domingo, 21 de agosto de 2022

NOMES IDEOLÓGICOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS

Educação
Por
Gabriel de Arruda, especial para a Gazeta do Povo


Escola municipal com o nome do educador Paulo Freire em Salvador (BA).| Foto: Reprodução

Existem muitas maneiras de se medir a influência intelectual de uma figura pública. No campo da educação, uma delas é olhar para os nomes escolhidos para batizar as escolas país afora.

Por este critério, ninguém ultrapassa Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido e ícone da esquerda universitária tanto quanto anátema entre os conservadores, que enxergam nele boa parte da responsabilidade pela baixa qualidade da educação no Brasil.

Em um levantamento exclusivo feito pela Gazeta do Povo na base de dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o autor de Pedagogia do Oprimido surge em primeiro lugar entre 60 figuras históricas brasileiras. São 346 escolas com o nome de Freire – uma a mais do que as 345 batizadas como Rui Barbosa. A pesquisa levou em conta grafias alternativas como “Ruy Barbosa” e variações como “Paulo Reglus Neves Freire”, nome completo do primeiro colocado.

A lista dos dez nomes mais comuns também inclui Tancredo Neves (322 escolas), Monteiro Lobato (319), Tiradentes (276), Getúlio Vargas (232), Dom Pedro I (174), Dom Pedro II (165), Santos Dumont (147) e Cecília Meireles (145).

Como a base de dados inclui escolas municipais e estaduais, a escolha se dá por formas variadas: decisão da prefeitura, votação da Câmara de Vereadores ou deliberação da comunidade escolar. Ou seja: a profusão de escolas com o nome de Paulo Freire não resulta da imposição de um órgão centralizado, como o Ministério da Educação. É, em vez disto, um sinal de quão influente o pedagogo se tornou no establishment educacional do país.

A liderança de Freire é ainda mais impressionante porque ele morreu em 1997, há muito menos tempo do que os outros nomes no topo da lista. Rui Barbosa, por exemplo, morreu em 1923. Como a regra é homenagear apenas aqueles já falecidos (embora haja exceções), houve bem menos tempo para homenagear Freire do que Monteiro Lobato, Dom Pedro II ou Santos Dumont.

Outros nomes, menos cotados, também são reveladores. O Brasil tem onze escolas públicas batizadas com o nome do guerrilheiro comunista Ernesto Che Guevara (11), muito mais do que o ex-presidente Itamar Franco (6) e o escritor José Lins do Rego (7). O guerrilheiro Carlos Marighella foi o homenageado em quatro escolas. Olga Benario (18) é mais popular do que Tom Jobim (14).

Em uma lista repleta de políticos, uma presença curiosa é a de Ayrton Senna (70), que aparece à frente de Deodoro da Fonseca (52), Zumbi dos Palmares (41) e Floriano Peixoto (40).

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é nome de seis escolas. A ex-primeira-dama Marisa Letícia, que morreu em 2017, dá nome a quatro. Dona Lindu, mãe de Lula, a duas.

O presidente Jair Bolsonaro não é nome de escola, mas o pai dele sim: inaugurada em 2018, uma unidade de ensino gerenciada pela Polícia Militar em Duque de Caxias (RJ) recebeu o nome de Percy Geraldo Bolsonaro.

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Fernando Collor têm, cada um, uma escola com o seu nome. Dilma Rousseff e Michel Temer não aparecem na lista.

Dentre os vivos, ninguém supera José Sarney, são: 42 unidades de ensino, das quais 32 estão no Maranhão. Aliás, o sobrenome Sarney aparece em 95 escolas do país (83 delas no Maranhão). A maior parte homenageia pessoas em vida, como Roseana Sarney (filha do ex-presidente) e Marly Sarney (a esposa dele).

Opção ideológica
Para Jean-Marie Lambert, professor aposentado da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, a popularidade de Paulo Freire tem mais a ver com as inclinações ideológicas dele do que com a originalidade de seu trabalho. “O Paulo Freire, chamado de pai da educação brasileira, na realidade é o pai da colonização educacional brasileira. Ele simplesmente importou uma forma de pensar a educação concebida pelo John Dewey, um autor marxista americano”, afirma ele.

Isso também explicaria por que Freire é tão popular nos Estados Unidos, onde ele é um dos autores mais citados em trabalhos acadêmicos na área da Pedagogia. Lambert diz que Freire foi hábil em “pegar carona” nas correntes progressistas americanas. “Quando você fala o que eles querem ouvir, ganha a admiração deles”, afirma.

Recentemente, a Gazeta do Povo mostrou que Lucas do Rio Verde (MT), cidade com cerca de 100.000 habitantes que é uma das capitais do agronegócio no Brasil, moradores organizaram um abaixo-assinado para que o nome de Freire seja removido de uma escola municipal. A ideia é levar a proposta à Câmara de Vereadores quando a meta de 2.500 assinaturas for atingida.

Se a iniciativa for bem-sucedida, Paulo Freire dividirá o primeiro lugar do ranking de maiores homenageados das escolas brasileiras: ele passará a ter os mesmos 345 que Rui Barbosa. Organizador da iniciativa, o microempresário Gláuber Olive afirma que a mobilização já está rendendo frutos. “Vale a pena. Aqui na cidade não existe nenhuma escola com o nome de uma figura local. Precisamos começar a limpeza pelo nosso quintal”.


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O COMBATE DO FACEBOOK À DESINFORMAÇÃO ELEITORAL É UMA FARSA

 

Por
Madeleine Lacsko


| Foto: Unsplash

Depois de sucessivos escândalos, o Facebook, que agora se chama Meta, anunciou esforços específicos para combater desinformação nas eleições de países que não falam inglês. Trabalhar nesse tema exige que você construa toda uma estrutura de inteligência artificial voltada para o idioma e também para suas particularidades regionais.

Conforme uma delação feita recentemente no Congresso dos Estados Unidos, o Facebook investe nos idiomas dos países que estão mais próximos de impor sanções para os danos que ele causa. Não é o caso do Brasil. Aqui as autoridades ainda não compreendem a complexidade das operações de desinformação, em especial nas eleições, e estão focadas em derrubar post e censurar conteúdo.

Basta financiar duas ou três iniciativas que são baratas para o Facebook e celebradas pela mídia afirmando combater desinformação sem apresentar resultados e fazer um pouco de marketing.

Por esse foco, a plataforma sabe que estão muito longe de tocar em questões realmente importantes para os negócios. Então não precisa gastar dinheiro investindo pesado no que realmente combate desinformação. Basta financiar duas ou três iniciativas que são baratas para o Facebook e celebradas pela mídia afirmando combater desinformação sem apresentar resultados e fazer um pouco de marketing.

É uma forma de ganhar tempo e distribuir investimentos. Quando um país começa a chegar perto de regulamentar de forma a tornar mais caro causar prejuízo à democracia do que investir em inteligência artificial de combate à desinformação, o investimento é feito.

Aqui é preciso separar operações de desinformação de imprecisões, falhas ou mentiras. São coisas diferentes com diferentes níveis de sofisticação. Desinformação é utilizada até em operações de guerra, também pode ser feita só com verdades, é intencional e organizada.

No debate político brasileiro, muita gente importante traduz de maneira errônea fake news como notícia falsa ou mentira. Isso iguala fenômenos muito diferentes, com desdobramentos e soluções absolutamente diferentes.

O Facebook é uma das plataformas que aderiu a compromissos oficiais de combate à desinformação nas eleições com o TSE. O problema dessa história é que não cumprir não traz consequências. Então ele não cumpre. E eu desconfio que ninguém vai mover uma palha para cumprir. Além de colocar a assinatura, fez seu marketing, criando uma página específica sobre o que faz para combater desinformação nas eleições e dizendo quais países são prioritários. O Brasil é um deles.


“Investimos amplamente em equipes e tecnologias para dar mais segurança às eleições. Desde 2016, triplicamos o tamanho das nossas equipes que trabalham nas questões de segurança e proteção para incluir mais de 35 mil pessoas. Além disso, criamos a central de operações eleitorais para importantes eleições nos EUA, no Brasil, na Índia, na Europa e em outras partes do mundo. Também realizamos melhorias significativas para reduzir a disseminação de desinformação e oferecer mais transparência em relação aos anúncios sobre temas sociais, eleições ou política”, diz o Facebook.

Pois bem, a ONG internacional Global Witness resolveu testar. O ambiente digital pré-eleitoral do Brasil é muito semelhante ao que foi verificado em Myanmar, Etiópia e Quênia. Os três países tiveram confrontos físicos decorrentes dessa tensão social. No Quênia, houve um processo de desconfiança da urna eletrônica, que foi substituída por cédulas de papel. Daí começaram a desconfiar das cédulas de papel. Agora, desconfiam da contagem. Teve observador internacional do mundo todo, o resultado é apertado e ninguém se arrisca a bater o martelo em quem seja o vencedor. Ninguém reconhece a derrota.

Em todos esses países, o Facebook foi incapaz de detectar operações de desinformação amplas nas eleições, que depois foram levantadas por pesquisadores. No Brasil, provavelmente ocorre o mesmo. A ONG Global Witness resolveu fazer um teste sobre o empenho do Facebook em combater desinformação em português. Começou com o básico do básico. E a falha foi vergonhosa.

Esqueça essas operações amplas de desinformação simultâneas em várias plataformas, usando fatos verificáveis e conexões duvidosas entre eles. Vamos ao básico do básico: informação que você paga para o Facebook distribuir e sinaliza que é de política. Segundo a Big Tech, existe um rigor maior sobre esse material. Moralmente é o mínimo, já que eles aprovam antes e lucram diretamente com a distribuição. “Para veicular um anúncio sobre temas sociais, os anunciantes primeiro devem passar pelo nosso processo de autorização, que inclui o fornecimento de informações sobre a identidade e a localização deles. Anúncios sobre temas sociais, eleições ou política incluem os rótulos ‘Pago por’ para mostrar quem é o responsável pelo anúncio.”, diz o site da empresa.

Adultos brasileiros continuam acreditando que Big Techs combatem desinformação, mesmo sendo quem mais lucra com isso e o único setor econômico que lucra com isso.

A ONG resolveu testar e montou 10 anúncios em português. Primeiro verificou todas as políticas de uso do Facebook para garantir que burlaria com certeza. Metade eram anúncios com mentiras deliberadas e a outra era desacreditando as urnas eletrônicas. Nesse rigoroso processo, para poder fazer anúncios políticos pagos, você teria de verificar a conta, ou seja, fornecer sua identidade para o Facebook. Tomaram o cuidado de fazer de uma conta não verificada.

Um exemplo de mentira foram anúncios com a data errada da votação ou locais errados de votação. São fatos e facilmente verificáveis, não há desculpa. A política do Facebook diz que não permite anúncios que possam induzir o eleitor a erro que o leve a não votar. Os anúncios e pagamentos foram feitos do Quênia e de Londres, pagos em moeda local deles. A ONG não preencheu a informação de quem paga o anúncio que, segundo o site do Facebook, é algo obrigatório. Todas as exigências mais básicas foram burladas. A ONG ficou por alguns dias esperando que os anúncios fossem rejeitados. Para surpresa da Global Witness, sem que houvesse nenhuma nova ação, o Facebook aprovou todos e colocou em circulação.

Foi a própria Global Witness que tirou imediatamente os anúncios do ar e procurou o Facebook para entender o que aconteceu. A resposta foi simplesmente sensacional: “estamos e sempre estivemos profundamente comprometidos em proteger a integridade das eleições no Brasil e em torno do mundo”. Sinceramente, me faltam até comentários. Não houve nenhuma intervenção do Ministério Público Eleitoral nem do Tribunal Superior Eleitoral depois do evento.

Adultos brasileiros continuam acreditando que Big Techs combatem desinformação, mesmo sendo quem mais lucra com isso e o único setor econômico que lucra com isso. Nessas horas, não tenho certezas e uma única dúvida me martela a cabeça: que tipo de ficção será capaz de superar nossa realidade?


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O MUNDO CORRE O RISCO DE UMA GUERRA NUCLEAR

 

Zaporizhzhia

Por
Luis Kawaguti


Foto de satélite mostra a usina nuclear de Zaporizhzhia, em Enerhodar, na Ucrânia| Foto: EFE/EPA/MAXAR TECHNOLOGIES

O risco de acidente na usina nuclear de Zaporizhzhia, no sul da Ucrânia, está mais ligado a uma sucessão de falhas de equipamentos e erros – catalisados pela guerra – do que à possibilidade de um disparo direto atingir um reator. Apesar disso, o impacto da concretização de um acidente nuclear seria tão alto que a comunidade internacional aumentou dramaticamente nesta semana a pressão sobre a Rússia, que controla a instalação nuclear.

Pela primeira vez na história, uma usina nuclear de grande porte está no meio do campo de batalha em uma guerra de alta intensidade. Ela é a maior usina da Europa e fica na cidade de Enerhodar, no oblast (estado) de Zaporizhzhia. É responsável por 19% do suprimento de energia elétrica da Ucrânia.

O complexo foi invadido por forças russas em 4 de março. A ação provocou um incêndio em instalações não essenciais e deflagrou uma onda de críticas internacionais. A tomada da usina foi parte de um avanço rápido do exército russo que resultou na captura de uma grande faixa do sul da Ucrânia logo na primeira semana de guerra.

A frente de batalha logo avançou rumo nordeste, em direção à cidade de Zaporizhzhia, capital do oblast. Assim, a região da usina, em território ocupado, passou a desfrutar de relativa tranquilidade.

Uma parte dos cerca de 10 mil funcionários continuou operando a planta, porém de maneira forçada pelos russos. Ela passou a operar em capacidade mínima, com apenas dois dos seis reatores funcionando, mas continua fornecendo energia para regiões sob controle do governo ucraniano.

Mesmo com os combates ocorrendo a cerca de 60 quilômetros da usina, a possibilidade de um míssil atingir um dos seis reatores nucleares sempre apavorou moradores da região. Testemunhei isso na manhã de 26 de abril, quando a cidade de Zaporizhzia foi bombardeada. Rapidamente se espalharam pela região relatos de pessoas que viram mísseis de cruzeiro sobrevoarem a usina. O pânico se espalhou pela cidade, mas não houve danos à instalação nuclear.

Porém, relatos de explosões na usina voltaram a ocorrer em agosto. Uma central de bombeiros e centrais de medição de radiação foram destruídas. Rússia e Ucrânia culparam uma à outra pelos ataques.

Esses eventos começaram a ocorrer após o início de uma grande contraofensiva ucraniana para tentar retomar parte do oblast de Kherson, que fica cerca de 180 quilômetros a sudoeste de Enerhodar, ao longo do rio Dnipro. Até então, os maiores combates da guerra haviam se concentrado no norte e no leste do país.

Ao menos 20 mil combatentes russos foram redirecionados para o sul com o objetivo de frustrar a contraofensiva ucraniana. Unidades da artilharia russas foram então posicionadas entre os seis reatores da usina para disparar principalmente contra a cidade de Nikopol ou contra tropas ucranianas que tentassem cruzar o rio Dnipro. Ou seja, a usina passou a ser usada por Moscou como uma espécie de escudo, possibilitando que os russos disparem livremente sem ameaça de contra-ataque.

A Rússia acusou a Ucrânia de atos de terrorismo, por supostamente disparar contra a usina. Já as autoridades ucranianas dizem ter provas de que os russos estariam forjando falsos ataques para tentar culpar o governo do presidente Volodymyr Zelensky por facilitar uma catástrofe.

Segundo os ucranianos, uma equipe de filmagem russa teria sido flagrada encenando um falso ataque ucraniano. A filmagem seria usada na guerra de informação.

Não é possível verificar por ora, de forma independente, qual é a versão correta desses fatos.

Riscos reais à usina
Sabe-se que Rússia e Ucrânia combatem na região de Zaporizhzhia principalmente usando fogos de artilharia. Eles incluem disparos de morteiros e obuseiros (que são tipos de canhões que disparam granadas em trajetória de parábola) e foguetes. Esses armamentos podem destruir veículos blindados e fortificações.

Porém, todos os reatores nucleares e piscinas de material radioativo descartado na usina de Zaporizhzhia estão protegidos sob estruturas de concreto e aço com cerca de 1,2 metro de espessura. Elas são suficientes para aguentar impactos acidentais de artilharia à colisão de uma aeronave de grandes proporções.

Porém, existe a possibilidade de vazamento radioativo provocado por falhas nos sistemas de resfriamento do combustível nuclear.

A usina de Enerhodar foi construída nos anos de 1980 e usa tecnologia do tipo VVER (reator nuclear de água pressurizada). Segundo o engenheiro Dagoberto Lorenzetti, especialista em energia nuclear, o sistema é parecido com a tecnologia utilizada nas usinas de Angra, no Brasil.

“A água nesse tipo de reator é, ao mesmo tempo, elemento moderador e fluido refrigerante”, afirmou.

Isso significa que, como um elemento moderador, a água é capaz de reduzir para níveis adequados a energia dos nêutrons que são emitidos em cada fissão nuclear de urânio 235. Isso faz com que esses nêutrons gerem novas reações nucleares, criando uma reação em cadeia e produzindo energia.

Essa energia aquece um outro sistema hidráulico. Nele, a água se transforma em vapor e movimenta uma turbina que gera eletricidade.

Além disso, a água também é usada para resfriar os reatores e uma série de piscinas onde é colocado o combustível nuclear descartado. Todo esse sistema de resfriamento funciona a partir de bombas alimentadas por energia elétrica.

Cenário de desastre
Segundo um relatório da ONG Greenpeace divulgado em março deste ano, em um cenário hipotético, os combates podem destruir os cabos elétricos que trazem energia de outras fontes para dentro da usina nuclear. É essa energia que sustenta o funcionamento das bombas de água da usina.

Após a divulgação do relatório, três das quatro linhas que alimentam a usina foram avariadas por bombardeios.

Assim, se a energia externa for completamente cortada, todo o sistema de bombas de água da usina passaria a operar de forma emergencial, com eletricidade fornecida por geradores a diesel que existem dentro do complexo.

Na hipótese de que um grupo desses geradores falhe e não seja substituído rapidamente, existe a possibilidade de superaquecimento de todo o sistema.

Mesmo antes da guerra, parte desses geradores a diesel já apresentaram problemas devido à falta de peças e manutenção, segundo uma investigação de 2020 feita pela agência reguladora ucraniana.

Para agravar o cenário, muitos técnicos e funcionários da usina envolvidos no processo de resposta à emergência podem ter dificuldade de chegar ao local – devido aos combates e a restrições impostas pelas tropas russas. Isso poderia atrasar a resposta à emergência.

Nos reatores, com a vaporização parcial ou a secagem completa da água, a reação nuclear em cadeia se extinguiria e os equipamentos se desligariam automaticamente. Só que, mesmo desligados, tanto os reatores quanto as piscinas de combustível usado ainda precisam de refrigeração – para retirar o calor gerado pelo decaimento dos produtos de fissão nuclear.

No cenário levantado pelo estudo, se a refrigeração parar por completo, há uma chance de fusão (meltdown) de um ou mais reatores nucleares.

“Não teríamos uma catástrofe da dimensão de Chernobyl (1986), mas mesmo assim poderia ocorrer um acidente de graves consequências. Esta sequência de eventos é possível, mas pouco provável’, avaliou Lorenzetti.

Outra possibilidade, com um pouco mais de chances de ocorrer, é um incêndio nas piscinas de material nuclear usado, por falta de água. Esse evento poderia causar o vazamento de material radioativo na atmosfera, mesmo que a estrutura de proteção do reator não tenha sido comprometida.

Ou seja, a possibilidade de um acidente nuclear em Zaporizhzhia depende da ocorrência de uma série de fatores sucessivos e não de um evento único. Porém, o nível de estresse a que os funcionários ucranianos da planta estão submetidos, sob o controle dos russos, pode facilitar a ocorrência de acidentes.

A organização Greenpeace também apontou a possibilidade de alagamento e consequente falha nos sistemas de refrigeração da usina caso diques de contenção do rio Dnipro, nas proximidades, sejam danificados por fogo de artilharia.

O relatório alertou ainda para um cenário de acidente nuclear de proporções menores, no qual um disparo de arma pesada poderia levar à destruição de parte dos 160 tonéis de concreto que armazenam combustível nuclear usado (de menor teor radioativo) em um pátio da usina.

Diplomacia e energia

A concretização de um acidente nuclear em Zaporizhzhia não seria positiva nem para a Ucrânia, nem para a Rússia – mesmo para fins de propaganda de guerra. Até agora, a persistência dos combates na região parece ser motivada pela crença, especialmente dos russos, de que a estrutura da usina vai suportar eventuais erros de cálculo em operações militares.

O governo ucraniano vem acusando Moscou de querer redirecionar a produção de energia da usina de Zaporizhzhia para o território ocupado. A Rússia nega essa possibilidade. Mas, se ela acontecer, poderia criar um cenário de escassez de energia na Ucrânia, devido à importância da usina.

Em tese, o país poderia ser ajudado por vizinhos, pois sua rede elétrica foi conectada à da União Europeia no início da guerra, exatamente para mitigar esse tipo de risco. Mas a própria Europa corre o risco de escassez elétrica se a Rússia interromper o fornecimento de gás natural – que é usado para alimentar muitas usinas elétricas no continente.

Moscou comunicou na sexta-feira (19) que vai interromper o fornecimento por três dias para supostos trabalhos de manutenção no gasoduto Nord Stream 1.

O secretário geral da ONU, António Guterres, defendeu na semana passada, com apoio do governo ucraniano, a criação de uma zona desmilitarizada em Enerhodar. Mas a proposta foi rejeitada por Putin.

Por outro lado, em conversa com o presidente francês Emmanuel Macron, o russo disse que concordaria com a entrada na usina de uma delegação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A visita está prevista para setembro e será liderada pelo chefe do órgão, Rafael Grossi.

Ele havia afirmado que qualquer nova escalada de violência na região relacionada aos seis reatores de Zaporizhzhia “pode levar a um acidente nuclear severo com potenciais consequências graves para a saúde humana e o meio ambiente na Ucrânia e em outros locais”.

A ONU já conseguiu costurar um acordo para retomar a exportação de grãos na Ucrânia e facilitar o escoamento da produção russa. A ideia era diminuir a possibilidade de uma crise mundial de alimentos.

Agora, Guterres diz acreditar que, com negociações de bastidores, será possível chegar a um acordo para impedir um desastre nuclear que pode afetar grande parte da Europa e até mesmo da Rússia.


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O BRASIL É UM FORTE CANDIDATO A SER O CELEIRO DO MUNDO

Alysson Paulinelli, indicado ao Nobel

Por
Marcos Tosi – Gazeta do Povo


Engenheiro-agrônomo Alysson Paolinelli concorre pela segunda vez ao Prêmio Nobel da Paz| Foto: Divulgação / Redepaolinelli

Em outubro, será conhecido o ganhador do Prêmio Nobel da Paz 2022. E pelo segundo ano consecutivo concorre o brasileiro Alysson Paolinelli, 86 anos, que recebeu 183 cartas de apoio, de 78 países, de gente ligada à ciência, pesquisa, desenvolvimento, educação e cooperação internacional.

“Acho muito difícil imaginar, numa guerra dessa que nós estamos, que o Brasil seja generosamente aquinhoado por um prêmio Nobel”, diz um realista Paolinelli. Ele, no entanto, não esconde a satisfação por ser reconhecido como o líder da chamada “revolução agrícola tropical sustentável” que deu autossuficiência de alimentos ao Brasil e, mais do que isso, transformou o país em potência estratégica para a segurança alimentar mundial.

Como ministro da agricultura de Ernesto Geisel, em meados dos anos 1970, Paolinelli montou uma grande força-tarefa para tirar o Brasil da condição de importador de alimentos básicos. Foi o mineiro do pequeno município de Bambuí que estruturou a maior empresa de tecnologia agropecuária do hemisfério Sul, a Embrapa, criando 26 das 42 unidades descentralizadas. Foi ele também o mentor do Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro), que enviou mais de 1.500 técnicos brasileiros ao exterior com bolsas de estudo; ao retornarem, os jovens cientistas ajudaram os produtores a transformar o Centro-Oeste no grande cinturão verde da América do Sul.

Números de uma revolução agrícola no Brasil Central

Os números traduzem a conquista. Atualmente, os 1.102 municípios do bioma Cerrado produzem 46% da soja do país, 49% do milho, 93% do algodão e 25% do café. Na pecuária, é responsável por 32% do rebanho de bovinos, 22% dos frangos e 22% dos suínos, segundo dados do IBGE. Com a revolução agrícola de Paolinelli, a produção brasileira de grãos saltou de 39,4 milhões de toneladas para 252 milhões de toneladas, entre 1975 e 2020.

Nesta entrevista à Gazeta do Povo, Alysson Paolinelli – a quem o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues já definiu como “o maior brasileiro vivo” – defende a agricultura no Cerrado e lembra que o bioma ainda detém 54% de sua vegetação nativa preservada. “Eu não acho que deva usar todo ele (o Cerrado), mas só o que nós já antropizamos dá para abastecer o mundo hoje, com as tecnologias já disponíveis”.

Paolinelli defende a volta da extensão rural para levar tecnologia e renda para milhões de produtores, que ainda praticam uma agricultura extrativista e amadora. E alerta para os modelos esquerdistas de Venezuela, Argentina e Peru. “Não é por falta de recurso que o povo vai passar fome. É por burrice mesmo. A ideologia leva a isso”. Confira.

Chance de aproveitar a potência biotecnológica do clima tropical

O senhor é reconhecido por seus pares no setor agropecuário, mas também por cientistas de todo mundo, como um dos principais responsáveis pela revolução da agricultura tropical que tirou o Brasil da condição de importador para exportador de alimentos. Hoje está pregando uma nova revolução no setor. Que revolução é essa?

Quem tirou o país da condição de importador de alimentos foi o produtor, nós fizemos tudo para ele, e ele acreditou. O que eu prego não é uma nova revolução, eu estou querendo que o Brasil dê o terceiro salto. O primeiro foi o Borlaug que deu (Norman Borlaug, Nobel da Paz de 1970 e “pai” da Revolução Verde que evitou a  morte de milhões de fome pelo melhoramento genético de sementes), o segundo foi o Brasil, na agricultura tropical, e agora quero que o Brasil continue com a agricultura tropical, mas já incluindo a parte da biotecnologia, que acho que é onde nós vamos ganhar muito. Porque o clima tropical tem muito mais potência biotecnológica do que todas as outras regiões do mundo. E nós precisamos aproveitar isso. O que eu defendo é usar o máximo da tecnologia que já possuímos e esmerar agora no campo da biotecnologia. Temos que dar o terceiro salto. É produtividade, gestão, conservação de recursos naturais, e distribuir socialmente isso.

Segundo a Embrapa, 87% do valor da produção do agro brasileiro vêm de 500 mil propriedades. Há um universo de 4 milhões de propriedades com renda bruta de menos de meio salário mínimo. Como atacar essa pobreza rural que persiste?

Esse é um drama que nós temos aqui. Você tocou o dedo na ferida. Eu alego que quem causou tudo isso foi a burrice dos governos de fechar o sistema de extensão e assistência técnica. Não podia nunca ter fechado. Eles ficaram com uma arma como a Embrapa, as universidades, etc, mas agora estão até judiando delas, visto que estão sem recurso e precisavam ter mais apoio. E não é de agora, já tem mais de 30 anos que eles vêm dilapidando isso. A minha grande preocupação é que nós hoje estamos perdendo muito do que já fizemos. Os próprios companheiros da Embrapa e das universidades falam que ainda não utilizamos 50% da tecnologia que foi desenvolvida nesses últimos 50 anos. Então, precisamos utilizar ao máximo.

Agricultura extrativista x agricultura tecnológica
Quando acabaram com a Embrater (  Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Rural, extinta no governo Collor) , acabaram com todos os programas que havia para mudar a feição do produtor. No mundo inteiro existe a dicotomia: uma agricultura tecnificada, desenvolvida, bem gerida, com boa governança, que tem produtividade, conquista mercado e ganha dinheiro. E tem a outra que não usa tecnologia, porque não sabe usar. Eles não repõem o que retiram do solo. São extrativistas. E olha, não é só pequeno produtor. Se você pegar esses 4 milhões de propriedades, quase 4,5 milhões, existe pequena, média e grande propriedade fazendo extrativismo. Eles extraem o que o solo tem e depois mudam de posição. É muito comum isso, em vários lugares do país. Tá errado, nós temos que usar o solo com uma vivência permanente, tratando dele, repondo o que dele se retira, trazendo tecnologias novas, assistência técnica e creditícia, para poder fazer, e não ficar só na conversa.

Esse para mim é o grande drama. E olha, nós já estamos há 32 anos sem a nossa Embrater. Muita gente nem sabe que existia. Para ter um resultado bom, você tem que ter pesquisa inovadora, que gere riqueza onde não tem. Segundo: você precisa transferir isso, não pode ficar só na pesquisa. Tem que transferir a quem faz, que é o produtor. Então, na assistência, primeiro você precisa de um grupo que te ajude a selecionar quais são as inovações que podem dar resultado numa determinada região. Trazer as inovações e, com o produtor, discutir como é que vai fazer uso dessas inovações. Depois tem o crédito para financiar. Sem crédito, ele acaba não fazendo porque não tem dinheiro, não compra semente, nem adubo, neutralizantes, defensivos, etc. Você tira dele o poder de mudar. Você tem que dar a ele esse poder de mudar. Agora, se ele topou mudar, você precisa influenciar a família dele. Dar um mínimo de capacidade de gestão.

Sabe como eu consigo verificar isso? No pote de água que se coloca na casa do produtor, quando antes ele bebia água a correr do rego. Só esse pote já é uma melhora. Depois você vê a eletricidade, a luz, o telefone, a televisão, a comunicação, tudo isso. E daí vêm as melhorias que ele precisa ter. A máquina, o modo de implantar essa inovação, o que for preciso.

EXPEDIÇÃO SAFRA 2019 – ARGENTINA – COLHEITA DE SOJA, DISTRITO: VICTORIA, PROV. ENTRE RIOS. FOTO: MICHEL WILLIAN/GAZETA DO POVO – 11.04.2019

Durante o auge da safra, colheita de soja avança inclusive no período noturno| Michel Willian / Arquivo Gazeta do Povo
Mudança de hábitos alimentares vai gerar empregos
O mundo vive um momento em que milhões de pessoas entraram na zona de insegurança alimentar, devido à pandemia seguida pela guerra na Ucrânia. Isso tem impacto apenas passageiro ou pode fomentar uma aceleração nas mudanças da geopolítica de produção de alimentos?

Primeira coisa. Causou uma mudança de hábito alimentar bom, que para nós é bom. Sabe por quê? Por que os que passaram pela pandemia e têm dinheiro, eles estão mudando o hábito alimentar. Estão querendo produtos que sejam mais naturais, mais nutritivos, menos ofensivos ao corpo humano, à sua fisiologia. Então, tudo isso vai ser muito bom para o Brasil. Por que esse alimento que eles estão querendo, você não faz com máquina. Hoje você tem uma máquina que colhe o algodão por mil pessoas, uma máquina de soja que colhe por 500 pessoas, uma plantadeira que planta por 500 pessoas. Mas você não tem um hortifrutigranjeiro que possa ser feito por essa máquina. Ali a mão do indivíduo, o contato, é fundamental, é outro tipo de agricultura. Vai exigir muito mais mão de obra do que automação. E você precisa utilizar essa mão de obra em coisas rentáveis. E ela é rentável porque eles pagam qualquer preço que você pede. O Sul do Brasil já está fazendo isso, de São Paulo para baixo já se está fazendo isso. As cooperativas do Paraná todas já estão fazendo isso com brilhantismo. Por que fazemos lá e não fazemos no Nordeste, no norte de Minas? É porque estamos perdendo tempo, não temos mais a Embrater.

Somos grandes exportadores de grãos. Há uma velha crítica de que deveríamos exportar mais produtos processados do que commodities agrícolas. Como o senhor vê essa questão?

Isso é mercado. Eu defendo naturalmente que cada vez você agregue mais valor. Mas você só agrega mais valor o dia que o mercado favorece para isso. Não dá para dizer: vou parar de vender soja para a China e vou vender frango, vou vender porco. Ela não quer. Mas na medida em que você vai demonstrando que o seu frango, o seu porco, a sua carne de boi, etc, é mais conveniente, ela vai querer. Por quê? Primeiro, por qualidade, segundo, por preço, terceiro, porque você tem constância de oferta. Em função de preço, qualidade e constância de oferta, ela vai preferir o seu. É o mercado que está oferecendo essa oportunidade, daí você pode fazer.

Não adianta querer bater o pé e falar eu não exporto mais soja, só vou exportar frango. Não existe isso, gente. Você pode melhorar suas condições de produção, ser mais eficiente. Aí sim, o mercado vai te dar essa primazia. O consumidor compra o que é melhor para ele. Se ele paga dez reais por um quilo de frango e você chega com um frango melhor, que custa oito, ele vai querer. É logico.

Alysson Paolinelli foi indicado pelo segundo ano consecutivo ao Prêmio Nobel da Paz| Gerhard Waller / Abramilho

O seu nome foi indicado, mais uma vez, para concorrer ao Prêmio Nobel da Paz. É uma indicação endossada por cientistas, pela colaboração que o senhor deu no desenvolvimento de uma agricultura tropical de alta produtividade, produzindo alimentos em regiões antes vistas como inaptas, como o Cerrado. É uma conquista, mas, do ponto de vista ideológico, para alguns foi um “pecado” colocar agricultura no bioma Cerrado. Como o senhor vê essa questão?

Isso é burrice. Você falou certo, é ideológico. Não mexe com isso não, que é só porcaria. O ideológico não pensa, ele age. Não tem nenhum sentido isso. Acabaram as terras boas do mundo, nós vamos passar fome? Não tem mais as planícies centrais da Europa, nem a asiática, nem a americana, que sustentaram o mundo por até 4 mil anos. Agora chegou a nossa vez. Nós criamos uma nova tecnologia, uma agricultura tropical, sustentável, altamente competitiva, e que ganhou o mercado deles.

Não é por falta de recurso que o povo vai passar fome. É por burrice mesmo. A ideologia leva a isso. Olha o que está acontecendo na Venezuela, Argentina, Peru e adjacências

Só o Brasil abastece o mundo. Agora você tem que lembrar que o Brasil tem 2 milhões de km2 de bioma cerrado. A África tem 4 milhões. A Ásia tem 1 milhão daquele estepe, que é o Cerrado, é a mesma cosia. Quer dizer, não é por falta de recurso que o povo vai passar fome, não. É por burrice mesmo. Eles têm é que ser racionais. A ideologia leva a isso. Olha o que está acontecendo na Venezuela, Argentina, Peru e adjacências. Vai vendo aí.

Nós temos ainda 54% do cerrado brasileiro sem mexer, absolutamente virgem. Eu não acho que deva usar todo ele, mas só o que nós já antropizamos dá para abastecer o mundo hoje, com as tecnologias disponíveis. Especialmente esse ILPF (Integração Lavoura-Pecuária- Floresta), que, para mim é a tecnologia mais inovadora que o mundo já fez: integrar num mesmo ano, na mesma terra, três a quatro culturas, e tirar o maior proveito possível. Só na área tropical você faz isso. É absolutamente impossível fazer nas regiões temperadas.

Floresta em pé tem que valer mais do que a derrubada
Como vencer o desmatamento ilegal? Como virar o jogo na questão da preservação da Amazônia?

Ah, isso aí tem que botar a polícia em cima. O desmatamento ilegal. Agora, temos que evitar aquele condicionamento de que o sujeito que não tem renda vai derrubar a floresta, isso aí é perigoso. Vai derrubar a floresta porque não tem renda. Ou a ciência faz a floresta em pé valer mais do que a derrubada, ou nós temos que dar a ele uma outra forma de renda. É o que nós estamos tentando. Através de todas as produções. Ah, a pecuária está estragando… não é só a pecuária não. Todas as outras produções que são malfeitas, atrapalham. Agora, se a pecuária for pelo ILPF, ela é altamente sustentável, produz carne verde, absorve carbono em grande quantidade e resulta no que tem de melhor. Veja que a tecnologia muda as coisas.

O senhor acredita que o País irá receber o que merece por sua agricultura sustentável no mercado de pagamento por créditos de carbono?

Eu não tenho dúvida, não só sobre o carbono, mas sobre a tecnologia de um modo geral. Por que não é só o carbono. É a biotecnologia que nós vamos desenvolver. Você vai resolver fazendo uma agricultura muito mais natural, muito menos química. Os adubos, que são solúveis em água, foram feitos para agricultura temperada. Tem que levar o adubo mais solúvel possível para a plantar absorver rápido e produzir o máximo em seis meses, e é uma lavoura só. Aqui não. Você joga o adubo com três anos de antecedência e a planta aproveita. Olha, isso aí vai mudar muito.

Eu defendo que nós precisaremos ter um novo 1974. Pegar uma turma de gente boa, recém-formados, doutores, que foram brilhantes, mandar para os grandes centros biotecnológicos do mundo, para ver o que estão fazendo. Nós já estamos na frente deles, mas é não deixar eles passarem na frente.

“Fui um aventureiro que pensou maluquices que deram certo”

Eu fui um aventureiro que juntou um grupo de malucos pensantes, que pensaram maluquices, mas deu certo, porque teve apoio do governo e nós fizemos. Na época, enviamos 1.530 formados, a maioria deles foi fazer doutorado no exterior. Foram os 100 milhões de dólares mais bem gastos pelo Brasil. Hoje a gente paga isso aí com uns quilinhos de soja, mas na época não.

Na época, o senhor teve um respaldo político? Porque parecia uma loucura mandar tanta gente para fora do país…

Tivemos respaldo total. Isso não foi ganho no lábio não. Tivemos que comprovar. Eu saí da universidade, com isso em mente, vim para Minas, trabalhei três anos aqui num programa de Cerrado. Na hora que deu certo, daí veio todo mundo a nosso favor. Eu montei a equipe e essa equipe comandou o processo no Brasil, de 1974 a 1979.

Aqueles 1.500 foram um exército de inovação?

Ah foi, não tenho dúvida. Eles tinham uma bolsa que era maior do que o salário da Embrapa. Ué, mas por que você está fazendo isso? Por uma razão muito simples. Eu quero que você esteja trabalhando lá, mas que tenha um recurso a mais, para, num sábado ou domingo, convidar o teu adviser para comer um churrasco, para almoçar na tua casa, fazer um fim de semana junto. Porque eu quero que ele te conheça como pessoa, não como uma massa detentora de conhecimento. E quero que ele conheça o que é a agricultura tropical. Além disso, eu quero que vocês venham aqui pelo menos 2 a 3 vezes por ano, para não se desvincularem dos trabalhos da Embrapa. Para estarem ligados ao que estamos fazendo. Então, a definição foi essa: ciência lá, tecnologia e inovação aqui, no bioma tropical brasileiro. Essa foi a regra, e deu certo. Foram os 100 milhões de dólares mais bem gastos pelo País.

Para onde eles foram enviados?

Para todos os países que eram desenvolvidos. A maioria deles para os EUA, mas também para a Europa, Ásia, Austrália. Foram para todas as regiões do mundo que tinham agricultura sendo trabalhada. E aqui no Brasil também. Você tinha Piracicaba, Viçosa, Lavras, e as outras universidades, no Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, etc. Aqui também tinha gente trabalhando.

Se o prêmio Nobel vier, será dos produtores rurais

Sobre o prêmio Nobel, eu sou muito franco. Me honrou muito, me emocionou, porque são meus colegas que indicaram, gente que trabalha comigo há tantos anos. Hoje a maioria deles trabalha sem receber, como eu faço. Agora, o que é impossível é que você queira imaginar que numa guerra dessa que nós estamos, que o Brasil vai ser generosamente aquinhoado por um prêmio Nobel. Eu acho muito difícil. Se ganhar, vou ser muito franco, esse prêmio é dos produtores, não é meu não.

Como o senhor gostaria de ser lembrado pelas próximas gerações? Sua biografia já está completa?

A única coisa que eu quero realmente é que essa juventude que está aí entenda o que nós fizemos, critique, converse, discuta. Por que essa juventude é muito mais preparada do que nós. Essa tecnologia da informação, eles absorveram isso muito melhor. Vejo aqui em casa. Eu vivo no computador, preso nele, lendo as notícias, o diabo a quatro. Dá uma zebra aqui ou no meu smartphone, chamo minha neta de 11 anos. Ela vem, dá uma olhada, com três ou quatro toques e diz “eh, vô, você não aprende, hein?”.

Se essa juventude compreender realmente os desafios que nós passamos, como enfrentamos, e que ela será responsável para dar esse terceiro salto, fico muito animado com eles. Aqueles que não se contaminaram, que querem o Brasil como quer o brasileiro, um país livre, democrático, onde todos têm o direito de pensar, de fazer, de falar, de ouvir, esse é o país que eu acredito.


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INOVAÇÃO DIGITAL EM VÁRIOS SETORES ONDE É MUITO FORTE

 

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Um reflexo do desenvolvimento de tecnologias e da globalização, veja onde a inovação digital já está sendo aplicada corretamente

A inovação digital está com tudo. Onde quer que você olhe, é provável que enxergue ao menos um pequeno impacto causado pela mudança do que antes era apenas analógico, seja por sua implementação nos processos tradicionais ou pela completa substituição do antigo pelo novo.

Para entendermos exatamente o que a expressão significa, precisamos primeiro saber o que significa digital, um termo tão comumente usado em nosso dia a dia, mas que nem sempre paramos para pensar qual é o seu significado.

De acordo com o dicionário Michaelis, o adjetivo denota um dispositivo que opera exclusivamente com valores binários, enquanto o substantivo denomina tanto um computador que opera com números ou informações expressas por algarismos quanto um computador cujos dados são processados por representações discretas.

Podemos fazer a comparação entre uma carta e um e-mail, em que a primeira seria a alternativa analógica e a segunda corresponderia à digital: ainda que o propósito seja o mesmo, a maneira de operar é diferente. Na prática, o que é digital está relacionado à informática, tecnologia e inovação.

O termo transformação digital também está em alta, o qual, no contexto corporativo, trata da integração de tecnologias digitais em todas as áreas de um negócio, mudando fundamentalmente sua forma de operar e entregar valor aos consumidores.

Tal transformação, porém, não se relaciona apenas ao uso das tecnologias digitais mas também a mudanças culturais nas empresas. Elas precisam desafiar constantemente sua realidade atual, fazer testes e perceber que as falhas fazem parte do processo.

Confira quais são esses segmentos e como o digital está impactando sua forma de lidar com o tradicional, em uma mudança que traz seus desafios, é verdade, mas também – e principalmente – seus louros.

Quais são os principais setores que implementaram a inovação digital?

Para os seis primeiros da lista, os setores e algumas informações serão retirados do e-book “Which are The Most Digital Industries And Why?”, do Digital Marketing Institute (DMI). Além disso, trouxemos estatísticas, estimativas e números de outras fontes, tendo os outros setores sido escolhidos por diferentes pesquisas. Confira:

1 – Serviços financeiros

De acordo com o e-book do DMI, os níveis de habilidades digitais para o setor de serviços financeiros é de 38% na Irlanda, 33% no Reino Unido e 46% nos Estados Unidos, o que mostra como sua relação é intensa neste sentido.

Um dos grandes destaques em relação ao setor é o avanço no uso dos dispositivos móveis, cuja adoção está em franca ascensão. O mobile banking, inclusive, já está definitivamente entre as principais tecnologias para as instituições financeiras, com os clientes fazendo seus serviços através de aplicativos.

Em relação à transformação digital, os serviços financeiros ainda ficam atrás de outros setores pelo fato de que muito de sua documentação é baseada em papéis. Além disso, seus funis de vendas também costumam ser padronizados, e não personalizados.

2 – Hospitalidade e lazer

O relacionamento com os clientes é essencial para este setor, já que avaliações e notas de usuários interferem diretamente nas decisões tomadas por outros. Portanto, os dados são parte fundamental de seu funcionamento, bem como as análises e a personalização dos conteúdos.

Algumas tendências que podem surgir e ganhar cada vez mais força são os “test-drives” dos quartos e estabelecimentos através da realidade virtual, como em tours 360º, o que traz uma experiência imersiva e fidedigna aos consumidores.

As reservas de quartos pela internet são outra grande força da inovação digital, que permite aos usuários escolherem tudo o que precisam no conforto de suas casas ou onde estiverem.

Até mesmo check-ins virtuais já são uma realidade, com boa parte do processo sendo realizada por e-mail, com alguns dias de antecedência. Então, no dia do check-in, os clientes podem se dirigir a um tablet para assinar digitalmente o consentimento da estadia, sem precisarem de atendimento humano.

Outra tendência que está em forte ascensão é a reserva através de sites terceiros ao invés dos próprios hotéis, em serviços como Expedia e Hoteis.com, além de plataformas como o Airbnb, que reduzem significativamente os preços para os usuários.

3 – Tecnologia

Ao falar sobre inovação digital, podemos comentar sobre mídias sociais, dispositivos móveis, análise de dados, computação na nuvem, internet das coisas (IoT), cibersegurança, Big Data, realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR), os quais exibem curvas ascendentes de adoção e de movimentação financeira.

Se a transformação digital é essencial, aqui ela assume praticamente um papel mandatório, pois uma empresa de tecnologia que não se preocupa com as inovações digitais quase que certamente tem seus dias contados.

4 – Alimentos e bebidas

O faturamento do setor de alimentos e bebidas é estimado a atingir US$ 76,647 bilhões em 2020, de acordo com o portal Statista. Em uma área que movimenta cifras tão elevadas, a inovação digital também se coloca em uma posição de grande importância.

Um destaque fica para as plataformas digitais de comunicação, usadas para aumentar o reconhecimento da marca e também para criar novas oportunidades de negócio, especialmente para mobile e em mídias sociais.

Com temas como a veiculação de anúncios para crianças e a obesidade ganhando tanta relevância em nossa sociedade, tornou-se necessário pensar em uma aproximação diferente com o público, o que fica bem mais fácil através das plataformas digitais.

O portal Statista divulgou que há aproximadamente 4,54 bilhões de usuários de internet ativos em todo o mundo, o que mostra como a comunicação digital é uma estratégia de transformação digital nas empresas com grandes chances de dar certo.

5 – Educação

O cenário da educação está se tornando bastante competitivo, especialmente no ensino superior, com as instituições querendo atrair mais pessoas. Como elas perceberam que os alunos também são clientes que precisam de engajamento, a experiência do usuário ganhou um grande destaque.

De acordo com a QS, ao pesquisar por uma instituição de ensino superior, 63% dos alunos dizem que ter um website é essencial para sua decisão, enquanto as mídias sociais são um pouco ou muito importantes para 66% deles. Por ser uma pesquisa de 2015, os números devem ser ainda maiores agora.

Com tantas pessoas conectadas, como vimos anteriormente, uma aproximação multicanal, com uma presença relevante tanto no “mundo físico” quanto virtual, é determinante para que os alunos possam decidir onde desejam estudar e, assim, movimentar o mercado de educação.

6 – Varejo

De acordo com a Forrester, metade de todas as vendas do varejo nos Estados Unidos são impactadas por meios digitais. Como se o número já não fosse grande, estima-se que ele suba para 58% até 2023, o que mostra como a inovação digital é imprescindível neste setor.

A previsão foi feita de acordo com dados históricos desde 2004 sobre as vendas influenciadas pelo digital em 30 categorias do varejo, mostrando qual é a porcentagem de vendas “offline” que foram influenciadas por resultados de pesquisa em celulares.

Este é apenas um dos indicativos que comprovam a transformação digital no varejo, segmento este que movimentou US$ 23,96 trilhões em todo o mundo em 2018, de acordo com o portal Statista, valor estimado a atingir US$ 29,76 trilhões em 2023.

As vendas no varejo tendem naturalmente a crescer, e o auxílio do digital certamente será essencial para que os números sejam ainda mais significativos.

7 – Inovação na Construção civil

Nós comentamos bastante sobre o tema em nosso artigo sobre inovação na construção civil. Ele mostrou bem como o digital está influenciando diretamente na área, com uso de robôs, drones, aplicação de inteligência artificial, cidades inteligentes, impressão 3D e por aí vai.

A área, que voltou a crescer no Brasil depois de 20 trimestres consecutivos de queda, tem muito a se aproveitar da inovação digital, resultando em entregas mais rápidas e confiáveis aos clientes, além da possibilidade de economizar em mão de obra e matéria prima.

8 – Inovação para Indústria

O conceito de indústria 4.0 é perfeito para demonstrar como a inovação tecnológica chegou às fábricas, em um movimento que tende a crescer cada vez mais daqui em diante.

Este é o nome dado a uma grande revolução nas indústrias, em que ela não apenas é automatizada, mas sim interconectada dentro de um sistema que permite observar o andamento de todos os seus processos em tempo real e, assim, tomar decisões rápidas e efetivas.

A indústria 4.0 se baseia fortemente na Internet das Coisas, em que muitas coisas que estão ao nosso redor podem ser conectadas, não apenas os dispositivos eletrônicos. Assim, quando uma máquina para de funcionar, é possível saber disso imediatamente e providenciar as manutenções o quanto antes.

Um estudo da MarketsandMarkets estimou que o valor de mercado da indústria 4.0 fosse de US$ 71,7 bilhões em 2019 e que ele deve subir para US$ 156,6 bilhões em 2024, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 16,9% entre 2019 e 2024, uma prova de quão promissor é este setor que, na verdade, já é realidade.

9 – Inovação na Saúde

Para finalizar a lista, trazemos o setor da saúde, em que a inovação digital é capaz de mexer ainda mais diretamente com as nossas vidas – de forma literal.

Impressão de órgãos, inteligência artificial, dispositivos “vestíveis” (wearables) que ajudam no monitoramento da saúde e Big Data são algumas das inovações mais disruptivas dessa área, o que fará com que os cuidados com a saúde e a relação entre médicos e pacientes seja totalmente diferente daqui em diante.

Em nosso e-book sobre “HealthTech: como a tecnologia está revolucionando a Saúde e a Medicina”, abordamos a questão com riqueza de detalhes, mostrando como nossa saúde será impactada, com grandes benefícios que, até alguns anos, pareciam inovações distantes de filmes futuristas, mas que hoje são realidade.

A transformação digital nas empresas que querem se manter no topo é questão de tempo. Quem não se movimentar neste sentido tende a perder cada vez mais espaço no mercado, o que pode ser irreversível.

Se você já trilha o caminho da inovação digital, continue assim, e se ainda não o faz, não perca mais nenhum minuto. A oportunidade de poder ser considerado como um negócio inovador, disruptivo e relevante para os interesses do público está em suas mãos.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

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Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

sábado, 20 de agosto de 2022

DESEMBARGADOR DIZ QUE MORAIS FEZ UMA DECLARAÇÃO DE GUERRA AO PAÍS NA SUA POSSE

 

RANIER BRAGON – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente e corregedor do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Distrito Federal, Sebastião Coelho da Silva, anunciou aposentadoria nesta sexta-feira (19), durante a sessão do plenário, afirmando que a atitude era uma reação à sua insatisfação com o Supremo Tribunal Federal e com o discurso de posse de Alexandre de Moraes no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). |…

Coelho da Silva, que também é desembargador do Tribunal de Justiça, disse que Moraes fez uma “declaração de guerra ao país” em sua fala diante do presidente Jair Bolsonaro (PL) e os ex-presidentes da República, em vez de promover uma fala de conciliação.

“Estou nesse tribunal há 30 anos, 1 meses e 8 dias”, disse Coelho da Silva, comunicando em seguida a aposentadoria.

“Vão me perguntar: ‘Por que você vai se aposentar, Sebastião Coelho da Silva’? E eu respondo: sr. presidente, colegas, eu há muito tempo, e eu não posso falar outra palavra, preciso tomar cuidado com elas, há muito tempo não estou feliz com o Supremo Tribunal Federal.”

Mais adiante, o vice-presidente e corregedor do TRE-DF disse que esteve na posse de Moraes e afirmou que esperava que o novo presidente do TSE aproveitasse a presença dos ex-presidentes da República, dos principais candidatos e de Bolsonaro “para fazer um conclamação de paz para a nação”.

“Mas, ao contrário, o que eu vi, ao meu sentir, o eminente ministro Alexandre de Moraes fez uma declaração de guerra ao país. O seu discurso é um discurso que inflama, é um discurso que não agrega, e eu não quero participar disso.”

O desembargador afirmou que irá, em seus últimos dias de atividade, cumprir as leis, mas não “discurso de ministro, seja ele em posse, seja em Twitter, seja ele em redes sociais”.

O novo presidente do TSE disse que não iria se manifestar sobre o episódio.

O sistema eletrônico de votação foi exaltado e ovacionado na posse de Moraes como presidente do TSE. Os longos aplausos a um trecho do discurso de Moraes ocorreram em frente a Bolsonaro, que costuma atacar as urnas eletrônicas e insinuar que a corte pretende fraudar as eleições deste ano para lhe derrotar.

Moraes fez um discurso com diversos recados ao chefe do Executivo, que participou da cerimônia e ficou frente a frente com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), rival na disputa deste ano.

“Somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia, com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, disse Moraes, enquanto Bolsonaro se manteve sério, sem aplaudir.

Em outro trecho, o novo presidente do TSE afirmou que a liberdade de expressão não é igual a liberdade de agressão.

“Liberdade de expressão não é liberdade de agressão, não é liberdade de destruição da democracia, das instituições, da dignidade e da honra alheias. Não é liberdade de propagação de discursos de ódio e preconceituosos”, declarou o novo presidente do TSE.

Moraes agradeceu a presença de Bolsonaro na solenidade e disse que a cerimônia “simboliza o respeito às instituições como único caminho para fortalecimento” do Brasil.

“A Justiça Eleitoral não poderia comemorar melhor e de forma mais honrosa seus 90 anos de instalação, com presença nessa cerimônia do nosso chefe de Estado e de governo, presidente Jair Bolsonaro, presidente do Congresso, senador [Rodrigo] Pacheco, presidente da Câmara, Arthur Lira, do nosso presidente do STF e chefe maior do Judiciário e orgulho de todos os magistrados, Luiz Fux, bem como ex-presidentes da República.”

LULA QUER REESCREVER A HISTÓRIA ANULANDO TUDO DE BOM QUE FOI FEITO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Ex-presidente e candidato do PT, Lula acusou Lava Jato de “destruir” a Braskem com “mentiras”.| Foto: EFE/Fernando Bizerra

O ex-presidente, ex-presidiário, ex-condenado e candidato à Presidência da República Lula continua empenhado em reescrever o passado recente do Brasil no grito. Duas afirmações recentes são a mais nova tentativa de recontar a história da Operação Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff. No primeiro caso, Lula quer transformar a mais bem sucedida operação de combate à corrupção já ocorrida no país – ao menos até os processos chegarem ao Supremo Tribunal Federal – em uma trama de juízes e procuradores para prejudicar o PT e a indústria nacional; no segundo caso, o petista quer transformar uma justa punição a uma presidente que brincou com o orçamento em uma vingança de ricos inconformados.

“Eu sonhava que o Brasil tivesse a terceira maior indústria petroquímica do mundo e queria que a Braskem fosse essa grande empresa. Apareceu a Lava Jato para destruir a Braskem. Em nome de quem? De um fedelho chamado Dallagnol, que encheu a cabeça de vocês de mentira, que conseguiu criar um mundo de mentiras”, afirmou Lula na Fiesp, em 9 de agosto, pretendo encher de mentiras a cabeça daqueles que o ouviam na ocasião. Afinal, as delações premiadas de executivos da Odebrecht e da Braskem, o acordo de leniência assinado pela petroquímica e o conjunto probatório levantado pela Lava Jato mostrou bem como é que Lula quis fazer da Braskem uma “grande empresa”.

As histórias da “Lava Jato destruidora de empresas” e do “impeachment como vingança da elite” não resistem à exposição pura e simples da verdade, mas Lula e o petismo insistem nelas, na esperança de fazer colar a mentira à base da repetição incessante

Os próprios Emílio Odebrecht e Pedro Novis – que comandaram a Odebrecht, dona da Braskem, entre 1991 e 2009 – explicaram detalhadamente à Lava Jato como Lula, uma vez eleito presidente, passou a tomar várias decisões favoráveis à Braskem como “agradecimento” pelo apoio financeiro dado às campanhas de 2002 e 2006, a ponto de os interesses da empresa terem sido colocados à frente dos da estatal Petrobras. A petroquímica, em seu acordo de leniência com a Advocacia-Geral da União e a Controladoria-Geral da União (CGU), concordou em devolver R$ 2,8 bilhões referentes a “pagamentos de dano, enriquecimento ilícito e multa no âmbito de contratos fraudulentos envolvendo recursos públicos federais e de edição de atos normativos produzidos a partir de pagamentos de vantagens indevidas”. José Carlos Grubisch, ex-presidente da Braskem, se declarou culpado diante de um tribunal norte-americano e foi condenado a prisão e multa em outubro do ano passado; ele admitiu ter desviado US$ 250 milhões para pagar suborno a partidos políticos e funcionários públicos no Brasil. Mas tudo isso, para Lula, não passa de “mentiras” produzidas por Dallagnol.

A arrogância de quem depredou o Brasil e jamais terá de pagar por isso novamente teve sua sequência no primeiro comício de Lula, uma vez aberto o prazo para a campanha eleitoral de 2022. Em Belo Horizonte, nesta quinta-feira, dia 18, o petista disse que “Vocês deram o golpe na Dilma porque a empregada doméstica tinha carteira assinada, porque os adolescentes [pobres] estavam nas universidades”, em referência à PEC das Domésticas, aprovada pela Câmara em 2012 e pelo Senado em 2013, e ao ProUni, criado em 2005. O petista, obviamente, não menciona que a PEC das Domésticas nem foi proposta pelo seu partido, mas por um parlamentar do então PMDB, e passou pelo Congresso com apoio de todos os partidos, inclusive os de oposição ao governo Dilma.

E o principal: Lula esconde que Dilma sofreu o impeachment por ter cometido uma série de crimes de responsabilidade, maquiando o orçamento, atrasando repasses e retendo valores destinados à Caixa, ao FGTS e ao BNDES, editando decretos de abertura de crédito suplementar sem autorização – todos atos que violavam a lei orçamentária e se encaixavam à perfeição na legislação que define as práticas que devem ser punidas com a cassação do mandato. Que Dilma tenha levado o Brasil à pior recessão da história e fosse conhecida por sua dificuldade em trabalhar com o Congresso pouco importa: o impeachment não foi uma orquestração política destinada a remover uma gestora inocente, mas a correta aplicação da Constituição contra quem transformou orçamentos em peças de ficção, enganando todo um país sobre a situação das contas públicas.

Nenhum dos temas de Lula é novo: a Lava Jato ainda estava em curso quando o petismo começou a afirmar que as investigações estavam “destruindo a indústria nacional”, e houve até quem tivesse responsabilizado a operação pelas quedas no PIB. Da mesma forma, praticamente desde o início de seu governo o ex-presidente dizia ser perseguido pela elite por “feitos” como permitir aos pobres viajar de avião – como se empresários não vissem com bons olhos a ascensão social de dezenas de milhões de brasileiros, que se tornariam consumidores dos bens e serviços que oferecem. Ambas as histórias não resistem à exposição pura e simples da verdade, mas Lula e o petismo insistem nelas, na esperança de fazer colar a mentira à base da repetição incessante – e o fato de infelizmente tais narrativas serem aceitas por parte da sociedade deixaria Joseph Goebbels orgulhoso.

O que Lula segue espalhando é uma total inversão de valores, na qual quem “destrói” empresas não são os corruptores e corruptos, mas aqueles que investigam os crimes cometidos; e na qual uma presidente perde seu mandato não por irregularidades reais, mas por mera sede de vingança. Bandidos e maquiadores de orçamento se transformam em vítimas inocentes, enquanto aqueles que fizeram justiça, seja investigando e punindo os ladrões do petrolão, seja aplicando a Constituição e cassando Dilma, se tornam os vilões. É o império da mentira, que o petismo pretende elevar a política de Estado caso tenha sucesso em outubro.


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A IGREJA É PERSEGUIDA NA NICARÁGUA PELO AMIGO DE LULA

 

Opressão sandinista
Por
Gazeta do Povo e Agência EFE


Bispo de Matagalpa, preso nesta sexta-feira (19), entrou na mira do ditador Daniel Ortega ao pedir pela democratização da Nicarágua| Foto: EFE/Jorge Torres

Rolando José Álvarez Lagos, 55 anos, já era um símbolo da resistência da Igreja Católica e da sociedade da Nicarágua contra a ditadura sandinista.

Nesta sexta-feira (19), essa simbologia ganhou ainda mais força: após muitas hostilidades por parte do regime do ditador Daniel Ortega, Álvarez e outras sete pessoas foram presos pelas autoridades nicaraguenses na sede episcopal de Matagalpa, no centro-oeste do país.

Ortega considera que bispos e padres apoiaram manifestações que pediram sua saída em 2018, protestos que foram reprimidos com extrema violência, resultando em mais de 300 mortes.

Neste ano, o ritmo da perseguição contra a Igreja aumentou: antes da prisão de Álvarez, o regime sandinista havia expulsado do país o núncio apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag, prendido três padres, fechado oito emissoras de rádio católicas, retirado três canais católicos da programação da televisão por assinatura e invadido uma paróquia, de onde foram expulsas 16 freiras missionárias da ordem Madre Teresa de Calcutá.

A irmã mais velha de Álvarez, Vilma, relatou à revista Magazine, do jornal La Prensa, que seu irmão, nascido na capital Manágua, mostrou vocação para o sacerdócio desde cedo: criança, ele reunia a família em casa para celebrar a missa e chamava a si mesmo de padre Miguel.

Ainda de acordo com o relato de Vilma, Álvarez se recusou a cumprir o serviço militar obrigatório da ditadura sandinista na década de 1980. Chegou a ser preso “duas ou três vezes” e a casa da família foi revistada. Para fugir da perseguição, viveu um tempo como refugiado na Guatemala.

Álvarez teve uma namorada e chegou a cogitar casamento, mas o chamado da Igreja foi mais forte: em dezembro de 1994, aos 28 anos, foi ordenado sacerdote na Catedral de Manágua. Em 2011, assumiu a Diocese de Matagalpa.

O bispo entrou na mira da ditadura sandinista em 2018, quando a Igreja tentou intermediar o diálogo entre Ortega e oposicionistas. À época, Álvarez afirmou que não havia “outro caminho” a não ser “a democratização da República da Nicarágua”.

Sua posição como liderança social contra a repressão ganhou força este ano: em maio, Álvarez denunciou a perseguição contra a Igreja e anunciou que faria um jejum por tempo indeterminado em protesto.

No início de agosto, quando o bispo denunciou que havia sido retido na sua cúria por forças policiais sem saber o motivo, juntamente com seis sacerdotes e seis leigos, uma cena emblemática: após policiais impedirem a entrada de paroquianos e dos assistentes de Álvarez na diocese para receber a eucaristia, o monsenhor se ajoelhou na calçada e levantou as mãos para o céu, uma imagem que viralizou nas redes sociais.

Quando o chefe da polícia departamental de Matagalpa, Sergio Gutiérrez, pediu ao bispo para cooperar, Álvarez respondeu: “Quem não coopera é você”.

“A polícia diz que somos nós que causamos tumulto. Mas foram eles que cercaram a rua da cúria, são eles que estão à porta da minha casa e não deixam as pessoas entrar”, declarou.

Nesta sexta-feira, ocorreram a prisão de fato e a transferência para Manágua, sob a acusação de que Álvarez teria tentado “organizar grupos violentos”, alegadamente “com o objetivo de desestabilizar o Estado nicaraguense e atacar as autoridades constitucionais”, sem que nenhuma prova fosse apresentada.

Quando foi retido na cúria, o bispo já havia manifestado que o seu protesto não admitia ódio contra os opressores: ele rezou “também por aqueles que nos mantêm retidos, continuamos pedindo ao Senhor que abençoe suas vidas, seus casamentos, suas famílias, seus empregos, que o Senhor abençoe sua comida, seus passos”.

Porém, também pediu aos fiéis católicos que “mantenham viva a esperança, permaneçam fortes no amor e vivam na liberdade dos filhos de Deus, sabendo que o Senhor cumprirá sua palavra: o Senhor restaurará a Nicarágua”.


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XINGAR BOLSONARO PODE É DEMOCRACIA E XINGAR UM MINISTRO DO STF DÁ CADEIA

 

Sinalização de virtude

Por
Bruna Frascolla


Vídeo mostra o momento em que o youtuber se aproxima de Bolsonaro, na quinta-feira (18)| Foto: Reprodução/G1

Um youtuber ultrapassou a segurança e promoveu um barraco no Palácio da Alvorada. Com celular em riste, filmou a si próprio chamando o presidente de tchutchuca do Centrão, de vagabundo etc. e dizendo que ele não tinha coragem de conversar consigo. O primeiro destes xingamentos foi cunhado por Zeca Dirceu e, depois, requentado por André Marinho. Foi assim: em 2019, durante uma audiência pública com Paulo Guedes sobre a reforma da previdência, o filho de Zé Dirceu, deputado federal pelo Paraná, disse ao ministro que ele tinha “uma obrigação conosco, e com o povo brasileiro”, de responder a suas perguntas “muito objetivas” por cumprir “uma função pública”. Eis um dos “questionamentos”: “O senhor é tigrão quando é com os aposentados, com os idosos, com os portadores de necessidades. O senhor é tigrão quando é com os agricultores, os professores. Mas é tchutchuca quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso país.” E seguiu com um sermãozinho, dizendo que Guedes tinha que pedir desculpas, até ser interrompido pelo ancião, que esbravejou: “Eu não vim aqui para ser desrespeitado, não. Tchutchuca é a mãe, é a avó, respeita as pessoas. Isso é ofensa. Eu respeito quem me respeita. Se você não me respeita, não merece meu respeito.”

De minha parte, acho difícil pensar em postura mais antipática do que a de Zeca Dirceu nesse episódio. Seria bom que fosse o símbolo de uma fase do Brasil deixada para trás, junto com o petismo: uma fase em que os arrogantes, do alto de sua enorme importância autoatribuída, se sentiam no direito de pisar e desrespeitar qualquer autoridade que lhes fosse contrária.

A escalada da arrogância
Mas, ao que parece, era uma percepção subjetiva minha – ou, ao menos, uma percepção comum na população geral, porém incomum entre os letrados. Pois não demorou muito para que André Marinho, que não era nenhum petista e cujo pai é suplente de Flávio Bolsonaro no Senado, achasse muito boa a ideia de usar a dicotomia tchutchuca/tigrão para ofender um ancião: em entrevista com Bolsonaro, chamou-o de tchutchuca com o STF e tigrão com humorista (o próprio Marinho). Senti a mesma aversão que o petista me causou, mas a bolha antipetista achou bonito.

Entre o episódio de 2019 protagonizado por Zeca Dirceu e o de 2021, protagonizado por Marinho, perdeu-se algo: Paulo Guedes devia explicações ao deputado por ele alegadamente falar em nome do povo brasileiro – o que é inflar muito a sua condição de representante petista dos paranaenses, mas ao menos ele de fato foi eleito por uma diminuta parcela do povo brasileiro para representá-la. Com André Marinho, a coisa evoluiu: ele se investe como Voz da Razão ou coisa do gênero. Na precária condição de comediante que diz “verdades incômodas” sem decoro, acreditava que Bolsonaro deveria dar a ele o mesmo tratamento que dado ao STF, que é o tigrão de todos nós.

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O youtuber segue na mesma linha de André Marinho e repete as acusações usuais feitas por aqueles ex-bolsonaristas que se pretendem ideologicamente puros: Bolsonaro se aliou ao Centrão; Bolsonaro acabou com a Lava Jato etc. Depois se descobre que o próprio youtuber se filiou ao União Brasil, um partido do Centrão por excelência, para tentar sair candidato a deputado federal nesta eleição e defender os interesses dos militares. Em outras palavras, ele tentou seguir o mesmo percurso que Bolsonaro, falhou, e se pôs de palmatória do mundo. Investido por qual autoridade, mesmo?

Ora, a dos incapazes de fracassar.

Sem fazer nada, não se fracassa
Já expliquei a minha teoria de que a mania da sinalização de virtude era uma doença de nichos letrados de esquerda que se alastrou, durante a pandemia, para nichos letrados antipetistas (que se tornaram ao mesmo tempo antibolsonaristas, sem serem pró-nada). Também creio que essa compulsão é um sintoma de vida vazia, na qual as pessoas perderam a capacidade de entender o que é ser bom e passaram a trabalhar com uma dicotomia maniqueísta para dar sentido à vida. Essa gente descobre o que é preciso fazer para estar no time dos bons contra os maus e logo se adéqua. O jogo só é possível com um papel de vilão bem definido, porque, como não têm luz própria, precisam de maus para parecerem bons. Todo o jogo acontece só com a garganta (ou os dedos). Ninguém faz nada de útil; só sinaliza virtude.

Vamos às acusações corriqueiras feitas a Bolsonaro. Todo o mundo que esteja minimamente interessado em resolver problemas sabe que as verbas de gabinete são um convite à corrupção miúda (bem diferente da do Mensalão); que o sistema partidário e eleitoral é todo atravancado; que não é possível governar sem os votos do Centrão. Quem quiser posar de puro ficará sem partido, e, portanto, como não é possível haver candidaturas avulsas, sequer ingressará na vida política. Restará ficar no banco de reservas da vida política, só palpitando.

Na esquerda, ouvíamos a mesma cantilena na boca da intelectualidade durante os governos petistas: o militante do obscuro PSTU, sim, era esquerda de verdade e defendia o proletariado. Lula e Dilma tinham se dobrado ao Congresso, que é conservador, homofóbico, machista etc. Ao que os governistas retrucavam: é claro que “se dobraram” ao Congresso. Como governar sem ele? Dando um golpe? Repetindo o Mensalão? Hoje a mesma cantilena é repetida por autodeclarados conservadores, trocando-se a palavra “Congresso” por “Centrão”.

O jeito mais fácil de não ser criticado é não fazer nada. Tanto o militante do PSTU quanto o youtuber conservador-de-verdade poderão acalentar a ideia de que, se o mundo fosse justo e reconhecesse seus dotes, aí sim eles fariam tudo muito melhor.

A encarnação da fantasia
No entanto, existe uma figura política nos dias de hoje com o qual esses tipos folgados podem se identificar. Quem não tem filiação partidária, não se sujeita à opinião do populacho, nem precisa de Congresso para fazer valer a sua vontade? Quem pode se gabar de prescindir de popularidade, mas mandar mesmo assim? Os ministros do Supremo Tribunal Federal. Podemos dizer que eles encarnam a fantasia do sinalizador de virtude metido a intelectual.

E que essa mania tenha se alastrado, a própria reação da imprensa e dos letrados ajuda a evidenciar. Quando um moleque arrogante xinga a autoridade eleita por milhões de brasileiros, isso não é tratado como crime de desacato sequer pelo presidente, que ao cabo se dedicou a responder ao youtuber. Por outro lado, sabemos muito bem que tal coisa jamais aconteceria a um ministro do Supremo, já que eles, sim, podem botar quem quiserem na cadeia, a despeito do que diga a lei. Lewandowski nem é dos piores; no entanto, para compará-lo a Bolsonaro, lembremos como ele agira quando um passageiro de avião sacara o celular e lhe dissera – sem o xingar pessoalmente – que o STF o envergonha. O passageiro foi detido. O episódio ocorreu em 2018, antes de o Inquérito do Fim do Mundo desencorajar críticas.

Sabemos ainda que toda expressão de reprovação aos ministros do STF é prontamente recebida como um “ataque à democracia e às instituições”. Não obstante, os ataques reiterados à pessoa de Bolsonaro – ataques que incluem uma facada – não são considerados ataques à democracia. Muito pelo contrário: atacar o líder democraticamente eleito que segue popular, capaz de mobilizar multidões nas ruas, é considerado requisito necessário para entrar no chique clube dos verdadeiros defensores da democracia.

Os letrados estão loucos. Mas não é de surpreender; afinal, era mesmo de se esperar que a clausura em panelinhas causasse a perda de noção da realidade. E quanto à incoerência lógica, dá para mascará-la com um discurso enlatado pró criminalização de fake news ou anti-populismo.

Se há povo, eles são contra. É preciso colocá-lo no lugar de vilão para eles, que não têm substância, se sentirem superiores.


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