domingo, 14 de agosto de 2022

STF USA PRÁTICA MEDIEVAL CONTRA O BOLSONARO

 

Por
André Uliano – Gazeta do Povo


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No programa “Fora dos Autos” que foi ao ar no dia 4 de agosto, abordamos o risco de que esteja sendo praticada pescaria probatória contra o Presidente Jair Bolsonaro. A hipótese havia sido veiculada já em meados de 2020 pela própria Procuradoria-Geral da República, em relação aos apoiadores do Presidente vítimas de diligências infundadas determinadas no bojo do Inquérito do Fim do Mundo. Mais recentemente, diante das medidas inquisitoriais adotadas por Alexandre de Moraes, a Vice-PGR, Drª. Lindora Araújo, voltou a suscitar o tema, ao afirmar que a conduta do ministro era “passível de configurar a prática denominada de ‘fishing expedition’”.

Importante deixar claro que a questão aqui não é se você gosta, apoia ou pretende votar no atual presidente. O que está em jogo é se o Brasil é um país que adota as melhores práticas das democracias ou se, pelo contrário, torna-se cada vez mais parecido com seus vizinhos chavistas.

Mas, afinal, o que é pescaria probatória (fishing expedtition) e por que sua adoção seria preocupante para a democracia?

Para entender esse problema é necessário compreender que a prova é um dos “pulmões” de um processo judicial. De fato, o processo é uma relação dialética entre partes que disputam o convencimento do órgão julgador. A convicção jurídica do juiz tem dois elementos centrais: a interpretação das normas jurídicas aplicáveis e a reconstrução do fato histórico.

Ou seja: é crucial num processo saber o que aconteceu e como o direito regula eventos dessa espécie. Por exemplo, se alguém responde por homicídio, é necessário verificar se foi ele quem desferiu os golpes e se sua conduta se enquadra na norma penal que proíbe a conduta de matar alguém. A disputa, portanto, por produzir provas e tê-las examinada perante um juízo imparcial é ponto-chave para o deslinde do feito.

Ocorre que essa relação pode ser parecida com uma guerra ou uma luta de vale tudo. É o que ocorre em sociedade primitivas e em regimes autoritários, como nossos vizinhos chavistas. Nas democracias, por outro lado, a relação ocorre num modelo acusatório, em que o juiz é provocado pelas partes, sendo o procedimento mediado por regras prévias e aplicadas de modo isonômico.

No Brasil, que é uma democracia não consolidada, sempre houve problemas de abuso probatório. Contudo, o país vinha numa crescente de adoção de boas práticas desde o fim do regime militar. Esse movimento, no entanto, foi formalmente revertido após a instauração do inconstitucional Inquérito do Fim do Mundo. Desde então o direito processual e probatório do país passou a sofrer um retrocesso sem precedentes em períodos democráticos. Hoje podemos concluir que há um movimento reacionário promovendo um desmonte das garantias processuais.

Esse processo é ainda mais preocupante, porque ele incide de modo assimétrico a depender da posição política do investigado. Portanto, há indícios de que no Brasil estamos não apenas diante de um fenômeno de uma posição ideológica menos garantista, mas de tribunais politicamente sequestrados, o que é um elemento típico de democracias em processo de erosão. Situações análogas ocorreram na Venezuela e na Nicarágua, antes do colapso total de suas instituições.

Voltando ao tema do processo em si, nele a reconstrução do fato histórico dá-se, basicamente, por meio da produção probatória. Assim, o abuso nos meios de obtenção de provas, como a fishing expedition ou a atividade inquisitorial do juiz, além de violarem direitos fundamentais, desequilibram o processo e o seu resultado. Quando essas condutas são praticadas pelo próprio órgão julgador também há quebra da imparcialidade, descrita pela Suprema Corte Canadense como “um estado mental no qual o julgador está desinteressado do resultado e aberto à persuasão pela evidência e pelos depoimentos. Pelo contrário, viés denota um estado mental predisposto a um resultado particular” (R. v. S. (R.D), 1997, 3 SCR 484).

Frise-se que já há quase meio século, acertada lição da Corte Europeia de Direitos Humanos demonstrou que a imparcialidade não é apenas subjetiva, mas também objetiva. Aprofundaremos nisso em texto futuro. Mas é importante ressaltar que, conforme arrematou aquele tribunal nos casos Piersack v. Belgica e DeCubber v. Belgica – a imparcialidade tem uma liturgia própria, de modo que o comportamento do julgador, o modo como ele aparenta atuar – por exemplo, revelado na obsessão por levantar provas contra pessoa específica – é o suficiente para demonstrar sua parcialidade.

Aqui gostaríamos de nos concentrar, no entanto, na pescaria probatória, também denominada pelo título em inglês: fishing expedition.

A alcunha do fenômeno indica de modo bastante adequado sua ideia central. Assim como o pescador lança suas redes sem saber ao certo o que irá apanhar, o investigador de má-fé lança uma rede de medidas invasivas sobre o mar da vida privada de sua vítima (ou de pessoas a ela próximas) a fim de buscar qualquer elemento que possa macular sua imagem ou justificar a posteriori a investigação persecutória anteriormente aberta.

Em uma investigação normal e típica de países democráticos o investigador fixa seus olhos num fato específico e busca elementos probatórios a partir dos dados concretos que ele possui: se encontra um cadáver alvejado por disparos de arma de fogo, ele busca o revólver; se encontra o armamento, busca seu proprietário; se encontra o proprietário, busca verificar o que ele fez no dia e assim por diante.

Na pescaria probatória, o agente-inquisidor em geral mira uma pessoa. Então, passa a determinar provas as mais amplas possíveis, a fim de estabelecer uma devassa em sua vida. A finalidade é pescar algo de irregular que possa legitimar as diligências praticadas e novas medidas de perseguição. Não são os indícios já colhidos que justificam a prática probatória. É a prova colhida a posteriori que justifica a investigação.

Como explica Pedro Molina em trabalho sobre o tema, a prática da fishing expedition já incomodava os advogados nas antigas cortes britânicas. Naquele tempo costumava-se exigir dos investigados juramentos de responder qualquer pergunta, sem silenciar ou mentir. Eram os chamados juramentos ex officio ou juramentos de veritate dicenda. O detalhe é que o alvo da investigação não precisava saber qual fato estava sendo investigado e, assim, os questionamentos podiam abranger qualquer dado de sua vida. Alguns agentes abusavam então da situação e, no intuito de justificar a caçada a suas presas, passavam a fazer perguntas sem conexão direta com a causa, levando o investigado por vezes a incorrer em perjúrio ou produzir prova contra si mesmo.

Na common law, o privilégio contra a autoincriminação (privegie against self-incrimination) passou a funcionar como incipiente escudo contra tais práticas. A exigência de respostas sem conexão com fato específico por meio de juramento passou a ser paulatinamente restringida e hoje é vedada pelas garantias consagradas nas Constituições das democracias modernas. Veremos mais à frente que a jurisprudência já condenou medidas probatórias dessa espécie no Brasil.

No tocante à definição de fishing expedition, o dicionário Collins traz o seguinte conceito: “qualquer inquérito realizado sem qualquer plano ou propósito claramente definido na esperança de descobrir informações úteis”. A dicionário Merriam-Webster talvez seja ainda mais claro: “uma investigação que não se apega a um objetivo declarado, mas espera descobrir evidências incriminatórias ou dignas de notícia”

Na doutrina brasileira, Alexandre de Morais da Rosa, conceitua a pescaria probatória como a “procura especulativa, no ambiente físico ou digital, sem ‘causa provável’, alvo definido, finalidade tangível ou para além dos limites autorizados (desvio de finalidade), de elementos capazes de atribuir responsabilidade penal a alguém.” Explica ele: “Denomina-se pescaria (ou expedição) probatória a prática relativamente comum de se aproveitar dos espaços de exercício de poder para subverter a lógica das garantias constitucionais, vasculhando-se a intimidade, a vida privada, enfim, violando-se direitos fundamentais, para além dos limites legais.”

Na obra conjunta, “Fishing Expedition e Encontro Fortuito na Busca e na Apreensão”, os autores apresentam ainda a seguinte definição:

“É possível, portanto, definir a pescaria probatória (fishing expedition), como a apropriação de meios legais para, sem objetivo traçado, ‘pescar’ qualquer espécie de evidência, tendo ou não relação com o caso concreto. Trata-se de uma investigação especulativa e indiscriminada, sem objetivo certo ou declarado, que, de forma ampla e genérica, ‘lança’ suas redes com a esperança de ‘pescar’ qualquer prova, para subsidiar uma futura acusação ou para tentar justificar uma ação já iniciada.”

Nossos tribunais superiores já condenaram sua prática, pois conforme leciona precedente do STJ, “os indícios de autoria antecedem as medidas invasivas, não se admitindo em um Estado Democrático de Direito que primeiro sejam violadas as garantias constitucionais para só então, em um segundo momento, e eventualmente, se justificar a medida anterior, sob pena de se legitimar verdadeira fishing expedition, conhecida como pescaria probatória” (AgRg no RMS 62562).

Em Mandado de Segurança impetrado contra ato invasivo decretado pela CPI da COVID, um dos advogados de defesa – acertadamente – alegou: “A quebra irrestrita dos sigilos perseguidos pela CPI – Pandemia, sem fundamentação e individualização concreta equipara-se ao que a doutrina moderna e especializada nominou como ‘fishing expedition’ ou ‘pescaria probatória’, sendo em resumo, o meio de investigação especulativa indiscriminada, sem objetivo certo, determinado ou declarado, decretado de forma ampla e genérica, no afã (ou esperança) de ‘pescar’ qualquer prova para fortalecer um futuro processo.”

Nesse sentido, ademais, corretamente asseverou o ex-ministro Celso de Mello, no âmbito do Inq 4831:

“E o motivo de observar-se a existência de conexão com os eventos alegadamente delituosos sob investigação penal reside no fato de que o nosso sistema jurídico, além de amparar o princípio constitucional da intimidade pessoal, repele atividades probatórias que caracterizem verdadeiras e lesivas ‘fishing expeditions’, vale dizer, o ordenamento positivo brasileiro repudia medidas de obtenção de prova que se traduzam em ilícitas investigações meramente especulativas ou randômicas, de caráter exploratório, também conhecidas como diligências de prospecção, simplesmente vedadas pelo ordenamento jurídico brasileiro, como resulta não só da doutrina (…), mas, também, da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça”.

Segundo Alexandre de Morais da Rosa, no ambiente estadunidense, conforme precedente do caso Hickman v. Taylor (1947), “ao mesmo tempo em que as regras não podem ser restritivas (impedir a apuração de condutas criminosas), os limites legais devem ser respeitados, a saber, o ato não pode ser movido por má-fé ou com desvio de finalidade (vinculado à causa provável), de modo opressor e/ou vexatório, nem invadir o domínio de direitos reconhecidos. Trata-se de expediente (…) em que o órgão investigador pode se utilizar dos meios legais para, sem objetivo definido ou declarado, ‘pescar’ quaisquer evidências a respeito de crimes desconhecidos ou futuros. Configura verdadeira devassa ampla e irrestrita do passado, presente e futuro do alvo (pessoa ou conduta suspeita), desprovida de ‘causa provável’, isto é, fora do enquadramento normativo da investigação democrática.”

A produção probatória, portanto, sempre depende de fundada suspeita – baseada em elementos concretos – de que a pessoa praticou delito específico objeto do ato investigatório e demonstração de que a prova é necessária para as investigações daquele fato concreto alvo da apuração.

No programa Fora dos Autos mencionado acima, apontamos alguns indícios de que isso não vem sendo respeitado no Brasil. Tal fato configura patente risco de violação das garantias constitucionais, particularmente do devido processo legal, e de erosão da democracia e do Estado de Direito.


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FOME NO BRASIL O PROBLEMA É A FALTA DE DINHEIRO

 

Artigo
Por
Alexis Fonteyne


Imagem ilustrativa.| Foto: Unsplash

Dados revelados pelo 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19, divulgados no início de junho, mostram que 33,1 milhões de pessoas não têm o que comer no país. São 14 milhões de brasileiros a mais em insegurança alimentar grave em 2022, na comparação com 2020.

De acordo com o estudo, promovido pela Rede Brasileira de Pesquisa e Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, seis em cada dez domicílios não conseguem manter acesso pleno à alimentação e, pior, mantêm algum nível de preocupação com a escassez de alimentos no futuro. As regiões Norte e Nordeste são as mais impactadas.

A fome em nosso país tem caráter diferente do flagelo vivido em outras nações do mundo, que padecem da escassez de alimento, seja pela baixa produção, seja por condições climáticas adversas ou por guerras que desmontam o equilíbrio das relações humanas.

O problema do Brasil é que os brasileiros perderam o poder de compra e a inflação corroeu os vencimentos.

O Brasil, ao contrário, é um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Nossas safras batem sucessivos recordes, assegurando a balança comercial brasileira e mitigando os efeitos negativos no Produto Interno Bruto (PIB). O abastecimento interno é assegurado por uma legião de agricultores familiares, que correspondem a 77% dos estabelecimentos agrícolas, segundo o mais recente Censo Agropecuário, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São 10 milhões de pessoas, o equivalente a 67% da força de trabalho ocupada em atividades agropecuárias.

O problema do Brasil é que os brasileiros perderam o poder de compra e a inflação corroeu os vencimentos. O desemprego tem dados sinais de recuo e neste trimestre deve ficar em 9,5%. Mas a prévia da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA-15 divulgado em maio, acumulou alta de 11,73% em 12 meses.

O diagnóstico tem que ser bem-feito, correndo-se o risco de não resolver nunca a causa do problema da fome no Brasil. No curto prazo, a fome de hoje precisa de assistência governamental, mas, se não atacarmos a causa, ela funcionará como um eterno palanque eleitoral.

Seja no caso de um agricultor de escala industrial, ou de um agricultor familiar, a situação não foge muito do perfil: a safra terá que ser vendida para custear a semente, o adubo, os equipamentos e implementos, o óleo diesel. Portanto, voltamos ao ponto inicial: a fome não decorre da falta de alimentos disponíveis, mas, sim, da falta de renda para comprá-los. Precisamos descomplicar o Brasil, facilitar a vida de quem toma risco e empreende, eliminar os gargalos, acabar com o custo Brasil, atraindo investimento, gerando emprego e renda.

Temos, dentre tantos outros gargalos, problemas de educação – apenas 4% dos jovens de 15 a 24 anos estão matriculados em cursos técnicos ou profissionalizantes, o que poderia ser um caminho para aqueles que têm menos acesso a escolas de qualidade. Os alunos regulares têm desempenhos ruins nas avaliações PISA, que medem os conhecimentos de Matemática e Português. Já o mercado de trabalho é burocrático e pouco competitivo. As leis trabalhistas, ao invés de proteger de fato os trabalhadores, impedem a geração de novos postos de trabalho.

Não adianta ficarmos apenas lamentando as cenas de famílias inteiras passando dificuldades pela TV ou nosso dia a dia, nas ruas, se não formos capazes de atacar o cerne da questão: melhorar a capacitação de nossos estudantes e trabalhadores, para que eles tenham condições de atender as necessidades mais básicas, dentre elas o direito à alimentação. E a solução só virá o dia em que tirarmos as amarras que impedem o país de ser mais competitivo e inclusivo.

Alexis Fonteyne é deputado federal e presidente da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo.

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FILMES PRÓPRIOS PARA QUEM INVESTE NO MERCADO FINANCEIRO

 

COMPORTAMENTO

Confira nossa seleção de seis filmes disponíveis no streaming para você aprender mais sobre investimentos

RENATO VIEIRArenato.vieira@estadao.com – Jornal Estadão

Você investe no mercado financeiro? Então assista a esses filmes
Giovanni Ribisi e Vin Diesel em cena do filme O Primeiro Milhão (2000).
  • O cinema americano produziu filmes premiados sobre o mercado financeiro, boa parte deles baseado em histórias reais e eletrizantes
  • Confira alguns deles nesta seleção do E-Investidor

O cinema norte-americano produziu filmes premiados sobre o mercado financeiro, boa parte deles baseado em histórias reais e eletrizantes, de ganhos e perdas. Em alguns, você pode aprender o que fazer com seus investimentos. Mas a maioria dos longas-metragens mostra o que o investidor não deve fazer.

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Por isso, o E-Investidor fez uma seleção de seis filmes disponíveis nas plataformas de streaming para que você possa aprender como funciona o complexo, e ao mesmo tempo cinematográfico, mundo dos investimentos e das finanças.

A Grande Aposta (2015)

O filme de Adam McKay é baseado em livro de Michael Lewis. Michael Burry (Christian Bale) é um guru de Wall Street que, após perceber a iminente inadimplência do mercado imobiliário, decide investir contra ele. Jared Vennett (Ryan Gosling) também segue a percepção de Burry e tenta fazer dinheiro se antecipando à tragédia financeira.

O longa também mostra as personalidades de Mark Baum (Steve Carell), diretor da empresa FrontPoint, subsidiária do Morgan Stanley, e de Ben Rickert (Brad Pitt), um ex-banqueiro que volta ao jogo ao ser abordado por dois jovens. Margot Robbie e Selena Gomez participam do filme, que ganhou Oscar de Melhor Roteiro Adaptado.

O Lobo de Wall Street (2013)

Indicado a cinco Oscars, o filme de Martin Scorsese conta a história real do corretor de ações Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio). Depois de perder o emprego, ele passa a trabalhar em uma empresa que vende papéis modestos de fora da bolsa de valores. Ao lado de amigos como Donnie (Jonah Hill), ele cria a empresa Stratton Oakmont e utiliza esquemas ilegais para se dar bem, até que chama a atenção do FBI. Margot Robbie e Matthew McConaughey também atuam na produção.

Onde ver: HBO Max
Amazon Prime Vídeo, YouTube e Google Play Filmes: (aluguel de R$ 2,90)

Margin Call – O Dia Antes do Fim (2011)

O longa começa com um dia de demissão em massa em uma instituição financeira em Wall Street cujo nome não é revelado. Mas está claro para o espectador mais atento que o banco foi inspirado no Lehman Brothers, que quebrou com a explosão da bolha imobiliária.

O experiente analista de riscos Eric Dale (Stanley Tucci) é um dos dispensados, mas antes de sair do prédio deixa um pen drive com outro funcionário, o jovem Peter Sullivan (Zachary Quinto), pedindo “cuidado”. Após analisar os dados, Sullivan descobre que uma catástrofe econômica está por vir.

O Mago das Mentiras (2017)

Tendo Robert De Niro e Michelle Pfeiffer no elenco, o longa-metragem é baseado no livro da jornalista Diana B. Henriques. De Niro interpreta Bernie Madoff, uma lenda de Wall Street que tinha um poderoso fundo de investimentos, circulava entre os ricos e famosos de Nova York e armou um esquema de pirâmide financeira que prometia grandes retornos.

O Primeiro Milhão (2000)

Seth (Giovanni Ribisi) é um jovem que gerencia um cassino clandestino quando foi recrutado para trabalhar em uma corretora de ações com a promessa de ficar rico.

Mas a corretora funciona na base do “pump and dump”: seus próprios corretores criam demandas artificiais para os papéis, o que pode colocar tudo a perder. Vin Diesel e Ben Affleck também participam do longa-metragem dirigido por Ben Younger.

Wall Street – Poder e Cobiça (1987)

O filme de Oliver Stone, apesar de ficcional, foi considerado como um retrato fiel da crueza e ambição que cercavam Wall Street na metade dos anos 1980. O corretor de ações Bud Fox (Charlie Sheen) tenta de todas as formas se aproximar do poderoso investidor Gordon Gekko.

Após conseguir e se tornar aprendiz dele, Fox começa a ser guiado por Gekko, que pede para ele espionar o CEO de uma grande empresa. Por meio de informações privilegiadas, Fox e Gekko lucram e chamam a atenção do órgão equivalente nos Estados Unidos à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira. O longa ganhou uma continuação, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (2010).

ESCOLA PODE SALVAR A AMAZÔNIA

 

Desenvolvimento social da região, principalmente com uma educação de qualidade para crianças e adolescentes, passa a ser visto como essencial para proteger o bioma  

Texto: Renata Cafardo  |  Fotos: Tiago Queiroz

Aos poucos, cresce a consciência no Brasil de que é necessário mais do que não cortar árvores para preservar a Amazônia. E de que é preciso olhar para a educação dos povos – indígenas, ribeirinhos, quilombolas, urbanos – que vivem no meio de tanto verde e tanta água. Durante o primeiro semestre, o Estadão viajou para Amazonas e Pará para apurar como é possível fazer uma escola pública de qualidade na região, uma educação para a sustentabilidade. E também o que falta para se chegar a isso.

Comparados ao restante do País, os resultados da educação na Amazônia são sempre piores, por qualquer ângulo que se olhe. Na Amazônia Legal, termo criado pelo governo federal na década de 1950 e que engloba nove Estados, há menos crianças em creche e na pré-escola, baixa escolaridade média da população adulta e mais analfabetos.

O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) dos Estados amazônicos, indicador mais importante da qualidade do ensino do País, está no fim do ranking nacional. Rondônia, por exemplo, tem o melhor Ideb do ensino médio da região, mas inferior à média brasileira. Os índices do Pará e do Amapá relativos ao 5º ano do fundamental ficam em 4,9, o mais baixo do Brasil.

Índices de avaliações educacionais, como Ideb, são mais baixos na região
Índices de avaliações educacionais, como Ideb, são mais baixos na região

O cenário ainda inclui um recorde de desmatamento – nunca se perdeu tanta mata em 15 anos – e números alarmantes de desenvolvimento social. Só 25,8% das casas têm saneamento básico adequado, segundo o IBGE. No restante do País, o índice é de 73,7%. É mais baixa a expectativa de vida na região e são mais altos os índices de mortalidade infantil, gravidez na adolescência e população abaixo da linha da pobreza.

Crimes bárbaros como o que aconteceu recentemente no Vale do Javari, o assassinato do jornalista Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, são também fruto da pobreza e do abandono dos povos locais. Adolescentes sem uma escola que mostre um futuro melhor são atraídos para o garimpo e pesca ilegais, para o tráfico, para o crime

Os Estados da Amazônia Legal têm números alarmantes de desenvolvimento social, com baixa expectativa de vida, mais mortalidade infantil e gravidez na adolescência
Os Estados da Amazônia Legal têm números alarmantes de desenvolvimento social, com baixa expectativa de vida, mais mortalidade infantil e gravidez na adolescência

Há tanto iniciativas individuais concretas quanto grandes projetos para mudar essa realidade. “Um dos maiores desafios para quem trabalha com educação no interior da Amazônia é tornar a escola muito mais significativa para crianças e jovens, estimulando cadeias de bioeconomia, mas também valorizando a identidade local, o ser amazônida”, diz a professora da Universidade Federal do Amazonas e ex-secretária de educação de Manaus, Kátia Schweickardt. Ela está à frente do projeto Plantar Educação, do Instituto Gesto, com o apoio da Fundação Lemann.

A ideia do projeto é fazer parcerias com redes municipais da região para melhorar a gestão e a aprendizagem das crianças. O entendimento é o de que a Amazônia precisa fazer parte dos currículos de maneira transversal. Isso significa não separar uma disciplina para falar do tema e, sim, estar sempre presente no projeto pedagógico, nos materiais, na prática. “A Amazônia é o lugar onde essas crianças vivem e isso tem que fazer parte do processo de aprendizagem desde o primeiro momento em que pisam na escola porque cria identidade, pertencimento, e proporciona uma aprendizagem significativa. Esse é o único jeito de elas aprenderem de verdade.”

A necessidade de uma educação mais significativa e que se identifique com a realidade amazônica esbarra em um contexto de diversidade e desafios, com muitos povos de culturas diferentes, pobreza e longas distâncias. O acesso dos professores frequentemente exige horas de barco. As comunidades são pequenas e espalhadas, o que impossibilita a formação de salas de aula com um número de alunos viável para que o governo pague um profissional para o que seria uma turma.

“Um dos maiores desafios é tornar a escola muito mais significativa, valorizando a identidade local, o ser amazônida”

Kátia Schweickardtprofessora da Universidade Federal do Amazonas

A sala do professor Tomé Kambeba tem dez crianças, com idades que vão de 8 a 10 anos – elas estariam no 3º,  4º e 5º ano do ensino fundamental. Todos vivem na Comunidade de Três Unidos, uma aldeia indígena do povo Kambeba, a duas horas de barco de Manaus. No meio do dia, deixam a sala e vão todos para o Rio Negro, que banha a comunidade. De roupa mesmo, as crianças imitam as braçadas do professor, ouvem sobre como manter a canoa boiando, sem virar ou encher de areia.

“Eu trabalho a matemática, pedindo pra calcular quantos metros a canoa andou, o espaço, geografia, e ao mesmo tempo, a história da canoa”, diz Tomé. Para ele, não importa muito a idade das crianças e, sim, em que momento da aprendizagem estão, para que um possa ajudar o outro. “No cotidiano da comunidade indígena, a gente aprende vivendo. É isso que eu trago para a escola. Não é um conceito, é uma sabedoria do nosso povo.”

Diversão
Crianças da etnia kambeba se prepararam para aula no rio Negro

Físico
Alunos imitam as braçadas do professor

Matemática
Competição de canoas ajuda na aprendizagem da distância e do espaço

Hoje a escola indígena Kanata Tykua faz parte da rede municipal de educação de Manaus e tem prédio novo, construído pela prefeitura. Mas nem sempre foi assim. O diretor da escola, Raimundo Kambeba, de 44 anos, começou a dar aulas para crianças de maneira improvisada quando tinha 14, a pedido do seu pai, o Tuxaua da aldeia. Esse é o nome que se dá ao cacique na língua kambeba. Raimundo alfabetizava usando frutos, sementes e um quadro preto de compensado.

A escolarização dos indígenas no Brasil foi por muito tempo marcada pela presença dos religiosos, com a ideia de educá-los e catequizá-los para que ficassem mais parecidos com os brancos. No Brasil colônia, era papel dos missionários católicos e, mais tarde, também dos evangélicos. Movimentos indígenas em busca de reconhecimento se intensificaram nos anos 1980 e, com a Constituição em 1988, os povos ganharam o direito à manutenção da sua identidade cultural e de ter a escola como um meio para isso.

O aluno Lupércio aprende a ler em português e em kambeba
O aluno Lupércio aprende a ler em português e em kambeba
As aulas na escola têm dança, pintura, música indígena e arco e flecha
As aulas na escola têm dança, pintura, música indígena e arco e flecha
Tuxaua da aldeia, Waldemir (à direita), e o filho Raimundo, diretor da escola
Tuxaua da aldeia, Waldemir (à direita), e o filho Raimundo, diretor da escola

Em seguida, leis e normas passaram a reconhecer a importância dos próprios indígenas na construção da sua educação. O Ministério da Educação (MEC) e as secretarias passaram a investir em formação de professores indígenas, em currículo e em materiais didáticos que considerassem a história e os saberes dos povos. Nos últimos anos, durante o governo de Jair Bolsonaro, no entanto, houve menos incentivo e retrocessos.

Hoje existem cerca de 3,4 mil escolas em territórios indígenas no Brasil e só 75% delas têm prédio ou alguma construção própria, segundo dados do MEC. “São crianças que estudam em lugares absolutamente inadequados e impróprios, debaixo de árvore, numa casa comunitária, igrejinha ou mesmo em um barranco no meio da Amazônia”, diz professor de Antropologia da Universidade de Brasília (UNB) Gersem Baniwa, especialista em educação escolar indígena. Ele coordenou no MEC, entre 2008 e 2012,a  educação indígena na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, que não existe mais. “A precarização é enorme, o financiamento desapareceu.”

267 mil 

alunos indígenas existem no Brasil, a maioria na região Norte

Questionado, o MEC informou que o governo Bolsonaro investiu R$ 22 milhões para formação de professores indígenas desde 2019. Mas nos últimos dois anos, o Estadão apurou que universidades não receberam mais verbas do governo federal e mantêm os cursos sozinhas. Até 2015, cerca de R$ 25 milhões eram investidos por ano para formação docente. Havia ainda cerca de R$ 70 milhões anuais para construção de escolas indígenas.

São atualmente 23 mil docentes indígenas, o que daria cerca de seis para cada escola e há déficit principalmente a partir do 5º ano e no ensino médio. E mais de 270 mil alunos. “Não faz sentido colocar um professor não indígena numa escola indígena, seria a mesma coisa de colocar um indígena para dar aulas numa escola da Avenida Higienópolis (área nobre de São Paulo). Não é incapacidade, é uma pedagogia totalmente diferente”, completa Baniwa.

25%  

das escolas indígenas no Brasil não têm prédio ou qualquer construção

A escola de Raimundo tem três professores e 40 alunos. Todos ensinam em português e na língua kambeba. As salas das crianças que estão se alfabetizando têm letras correspondentes a palavras em kambeba, como A que não é de “avião” e, sim, de “apiçara”, que é homem na língua nativa. Além das aulas no rio, o projeto pedagógico inclui arco e flecha, comidas típicas, histórias do povo kambeba, danças, música e pintura corporal. “A gente vê o que é importante do currículo não indígena e faz um outro currículo com o conhecimento tradicional, ancestral”, conta Raimundo.

Segundo ele, nem sempre é fácil que a secretaria municipal aceite as adaptações. Procurada, a secretaria de Manaus informou que a “educação escolar indígena está sendo organizada, mantida e discutida pelos próprios indígenas, professores, gestores e famílias indígenas, num processo dialógico com os setores competentes desta secretaria”.

“Colocar um professor não indígena numa escola indígena seria a mesma coisa de colocar um indígena para dar aulas numa escola da Avenida Higienópolis”

Gersem Baniwaprofessor de Antropologia da UNB

Comunidades quilombolas e ribeirinhas também enfrentam desafios semelhantes. A secretária de educação de Moju, no interior do Pará, Sandra Ataíde, conta sobre a dificuldade em contratar profissionais para atuar nas escolas das 13 comunidades quilombolas que existem na cidade. Para chegar a algumas delas, são 32 horas de barco. A legislação exige que seja aberto concurso público, mas muitas vezes nenhum dos classificados aceita o trabalho. O transporte escolar é feito por barqueiros e Sandra já brigou no Ministério Público para poder contratá-los entre os moradores das comunidades. “São eles que conhecem melhor que ninguém cada igarapé para levar os alunos com segurança”, diz.

A pandemia ainda piorou a situação. No Pará, a maioria dos estudantes ficou sem ir à escola por dois anos e, com pouco acesso à conectividade, o ensino remoto não foi eficiente. Mesmo nas escolas urbanas de Moju, há crianças do 6º ano que não estão alfabetizadas. Marcos Henrique, de 13 anos, conseguia ler apenas a palavra “covid-19” no texto do livro durante a aula de Ciências no fim de março, quando a reportagem esteve no local. Ele fazia aulas de reforço, mas o período de quarentena não permitiu continuar. “Eu fico triste porque preciso pedir ajuda aos amigos.”

Assim como no resto do Brasil, crianças da região não se alfabetizaram porque ficaram longe da escola
Assim como no resto do Brasil, crianças da região não se alfabetizaram porque ficaram longe da escola

No Brasil, os dados do IBGE mostram que aumentou de 25% para 41% o número de crianças não alfabetizadas de 6 e 7 anos – idade considerada ideal para aprender a ler e escrever – entre 2019 e 2021. Antes mesmo da pandemia, uma de cada grupo de 10 pessoas com mais de 15 anos já era analfabeta na Amazônia Legal.

A casa de Marivaldo Valadares, na Comunidade de São Sebastião, no Pará, tem dois cômodos onde moram 14 pessoas, o casal, seus dez filhos (com idades entre 3 e 22 anos) e dois netos. Não há banheiro. A comunidade é quilombola e vive da agricultura, da pesca e de programas sociais do governo, às margens do Rio Moju. O açaí é o principal alimento, servido com farinha.

Depois de dois anos sem aulas por causa da pandemia, folhas rasgadas do livro didático eram usadas para tapar buracos na parede. “É para não passar bichos pela parede para a cozinha”, explica Maciara, de 12 anos. No fim de março, a irmã Mailane, de 9 anos, não lembrava em que série estava mais. Marina, de 17 anos, cursava o ensino médio, mas esperava os professores aparecerem para voltar à escola. Na Amazônia profunda, pela dificuldade de acesso e pouca quantidade de alunos, muitas vezes os professores se dividem e passam cerca de três meses em cada comunidade ensinando a disciplina. Depois, o professor de Português vai embora e vem um de Química, por exemplo, que fica mais algum tempo.

1Jovens e crianças da família Valadares, ribeirinhos do Pará;

2Mailane, de 9 anos, mostra o açaí, base da sua alimentação;

3A casa às margens do Rio Moju só pode ser acessada por barco;

4Uma das filhas prepara a refeição para a família de 14 pessoas;

5Com a pandemia, folhas de livro didático antigo tapam buracos na parede.


“Não dá para a gente resolver o problema do desmatamento da Amazônia só olhando para agenda ambiental”, diz Renata Piazzon, secretária executiva da rede Uma Concertação pela Amazônia e diretora do Instituto Arapyaú. A rede surgiu em 2020 e reúne cerca de 400 integrantes da academia, setor privado, governo e sociedade civil para pensar em soluções para o desenvolvimento sustentável da região – com a educação entre os principais focos. O grupo tem nomes como o apresentador Luciano HuckGuilherme Leal, da Natura, o ex-ministro Armínio FragaCandido Bracher, do Banco Itaú, e Joaquim Levy, do Safra.

Resultados de iniciativas de educação e com cadeias produtivas sustentáveis em comunidades da Amazônia mostram redução no desmatamento. “É preciso inverter a ordem da reflexão. A gente tem que trabalhar para o aumento dos indicadores sociais tendo como consequência uma redução do desmatamento. Olhar para a população local e construir soluções junto com ela”, completa Renata.

Kátia Schweickardt diz que as especificidades da região não podem ser usadas como desculpa para uma educação que não tenha qualidade. Mas para mudar a realidade, diz, os professores também precisam estar formados para ensinar de maneira diferente. “A adição na China, nos Estados Unidos, em São Paulo, e aqui em Ananindeua, precisa ser ensinada. Mas numa comunidade indígena, o professor pode trabalhar com quantidade de frutas, de árvores próprias de lá. Na quilombola, eles têm jogos tradicionais da África”, explica Helena Rocha, professora do Instituto Federal do Pará, especialista em formar professores em educação para relações étnico-raciais.

A partir de 2003, o governo federal editou leis, pareceres e normas que obrigaram a educação brasileira a considerar as chamadas relaçõesétnico-raciais. Com isso, o País reconhecia tardiamente que era preciso ensinar sobre a contribuição de mulheres e homens africanos, indígenas e seus descendentes na formação da sociedade brasileira. Os currículos das escolas que estavam em comunidades reconhecidamente quilombolas também passaram a ter que incluir as línguas, as memórias coletivas e as práticas culturais dos povos que vivem em cada território.

Boa parte dos alunos na Amazônia são ribeirinhos e usam o barco como transporte escolar
Boa parte dos alunos na Amazônia são ribeirinhos e usam o barco como transporte escolar

Helena é responsável por formar professores por meio de parcerias do Instituto Federal com prefeituras da região. Mas, segundo ela, ainda só uma minoria consegue fazer um trabalho diferenciado e significativo. Seja por falta de formação ou por vontade. “É algo que dá muito trabalho, é mais fácil pegar os livros, um filme totalmente deslocado, colocar para alunos e ganhar dinheiro”.

Para Valdirene dos Santos Castro, educadora quilombola da cidade de Moju, é milenar e ancestral aprender com o seu povo. “O aluno tem que ser letrado no seu meio, com a sua cultura e não com a cultura do outro” diz ela, que alfabetiza crianças e adultos desde que era adolescente. “Eu só tinha estudado até a 4ª série e ensinava os outros. Essa era a realidade do nosso município que perdurou por muito tempo”, lembra Valdirene sobre os anos 1980. Hoje ela trabalha para a secretaria da educação da cidade e ajuda a pensar currículos que usem a “produção da mandioca, a lamparina, o igarapé, o peixe, a floresta, as ervas medicinais”.

‘É milenar e ancestral aprender com seu povo’, diz Valdirene, educador quilombola
‘É milenar e ancestral aprender com seu povo’, diz Valdirene, educador quilombola
Menina quilombola no Pará, escola que inclui mandioca, igarapé, peixe
Menina quilombola no Pará, escola que inclui mandioca, igarapé, peixe

A doutoranda em Antropologia social da Federal do Amazonas Ítala Nepomuceno, de 32 anos, conta que nasceu no interior do Pará e nunca a escola a ajudou a compreender a importância de viver na Amazônia. “O efeito era contrário, na verdade, usávamos livro didático feito no Sudeste. Existe uma bagagem colonial, uma tentativa de se desvencilhar da origem da região e fazer parte do mundo moderno, branco, europeu”, conta.  “Um dia eu vi índios em um jornal local e perguntei para a minha mãe se eles viviam perto da gente”. Ítala só foi entender mais sobre o bioma em que nasceu e cresceu na universidade, onde passou a pesquisar conflitos em comunidades tradicionais.

“A Amazônia está numa parte bem distante daqui. Não sei nem onde é porque eu nunca fui”, disseram adolescentes em Belém à reportagem. Eles estavam justamente dentro de uma escola na floresta amazônica, sem se dar conta. Ìtala diz que, apesar de o termo Amazônia não ser usado com frequência (os povos chamam de “mata” ou dizem que vão “ali tirar uma castanha”), falta uma sensação de pertencimento na população local. “A Amazônia não é pensada como um bioma, um lugar importante que precisa ser conservado”.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=2ZNoo2&show_brand=false


A mata e seus povos viram currículo no novo ensino médio

Estudar a Amazônia, lá e no resto do País. Entre os projetos da rede Um Concertação pela Amazônia está uma opção de currículo para o novo ensino médio para que os estudantes se aprofundem na aprendizagem da maior floresta tropical do mundo. Não só na questão ambiental, mas sobre quem são seus povos, suas histórias, o que fazem, como vivem.

O novo ensino médio, implementado obrigatoriamente em todas as escolas do País a partir deste ano, tem um currículo flexível que inclui os chamados itinerários formativos. Eles são caminhos que a escola tem que oferecer aos jovens como opção para que escolham estudar nos três anos, além das disciplinas obrigatórias. Assim, 40% do currículo ficam para os itinerários, em que o estudante desenvolve projeto de vida, cursa disciplinas eletivas e se aprofunda em pesquisas das áreas escolhidas.

Novo projeto o ensino médio com currículo sobre Amazônia começará no Amazonas, Amapá e Roraima
Novo projeto o ensino médio com currículo sobre Amazônia começará no Amazonas, Amapá e Roraima

A partir disso, a rede Uma Concertação pela Amazônia se juntou ao Instituto Reúna e ao Instituto iungo para criar os chamados Itinerários Amazônicos. “A gente quer mostrar dentro da sala de aula essa conexão direta com território para poder influenciar as possibilidades de futuro para o jovem. Se ele quiser sair da região, ele pode até sair, mas não por achar que o Sudeste é a única opção”, diz Fernanda Rennó, que coordena o grupo de trabalho de educação da iniciativa. A ideia é começar em 2023 com os Estados do Amazonas, Amapá e Roraima e depois disponibilizar gratuitamente os materiais, que serão feitos em plataformas até de Whatsapp, para professores de todas as redes do Brasil. “Se a gente não muda isso na escola, a gente vai continuar formando pessoas que não conhecem a Amazônia.”

Paulo Emílio Andrade, presidente do Instituto iungo, especializado em formação de professores, diz que seu “sonho” seria que a rede de São Paulo, por exemplo, também adotasse o programa. A entidade está trabalhando junto com as secretarias da educação, docentes e especialistas da Amazônia Legal para montar o curso que vai preparar os professores do ensino médio para dar as aulas.

Alunos do ensino médio têm aulas pelas TV, transmitidas de Manaus para as comunidades
Alunos do ensino médio têm aulas pelas TV, transmitidas de Manaus para as comunidades

“O jovem vai ser convidado a fazer pesquisa, construir intervenções socioculturais dentro do contexto da Amazônia. Hoje não se vê isso nos livros didáticos”, diz Andrade. O projeto tem o custo de R$ 6,2 milhões, 50% da iniciativa privada e 50% do BNDES. “A Amazônia precisa estar na escola, tem de ser um elemento identitário do brasileiro.”

Hoje o ensino médio no Amazonas é feito remotamente nas comunidades mais distantes. Antes mesmo da pandemia, em 2007, o Estado inaugurou um modelo pioneiro de aulas online e ao vivo, dadas de um estúdio em Manaus para escolas de difícil acesso e poucos alunos. Na comunidade de Três Unidos, as salas têm dois ou três estudantes, olhando para uma televisão, quando a internet funciona. Um professor fica presencialmente para tirar dúvidas, mas muitas vezes tem de assumir a aula porque os equipamentos falham. “Tudo vem por email, se o aluno não tem celular ou computador não consegue acompanhar as atividades”, diz o professor Igor Filho, de Geografia. Procurada, a secretaria de Educação do Amazonas confirmou o projeto sobre os itinerários, mas não se pronunciou sobre as críticas.


‘Nós somos a Amazônia também’

Roberto Garrido, de 47 anos, cortava árvores na Amazônia desde os 12. Ele entrava na mata e passava a semana, longe da mulher e dos filhos, atrás de madeira. Depois, trazia tudo nas costas e remando nas canoas pelo rio Negro. “Era meu sustento, eu achava que o atravessador era o herói”, conta. A vida dele e seu olhar para a floresta mudaram depois que o filho Giovani, hoje com 24 anos, pode estudar. O jovem se formou no ensino médio, fez ensino superior e participou de diversos cursos de empreendedorismo na própria comunidade ribeirinha de Tumbira, onde moram, no Amazonas.

Roberto Garrido deixou de ser madeireiro para se tornar um empreendedor
Roberto Garrido deixou de ser madeireiro para se tornar um empreendedor

As transformações começaram quando a terra em que vivem foi decretada uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), uma unidade de conservação dentro da Amazônia, em 2008. “Pra mim era o fim do mundo, um cara nascido e criado cortando madeira? Achei que minha vida ia acabar”, conta Roberto. Na época, a comunidade mal tinha escola ou internet.

Com a reserva veio também a Fundação Amazônia Sustentável (FAS). A entidade fez estudos sobre a potencialidade do local, sobre como aquela população de menos de 200 pessoas poderia sobreviver sem destruir a mata. Instalou um núcleo no local, com posto de saúde, biblioteca, escola estadual e cursos profissionalizantes. “A gente levou especialistas em turismo, chefes de cozinha maravilhosos para fazer treinamento para uma cozinha mais regionalizada, designer para ajudar no artesanato local”, lembra a superintendente da FAS, Valcléia Solidade.

Giovani participou de tudo e foi até para a Alemanha estudar mais. Resolveu então abrir uma pousada e atualmente está construindo, com o pai, casas para a comunidade, mas que são alugadas para curtos períodos para turistas que querem viver a realidade da Amazônia. “Quando eu era criança, eu não tinha como saber a grandeza que nós tínhamos no mundo”, diz.

Hoje a família toda vive do turismo e Roberto – que estudou só até a antiga 5ª série, hoje 6º ano – vê com clareza os impactos da nova atividade, além da renda maior. “Os jovens se julgam inferiores aqui porque não têm escolaridade. Mas, com o turismo, ele é doutor daqui. Ninguém sabe mais do que ele.”

Giovani Garrido abriu uma pousada e leva turistas para viverem em casas dentro da comunidade
Giovani Garrido abriu uma pousada e leva turistas para viverem em casas dentro da comunidade

Nas 16 unidades de conservação atendidas pela FAS, a redução no desmatamento foi de 12% entre 2020 e 2021. Nelas, há cerca de 40 mil pessoas e 11 milhões de hectares protegidos. “Desenvolvimento sustentável é uma mudança de cultura e leva de médio a longo prazo. O turismo, por exemplo, é uma cadeia que desenvolve várias pessoas de forma indireta, tem a mãe que fornece a farinha, o cara que fornece o peixe”, diz Valcléia. Para ela, uma educação para a sustentabilidade precisa incluir não só o ensino formal, mas os cursos livres e também as discussões sobre a vida na comunidade. “Tocar em assuntos sensíveis como violência doméstica, incesto, abuso sexual, tudo isso faz muita diferença para mudar a vida das pessas.”

Roberto hoje diz com orgulho que é um empreendedor e que se sente feliz por finalmente os povos ribeirinhos estarem sendo olhados. “Nós somos a Amazônia também, nós, os seres humanos.”


Empatia e inclusão na periferia de Manaus

Mesmo numa escola longe da mata, na pobre periferia de Manaus, a Amazônia está presente. Alunos da Escola Municipal Waldir Garcia saem com frequência para estudar os igarapés cheios de lixo do bairro. “Estão vendo essa sujeira, isso vai desaguar lá no Rio Negro”, diz para as crianças do 3º ano a professora Alcineide Rocha Carvalho. Elas olham garrafas pet, papéis, no meio de casas quase alagadas, e reclamam da sujeira, muitas vezes feita pelas suas próprias famílias.

A escola tem um projeto em tempo integral premiado e um Ideb 7,5, bem acima da média da cidade, do Amazonas e até de São Paulo. Valoriza a diversidade do ambiente, mas também a da comunidade. Acolhe muitas crianças com deficiência e imigrantes do Haiti, Venezuela, República Dominicana – frequentes atualmente em Manaus – mesmo sem nenhuma documentação brasileira. “Primeiro colocamos a criança na escola, depois os pais resolvem a burocracia”,  costuma dizer a diretora Lúcia Cristina Santos. “Se não, perdemos os alunos para os faróis de trânsito ou para o tráfico.”

Crianças em escola municipal de Manaus aprendem sobre consequências da poluição do rio
Crianças em escola municipal de Manaus aprendem sobre consequências da poluição do rio

A haitiana Rebeca Palmyr, de 7 anos, diz que a escola é a “mais legal que já estudou”. Conta que era punida fisicamente na escola em seu país e que, agora, aprende sobre empatia nas aulas. “A gente se coloca no lugar do outro. Quando o outro cai e a gente não ri dele, a gente ajuda. Então, isso é empatia”, explica. Na sala de Rebeca, a professora ensinava adição com uma “floresta de numerais”, um desenho com as contas dispostas entre árvores. E na sala ao lado, uma rede pendurada na parede – utensílio presente em toda casa da região – era usada para momentos de leitura. “A gente cuida do nosso planeta, da Floresta Amazônica e da nossa escola”, diz Rebeca.

A diretora Lúcia afirma que teve de aprender a fazer uma educação menos tradicional para oferecer um ensino acolhedor e significativo, com o que nem ela estava acostumada. Teve ajuda de um grupo de pais em 2015, que ofereceu um projeto de escola integral à secretaria municipal de Manaus. A Waldir Garcia aderiu ao novo programa e as crianças – a maioria de comunidades muito pobres – passaram a ficar o dia todo na escola.

Apesar de estar em região vulnerável, escola Waldir Garcia tem Ideb alto e recebe prêmios pelo Brasil
Apesar de estar em região vulnerável, escola Waldir Garcia tem Ideb alto e recebe prêmios pelo Brasil
A haitiana Rebeca (segunda na fila) com os amigos da escola; crianças imigrantes são acolhidas
A haitiana Rebeca (segunda na fila) com os amigos da escola; crianças imigrantes são acolhidas

As carteiras foram trocadas por mesas redondas, em que todos trabalham juntos, e assembleias começaram a ser realizadas para que as crianças pudessem opinar sobre as rotinas da escola. Cada aluno passou a ter um tutor, que pode ser um professor, pai ou funcionário, e que o auxilia em questões pedagógicas e emocionais. A ajuda se mostrou importante em casos de abusos e violência doméstica, por exemplo.

“Hoje somos uma escola tolerante, que aprende com as diferenças, mas que é mais reconhecida fora de Manaus do que na cidade”, diz Lúcia. Fora os ótimos resultados em avaliações nacionais, em 2020, ela recebeu o prêmio Educador Nota 10, um dos mais conceituados da educação no País, dado pela Fundação Roberto Marinho e pela Unesco.

Mas Lúcia reclama que nem sempre tem o apoio da prefeitura. Os diretores na cidade são indicados e não escolhidos por seleção técnica. Um bom diretor, segundo pesquisas internacionais, é crucial para a qualidade da educação. Toda vez que muda o governo, ela teme ser retirada da escola, que dirige desde 2005, porque não faz parte do grupo político eleito. Uma das vezes que isso aconteceu, ela voltou logo depois ao cargo porque a comunidade protestou – queimou até pneus na rua. “Fica esse clima de instabilidade. Não se olha a competência técnica.” Procurada, a secretaria municipal de educação disse que a escola é um exemplo para a rede e que desconhece eventual falta de apoio.

A viagem ao Pará foi feita a convite do Instituto Gesto.

DESAFIOS PARA O EMPREENDEDOR ATUAL NA ERA 5G

 

Por Ricardo Silva Machado – instrutor de cursos de Gestão no Senac Goiás

Um dos maiores desafios para o empreendedor atual é definir quais são as melhores estratégias para aumentar seus resultados e crescer com consistência dentro de uma arena supercompetitiva que é a Arena 5.0.

Entramos na era da internet 5G e com ela um mundo conectado cheio de grandes oportunidades. Essa nova geração de conexão de internet móvel oferece velocidades ultrarrápidas, permitindo que mais usuários acessem a internet móvel ao mesmo tempo. Com isso teremos mais avanços na robótica e na Inteligência artificial, além do metaverso, essa espécie de nova camada da realidade que integra os mundos real e virtual. Empresas dos mais variados segmentos do varejo a educação, já estão investindo nesse mercado.

Essa tecnologia é tendência e vai ganhar espaço nas empresas rapidamente. Eventos de inovação, shows virtuais, desfiles de moda, vários produtos criados para avatares. Tenho certeza de que em algum momento nos últimos meses você já ouviu falar no metaverso. Esse termo ganhou força em 2021, quando Mark Zuckerberg anunciou a mudança do nome do seu grupo de empresas, especificamente o Facebook, para Meta.

Uma pesquisa feita pela Accenture Technology Vision aponta que 55% dos consumidores concordam que as suas vidas e meios de subsistência estão migrando para espaços digitais. Essa mesma pesquisa mostra que 90% dos executivos das organizações líderes de mercado acreditam que as empresas deverão ultrapassar os limites do mundo virtual para torná-lo cada vez mais real.

Vamos refletir, sua empresa já está preparada para ter sucesso na Arena 5.0?

Investir em tecnologia e capital humano é fundamental para acompanhar essas tendências. Os empresários precisam entender o local onde estão competindo, conhecer seus concorrentes, quais tecnologias estão utilizando e não desistir de treinar e capacitar os seus colaboradores. Grandes empresas estão se tornando escola de negócios, por isso invista sempre na qualificação do seu time.

Para ajudá-lo nessa jornada, quero trazer aqui algumas dicas retiradas do famoso livro de Michael Porter – Vantagem Competitiva:

Vantagem competitiva: Destaque quais são os seus diferenciais, por que seu produto ou serviço se destaca no mercado.

Ofereça valor ao cliente: desenvolva em seu time comercial a habilidade de agregar valor. Vamos dar o exemplo do iPhone da Apple, por que as pessoas desejam e querem o Iphone? Não se trata somente de funcionalidades, os clientes querem esse produto pelo status, necessidade de pertencimento a um grupo seleto de usuários.

Seja insubstituível: busque criar uma vantagem competitiva para que outros concorrentes não apresentem vantagens competitivas sobre a sua empresa, não permita ser copiado facilmente por outras empresas.

Em um cenário desafiador, o empreendedor de sucesso precisa de coragem para ousar e inovar. Acompanhe as novas tendências, acredite no seu país, desenvolva o seu time e tenha muito sucesso na sua jornada de empreendedorismo.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

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A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Apresentamos o nosso site que é uma Plataforma Comercial Marketplace que tem um Product Market Fit adequado ao mercado do Vale do Aço, agregando o mercado e seus consumidores em torno de uma proposta diferenciada de fazer Publicidade e Propaganda online, de forma atrativa e lúdica a inclusão de informações úteis e necessárias aos consumidores como:

sábado, 13 de agosto de 2022

JABUTIS DA ELETROBRAS SÃO EXIGÊNCIAS DESNECESSÁRIAS

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Jabuti incluído pelo Congresso na lei de privatização da Eletrobras exige construção de termelétricas em regiões onde não há suprimento de gás natural.| Foto: Agência Petrobras

“O establishment composto diretamente pelos empregados públicos, sindicatos, fornecedores, comunidades, políticos locais, partidos de esquerda e lideranças políticas tem sido uma barreira natural para a privatização”, escrevera Salim Mattar em 2020, ao deixar a Secretaria de Desestatização e Privatização do Ministério da Economia, frustrado com a lentidão e as fortes resistências ao processo de redução da presença estatal na economia. Na batalha pela privatização da Eletrobras, esse establishment foi finalmente vencido, mas exigiu um preço bastante caro da sociedade, que começa a ser cobrado em setembro.

Tirar a Eletrobras do controle do Estado significaria o fim do cabide de empregos, do uso político de nomeações para cargos de presidência, diretoria e gerência, e de diversas outras mazelas inerentes à essa distorção do real papel que o Estado deveria exercer na atividade econômica. O establishment citado por Mattar quando de sua saída do governo jamais deixaria que isso ocorresse sem uma “mordida” final, e os representantes desses grupos no Congresso agiram por meio da inserção de uma série de exigências que não constavam da medida provisória enviada por Jair Bolsonaro ao Congresso em fevereiro de 2021.

Um eventual encarecimento da energia elétrica terá se devido não à venda da Eletrobras, mas a todos os “jabutis” que o Congresso forçou goela abaixo do governo federal para que a privatização ocorresse

A intenção de não deixar a privatização ocorrer sem esse ato final de favorecimento ao establishment foi tanta que os congressistas tiveram a malícia de usar um truque sujo de redação legislativa. Em vez de os “jabutis” serem inseridos na forma de artigos, parágrafos ou incisos específicos, como de costume, eles foram todos costurados logo no primeiro artigo da lei de conversão, gerando um “textão” de 652 palavras onde antes havia apenas 29. Como consequência, Bolsonaro não poderia remover apenas os “jabutis”, pois vetar o parágrafo 1.º do artigo 1.º significaria vetar também a própria privatização – ou seja, uma autêntica chantagem legislativa. Isso levou até mesmo partidos e parlamentares de tendência indiscutivelmente liberal a votar contra o texto na Câmara, pois, se ele fosse derrotado, os deputados teriam de analisar a MP original, sem os penduricalhos. A tentativa, no entanto, fracassou, e a versão cheia de “jabutis” foi aprovada e sancionada.

Um desses “jabutis” prevê a contratação de 8 gigawatts (GW) em geração térmica – este é o leilão que está marcado para o próximo mês. O problema não está apenas na opção por uma forma de energia mais cara e poluente, mas principalmente no fato de que as usinas contratadas estarão em locais distantes dos centros produtores de gás natural, e onde ainda não há ligação por gasodutos, que, portanto, terão de ser construídos a um custo bilionário – sem falar também da estrutura de transmissão da energia que será gerada. Por fim, a decisão sobre as regiões contempladas foi puramente arbitrária, atropelando o planejamento setorial que já tinha a interiorização da oferta de gás como um objetivo, mas cuja execução estaria sujeita a vários outros fatores, como o aumento da demanda.


Não será uma surpresa se o custo dessa exigência criada por congressistas para atender sabe-se lá que interesses termine na conta de energia do consumidor brasileiro. Cálculos da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace) citados pela Gazeta do Povo indicam que o “jabuti das termelétricas” pode elevar as tarifas em 10% a partir de 2030. Já nas contas da Empresa de Pesquisa Energética, os “jabutis” todos (não apenas o das térmicas) aumentarão os custos de produção em R$ 52 bilhões até 2031.

A esquerda estatizante saliva só de pensar na possibilidade de o brasileiro pagar mais pela energia com a Eletrobras privatizada, pois terá pronto o discurso segundo o qual a culpa do aumento terá sido da privatização. Desde já é preciso desarmar essa bomba retórica, mantendo sempre na lembrança do brasileiro o fato de que um eventual encarecimento terá se devido não à venda da estatal, mas a todas essas inserções que o Congresso forçou goela abaixo do governo federal para que a privatização ocorresse. Que não nos esqueçamos dos parlamentares que redigiram os “jabutis”, que os aprovaram, e que derrubaram tentativas de removê-los da lei – será deles a responsabilidade caso a privatização não traga os ganhos que poderiam ter vindo caso o texto fosse aprovado sem a “mordida final” do establishment.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-preco-dos-jabutis-da-eletrobras/
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YOUTUBE ESTÁ CENSURANDO ATÉ O PRESIDENTE

 

Por
Madeleine Lacsko


Encontro do presidente Jair Bolsonaro com embaixadores.| Foto: Reprodução/TV Brasil

Esta semana, mais uma vez, progressistas comemoraram de forma efusiva a decisão do YouTube de derrubar um vídeo do presidente Jair Bolsonaro. Desta vez, foi um episódio absolutamente irônico.

Como se fosse o grande sábio da montanha com o objetivo da paz mundial, a Big Tech anunciou que havia mudado sua política sobre desinformação de novo. Dessa forma, o vídeo da apresentação do presidente aos embaixadores estrangeiros acabou derrubado.

Não vou entrar nos detalhes de quem apura a verdade, qual ponto do vídeo justifica a derrubada nem por que outros vídeos que falam a mesma coisa continuam no ar. Já dou como favas contadas a total inconsistência do YouTube na avaliação de conteúdos.

O caso é que progressistas, inclusive jornalistas sem instinto de sobrevivência, começaram a comemorar de forma efusiva nas redes sociais a derrubada do vídeo do presidente da República.

As manchetes jornalísticas sobre o tema me incomodam, mas não sei se é um fato ou predisposição da minha parte. Quando noticiam que “YouTube decide tirar do ar vídeo de Bolsonaro por desinformação”, me dá a impressão de que avalizam a rede social como responsável por mediar o debate público.

As redes sociais evoluíram em seus modelos de negócio e chegou um ponto em que a desinformação virou fenômeno internacional, contaminando até mesmo a imprensa.

No meio desse burburinho começam a ser derrubados vídeos do canal esquerdista TV 247. As mesmas pessoas que estavam comemorando a derrubada do vídeo do presidente da República agora estavam escandalizadas com a arbitrariedade.

A justificativa do YouTube é que o canal jornalístico de esquerda fazia “discurso de ódio” e, por isso, vários vídeos não poderiam mais ficar na plataforma.

O mais famoso a ser derrubado é um documentário intitulado “Bolsonaro e Adélio: uma fakeada no coração do Brasil”, que defende a tese de que o presidente da República não sofreu a facada. Nesse caso, o episódio não foi tratado como uma brava ação do YouTube contra a desinformação e as Fake News. Isso foi só no vídeo do presidente Bolsonaro. Nesse outro caso é censura indevida de empresa privada.

A Associação Brasileira de Imprensa se manifestou. Diversos políticos importantes, entre eles Gleisi Hoffmann e Dilma Rousseff, fizeram postagens revoltadas com a intromissão indevida de uma empresa privada no debate público.

O caso é que estão certos. O erro não está nessa defesa, mas na hipocrisia do duplo padrão. Para os seus, valem a lei e o direito. Para os bolsonaristas, vale o “que se dane”.

Por alguma razão que ainda não compreendo, pessoas adultas confiam que as redes sociais combatem desinformação.

Suponha que um familiar seu tivesse que largar o cigarro imediatamente por questões de saúde. Você confiaria num programa contra o tabagismo elaborado e financiado pela Souza Cruz? E num programa educativo da Phillip Morris para ensinar seus filhos a ficar longe do cigarro você iria confiar?


Se formos pensar somente sob o ponto de vista factual e técnico, é possível que fabricantes de cigarro realmente fizessem excelentes programas de combate ao tabagismo. Poderiam contribuir apenas financeiramente e deixar a gestão independente, cobrando resultados. Mas aqui a questão é outra: você confiaria a ponto de escolher um programa desses para os seus? É diante disso que estamos.

As redes sociais evoluíram em seus modelos de negócio e chegou um ponto em que a desinformação virou fenômeno internacional, contaminando até mesmo a imprensa. Vemos, aqui e acolá, redes sociais serem tratadas como heroínas pela democracia quando derrubam canais ou desmonetizam influencers que desinformam (ou que elas alegam que desinformam). É um erro banal.

A desinformação é tanta que há até uma que ficou famosíssima no meio liberal, repetida até por gente inteligente. Big Techs são negócios privados, se você foi banido por uma, basta buscar outra.

Seria verdade caso houvesse livre mercado nesse setor, o que não existe. Há um modelo que canibaliza qualquer tentativa de negociação, anexando aos grandes players ou destruindo novas empresas concorrentes. Quando você conta nos dedos de uma mão o número de empresas que dominam um mercado do qual dependem outros ramos econômicos, não é honesto dizer que banimento seja do jogo.

Nossas convicções e paixões às vezes falam mais alto quando o assunto é política, opinião e desinformação. O caso dos banimentos fica mais claro quando falamos, por exemplo, de negócios que se estabelecem nas redes sociais.

Nossas convicções e paixões às vezes falam mais alto quando o assunto é política, opinião e desinformação.

Durante a pandemia, muita gente começou a garantir o pão de cada dia abrindo pequenos negócios principalmente no Instagram. Muitas denúncias podem derrubar um perfil, qualquer um deles.

Dia desses, por acaso, vi duas situações. Uma era uma lojinha de pijamas que postou qualquer coisa e foi desativada por infringir as regras da plataforma. Outro era um vendedor de cursos de marketing digital com um perfil gigante que acabou suspenso.

Os dois só falavam de seus negócios. Um era venda de pijama e o outro era venda do curso. Tudo lícito, inclusive anunciantes da plataforma.

Não haviam feito publicações fora do normal e, nos dois casos, recuperaram as contas quase uma semana depois, com muito esforço e muita gente intercedendo.

Com o bloqueio, eles ficam sem acesso aos arquivos que postaram. São dados de propriedade deles e fundamentais para a rotina de negócios. Quem paga o prejuízo dos dias de portas fechadas? Atualmente ninguém.

A rede social devolve a conta sem nem pedido de desculpas. Cada um que se vire com seu prejuízo devido ao erro da Big Tech.

Cidadãos e negócios não podem ser tratados como efeitos colaterais na grande operação de limpeza de imagem das empresas de tecnologia.

Governos do mundo todo tentam achar saídas para que os algoritmos sejam minimamente adequados à legislação, mas é algo difícil por dois motivos. Eles são tratados como segredos industriais e Big Techs são mundiais enquanto leis são nacionais.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU já alertou que essa sistemática de confiar em Big Techs para remover conteúdos atenta contra os direitos humanos. Elas não são instituições públicas, são empresas. Não fazem leis nem mandam, obedecem.

As recomendações são de que cada sociedade determine com clareza o que pode ou não fazer parte do debate público. A partir daí, é preciso criar um sistema onde a última palavra sobre retirada de conteúdos ou canais seja institucional do país e sempre sobre regras objetivas.

Ainda estamos muito longe disso. E, na realidade, banir ou não conteúdo é uma discussão quente mas subsidiária. A espinha dorsal é como essas empresas sugerem conteúdo e fazem shadow ban sobre outros, moldando o consumo.

Enquanto aplaudimos derrubada de vídeo até do presidente da República, não há a menor chance de uma Big Tech poderosíssima levar a sério nossas leis.

A luz das legislações mais avançadas que estão sendo gestadas nos Estados Unidos e na União Europeia vem de um estudo conduzido por dois brasileiros, um na Suíça e outro na UFMG.

Sem precisar recorrer a qualquer dado que não fosse público, eles analisaram de que forma os algoritmos das plataformas mais famosas levam usuários à radicalização e desinformação em várias áreas.

Isso fez com que os governos criassem o conceito de risco público oferecido pelos algoritmos sem que eles precisem ser revelados. As Big Techs trouxeram muita evolução, mas precisam conter os danos causados por seus negócios.

A ideia agora é que esses danos sejam regulados. Não importa o que elas façam. Ou evitam o dano ou arcam com ele. Pode ser o início do fim da caixa preta das Big Techs nos países desenvolvidos.

Seja o espalhamento de um conteúdo ou a suspensão inadequada, o que gerar dano deve ser reparado e ressarcido. A empresa precisa se adequar às leis nesse sentido e não deve ser convertida em juíza do debate público.

Para chegar nesse estágio, precisamos sair desse ciclo infindável de polarização e de comemoração da ruína do adversário. Enquanto aplaudimos derrubada de vídeo até do presidente da República, não há a menor chance de uma Big Tech poderosíssima levar a sério nossas leis.


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DEFESA À DEMOCRACIA NÃO PRECISA DE CARTINHAS DE APOIO A OUTRO CANDIDATO QUE NÃO É DEMOCRATA

 

Carta pela democracia

Por
Cristina Graeml

Carta “pela democracia” omitiu o principal: quem ataca a democracia e como?
Fizeram tanto barulho para falar de democracia, que eu resolvi entrar nessa também. Primeiro escrevi no Twitter a minha “cartinha pela democracia”, que se resumiu a uma frase: Eu apoio a Liberdade de Imprensa e de Expressão.

Nem preciso me alongar para dizer que ambas andam ameaçadas, mas não por um governo autoritário e, sim, por um Judiciário, que tenta a todo custo governar, sem ter prerrogativas legais para isso.

Como houve um movimento de advogados ligados à USP, supostamente em defesa da democracia, que promoveram um evento teatral e midiático, mas sem mencionar os reais ataques ao Estado de Direito que partem das altas cúpulas do Judiciário, resolvi tratar do assunto aqui na coluna.

O Brasil vive uma ruptura institucional clara, que parte de dentro de um dos poderes da República, o Judiciário – tentando se sobrepor aos demais e usurpando as liberdades dos cidadãos, garantidas na nossa Constituição.

Os verdadeiros ataques à democracia
Infelizmente a mais alta instância do Judiciário, o Supremo Tribunal Federal (STF) vem fazendo o papel de polícia, Ministério Público, investigando e acusando, além de julgar, que deveria ser a sua única função.

Isso traz insegurança jurídica para todo o país, para todas as instâncias de Justiça, corrói o nosso Estado de Direito. E o pior é que não é de agora. Está acontecendo há mais de 3 anos.

Além de ultrapassar os limites de atuação, um dos ministros, Alexandre de Moraes, também vem dilacerando o processo acusatório, como, aliás, denunciou recentemente a vice-procuradora geral da República Lindora Araújo.

Leia também: PGR critica Moraes e volta a pedir arquivamento de investigação contra Bolsonaro
Ao impedir que advogados tenham acesso aos autos de processos para que possam defender seus clientes ou chegar ao ponto de barrar a presença de advogados e réus nos julgamentos, cerceia o direito mais básico de todo e qualquer cidadão: o direito a ampla defesa.

Não há estado de Direito sem o respeito à ampla defesa. Quem está atacando a democracia, afinal? Nós, o povo, que exigimos respeito à Constituição ou os ministros supremos que andam ultrapassando as famosas quatro linhas do texto constitucional?

Nada disso foi mencionado na carta escrita pelos advogados ligados à USP, que promoveram aquele suposto ato em apoio à democracia no dia do advogado. Receberam aplausos de banqueiros, empresários, artistas, sindicalistas e muitas outras pessoas que, declaradamente, tinham mero interesse político ao aderir à onda do momento.

Questionar urnas é atacar a democracia?
Os supostos defensores da democracia queriam atingir quem tem dúvidas sobre a confiabilidade do sistema eleitoral e pede contagem pública dos votos, como prevê, aliás, o Código Eleitoral Brasileiro no artigo 221 (e que vem sendo desrespeitado há 25 anos, desde a implantação do sistema de votação eletrônico, porque ele não dá margem para essa contagem pública acontecer).

Mais uma vez tentaram carimbar o selo de antidemocráticos em cidadãos efetivamente preocupados com a democracia. Não há estado democrático de Direito, sem respeito à Constituição por parte de todos os Poderes e sem que os cidadãos possam manifestar seu pensamento livremente, seja ele crítico ou de apoio às autoridades, às urnas, ao código fonte, ao que quer que seja.

Em nome da liberdade de expressão, que eu defendo, e da democracia propriamente dita, decidi dar voz aqui a um promotor de Justiça de São Paulo, profissional do Direito que aproveitou o dia 11 de agosto, dia do advogado (dia do Direito), para externar sua opinião sobre Democracia de fato.

Carlos Eduardo da Matta abre o texto, publicado no Gettr, falando de pandemia, para delimitar quando os ataques às liberdades individuais e o desrespeito à Constituição ficaram mais evidentes.

Carta de um cidadão comum pela Democracia
“Comemora-se o conceito, mas é impossível para qualquer operador do Direito, com pensamento independente e crítico, deixar de constatar, desde do início da crise sanitária de Covid, quantas violações a direitos humanos fundamentais, a garantias constitucionais e legais, foram perpetradas contra a sociedade, sob pretexto de, e em nome da “Justiça” e de “proteção da saúde pública.

“Proibição de tratamento precoce e imediato a doentes, obrigatoriedade de injeções experimentais comprovadamente perigosas, além de ineficazes, fechamento de portas de estabelecimentos comerciais.

“Prisão de trabalhadores, de pessoas que simplesmente exerciam o direito constitucional de ir e vir, de caminhar por vias públicas e parques, em ambientes abertos, como praia. Proibição do trabalho honesto, toques de recolher, confinamento e quarentena de pessoas sadias, ruína de pequenas e médias empresas, desemprego de milhões.”

“Todos estes ilícitos foram cometidos em várias nações do mundo, antes apontadas como exemplos de democracia e de respeito à liberdade. Tudo sob propaganda incessante, enganosa, que levou a lucros multibilionários de Big Pharma e Big Techs, enquanto causava a miséria, o desespero e a desesperança de dezenas de milhões.”

“Hoje discute-se muito sobre a defesa da democracia. Pois bem. Democracia não é “acreditar” nas urnas eletrônicas, se todo o processo não é transparente.  Democracia não significa confiança cega em “instituições”, mas poder exigir que todos aqueles que as representam prestem contas do que fazem, que ajam em estrita consonância com as Constituições e as leis. E poder promover sua responsabilização perante a nação, caso abusem de suas funções, incidam em ativismo, tentem impor ideologia e opções pessoais próprias em lugar de respeitar a divisão de poderes.”

Carlos Eduardo da Matta, procurador de Justiça em São Paulo (SP)

Democracia é um regime de liberdades públicas e individuais, sob garantias constitucionais e legais, que são respeitadas e cujo exercício possa ser exercido, a despeito das conveniências de tiranetes. Não há democracia sem respeito à liberdade de opinião e de expressão, inclusive, é claro, em quaisquer redes sociais.

Não há democracia com censura prévia ou além dos limites constitucionais e legais, se cidadãos e representantes do povo não podem criticar altas figuras em posições de poder. Não há democracia pela metade, só para quem concorda com poderosos, e os bajula servilmente.

A democracia é um regime de respeito da vontade popular, sob garantias para todos, até mesmo minorias de qualquer natureza – tudo sob os limites da lei e da consciência humana, inspirada na igualdade de direitos e oportunidades e na inspiração dos mandamentos divinos.”

Recado para os colegas do Direito

A carta finaliza desejando que a data (dia do advogado e do Direito) “possa despertar aqueles dominados pelo terror e pânico midiático, que sejam capazes de resistir e prevalecer contra a tática de Goebbels ainda em prática”. Goebbles, para quem não recorda, era o ministro da propaganda nazista.

A prática a que o autor do texto se refere é a de que mentiras devem ser repetidas e reiteradas sempre até que todos passem a aceitá-las como verdade.

Finalizando, há um desejo de que a data “possa renovar esperanças, fé e resiliência cristãs!” E a saudação a “todos aqueles irmãos que, sem curvar-se, sem dobrar as espinhas, sem calar-se, honram a nobre profissão do Direito e o juramento ao cumprimento do dever.”

Quem assina é o procurador de Justiça em São Paulo, Carlos Eduardo Fonseca Da Matta. Eu assino embaixo. E você? Concorda com a reflexão sobre o tema? Deixe seu comentário.


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