Finalmente assisti o “Arremessando Alto”, filme da Netflix.
Esportes sempre me fazem pensar em como faço a gestão das minhas empresas.
Se assim como eu, você quer aprender com o filme fica comigo até o final dessa exposição.
Resumindo o filme em um parágrafo:
Stanley Beren (Adam Sandler) é um olheiro profissional da NBA que
descobre um talento escondido que poderia mudar o rumo do Philadelphia
76ers.
Em algum momento, no meio da trama, Adam Sandler solta a seguinte frase:
“Obsessão ganha do talento todas as vezes”.
E claro, como grande fã do Ayrton Senna, lembrei logo dele. Apesar do
talento totalmente ímpar que Senna tinha, há centenas de vídeos dele:
acompanhando mecânicos nas alterações do carro,
caminhando a pé pelas pistas para observar de perto as oscilações do asfalto;
ensaiando as curvas repetidas vezes, muito mais que qualquer outro piloto;
ajudando os mecânicos a serem mais rápidos no pit-stop.
A obsessão de Senna ganhava de qualquer outro talento na pista.
Você pode ser o gestor mais talentoso, se você não for obsessivo pelo
seu negócio, seus concorrentes, também talentosos, vão ganhar de você
sempre.
Talento por talento não paga as contas. Pensando nisso, eu trouxe algumas lições:
Seja obsessivo pelos seus Unit Economics
Um gestor que não conhece os números de crescimento, como CAC, LTV,
churn, turn-over, metas de vendas, NPS externo e interno dos
colaboradores, é um gestor fadado ao fracasso.
Por mais que eu não faça parte da minúcia operacional do G4, eu estou
sempre, sempre a par do que está acontecendo e para onde minhas
empresas estão indo.
Isso me dá a visão a médio e longo prazo necessária para eu desempenhar um papel estratégico, como é esperado de um líder.
Desenvolva uma mentalidade de crescimento para sua empresa
Seja obsessivo pelo seu cliente
Eu sempre digo para os meus liderados, gente já madura, em cargos de
liderança, que quem paga o salário no final do mês não sou eu, nem o G4.
São nossos clientes.
Só para você ter uma noção, de acordo com uma pesquisa realizada pelo
Reclame Aqui na América Latina, 51,2% dos clientes entrevistados não se
importam de pagar mais caro, desde que tivessem uma excelente
experiência de compra.
Garantir que ele tenha a melhor experiência desde o formulário que
ele preencheu no site até depois da entrega do nosso produto ou serviço é
garantir que ele fique com você, te indique para rede de contatos e
aumente seu LTV (um dos Unit Economics que falei acima).
Entenda o que é preciso para colocar o cliente no centro do seu negócio
Seja obsessivo pela cultura da sua empresa
Por último, mas não menos importante, você deve ser o guardião da sua
cultura organizacional. Não basta ter quadros de post-it’s bonitinhos
com a missão, visão e valores da sua empresa se você não os pratica e
zela por eles no dia-a-dia.
Por exemplo, no G4 temos o “não temos braço curto, fazemos o que tem
que ser feito”. Tenho mais de 300 pessoas debaixo da minha liderança e
tudo que eles não esperam é me ver fugindo de um desafio ou deixando
para outra pessoa resolver um problema.
Quando vejo que algo precisa ser feito, eu simplesmente faço. Isso
tem um poder inspiracional gigante no meu time. E, de repente, eu vejo
todo mundo fazendo o que precisa ser feito.
Descubra como criar uma cultura que encanta clientes e engaja colaboradores
Obsessão não é patológico
Muita gente julga a palavra obsessão da forma errada. De uma maneira meio psicopata, eu diria.
Mas, se você quiser ter sucesso na sua empresa, precisa acabar de vez com esse paradigma.
Obsessão é pura repetição.
E o que ilustra muito bem isso é outra informação que descobri no filme:
Kobe Bryant acordava às 4 horas da manhã diariamente para treinar sozinho antes do treino do Los Angeles Lakers.
Enquanto seus colegas, nitidamente mais talentosos, treinavam 1 hora e
meia a cada 2 dias Kobe treinava NO MÍNIMO 2 horas sozinho todos os
dias.
Treinar antes do treino? Pois é, esse foi o caminho que Kobe
encontrou para ser uma lenda na NBA. Existem registros de que antes do
treino em equipe começar, Kobe já tinha arremessado mais de 800 cestas
ao longo de 5 horas.
E você, quantas bolas colocou para dentro da cesta antes dos seus concorrentes começarem o dia?
Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda,
empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de
reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.
São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os
negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.
Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento
das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de
consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas
possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os
negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e
se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade,
personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e
serviços.
Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do
comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios
passa pelo digital.
Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais
rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é
uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar
diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo
para o seu comércio.
Por um valor bastante acessível, é possível ter esse canal de
vendas on-line com até mais de 300 lojas virtuais, em que cada uma
poderá adicionar quantas ofertas e produtos quiser.
Nossa Plataforma Comercial é dividida basicamente em página
principal, páginas cidade e página empresas além de outras informações
importantes como: notícias, ofertas, propagandas de supermercados e
veículos e conexão com os sites das empresas, um mix de informações bem
completo para a nossa região do Vale do Aço.
Destacamos também, que o nosso site: https://valedoacoonline.com.br/ já foi visto até o momento por mais de 140.000 pessoas e o outro site Valeon notícias: https://valeonnoticias.com.br/
também tem sido visto por mais de 1.800.000 de pessoas, valores
significativos de audiência para uma iniciativa de apenas dois anos.
Todos esses sites contêm propagandas e divulgações preferenciais para a
sua empresa.
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inédito, traz vantagens econômicas para a sua empresa e pode contar com a
Startup Valeon que tem uma grande penetração no mercado consumidor da
região capaz de alavancar as suas vendas.
Toda crise gera uma oportunidade. É a tempestade perfeita para o
Brasil fazer o maior corte de privilégios da sua história.| Foto:
Edilson Rodrigues/Agência Senad
“Direito, vantagem ou imunidades
especiais gozadas por uma ou mais pessoas, em detrimento da maioria;
regalia”. É a primeira definição da palavra “privilégio” no dicionário
Michaelis. Em uma democracia, na qual todos os cidadãos são iguais
perante a lei (ou, pelo menos, deveriam ser), as regalias concedidas
para alguns abençoados deveriam ser inconstitucionais. Porém, o Brasil
se acostumou com isso e elas só cresceram desde a Constituição Federal
de 1988.
Algumas semanas atrás, nesta coluna, falamos sobre o “atestado de
bananidade” do Brasil. Mas, é preciso reconhecer que, além de parecer
uma república de bananas, nosso país também é uma república de
privilégios.
Recentemente, o Governo Federal apresentou a PEC (proposta de emenda à
Constituição) 01/2022, a PEC dos Benefícios, chamada também de Kamikaze
pelo impacto fiscal que terá. A PEC libera R$ 41,2 bilhões para
concessão de auxílios para a população carente e algumas categorias
profissionais. É uma medida que, se não tiver o correspondente corte de
gastos, será irresponsabilidade fiscal. Pelo menos grande parte dos
benefícios são temporários e focados em pessoas mais prejudicadas pela
crise.
Por outro lado, a lista de privilégios para os poderosos no Brasil é
velha, interminável e, se depender daqueles que estão no poder, será
eterna. Férias de 60 dias para membros de poderes, como juízes e
promotores. Aposentadoria compulsória como “punição”. Licença-prêmio.
Salários acima do teto de R$ 39,2 mil. Auxílios para quem já ganha mais
de 10 vezes a renda média da população. E assim por diante…
Ao menos R$ 4 bilhões saem do bolso dos pagadores de impostos todos
os anos para bancar as férias de 60 dias do alto escalão do
funcionalismo, especialmente do Judiciário e do Ministério Público — a
estimativa é do Governo e inclui tanto o adicional de ⅓ de férias como a
venda de parte delas caso o privilegiado decida não utilizar todo o
período para descanso. Aqueles que pagam a conta, por outro lado, têm no
máximo 30 dias de férias por ano. Neste ano, os ministros do Supremo
Tribunal Federal (STF) e os demais magistrados terão direito a, pelo
menos, 89 dias sem trabalhar: é a soma de suas férias de 60 dias com os
feriados (em caso de prolongamento dos feriados, os dias não trabalhados
podem chegar a 95).
Para piorar, na maioria das vezes aqueles que possuem férias de 60
dias são os mesmos com remunerações acima do teto de R$ 39,2 mil. E,
segundo uma estimativa do Centro de Liderança Pública (CLP), o Brasil
poderia economizar R$ 2,6 bilhões por ano com o fim dos supersalários. É
preciso dizer também que, em geral, são os mesmos com direito à
aposentadoria compulsória como “punição”.
A aposentadoria compulsória como “punição” é uma aberração que ajuda o
Brasil a se qualificar com mais um selo vergonhoso: o de país da
impunidade. Hoje, quando um magistrado comete um crime, ele recebe a
“pena” da aposentadoria: ganha o direito de não trabalhar e ainda assim
ser remunerado. Foi o que aconteceu com a desembargadora do Tribunal de
Justiça do Mato Grosso que usou seu poder de influência para soltar o
filho preso. E com o juiz de Goiás que desviou R$ 18 milhões com
decisões fraudulentas.
A licença-prêmio, um dos privilégios menos conhecidos por seus
financiadores — isto é, os pagadores de impostos —, é o privilégio de
não trabalhar por um determinado período, obtido pelo servidor que
comparece ao serviço com assiduidade (você consegue imaginar um prêmio
desses no setor privado?).
Este ano, por exemplo, a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe)
aprovou a licença-prêmio de 3 meses para os magistrados a cada 5 anos.
Isso significa que, no ano em que o magistrado tiver a licença-prêmio,
ele terá direito a pelo menos 150 dias sem trabalhar, somando férias de
60 dias mais a licença — isso sem contar feriados e prolongamento de
feriados. Em 2022, com feriados, seriam 179 dias, ou 185 com feriados
prolongados. Tudo isso, é claro, com a remuneração caindo em dia na
conta.
Assim, para viabilizar uma PEC que pode beneficiar as pessoas mais
carentes em um ano difícil, o Congresso Nacional deveria aprovar outra
PEC para cortar inúmeros privilégios. Nessa lista, o parlamento deveria
acabar, imediatamente, com os seguintes privilégios para todos membros
de poderes, servidores e funcionários públicos:
férias, incluído o período de recesso, de período superior a 30 dias; adicionais de tempo de serviço (ex: quinquênios, decênios etc); aumentos de remuneração ou de parcelas indenizatórias retroativos; licença-prêmio, licença-assiduidade e demais licenças de tempo de serviço; redução de jornada sem redução de remuneração equivalente; aposentadoria compulsória como punição; adicional
ou indenização por substituição, ressalvada a substituição de cargo
comissionado, função de confiança e cargo de direção e assessoramento; progressão ou promoção por tempo de serviço; parcelas
indenizatórias sem previsão de requisitos, valores e parâmetros em lei,
exceto para os empregados de empresas de economia mista, ou sem a
caracterização de despesa diretamente decorrente do desempenho de
atividades; incorporação, total ou parcial, da remuneração de cargo
em comissão, função de confiança ou cargo de direção e assessoramento ao
cargo efetivo ou emprego permanente; remuneração de cargo em
comissão, função de confiança ou cargo de direção e assessoramento,
gratificação de exercício, bônus, honorários, parcelas indenizatórias ou
qualquer parcela que não tenha caráter permanente para aposentados e
pensionistas; e remuneração superior ao limite máximo para o valor
dos benefícios do regime geral de previdência social, de que trata o
art. 201 da Constituição Federal, após o décimo quinto dia do período de
licença saúde. Os pontos relacionados acima fazem parte da reforma
administrativa ideal. E, embora a reforma administrativa não tenha
avançado e o PL dos Supersalários esteja parado no Congresso Nacional, o
fim dos privilégios não deve esperar o início do próximo mandato. O
Congresso deve aproveitar a oportunidade e aprovar a PEC dos Benefícios
junto com a PEC do Fim dos Privilégios. Nada mais justo para reduzir
essa grande máquina de geração de desigualdade social.
Além disso, estados e municípios não precisam esperar o Congresso
Nacional. Deputados estaduais e vereadores podem propor alterações às
suas respectivas constituições estaduais e leis orgânicas municipais,
incluindo vedações do tipo, sem a necessidade de esperar por uma PEC do
Fim dos Privilégios. O federalismo brasileiro permite que os privilégios
sejam combatidos em nível local ou regional.
O guarda municipal Marcelo Arruda, assassinado em festa de aniversário que teve Lula como tema.| Foto: Reprodução/Redes Sociais
Dois episódios ocorridos em um espaço de poucas horas neste fim de
semana são um tristíssimo alerta de até onde a polarização e as
rivalidades políticas exacerbadas podem levar o país. Na madrugada de
domingo, a tragédia: o policial Jorge Guaranho, apoiador do presidente
Jair Bolsonaro, baleou e matou o guarda municipal e tesoureiro do PT em
Foz do Iguaçu (PR) Marcelo Arruda, durante a própria festa de
aniversário do petista. Na véspera, o ex-presidente, ex-presidiário e
ex-condenado Lula fazia um agradecimento ao ex-vereador Manoel Eduardo
Marinho, o “Maninho do PT”, durante ato em Diadema (SP). O favor
prestado? Empurrar um empresário na direção de um caminhão em movimento,
causando-lhe um traumatismo craniano que deixou sequelas, depois que a
vítima havia gritado ofensas contra o PT diante do Instituto Lula, no
dia em que o então juiz Sergio Moro havia ordenado a prisão do
ex-presidente, em 2018.
A violência política não é novidade no Brasil; ela é um hábito muito
anterior ao “nós contra eles” em que o petismo transformou a vida
pública nacional. Atentados e assassinatos de candidatos e políticos em
exercício de mandato infelizmente são comuns, especialmente nos rincões
mais distantes dos grandes centros, mas não apenas neles, como bem
demonstra o assassinato ainda mal esclarecido da vereadora carioca
Marielle Franco, em 2018. No entanto, o que vem ocorrendo no Brasil
nestes últimos anos é muito pior: um fenômeno que anestesia e
dessensibiliza a sociedade, e dá carta branca aos militantes mais
propensos à violência.
Se todo o discurso de desumanização do adversário não for enfrentado
como se deve, o cenário para novas tragédias como a de Foz do Iguaçu
continuará montado
Trata-se da desumanização do adversário político, que já não é apenas
alguém que tem convicções políticas diferentes, e que precisam ser
combatidas no campo das ideias; alguém que continua merecendo o devido
respeito como ser humano, alguém que tem família, amigos, que ama e é
amado. Em vez disso, não só os políticos, mas também seus apoiadores
tornaram-se “lixo”, “vermes” e outros termos que dariam orgulho aos
mestres dessa estratégia: os responsáveis pela propaganda nazista, que
conseguiram fazer a sociedade alemã aceitar a ideia de que os judeus
eram não pessoas com dignidade, mas pragas. E, como todos sabemos, o que
se faz com pragas e vermes é eliminá-los; o que se faz com o lixo é
descartá-lo. Assim, Lula e os petistas, ou Bolsonaro e os bolsonaristas –
a depender da orientação ideológica de quem tem o megafone na mão –
seriam gente que não merece nem sequer o direito à vida.
Só isso explica que uma rivalidade política tenha sido o pontapé
inicial para uma troca de tiros que terminou na morte de Araújo e na
hospitalização do próprio agressor – por mais que as circunstâncias
concretas em que se iniciou a briga ainda estejam sendo apuradas, com
versões conflitantes entre o narrado no boletim de ocorrência e vídeos
de câmeras de segurança. Só isso explica que Lula e outros petistas
enxerguem como virtude o fato de um apoiador seu ter respondido a um
insulto com uma agressão que por pouco não terminou em morte, e ainda
por cima distorçam a história como se Maninho do PT tivesse sofrido uma
enorme injustiça. “Esse companheiro Maninho ficou preso sete meses por
me defender (…) Ficou preso sete meses porque resolveu não permitir que
um cara ficasse me xingando na porta do instituto”, disse Lula. Não,
muitas vezes não: o ex-vereador ficou preso porque tentou matar uma
pessoa que discordava dele em termos de política. Ele não foi julgado
até hoje, enquanto sua vítima morreu no fim do ano passado.
E aqueles que têm a maior responsabilidade em desarmar esta bomba
ficaram aquém do que se esperaria diante de um caso como o de Foz do
Iguaçu. De Lula, o pai do “nós contra eles”, do discurso hostil à
imprensa que já levou a vandalismo contra redações e ataques a
jornalistas, não se esperava muita coisa; mas ele foi capaz de
demonstrar completa hipocrisia ao pedir “diálogo, tolerância e paz”
horas depois de tratar como herói – só faltou falar em “guerreiro do
povo brasileiro” – um militante petista que por pura sorte não se tornou
um homicida. Bolsonaro não desceu ao mesmo nível de Lula: pediu
apuração do episódio e repetiu manifestação de 2018 na qual afirmava
“dispensar qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra
opositores”. No entanto, faltou ao presidente a lembrança mais essencial
em momentos como este: a dor por uma morte sem sentido e a
solidariedade à família do petista assassinado. Além disso, na
capacidade de chefe da nação, não seria absurdo esperar dele um discurso
ainda mais enfático de condenação à violência politicamente motivada.
Mas não será apenas com a crítica à violência propriamente dita que
os ânimos serão desarmados. Se todo o discurso de desumanização do
adversário não for também enfrentado como se deve, o cenário para novas
tragédias continuará montado. Se o adversário político mente, que seja
confrontado com a verdade; se rouba, que tenha seus crimes devidamente
identificados e punidos. Mas mesmo o mentiroso, o corrupto ou o ladrão
continuam a ser pessoas, seres humanos, portadores de dignidade (ainda
que dela não façam questão), e, por isso, merecedores do direito à vida.
Não são “lixo” ou “vermes” com quem só se lida na base do extermínio.
Trecho da Rodovia Presidente Dutra (BR-116), que liga o Rio a São
Paulo: mesmo se tratando de uma “joia da coroa”, licitação só atraiu
dois concorrentes.| Foto: Ministério da Infraestrutura
O atual
modelo de concessões rodoviárias dá sinais de esgotamento. A carteira de
projetos é grande, mas leilões recentes atraíram poucos concorrentes,
com pouca ou nenhuma participação de estrangeiros, mesmo estando em jogo
“joias da coroa” como a rodovia Presidente Dutra.
O cenário se complica com a redução gradual da oferta de rodovias de
alto tráfego – mais rentáveis e, portanto, atraentes para o setor
privado. Cedo ou tarde o governo terá de encarar a missão de conceder a
malha rodoviária que corta regiões de menor atividade econômica e com
lucro potencial bem menor aos concessionários.
Na licitação da rodovia Presidente Dutra (BR-116), que liga Rio a São
Paulo, e da Rio-Santos (BR-101), realizada no fim de outubro,
apareceram apenas dois interessados, ambos nacionais: o grupo CCR e a
Ecorodovias.
O edital da BR-381/262, que liga Belo Horizonte a Governador
Valadares (MG) e Viana (ES), na Grande Vitória, lançado em outubro, foi
retirado para aperfeiçoamentos pela Agência Nacional de Transportes
Terrestres (ANTT).
O leilão do trecho Norte do Rodoanel – contorno da região
metropolitana de São Paulo, que demandaria investimentos de R$ 2,6
bilhões para a conclusão do trecho de 44 quilômetros – foi adiado no fim
de abril devido às incertezas geradas pela crise econômica, aponta a
Agência de Transporte de São Paulo (Artesp).
“Faltam mais investidores, principalmente estrangeiros. Quem está no
Brasil já se acostumou com a incerteza macroeconômica”, afirma o
presidente da consultoria Inter.B, Cláudio Fritschak. E para agravar o
cenário, segundo ele, há o aumento da imprevisibilidade regulatória nos
últimos anos.
Ele diz que a Lei das Agências, sancionada em 2019 pelo
presidente Jair Bolsonaro, teve artigos vetados erroneamente e permitiu
indicações políticas para os órgãos reguladores. O que também afeta a
vinda de novos investidores em infraestrutura para o Brasil é a imagem
institucional do país, avalia o consultor. “Há problemas na questão
ambiental, na dos indígenas”, diz.
Também pesa a questão fiscal, que dificulta a realização de
investimentos por parte do governo federal, aponta a gerente executiva
de economia da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Fernanda
Schwantes. “Os recursos públicos estão comprometidos com despesas
relacionadas à dívida e com obrigações constitucionais.”
Ela destaca que, mesmo com uma maior participação do investimento
privado no segmento rodoviário – que deve chegar perto de 32% neste ano,
segundo a Inter.B –, é necessária a aplicação de recursos públicos. “O
investimento privado complementa o público. Não se consegue conceder
toda a infraestrutura”, diz a executiva.
Necessidade de novos modelos para concessão de rodovias Mas não
são só questões macroeconômicas que criam entraves ao investimento em
infraestrutura rodoviária. “É necessário inovar, desenvolver novos
modelos”, diz Fritschak.
Um estudo realizado por Rennaly Souza e Edison Benedito da Silva
Filho, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado ao
Ministério da Economia, aponta três modelos alternativos que poderiam
viabilizar novos investimentos em rodovias:
Concessões com fundo público Concessões em blocos, também conhecido como “file com osso” Câmara de compensação “Entendendo
o financiamento como questão central para o planejamento e execução de
serviços de infraestrutura, soluções que contemplem a eficiência na
gestão de recursos e a atração de capitais privados para projetos de
infraestrutura são essenciais para viabilizar a expansão dos
investimentos”, afirmam Souza e Silva Filho.
Eles observam que, para grande parte das rodovias concedidas no
passado, o risco de demanda não prejudicou sensivelmente a lucratividade
das concessões, pois elas envolviam trechos de elevado tráfego em
função de sua localização em regiões mais prósperas e com os maiores
investimentos já amortizados.
Os especialistas do Ipea destacam que a realidade é diferente para regiões de menor atividade econômica e PIB per capita menor.
“A cobrança de pedágios nesses projetos é insuficiente para atingir
um patamar de remuneração do investidor privado suficiente para custear
os investimentos dele requeridos, sendo necessária então a participação
governamental, não apenas na regulação, mas também como fonte de receita
adicional aos projetos, por meio das concessões subsidiadas”, dizem os
pesquisadores.
Modelos de concessões com fundo público Uma das estratégias
citadas por Souza e Silva Filho é a realização de concessões com a
criação de um fundo público, que funcionária como instrumento de
captação de recursos para investimentos em políticas públicas. Ela
necessita de autorização legislativa. No Brasil, é popularmente
conhecido como parceria público-privada (PPP).
As PPPs introduzem a gestão privada no serviço público por meio de
vínculo contratual de longo prazo entre o operador e uma autoridade
pública. Elas podem ser realizadas por dois meios: a administrativa, em
que a remuneração se dá por meio de contraprestação pública, sem
cobrança dos usuários, e a patrocinada, que envolve a cobrança de tarifa
dos usuários e a contraprestação pecuniária do parceiro público ao
privado de forma complementar ao recurso arrecadado via tarifa.
Como melhorar o transporte no país? Veja o que a indústria propõe aos presidenciáveis Campo lidera crescimento da produtividade no Brasil. Desafio é difundir tecnologias “A
estrutura de financiamento desempenha um papel fundamental para uma
relação exitosa. A instituição de mecanismos de proteção de
investimentos e a alocação de riscos de maneira eficiente permite
redução do comprometimento financeiro do setor público”, dizem os
especialistas.
A primeira tentativa de aplicar esse modelo no Brasil foi em 2006,
com o edital de concessão para a reestruturação, manutenção e ampliação
da capacidade da BR-116 (Rio-Bahia) e da BR-324. Porém, um ano depois,
após novos estudos de viabilidade, o projeto foi abandonado.
A primeira rodovia a usar o mecanismo de PPP foi a MG-050, que liga a
região metropolitana de Belo Horizonte à divisa com São Paulo,
atendendo 50 cidades das regiões central, centro-oeste e sul de Minas. O
contrato passou por oito termos aditivos desde a sua assinatura, em
julho de 2007, e a concessionária foi alvo de processos administrativos
para apuração de irregularidades na execução do contrato.
Atrasos e não execuções do contrato, prejudicando usuários e afetando
a melhoria na qualidade do serviço prestado, fizeram com que que a
concessionária fosse autuada e multada. Um novo cronograma de execução
de obras foi assinado em maio de 2017. Segundo a CNT, no fim de 2021, os
337 quilômetros da rodovia estavam em estrado regular de manutenção.
“As crises fiscais afetam fortemente os investimentos em manutenção e
ampliação da rede rodoviária que fazem uso desse mecanismo. Além disso o
fundo de usos públicos deve dedicar atenção à mensuração das obrigações
financeiras assumidas pelo setor público em contratos de PPs, de forma a
evitar que recaia sobre o Tesouro o ônus da falta de cumprimento das
obrigações”, explicam os especialistas do Ipea.
Modelo de concessões em blocos
Também conhecido como modelo “filé com osso”, o modelo da concessão
em blocos está sendo utilizado na licitação de aeroportos. Ele tem por
princípio a utilização de projetos atrativos como âncora junto a
projetos deficitários, formando blocos a serem concedidos à iniciativa
privada.
Segundo Souza e Silva Filho, essa modalidade tem se mostrado uma
alternativa viável para a entrada de investimentos privados em
infraestrutura, além de representar menores gastos com subsídios por
parte do governo.
É um modelo que só foi aplicado ao setor rodoviário em janeiro de
2020, em São Paulo, com a concessão do corredor rodoviário
Piracicaba-Panorama à gestora de patrimônio Pátria e ao fundo soberano
de Cingapura. A concessão, estabelecida para um prazo de 30 anos,
abrange 1.273 quilômetros de rodovias que serão modernizadas e
ampliadas.
Os especialistas do Ipea apontam que um dos fatores que garantiu a
atratividade do empreendimento foi o baixo valor exigido pela outorga
fixa. O vencedor foi aquele que ofereceu o maior ágio sobre o valor
proposto. E, a cada quatro anos, o projeto será revisto para a
possibilidade de adequação de novos investimentos nas pistas.
Outro projeto que usou esse meio, foi a nova concessão da rodovia
federal Presidente Dutra (BR-116), que liga o Rio de Janeiro a São
Paulo. O projeto incorporou também a Rio-Santos (BR-101) e foi vencido
pelo grupo CCR.
As experiências, de acordo com os pequisadores, são muito recentes.
Há alguns riscos, como a consideração sobre os critérios para a seleção
das rodovias a serem agregadas em bloco, que pode levar a riscos
políticos. Outro problema, de natureza técnica, é a avaliação da
eficiência do uso de recursos públicos dentro de um mesmo grupo de
projetos concedidos em conjunto. “A formação de um bloco pouco eficiente
pode trazer perda de resultados”, dizem os especialistas.
Modelo de câmara de compensação O modelo de câmara de compensação
ou clearing, que tem por base a criação de um sistema que explora a
possibilidade de compensação financeira entre diferentes operadores de
uma rede, sejam eles superavitários ou deficitários, é um modelo que
ainda não foi testado no segmento rodoviário no Brasil.
É mais usada no transporte público urbano, como é o caso do sistema
metroviário de São Paulo. “As câmaras de compensação podem ter a gestão
da receita tarifária controlada tanto pelo poder público quanto pelos
operadores do sistema.”
No segmento rodoviário, a principal experiência é do desenvolvimento
do sistema japonês de vias expressas, que tem mais de 9 mil quilômetros e
começou a ser implantado na década de 1970.
O estudo do Ipea mostra que o governo do Japão estabeleceu a meta de
construir uma rede nacional de vias expressas, incluindo rotas que
passam por áreas rurais e transpondo obstáculos naturais como montanhas e
rios, com encarecimento significativo dos projetos.
A experiência japonesa demonstra que a combinação das receitas de
pedágio pode contribuir para a expansão da rede por meio de subsídios
cruzados, desenvolvendo segmentos não lucrativos e mantendo níveis de
pedágio relativamente consistentes ao longo da rede. Mas, com o passar
do tempo, o sistema passou a ser deficitário.
Um estudo realizado pelo consórcio BR-500, com a cooperação técnica
da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), indica, como solução ao
esgotamento do sistema de concessões, a criação de um modelo no qual a
malha federal de rodovias funciona como um sistema integrado. Ele toma
por base a instituição de uma política tarifária nacional, a criação de
classes de rodovias e a implantação de uma câmara de compensação para
equilibrar as tarifas de pedágio.
O estudo argumenta que uma maior equivalência entre o valor cobrado
do usuário e a qualidade do serviço e infraestrutura disponibilizados
também permitirá a otimização da aplicação de recursos originados da
arrecadação da tarifa de pedágio, podendo reduzir a dependência de
recursos públicos para a manutenção do sistema rodoviário.
A ideia, segundo os especialistas do Ipea, seria garantir a
sustentabilidade do sistema, permitindo que eventuais riscos e
desequilíbrios de concessões sejam diluídos no próprio sistema. Mas eles
apontam que, dadas as limitações existentes no atual marco regulatório
do setor, seria necessária a apresentação de proposta legislativa
específica que discipline, de forma geral, as condições de implantação
do sistema.
Momento da confusão do lado de fora do salão, quando Guaranho
deixa o local e, 10 minutos depois, retorna e faz os disparos que
mataram Arruda.| Foto: Reprodução/Internet
Se você está procurando imagens da tragédia, do tiroteio em Foz do
Iguaçu, preste atenção numa policial civil, que era a companheira do
morto. Se a policial Pâmela Suellen Silva tivesse conseguido o seu
intento, não teria acontecido nada disso. Ela tentou apaziguar os dois,
separá-los, mas foi impossível. A gente vê que o policial penal chega de
carro à Associação Recreativa Esportiva Segurança Física de Itaipu e
certamente fica revoltado ao ver que o aniversário havia se tornado um
comício pró-Lula. Ele diz alguma coisa, o aniversariante vem lá de
dentro e joga uma pedra na direção dele. Em seguida, vem a companheira
do aniversariante, a policial civil, e tenta separá-los; parece que
estavam se xingando, e o policial penal vai embora, certamente para
buscar uma arma.
O policial municipal que morreu ou já estava armado ou foi pegar a
arma no carro; então, quando volta o policial penal, começa o tiroteio. O
policial que morreu deu cinco ou seis tiros; o que está na UTI, em
estado grave, deu dois ou três tiros, mas foram tiros fatais. Quando
chega o policial penal, a policial civil ainda tenta contê-lo, mostra o
distintivo já diante da arma apontada. Ela insiste para que ele pare,
mas ainda assim ele entra; ele estava armado, ela não pôde fazer nada.
Ela ainda foi ao carro pegar a arma, apelou para a arma porque não tinha
outra saída. Uma atitude perfeita da policial Pâmela.
O pior de tudo é o sujeito caído no chão – o que está na UTI –, sendo
chutado pelos outros. Foi quase um massacre, eu não sei quais foram os
ferimentos mais graves, se os da bala ou os chutes na cabeça, rosto,
tórax, costas. É terrível esse radicalismo do ódio. As pessoas não são a
favor do seu candidato, são contra o outro. Parece que é assim que a
coisa funciona.
VEJA TAMBÉM: Ódio e radicalismo ideológico Ministros do STF fogem do Senado, mas dão opinião com gosto fora do Brasil Precisamos saber o que Marcos Valério tem a dizer Um criminoso de jaleco e um herói da medicina E
seguimos vendo casos de polícia, como o desse anestesista em São João
de Meriti, Giovanni Quintella Bezerra, que provavelmente será doutor por
pouco tempo, porque o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro
já abriu processo. Foi flagrado porque a enfermagem desconfiou e filmou o
ato obsceno dele com uma parturiente, que estava anestesiada para fazer
uma cesárea. Incrível a tara desse sujeito. Por outro lado, temos esse
herói da medicina, fazendo residência em anestesia, Vitor Procópio
Trindade, que teve uma homenagem no cemitério, helicóptero da polícia
jogando flores, ambulâncias e motos do Samu, todos homenageando esse
jovem médico de 27 anos que trabalhou com tanto humanitarismo, tanta
caridade e amor ao próximo. Tanto que se doou totalmente; o enterro
demorou alguns dias para que retirassem os órgãos que ele doou.
Bolsonaro chamará embaixadores para falar das eleições de 2014 e 2018
Por fim, o presidente Bolsonaro anunciou que está convidando os
embaixadores credenciados em Brasília para ouvirem um relato que ele vai
fazer, documentado, do segundo turno da eleição de 2014, e dos dois
turnos de 2018. Nós sabemos como foi 2014, aquele apagão. Aécio estava
na frente e, de repente, depois do apagão, Dilma na frente. O PSDB
passou quase 100 dias para fazer auditoria e concluiu que aquilo não era
auditável.
Manifestante protesta contra o governo argentino, em Buenos Aires.| Foto: EFE
A
Argentina está mal; há muito tempo, na verdade, não está tão mal como
agora. A dívida externa desabou para aqueles abismos onde se agitam os
países falidos e sem meios para pagar o que devem. É, no momento, a pior
do mundo, e precisa que o Fundo Monetário Internacional, os credores e
órgãos financeiros internacionais entrem em ação – naturalmente, com
todo aquele drama ruim que vem com esse tipo de intervenção. A inflação
passou dos 60% ao ano – e quando as coisas chegam a esse nível fica
difícil consertar com medicação natural. Não há crescimento algum; a
economia vive em recessão. Para todos os efeitos práticos, o país não
tem mais uma moeda própria. Nem os argentinos querem o peso; a única
moeda que faz sentido para eles é o dólar. A capacidade para saldar as
dívidas internacionais está próxima ao zero. Vai tudo ladeira abaixo.
É nisso que deu, como não poderia deixar de ser, a política econômica
esquerdosa do seu governo peronista – uma mistura mortal de
“socialismo”, gasto público sem controle, doação de dinheiro para
sindicatos e cartórios de todas as naturezas, “nacionalismo” e tudo o
que sobra no repertório do “anticapitalismo”. O governo taxa as
exportações agrícolas, a única área firme de toda a economia argentina.
Acha que vai resolver problemas metendo imposto nas grandes fortunas.
Dificulta em tudo o que pode a atividade produtiva. Pense em alguma
coisa errada que um governo possa fazer em sua política econômica – o
governo argentino com certeza está fazendo isso. Vive-se, lá, no mundo
dos “controles de preços”, dos tabelamentos, das empresas estatais
encarregadas de resolver tudo, da perseguição à iniciativa privada, do
“Estado” como o Deus diante de quem todos têm de se ajoelhar. Sempre dá
num desastre. Está dando em outro, mais uma vez.
Para todos os efeitos práticos, o país não tem mais uma moeda
própria. Nem os argentinos querem o peso; a única moeda que faz sentido
para eles é o dólar
Quanto mais a economia da Argentina afunda, entretanto, mais o
governo se convence que está no caminho certo; vai “aprofundar”, em
consequência dessas convicções, o que está fazendo do errado. O
problema, para eles, não é o peronismo; na sua opinião, é a falta de
mais peronismo. É realmente extraordinário, diante de todas essas
realidades, que a Argentina e a sua administração econômica sejam um
modelo para Lula e o PT na presente campanha eleitoral. O ex-presidente,
inclusive, imagina um “pacto” com a Argentina (e a “América Latina”)
para que “todos juntos”, como irmãos de continente e de ideologia,
possamos nos transformar na luz que ilumina o mundo. Não ocorre a Lula
que a Argentina está dando errado. Também não lhe ocorre que o Brasil,
com 360 bilhões de dólares em reservas, está numa situação absolutamente
oposta em termos de meios de pagamento; tem, portanto, necessidades e
interesses muito diferentes, e deveria tratar da sua própria vida, em
vez de abraçar pacientes internados na UTI.
Mas Lula se imagina como o homem mais importante do mundo; tem sonhos
confusos de comando, achando que pode usar a excelente situação das
contas públicas brasileiras que receberá, caso seja eleito, para doar
dinheiro à Cuba, Venezuela e outras economias em colapso. O Brasil, à
essa altura, é muito pouco para a sua mania de grandeza cada vez mais
agressiva. Em nenhum momento lhe passa pela cabeça que o desastre
econômico da Argentina é um sinal do tipo; “Não tente nada parecido”.
Ele se considera acima desse tipo de consideração, mesmo porque sabe
muito bem que ele, seus amigos bilionários e a companheirada não vão
sofrer consequência nenhuma pelo desastre que causarem; vão se dar
muitíssimo bem, ao contrário.
Como alguém é capaz de matar outra pessoa por política? E por que
alguém chega aos 50 anos idolatrando um político?| Foto: Reprodução/
Twitter
No domingo, a coincidência algo macabra. Leio o comentário de
alguém dizendo algo como “o país só vai melhorar depois que a
esquerdalha for exterminada”. Quase vomito, mas contenho o nojo e me
viro para minha mulher para falar algo a respeito desse ímpeto de acabar
com tudo o que nos contraria. Ela escuta pacientemente minha digressão
e, sem falar nada, me mostra o celular. É quando fico sabendo da morte
do tesoureiro do PT durante sua própria festa de aniversário.
A
princípio, as informações são poucas e confusas. O que não impede que a
multidão chegue a conclusões apressadas e categoricíssimas. Um
sem-número de políticos e celebridades de portes variados repudiaram
imediatamente o crime, pondo a culpa no bode expiatório preferido deles,
Jair Bolsonaro. Leio que o PT está sob ataque.
Não estou
entendendo nada. Mesmo vivendo no caótico Brasil do século XXI, a ideia
de alguém entrar aleatoriamente numa festa e atirar contra as pessoas só
porque o tema da festa é Lula me parece fantástica demais. Tragicamente
fantástica. Mas aí lembro que sou cronista e que preciso reagir rápido
aos acontecimentos. E se for um crime comum do qual a esquerda está se
apropriando? E se for mesmo um crime político? Quais as consequências
disso? Socorro!
As dúvidas se acumulam. Será que o fato de Lula
ter exaltado um militante que jogou um senhor contra o para-choque de um
caminhão tem alguma coisa a ver com isso? Ou será que o bater de asas
de uma borboleta na China é que provocou os disparos em Foz do Iguaçu?
Será que o petecídio, isto é, o assassinato de um militante do PT, se
tornará agravante em nosso Código Penal? Será? Será? Será?
Sempre
que alguém morre por política, seja em grandes protestos, atentados ou
discussões como essa de Foz do Iguaçu, fico imaginando como é o acerto
de contas do falecido ao chegar ao Céu. E não, não estou de zombaria.
Imagino mesmo como a pessoa explica à própria alma ou a São Pedro que
deixou este mundo porque acreditava que o comunismo era superior ao
capitalismo ou que o líder A era melhor do que o líder B. Deve ser no
mínimo constrangedor.
Nesses casos, também imagino sempre quais
teriam sido as últimas reflexões da pessoa. Embora muitos não tenham
tempo para todas as reflexões que deixaram de fazer em vida.
O
cinismo é uma desgraça à qual, infelizmente, não estou imune. Quando dou
por mim, me pego escrevendo sobre a festa que teria motivado o
assassinato. O aniversariante usando uma camiseta com a cara feia do
Lula. O cartaz também com a foto de Lula e os dizeres “pro Brasil voltar
a sorrir”. Lula na mesa. Uns docinhos em forma de coração vermelho. Não
era minha intenção ridicularizar a vítima. Só não consigo entender como
alguém pode chegar aos 50 anos idolatrando um político a esse ponto.
Meu
editor tem mais juízo do que eu e me pede para guardar o texto na
gaveta por 24 horas, relê-lo e só então decidir ou não pela publicação.
Mas preciso de apenas mais uma releitura para perceber que ele tem razão
(algo raro).
Tenho umas considerações a fazer sobre as
manifestações de idolatria a Bolsonaro e sobre o comentário do
“exterminador de esquerdistas” mencionado lá no primeiro item deste
texto. Mas, só por hoje, não vou desenvolver essas ressalvas.
O
velho e bom Fernando Pessoa falava da sensação agradável de não entender
algumas coisas. Uma sensação típica da infância. Quem nunca ficou
fascinado diante de uma máquina de algodão-doce pensando “como é
possível?!”. Tal qual a criança que fui, procuro manter a ignorância em
alguns assuntos. Para não perder o fascínio. Ah, infeliz é aquele que
entende tudo – ou acha que entende. A vida é um mistério e o que leva
pessoas a matarem ou morrerem por política é algo que está além da minha
capacidade de compreensão. E, no que depender de mim, continuará assim.
Também
não entendo como as nuvens carregadas pairam nos céus de tempestade. E
não há explicação sobre correntes ascendentes capaz de me esclarecer
esse fenômeno. Me deixa.
Por mais que os petistas me irritem e
me ofendam e até façam ameaças veladas contra mim, e por mais que a
esquerda tenha um tenebroso histórico de violência no varejo e no
atacado, esses aspectos violentos da política ainda são como o
algodão-doce e as nuvens que, pesadonas de chuva, desafiam a lógica da
gravidade.
Tampouco entendo o que leva alguém a fazer uma festa
de aniversário com tema político. Suponho, sem buscar quaisquer teorias
para comprovar minha hipótese à toa, que tenha a ver com vazio
espiritual e com a falência do imaginário de que tanto fala meu amigo
Francisco Escorsim. Mas é uma realidade tão distante da minha que,
sinceramente, prefiro continuar na minha saudável ignorância.
Como
este texto ficou com 13 itens, o que talvez desse margem a
interpretações esdrúxulas, criei mais este item que me permite
desabafar: não gosto do número 14. Nunca gostei. Se você parar para
pensar, o 14 é um desses números absolutamente inócuos, sem mensagens
ocultas ou grandes simbolismos esotéricos. E, no entanto, é
indispensável ali entre o 13 e o 15. Sem o 14, o mundo seria um caos
maior do que é.
Manifestações contra e a favor a prisão de Lula em Curitiba. 7/4/18.| Foto: Daniel Caron/ Arquivo/ Gazeta do Povo
É
uma imensa perda de tempo discutir o crime cometido em Foz do Iguaçu. O
ano de 2022 tem assuntos cruciais a serem debatidos, entre os quais, no
meu entendimento, os mais importantes são, nesta ordem, a limitação do
ativismo judicial e a autossuficiência em fertilizantes. Afinal, bastará
uma canetada de um ministro do Supremo, uma recomendação de um
procurador, e todo o trabalho do Legislativo para regulamentar a
mineração em área indígena pode ir por água abaixo. No atual estado de
coisas, o Brasil pode muito bem deixar de conseguir importar
fertilizantes o suficiente e os ativistas judiciais, encastelados no
Estado, garantirem que passemos fome.
A violência política é, sim, um assunto importante. No entanto, desde
a tentativa de assassinato perpetrada por Maninho do PT, é difícil
chocar-se. Lembremos: no circo que foi a prisão de Lula, com Gleisi
Hoffmann dizendo que haveria sangue caso o mandado se concretizasse, uma
turba de palhaços de filme de terror se reuniu em frente à sede do
Instituto Lula para ficar fazendo arruaça. Um transeunte, o empresário
Carlos Alberto Bettoni, teve uma altercação com a turba. Maninho do PT,
então, empurrou-o à frente do caminhão. Ele teve um traumatismo craniano
e jamais recobrou a saúde de antes. O crime ocorreu em abril de 2018 e
foi muito bem fotografado: a imagem do homem caído sozinho, com um longo
filete de sangue escorrido pelo asfalto, daria para fazer muitas
campanhas catárticas de rechaço à violência ou ao petismo.
Não assistimos a nenhuma histeria coletiva sobre como todos os
petistas são bestas assassinas. A imagem sangrenta não foi explorada
pelas carpideiras da democracia. Não vimos sequer o mea-culpa dos
petistas. Se a imprensa e a academia não estivessem tomadas por canalhas
enlouquecidos (ou por loucos acanalhados), o PT seria chamado às falas.
Não era um bêbado aleatório numa situação aleatório. Era um membro
filiado, um ex-vereador eleito pelo partido, cometendo um crime de
sangue às claras numa manifestação lulista. O mínimo que se esperaria de
um partido decente é a expulsão do membro.
Mas em setembro um esquerdista doido enfiou uma faca na barriga de
Bolsonaro e girou-a, para matá-lo. Tinha um álibi pronto em Brasília,
mesmo estando em Juiz de Fora. E as carpideiras da democracia, cínicas,
não deram um pio contra a esquerda. Desde então essa tentativa de
assassinato – bem como a reação a ela – é o elefante na sala de jantar
das carpideiras.
Amnésia coletiva e repeteco Meses após a prisão de Lula,
começou o festival de suásticas no noticiário. Qualquer suástica em
banheiro de universidade federal ia para o noticiário nacional. Uma
feminista, potencial vítima de gordofobia, exibiu a barriga nas redes
sociais: uma suástica fininha fora feita cuidadosamente com um objeto
cortante por bolsonaristas que a agarraram no meio da rua. Quem
quisesse, que acreditasse. Em Nova Friburgo, a polícia conseguiu pegar o
grupo que pichava suásticas numa igreja: eram os mesmos que pichavam
“Ele não” noutras partes da cidade.
Para alcançar maior dramaticidade, porém, era necessário um cadáver;
de preferência, fresco. Em pleno outubro, apareceu. Transformaram num
evento da maior magnitude uma briga de bêbados em que um mestre de
capoeira do movimento negro terminou morto por um popular. De nada
adiantou o assassino dizer em coletiva de imprensa que o Mestre Moa o
havia chamado de “viadinho negro” e por isso ele pegou a faca. A morte
de Mestre Moa era a prova de que o bolsonarismo mata.
Agora a história se repete. Uma briga privada entre homens de
convicções políticas distintas, na qual um esquerdista sai morto, é
apresentada como prova cabal de que o bolsonarismo mata. A ilibada
Revista Fórum, petista, deu o furo este domingo – e, outra vez, acredita
quem quer. Curiosamente, tal “furo” dado domingo, dia 10, se deu após
outro furo, o do Metrópoles, dado no sábado, dia 9. O jornal de Brasília
divulgara uma fala de Lula, em comício, fazendo uma apologia de Maninho
do PT, que passara 7 meses na cadeia por “defendê-lo”. Uma grande
coincidência!
Ainda por cima, aprendemos que o quase assassino fora solto em prazo
tão curto por uma decisão do STJ. Ao que parece, há não só apologia,
como regalias para carniceiros do PT.
“Fulano está se radicalizando” A desfaçatez dos experts é de cair o
queixo. Como já mostrei algumas vezes, existe um líder de seita chamado
Luciano Ayan (ex-guru do MBL) que conta com plena anuência do
establishment – leia-se, do STF – para fazer coisas que botariam um
Daniel Silveira direto na cadeia. Até espalhar fake news contra Marielle
recém-morta ele pôde. Não só pôde, como ainda foi convidado por uma
autodeclarada “especialista em Cidadania Digital” respeitada pela
imprensa para discutir fake news junto com o senador do meu estado
Ângelo Coronel, que presidia a CPMI das Fake News..
Outra pupila de Ayan, Michele Prado, não tem nenhuma formação
acadêmica, mas é aceita pela academia como especialista em
extrema-direita. Tudo o que ela faz é ficar em rede social dizendo que
fulano está se radicalizando, apresentando tuítes e declarações como
prova disso. Quanto à qualidade de sua obra, Francisco Razzo já leu e
fez um fio quilométrico no Twitter. Eu resumo: todo o mundo que tem a
menor afinidade com algum autor ou ideia de direita é um radical de
extrema direita, menos ela. As críticas de Razzo foram qualificadas como
ataque misógino e assédio promovido por um extremista de direita.
Vejamos agorinha mesmo como a especialista em cidadania digital
reagiu ao suposto furo da revista petista. Primeiro ela retuíta o
ambientalista da GloboNews culpando “os presidenciáveis” (plural) por
“ações violentas dos seus correligionários”. Depois, uma desconhecida
que faz o mesmo, equivalendo Lula a Bolsonaro. Em seguida, publica uma
foto dela própria com Barbara Gancia, dizendo o quanto a admira. Barbara
Gancia recentemente se notabilizou por rezar pela morte de Bolsonaro
enquanto ele sofria com complicações decorrentes do atentado. Um amor,
um exemplo de ser humano a ser abraçado por alguém que passa o dia
denunciando “extremismo”. Por fim, ela elogia um tuíte de Michele Prado
que fala da radicalização como um problema da direita denunciado por ela
em seu livro.
Isso é deboche com a nossa cara.
Estratégia das tesouras e globalismo
Ao meu ver, a pessoa que melhor explica o cenário intelectual atual é
Mathieu Bock-Côté. Em O multiculturalismo como religião política, ele
diz que maio de 68 foi uma revolução cultural da elite contra o povo,
que, no esgarçado vocabulário atual, é conservador. A elite decidiu que o
povo não é mais a fonte de legitimidade da democracia, mas sim uma
noção muito peculiar de “direitos humanos”. Esta noção é muito rígida e
não está sujeita a discussão. Assim, cabe ao judiciário decidir o que é
certo e errado. Se o povo discordar, tem que ser reeducado; se não
quiser se reeducado, tem que ser punido. Como o Estado foi todo engolido
pela burocracia, a eleição de “populistas” se torna inócua, já que a
máquina impede o governo conforme aos anseios populares.
Tanto ele quanto Dugin e John Gray colocam Fukuyama como o escritor
canônico desse novo utopismo. Seja como for, a estratégia das tesouras
consiste em transformar a nova esquerda como lugar comum, rotular como
“extrema direita” os egressos da velha esquerda, e aceitar uma direita
“moderna” que se restrinja à defesa do mercado, sem tocar na História e
nos valores. Com isso, planta-se uma falsa ideia de diversidade
política. Um deputado francês chegara a dizer que “precisa haver
pró-europeus e antieuropeus em cada campo. Se puséssemos os inteligentes
juntos, um dia, com a alternância, os imbecis chegariam ao poder”.
Tem-se aí a ideia de direita xucra por oposição à limpinha.
Com isso, a imprensa militante, junto com os progressistas, se
empenham ao máximo para limitar a discussão pública, condenando a
“polarização”. Nesse esquema, “a democracia contemporânea deve acolher o
mínimo possível quaisquer debates sobre as questões que animam as
paixões populares e políticas. […] sob vários aspectos, a comunicação
política serve até para exacerbar as tensões midiáticas em torno dessas
diferenças menores” (p. 252). Noutras palavras, o país discute ad
nauseam pronome neutro em vez de encarar problemas urgentes como a
legislação pró-bandido, por exemplo. Mas qualquer queixa contra a
bandidolatria logo é tachada como “barbárie” etc.
“Se o populismo ganha penetração nas sociedades ocidentais, é também
porque corresponde a um desejo de polarização política num sistema
político a tal ponto consensual que acaba por sufocar a vitalidade
democrática. Se o conflito numa comunidade política não é instituído
entre duas facções na elite e entre correntes políticas que se
reconhecem como legítimas, ele necessariamente tomará forma, por assim
dizer, entre as elites e o povo” (p. 254).
Estamos polarizados, devemos continuar polarizados até que essa
palhaçada acabe. Por isso mesmo, essa pauta que os petistas pariram deve
interessar só a eles e aos limpinhos. Quanto ao resto do povo, que
falemos de fertilizante, de aborto, de direitos dos manos, de ativismo
judicial. E o que mais der na telha. Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/bruna-frascolla/que-os-petistas-vao-a-pauta-que-pariram/
Saiba o que você pode aprender com a leitura do livro As Armas da
Persuasão, de Robert Cialdini, e como aplicar essas práticas na sua
rotina profissional.
“Faça um cliente, não uma venda”, já dizia a empresária Katherine
Barchetti. Mas como fazer um cliente? Como conseguir o tão almejado
“sim” pela equipe de vendas em suas negociações?
Para que possamos responder a essas perguntas, primeiramente
precisamos entender os motivos pelos quais um possível cliente diz “sim”
a uma oportunidade de negócio.
Para isso, vamos nos basear em um estudo do psicólogo Robert Cialdini
em seu livro As Armas da Persuasão – Como Influenciar e Não Se Deixar
Influenciar. Neste livro, o autor menciona que uma pessoa é mais
propensa a dizer “sim” quando se identifica com a outra, ao se tornar
simpático com ela.
E como isso acontece? Cialdini aborda seis argumentos, que ele chama de “Armas da Persuasão”:
Reciprocidade;
Compromisso e coerência;
Aprovação social;
Afeição;
Autoridade;
Escassez.
A seguir, entenda como essas “armas” podem te ajudar no convencimento de clientes durante o processo comercial!
Armas da persuasão: gatilhos mentais e o processo de tomada de decisão
Os argumentos citados por Cialdini em seu livro funcionam como
gatilhos mentais que, quando disparados, se conectam rapidamente com uma
parte específica do cérebro.
Esses gatilhos podem ser acionados por meio de atitudes e palavras
que “tocam” psicologicamente a mente humana e se instalam nela,
convencendo-a, muitas vezes, a tomar uma decisão.
Para entender como funciona cada parte do cérebro, é necessário
conhecê-lo um pouco mais. Além do lado direito e do esquerdo, o cérebro
humano é dividido basicamente em três partes ou níveis:
Cérebro primitivo ou reptiliano: é a área mais
primitiva e interna do seu cérebro. Controla seus reflexos, respiração,
batimento cardíaco e digestão e está ligado essencialmente aos instintos
mais básicos de sobrevivência e autopreservação. É ativado por
sensações mais primitivas, como dor, medo, prazer, perigo, sexo, fome e
raiva;
Cérebro intermediário ou límbico: é responsável por
emoções mais complexas, parte da memória e do aprendizado. Ele é ativado
por símbolos, lembranças e sensações táteis, auditivas, gustativas,
olfativas e visuais;
Neocórtex: é o responsável pelas decisões mais
racionais, frias e calculistas. Ele controla o seu comportamento social e
o raciocínio lógico.
A comunicação de um gatilho mental vai primeiro para o sistema
límbico do cérebro da pessoa, que é a parte emocional, onde provoca uma
reação. Em seguida, a pessoa busca razões para tomar ou ter tomado
aquela atitude, ou seja, ela racionaliza a informação que chegou para
ela. Esse processo acontece no neocórtex, onde se localiza a parte
racional.
O economista Daniel Kahneman, autor de “Rápido e Devagar: duas formas
de pensar” também fala sobre esse processo de tomada de decisão,
invocando a divisão do nosso cérebro em dois sistemas: 1 e 2. O sistema 1
é o que age rapidamente, com pouco ou nenhum esforço; já o sistema 2
requer concentração e racionalidade para operar.
Nesse sentido, é possível pensar sobre as decisões de compra tomadas
por impulso. Um gatilho é disparado no nosso cérebro e, antes que
possamos racionalizar (porque isso demanda parar, pensar e gastar um
pouco de energia e tempo), já compramos. Esse gatilho pode ser uma
promoção, uma novidade, a pressa para garantir uma condição especial, um
brinde… Algo que nos pareça tão atrativo e familiar, que não será
necessário pensar muito antes de decidir.
Você pode estar se perguntando: mas é possível utilizar essas armas para persuadir pessoas e conseguir um “sim” de forma ética?
Um ponto importante para trazer aqui é que não estamos incentivando a
promoção da compra por impulso. Na verdade, em vendas mais complexas,
um cliente que compra por impulso é o que menos queremos: ele tem mais
chances de se arrepender e pedir um cancelamento/devolução, ou pode
demandar muito mais de atendimento e suporte para ficar plenamente
satisfeito com a compra.
Levar essa inteligência para a equipe de vendas, portanto, é
uma forma de melhorar as táticas de persuasão e convencimento de
clientes que realmente precisam do seu produto/serviço, e que podem
apresentar objeções por ainda não terem confiança total na sua empresa.
Ser persuasivo não significa ser antiético! Persuadir não é manipular. Persuadir é provar, com argumentos, que uma ideia pode ser interessante, apresentando-a de modo a fazer sentido para a pessoa.
Persuasão e convencimento em vendas
Podemos concordar que já passou o tempo de vendedores que buscavam
apenas a venda pela venda. Abordagens sem estratégia, com insistência,
posturas invasivas e práticas como a compra de listas de contatos e
telemarketing caíram por terra nos últimos anos.
E o motivo é bem simples de entender: como consumidores, estamos mais
informados, dispostos a debater e questionar. Temos acesso a dados,
concorrentes, comparativos técnicos, reviews feitas por especialistas… O
vendedor já não é a única parte da negociação com poder de barganha.
Nesse contexto, o uso da persuasão passa a ser ainda mais necessário.
Afinal, o trabalho de convencimento agora vai além de apresentar
funcionalidades ou um bom preço.
Como mencionamos, Robert Cialdini aborda seis argumentos por ele
denominados como “armas da persuasão”. Abaixo, explicaremos melhor sobre
cada uma e como elas influenciam um processo de venda.
1. Reciprocidade
Esse gatilho atua com a troca social e consciente. Alguns estudos
demonstram que quase todo mundo se sente pressionado socialmente a
devolver um favor ou uma gentileza. Nos estudos, fala-se que o poder da
gratidão a favores não solicitados é mais forte, até mesmo do que o da
simpatia.
Como usar o argumento da reciprocidade em vendas
Se o vendedor ofereceu um benefício com o intuito de ajudar
verdadeiramente o seu cliente, este se sente na “obrigação” de retribuir
o favor. O que pesa aqui é a gentileza!
Esse cliente sente a necessidade de retribuir e, com isso, pode ficar
mais aberto e receptivo para a solução que o vendedor está oferecendo.
Alguns exemplos do que oferecer são cursos, encontros com especialistas
da empresa em uma área que o cliente necessita melhorar e materiais
educativos em geral. A ideia é proporcionar um ganho extra de valor ao
cliente, além da contratação da sua empresa.
2. Compromisso e coerência
Ao comprometer-se publicamente com algo, a pessoa se sente
pressionada psicologicamente para se comportar de modo coerente com a
missão que foi assumida.
Em “As Armas da Persuasão”, Robert Cialdini dá um exemplo sobre um
restaurante que enfrentava problemas com reservas de mesas. Cerca de 30%
das reservas não eram utilizadas e não eram canceladas previamente, o
que impedia que outros clientes pudessem ocupar as mesas.
A solução do restaurante foi bastante simples. Ao efetuar uma reserva, a atendente sempre perguntava ao cliente: “você poderia me ligar caso precise mudar a data, horário ou desmarcar essa reserva?”, e aguardava ouvir o “sim” do cliente. Com essa prática, as desistências sem aviso prévio caíram para menos de 10%.
A explicação é que os clientes se comprometiam com o restaurante na
ligação com a atendente, e se sentiam compelidos a manter esse
compromisso firmado. A grande sacada aqui é esperar o “sim” do cliente. A
atendente poderia dizer apenas que “qualquer alteração deve ser
comunicada com antecedência” e desligar o telefone, mas aí não haveria o
estabelecimento do compromisso.
Como usar o argumento do compromisso e coerência em vendas
Uma sugestão é sempre iniciar a abordagem com perguntas que podem ser
respondidas com um “sim”, para já estabelecer um clima positivo na
conversa. Lembre-se de sempre fazer perguntas, e não tantas afirmações,
para que o cliente possa estabelecer o compromisso.
3. Aprovação social
“Como 95% das pessoas são imitadoras e apenas 5% são iniciadoras,
elas são convencidas mais pelas ações dos outros do que por qualquer
prova que possamos oferecer” – Cavett Robert.
Sylvan Goldman foi o inventor do carrinho de compras em mercados e
supermercados. Contudo, percebeu que seu invento não funcionou muito bem
no início, pois nenhum dos clientes pareceu aprovar a ideia. Ele tentou
diversas formas de fazer com que os clientes utilizassem o carrinho,
mas nada funcionava.
Após diversas tentativas mal-sucedidas, Goldman teve uma ideia
interessante e inusitada: contratar várias pessoas para andarem com os
carrinhos pelos mercados. Dessa forma, alguns clientes viam a cena e
imitavam. Atualmente, ir ao mercado e pegar um carrinho é quase uma ação
automática.
Tudo isso porque as pessoas são persuadidas a agirem de acordo com o
coletivo – o que a maioria faz, de certa forma, nos influencia. As
pessoas tendem a buscar uma aprovação social, ou seja, a fazer algo que
as outras pessoas também fariam com receio de serem discriminadas.
Como usar o argumento da aprovação social em vendas
Na área comercial, a aprovação social poderia ser utilizada da seguinte forma pela equipe de vendas:
Mostrar ao cliente os casos de sucesso de outras empresas que contrataram o mesmo tipo de serviço;
Trazer o número de clientes da carteira do vendedor;
Mostrar o número total de clientes da empresa;
Durante a negociação, comentar sobre o sucesso de seus clientes em projetos similares;
Utilizar a técnica: “sente, sentiram, se deram conta”. Por exemplo: “eu
sei como se SENTE, muitos dos meus clientes já se SENTIRAM assim, até
que SE DERAM CONTA que era, de fato, necessário utilizar essa ferramenta
para crescer.”
Essas estratégias fazem com que o cliente pense que não é o único que
teve receio, que isso é normal, mas que outros viram que o melhor a
fazer era investir no produto. Estar em conjunto traz conforto e
segurança.
4. Afeição
Socialmente, uma pessoa está mais disposta a se comunicar e relacionar com outra quando existe afeição.
Alguma vez você já comprou algo simplesmente porque a vendedora era
tão legal e simpática, que você acabou comprando por causa dela? E, ao
chegar em casa e ver o produto adquirido, percebeu que não precisava
tanto assim dele?
A profissional soube criar afeição. Te acolheu, aumentou seu
interesse no produto, tirou suas dúvidas e te convenceu. E existem
diversas técnicas para isso. Uma forma de criar afeição é utilizar a
técnica de espelhamento, que acontece quando imitamos, de forma sutil e
natural, o comportamento do outro.
No exemplo acima, é provável que a vendedora tenha utilizado essa
técnica. Pode ter observado alguma particularidade do cliente, como o
nome, as preferências de modelos ou cores do produto, tom da voz,
agitação e entusiasmo, e espelhado essas posturas. Dessa forma, o
cliente se sentiu à vontade, pois estava conversando com uma pessoa
muito parecida consigo.
Quando a afeição é gerada de forma orgânica, seu efeito é muito
positivo. Contudo, quando ela é gerada artificialmente, de forma
teatral, a outra pessoa consegue perceber, causando o efeito contrário.
Como usar o argumento da afeição em vendas
Nas vendas, pode-se utilizar a afeição de diversas formas, tendo em
vista como o cérebro funciona e que é necessário acionar os gatilhos
mentais certos com quem se deseja negociar, de forma a alcançá-lo de
forma natural e harmônica.
Com isso, basta aplicar o comportamento correto e o pensamento
positivo. O vendedor pode iniciar a conversa criando um rapport com
alguma informação que seja do seu conhecimento, como observar algo
positivo na empresa do cliente e comentar.
É preciso ter cuidado com os tópicos escolhidos! Alguns temas podem
ser bastante sensíveis, como política e times de futebol, ou invasivos,
como perguntar sobre família e filhos.
Caso a afeição funcione, ao longo da negociação será perceptível que
vendedor e cliente têm pontos em comum e estarão cada vez mais
confortáveis um com o outro. Em vendas de ticket médio mais alto,
complexas ou de processo mais longo, essa intimidade é um ganho muito
importante!
5. Autoridade
Os gatilhos de autoridade são os mais conhecidos hoje em dia. Fazemos uso deles o tempo todo, às vezes sem sequer perceber.
Quando penduramos certificados e diplomas na parede, estamos exibindo
orgulhosamente nossas conquistas, mas também mostrando aos nossos
visitantes o quanto somos capacitados. Virtualmente, fazemos o mesmo em
nossos perfis em redes sociais, especialmente no LinkedIn.
Outros métodos também ajudam a transmitir autoridade. Advogados
utilizam roupas sociais, com bons cortes e tecidos, para passar essa
ideia de profissionalismo e seriedade. Médicos e outros profissionais de
saúde vestem jalecos com seus nomes e especialidades bordadas, às vezes
até com o nome da instituição onde se formaram.
A própria postura e a entonação da voz podem transmitir autoridade,
bem como demonstrar experiência e resultados ao longo da conversa. Tudo
isso é fundamental para que o cliente desenvolva confiança e segurança
na negociação.
Como usar o argumento da autoridade em vendas
Um representante de vendas pode utilizar esta técnica por meio da
oratória, tendo uma comunicação assertiva e objetiva, sabendo se
comportar de acordo com a situação, não alterando seu tom de voz de modo
agressivo, mantendo a postura.
É importante dar atenção para a vestimenta. Hoje é possível ser menos
formal, mas é necessário estar sempre adequado ao ambiente do encontro
presencial. A primeira impressão sobre o visual ainda é muito marcante.
Também é importante deixar visível ao cliente toda a sua bagagem
profissional e educacional. Dessa forma, irá gerar autoridade e o
cliente passará a confiar mais em suas palavras e a tê-lo como
referência em um assunto específico. Neste momento é importante deixar
claras as soluções e benefícios do produto.
Contudo, é preciso ter cuidado com a pretensão. Não se trata de dar
“carteiradas” ou simples exibicionismo ou teatro. Não existe afeição por
pessoas consideradas arrogantes!
6. Escassez
O sentimento da perda é mais forte do que o sentimento do ganho. Um
gatilho mental é rapidamente acionado quando estamos em posição de
perder algo: nosso cérebro reage de forma emocional e tenta evitar essa
sensação.
Isso acontece, por exemplo, quando estamos em uma loja e o vendedor
comenta que a blusa que estamos experimentando é a última. Nesse
momento, esse gatilho mental foi acionado e você, então, não sabe ao
certo o que fazer: se leva a blusa, mesmo sabendo que pode não ficar tão
bem em você, afinal é a última blusa; ou se não a leva e busca outras
peças.
Isso também acontece quando nos apresentam duas opções de um mesmo
produto. Sempre existe uma terceira opção, de não comprar nenhum dos
dois, mas ela raramente aparece na nossa mente.
Nosso cérebro também entra em modo de competição quando acontece o
gatilho da escassez. Basta observar as liquidações de Black Friday,
saldões em lojas de departamento e até mesmo filas de ingressos para
festivais e shows concorridos.
As oportunidades aparentam ter um maior peso quando menos disponíveis
ou escassas, o que é uma excelente forma de acelerar o processo de
decisão em vendas.
Como usar o argumento da escassez em vendas
Nas vendas, pode-se utilizar essa arma da persuasão das seguintes formas:
Falando de um benefício de seu produto ou serviço que seja único, exclusivo ou por tempo limitado;
Agregando valor ao cliente de forma a conseguir alguma vantagem competitiva a ele e de forma limitada;
Enviando ações de marketing que informem ao cliente que você liberou
um teste em sua ferramenta de forma gratuita, somente para os 10
primeiros que baixarem um conteúdo específico, dizendo que faltam apenas
duas pessoas.
Dizendo que faltam poucos minutos para terminar o tempo para baixar um material específico ou se inscrever em um curso.
Dessas maneiras, o gatilho mental da escassez será acionado e a
pessoa lutará para não perder essa oportunidade. Nesse momento, torna-se
mais simples apresentar os seus benefícios e soluções, pois a pessoa
estará mais disposta a interagir com você e seus produtos.
Importante: não finja escassez. A pior experiência possível é achar
que adquiriu algo exclusivo e se dar conta de que não era tão exclusivo
assim. Mantenha o compromisso!
Conclusão
O livro As Armas da Persuasão nos ensina que, antes de racionalmente
dizer o sim, um cliente precisa ser acionado emocionalmente. Ou seja, a
sua decisão de compra acontece, antes de tudo, no nível emocional.
Por isso, um bom vendedor precisa entender como e quando lançar mão
de artifícios para guiar esse processo emocional, criando momentos de
empatia, conexão e confiança. Será nesses momentos em que o tão sonhado
“sim” chegará!
O “não” do cliente a uma proposta. Por quê?
Moysés Peruhype Carlech
Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”,
sem nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de
resto todas as lojas desse Camelódromo na no Site da nossa Plataforma
Comercial da Startup Valeon.
Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer
pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as
minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais
uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?
Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a
sua localização aí no Camelódromo? Quais os produtos que você
comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online
com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu
WhatsApp?
Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para
ficarem passeando pelo Camelódromo, vendo loja por loja e depois fazendo
a decisão de compra, como antigamente.
A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao
mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para
sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em
Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para
enfrentar a crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de
isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos
hábitos para poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar
pelos corredores dos camelódromos e shoppings centers, durante a crise
maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar por lojas virtuais
como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que tinham receio de
comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa barreira. Se os
consumidores estão na internet, é onde seu negócio também precisa estar
para sobreviver à crise e continuar prosperando.
É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda
do Site da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim
um investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu
processo de vendas fica muito mais profissional, automatizado e
eficiente. Além disso, é possível a captação de potenciais compradores e
aumentar o engajamento dos seus clientes.
Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu
certo, porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer.” –
Se você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um
grande obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe
você até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o
próximo nível de transformação.
O que funcionava antes não necessariamente funcionará no
futuro, porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas
como os negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos
consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas
tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo
aquilo que é ineficiente.
Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de
pensar e nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos
justamente por entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer
e aprender com o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde
queremos estar.
Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a
absorver novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que
você já sabe.
Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo
por meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na
internet.
Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a
sua carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar
você para o próximo nível.
Aproveite o final do ano para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.
Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.
O presidente do Chile, Gabriel Boric (ao centro), recebe o texto
da nova Constituição das mãos da presidente da Assembleia Constituinte,
María Elisa Quinteros, e do vice-presidente da assembleia, Gaspar
Domínguez, na sessão de 4 de julho de 2022.| Foto: Alberto Valdés/EFE
Na última segunda-feira, a Assembleia Constituinte chilena
entregou ao presidente Gabriel Boric o texto do que deve ser a nova
Constituição do país, caso ela seja aprovada em um referendo marcado
para 4 de setembro. Como já era possível antever graças à composição da
assembleia eleita em maio de 2021, dominada majoritariamente pela
esquerda e que ganhou impulso com a vitória de Boric na eleição
presidencial de dezembro de 2021, o novo texto não prima pela busca de
reconciliação e criação de pontes em um país dividido; em vez disso,
tenta avançar ao máximo as pautas ditas “progressistas” – e, com isso,
pode ter semeado o próprio fracasso.
Que o Chile buscasse uma nova Constituição em vez de seguir
remendando eternamente a carta do período ditatorial de Augusto Pinochet
era algo natural; esta é uma etapa pela qual inúmeros países (incluindo
o Brasil) passaram ao trocar regimes autoritários pela democracia. O
Chile, no entanto, não apenas demorou demais para dar esse passo – a
ditadura terminou em 1990 –, como resolveu fazê-lo em um momento
politicamente conturbado, com protestos violentos nas principais cidades
do país em 2019. A abstenção em um país onde o voto é facultativo teve
papel importante: apenas 51% dos eleitores votaram no plebiscito em que
78% dos votos foram favoráveis à nova Constituição; e apenas 41,5% dos
eleitores participaram da escolha dos constituintes. Os apoiadores da
esquerda não deixaram de ir às urnas e deram a seus escolhidos a maioria
absoluta da assembleia, deixando a direita e centro-direita com menos
de um terço das cadeiras, incapazes de bloquear propostas mais radicais.
Em vez de aprimorar o modelo liberal para levar prosperidade aos mais
pobres, e com isso contemplar a parte do país que rejeita mudanças mais
radicais, os constituintes de esquerda resolveram reinventar a roda a
seu bel-prazer
E, com o caminho livre, os ditos “progressistas” trouxeram à luz uma
Constituição “abrasileirada” e que estica a corda para o lado oposto ao
do autoritarismo pinochetista. O texto é extenso, com 372 artigos, e
garante uma espécie de “direito a tudo”: trabalho, moradia, alimentação,
cidade, esporte, lazer, “remuneração equitativa, justa e suficiente” e
“gozo pleno e livre da sexualidade”. No entanto, os constituintes não
explicaram muito bem como tantos direitos serão viabilizados pelo Estado
chileno, permitindo concluir que, no fim, o Chile imitará o Brasil não
apenas no papel, mas também na prática: um país onde a lei garante
inúmeros direitos, mas o Estado não é capaz de proporcionar seu
exercício pleno.
Os constituintes também inverteram completamente a lógica econômica
herdada do pinochetismo, em que o Estado praticamente se ausentava de
serviços importantes, deixando tudo a cargo da iniciativa privada, sem
nem mesmo exercer um desejado papel subsidiário. De acordo com a nova
Constituinte, previdência, saúde e educação passam a ser obrigação do
Estado, com as redes públicas assumindo o protagonismo e deixando a
iniciativa privada com atuação mais complementar – ou seja, saltando de
um extremo a outro sem considerar o saudável meio-termo que o princípio
da subsidiariedade oferece.
Por fim, mas não menos importante, a esquerda também cristalizou na
Constituição várias pautas identitárias e morais. A carta garante o
direito ao aborto – que terá de ser regulamentado por lei posterior – e à
eutanásia, além do “pleno reconhecimento da identidade” das pessoas “em
todas as suas dimensões e manifestações, incluindo as características
sexuais, identidades e expressões de gênero, nome e orientações
sexoafetivas”, acrescentando que “o Estado garantirá o pleno exercício
deste direito por meio de ações afirmativas”.
A esquerda, ao olhar apenas para a composição da assembleia
constituinte e para a vitória de Boric, resolveu ignorar que a direita
teve expressivos 44% dos votos no segundo turno do pleito presidencial,
mostrando um país dividido, e desprezou os méritos do liberalismo
aplicado até agora, que trouxe bons resultados econômicos e fez do Chile
um líder em desenvolvimento na América do Sul. Em vez de aprimorar este
modelo para levar essa prosperidade aos mais pobres, e com isso
contemplar a parte do país que rejeita mudanças mais radicais, os
constituintes resolveram reinventar a roda a seu bel-prazer.
Não surpreende, portanto, que as pesquisas para o referendo de 4 de
setembro – em que o voto, desta vez, será obrigatório – estejam
registrando uma virada: até março, ainda indicavam a aprovação do texto,
mas desde então vêm apontando para a rejeição à nova carta, embora as
margens sejam bastante diversas em cada sondagem. A esperança da
esquerda já não repousa tanto no mérito que eles enxergam no texto que
redigiram, mas no que ela está chamando de “aprovar para reformar”,
admitindo (ou fingindo admitir) que no futuro o texto precisará ser
alterado. Quem também joga a favor do novo texto é o cansaço do cidadão
chileno, já que a rejeição no referendo significará que a Constituição
pinochetista seguirá vigorando, mas todo o processo de redação de uma
nova carta precisará ser retomado do início, esticando a sensação de
instabilidade que já vigora desde 2019.