerdotes e seis leigos, uma cena emblemática: após policiais
impedirem a entrada de paroquianos e dos assistentes de Álvarez na
diocese para receber a eucaristia, o monsenhor se ajoelhou na calçada e
levantou as mãos para o céu, uma imagem que viralizou nas redes sociais.
Quando o chefe da polícia departamental de Matagalpa, Sergio
Gutiérrez, pediu ao bispo para cooperar, Álvarez respondeu: “Quem não
coopera é você”.
“A polícia diz que somos nós que causamos tumulto. Mas foram eles que
cercaram a rua da cúria, são eles que estão à porta da minha casa e não
deixam as pessoas entrar”, declarou.
Nesta sexta-feira, ocorreram a prisão de fato e a transferência para
Manágua, sob a acusação de que Álvarez teria tentado “organizar grupos
violentos”, alegadamente “com o objetivo de desestabilizar o Estado
nicaraguense e atacar as autoridades constitucionais”, sem que nenhuma
prova fosse apresentada.
Quando foi retido na cúria, o bispo já havia manifestado que o seu
protesto não admitia ódio contra os opressores: ele rezou “também por
aqueles que nos mantêm retidos, continuamos pedindo ao Senhor que
abençoe suas vidas, seus casamentos, suas famílias, seus empregos, que o
Senhor abençoe sua comida, seus passos”.
Porém, também pediu aos fiéis católicos que “mantenham viva a
esperança, permaneçam fortes no amor e vivam na liberdade dos filhos de
Deus, sabendo que o Senhor cumprirá sua palavra: o Senhor restaurará a
Nicarágua”.
Vídeo mostra o momento em que o youtuber se aproxima de Bolsonaro, na quinta-feira (18)| Foto: Reprodução/G1
Um
youtuber ultrapassou a segurança e promoveu um barraco no Palácio da
Alvorada. Com celular em riste, filmou a si próprio chamando o
presidente de tchutchuca do Centrão, de vagabundo etc. e dizendo que ele
não tinha coragem de conversar consigo. O primeiro destes xingamentos
foi cunhado por Zeca Dirceu e, depois, requentado por André Marinho. Foi
assim: em 2019, durante uma audiência pública com Paulo Guedes sobre a
reforma da previdência, o filho de Zé Dirceu, deputado federal pelo
Paraná, disse ao ministro que ele tinha “uma obrigação conosco, e com o
povo brasileiro”, de responder a suas perguntas “muito objetivas” por
cumprir “uma função pública”. Eis um dos “questionamentos”: “O senhor é
tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de
necessidades. O senhor é tigrão quando é com os agricultores, os
professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada
do nosso país.” E seguiu com um sermãozinho, dizendo que Guedes tinha
que pedir desculpas, até ser interrompido pelo ancião, que esbravejou:
“Eu não vim aqui para ser desrespeitado, não. Tchutchuca é a mãe, é a
avó, respeita as pessoas. Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita.
Se você não me respeita, não merece meu respeito.”
De minha parte, acho difícil pensar em postura mais antipática do que
a de Zeca Dirceu nesse episódio. Seria bom que fosse o símbolo de uma
fase do Brasil deixada para trás, junto com o petismo: uma fase em que
os arrogantes, do alto de sua enorme importância autoatribuída, se
sentiam no direito de pisar e desrespeitar qualquer autoridade que lhes
fosse contrária.
A escalada da arrogância Mas, ao que parece, era uma percepção
subjetiva minha – ou, ao menos, uma percepção comum na população geral,
porém incomum entre os letrados. Pois não demorou muito para que André
Marinho, que não era nenhum petista e cujo pai é suplente de Flávio
Bolsonaro no Senado, achasse muito boa a ideia de usar a dicotomia
tchutchuca/tigrão para ofender um ancião: em entrevista com Bolsonaro,
chamou-o de tchutchuca com o STF e tigrão com humorista (o próprio
Marinho). Senti a mesma aversão que o petista me causou, mas a bolha
antipetista achou bonito.
Entre o episódio de 2019 protagonizado por Zeca Dirceu e o de 2021,
protagonizado por Marinho, perdeu-se algo: Paulo Guedes devia
explicações ao deputado por ele alegadamente falar em nome do povo
brasileiro – o que é inflar muito a sua condição de representante
petista dos paranaenses, mas ao menos ele de fato foi eleito por uma
diminuta parcela do povo brasileiro para representá-la. Com André
Marinho, a coisa evoluiu: ele se investe como Voz da Razão ou coisa do
gênero. Na precária condição de comediante que diz “verdades incômodas”
sem decoro, acreditava que Bolsonaro deveria dar a ele o mesmo
tratamento que dado ao STF, que é o tigrão de todos nós.
VEJA TAMBÉM: “Gado demais”: quem quiser envenenar uma sociedade terá mais chances se envenenar as mulheres Democracias não existem sem que o povo tenha liberdade para proibir O
youtuber segue na mesma linha de André Marinho e repete as acusações
usuais feitas por aqueles ex-bolsonaristas que se pretendem
ideologicamente puros: Bolsonaro se aliou ao Centrão; Bolsonaro acabou
com a Lava Jato etc. Depois se descobre que o próprio youtuber se filiou
ao União Brasil, um partido do Centrão por excelência, para tentar sair
candidato a deputado federal nesta eleição e defender os interesses dos
militares. Em outras palavras, ele tentou seguir o mesmo percurso que
Bolsonaro, falhou, e se pôs de palmatória do mundo. Investido por qual
autoridade, mesmo?
Ora, a dos incapazes de fracassar.
Sem fazer nada, não se fracassa Já expliquei a minha teoria de que
a mania da sinalização de virtude era uma doença de nichos letrados de
esquerda que se alastrou, durante a pandemia, para nichos letrados
antipetistas (que se tornaram ao mesmo tempo antibolsonaristas, sem
serem pró-nada). Também creio que essa compulsão é um sintoma de vida
vazia, na qual as pessoas perderam a capacidade de entender o que é ser
bom e passaram a trabalhar com uma dicotomia maniqueísta para dar
sentido à vida. Essa gente descobre o que é preciso fazer para estar no
time dos bons contra os maus e logo se adéqua. O jogo só é possível com
um papel de vilão bem definido, porque, como não têm luz própria,
precisam de maus para parecerem bons. Todo o jogo acontece só com a
garganta (ou os dedos). Ninguém faz nada de útil; só sinaliza virtude.
Vamos às acusações corriqueiras feitas a Bolsonaro. Todo o mundo que
esteja minimamente interessado em resolver problemas sabe que as verbas
de gabinete são um convite à corrupção miúda (bem diferente da do
Mensalão); que o sistema partidário e eleitoral é todo atravancado; que
não é possível governar sem os votos do Centrão. Quem quiser posar de
puro ficará sem partido, e, portanto, como não é possível haver
candidaturas avulsas, sequer ingressará na vida política. Restará ficar
no banco de reservas da vida política, só palpitando.
Na esquerda, ouvíamos a mesma cantilena na boca da intelectualidade
durante os governos petistas: o militante do obscuro PSTU, sim, era
esquerda de verdade e defendia o proletariado. Lula e Dilma tinham se
dobrado ao Congresso, que é conservador, homofóbico, machista etc. Ao
que os governistas retrucavam: é claro que “se dobraram” ao Congresso.
Como governar sem ele? Dando um golpe? Repetindo o Mensalão? Hoje a
mesma cantilena é repetida por autodeclarados conservadores, trocando-se
a palavra “Congresso” por “Centrão”.
O jeito mais fácil de não ser criticado é não fazer nada. Tanto o
militante do PSTU quanto o youtuber conservador-de-verdade poderão
acalentar a ideia de que, se o mundo fosse justo e reconhecesse seus
dotes, aí sim eles fariam tudo muito melhor.
A encarnação da fantasia No entanto, existe uma figura política
nos dias de hoje com o qual esses tipos folgados podem se identificar.
Quem não tem filiação partidária, não se sujeita à opinião do populacho,
nem precisa de Congresso para fazer valer a sua vontade? Quem pode se
gabar de prescindir de popularidade, mas mandar mesmo assim? Os
ministros do Supremo Tribunal Federal. Podemos dizer que eles encarnam a
fantasia do sinalizador de virtude metido a intelectual.
E que essa mania tenha se alastrado, a própria reação da imprensa e
dos letrados ajuda a evidenciar. Quando um moleque arrogante xinga a
autoridade eleita por milhões de brasileiros, isso não é tratado como
crime de desacato sequer pelo presidente, que ao cabo se dedicou a
responder ao youtuber. Por outro lado, sabemos muito bem que tal coisa
jamais aconteceria a um ministro do Supremo, já que eles, sim, podem
botar quem quiserem na cadeia, a despeito do que diga a lei. Lewandowski
nem é dos piores; no entanto, para compará-lo a Bolsonaro, lembremos
como ele agira quando um passageiro de avião sacara o celular e lhe
dissera – sem o xingar pessoalmente – que o STF o envergonha. O
passageiro foi detido. O episódio ocorreu em 2018, antes de o Inquérito
do Fim do Mundo desencorajar críticas.
Sabemos ainda que toda expressão de reprovação aos ministros do STF é
prontamente recebida como um “ataque à democracia e às instituições”.
Não obstante, os ataques reiterados à pessoa de Bolsonaro – ataques que
incluem uma facada – não são considerados ataques à democracia. Muito
pelo contrário: atacar o líder democraticamente eleito que segue
popular, capaz de mobilizar multidões nas ruas, é considerado requisito
necessário para entrar no chique clube dos verdadeiros defensores da
democracia.
Os letrados estão loucos. Mas não é de surpreender; afinal, era mesmo
de se esperar que a clausura em panelinhas causasse a perda de noção da
realidade. E quanto à incoerência lógica, dá para mascará-la com um
discurso enlatado pró criminalização de fake news ou anti-populismo.
Se há povo, eles são contra. É preciso colocá-lo no lugar de vilão para eles, que não têm substância, se sentirem superiores.