sexta-feira, 24 de junho de 2022

IMPACTO DA PRISÃO DE EX-MINISTRO NO GOVERNO

 

Ex-ministro da Educação

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

O presidente Jair Bolsonaro, acompanhado do ministro da Educação, Milton Ribeiro, participa da divulgação dos novos critérios de desconto e renegociação das dívidas do Fies.


Ex-ministro Milton Ribeiro com o presidente Jair Bolsonaro, em fevereiro de 2022.| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil

A prisão do pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação, não mudou o humor do governo federal e da base governista, que rechaçam a possibilidade de o caso atingir a pré-candidatura à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a maioria dos aliados políticos. No Palácio do Planalto, integrantes do núcleo político apontam que não há um clima de desespero nem preocupação, muito menos em relação à possibilidade de instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar o Ministério da Educação (MEC).

É evidente que o governo e seus aliados não desejam a instalação de uma CPI e prefeririam que a prisão não tivesse dado “munição” para a oposição atacar o governo. Porém, Bolsonaro e seus coordenadores de campanha avaliam que há mais ganhos do que danos para o governo e a pré-candidatura presidencial.

A análise no Planalto é de que a prisão amplia a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e cria uma cortina de fumaça propícia para o governo avançar com o planejamento da ampliação do vale-gás e do Auxílio Brasil para R$ 600, além da criação de um auxílio aos caminhoneiros. Para governistas, todo esse cenário surge sem desgastar o presidente e toda a base, ainda mais após Ribeiro ter sido solto por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1).

Para o governo, o próprio Lula esvaziou o discurso da oposição de uma suposta corrupção cometida por Milton Ribeiro ao questionar nesta quinta-feira (23) se há alguma prova que confirme algum roubo cometido pelo ex-ministro da Educação. Em contrapartida, as acusações feitas por oposicionistas sobre corrupção alimentaram a retórica do governo para atacar o petista, cujos escândalos do passado – do mensalão à Lava Jato – são bem conhecidos de todos.

A estratégia do governo em relembrar investigações, denúncias e condenações judiciais contra Lula e aliados petistas foi alinhada ainda na quarta-feira (22) entre Bolsonaro e integrantes de seu núcleo político. Entre eles, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que atua na coordenação eleitoral da pré-campanha presidencial.

De Geddel a Dilma e Lula: como o governo rebateu a prisão de Milton Ribeiro
Do ponto de vista do marketing político, a estratégia do governo para rebater a oposição é partir para o enfrentamento ao não aceitar acusações de corrupção sobre Ribeiro e destacar que ele não faz mais parte do governo. E sempre que for atacado, a base política vai lembrar que ele foi demitido, é investigado, e que “corrupção de verdade” aconteceu nos governos do PT.

Para essa estratégia, o governo entende que há ampla documentação de imagem, fotografia e processos que reforçam os escândalos nas gestões petistas. A estratégia em rememorar episódios de corrupção nas gestões Lula e da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) vão desde a citação de casos notórios à associações mais recentes.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara, lançou em suas redes sociais um vídeo de 2 minutos e 20 segundos em que fala sobre diferentes casos de corrupção envolvendo petistas e aliados. Ele cita que o ex-ministro Geddel Vieira Lima (MDB), condenado no caso dos R$ 51 milhões em espécie não declarados à Receita Federal achados em um apartamento, está solto e que seu grupo político apoia Lula nas eleições da Bahia neste ano.

Eduardo comenta títulos de reportagens que informam sobre prisões de ex-ministros de Dilma e destaca que não dá nem para “começar a comparar” uma suposta corrupção cometida no governo Bolsonaro com os escândalos de corrupção que resultaram em condenações nas gestões petistas. “O [ex-]ministro Milton está sendo investigado, foi preso preventivamente. Ainda tem um processo que vai correr, onde ele vai ter a chance de se defender”, diz.

O senador Flávio avalia que há uma clara tentativa da oposição em usar eleitoralmente a prisão de Ribeiro para tentar colocar Bolsonaro “na mesma prateleira” de Lula e apontou que isso é “impossível”. “Lula é o maior ladrão da história do nosso país”, declarou. O líder do PL no Senado destaca, ainda, que a prisão do ex-ministro sugere que o governo não interfere nas investigações da Polícia Federal (PF) e que isso era diferente nas gestões petistas.

“Olha a diferença de postura. Enquanto o Bolsonaro afasta o [ex] ministro, a Polícia Federal faz a investigação isenta, independente, sem interferência. Os governos passados, como aconteceu no caso da Dilma, ela tenta promover o Lula a ministro para que ele não fosse preso por corrupção, enquanto no governo federal, quando há um caso isolado de suspeita de alguma coisa, a pessoa tem que ser investigada e ela tem que provar sua inocência”, disse Flávio em comunicado divulgado à imprensa.
Que outras estratégias foram incorporadas pelo governo e aliados
O posicionamento de que a investigação sugere que o governo não interfere na PF é endossada pelo deputado federal Sanderson (PL-RS), vice-líder do governo na Câmara. Policial federal de carreira, ele destaca que isso prova que o governo combate a corrupção e que a corporação tem “autonomia operacional e funcional” e isso é “rigorosamente respeitado e valorizado cada vez mais”.

“A ação policial é a exata prova de que, no governo Bolsonaro, o combate à corrupção é prioridade, doa a quem doer. Agora, é imperioso termos a responsabilidade para não condenar ninguém de forma antecipada. Por isso, acho fundamental e prudencial aguardar o resultado das investigações para, só depois, fazermos um juízo de valor”, destacou o parlamentar em comunicado à imprensa.

Nesta quinta, a PF informou ter aberto um procedimento interno para apurar se houve eventual interferência a favor do ex-ministro. O delegado que comandou a operação teria afirmado em mensagens a colegas da PF que houve “interferência na condução da investigação” e dito não ter “autonomia investigativa para conduzir o inquérito deste caso com independência e segurança institucional”.

A decisão do juiz federal Renato Borelli em prender Milton Ribeiro desencadeou críticas do governo e da base sobre um suposto ativismo judicial. No Planalto, a análise é de que a decisão do magistrado segue uma ideologia política.

“O juiz que decretou a prisão foi o mesmo que no ano passado de uma sentença, uma liminar, que cada vez que alguém me visse na rua sem máscara ele iria me multar em R$ 2 mil”, afirmou o presidente Bolsonaro em transmissão ao vivo nas redes sociais, nesta quinta-feira (23). Segundo ele, o juiz já abriu várias ações “contra o governo”. “Não é competência dele, todas [as ações] foram arquivadas”, disse.

O deputado Filipe Barros (PL-PR) republicou em seu Twitter um comentário de André Porciuncula, ex-Secretário Nacional de Incentivo e Fomento à Cultura, em que sugere que a decretação de prisão preventiva de Ribeiro “por causa de uma venda legal de carro” denota um ativismo judicial do juiz. “É uma daquelas insanidades que só acontece porque o juiz tem certeza da total impunidade ao atuar fora do que a lei autoriza. A ausência de limites para o ativismo judicial é o maior problema da nossa democracia”, critica.

Aliado do governo, o pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, cita em um vídeo a decisão do desembargador Ney Bello, que concedeu o habeas corpus ao ex-ministro do MEC, e comenta que não há no mandado de prisão expedido pelo juiz Borelli nenhuma referência sobre a motivação.

“Não existe prisão sem prévia e fundamentada justificativa. O próprio órgão acusador, o Ministério Público Federal, dá parecer contrário às prisões. É uma vergonha, foi tentativa para atingir o presidente Bolsonaro, o resto é conversa fiada”, declarou. “Querer comparar corrupção de governo Lula com governo Bolsonaro só pode ser piada. O PT, só de acordos de devolução de dinheiro roubado nos governos, são R$ 22 bilhões”, acrescentou.

Qual é a estratégia para rebater a abertura de uma CPI do MEC
O governo e sua base também traçaram uma estratégia para rebater a defesa da oposição pela instalação de uma “CPI do MEC” no Senado. O líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), rechaça a possibilidade de isso ocorrer ao citar que há outras três CPIs na fila no aguardo de suas criações.

Uma das CPIs citadas por Portinho foi protocolada por ele próprio. Trata-se da proposta de uma comissão para investigar problemas no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e os motivos que levaram 2s mil escolas a estarem inacabadas, a grande maioria, segundo ele próprio, no período de 2006 a 2016, ou seja, nos governos petistas.

O deputado Marco Feliciano (PL-SP), vice-líder do governo no Congresso e líder da Igreja Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, critica a proposta da oposição de CPI do MEC e aponta que ela tem o objetivo de evitar a instalação da CPI da Petrobras, articulada pela base na Câmara.

“Com uma diferença: o que tenha ocorrido no MEC já está sendo investigado pelas autoridades. E o lucro pornográfico da Petrobras às custas do trabalhador brasileiro, quem está investigando?”, comentou no Twitter.

A estratégia da oposição em pedir a CPI do MEC permitiria a base na Câmara avançar com a instalação da CPI da Petrobras, defende o deputado federal Coronel Tadeu (PL-SP), vice-líder do partido na Câmara. “Deixa eles tentando cavar defunto onde não tem enquanto isso a gente vai desenterrando aqueles que sabem que tem. Isso na minha ótica fica muito mais legal para a direita, para o presidente e o governo porque a gente vai voltar a bater com fatos”, disse à Gazeta do Povo.

Tadeu defende que a CPI da Petrobras seria relevante para “levantar muita coisa da época do PT. “Tem que aproveitar bem esse espaço para detonar. Vamos trazer a Graça Foster [ex-diretora da estatal], o [Sérgio] Gabrielli [ex-presidente da petroleira] e fazer contarem tudo sobre Pasadena e desenterrar processos dos navios sonda, que foi construído para a Petrobras e não navegou um único dia. Dá para reverter aquilo que fizeram na [CPI] da Covid, mas fazer com propriedade”, destaca.

“Vamos devolver o Renato Duque [ex-diretor da Petrobras] para a cadeirinha da inquisição e perguntar por que resolveu devolver R$ 120 milhões e se não tem mais nada guardado”, acrescenta.

Como a prisão de Milton Ribeiro ajuda a avançar a ampliação de auxílios
O governo entende que sai beneficiado do caso Milton Ribeiro também à medida em que a oposição gasta energia à toa em encampar o pedido de instalação da CPI do MEC. Para o Planalto, isso ajuda a avançar no debate de ampliar o Auxílio Brasil dos atuais R$ 400 para R$ 600. Discute-se nos bastidores que a forma de operacionalizar isso seja feito pela desistência da proposta de emenda à Constituição (PEC) que compensa os estados que zerarem o ICMS sobre o gás de cozinha e o óleo diesel.

A proposta de ampliar o Auxílio Brasil para R$ 600 foi confirmada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes ao site Poder 360. Porém, o chefe da equipe econômica não deu maiores detalhes sobre a engenharia financeira para financiar. A proposta vinha sendo discutida nos bastidores e a prisão do ex-ministro da Educação acelerou os diálogos entre os núcleos político e econômico do governo.

O núcleo político de Bolsonaro aponta que o problema mais urgente para se resolver pelo governo e pelo Congresso é encontrar a melhor forma de reduzir o custo de vida do brasileiro e manter a dignidade aos mais pobres. Por isso, interlocutores palacianos admitem que o debate para ampliar o Auxílio Brasil para R$ 600 vem em boa hora.

A princípio, os recursos sairiam dos R$ 29,6 bilhões que compensariam os estados que zerarem as alíquotas do diesel e do gás de cozinha. “O governo está com a energia toda focada nesse debate. Existe esse diagnóstico de que precisa fazer alguma coisa para dar suporte à alta da inflação em um debate que vai ser feito junto com o Congresso”, afirma um interlocutor palaciano.

Além do Auxílio Brasil de R$ 600, o governo também vai manter o debate sobre a ampliação do vale-gás e a criação do auxílio aos caminhoneiros, apesar da ideia de um “voucher” aos transportadores rodoviários de carga desagradarem a categoria.


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ABORTO NÃO É SOLUÇÃO PARA PRESERVAR A VIDA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Image of baby in mother\’s womb during ultrasound examination at 20 weeks 2 days.


Imagem de ultrassom de bebê com 20 semanas de gestação.| Foto: BigStock

O caso da pré-adolescente catarinense de 11 anos que tinha engravidado depois de supostamente sofrer um estupro e, durante audiência que discutia a possível realização de um aborto, aceitara a proposta feita por uma promotora e uma juíza de prolongar a gestação até que o feto tivesse mais chances de sobrevivência, antecipando o parto e entregando o bebê para adoção, é uma prova de fogo para a sociedade brasileira. Não há como ficar indiferente ao drama desta menina e de sua família, nem aos esforços de duas profissionais do Direito para preservar ambas as vidas – esforços estes que comentamos neste espaço, na manhã desta quinta-feira. Este caso limítrofe, cujo desfecho ainda é desconhecido após intervenções da Defensoria Pública da União e de uma ala mais ideologizada do Ministério Público Federal (há relatos e desmentidos sobre uma suposta realização do aborto), serve para refletirmos qual o olhar dos brasileiros a respeito de um tema tão crucial quanto a defesa integral da vida humana em todas as suas fases.

O aborto em caso de gravidez decorrente de estupro é também chamado “sentimental”, e não sem razão. Ao enorme trauma causado pela violência sexual sofrida, acrescenta-se uma gestação indesejada e que se torna uma memória permanente de uma das piores experiências que uma mulher pode sofrer em sua vida. Não deveria surpreender ninguém que, nestas condições, a gestante não queira o bebê, e frequentemente não queira nem mesmo levar a gestação até o fim, pois cada dia de gravidez prolonga o sofrimento. Não são poucas as mulheres que, nesta situação, acabam julgando que o aborto seja a melhor, ou a única saída para esta situação, e qualquer pessoa que se diga pró-vida precisa estar disposta a compreender esse fato. A mãe que, após engravidar em decorrência de um estupro, não apenas segue adiante com a gestação até o fim como ainda acolhe e ama seu filho vai além do que poderíamos exigir dela.

É míope a sociedade que olha apenas para o sofrimento da gestante vítima de violência, mas não vê que há outra vida com valor intrínseco a defender. É hipermétrope a sociedade que defende o nascituro, mas não é capaz de enxergar e se compadecer do drama da mulher que está bem diante dos seus olhos

O legislador, ao elaborar a lei penal brasileira, soube dar uma resposta adequada a este drama, escolhendo não punir a gestante e os profissionais envolvidos no aborto quando a gestação resulta de estupro (ou quando provoca risco de vida para a mãe), ainda que mantenha o caráter de crime do ato, daí o erro em se falar de “aborto legal”. Não é nosso objetivo, agora, prolongarmo-nos sobre detalhes de redação legislativa – o leitor que desejar um esclarecimento sobre a diferença entre certa conduta não ser considerada crime ou ser criminalizada sem punição irá encontrá-lo de forma bastante didática em outro editorial desta Gazeta, cuja leitura recomendamos. Interessa-nos, agora, defender a solução do legislador. Enviar para a prisão a mãe que aborta após ter sido estuprada acrescentaria um terceiro sofrimento a alguém que já passou por dois traumas, o da violação e o do ato de eliminar a vida de seu filho. A criminalização sem a punição é uma solução humanitária que reconhece tanto o drama da mãe quanto a gravidade do aborto. Tanto é assim que há uma parcela significativa de brasileiros que, sendo contrária à legalização do aborto, defende a manutenção da lei atual – mesmo crendo equivocadamente que, neste caso, o aborto seja conduta legalizada.

Mas propomos também voltar o nosso olhar para o ser humano concebido como consequência da violência sexual. Será ele menos humano que uma criança concebida em um ato de amor, dentro de uma família sólida? Deve ele carregar a culpa pela monstruosidade alheia, pagando por ela com a própria vida? Não merece a chance de nascer e se desenvolver, seja junto de sua mãe biológica, seja com outra família disposta a acolhê-lo e amá-lo? Uma célebre campanha publicitária dos anos 90 trazia três corações praticamente idênticos, cada um com uma inscrição: “branco”, “negro” e “amarelo” (como sinônimo de “oriental”). A mensagem era inequívoca: somos todos iguais, todos dignos de respeito. Pois, da mesma forma, não há diferença ontológica alguma entre crianças no ventre de suas mães, independentemente da forma como foram concebidas. São todos seres humanos, indivíduos únicos, desde o momento do encontro dos gametas, diz-nos a biologia; e, nessa condição, têm direito inalienável à vida; são indefesos e inocentes, não agressores dos quais temos o direito de nos defender.

É míope a sociedade que olha apenas para o sofrimento da gestante vítima de violência e que não deseja seu filho, mas não consegue ser capaz de enxergar mais além e entender que há um outro ser humano, cuja vida já está em curso e tem valor intrínseco: a da criança gerada, inocente, indefesa e que tem o direito de viver. É hipermétrope a sociedade que reconhece e defende o valor da vida intrauterina, mas não é capaz de enxergar e se compadecer do drama que está bem diante dos seus olhos, o da mulher que sofre profundamente com a violência cometida contra ela e com a gestação indesejada – e não apenas o dela, mas também o da mulher abandonada por seu marido, namorado ou parceiro ao descobrir a gravidez; o da mulher pobre ou miserável que julga não ter condições de ter mais um filho; ou o de tantas mulheres que, pelas mais diversas circunstâncias, creem ou são induzidas a crer que apenas o aborto resolveria seus problemas.

Tem visão saudável a sociedade que sabe proteger ambas as vidas, algo que a experiência bem-sucedida de várias entidades país afora que atendem mães em situação de desespero mostra ser plenamente possível conseguir. Seja acompanhando as gestantes em suas residências quando isso é possível, seja acolhendo-as em casas especialmente preparadas, essas entidades lhes oferecem todo o amparo médico, psicológico, jurídico e financeiro, antes e depois do nascimento de seus filhos. Todo brasileiro precisa ser imensamente grato a essas entidades; elas são o espelho do que deveríamos construir: um país onde todas as vidas importam e têm seus direitos garantidos, a começar pelo mais básico de todos.


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POLÍTICA COLOMBIANA DE ABANDONAR AS SUAS FONTES DE ENERGIA É UM ERRO

Matriz energética

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo


Plataforma para extração de gás natural em Cartagena: plano de governo do presidente eleito prevê que novas licenças para a exploração de hidrocarbonetos não serão concedidas| Foto: EFE/Ricardo Maldonado Rozo

Durante sua campanha vitoriosa para presidente da Colômbia, o esquerdista Gustavo Petro alegou que os “três principais produtos de exportação” do país são “três venenos”.

“O mais poderoso é o carvão, que extraem do Caribe, La Guajira e Cesar [região e departamentos colombianos]. Depois o petróleo, que tiram do Piedemonte Llanero [sub-região colombiana], e depois a cocaína”, declarou.

Petro planeja durante seu governo iniciar uma transição energética, na qual a economia colombiana em 15 anos deixaria de ser dependente de combustíveis fósseis e privilegiaria fontes de energia limpas.

“Faremos uma desescalada gradual da dependência econômica de petróleo e carvão. Em nosso governo, será proibida a exploração de reservas não convencionais, serão interrompidos os projetos-piloto de fracking e o desenvolvimento de reservas no mar. Não serão concedidas novas licenças para a exploração de hidrocarbonetos, e a mineração em grande escala a céu aberto não será permitida”, aponta o plano de governo do ex-guerrilheiro, que prevê também uma política de compensações para que reservas de carvão e petróleo não sejam exploradas.

Empresários do setor de energia colombiano e especialistas consideram que essas metas podem gerar grandes danos às contas públicas e à economia do país nos próximos anos.

De acordo com a Associação Colombiana do Petróleo e Gás (ACP), se apenas forem mantidos os contratos vigentes para a exploração de hidrocarbonetos, em 2026 a Colômbia precisaria passar a importar gás e em 2028, petróleo para consumo interno.

Alexandra Hernández Saravia, vice-presidente de assuntos econômicos e regulatórios da ACP, destacou em entrevista ao jornal La República os efeitos colaterais que essa situação provocaria.

“Quando um país precisa gastar mais dólares em energia, isso impacta a economia além da conta de gás e dos custos dos domicílios. Há uma questão macroeconômica: o setor sustenta o dólar, o custo dos alimentos, insumos e cartões de crédito”, argumentou.

O veto a novas licenças resultaria numa perda de US$ 45 bilhões em exportações em dez anos, estimou a ACP.

Segundo o site de notícias La Silla Vacía, o petróleo e seus derivados representaram 52% das exportações colombianas no primeiro trimestre deste ano e 8,5% do investimento estrangeiro direto em 2021.

“Fazer uma transição muito rápida [de matriz energética] pode deixar a Colômbia sem os recursos necessários para financiar a mesma transição, mas também para superar os números da pobreza”, apontou o ex-ministro de Minas e Energia Tomas González, hoje diretor do Centro Regional de Estudos Energéticos, ao La Silla Vacía.

Segundo a ACP, se levada a cabo, a política energética de Petro geraria em quatro anos perdas fiscais que representariam 40% do que o governo colombiano gasta em programas sociais.

“A Colômbia tem petróleo e gás, não somos grandes produtores, mas há recursos importantes. O contexto europeu nos ensinou a não depender de outros países para o fornecimento de energia”, alertou Francisco Lloreda, presidente da ACP.
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PRISÃO DE EX-MINISTRO VIRA ARMA DA OPOSIÇÃO

Milton Ribeiro

Por
Alexandre Garcia


O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro.| Foto: Luis Fortes/MEC

Não conseguiram se livrar do Tarcísio em São Paulo. O PSol entrou na Justiça Eleitoral, mas o TSE não aceitou a alegação de que ele não podia ter transferido o domicílio eleitoral para São Paulo. Domicílio eleitoral é algo diferente. E Tarcísio, então, continua candidato ao governo de São Paulo.

Desembargador não caiu na história da destruição de provas
Outra decisão também provocou uma alteração na Justiça. O desembagador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região, dizendo que essa história de prisão preventiva do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro não está certa, mandou soltá-lo, além dos quatro pastores que estão no mesmo inquérito. Os pastores estariam se aproveitando do ministro para vender liberação de verba do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. O juiz de Brasília que decretou a prisão preventiva alegou que havia perigo de ocultação ou destruição de provas. Claro que o desembargador não caiu nessa, porque isso aconteceu em março e a cronologia não fecha. Se ele saiu do ministério em março, na hora em que estourou essa história dos pastores, ele teve abril, maio e 22 dias de junho para ocultar ou destruir provas e se esqueceu de fazer isso. Teve de ser preso para não fazer isso agora? Não faz sentido.

A prisão preventiva ocorre quando há uma convicção de culpabilidade e quando há o perigo de o sujeito continuar praticando o crime, de fugir, pressionar testemunhas ou atrapalhar a Justiça – por exemplo, com a destruição de provas, mas isso ele teve todo esse tempo para fazer. O desembargador mandou soltar, só que a essa altura a tal prisão cumpriu o objetivo, que era desgastar o governo em ano eleitoral. A mídia antigoverno passou 24 horas feliz da vida porque tinha uma boa notícia: o governo mostra até hoje três anos e meio de governo sem corrupção, mas prenderam o ministro. Vamos esperar o resultado disso.

Congressistas querem CPI para terem palanque em ano eleitoral
E tem outra. Tem gente que quer a CPI da Petrobrás na Câmara, achando que isso resolve o preço do combustível. E CPI do Ministério da Educação no Senado. Deputado e senador adoram CPI, porque é um palanque, um carro de som, ficam o dia inteiro no noticiário, ainda mais em ano eleitoral. Estão arrependidos os senadores que fizeram CPI no ano passado, foi muito cedo. Era para sair esse ano a CPI da Covid, mas aí ninguém mais ia acreditar naquelas frases, que não tem tratamento, e não sei mais o quê. Como ninguém mais acredita, então querem fazer uma CPI agora, mais palanque, carro de som.

Agora eu desafio: façam uma CPI com 20 anos de investigações na Petrobras e no MEC. Será uma maravilha. O que vão achar nesses últimos 20 anos… nos últimos três anos e meio acredito que não vão achar nada, mas antes vão achar muita coisa!


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OPINIÃO É AMEAÇA ÀS INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS?

 

Por
J.R. Guzzo


Alexandre de Moraes, ministro do STF| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

O Brasil vive nestes dias um fenômeno sem precedentes: a suprema corte de justiça do país transformou-se numa junta de governo, que traz à memória as “comissões revolucionárias” que os militares formavam, nos velhos tempos em que havia golpes militares da América Latina. No passado, os golpistas anulavam a Constituição e o resto da legislação em vigor no país; eliminava-se os direitos individuais, a liberdade de expressão e a ação dos partidos políticos. Hoje o Supremo Tribunal Federal faz a mesma coisa, com a justificativa de que está agindo para defender as “instituições democráticas”. É mais ou menos assim: para salvar a democracia é preciso, em primeiro lugar, destruir a democracia. As leis, decidiu o STF, não podem atrapalhar a visão que seus ministros têm do que é melhor para o Brasil, para a sociedade brasileira e para o bem de todos. Se estiverem, pior para as leis – sobretudo quando elas se aplicam a pessoas ou entidades sem força, prestígio ou influência para se defender.

A agressão mais recente ao sistema legal do país é o surto repressivo do ministro Alexandre de Moraes contra um partido político mínimo, que não tem nenhum deputado federal, nem estadual, e de cuja existência muito pouca gente tem notícia – o Partido da Causa Operária. Há dias, Moraes vem baixando sentenças iradas para impedir esse PCO de exercer as suas atividades políticas; simplesmente proibiu, com mais um despacho, que os militantes do partido se manifestem em qualquer plataforma das redes sociais. É cassação explícita do direito de expressão assegurado como “cláusula pétrea”, ou “imexível”, da Constituição. O PCO não cometeu nenhum crime, nem está organizando grupos armados, ou mesmo desarmados, para subverter a ordem constitucional ou fazer qualquer coisa parecida com isso. Tudo que o seu presidente disse é que Moraes é um “skinhead de toga”. Desde quando chamar um ministro de “careca” pode ser uma ameaça “às instituições”? Não pode, é óbvio – mas foi suficiente para o infeliz ser enfiado no inquérito perpétuo, secreto e ilegal que o ministro conduz há três anos para reprimir “fake news” e “atos antidemocráticos”. Não há direito de defesa nesse inquérito. Os indiciados não são informados dos crimes que teriam cometido. Todos são culpados; nunca houve, até hoje, um caso de absolvição.

As leis, decidiu o STF, não podem atrapalhar a visão que seus ministros têm do que é melhor para o Brasil, para a sociedade brasileira e para o bem de todos

Chamar Alexandre de Moraes de “careca” pode ser tudo, menos notícia falsa. A vítima do ministro poderia dizer isso, se tivesse direito de se defender – mas não tem. Também não tem como contestar que fez “postagens antidemocráticas”. Que diabo é isso – “postagem antidemocrática? Entra na cabeça de alguém que chamar um ministro do STF de “careca” coloca a democracia brasileira em perigo? Tudo bem: a palavra “skinhead” é aplicada para simpatizantes nazifascistas. Mas e daí? É a opinião do presidente do PCO; pode ser contestada na justiça, segundo o que diz o Código Penal, como calúnia, injúria ou difamação. Não tem absolutamente nada a ver com segurança nacional, nem vai abalar instituição nenhuma. Alega-se também que o denunciado pediu a “dissolução” do STF. De novo: e daí? Em que lei está escrito que é proibido defender o desmanche do Supremo e propor a sua substituição por um outro tipo de tribunal? Toda a alta cúpula do PT fez exatamente isso quando Lula foi para cadeia; hoje, STF e PT são os melhores amigos do mundo, mas o que foi dito não pode mais ser apagado. Nenhuma surpresa aí, é claro. Esse tipo de junta é isso mesmo; não tem de dar explicação, nem fazer nexo. Só tem de baixar decretos, enfiar gente na cadeia, dar ordens e proibir.

Todo mundo sabe que o STF, hoje, é o maior produtor de arbitrariedades neste país – age contra os direitos do cidadão, os dois outros poderes e o que está escrito na Constituição. O mundo político, que tem um Congresso eleito e com poderes formais para impedir o que está acontecendo, fica quieto; recebe ordens e diz “sim senhor, mais alguma coisa?” O STF vai em frente, é óbvio.

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INOVAÇÃO E DISRUPÇÃO MOVEM O MUNDO

 

Ninguém gosta de perder

 Por André Vellozo* – O Estado de S. Paulo

Megaciclos caminham para o poder dos dados 

Megaciclos caminham para o poder dos dados 

As cinco maiores empresas de dados do mundo valem juntas US$ 7,2 trilhões, enquanto os cinco maiores bancos do mundo valem apenas US$ 1,2 trilhão. Existe uma diferença de US$ 6 trilhões, entre quem processa quase todos os dados e quase todo dinheiro do planeta. Neste exato momento, Big Tech e big finance colidem, e silenciosamente desenham novas fronteiras para negócios, infraestrutura e clientes.

Com a mudança do paradigma tecnológico de software para dados, países, empresas e indivíduos, disputam soberania, capacidade e autonomia de processamento de dados. Esta é uma das maiores mudanças da história da humanidade, pois impacta o modo de produção e a economia. Nos próximos anos o PIB global poderá atingir US$ 1 quatrilhão. O desafio é a redução da assimetria.

É normal sentirmos medo diante de tamanha mudança. Entre explicações e justificativas, erros e acertos, o mundo de tecnologia e o de finanças, disputam o protagonismo deste momento. Porém, duvidar da criatividade e da capacidade de construirmos um futuro melhor nunca foi a atitude que impulsionou a humanidade. Entre estar certo ou ser feliz, uma coisa é verdade, pessimismo e medo não são bons conselheiros. Eu garanto.

Dada a turbulência do mercado nas últimas semanas, a queda histórica da Nasdaq, e as mensagens persistentes de retração, inflação e recessão, achei que poderia ser valioso compartilhar uma visão particular sobre o que realmente está acontecendo e por quê. E especialmente, apontar algo muito maior que parece estar passando desapercebido.

O software e o mundo

Em 20 de agosto de 2011, o cofundador do Netscape e investidor, publicou um artigo no Wall Street Journal: “Por que o software vai comer o mundo.”

Sua previsão era de que as empresas de software iriam atacar e transformar indústrias tradicionais em todo o mundo. Em português seria: “disruptar”. O artigo no Wall Street Journal foi uma estaca no chão e um grito de guerra para a indústria do software: “O vencedor leva tudo!”

Em diversos países, empreendedores e investidores fizeram surgir milhares de startups. Assistimos indústrias e mercados serem transformados, e empresas desaparecerem frente ao surgimento de gigantes como a Amazon, Netflix, Airbnb, WeWork, Uber e outros. Dez anos e mais de 1.000 unicórnios depois, podemos dizer que o “software já comeu o mundo!”

Hora de encarar a realidade. Construir negócio tecnológicos, de alto crescimento, alta margem e altamente defensáveis é brutalmente mais difícil agora. Há menos empresas e setores frágeis o suficiente para se “disruptar”, e o modelo “o vencedor leva tudo” parece que atingiu seus limites.

Está provado que é possível escalar uma companhia muito rápido e dominar todo um mercado. O Vale do Silício tem receita e métricas, gurus e frameworks para isso. Mas, depois de escalar desta forma, se você quiser rentabilizar, vai ser necessário descer camada por camada do negócio, e enquanto faz isso vai precisar manter o monstro vivo. Este esforço não custa duas, mas três vezes mais do que o caminho convencional: uma para escalar, outra para rentabilizar e a terceira para manter o monstro vivo enquanto faz as duas primeiras. Precisa de muito dinheiro.

Startups podem transformar mercados e indústrias tradicionais e até criar ciclos verticais de disrupção. Mas elas são, desde o nascimento, limitadas ao tamanho de seus mercados-alvo.

Com a terceira maior queda histórica da Nasdaq dos últimos 20 anos, as avaliações de unicórnios (startups avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais) despencaram, e ajudaram a arrastar o mercado de ações de tecnologia com eles. É o fim da era dos unicórnios. A mensagem do mercado é: evite a espiral da morte e não pense em elefantes cor de rosa!

É verdade que a recente turbulência do mercado e as persistentes tensões macroeconômicas explicam muito disso, e que as séries de TV WeCrashed e The Dropout colaboram para se criar uma percepção duvidosa da indústria. Mas não se engane nem por um segundo, há algo muito maior por trás disso. Forças de inovação e disrupção impulsionam mercados e o mundo. De uma maneira ou de outra.

Megaciclos de inovação e disrupção

Um megaciclo emerge de uma mudança no paradigma tecnológico causada pela disrupção. Megaciclos são fenômenos poderosos que redefinem as relações nas camadas de tecnologia e impactam o modo de produção da sociedade. 

Megaciclos podem ser testemunhados toda vez que uma bolha de tecnologia estoura. Quando o valor dentro dela – pessoas, conhecimento, propriedade intelectual, produtos, conscientização do consumidor – não pode mais ser transformado em riqueza pelas empresas investidas, e torna-se parte do combustível para o próximo ciclo.

O negócio do venture capital é investir em terceirizar riscos de inovação em P&D, e financiar alguma disrupção vertical, enquanto promove a disrupção que trará o próximo megaciclo. As companhias e fundos que navegam megaciclos são as que dão o nome e a reputação a atividade.

O último megaciclo mudou o paradigma tecnológico de hardware para software, e os investimentos “em” e pró-tecnologia fizeram o PIB Mundial expandir cerca de US$ 77 trilhões, indo de US$ 7,3 trilhões em 1977, para US$ 84,7 trilhões em 2020.

Megaciclos produziram as maiores empresas do planeta e também os maiores fundos de venture capital. Confundir inovação com disrupção é onde o dinheiro troca de mãos. Por isso venture capital só tem sucesso de verdade nos ciclos de disrupção.

Companhias de tecnologia podem gerar ciclos de disrupção em indústrias e negócios tradicionais. Mas, quando a inovação consegue encontrar seu caminho para revolucionar o próprio mercado de tecnologia, ela pode desencadear um megaciclo.

Neste exato momento, estamos experimentando os sinais do maior megaciclo de todos os tempos. Se há dez anos o motto foi o “software vai comer o mundo”, nos próximos anos será “dados vão regenerar o planeta”.

Um megaciclo é um fenômeno de convergência, onde negócios, tecnologia e sociedade se combinam em um só vetor e geram a energia para se criar um tipo muito diferente de companhia: as high-tech disruptor companies (HTDs). Estas sim criam riqueza exponencial.

Como encontrar uma HTD? Com as feridas das últimas semanas na psique dos investidores, o mercado de ações evitará chavões tecnológicos por algum tempo. Essa é uma oportunidade para ser assertivo.

Não há como diferenciar uma HTD de uma empresa comum usando as métricas padrão. Então, antes de começarmos a questionar valuations, vamos tentar entender como a última geração de disruptores fez o que fez. Confirmemos se estamos vendo mesmo os sinais do próximo megaciclo e se conseguimos verificar o surgimento de uma sólida mudança de paradigma.

Como HTDs desafiam o status quo, elas são raras, evasivas e sensíveis ao tempo. Da mesma forma, os investidores com mandato e capazes de identificar este tipo de oportunidade são poucos e distantes entre si. Por isso é necessário se criar um framework que ajude investidores a identificarem este tipo de oportunidade.

HTDs são gestadas lentamente. Levam cerca de oito anos para aparecerem. Período onde testam sua tese pioneira, e se preparam pacientemente para o momento de disrupção. Possuem fundadores e time emblemáticos. Preservam e amadurecem seu core-team, tecnologia e estratégia.

Durante os anos de gestação elas retêm o P&D e não tem “sucesso” em ir a mercado. São companhias que enfrentaram incontáveis tipos de adversidades, inclusive políticas e econômicas, pois são forjadas no contra-fluxo do mercado. É um trade-off duro para quem experimenta. Esse trade-off desenvolve uma clareza de propósito que outras companhias custam a encontrar ou pagam caro para achar depois de lançadas. Esse processo cria a base para acelerar penetração de mercado, muitas vezes com grande upside de valor de marca.

Investir agora em HTDs irá desencadear o próximo megaciclo. Uma vez encontradas, e caso se comportem como suas antecessoras, estas companhias podem se tornar de grande valor para a economia global, liderando mercados muito maiores do que qualquer outra companhia na história.

O brasileiro André Vellozo é um dos funddores da startup DrumWave, que quer auxiliar usuários a ganharem dinheiro com a venda dos dados pessoais

O brasileiro André Vellozo é um dos funddores da startup DrumWave, que quer auxiliar usuários a ganharem dinheiro com a venda dos dados pessoais

Mudança de paradigma

O modelo de negócios que permite que as camadas do stack de tecnologia que conhecemos funcionem é o de monetização de aplicações. Vendendo software monetiza-se também o fabricante de devices, o sistema operacional, o carrier, o Wi-Fi, a cloud, o fabricante de micro-processadores, enfim, todos aqueles envolvidos na cadeia de computing, networking e storage. Menos o consumidor final. Este paga a conta.

Até este momento, o software foi fundamental para o mundo produzir dados valiosos. Mas agora o mundo depende de dados para produzir software valioso.

A transformação digital e a monetização dos dados miram a disrupção da indústria de tecnologia, estão transformando suas regras de engajamento e por consequência a forma como entendemos as nossas vidas, e os negócios.

Novas regras de custódia e hostingvaluation de dados, e a categorização de dados como um novo tipo de asset, estão promovendo a disrupção da indústria de tecnologia. Se dados são realmente um asset, o benchmark não é o da indústria de tecnologia nem o de marketing. O benchmark é o mercado financeiro.

A recente regulamentação focada na privacidade dos dados tratou de reforçar as barreiras entre as diferentes camadas do stack, e reforçou tembém os limites entre as relações que ocorrem dentro dele. Ela surge com o objetivo de proteger o titular do uso não autorizado de seus dados. Para impedir que qualquer um dos agentes do stack faça o uso fora do objeto de seu contrato e da natureza de sua relação com o usuário.

Esta mudança do paradigma de tecnologia transforma omodelo de negócios, de monetização de aplicações para monetização de dados. Diferente da privacidade, mas não em oposição a ela, a propriedade de dados trata da liberdade que o usuário tem de explorar o valor dos seus dados, e re-estabelecer o papel de cada agente do stack. Desta vez, empodera o usuário, dando a ele autonomia sobre o valor dos seus dados.

O próximo megaciclo

O próximo megaciclo muda o paradigma tecnológico de software para dados, e caso se comporte da mesma forma que o ciclo anterior promete expandir o PIB mundial em aproximadamente US$ 841 trilhões, indo de US$ 84,7 trilhões em 2020, para próximo de US$ 1 quatrilhão em 2062. Com esta projeção se refletindo também no valor de mercado capturado pelas líderes do ciclo, teríamos cerca de US$ 80,2 trilhões a serem capturados como valor de mercado pelos HTDs desta megaciclo.

Como chegamos até aqui?

O Vale do Silício tem perdido sua vitalidade. Todo mundo é livre para escolher as brigas que quer brigar, mas quem compra fraqueza, paga por fraqueza e no final leva fraqueza. Nos últimos anos procurou-se projetos fáceis, em indústrias e mercados frágeis, para atrair dinheiro fácil e usou-se uma fórmula para escalar a própria ideia de escalabilidade. Mas explorar a fraqueza tem limites.

À medida que a Singularity University promovia o sonho de se replicar Vales do Silício pelo mundo – unicórnio após unicórnio – a idéia de que o “software vai comer o mundo” foi sendo reforçada. Bem no finalzinho de um megaciclo, investidores e empreendedores de todo o mundo impulsionaram métricas agressivas de “o vencedor leva tudo!” em diversas HTD. Kaput!

HTD não são unicórnios. Eles não podem ser produzidos artificialmente. Sua mágica é entregar riqueza exponencial. HTD são o espírito que define a geografia do que pode ser chamado de Vale do Silício.

Como fizeram seus predecessores, HTD tem a missão de enfrentar o status-quo. Não tratam de desafiar motoristas de taxis, nem atacar mercados maduros barateando serviços financeiros para depois fazê-los caros novamente. HTD criam valor e riqueza ao mesmo tempo. Isso exige uma ética e um respeito pelo propósito do negócio, do tipo que empresta o significado ao respeito pelo dinheiro.

Ninguém tem se esforçado mais para encontrar um HTD do que Masayoshi Son. Se você carrega as cicatrizes do fim do último Megaciclo, lembre-se das recentes perdas de US$ 27 bilhões do SoftBank.

Enquanto o mundo gira inevitavelmente em direção à disrupção ou disfunção, o a16z – uma das mais respeitadas firmas de Venture Capital do Vale do Silício – acaba de patrocinar uma rodada de US$ 70 milhões para financiar a companhia de blockchain de Adam Neumann, o fundador da WeWork. Você percebe a lacuna? Você consegue ver o ciclo?

Uma vez que o alvo está na mira, timing é tudo. Entramos em uma era onde deixar de ganhar é muitas vezes pior do que perder.

*é cofundador da DrumWave, possui mais de 20 patentes registradas no USPTO e mora em Palo Alto, Califórnia

QUEIJO CANASTRA É O MELHOR DO MUNDO?

 

Ranking dos 50 melhores do mundo do ‘The Taste Atlas’ de junho coloca queijo mineiro em destaque, à frente de produtos célebres como Pecorino e Serra da Estrela 

Maria Isabel Miqueletto, O Estado de S.Paulo

Queijo artesanal da Canastra Don'Antonia na fazenda do produtor Carlos Augusto, no município de São Roque de Minas, região da Serra da Canastra

Queijo artesanal da Canastra Don’Antonia na fazenda do produtor Carlos Augusto, no município de São Roque de Minas, região da Serra da Canastra Foto: Daniel Teixeira/ESTADÃO

O queijo Canastra chamou atenção hoje nas redes. O site The Taste Atlas elencou o Canastra como o melhor do mundo no ranking “50 Melhores Queijos do Mundo”. Os mineiros ficaram em polvorosa. Em um dos comentários mais curtidos da postagem no Facebook, uma usuária afirma que “todo mundo sabe que os queijos de minas são melhores mesmo”. 

Os critérios do ranking divulgado nesta segunda-feira, 20, não são claros – segundo a publicação, os queijos foram elencados a partir das classificações da audiência do Taste Atlas e se referem ao mês de junho deste ano. O mineiro Canastra ficou à frente de outros queijos célebres, como os italianos Parmeggiano Reggiano e Pecorino e o português Serra da Estrela.

O resultado surpreendeu o jornalista gastronômico e especialista em queijo, Eduardo Girão, entre outras coisas, por ser um ranking mundial quando o queijo Canastra dificilmente é encontrado fora do País. Sendo assim, vê o resultado com cautela. “É um queijo brasileiro que não é mundialmente reconhecido entre queijos que têm uma produção muito difundida e uma distribuição global. Me parece mais um grupo de pessoas daqui que votou do que algo que reflete a popularidade”, pondera.

Independentemente de aspectos relativos ao ranking, o queijo Canastra merece nossa apreciação. Feito de leite de vaca cru, prensado a mão e maturado em prateleira de madeira, o queijo Minas artesanal produzido na região da Canastra é ligeiramente picante à medida em que matura e tem média intensidade, com um paladar mais moderado.

E já rendeu prêmios importantes aos produtores mineiros. O queijo Canastra do Queijo do Ivaior, por exemplo, é bicampeão super ouro no Mondial du Fromage et des Produits Laitiers de Tours – premiado em 2019 e em 2021. 

Há um equívoco comum em considerar Canastra o tipo de queijo, quando na verdade diz respeito à região em que é produzido. O Minas artesanal (aí sim o tipo) é feito em 10 microrregiões reconhecidas, uma delas é a Canastra, explica Girão. “São da mesma receita, mas por serem feitas em regiões diferentes têm propriedades diferentes. Clima, vegetação, altitude geram diferenciações em características mais sutis”, complementa.

Aliás, o modo de fazer artesanal do queijo foi registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

TUDO COMEÇA COM UM SONHO

 

Redação do Diário da Saúde

Curiosamente, grande parte da população pobre é contra cobrar maiores impostos dos excessivamente ricos – as pessoas amam os bilionários, embora odeiem o clube dos bilionários.

[Imagem: Jill Wellington/Pixabay]

Princípio econômico errado

Um princípio básico da sociedade capitalista é o de que todas as pessoas seriam motivadas por “desejos ilimitados”, presas em uma esteira consumista e se esforçando para acumular o máximo de riqueza possível.

De fato, este é o princípio fundamental das teorias econômicas e das políticas governamentais, tendo moldado a sociedade moderna, incluindo a publicidade e o consumismo – por exemplo, os índices de bem-estar hoje são virtualmente todos de natureza econômica, como preços, crescimento da produção (PIB), valores das moedas etc.

Acontece que esse “princípio básico” da economia está errado, garantem Paul Bain (Universidade de Bath) e Renata Bongiorno (Universidade de Exeter).

Segundo os dois psicólogos, desejos ilimitados não são parte inerente da natureza humana.

Vida absolutamente ideal

Entrevistando quase 8.000 pessoas de 33 países em seis continentes, os dois pesquisadores perguntaram quanto dinheiro as pessoas queriam para alcançar sua “vida absolutamente ideal”.

Em 86% dos países, a maioria das pessoas acredita que pode conseguir isso com US$ 10 milhões ou menos, e em alguns países com apenas US$ 1 milhão.

Embora esses números ainda possam soar muito, quando considerados que representam a riqueza ideal de uma pessoa ao longo de toda a vida, eles são relativamente moderados. Por exemplo, a riqueza da pessoa mais rica do mundo, de mais de US$ 200 bilhões, seria suficiente para que mais de duzentas mil pessoas alcancem suas vidas absolutamente ideais, a vida de seus sonhos – a riqueza das 26 pessoas mais ricas do mundo equivale ao da metade mais pobre.

Pessoas com desejos ilimitados foram identificadas em todos os países, mas sempre foram minoria. E aquelas com desejos ilimitados tendiam a ser mais jovens e moradores da cidade, que valorizam mais a opinião dos outros, o poder e a independência. Desejos ilimitados também foram mais comuns em países com maior aceitação da desigualdade.

Sonho de riqueza ideal das pessoas é curiosamente modesto

Gaste tempo ganhando dinheiro e depois use o dinheiro para comprar tempo – bem, se isso fizer sentido para você.

[Imagem: CC0 Creative Commons/Pixabay

Vida ideal para as pessoas e o planeta

A dupla acredita que seus resultados podem ajudar a lidar com a desigualdade e com as ameaças que o consumo desenfreado vem fazendo à própria existência da humanidade ao gerar destruição no planeta em larga escala.

“Descobrir que a vida ideal da maioria das pessoas é realmente bastante moderada pode tornar socialmente mais fácil para as pessoas se comportarem de maneira mais alinhada com o que as torna genuinamente felizes e apoiar políticas mais fortes para ajudar a proteger o planeta,” disse o professor Bain.

“Estes resultados são um forte lembrete de que a visão da maioria não se reflete necessariamente em políticas que permitam a acumulação de quantidades excessivas de riqueza por um pequeno número de indivíduos,” acrescentou Renata.

A crença no princípio de que alguns podem ficar ricos ao extremo também teve consequências terríveis para a saúde do planeta. Esforçar-se para aumentar continuamente a riqueza individual e buscar um crescimento econômico sem fim tem um custo alto – à medida que a riqueza aumentou e se concentrou, também aumentaram o uso dos recursos planetários e a poluição.

PROPÓSITOS DA VALEON – “ValeOn É TOP”

ValeOn é uma Startup Marketplace que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa.

Encontre Produtos, Profissionais e Serviços em toda a região do Vale do Aço

Site: https://valedoacoonline.com.br/ ou App Android valeon

Moysés Peruhype Carlech

A ValeOn é uma startup daqui da região e foi acelerada pelo programa AGITA/SEBRAE/MG e pretendemos atuar no ramo de Publicidade e Propaganda online e pretendemos atender a todas as 27 cidades do Vale do Aço.

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

A Plataforma Comercial da ValeOn é um site moderno, responsivo, profissional, projetado para atender às necessidades dos serviços da região onde existem várias formas de busca: por cidades, por empresas, por produtos, por atividades, por município e por procura.

Para acessar a plataforma da ValeOn poderá ser feita por:

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Aplicativo App: Digitar valeOn no Playstore do Google

Detalhe interessante dessa inovação da ValeOn é que os lojistas/prestadores de serviços/profissionais autônomos inscritos na Plataforma não precisarão fazer nenhuma publicidade ou propaganda, quem o fará é a equipe da ValeOn responsável pela plataforma.

Sobre a publicidade de divulgação dos nossos clientes será feita em todas as redes sociais: facebook, instagran, whatsApp, google, linkedin, rádios locais, jornais locais e onde for possível fazê-la.

Vamos tornar a nossa marca ValeOn conhecida em toda a região como um forma de ser desenvolvedora do comércio da região e também de alavancar as vendas do comércio local.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

quinta-feira, 23 de junho de 2022

GOVERNO QUER MINIMIZAR O AUMENTO DOS COMBUSTÍVEIS COM AUXÍLIOS AOS CAMINHONEIROS

 


Governo quer ampliar o vale-gás e criar auxílio para caminhoneiros: o que esperar

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília


| Foto: Isac Nobrega/PR

O governo federal tomou a decisão de ampliar o auxílio-gás, também conhecido como “vale-gás”, e quer criar um auxílio para caminhoneiros com o pagamento de uma espécie de “voucher” para custear o preço do óleo diesel. O objetivo é claro: socorrer quase 6 milhões de famílias que recebem o auxílio e até 900 mil caminhoneiros que sofrem com o alto custo do combustível para evitar maiores danos político-eleitorais à campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) e da base governista.

O gás de cozinha já é isento da incidência de tributos federais e o Senado ainda deve votar na próxima semana a proposta de emenda à Constituição (PEC) que compensa os estados que zerarem o ICMS sobre o gás e o óleo diesel. Mesmo assim, aliados do governo cobravam alguma revisão no auxílio-gás aprovado pelo Congresso no ano passado.

O auxílio aos caminhoneiros vem na mesma avaliação política de ampliar os esforços para amortecer os impactos da alta dos combustíveis a uma parcela de trabalhadores que compõe uma base eleitoral significativa de Bolsonaro e foi diretamente impactada pelo último reajuste concedido pela Petrobras às distribuidoras.

Apesar das decisões tomadas, o governo ainda analisa a engenharia política para procedê-las e contabiliza o custo das operações e como pagá-las. O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, alinhou ambas as propostas na terça-feira (21) com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas ainda tenta chegar a um acordo com o ministro da Economia, Paulo Guedes.

Quais as opções avaliadas pelo governo ao vale-gás e ao auxílio caminhoneiro
O governo estuda diferentes propostas para ambos os auxílios. Para a ampliação do vale-gás, há duas sugestões na mesa de negociações. Uma delas é tornar mensal o auxílio-gás que, hoje, é pago a cada dois meses a um valor de R$ 53. Em abril, 5,39 milhões de famílias receberam o vale-gás. Em junho, o benefício foi desembolsado a 5,68 milhões.

Outra sugestão estudada pelo governo é dobrar o ticket atualmente pago, mas mantendo os desembolsos a cada dois meses, ou seja, elevar o benefício para R$ 106. O governo tem o conhecimento de que o custo não é o suficiente, mas analisa que é um valor possível de ser pago dentro da responsabilidade fiscal defendida pelo governo.

Hoje, um valor de R$ 106 para o auxílio-gás seria insuficiente para custear o preço médio cobrado por um botijão em 24 dos 27 estados, segundo aponta a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O ticket estudado pelo governo só não fica abaixo da média no Rio de Janeiro (R$ 100,91), em Pernambuco (R$ 102,67) e na Bahia (R$ 105,60).

Já o auxílio para os caminhoneiros também é analisado sob diferentes propostas. Uma delas, porém, pode ter sido descartada: a de oferecer a quase 900 mil transportadores até o fim do ano um valor de R$ 400 por mês, como é o Auxílio Brasil, o programa social criado pelo governo em substituição ao Bolsa Família. O problema é que esse valor irritou os caminhoneiros e o governo tomou conhecimento das críticas.

O Palácio do Planalto passou então a cogitar um auxílio de R$ 1 mil, mas essa sugestão encontra maior resistência no governo e pode não sair do papel devido ao alto custo que a medida causaria aos cofres públicos. Por esse motivo, um novo valor que passou a ser considerado é o de R$ 600.

Você acha que as eleições para presidente em 2022 terão segundo turno?*
Sim. Apesar da polarização que se vê neste momento, nenhum candidato terá maioria dos votos em 2 de outubro
Não. A polarização estimulará o voto útil e teremos uma decisão ainda em 1º turno

Quanto podem custar os auxílios estudados e como operacionalizá-los
O governo propôs a Arthur Lira e Rodrigo Pacheco que a ampliação do vale-gás e a criação do auxílio-caminhoneiro seja embutido na PEC que compensa os estados que zerarem o ICMS sobre o gás e o óleo diesel. Porém, ainda há análises de custos e até jurídicas sobre como operacionalizar o pagamento dos benefícios.

O custo estimado das medidas pode girar em torno de R$ 6 bilhões, sendo R$ 2 bilhões para o aumento do auxílio-gás e R$ 4 bilhões para o auxílio aos caminhoneiros. Entretanto, o custo pode ser ainda maior, pois o valor estimado para os transportadores rodoviários de cargas se baseia no valor de R$ 400. No caso do benefício chegar a R$ 600 ou até mesmo a R$ 1 mil, as contas terão que ser revistas.

Por essas variações nas contas estimadas, Guedes tenta convencer Ciro Nogueira a fechar na proposta de R$ 400 aos caminhoneiros. O ministro da Economia não é fã da ideia de ampliar os subsídios e, consequentemente, as despesas públicas, mas entende a pressão política às vésperas das eleições. O objetivo dele é conter os danos.

A equipe econômica atua para fechar a “PEC dos bens essenciais” em algo em torno R$ 50 bilhões. Até o momento, a conta está em R$ 46,4 bilhões, informa o jornal O Estado de S. Paulo. Seriam R$ 29,6 bilhões para compensar os estados que zerarem as alíquotas do diesel e do gás de cozinha. Outros R$ 16,8 bilhões de desoneração seriam destinados para zerar tributos federais sobre a gasolina. Com os R$ 6 bilhões dos auxílios, fecharia em R$ 52,4 bilhões.

A depender da pressão política, porém, o custo pode ampliar. O próprio líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), disse ao Estadão que o auxílio aos caminhoneiros “tem que ser R$ 1 mil”. À Gazeta do Povo, o vice-presidente nacional do PL, Capitão Augusto (SP), pondera que o valor “mais viável” é o de R$ 400, mas pondera que o ticket ainda está em negociação.

“Ainda estamos negociando com a equipe econômica, mas estou muito confiante e otimista”, diz. Para ele, o momento exige medidas emergenciais e terá apoio, inclusive, de parlamentares de partidos da esquerda no Senado e na Câmara para a aprovação da PEC.

O deputado federal Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo e do partido na Câmara, não identifica dificuldades na discussão de ambos auxílios. “O auxílio-gás já foi aprovado antes, não temos dificuldade em rediscuti-lo. Já a questão dos caminhoneiros é algo legítimo”, defende.

O presidente do Senado adverte, porém, que a criação do auxílio caminhoneiro precisa ser avaliada não apenas pelo impacto fiscal, mas também de eventuais restrições previstas pela legislação eleitoral. “Todas as questões relativas à PEC, não só da sua essência como ela está considerada hoje, mas outro instituto que se queira incluir, tudo isso deve ser precedido por um estudo sobre a viabilidade, o impacto e as vedações eleitorais que se tem em razão do período eleitoral”, disse Pacheco nesta quarta-feira (22).

A fim de dar legalidade à criação do auxílio caminhoneiro e não infringir a legislação eleitoral, o governo estuda instituir um estado de emergência, informa a Folha de S. Paulo. O estado de emergência seria regulamentado dentro da própria PEC a fim de afastar todas as vedações ou restrições previstas.

Como foi a reação dos caminhoneiros ao auxílio à categoria
A proposta do governo para criar um auxílio aos caminhoneiros não empolgou a categoria. Mesmo a proposta de R$ 1 mil é rechaçada na categoria. A sugestão inicial, de R$ 400, então, gerou uma reação ainda pior, a ponto de mesmo alguns líderes que dialogam com a categoria temerem a retomada de pedidos por greve.

“Se o governo for adiante com essa história de auxílio, ainda mais a esse valor de R$ 400, vai desencadear greve, porque é falta de respeito. É melhor ficar quieto”, desabafa um líder com acesso ao Ministério da Infraestrutura. Mesmo a proposta de R$ 1 mil não mudou o ânimo na categoria, afirma o líder autônomo Aldacir Cadore, de Luziânia (GO), que administra um grupo no WhatsApp com a presença de outras lideranças do setor.

“Não muda o humor de ninguém. Caminhoneiro quer poder trabalhar e ter condições para trabalhar. Isso aí, essa compra de voto, não ganha mais ninguém”, critica. Cadore ironiza e comenta que o valor acenado pelo governo seria insuficiente até mesmo para ir a Brasília “agradecer” a Bolsonaro pelo benefício.

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Landim, o “Chorão”, líder da greve dos caminhoneiros em 2018, classificou o auxílio como “piada” e “esmola”. “R$ 400 é metade do preço de uma cesta básica, com essa esmola a gente coloca 50 litros de diesel no tanque, é uma vergonha”, declarou em nota.

O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros de Ourinhos (SP), Júnior Almeida, o “Júnior de Ourinhos”, diz que a categoria precisa de uma linha de crédito que seja, de fato, acessível, e não de um auxílio. Ele lembra que o governo criou em 2019 uma linha voltada para a categoria de R$ 500 milhões a um limite de financiamento de R$ 100 mil com uma taxa de juros de 3,3%.

O problema, afirma Júnior, é que poucos caminhoneiros tiveram acesso à linha. “Só o Cresol e o Sicredi [cooperativas de crédito] a operaram. Os grandes bancos não quiseram pois classificaram a categoria como maus pagadores e não quiseram correr o risco”, afirma.

Júnior de Ourinhos defende uma linha de crédito que possibilite um limite de financiamento de R$ 400 mil a juros de 1,5% ao mês e a implementação do documento de transporte eletrônico (DT-e), que permitiria a contratação direta entre o caminhoneiro e os embarcadores. “O DT-e cria lastro e contratação que assegura o pagamento aos bancos”, destaca.

O caminhoneiro autônomo Janderson Maçaneiro, o “Patrola”, líder em Itajaí (SC), diz que a categoria reagiu com “estranheza” ao auxílio, até porque não é a primeira vez que a proposta entra em pauta. A sugestão foi aventada e rejeitada pela categoria no ano passado.

Patrola cita que o movimento mensal da categoria gira em torno de R$ 25 mil a R$ 45 mil mensais. “Levando em consideração que nós movimentamos R$ 162 bilhões por ano, levando em consideração que temos como produto do nosso trabalho um valor agregado muito maior do que muita empresa e microempresa do país, com qualquer veículo custando entre R$ 600 mil e R$ 700 mil, fica bastante complicada essa proposta do governo”, diz.

O líder autônomo de Itajaí ressalta que, em várias ocasiões, a categoria deixou claro ao governo que a ideia de auxílio não seria o caminho a ser debatido. “Nós precisamos é da contratação direta, negociar o nosso próprio frete, ter condições de repassar nossos custos para o nosso trabalho. É disso que precisamos, de condições de trabalho, não de um auxílio”, destaca.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/governo-planeja-ampliar-vale-gas-criar-auxilio-caminhoneiro/
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PT QUE ESCONDER SUAS ATRAPALHADAS COM OS TERRORISTAS

 

Desgaste eleitoral

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

Rio de Janeiro – Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa do lançamento da campanha Se é público é para todos, organizada pelo Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas (Fernando Frazão/Agência Brasil)


Lula disse em Maceió que convenceu FHC a soltar sequestradores do empresário Abílio Diniz em 1998| Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Dois episódios históricos que causaram desgastes para o PT no passado, e que novamente podem impactar negativamente a campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto, voltaram à tona no debate público desde a semana passada.

Na sexta-feira (17), ele mesmo relembrou que, em 1998, intercedeu junto ao então presidente Fernando Henrique Cardoso a favor da soltura dos sequestradores do empresário Abílio Diniz, presos em 1989 – todos eram ligados a movimentos de guerrilha armada na América Latina.

Nesta quarta-feira (22), outro caso incômodo ressurgiu: Cesare Battisti, ex-ativista da esquerda radical italiana, condenado por atos terroristas, criticou, em entrevista à Folha de S.Paulo, o “cinismo político” de Lula, pelo fato de o ex-presidente ter pedido desculpas, no ano passado, por ter negado sua extradição para a Itália, em 2010.

Rapidamente, a declaração sobre o caso Abílio Diniz virou munição para o presidente Jair Bolsonaro e seus apoiadores acusarem Lula e o PT de proteger criminosos. Ideia reforçada com a lembrança sobre o abrigo dado a Battisti, só revertido em 2018, após a eleição de Bolsonaro.

Para ouvir o que o PT tem a dizer sobre essas críticas, a Gazeta do Povo entrou em contato com sua assessoria, procurou quadros históricos do partido, parlamentares próximos de Lula e membros da campanha. Nenhum deles, no entanto, se dispôs a falar publicamente sobre o assunto. Nos bastidores, muitos petistas consideram que, ao falar sobre o caso Abílio Diniz, Lula quis demonstrar capacidade de conciliação, mas que sua fala foi mal interpretada.

No discurso na última sexta, em Maceió, Lula falava sobre sua amizade com Renan Calheiros, que era ministro da Justiça em 1998, no governo FHC. Contou que teve uma longa conversa com ele sobre os sequestradores de Abílio Diniz que, presos, haviam entrado em greve de fome e depois em greve seca, “que é ficar sem comer e sem beber, e aí é morte certa”. Calheiros teria recomendado que ele falasse com Fernando Henrique.

“Eu falei: ‘Fernando, você tem a chance de passar para história como um democrata ou como um presidente que permitiu que dez jovens que cometeram um erro morram na cadeia, e isso não vai apagar nunca’”. Lula teria então convencido os sequestradores a acabar com a greve de fome, o que possibilitou que nove deles fossem extraditados para cumprir pena em seus países de origem, Argentina, Chile e Canadá. Apenas um, brasileiro, permaneceu no Brasil.

Recado para criminosos, disse Bolsonaro
Na segunda, Bolsonaro comentou: “Por que o Lula tocou nesse assunto? Ele deu um recado para todos os narcotraficantes e bandidos do Brasil que ‘estamos juntos’”.

Na Câmara e no Senado, onde deputados e senadores costumam subir à tribuna para comentar os temas mais quentes do noticiário e nas redes sociais, os parlamentares do PT silenciaram, mesmo diante das críticas de Bolsonaro e de seus aliados.

A deputada Bia Kicis (PL-DF) alertou, por exemplo, para o novo avanço da esquerda na América do Sul. Lembrou que, no domingo (19), após vencer a eleição presidencial da Colômbia, o ex-guerrilheiro Gustavo Petro defendeu a libertação de jovens presos. Ela ainda apontou a contradição de Lula quando, em 2010, ignorou a greve de fome de dissidentes cubanos presos sob o regime de Fidel Castro.

“O dissidente de Cuba morreu depois de fazer greve de fome, e o Lula pediu que ele continuasse preso. No caso dos bandidos criminosos que prenderam, sequestraram, torturaram um empresário, o Lula os via com bons olhos, como meninos”, afirmou, durante sessão do plenário, na segunda-feira (20).

Na terça-feira (21), Carlos Jordy (PL-RJ) disse que, por sua fala, Lula “se assume como cúmplice de um sequestro”. “Ele disse que foi o intermediador para a soltura daqueles criminosos hediondos que sequestraram Abilio Diniz.”


Sequestradores de Abílio Diniz foram presos com camisetas do PT

Lula não tocou mais no assunto desde sexta, apenas lembrou, no próprio discurso, que, em 1989, assim que foram presos, os sequestradores teriam sido obrigados a vestir camisetas com a logomarca do PT, para que o partido fosse relacionado ao caso.

O sequestro de Abílio Diniz ocorreu entre o primeiro e o segundo turno da eleição presidencial de 1989, na qual Lula foi derrotado por Fernando Collor de Mello. Na casa usada como cativeiro do empresário, a polícia encontrou material de campanha de Lula. Mas, desde então, o PT diz que as camisetas foram uma armação da polícia para prejudicar o petista na disputa.

Essa alegação passou a ser repetida em vários outros momentos da história recente, alimentando o discurso de que Lula sempre foi perseguido. Em 2018, por exemplo, quando ele passou a ser investigado na Lava Jato, o partido passou a dizer que, novamente, a mídia estaria em conluio com as autoridades para prejudicá-lo na disputa eleitoral.

Abílio Diniz foi sequestrado por guerrilheiros – quatro chilenos, três argentinos, dois canadenses e um brasileiro – ligados ao Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR), do Chile. Eles foram condenados a penas que variavam de 26 a 28 anos de prisão.

PT tenta apagar apoio dado a Cesare Battisti
Além de evitar comentar o caso Abílio Diniz, o PT também tem tentado apagar o apoio que deu para Cesare Battisti. Condenado na Itália pelo assassinato de quatro pessoas no final dos anos 1970, quando integrava o Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), ele fugiu para o Brasil no início dos anos 2000, após um tempo foragido no México e na França, onde corria risco de ser extraditado. Em 2007, foi preso no Rio de Janeiro e, depois, transferido para Brasília. Em 2009, o então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu a ele refúgio político.

Assim como vários intelectuais de esquerda na França, o PT endossava a defesa de Battisti de que seu processo na Justiça italiana foi viciado por irregularidades, de que era inocente e de que sofreria violações de direitos humanos se fosse extraditado para cumprir pena perpétua na Itália. Considerava-se um perseguido político pelo governo do então presidente Silvio Berlusconi. Lula passou a dizer que abrigar o terrorista era “questão de soberania nacional”.

Ainda em 2009, porém, o Supremo Tribunal Federal anulou o refúgio político concedido a Battisti, por entender que seus crimes eram comuns e não políticos. A Corte decidiu, porém, que o presidente da República poderia negar a extradição pedida pela Itália. No último dia de seu governo, em 31 de dezembro de 2010, Lula rejeitou a extradição.

Em junho de 2011, o STF soltou Battisti, que passou a viver em Embu das Artes, interior de São Paulo. Em 2018, o então presidente Michel Temer decidiu aceitar o pedido de extradição, que correspondia a uma intenção de Bolsonaro expressa durante a campanha eleitoral. Em dezembro, o ministro Luiz Fux autorizou a prisão, mas só em janeiro de 2019 Battisti foi encontrado na Bolívia, de onde foi enviado para a Itália, onde permanece preso.

Em março de 2019, ele confessou ter participados dos quatro homicídios. Em agosto de 2020, em entrevista à TV Democracia, canal de esquerda no YouTube, Lula admitiu o erro de ter negado sua extradição.

“O Tarso Genro acreditava que ele fosse inocente. Me disse o seguinte: ‘olha, não dá para a gente mandar ele embora porque ele pode ser detonado na Itália e é inocente. Toda a esquerda brasileira, companheiros como Eduardo Suplicy, muitos partidos de esquerda e personalidades de esquerda defendiam que ele ficasse aqui”, justificou.

“Quando ele foi preso e ele confessa, foi uma frustração para mim, porque ele comprometeu um governo que tinha relação extraordinária, ainda tenho, com toda a esquerda italiana, com toda a esquerda europeia. E ele não precisaria ter mentido, pelo menos para quem estava querendo acreditar nele. Porque a base da verdade na política é você não prejudicar os amigos. Você cometeu o crime, o advogado vai defender, mas você [confessa que] cometeu o crime. O que não dá é para mentir para os amigos”, afirmou depois.

Em abril de 2021, ele pediu desculpas na RAI, tevê pública italiana. “Desde o momento que ele confessou, é óbvio que devo admitir que errei”.

Nesta terça, veio à tona uma entrevista em que Battisti, ao comentar o pedido de desculpas, afirmou: “Todos sabemos que Lula é capaz de tudo para colocar de novo a faixa de presidente. O animal político que nunca se contradiz. Aconteceu também comigo de admirar seu cinismo político (no sentido vulgar do termo) e o extraordinário jogo de cintura”.

Procurados pela reportagem, lideranças e fundadores do PT não quiseram comentar a crítica.


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