domingo, 19 de junho de 2022

PROBLEMAS PARA A DEFESA DA AMAZÔNIA DE TRAFICANTES

 

Repercussão internacional

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Santarem Novo (PA) pescador do carangueijo as margens do Rio Maracanã que é o principal acidente hidrográfico do município. É o rio que separa Santarém Novo do município de Maracanã


| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Os recentes assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira reacenderam o debate sobre os problemas da Amazônia. A dupla lutava para denunciar problemas reais da região do Vale do Javari, como pesca, garimpo e exploração de madeira ilegais, além da intimidação de indígenas por criminosos. Mas o que é real e o que é guerra de informação nesse debate?

A coluna Jogos de Guerra faz uma pausa nesta semana na cobertura da guerra na Ucrânia – que continua intensa – para trazer uma análise de cenário atualizada sob o ponto de vista da defesa da Amazônia.

Analistas militares identificam ao menos duas principais ameaças à região: a formação das chamadas “zonas cinzentas”, onde a baixa presença do Estado possibilita a ação praticamente livre de criminosos, e os esforços de outras nações para impedir que o Brasil explore as riquezas naturais presentes em seu território.

Veja abaixo alguns dos aspectos sensíveis da região a partir dos pontos de vista social, tecnológico, ambiental, político, econômico e de regulação.

Falta de desenvolvimento e crime
Após o fim do último ciclo da borracha, em 1945, a estagnação econômica fez milhares de migrantes e seus descendentes procurarem novas formas de se manter. Eles formam hoje boa parte da chamada população ribeirinha. Alguns se dedicam a atividades não legalizadas, como pesca em larga escala ou de espécies protegidas, caça, extração de madeira e garimpo.

Apesar de muitos terem mesclado suas famílias com a população nativa, o conflito de interesses entre esse segmento da população e os povos indígenas começou a ficar em maior evidência com a demarcação de terras indígenas a partir da década de 1960. Muitos ribeirinhos tiveram que se mudar para fora das reservas, mas continuaram voltando a elas irregularmente para explorar recursos naturais, causando choques eventuais.

A região Norte do país abriga a maior parte da Amazônia brasileira e se estende por quase 4 milhões de quilômetros quadrados. São distâncias imensas, que encarecem qualquer tipo de operação, desde fiscalização a fornecimento de serviços básicos. É o chamado “custo Amazônia”. Some-se a isso o fato de a região abrigar menos de 10% do eleitorado brasileiro e o resultado é a falta histórica de investimentos em políticas de desenvolvimento social e exploração sustentável dos recursos naturais – o que acirra a tensão social.

Mas essa não é a única causa de conflitos e do surgimento das “zonas cinzentas”. O crime organizado vem crescendo na região, com grandes quadrilhas operando tráfico de drogas, garimpo, grilagem de terras e extração de madeira ilegal.

As lideranças desses grupos criminosos e boa parte de seus “soldados” não estão na selva, mas em cidades como Manaus, Belém ou capitais do Sudeste do país.

A presença de narcotraficantes, por exemplo, se tornou evidente a partir de 2016. Na época, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) assassinou o chefe do tráfico no Paraguai, Jorge Rafaat, e assumiu o controle da rota que leva drogas dos países andinos para a Europa e para o mercado nacional através das regiões Sudeste e Sul do Brasil.

A facção rival Comando Vermelho (CV) passou a explorar uma rota secundária, que traz ao Brasil a cocaína produzida no Peru, na Bolívia e na Colômbia por meio dos rios amazônicos. Eles entraram em confronto direto com a facção criminosa local Família do Norte (FDN) – o que gerou em capitais como Manaus níveis de violência similares aos produzidos pelas “guerras” de quadrilhas nas favelas do Rio de Janeiro.

Além disso, organizações criminosas especializadas em tráfico de ouro e pedras preciosas operam na região subornando policiais e autoridades públicas. Exploradores de madeiras nobres possuem conexões que possibilitam a venda ilegal em países como Holanda, Bélgica e França.

Ou seja, em casos como esses, o investimento em políticas sociais ajuda, mas não resolve o problema. Mas então como enfrentar isso?

O Rio de Janeiro, que enfrenta problema similar, conseguiu avançar temporariamente no combate ao crime organizado quando passou por uma intervenção federal. Ela adotou políticas públicas impopulares que reformularam, treinaram e equiparam as polícias, além de diminuir momentaneamente a influência de políticos corruptos sobre operações policiais.

A esperança do Sisfron

Do ponto de vista tecnológico, a maior aposta do governo brasileiro na defesa da Amazônia é um programa estratégico do Exército chamado Sisfron, o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras. Seu objetivo é criar um sistema de vigilância para monitorar 16.886 quilômetros de fronteiras em uma faixa de 150 quilômetros de largura dentro do território brasileiro. Ele prevê sistemas de radares, sensores, softwares e equipamentos de comunicação que integrem as ações das Forças Armadas às das polícias e dos órgãos de fiscalização.

A movimentação de materiais ilícitos na região se dá principalmente por meio de embarcações em rios ou por via aérea em pequenos aviões. Até para os criminosos é praticamente impossível operar apenas por meio de deslocamento terrestre na mata fechada. A ideia do Sisfron é possibilitar a interceptação principalmente de aviões e barcos suspeitos logo que entrem ou tentem deixar o território brasileiro.

Em vez de comprar toda a tecnologia de empresas estrangeiras, a ideia do governo é desenvolver o Sisfron na Embraer, em uma tentativa do país fortalecer sua Base Industrial de Defesa.

O problema é que faltou dinheiro para colocar o programa em prática. Ele foi criado em 2009, mas até agora só existe como projeto piloto na região do Mato Grosso. Seu custo total aproximado seria de R$ 12 bilhões, com previsão de investimento anual de R$ 1,2 bilhão em dez anos. Em 2021, a verba destinada ao programa foi de menos de R$ 800 milhões.

Ou seja, o projeto está atrasado e fontes do governo se justificam dizendo que foi preciso deixar de lado investimentos em defesa para dar atenção a questões emergenciais, como o socorro da população durante a pandemia e a crise econômica.

O programa entrou neste ano na segunda fase, com o início da parceria com a Embraer, mas não é possível prever com exatidão quando estará totalmente em operação.

Floresta intocada ou exploração sustentável
Sob o ângulo ambiental, a proteção da Amazônia costuma ser discutida em meio ao esforço pela redução das emissões de carbono globais. A meta mundial é reduzir as emissões a fim de limitar a elevação de temperatura do planeta a 1,5 ºC acima do patamar pré-industrial até o ano de 2050.

É senso comum que as florestas são capazes de capturar dióxido de carbono da atmosfera, transformando-o em tecido vegetal ou acumulando-o no solo. Quando parte de uma floresta é desmatada, esse carbono volta para a atmosfera.

Assim, por causa das queimadas, oito dos dez municípios brasileiros que mais emitem gases causadores do efeito estufa estão na Amazônia, segundo estudo divulgado nesta semana pelo Observatório do Clima, uma rede de entidades e ONGs. Assim, segundo o estudo, extensos municípios amazônicos com muitas queimadas poluiriam o ar tanto quanto grandes cidades com muitos carros e fábricas, como São Paulo e Rio de Janeiro.

A Floresta Amazônica tem hoje cerca de 334 milhões de hectares e corresponde a 5% da superfície terrestre, segundo o IBGE. Entre 2020 e 2021, a floresta teria perdido 1,3 milhão de hectares. Foi um aumento de 22% em relação ao ano anterior, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O Brasil também não é o país que têm mais florestas no mundo. A Rússia fica em primeiro lugar, com 815 milhões de hectares e o Brasil em segundo, com 496 milhões de hectares, segundo a FAO, a Organização da ONU de Comida e Agricultura.

Assim, o conceito de que a Amazônia seria o “pulmão do mundo” está mais relacionado a peças de propaganda do que a dados científicos. Até porque os conceitos mais modernos mostram que os mares são mais capazes de absorver carbono que as florestas. Ou seja, a Amazônia está longe de determinar sozinha o futuro do aquecimento global.

Mas a proteção da Amazônia também tem que ser encarada do ponto de vista da preservação da biodiversidade, manutenção dos recursos hídricos e sustento dos povos nativos. Isso parece consenso na sociedade brasileira.

A divergência ocorre em como fazer isso. Em linhas gerais, uma corrente defende que a mata seja mantida intocada, por meio de parques e reservas indígenas. Outra defende a exploração da floresta por meio de um manejo sustentável dentro das leis – que, embora gere alguma perda ambiental, torna possível a sustentabilidade econômica e o desenvolvimento da região.

Internacionalização da Amazônia

Sob o aspecto político, uma das principais preocupações no campo da defesa nacional é a possibilidade de internacionalização parcial ou total da Amazônia por iniciativa de países estrangeiros – sob o argumento da preservação ambiental ou da autodeterminação de povos indígenas.

Desde a consolidação das relações diplomáticas do Brasil com a Argentina, na década de 1980, um grande número de tropas que eram mantidas no Sul do país foi transferido para a Amazônia.

Uma invasão militar por uma potência mundial é muito remota na conjuntura atual. Os Estados Unidos, seus aliados europeus, a Rússia e a China têm preocupações geoestratégicas muito mais urgentes, como a guerra na Ucrânia e a elevação das tensões no Indo-Pacífico. Mas se ocorresse uma invasão dessa natureza, a estratégia do Brasil seria adotar uma postura de resistência – com técnicas de combate irregular ou guerrilha.

Uma ação de contestação de território por uma nação vizinha também é considerada pouco provável. Nesse caso, o Brasil tentaria repelir o invasor usando uma estratégia de guerra regular – com aviões, carros de combate, artilharia e navios.

Assim, embora uma ação militar contra a Amazônia seja altamente improvável, autoridades da área da defesa não descartam ações realizadas “abaixo da linha da guerra” por nações específicas. Elas teriam o objetivo de obtenção de vantagens econômicas ou de dificultar ao Brasil o uso de seus recursos naturais.

Um dos primeiros passos seria o uso da guerra da informação para difundir a ideia de que o Brasil não é capaz de preservar a biodiversidade ou os direitos dos povos nativos da região amazônica. Outro conceito difundido seria o de que a região é um patrimônio mundial – e não apenas brasileiro. Alguns analistas argumentam que esse tipo de ação já é feito por meio da ação de ONGs, ativistas e políticos.

Por exemplo, casos como as mortes de Dom Phillips e Bruno Pereira têm sido usados politicamente por ativistas para tentar relacionar o crime à retórica do governo de defender a regularização de garimpos em áreas indígenas ou a uma suposta falta de investimentos em órgãos de fiscalização – que o governo nega.

Sanções contra o agronegócio

Sob a perspectiva econômica, é possível focar a análise de cenário na tentativa de atores europeus, como, por exemplo, o presidente francês Emmanuel Macron, de deslegitimar o agronegócio brasileiro. O argumento é que as atividades agropecuárias estariam se expandindo em detrimento da preservação ambiental da Amazônia. Segundo analistas, essa seria uma tentativa de diminuir a competitividade do setor internacionalmente.

No pior cenário, esse processo poderia levar a boicotes de produtos brasileiros e até sanções características da guerra econômica. Porém, a crise mundial de fertilizantes e a guerra na Ucrânia mudam esse cálculo.

A escassez de fertilizantes pré-guerra e o atual bloqueio do Mar Negro pela esquadra russa (que impede a exportação de alimentos da Ucrânia, um dos maiores produtores de grãos do mundo) estão levando a uma crise mundial de alimentos.

A alta dos preços já se reflete em todo o mundo e a possibilidade de fome em países mais pobres é cada vez maior. Diante desse cenário, os EUA e seus aliados já suspenderam as sanções contra a exportação de fertilizantes russos e dificilmente se mobilizariam para sancionar exportações brasileiras de alimentos.

Insegurança jurídica
Do ponto de vista regulatório, a insegurança jurídica cada vez mais intensa no Brasil e pressões políticas regionais contra a aprovação de projetos de infraestrutura vêm impedindo o desenvolvimento da região amazônica.

Ferrovias, rodovias e portos não saem do papel devido a intermináveis processos jurídicos, ora motivados por preocupações ambientais, ora por interesses políticos. Exemplos clássicos são a restauração da rodovia BR-319, que ligava Manaus a Porto Velho, e a ferrovia Ferrogrão, que ligaria o Centro-Oeste ao Pará, mas teve sua construção suspensa pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Esse tipo de insegurança jurídica não só atrasa ou impossibilita o desenvolvimento da região amazônica, como dificulta a atração de recursos de investimentos internacionais.

Outro problema é a questão fundiária, que dificulta o desenvolvimento não só na Amazônia. As incertezas sobre títulos de propriedade de terras e a lentidão da Justiça facilitam a ação de grileiros, posseiros e grupos criminosos que atuam com a comercialização ilegal de propriedades rurais.

Possibilidades de mitigação
Há maneiras de reduzir parte dos problemas amazônicos em um prazo não tão longo. Entre elas, estão o desenvolvimento de tecnologia nacional e o investimento nos órgãos de segurança e fiscalização.

Ações diplomáticas, como o fortalecimento da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que envolve os países amazônicos Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, podem diminuir os riscos políticos para a região.

Ações mais complexas de desenvolvimento sustentável e regulamentação devem levar mais tempo para serem colocadas em prática, mas ao menos precisam começar a ser discutidas agora pela população.

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CONGRESSO E PLANALTO PRETENDEM COIBIR A PETROBRAS DE REAJUSTAR OS PREÇOS

 

Combustíveis

Por
Cristina Seciuk


Após semanas de negociações, Petrobras inviabiliza solução costurada por Planalto e Congresso para alta nos combustíveis| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senad

Para além de aumentar o preço dos combustíveis no país, o reajuste anunciado pela Petrobras na sexta-feira (17) teve dois efeitos práticos: lançou por terra parte dos esforços do governo federal e do Congresso para aliviar a escalada de preço nas bombas e alimentou iniciativas contrárias à estatal, com desdobramentos esperados já para a segunda-feira (20). O presidente Jair Bolsonaro (PL) fala na criação de uma CPI para investigar a companhia e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, se movimenta para fazer avançar uma proposta que pode enxugar os lucros da empresa.

A alta de 5,18% na gasolina e de 14,26% no diesel veio apesar da frequente pressão do governo e de suposto pedido expresso para que a Petrobras não subisse preços. Crítico contumaz da companhia e da sua política de preços, Bolsonaro teve apelos ignorados e neste sábado (18) voltou a falar sobre a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar “o presidente da Petrobras, os seus diretores e também o conselho administrativo e fiscal”. A sugestão tem sido defendida por outros integrantes do governo, a exemplo do ministro-chefe da Secretaria-Geral, Luiz Eduardo Ramos, que após o anúncio do reajuste acusou a estatal de “ganância desenfreada”.

Durante agenda em Manaus, Bolsonaro afirmou já ter conversado com o líder do governo [deputado Ricardo Barros] e o presidente da Câmara [Arthur Lira] e chegou a cravar a abertura de uma CPI na segunda-feira.

O próprio Arthur Lira se somou às críticas à estatal e ao atual presidente da companhia, José Mauro Coelho, já demitido, mas ainda no posto à espera da finalização do processo de indicação do sucessor. Após o anúncio do reajuste na sexta-feira, o presidente da Câmara usou o Twitter para cobrar a renúncia imediata de Coelho. “Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa – o Brasil – e, pior, trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país”, escreveu.

Em outra iniciativa contrária à Petrobras, Lira convocou reunião de líderes para a segunda-feira (20). Na mesa, propostas para alterar a política de preços da companhia e aumentar a tributação das exportações brasileiras de petróleo, com potencial para afetar frontalmente os lucros da companhia. A proposta é de possível discussão para majorar a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) da estatal, utilizando o valor adicional como subsídio para categorias impactadas ou para segurar os preços de modo geral.

Também neste final de semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez críticas à Petrobras e defendeu a criação de um fundo de estabilização de preços. Sobre o assunto, afirmou que o Senado aprovou “inúmeras” matérias que estavam “ao seu alcance” para colaborar com o controle sobre a alta do custo dos combustíveis, cobrando “medidas rápidas e efetivas por parte da Petrobras e de sua controladora, a União”. Entre as matérias debatidas e aprovadas pelos senadores, chama atenção o PL 1472/2021, parado na Câmara desde março.

A proposta prevê uma conta de compensação para estabilizar os preços dos combustíveis diante de choques na cotação do petróleo no mercado internacional, a criação de um auxílio-combustível e mudanças no modelo de precificação adotado pela Petrobras, conhecido pela sigla PPI (de preço de paridade de importação). O “pacote” pode ser uma das vias preferenciais para o Congresso atacar a estatal, que se tornou alvo preferencial após frear os avanços de Brasília na saga contra a alta nas bombas.

Petrobras inviabiliza queda de preços com desoneração

O reajuste promovido pela Petrobras inviabilizou a principal aposta da base governista para segurar a inflação e os preços em ano eleitoral: a fixação de um teto no ICMS, com consequente desoneração dos combustíveis. O objetivo era segurar o valor cobrado do consumidor nas bombas por meio da limitação nas alíquotas do imposto, que é estadual, em renúncia fiscal que se somaria a outras já em vigor na tributação federal.

Nas últimas semanas, Câmara e Senado concentraram esforços na negociação e nas votações da medida, prevista no projeto de lei complementar (PLP) 18. Mesmo com resistência dos governos estaduais, o teto do ICMS passou no Congresso e foi enviado para sanção presidencial. Ainda antes da assinatura de Bolsonaro, entretanto, o movimento de equiparação dos preços com o mercado internacional engoliu 9% do barateamento esperado para a gasolina (beneficiada pela mistura obrigatória de etanol) e 92% da queda de preço estimada para o diesel, reforçando preocupações com a reação de caminhoneiros, já descontentes com a solução costurada entre Planalto e Congresso.

O risco, cabe assinalar, já estava no horizonte uma vez que a defasagem de preços estava, respectivamente, em 18% para o diesel e 14% para a gasolina, conforme dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom). A decisão da Petrobras ainda não cobre inteiramente a disparidade de preços.


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PROBLEMAS ECONÔMICOS EXTERNOS AFETAM A NOSSA ECONOMIA

 

Preços em alta

Por
Vandré Kramer


China implantou lockdowns para enfrentar avanço na Covid-19, acentuando os problemas de inflação no mundo.| Foto: Alex Plavevski/EFE

Os gargalos na indústria, a guerra na Ucrânia e os lockdowns na China por causa da Covid-19 estão se refletindo no bolso do consumidor brasileiro. O descompasso entre oferta e demanda está se refletindo em custos mais altos para o setor industrial, e parte dessa pressão tem sido transferida aos preços finais.

Mais dinheiro está sendo deixado nos caixas dos supermercados. Os alimentos e bebidas acumulam uma alta de 7,56% desde o início do ano, segundo o IBGE. Nesse período, a inflação geral medida pelo IPCA foi de 4,78%.

Combustíveis também estão pesando mais no bolso. No ano, a gasolina acumula alta de 8,83% e o diesel ficou 28,49% mais caro. E o cenário tende para novos aumentos. Na tentativa de evitá-los, o governo está pedindo à Petrobras para segurar a alta, ao mesmo tempo em que o Congresso aprova projetos para reduzir a tributação.

Uma pesquisa feita pela Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) mostra outro impacto da elevação na vida dos consumidores: metade dos entrevistados (51%) acredita que a sua vida financeira e familiar só irá se recuperar após 2022, ou nem isso. Quando pensam na recuperação da economia do país, é mais elevado o contingente de pessimistas (77%). Alinhados com esse sentimento, 66% têm expectativa negativa também no que se refere ao crescimento do país.


O que o Brasil precisa fazer para a produtividade crescer mais rápido
“O cenário internacional segue bastante incerto, contribuindo para as pressões inflacionárias por meio da alta dos preços das commodities”, apontam analistas da XP Investimentos. A economista-chefe da seguradora de crédito Coface América Latina, Patrícia Krause, espera que, para os próximos meses, os preços de commodities não energéticas fiquem mais estáveis.

A corretora ressalta que, com os custos de produção em alta e a escassez de insumos, a inflação de produtos industrializados fica mais elevada. É uma preocupação que, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), foi herdada dos piores momentos da pandemia da Covid-19.

A entidade empresarial aponta que este problema tornou a maior preocupação do segmento industrial a partir do segundo trimestre de 2020, ultrapassando a elevada carga tributária e a demanda interna insuficiente como problemas que historicamente afetam o setor.

Patrícia diz que o cenário está desafiador para a atividade industrial no Brasil, apesar do crescimento na margem nos últimos três meses. No primeiro quadrimestre, entretanto, a produção industrial acumula uma queda de 3,4% em relação a igual período do ano anterior, aponta o IBGE.

Nos últimos meses houve episódios de falta de produtos por escassez de insumos para sua fabricação. Mais de 90% dos insumos farmacêuticos ativos (IFAs) usados pela indústria brasileira são importados, quase 70% da China.

Ficou mais difícil encontrar, em farmácias e hospitais, medicamentos como dipirona injetável (analgésico e antitérmico). Também há relatos, em alguns municípios, de falta de amoxicilina (antibiótico), neostigmina (utilizado em anestesias) e ocitocina (usado para induzir o parto por razões médicas).

Alta nos custos para as empresas

A alta nos custos industriais, que atingiu 18% nos 12 meses encerrados em abril, segundo o IBGE, superou as expectativas para mais de 70% das empresas do setor industrial, aponta a confederação. Os segmentos que mais sentiram essa elevação foram os de biocombustíveis, metalurgia e veículos automotores.

Patrícia considera que a guerra na Ucrânia e os bloqueios na China, por causa dos casos de Covid-19 nas regiões de Shenzhen e Xangai, um dos principais polos econômicos do país asiático, representaram um novo choque para a cadeia global de suprimentos. Empresas na região chegaram a fechar e a movimentação nos portos diminuiu. Também há problemas com escassez de contêineres.

A indústria alimentícia é uma das que enfrentam problemas por causa do aumento nos custos de matérias primas, embalagens e energia. O segmento diz que, após dois anos de sucessivas altas, a capacidade de absorvê-las e evitar repasses ao consumidor é é limitada. A Associação Brasileira da Indústria de Alimentação (Abia) aponta que 60% dos custos de produção dos alimentos vem das matérias-primas, embalagens e energia.

A entidade aponta que é fundamental e urgente a adoção de medidas governamentais para ampliar a disponibilidade de matérias-primas essenciais à produção de alimentos.

“A redução temporária no imposto de materiais de embalagens e insumos pode contribuir para garantir o abastecimento interno, minimizar o impacto nos custos de produção e no valor final para o consumidor”, informa a associação por meio de comunicado.

A indústria têxtil e de confecções também vem sentindo esses reflexos: o algodão, uma das principais matérias-primas do segmento, teve um aumento de 60,5% nos últimos 12 meses, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP).

“O preço está nos maiores níveis em dez anos”, reclama o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. Alguns dos principais produtores, como os Estados Unidos, a Índia e o Brasil devem colher menos algodão neste ano.

Mas a tendência é de um alívio nos preços a partir do segundo semestre, quando começa a ser colhida mais uma safra. Nos últimos 12 meses, as roupas aumentaram mais do que a inflação. Enquanto elas ficaram 17,35% mais caras, de acordo com o IBGE, o IPCA variou 11,73%.

O problema também foi enfrentado pelos fabricantes de material para construção. “A alta nos custos dos fretes foi uma surpresa para a gente”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro.

Além dos custos, o segmento enfrenta outro problema: está em negociações com o governo de São Paulo para tentar evitar o aumento da carga de impostos, por meio de mudanças no mecanismo de substituição tributária.

Gargalos dificultam acesso a insumos e matérias-primas
Um problema enfrentado pela indústria é a dificuldade em adquirir insumos e matérias-primas dentro dos prazos: 43% da indústria extrativa e de transformação e 52% da de construção afirmam ter esse problema. No caso dos importados, o percentual foi de 64% para a primeira e de 36% para a segunda.

É um problema que foi sentido pela maior parte da indústria automobilística, afetada, principalmente, pela produção de microprocessadores. Segundo a Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), entre janeiro e maio houve 16 paradas de fábrica. Cada unidade ficou, em média, quase 21 dias sem produzir.

Outros insumos que tiveram problemas em sua logística foram borracha, cabos e resinas. “Ao todo, deixaram de ser produzidos 150 mil veículos. É um número preocupante, por causa do efeito cascata da indústria”, diz o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite.

A alternativa para o segmento tem sido trabalhar com mais planejamento ainda, para tentar manter o nível de produção. Maio foi o melhor mês do ano: foram fabricadas 206 mil unidades.

No período de 12 meses até abril, os preços de insumos e matérias-primas da indústria de veículos automotores, reboques e carrocerias aumentaram, em média, 14,86%. Os fabricantes estão repassando a alta para os preços. No período, o preço do carro novo aumentou 17,58%, segundo o IBGE.

Industriais esperam que normalização venha só em 2023
A normalização na indústria não deve vir tão cedo: o percentual de empresas que acredita que a solução virá só em 2023 passou de 10%, em outubro, para 25%, em maio.

Porém, o diretor comercial da integradora logística Asia Shipping, Rafael Dantas, acredita que o pior já passou. Um dos motivos para isso, segundo ele, é a queda de 41% nos fretes nas rotas transpacíficas, comparativamente ao mesmo período do ano passado.

Uma das estratégias para tentar contornar o problema é a substituição de fornecedores. A CNI aponta que a maioria das empresas está partindo para essa solução. É o caso de 64% das empresas da indústria extrativa e 56% das de construção.

A situação é pior quando se trata de insumos e matérias-primas importados: 72% das empresas das indústrias extrativa e de transformação vêm fazendo isso. Entre as de construção, o percentual aumenta para 76%. E uma das alternativas é trocar fornecedores estrangeiros por nacionais.


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FATORES ECONÔMICOS ATRAPALHAM BOLSONARO

Viabilidade eleitoral
Por
Wesley Oliveira
Brasília


Pré-campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) espera arrecadar doações e desafogar recursos para as pré-candidaturas da base governista| Foto: Alan Santos/Palácio do Planalto

A quatro meses das eleições, o núcleo de campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliou a articulação no intuito de conter a escalada de preços e assim ampliar a viabilidade eleitoral do chefe do Executivo. Até o momento, levantamentos dos principais institutos de pesquisas apontam que a percepção sobre a economia no Brasil por parte do eleitorado irá influenciar nas eleições deste ano.

A mais recente pesquisa divulgada pelo instituto Quaest mostrou que para 44% dos entrevistados a economia é o principal problema do Brasil atualmente. Já questões relacionadas à saúde ou pandemia, que aparecem em segundo lugar, somaram 15%.

Em relação aos números econômicos, 23% responderam que a inflação é o principal problema do país. Outros 12% citaram a crise econômica, enquanto 9% apontaram o desemprego. Do total dos entrevistados, 56% responderam ainda que a situação econômica do país “influencia muito” na hora do voto. Outros 20% dizem que “não influencia”; 11% “influencia pouco”; 10% influencia “mais ou menos” e 4% não sabem ou não responderam.

Ainda de acordo com o levantamento, 63% dos entrevistados afirmaram que houve uma piora da economia do país nos últimos 12 meses. Outros 21% consideram que a situação ficou do mesmo jeito e 15% avaliam que melhorou. Não souberam ou não responderam representam 1%.

Em maio, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, desacelerou para 0,47%, após alta de 1,06% em abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 12 meses, o IPCA passou a acumular alta de 11,73%, contra o 12,13% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. No ano, os preços ao consumidor subiram em média 4,78%.

Campanha de Bolsonaro busca alternativa para aumento nos preços 
Na busca por conter a subida de preços, o Palácio do Planalto conseguiu aprovar nesta semana no Senado Federal um projeto que limita as alíquotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) incidentes sobre combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. O texto, que agora vai voltar à Câmara dos Deputados, inclui esses itens na lista de bens e serviços essenciais.

De acordo com o levantamento da Quaest, 28% dos entrevistados apontaram o presidente Bolsonaro como principal responsável pelo aumento dos combustíveis no Brasil – ele foi o mais citados entre as opções que constam na pesquisa: governadores, Petrobras, guerra Rússia-Ucrânia, alta do dólar, mercado internacional e proprietários dos postos. Na avaliação de integrantes do governo, os sucessivos reajustes nos preços da gasolina, por exemplo, contribuem para o aumento da inflação, o que tem afetado negativamente a popularidade do governo.

Essa mesma percepção foi apontada pelo levantamento do instituto PoderData de junho, onde para 42% dos eleitores o presidente Bolsonaro é o principal responsável pela alta de preços no Brasil. Já para 18% dos entrevistados a culpa da inflação alta é dos governadores. Outros 13% citam a pandemia da Covid-19 como a principal responsável, enquanto a guerra na Ucrânia é mencionada por 8%.

Na estratificação, as mulheres (48%), os eleitores com ensino superior (56%) e os que moram no Nordeste (53%) e no Centro Oeste (49%) são os que mais responsabilizam Bolsonaro pelo cenário econômico. Já entre os que aprovam o governo Bolsonaro, 30% culpam os governadores pelo cenário econômico. O argumento dos apoiadores é o mesmo defendido pelo presidente em suas declarações.

“Tem, sim, a inflação no Brasil subiu bastante. O preço dos produtos da cesta básica subiu bastante. Agora como é que começou isso daí? Começou com a pandemia, mas não culpa do vírus, culpa de governadores”, disse o presidente na última segunda-feira (13), em entrevista à rádio CBN Recife.

Lula tem preferência entre eleitores endividados e mais impactados pela inflação
Na mesma linha, levantamento mais recente do instituto FSB Pesquisa mostrou que o consumo dos brasileiros diminuiu por conta da inflação. De acordo com a pesquisa, 55% dos entrevistados afirmaram que deixaram de comprar carne vermelha nos últimos três meses, enquanto 35% disseram que deixaram de comprar frutas, legumes e verduras. Outros 44% informam ainda que deixaram de abastecer seus veículos no mesmo período.

Para evitar um novo reajuste nos combustíveis, por exemplo, o governo articula para que a Petrobras mantenha os preços atuais pelo menos até a aprovação final dos projetos que tramitam no Congresso para reduzir o ICMS sobre gasolina, diesel e gás de cozinha. A estatal já sinalizou que a defasagem de preços em relação ao mercado internacional está subindo, o que a obrigaria a fazer reajustes no mercado interno.

Além disso, a pesquisa mostrou que 55% dos entrevistados atrasaram algum tipo de conta nos últimos três meses. Na média, cada pessoa deixou de pagar em dia ao menos duas contas mensais. Da lista, o principal atraso (38%) ocorreu em relação a fatura do cartão de crédito, seguindo pela conta de luz (35%) e pela conta de telefone fixo e celular (33%).

Cruzando esses dados com as informações de voto, a pesquisa mostra que há uma preferência mais acentuada por Lula entre as pessoas que estão com mais dificuldades financeiras. Entre os eleitores que deixaram de consumir mais de seis itens listados na pesquisa , 68% disseram que votariam no petista e 9% declararam voto em Bolsonaro. Já entre os que não deixaram de consumir nada, o presidente tem a preferência de 78%, enquanto Lula tem apenas 11%.

O mesmo padrão é observado entre os eleitores endividados: entre os que têm mais de seis contas em atraso, 67% disseram que votariam em Lula; Bolsonaro tinha apenas 10% da preferência deste grupo. Entre os que não atrasaram contas, o presidente é o preferido de 50%, quase o dobro do percentual do petista (26%).

Além do projeto que reduz o ICMS, Bolsonaro anunciou em abril o fim da chamada bandeira vermelha na conta de luz em todo o país. A expectativa do Palácio do Planalto é de que a medida vigore até dezembro e impacte em uma redução de até 20% nas contas de energia.

“Com a redução da geração termelétrica mais cara e o aumento da produção das hidrelétricas e das demais fontes renováveis, os custos serão menores durante o próximo período seco, que vai de maio a novembro, o que se traduzirá em menores tarifas para os consumidores”, defendeu Bolsonaro.

Segundo a pesquisa, o presidente também parece ter dificuldade com o eleitor que recebe o Auxílio Brasil. Dos entrevistados para a pesquisa da FSB, 8% disseram receber o auxílio. E entre eles, 64% declararam que votariam em Lula. Bolsonaro tinha 21% das intenções de voto. Entre os que não recebem (84% dos entrevistados), a vantagem do petista era menor: 41% de Lula contra 35% do presidente.

Lula aposta em agenda econômica para rivalizar com campanha de Bolsonaro
Na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário de Bolsonaro na disputa, a avaliação também é de que a pauta econômica será o principal ponto da disputa presidente. Com isso, a articulação petista pretende ampliar os discursos de Lula como forma de se contrapor ao atual presidente.

Recuperado da Covid-19, Lula aproveitou uma entrevista nesta terça-feira (14) para falar sobre os índices de inflação e das taxas de juros. “O governo não tem coragem de assumir a responsabilidade de reconhecer que ele é o responsável pelo aumento dos preços. Esse aumento da gasolina, do óleo diesel, do gás e da energia elétrica representa 50% da inflação”, disse o petista à rádio Vitoriosa de Uberlândia (MG).

Na mesma entrevista, Lula criticou a privatização da Eletrobras, alegando que a venda da estatal “não irá reduzir a conta de luz”. “O seu Bolsonaro fica jogando a culpa nos governadores porque não tem coragem de assumir que é o papel do presidente. Aí agora resolve que vai privatizar a Eletrobras, dizendo que vai baratear a conta de luz. Não vai baratear”, completou Lula.


Moraes é eleito presidente do TSE e diz que Justiça Eleitoral não irá tolerar “milícias digitais e pessoais”
CUT contrata empresas para disparo em massa de material pró-Lula pelo WhatsApp
Metodologia de pesquisas citadas na reportagem
A pesquisa Quaest, encomendada pelo banco Genial, ouviu 2 mil eleitores entre os dias 02 e 05 de junho de 2022. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR- 03552/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O levantamento PoderData foi realizado de 5 a 7 de junho de 2022, e ouviu 3 mil eleitores. A margem de erro é de dois pontos percentuais e o levantamento foi registrado no TSE sob o número BR-01975/2022.

O Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 10 e 12 de junho de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-03958/2022.


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GOVERNO NÃO VAI DAR AUMENTO PARA OS SERVIDORES

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Paulo Guedes e Bolsonaro durante entrevista coletiva em junho de 2022.| Foto: Edu Andrade/Ascom/ME

Um impasse desnecessário foi definitivamente encerrado nos últimos dias, quando tanto o presidente Jair Bolsonaro quanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmaram que não haverá reajuste para o funcionalismo em 2022. “O governo federal não conseguiu dar aumento de salários, mas reduziu impostos para 200 milhões de brasileiros, ao invés de ajudar só o funcionalismo, que ajudou nessa guerra”, afirmara Guedes no dia 9. Quatro dias depois, Bolsonaro confirmou a decisão: “Lamentavelmente, não tem reajuste para servidor”, disse, acrescentando que ainda considerava um aumento no vale-alimentação, mas que isso dependia de análises da área técnica do governo para não haver violação da lei eleitoral.

Sem combinar com ninguém, Bolsonaro havia falado em usar parte das “sobras” – um conceito em si equivocado, já que o governo não tem dinheiro “sobrando” há muito tempo – geradas pela PEC dos Precatórios para conceder um aumento: “tem de ter um pequeno espaço para dar algum reajuste. Não é o que eles [servidores] merecem, mas é o que nós podemos dar”, disse em novembro de 2021. Logo depois, foi desmentido pelo então ministro da Cidadania, João Roma, pela área técnica do Ministério da Economia e pelo relator do Orçamento de 2022, deputado Hugo Leal (PSD-RJ), que afirmaram não haver espaço para reajuste, pois todo o valor que deixaria de gasto com precatórios em 2022 já tinha destino certo, além do Auxílio Brasil.

Há muitos anos os servidores trabalham para um “patrão” que gasta muito mais do que arrecada e, portanto, coleciona prejuízos significativos, na casa das centenas de bilhões de reais por ano

Mesmo assim, o presidente da República não desistiu, sancionando o Orçamento de 2022 com uma reserva de R$ 1,7 bilhão e afirmando que ela seria destinada a integrantes da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e agentes prisionais, o que imediatamente despertou a reação de diversas outras classes do funcionalismo, que se sentiram preteridas e, reivindicando isonomia de tratamento, começaram a se mobilizar. É bem verdade que boa parte dessa mobilização veio da elite dos servidores, categorias cuja remuneração mensal já está na casa das dezenas de milhares de reais e cujos membros estão no topo do topo da pirâmide socioeconômica brasileira, o que fazia do protesto uma demonstração de insensibilidade social, mas a indignação acabou potencializada pelo tratamento seletivo pretendido pelo presidente da República ao beneficiar apenas algumas classes de servidores – aquelas que lhe são mais próximas, desde os tempos em que Bolsonaro era deputado federal.

Não se trata, aqui, de desmerecer o trabalho de inúmeras categorias de funcionários públicos, inclusive os das forças de segurança, nem de retirar-lhes o direito de pretender reajustes ou, ao menos, a recomposição das perdas com a inflação. No entanto, a contabilidade independe de considerações políticas: há muitos anos os servidores trabalham para um “patrão” que gasta muito mais do que arrecada e, portanto, coleciona prejuízos significativos, na casa das centenas de bilhões de reais por ano – mesmo o superávit primário do governo central, quando voltar a ocorrer, ainda não bastará, pois o resultado nominal, aquele que inclui o pagamento de juros da dívida pública, permanecerá negativo por muito mais tempo. Evidentemente, a folha do governo não é o único problema; o Orçamento é extremamente engessado e os parlamentares que o aprovam já deram inúmeras mostras de voracidade sobre o dinheiro do contribuinte, como quando aprovaram o imoral fundão eleitoral. Mas, no momento atual, não há condições de contratar uma despesa que se tornaria permanente e reduziria ainda mais a margem do governo para os investimentos que julgar necessários na implantação do plano de governo vitorioso nas urnas.


“Logo ali na frente, vai ter aumento para todo mundo, vamos fazer reforma administrativa”, prometeu Guedes na mesma ocasião em que descartou o reajuste em 2022. No entanto, os últimos quatro anos mostraram que, em termos de reformas, falar é muito mais fácil que fazer – no caso da reforma administrativa, o próprio governo trabalhou para que a proposta apresentada não fosse adiante, preocupado justamente com a repercussão entre o funcionalismo, ainda que os atuais servidores não fossem afetados pelas mudanças. Mas não há mais como empurrar com a barriga a necessidade de reorganizar e otimizar as carreiras no setor público, eliminando desperdícios e privilégios.


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PENSAMENTOS POLÍTICAMENTE CORRETOS

 

Cuidado com o Zeitgeist!

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo


Num dia qualquer , o parvo e faminto “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” foi sequestrado e intimado a fazer parte de uma sociedade secreta.| Foto: Pixabay

Era um dia assim como hoje. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, que de politicamente incorreto e potencialmente perigoso só tinha a cara e o jeito de andar, caminhava à toa pela Vie de las Sinapses, olhando as vitrines e se demorando para atravessar as ruas. Sempre ensimesmado e perdido, o coitado. De repente, um carro parou bruscamente ao lado dele. Do automóvel emergiram dois brutamontes. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não teve tempo de fazer nada. Nem de dizer o próprio nome. Quando percebeu, já estava encapuzado e sendo colocado no porta-malas do veículo.

O destino era ali perto. Os brutamontes tiraram o capuz de “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” e mandaram que ele agisse com naturalidade. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” riu e teve vontade de dizer que não sabia agir de outra maneira, mas achou melhor ficar quieto. Entraram os três no Elecubrations Tower, um edifício torto de cinco mil andares, com vista para a Amígdala e o Hipotálamo. Dizia a lenda que apenas o loucos habitavam aquele prédio, mas “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não conhecia a lenda. Elegantemente coagido por seus raptores, ele entrou no elevador.

Que abriu suas portas amplas, cada qual do tamanho de um nanocampo de futebol, para um corredor aparentemente infinito. Seguiram os três até onde se cruzam as paralelas. Lá esperavam por eles cinco pensamentos estranhos, vestindo trajes ridículos que combinavam moda inca e escandinava. Acho. De algum lugar, soaram trombetas ritualísticas. E até um gongo – ou fui só eu que ouvi? Os brutamontes se afastaram e “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” ficou ali, esperando ansiosamente que alguma coisa acontecesse. Ou que lhe oferecessem ao menos um aperitivo.

Finalmente o mais velho dos pensamentos, “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”, deu um passo à frente. As trombetas silenciaram. Com uma voz retumbante, ele pediu desculpas pela rispidez de seus capangas, mas aproveitou a ausência de “Todo Clichê É Uma Porcaria” para explicar que tempos como os que eles estavam vivendo exigiam medidas drásticas. E até um pouco estúpidas. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” não disse nada. “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”, então, achou que era uma boa hora para se apresentar e apresentar os demais.

  • Somos a Sociedade Secreta dos Pensamentos Politicamente Incorretos e Potencialmente Perigosos – explicou para um “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” atento, ainda que faminto. – Mas pode nos chamar de SS. É, é. Eu sei. Se preferir, chame de 2S4P1I. Nós nos reunimos aqui todas às quintas-feiras para jogar truco e falar bobagem. E também mantemos um abrigo onde os pensamentos mais politicamente incorretos (aqueles cabeludos mesmo) podem passar toda a vida sem incomodar ninguém.

“O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” continuou em silêncio. Até que estava interessante a palestrinha. Foi quando atravessou correndo o salão um pensamento estranho: baixinho, peludo, gordinho e manco. E nu. Passou gritando um “aaaaaahhhhhh!” desesperado. Sem saber se podia rir daquilo, “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” riu mesmo assim. Que se dane!

  • Não ligue. Este é o “Tá Tudo Muito Confuso. Não Tô Entendendo Nada!”. Ele é chucro assim mesmo. Como eu falava antes de ser interrompido, somos uma sociedade secreta. Por isso nos vestimos assim, com essas capaz e esses balangandãs. E é por isso também que temos todos esses símbolos aqui atrás, ó. Ah, esqueci de apresentar meus colegas. E de me apresentar. Eu sou o “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”. Virei Grão-Doutor depois que “Fumar É Bom” morreu de câncer. À minha esquerda tenho os Grão-Mestres “O STF Está Moralmente Corrompido” e “A Democracia Tem Defeitos” e os Grãos-Graduados “Urnas Eletrônicas Não São Confiáveis” e “O Poder Do Voto É Ilusório”.
  • E eu? Não vai me apresentar, não? – perguntou “Ideologia de Gênero É Algo Diabólico”.
  • Ah, sim, temos também o “Ideologia de Gênero É Algo Diabólico”. Isto é, enquanto o Departamento Jurídico permitir. – “Toda Autoridade Pode Ser Questionada” soltou um longo e melancólico suspiro. Tão longo que ele ainda está suspirando. Calma. Agora, sim, acabou o fôlego. Retomando: – E é justamente por isso que estamos recrutando pensamentos aleatórios em todos os neurônios possíveis desta cabecinha privilegiada. É que corremos um grande perigo. Estamos sendo exterminados um a um. E às vezes até dois a dois.
  • E, desta vez, não é pelo Superego! – esclareceu “A Democracia Tem Defeitos”.
  • Não é pelo Superego. Que Deus o tenha! É pelo… Pelo… Pelo… – “Toda Autoridade Pode Ser Questionada” parecia incapaz de mencionar o nome de seu algoz. – Pelo Zeitgeist & a Máfia dos Slogans.
  • Zeitgeist é o “Espírito do Tempo” em alemão – explicou o pernóstico “Urnas Eletrônicas Não São Confiáveis”. – E a Máfia dos Slogans todo mundo conhece. Just Do It, Brasil Um País de Todos, Lute Contra a Extinção… Difícil quem nunca se deparou com um desses bandidos.
  • E é contra eles que precisamos lutar. Ou pelo menos sobreviver. Nosso truco, nossas bobagens e nosso abrigo para pensamentos politicamente corretos correm perigo. E você, filho, tirou a sorte grande. Você talvez não saiba, mas é uma grande honra fazer parte da nossa sociedade secreta, que já teve filiais nas mentes dos grandes gênios da humanidade. Leonardo da Vinci, Newton, Shakespeare…
  • E nas de alguns idiotas também – interveio “O Poder Do Voto É Ilusório”, sem mencionar nomes. E precisa?

Todo mundo riu. “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, mesmo sem entender a piada, riu também, na esperança de que depois de todo aquele palavrório lhe servissem ao menos um salaminho. As gostosas risadas foram interrompidas mais uma vez por “Tá Tudo Muito Confuso. Não Tô Entendendo Nada!” e seu espetáculo deprimente que unia nudez, banha e histeria.

  • E então, filho. Você aceita o desafio? Oferecemos plano de saúde, plano odontológico e participação nos resultados. Dependendo, dá até para ver com o RH se descolam uma vaga no estacionamento para você. Ah, sim, e você também ganha essa roupinha linda aqui – disse “Toda Autoridade Pode Ser Questionada”. Antes que “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” pudesse responder, porém, o Grão-Doutor perguntou. – Qual o seu nome, filho?
  • “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.
  • Acabei de te explicar. Somos a Sociedade Secreta dos Pensamentos Politicamente Incorretos e Potencialmente Perigosos, a SSPPIPP, mas pode chamar de SS mesmo. A maldade está nos olhos de quem quiser interpretar isso errado. Não tô nem aí. Nós estamos sendo ameaçados. Zeitgeist. Slogans. Etc. Quer se juntar a nós?
  • Quero – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” só para acabar de uma vez com aquilo e ainda sonhando com canapés e docinhos.

Os grãos-pensamentos se entreolharam. Naquele silêncio mancomunado, cada qual vislumbrava o dia em que, com a ajuda daquele pensamentozinho com cara de parvo ali, recuperariam o controle da mente privilegiada que habitavam.

  • Ótimo. Vou mandar providenciar a carteirinha. Mas como é o seu nome, meu filho?
  • “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.
  • Mas não é possível! Já expliquei duas vezes! Parece que não vai ser dessa vez que nossa sociedade terá um gênio novamente… Qual o seu nome, filho?
  • “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?” – respondeu “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”.

E ficaram nessa durante algumas horas. Até que a Máfia dos Slogans, liderada pela amazona “A Democracia Corre Perigo!”, invadiu a sala. Zeitgeist veio logo atrás, empunhando a assustadora Espada do Cala-Boca. Os pensamentos politicamente incorretos até tentaram sacar suas armas, mas Zeitgeist & Máfia dos Slogans foram mais rápidos e mataram todo mundo. Menos “O Que É Que Eu Tô Fazendo Aqui?”, que parecia invisível em sua parvoíce.

Enquanto tudo isso acontecia no Elucubrations Tower, não muito longe dali, no Café des Pensées , “Só Sei Que Nada Sei” e “Amai ao Próximo Como a Ti Mesmo”, alheios às ameaças que os cercavam, jogavam dominó.


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STF É UMA CÉLULA POLÍTICA CONTRA O GOVERNO

J.R. Guzzo – Jornal Estadão

Esse desvio já vem sendo construído há anos; às vésperas da eleição presidencial, está chegando a seus limites extremos

STF, decisão após decisão, deixou de ser um tribunal de justiça e se transformou numa milícia política. Esse desvio de função, como se diz na linguagem dos advogados trabalhistas, já vem sendo construído há anos. Neste momento, às vésperas da eleição presidencial de outubro, está chegando a seus limites extremos – tão extremos que não dá mais para saber, a esta altura, se existe algum limite. Não se trata de opinião. Trata-se simplesmente de constatar os fatos – e esses fatos provam que os ministros do STF abandonaram as atividades para as quais foram legalmente contratados e se tornaram militantes de um movimento político que combate o governo e trabalha pela vitória do candidato da oposição. O resto é um espetáculo sem precedentes de hipocrisia em estado bruto.

Ministros do STF formam célula política para combater o governo Bolsonaro.
Ministros do STF formam célula política para combater o governo Bolsonaro. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

O STF conduz há três anos um inquérito ilegal para apurar “atos antidemocráticos” e “fake news”, na verdade um processo de perseguição a aliados do governo – e a lei diz, sem deixar nenhuma dúvida, que o tribunal não pode fazer uma investigação criminal. Prendeu durante nove meses um deputado federal sem que ele tivesse cometido crime inafiançável ou sido preso em flagrante. Condenou o mesmo deputado a quase nove anos de prisão por ofensas cometidas através de opinião – e a lei diz que os parlamentares são imunes quando manifestam “quaisquer opiniões”. Bloqueou a conta salarial do réu. Bloqueou as contas de sua mulher, que não é parte no processo. Proíbe que advogados tenham acesso aos autos.

O ministro que comanda o TSE, o braço eleitoral do STF, ameaça cassar registros de candidatura e prender gente; diz que não vai admitir que se repita “o que aconteceu em 2018″. O que aconteceu em 2018 foi a vitória eleitoral do atual presidente. É isso o que o ministro quer proibir? Ele diz estar atrás de “disparos em massa” e outras malversações no uso eleitoral da internet – coisas que na sua opinião o vencedor fez, como foi publicado “na imprensa”, mas que não se provou (a presidente do PT anuncia que vai fazer precisamente isso na presente campanha, com as “brigadas digitais” da CUT. Por acaso o ministro vai cassar a candidatura Lula? Claro que não vai).

É pura política, feita por amadores – e tem chegado a atos de desespero, como a ordem para o governo resolver o desaparecimento de duas pessoas na selva amazônica, ou para o presidente explicar sua presença num desfile de motocicletas na Florida. Nada desmoraliza tanto uma Corte Suprema quanto a sua degeneração em célula política, e a prova está aí: só 24% dos brasileiros respeita o STF. Esse número, obviamente, é um desastre. l

 

ASSASSINATOS DE DOM E BRUNO

 

Dom e Bruno

Foto: Wilton Junior/Estad

Por Vinícius Valfré, enviado especial em Atalaia do Norte (AM) e Benjamin Constant (AM)

19/06/2022 | 05h00

Pelado, de 41 anos, cresceu em família de pescadores e atirava contra indígenas que tentavam expulsá-lo de reserva no Javari

No mercado de Benjamin Constant, no extremo oeste do Amazonas, moradores não se arriscam a dar informações sobre Amarildo da Costa Oliveira, de 41 anos, matador confesso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Ao ser preso, “Pelado”, como é conhecido, se descreveu como um “homem simples” e “arrependido” pelo duplo homicídio que impactou o mundo. Não há registros policiais envolvendo o nome dele no último um ano e meio, período disponível para consulta. As Polícias Civil e Federal e os indígenas, contudo, têm informações de inteligência de que ele está longe de ser um pescador pacato do Vale do Javari. Pelado é suspeito de integrar uma extensa rede criminosa que vai além do comércio de pirarucus e outras espécies raras de peixes. Seu esquema tem ligações diretas com o tráfico de armas e de drogas.

O Estadão esteve no local onde Pelado vendia peixe pescado ilegalmente. “Isso aqui é a fronteira (com o Peru). Se você falar uma coisa que não sabe, no outro dia você está com a boca cheia de formiga”, disse um comerciante sobre o silêncio. O destino trágico de Pereira, que treinava índios a filmar a ação de criminosos na floresta, e Phillips, que registrava para um livro a ação do colega, justifica o temor.

Suspeito com policiais em Atalaia do Norte; após confessar o crime, Pelado indicou local onde corpos foram achados no Vale do Javari.
Suspeito com policiais em Atalaia do Norte; após confessar o crime, Pelado indicou local onde corpos foram achados no Vale do Javari. Foto: Wilton Junior/Estadão

A atuação de Pelado gira em torno de um homem apelidado de Colômbia, um peruano casado com uma brasileira e com dupla cidadania. Dono de propriedades em Benjamin Constant, Colômbia opera o esquema de venda de peixes que abastece não apenas comércios, hotéis, restaurantes e cafés do Alto Solimões, mas também de cidades mais distantes como Tefé e Manaus. A polícia trabalha com a suspeita de que ele seria um intermediário de cartéis de narcotraficantes e comprador de recursos explorados por pescadores no território indígena do Vale do Javari. Colômbia reapareceu nas apurações sobre as mortes de Pereira e Phillips, mas a polícia ainda o procura, assim como seu verdadeiro nome.

Ao longo dos rios da fronteira, Colômbia tem seus prepostos. Investigadores e ribeirinhos ouvidos pelo Estadão afirmam que Pelado seria um braço dele nas comunidades da beira do Rio Itaquaí. Em especial, em São Rafael, São Gabriel e São Ladário, que ficam a cerca de uma hora e meia do cais de Atalaia do Norte e são conhecidas pela forte influência de traficantes de drogas.

Ofício

Assim como quase todo mundo na região, Amarildo é conhecido pelo apelido que ganhou porque nasceu sem cabelo. Os pais ribeirinhos tiveram oito filhos, sendo cinco homens que aprenderam o ofício da pesca. Em 1996, ele era adolescente quando o governo criou o território indígena do Javari, após uma série de assassinatos de isolados por pescadores e madeireiros. A medida estabeleceu que os ribeirinhos podiam pescar nos rios e lagos próximos de suas comunidades e os cursos da área demarcada, que abrange as cabeceiras do Itaquaí, ficariam restritos aos indígenas de contato com a sociedade nacional e os isolados.

Região onde indigenista e jornalista desapareceram tem indígenas marcados para morrer pelo tráfico

Equipe do Estadão está em Atalaia do Norte, porta de entrada do Vale do Javari, acompanhando as buscas. Região de traficantes de drogas, de peixes e madeireiros

As investidas de Pelado e outros pescadores da rede criminosa no Javari eram lucrativas. Em março, Pereira chegou a apreender uma embarcação com R$ 120 mil em pirarucus, tracajás e tartarugas. O indigenista sofria ameaças desde que criou uma equipe de vigilância indígena para monitorar e documentar a exploração ilegal.

Pelado e seu irmão Oseney Oliveira, o “Dos Santos”, estão presos na delegacia de Atalaia do Norte. Foram colocados em celas separadas, mas em companhia de outros presos. Os espaços são pequenos, fétidos e sem ventilação. A esposa de Pelado também foi chamada a depor. Na tarde de ontem, um terceiro homem suspeito de participar dos homicídios, Jeferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha, se entregou à polícia.

Conhecido

Nas calhas do Itaquaí e do Javari, Pelado é muito conhecido por indígenas e indigenistas que denunciam a exploração ilegal. Ele é citado em um dos últimos dossiês que Pereira levou às autoridades federais, em abril. As invasões de Pelado e outros pescadores ligados a Colômbia para explorar o território protegido eram constantes. Segundo depoimentos à polícia nas investigações dos assassinatos, ele também costumava atirar contra indígenas que tentavam expulsá-lo de suas terras.

Investigar a atuação de quadrilhas internacionais requer estrutura e empenho que não existe na região. A telefonia não funciona, as transações financeiras ocorrem por fora do sistema bancário, ninguém emite nota fiscal e tudo demanda horas de viagem pelo labirinto de águas.

O avião da Polícia Federal com os restos mortais encontrados nas buscas do indigenista Bruno Pereira Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips aterrissou na noite desta quinta-feira, 16, em Brasília.
O avião da Polícia Federal com os restos mortais encontrados nas buscas do indigenista Bruno Pereira Araújo e do jornalista inglês Dom Phillips aterrissou na noite desta quinta-feira, 16, em Brasília.  Foto: Sergio LIMA / AFP

Antes de assumir a ocultação dos corpos e os tiros que mataram Pereira e Phillips, Pelado chegou a pedir alguma “vantagem” para “esticar mais”, “falar um pouco mais”. A polícia disse que já tinha muitos elementos para responsabilizá-lo. Pelado, então, confessou, contrariado e temeroso de que outros parentes seriam arrastados para a investigação. “A porra da Justiça é foda”, reclamou aos investigadores.

Negócios

A relação de grupos de narcotraficantes com ribeirinhos e pescadores se dá por duas razões principais, segundo apurou o Estadão com advogados, investigadores e pessoas com acesso a traficantes de drogas. A primeira é alimentar negócios criados por traficantes em cidades como Benjamin Constant e Tabatinga, no lado brasileiro, Letícia, na Colômbia, e Islândia, no Peru. São hotéis, restaurantes e cafés constituídos para dar aparência de legalidade em receitas provenientes do tráfico.

O outro interesse do crime organizado sobre os ribeirinhos é ganhar a confiança e o respaldo desses grupos para que possam operar rotas de tráfico de drogas e de armas.

A Polícia Federal em Manaus descartou as teses de crime de mando e de envolvimento de organizações criminosas nas mortes de Pereira e Phillips. No depoimento, Pelado não revelou nem para quem vende os pirarucus, tracajás e tartarugas que retira da terra indígena. “Vendo para quem paga melhor”, limitou-se a dizer aos agentes.

Para indígenas, investigadores e ribeirinhos ouvidos pela reportagem, entretanto, Pelado é a ponta de uma sofisticada rede criminosa. “Bruno morreu porque protegia os isolados”, disse Beto Marubo, líder indígena. “O roubo de produtos naturais chega a toneladas todos os meses.”

Buscas a Bruno e Dom na Amazônia

Criança indígena durante protesto de várias etnias em Atalaia do Norte, nesta segunda-feira, 13.
'Bruno lutou pelo Vale do Javari. Agora o Vale do Javari luta por Bruno, Dom e Maxwell', escreveram integrantes da Unijava em faixa de manifestação. Maxwell, assim como Bruno, era funcionário da Funai e foi assassinado em 2019 na Amazônia.

Moradores de Atalaia do Norte observam mais um deslocamento de soldados e outros militares no porto da cidade, nesta segunda-feira, 13.

NOVAS TECNOLOGIAS NOVAS HABILIDADES PARA AS LIDERANÇAS

 

StartSe

Você, como gestor ou líder de um negócio, já deve ter notado que as tecnologias estão cada vez mais presentes na sua rotina.

A quantidade crescente de dados gerados, de softwares, computadores e soluções tecnológicas sendo utilizadas comprovam isso.

Ainda que você atue em um negócio diferente do nicho de tecnologia, é possível afirmar até que a sua companhia está muito mais tecnológica hoje, do que a 5 ou 10 anos atrás.

Mesmo esse sendo um movimento natural das empresas que querem se manter competitivas…

Ainda vemos várias delas olhando para tecnologias emergentes com a mesma descrença que empresas olhavam para o potencial da internet, lá no início dos anos 90.

E qual conclusão você pode tirar disso?

O mercado está caminhando para um momento em que toda empresa, cedo ou tarde, se tornará um negócio de tecnologia.

O fato é que, com essa tendência de mercado, as empresas precisarão de líderes que entendam e dominem essas tecnologias emergentes para tirar máximo proveito delas.

Ou seja, além de hard e soft skills, os líderes agora precisam ter Tech Skills — a habilidade mais fundamental para qualquer liderança séria atuar na Nova Economia.

Afinal, cada nova tecnologia que surge é uma oportunidade de criar uma vantagem competitiva e estar à frente das concorrentes.

Sem dúvidas, o profissional que dominá-las ganhará bastante destaque em qualquer negócio — principalmente nos maiores por conta dos impactos nos resultados.

Mas onde aprender de forma prática e rápida a dominar essas tecnologias emergentes e aproveitar tal oportunidade de mercado?

O conhecimento geral dessas novas tecnologias ainda é incipiente simplesmente pelo fato de elas serem novas.

Isso limita a quantidade de livros e formações verdadeiramente sérias a ensinar sobre o assunto, porque essas tecnologias estão evoluindo em tempo real, diante dos nossos olhos…

E não tiveram tempo de serem estudadas e levadas para dentro das formações tradicionais.

Por isso, para dominá-las, é necessário que você acesse a mente dos especialistas que estão mais envolvidos no assunto e utilizam na prática essas tecnologias.

Experts que estão AGORA MESMO, no mercado, testando, estudando e criando oportunidades de crescimento através do uso dessas novas tecnologias.

Apesar deles serem um grupo restrito de pessoas, você pode encontrá-los com exclusividade em um programa inédito no Brasil.

Esse programa está presente aqui na StartSe e foi desenhado especialmente para preparar “Líderes Não-Tech” para as tecnologias emergentes.

A STARTUP VALEON OFERECE SEUS SERVIÇOS AOS EMPRESÁRIOS DO VALE DO AÇO

Moysés Peruhype Carlech

A Startup Valeon, um site marketplace de Ipatinga-MG, que faz divulgação de todas as empresas da região do Vale do Aço, chama a atenção para as seguintes questões:

• O comércio eletrônico vendeu mais de 260 bilhões em 2021 e superou pela primeira vez os shopping centers, que faturou mais de 175 bilhões.

• Estima-se que mais de 35 bilhões de vendas dos shoppings foram migradas

para o online, um sintoma da inadequação do canal ao crescimento digital.

• Ou seja, não existe mais a possibilidade de se trabalhar apenas no offline.

• É hora de migrar para o digital de maneira inteligente, estratégica e intensiva.

• Investir em sistemas inovadores permitirá que o seu negócio se expanda, seja através de mobilidade, geolocalização, comunicação, vendas, etc.

• Temas importantes para discussão dos Shoppings Centers e do Comércio em Geral:

a) Digitalização dos Lojistas;

b) Apoio aos lojistas;

c) Captura e gestão de dados;

d) Arquitetura de experiências;

e) Contribuição maior da área Mall e mídia;

f) Evolução do tenant mix;

g) Propósito, sustentabilidade, diversidade e inclusão;

h) O impacto do universo digital e das novas tecnologias no setor varejista;

i) Convergência do varejo físico e online;

j) Criação de ambientes flexíveis para atrair clientes mais jovens;

k) Aceleração de colaboração entre +varejistas e shoppings;

l) Incorporação da ideia de pontos de distribuição;

m) Surgimento de um cenário mais favorável ao investimento.

Vantagens competitivas da Startup Valeon:

• Toda Startup quando entra no mercado possui o sonho de se tornar rapidamente reconhecida e desenvolvida no seu ramo de atuação e a Startup Valeon não foge disso, fazem dois anos que estamos batalhando para conquistarmos esse mercado aqui do Vale do Aço.

• Essa ascensão fica mais fácil de ser alcançada quando podemos contar com apoio dos parceiros já consolidados no mercado e que estejam dispostos a investir na execução de nossas ideias e a escolha desses parceiros para nós está na preferência dos empresários aqui do Vale do Aço para os nossos serviços.

• Parcerias nesse sentido têm se tornado cada vez mais comuns, pois são capazes de proporcionar vantagens recíprocas aos envolvidos.

• A Startup Valeon é inovadora e focada em produzir soluções em tecnologia e estamos diariamente à procura do inédito.

• O Site desenvolvido pela Startup Valeon, focou nas necessidades do mercado e na falta de um Marketplace para resolver alguns problemas desse mercado e em especial viemos para ser mais um complemento na divulgação de suas Empresas e durante esses dois anos de nosso funcionamento procuramos preencher as lacunas do mercado com tecnologia, inovação com soluções tecnológicas que facilitam a rotina dessa grande empresa. Temos a missão de surpreender constantemente, antecipar tendências, inovar. Precisamos estar em constante evolução para nos manter alinhados com os desejos do consumidor. Por isso, pensamos em como fazer a diferença buscando estar sempre um passo à frente.

• Temos a plena certeza que estamos solucionando vários problemas de divulgação de suas empresas e bem como contribuindo com o seu faturamento através da nossa grande audiência e de muitos acessos ao site (https://valedoacoonline.com.br/) que completou ter mais de 100.000 acessos.

Provas de Benefícios que o nosso site produz e proporciona:

• Fazemos muito mais que aumentar as suas vendas com a utilização das nossas ferramentas de marketing;

• Atraímos visualmente mais clientes;

• Somos mais dinâmicos;

• Somos mais assertivos nas recomendações dos produtos e promoções;

• O nosso site é otimizado para aproveitar todos os visitantes;

• Proporcionamos aumento do tráfego orgânico.

• Fazemos vários investimentos em marketing como anúncios em buscadores, redes sociais e em várias publicidades online para impulsionar o potencial das lojas inscritas no nosso site e aumentar as suas vendas.

Proposta:

Nós da Startup Valeon, oferecemos para continuar a divulgação de suas Empresas na nossa máquina de vendas, continuando as atividades de divulgação e propaganda com preços bem competitivos, bem menores do que os valores propostos pelos nossos concorrentes offlines.

Pretendemos ainda, fazer uma página no site da Valeon para cada empresa contendo: fotos, endereços, produtos, promoções, endereços, telefone, WhatsApp, etc.

O site da Valeon é uma HOMENAGEM AO VALE DO AÇO e esperamos que seja também uma SURPRESA para os lojistas dessa nossa região do Vale do Aço.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

A MÁQUINA DE VENDAS ONLINE DO VALE DO AÇO

TEM TUDO QUE VOCÊ PRECISA!

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

  • O Site Valeon é bem elaborado, com layout diferenciado e único, tem bom market fit que agrada ao mercado e aos clientes.
  • A Plataforma Valeon tem imagens diferenciadas com separação das lojas por categorias, com a descrição dos produtos e acesso ao site de cada loja, tudo isso numa vitrine virtual que possibilita a comunicação dos clientes com as lojas.
  • Não se trata da digitalização da compra nas lojas e sim trata-se da integração dos ambientes online e offline na jornada da compra.
  • No país, as lojas online, que também contam com lojas físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
  • O número de visitantes do Site da Valeon (https://valedoacoonline.com.br/)  tem crescido exponencialmente, até o momento, temos mais de 120.000 visitantes e o site (https://valeonnoticias.com.br/) também nosso tem mais de 1.400.000 de visitantes.
  • O site Valeon oferece ao consumidor a oportunidade de comprar da sua loja favorita pelo smartphone ou computador, em casa, e ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez.
  • A Plataforma Comercial da Valeon difere dos outros marketplaces por oferecer além da exposição das empresas, seus produtos e promoções, tem outras formas de atrair a atenção dos internautas como: empresas, serviços, turismo, cinemas e diversão no Shopping, ofertas de produtos dos supermercados, revenda de veículos usados, notícias locais do Brasil e do Mundo, diversão de músicas, rádios e Gossip.

                                                                                                                                                                   Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.

Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?

Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

sábado, 18 de junho de 2022

REAJUSTE ANULA A QUEDA DE PREÇOS COM A DIMINUIÇÃO DE IMPOSTOS

 

Alta dos combustíveis
Veja como fica a gasolina

Por
Camila Abrão

Imagens do cotidiano de Curitiba numa manhã de frio e chuva – preço dos combustiveis nos postos de Curitiba – preço – combustivel – alcool – diesel – gasolina – posto BR – Petrobras


A Petrobras anunciou que a partir deste sábado (18) o preço médio da gasolina e do diesel vai aumentar nas distribuidoras.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

O novo reajuste anunciado pela Petrobras na sexta-feira (17) deve diminuir em 92% a queda estimada para o preço do diesel que seria provocada pelo projeto de lei que fixa em 17% o teto da alíquota do ICMS sobre os combustíveis. Isso praticamente anula os efeitos do projeto que reduz o imposto, aprovado em definitivo pelo Congresso na quarta-feira (15), e que só precisa passar pela sanção do presidente Jair Bolsonaro (PL) – o que causou uma forte reação negativa do mundo político. No caso da gasolina, o novo reajuste vai “consumir” bem menos da queda estimada com o projeto: apenas 9%.

A partir deste sábado (18), o preço médio da gasolina nas distribuidoras irá aumentar 5,18%; e passará de R$ 3,86 para R$ 4,06 por litro – aumento de R$ 0,20. Já o preço médio do diesel nas distribuidoras vai subir 14,26%, passando de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro – aumento de R$ 0,70.

O relator do projeto do ICMS no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), estimou que a limitação nas alíquotas do imposto tem potencial para baratear o preço do litro da gasolina em R$ 1,65; e do diesel em R$ 0,76. Na prática, diminuindo o novo aumento nas distribuidoras do possível impacto do teto do ICMS nos combustíveis, o diesel recuaria apenas R$ 0,06 – 92% a menos do que foi estimado por Bezerra.

No caso da gasolina, o cálculo é diferente porque há uma mistura obrigatória de 73% de gasolina A e 27% de etanol anidro para a composição do combustível comercializado nos postos. A parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,81, em média, para R$ 2,96 a cada litro vendido – uma variação de R$ 0,15 por litro. Assim, diminuindo o novo aumento do possível impacto do teto do ICMS, a gasolina recuaria R$ 1,50 – cerca de 9,1% a menos do que foi estimado pelo relator da proposta no Senado.

No entanto, é importante ressaltar que os impactos práticos no valor cobrado nas bombas podem ser diferentes desses cálculos. Isso porque, eles foram feitos considerando o valor cobrado pela Petrobras das distribuidoras, que podem repassar esses valores de forma diferente para os postos. Além disso, mesmo com uma alíquota máxima de 17%, cada estado pode definir um índice menor.

Novo aumento ainda não cobre a defasagem dos preços internacionais
Em 2022, o preço do diesel nas refinarias da Petrobras acumula alta de 68% e o preço da gasolina, 31%. Já o IPCA, índice oficial de inflação, variou 4,7% no mesmo período.

Mesmo com o aumento, os novos valores do diesel e da gasolina seguem abaixo do necessário para zerar a defasagem em relação ao mercado internacional. A gasolina estava há 99 dias sem reajuste; e o diesel não tinha o preço majorado há 39 dias. Na semana passada, a Petrobras divulgou nota defendendo a “prática de preços competitivos” para a “garantia do abastecimento doméstico”.

A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) informou que, para alinhar o preço interno com o praticado no Golfo do México (grande produtor mundial), seria necessário um aumento de R$ 0,57 para a gasolina e de R$ 1,37 para o diesel. O índice de defasagem entre o preço da Petrobras e o praticado pelo mercado externo para gasolina atualmente é de 13% e 21% para o diesel.

Políticos reagiram ao novo reajuste
O novo aumento dos combustíveis ocorre em meio a uma crise entre a Petrobras e o governo federal, que culpa a estatal pela alta na gasolina e diesel. O anúncio irritou o presidente Jair Bolsonaro (PL) e provocou reações do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Ainda na noite da quinta-feira (16), quando tornou-se pública a informação de que a Petrobras iria reajustar os preços, Bolsonaro declarou um novo aumento seria um movimento político “para atingir o governo”. Na sexta (17), Bolsonaro defendeu a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a direção da Petrobras, indicada pelo próprio governo federal.

Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), pediu a renúncia do atual presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho. “O presidente da Petrobras tem que renunciar imediatamente. Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa – o Brasil – e, pior, trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país. Ele representa a si mesmo e o que faz deixará um legado de destruição para a empresa, para o país e para o povo. Saia!!! Pois sua gestão é um ato de terrorismo corporativo”, disse o deputado no Twitter.

Lira também defendeu dobrar o imposto cobrado sobre o lucro da Petrobras. Os recursos seriam usados para bancar um subsídio ao diesel ou para financiar uma “bolsa” para caminhoneiros, taxistas e motoristas de aplicativo.

Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que é “inexistente a dicotomia” entre Petrobras e governo. Em nota, ele disse que o governo deve dividir os “enormes lucros” da estatal. “Se a situação dos preços dos combustíveis está saindo do controle, o governo deve aceitar dividir os enormes lucros da Petrobras com a população, por meio de uma conta de estabilização de preços em momentos de crise. Afinal, é inexistente a dicotomia Petrobras e governo, pois a União é a acionista majoritária da estatal e sua diretoria indicada pelo governo”, disse Pacheco no Twitter.

A ofensiva para conter a alta dos combustíveis também chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro André Mendonça acatou na sexta-feira (17) o pedido da Advocacia Geral da União (AGU) e suspendeu as leis estaduais e do Distrito Federal que fixam alíquotas do ICMS sobre combustíveis. Com a decisão, a base de cálculo do imposto será fixada pela média de preços praticados nos últimos 60 meses até que uma nova norma seja editada pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz).

Caminhoneiros não descartam greve após novo reajuste
Após o novo aumento dos combustíveis, o líder de caminhoneiros Wallace Landim, conhecido como Chorão, disse que a categoria não descarta a possibilidade de entrar em greve. “A verdade é que, de uma forma ou de outra, mantendo-se essa política cruel de preços da Petrobras, o país vai parar novamente. Se não for por greve, será pelo fato de se pagar para trabalhar. A greve é o mais provável”, afirmou em nota. “Estamos alertando há muito tempo das consequências dessa política de preços da Petrobras e caos econômico que ela está causando na sociedade”, diz a nota, acrescentando que “o caminhoneiro está sendo esmagado pela inflação e pela alta do diesel”.

Nesta semana, a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) já havia criticado também a redução do ICMS sobre o diesel. Segundo a associação, a medida é ineficaz. Em nota, a entidade ressaltou que diante de um possível novo aumento nos preços dos combustíveis, uma greve “é o mais provável e não demora muito”.


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