quarta-feira, 8 de junho de 2022

CRESCIMENTO ECONÔMICO SÓ É POSSÍVEL COM INVESTIMENTOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Fabrica da Bosch na cidade industrial de Curitiba


Taxa de investimento ideal seria de 25% do PIB, mas ficou em 18,7% no primeiro trimestre de 2022.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

O Produto Interno Bruto (PIB) é dito “produto” porque inclui os bens e serviços de consumo e os bens de capital produzidos pelo país; “interno” porque se refere à produção feita dentro do território nacional, e “bruto” porque informa o total da produção sem descontar o desgaste e a redução do capital físico usado no sistema produtivo durante o período analisado.  O PIB é expresso em valores monetários aos preços correntes do período em análise e deriva de um produto físico feito por todos os setores econômicos, expresso em quantidades. Para a comparação com outros países, os valores em reais são transformados na moeda padrão internacional, o dólar, pelo critério da paridade de poder de compra, e não pelo preço corrente do dólar no mercado diário de compra e venda dessa moeda.

Como é impossível somar coisas diferentes, pois não há como obter resultado em uma unidade de mensuração única (por exemplo, não se somam quilos com litros, metros e horas de consultas médicas, cortes de cabelos etc.), a medida lógica de produto total anual de um país é soma dos valores monetários da produção de todos os setores segundo os preços correntes do ano. Para comparar, na moeda interna, o PIB de um ano com o PIB do anterior e saber se houve crescimento, é necessário deflacionar o valor monetário do PIB segundo o chamado “deflator implícito”, que é a inflação média da elevação de preços de todos os itens componentes do PIB. Ou seja, a comparação do PIB de dois anos só faz sentido, para fins de identificar o crescimento, se os preços reais dos bens e serviços forem os mesmos nos dois anos comparados.

O crescimento econômico e o aumento do nível de emprego no médio prazo exigem a melhoria da taxa nacional de investimento, que atingiu 19,2% do PIB em 2021, mas deveria estar em 25% para sustentar crescimento médio na faixa de 5% ao ano

Essa introdução é necessária para concluir que o desempenho econômico do país em termos de crescimento real do PIB e consequente aumento do emprego e renda depende essencialmente do PIB real, ou seja, depende do PIB em quantidades físicas. No caso específico do nível de emprego, é importante entender que o número de trabalhadores em determinada atividade é o necessário para a produção das quantidades produzidas. Em outras palavras, em uma padaria que produza 1 milhão de pães por ano, o número de padeiros empregados é o necessário para produzir 1 milhão de pães, mesmo que de um ano para outro o preço do pão suba. O mero aumento do faturamento da padaria não gera aumento do nível de emprego se for mantida a quantidade de pães produzidos.

As estatísticas oficiais mostram o PIB aos preços correntes de cada ano, porém, a identificação da taxa de variação (crescimento ou decrescimento) do PIB exige a já citada necessidade de se aplicar o deflator implícito sobre o PIB nominal para se obter o PIB real e concluir se houve crescimento ou queda do produto físico de um ano para outro. No caso da comparação internacional, o problema persiste e traz um elemento novo: a comparação sobre o desempenho de um país com outro somente faz sentido se for aplicado um deflator implícito a fim de que o dólar usado nas estatísticas reflita o mesmo poder de compra dos dois países comparados, o que implica considerar a diferença entre a inflação dos dois países e também a variação na taxa de câmbio. É por essas razões e outras que a melhor forma de saber se um país de fato cresceu deve incluir a verificação do PIB a preços reais (descontada a inflação), o número total de horas que o país trabalhou para fazer o PIB e o nível de emprego.


A inflação e o desemprego são as duas principais variáveis na definição do padrão médio de bem-estar social, no tamanho da pobreza e no maior desafio socioeconômico. Sobre esse ponto, vale mencionar adicionalmente que o mundo vive um momento de alto desenvolvimento tecnológico em que a inteligência artificial, a nanotecnologia e a evolução da robótica fazem a produção nacional aumentar sem o correspondente aumento no número de pessoas empregadas. A capacidade mundial de produzir mais com menos gente leva a dois outros desafios: fazer o PIB crescer a taxas elevadas – sobretudo no setor de serviços, que é mais intensivo de mão de obra – e requalificar os trabalhadores para assumirem tarefas e funções surgidas com as inovações.

A despeito de o PIB brasileiro ter crescido, nos últimos meses, mais que a média das nações comparáveis com o Brasil, o crescimento nos próximos trimestres é possível com a recuperação da capacidade instalada que estava ociosa, mas o crescimento do PIB e o aumento do nível de emprego no médio prazo (por volta de três anos) exigem a melhoria de uma variável crucial: a taxa nacional de investimento, que atingiu 19,2% do PIB em 2021 e ultimamente se desacelerou um pouco. Essa variável tem impacto elevado no produto nacional, principalmente porque a taxa ideal para o país ter infraestrutura capaz de sustentar crescimento médio na faixa de 5% ao ano é de investimento na faixa de 25% do PIB. Ou seja, um quarto do PIB anual teria de ser composto por bens de capital físico, sem o que é difícil cumprir o objetivo de crescer a taxas elevadas capazes de permitir redução substancial no número de pessoas desempregadas.

A insistência em divulgar e debater esses temas é necessária como meio de despertar a classe política e as autoridades governamentais para as questões relevantes que condicionam o crescimento econômico, a redução do desemprego, a redução da pobreza e o desenvolvimento social. O Brasil tem pressa.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/nao-ha-crescimento-sem-investimento/


Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

PREÇO DOS COMBUSTÍVEIS PODE BAIXAR NOS ESTADOS

Redução de impostos

Por
Fernando Jasper

Brasília – Combustíveis têm primeira variação de preço em 2018 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)


Governo tenta baixar preço dos combustíveis, mas rumo do pacote de redução de tributos é incerto.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O pacote de medidas do governo federal e do Congresso para baixar tributos federais e estaduais dos combustíveis pode resultar numa queda de 15% a 24% nos preços da gasolina, dependendo do estado. Para o etanol, a redução pode chegar a 17%. E o diesel pode ficar até 19% mais barato, segundo cálculos da Gazeta do Povo.

Uma redução de preços dessa magnitude, porém, depende da aprovação de todas as medidas anunciadas e do repasse integral do desconto de impostos ao consumidor (veja quanto o preço do combustível pode cair em cada estado ao fim desta reportagem).

As iniciativas anunciadas na segunda-feira (6) pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, são as seguintes:

Um projeto (PLP 18) apoiado pelo Executivo, já aprovado pela Câmara e agora em discussão no Senado, cria um teto de 17% para o ICMS dos combustíveis;
O governo federal, que em março zerou PIS e Cofins de diesel e gás de cozinha até o fim do ano, propõe um ressarcimento aos estados que aceitarem zerar as alíquotas de ICMS desses mesmos produtos, também até 31 de dezembro;
O Planalto se dispõe a reduzir a zero, também até o fim do ano, as alíquotas dos tributos federais (Cide, PIS e Cofins) sobre gasolina e etanol.

O governo pretende incluir tanto a redução de tributos federais quanto o ressarcimento aos estados numa proposta de emenda à Constituição (PEC). A ideia é que o repasse de dinheiro às unidades da federação seja feito “por fora” do teto de gastos, principal regra fiscal do país.

O rumo das propostas é incerto. Tanto que Guedes fez uma estimativa bastante elástica sobre o custo das medidas para o governo federal: “mais de R$ 25 bilhões e menos de R$ 50 bilhões”.

Os estados já articulavam contra o PLP 18, que na prática vai reduzir sua arrecadação. E a PEC dependerá da aprovação de três quintos dos deputados e senadores, com dois turnos de votação em cada Casa legislativa.

O que deve ser feito para baixar o preço do combustível?
A Petrobras tem de abandonar a paridade de preços com o exterior
O governo tem de subsidiar o preço com recursos do Tesouro
O governo tem de pagar um subsídio, mas apenas aos pobres
Os estados têm de reduzir o ICMS
Um fundo de estabilização de preços, com royalties e dividendos da Petrobras

Veja o que muda para os combustíveis veiculares se o pacote for aprovado e implementado na íntegra:

Gasolina: os tributos federais (Cide, PIS e Cofins), que hoje somam aproximadamente R$ 0,69 por litro, passam a zero. O ICMS dos estados, que hoje varia de 23% a 34% do preço de referência, fica limitado a 17%;
Etanol: PIS e Cofins, que hoje somam cerca de R$ 0,24 por litro, caem a zero. A Cide, outro tributo federal, já não era cobrada. O ICMS, cujas alíquotas variam de 13,3% a 32% do preço de referência, fica limitado a 17%;
Diesel: PIS e Cofins, que estão zerados desde março, continuam assim. Já não havia cobrança da Cide. E o ICMS, que hoje varia de 12% a 25%, cai a zero.
O tamanho do desconto vai variar conforme o estado. Tende a ser maior naqueles que cobram mais ICMS, e menor naqueles cuja tributação já é mais baixa.

Vale destacar que, enquanto os tributos federais são fixos (em R$ por litro), o ICMS corresponde a uma parcela (%) de um valor de referência do combustível, conhecido pela sigla PMPF (de Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final).

Normalmente, essa referência acompanha os valores médios cobrados nas bombas, o que faz os estados arrecadarem mais sempre que os preços sobem. Foi assim durante boa parte do ano passado.

VEJA TAMBÉM:
Quanto custa um “desconto” de R$ 1 nos preços da gasolina e do diesel
Governo quer privatizar a Petrobras: quais os passos e quanto tempo pode levar
Relator do ICMS diz que serão duas PECs sobre combustíveis e prevê votação na segunda
Porém, os governadores decidiram “congelar” o PMPF nos níveis de 1º de novembro de 2021. Ou seja, hoje as alíquotas do ICMS não incidem sobre o atual preço nas bombas (mais alto), e sim sobre essa referência de novembro do ano passado (mais baixa).

Para calcular o possível impacto das medidas, a Gazeta do Povo considerou a tributação atual, na qual as alíquotas incidem sobre o PMPF de novembro. Como três estados já cobram, sobre o etanol, ICMS inferior ao limite estabelecido pelo PLP 18, o cálculo considera que eles vão manter os níveis atuais do tributo.

Quanto o preço do combustível pode baixar em cada estado
Os valores a seguir consideram a tributação atual (compilada pela Fecombustíveis, representante dos revendedores); a redução máxima de impostos, conforme o pacote de medidas do governo; e os preços médios na bomba na semana encerrada em 4 de junho, levantados pela Agência Natural do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O preço da gasolina pode cair de 15% a 24%, conforme o estado. Em Mato Grosso, por exemplo, o peso dos tributos federais e estaduais cairia de R$ 2,13 para R$ 1,07 por litro. Se o desconto for repassado integralmente ao consumidor, o preço médio do litro cairá R$ 1,06, portanto. No Rio de Janeiro, onde a tributação atual é de R$ 3,01 por litro, o desconto ao consumidor pode chegar a R$ 1,85.

O preço do etanol pode baixar de 5% a 17%, dependendo da unidade de federação. No Paraná, onde a alíquota do ICMS sobre o derivado da cana já é uma das menores do país (18%, pouco acima do teto de 17% buscado pelo PLP 18, em discussão no Senado), a tributação total (incluindo tributos federais) pode cair de R$ 1,08 para R$ 0,80 por litro, resultando num desconto de pouco menos de R$ 0,30 nas bombas. No Rio de Janeiro, cuja alíquota do ICMS é de 32%, o desconto pode passar de R$ 1 por litro caso entre em vigor toda a redução de tributos planejada pelo governo federal.

O preço do diesel, por sua vez, pode cair de 9% a 19%, conforme o estado. Como os tributos federais já estão zerados, todo o efeito virá da eventual redução a zero do ICMS. Assim, o menor impacto deve ocorrer nos estados que já cobram as menores alíquotas, de 12% – caso de Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A queda será mais forte nos estados que cobram alíquotas mais altas, na casa dos 18% – ou até 25%, caso do Amapá.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/quanto-o-preco-do-combustivel-pode-baixar-em-cada-estado-com-o-pacote-do-governo/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

Redução de impostos
Quanto o preço do combustível pode baixar em cada estado com o pacote do governo

Por
Fernando Jasper
07/06/2022 19:15
22
Governo tenta baixar preço dos combustíveis, mas rumo do pacote de redução de tributos é incerto.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ouça este conteúdo
O pacote de medidas do governo federal e do Congresso para baixar tributos federais e estaduais dos combustíveis pode resultar numa queda de 15% a 24% nos preços da gasolina, dependendo do estado. Para o etanol, a redução pode chegar a 17%. E o diesel pode ficar até 19% mais barato, segundo cálculos da Gazeta do Povo.

Uma redução de preços dessa magnitude, porém, depende da aprovação de todas as medidas anunciadas e do repasse integral do desconto de impostos ao consumidor (veja quanto o preço do combustível pode cair em cada estado ao fim desta reportagem).

As iniciativas anunciadas na segunda-feira (6) pelo presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, são as seguintes:

Um projeto (PLP 18) apoiado pelo Executivo, já aprovado pela Câmara e agora em discussão no Senado, cria um teto de 17% para o ICMS dos combustíveis;
O governo federal, que em março zerou PIS e Cofins de diesel e gás de cozinha até o fim do ano, propõe um ressarcimento aos estados que aceitarem zerar as alíquotas de ICMS desses mesmos produtos, também até 31 de dezembro;
O Planalto se dispõe a reduzir a zero, também até o fim do ano, as alíquotas dos tributos federais (Cide, PIS e Cofins) sobre gasolina e etanol.

O governo pretende incluir tanto a redução de tributos federais quanto o ressarcimento aos estados numa proposta de emenda à Constituição (PEC). A ideia é que o repasse de dinheiro às unidades da federação seja feito “por fora” do teto de gastos, principal regra fiscal do país.

O rumo das propostas é incerto. Tanto que Guedes fez uma estimativa bastante elástica sobre o custo das medidas para o governo federal: “mais de R$ 25 bilhões e menos de R$ 50 bilhões”.

Os estados já articulavam contra o PLP 18, que na prática vai reduzir sua arrecadação. E a PEC dependerá da aprovação de três quintos dos deputados e senadores, com dois turnos de votação em cada Casa legislativa.

O que deve ser feito para baixar o preço do combustível?
A Petrobras tem de abandonar a paridade de preços com o exterior
O governo tem de subsidiar o preço com recursos do Tesouro
O governo tem de pagar um subsídio, mas apenas aos pobres
Os estados têm de reduzir o ICMS
Um fundo de estabilização de preços, com royalties e dividendos da Petrobras

Veja o que muda para os combustíveis veiculares se o pacote for aprovado e implementado na íntegra:

Gasolina: os tributos federais (Cide, PIS e Cofins), que hoje somam aproximadamente R$ 0,69 por litro, passam a zero. O ICMS dos estados, que hoje varia de 23% a 34% do preço de referência, fica limitado a 17%;
Etanol: PIS e Cofins, que hoje somam cerca de R$ 0,24 por litro, caem a zero. A Cide, outro tributo federal, já não era cobrada. O ICMS, cujas alíquotas variam de 13,3% a 32% do preço de referência, fica limitado a 17%;
Diesel: PIS e Cofins, que estão zerados desde março, continuam assim. Já não havia cobrança da Cide. E o ICMS, que hoje varia de 12% a 25%, cai a zero.
O tamanho do desconto vai variar conforme o estado. Tende a ser maior naqueles que cobram mais ICMS, e menor naqueles cuja tributação já é mais baixa.

Vale destacar que, enquanto os tributos federais são fixos (em R$ por litro), o ICMS corresponde a uma parcela (%) de um valor de referência do combustível, conhecido pela sigla PMPF (de Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final).

Normalmente, essa referência acompanha os valores médios cobrados nas bombas, o que faz os estados arrecadarem mais sempre que os preços sobem. Foi assim durante boa parte do ano passado.

VEJA TAMBÉM:
Quanto custa um “desconto” de R$ 1 nos preços da gasolina e do diesel
Governo quer privatizar a Petrobras: quais os passos e quanto tempo pode levar
Relator do ICMS diz que serão duas PECs sobre combustíveis e prevê votação na segunda
Porém, os governadores decidiram “congelar” o PMPF nos níveis de 1º de novembro de 2021. Ou seja, hoje as alíquotas do ICMS não incidem sobre o atual preço nas bombas (mais alto), e sim sobre essa referência de novembro do ano passado (mais baixa).

Para calcular o possível impacto das medidas, a Gazeta do Povo considerou a tributação atual, na qual as alíquotas incidem sobre o PMPF de novembro. Como três estados já cobram, sobre o etanol, ICMS inferior ao limite estabelecido pelo PLP 18, o cálculo considera que eles vão manter os níveis atuais do tributo.

Quanto o preço do combustível pode baixar em cada estado
Os valores a seguir consideram a tributação atual (compilada pela Fecombustíveis, representante dos revendedores); a redução máxima de impostos, conforme o pacote de medidas do governo; e os preços médios na bomba na semana encerrada em 4 de junho, levantados pela Agência Natural do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

O preço da gasolina pode cair de 15% a 24%, conforme o estado. Em Mato Grosso, por exemplo, o peso dos tributos federais e estaduais cairia de R$ 2,13 para R$ 1,07 por litro. Se o desconto for repassado integralmente ao consumidor, o preço médio do litro cairá R$ 1,06, portanto. No Rio de Janeiro, onde a tributação atual é de R$ 3,01 por litro, o desconto ao consumidor pode chegar a R$ 1,85.

O preço do etanol pode baixar de 5% a 17%, dependendo da unidade de federação. No Paraná, onde a alíquota do ICMS sobre o derivado da cana já é uma das menores do país (18%, pouco acima do teto de 17% buscado pelo PLP 18, em discussão no Senado), a tributação total (incluindo tributos federais) pode cair de R$ 1,08 para R$ 0,80 por litro, resultando num desconto de pouco menos de R$ 0,30 nas bombas. No Rio de Janeiro, cuja alíquota do ICMS é de 32%, o desconto pode passar de R$ 1 por litro caso entre em vigor toda a redução de tributos planejada pelo governo federal.

O preço do diesel, por sua vez, pode cair de 9% a 19%, conforme o estado. Como os tributos federais já estão zerados, todo o efeito virá da eventual redução a zero do ICMS. Assim, o menor impacto deve ocorrer nos estados que já cobram as menores alíquotas, de 12% – caso de Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A queda será mais forte nos estados que cobram alíquotas mais altas, na casa dos 18% – ou até 25%, caso do Amapá.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/quanto-o-preco-do-combustivel-pode-baixar-em-cada-estado-com-o-pacote-do-governo/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

SITUAÇÃO DA ARGENTINA É CRÍTICA

 

Inflação na Argentina

Por
Mariana Braga



Presidente argentino, Alberto Fernández, na apresentação do projeto que prevê nova tributação no país, em 06 de junho de 2022.| Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni

Caminhões carregados de alimentos estão nas filas dos postos de gasolina da Argentina, aguardando o abastecimento de diesel. Há dois meses, a falta do combustível prejudica principalmente o setor agropecuário, que é a maior fonte de divisas do país. Agora, a grande preocupação é o risco de faltar trigo para consumo interno e para a exportação.

Segundo a Federação Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac), entre 25 de maio e o último domingo (5), 19 dos 24 distritos argentinos apresentaram problemas de abastecimento de diesel. Além disso, na semana passada, 26% dos caminhoneiros que usam esse combustível na Argentina chegaram a esperar mais de 12 horas nos postos para conseguir abastecer e 31% aguardaram entre 6 e 12 horas na fila.

“O panorama está cada dia mais complicado. A produção agrícola e industrial, que já sofre com atrasos, será ainda mais afetada se a situação atual não for revertida”, alerta o presidente da Fadeeac, Roberto Guarnieri. “Não podemos cumprir nossos compromissos em tempo hábil e empregos são perdidos devido à incerteza gerada pela falta de abastecimento normal”, completa.

O presidente da Confederação Argentina de Médias Empresas (Came), Alfredo González, ressalta que a falta de diesel “está colocando em xeque as economias regionais”. González também pediu solução urgente das autoridades para evitar que a crise afete ainda mais a alta inflação na Argentina.

Diferença de preços  
Em algumas regiões do país, o problema é ainda maior devido à demanda de motoristas de países vizinhos que abastecem em solo argentino. Isso acontece porque a YPF, empresa privada com controle estatal que abastece 55% dos postos da Argentina, tomou como política atrasar os aumentos de preços necessários. Por isso, há uma diferença de valores em relação ao preço internacional, que, na última semana variou de 35 a 100%.

O país importa 1/3 do diesel que consome. A maioria das refinadoras compra de fora do país apenas o mínimo necessário para cumprir contrato. Já os postos sem bandeira precisam importar de atacado, que especialmente neste momento custa 30% mais. Nesses postos, que representam 20% do mercado, fica mais caro abastecer, então as filas se formam em torno dos estabelecimentos mais baratos.

Pressionado por empresários e produtores, o governo da Argentina prometeu aumentar as importações de diesel para normalizar a oferta.

Falta de combustível pode gerar falta de alimento 
“Não podemos viver nesta situação crítica que gera incertezas e aumento de custos na produção”, disse o presidente da Sociedade Rural Argentina, Nicolás Pino, em entrevista ao periódico Clarín.

Além disso, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires prevê redução na área plantada de trigo, devido às condições de seca, o que aumenta as preocupações de especialistas e autoridades.

O trigo, juntamente com o milho e a soja, representa 47% das exportações do país. A Argentina é o 7º maior produtor de trigo do mundo, além de ser o primeiro em exportação de farinha. Mesmo assim, o preço do pão não para de crescer nas padarias argentinas.

Inflação no país 
A Guerra na Ucrânia reforçou um problema que a Argentina já sofre há dez anos. Os argentinos convivem com a alta inflação, que chegou a 50% em 2021. Com o conflito no leste europeu, o salto foi de 16% nos três primeiros meses de 2022, segundo dados oficiais.

A solução proposta pelo presidente argentino, Alberto Fernández, foi enviada ao Parlamento nesta segunda-feira (6). É o projeto de lei que deve criar uma tributação para a “receita inesperada” obtida pelas grandes empresas, como forma de compensar os aumentos acentuados dos preços internacionais.

Segundo ele, o projeto de nova tributação serve, também, para cumprir com o acordo de refinanciamento da dívida de 45 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Insatisfação de empresários 
A novidade, claro, não foi bem recebida pelo empresariado argentino. O presidente da Associação Empresária Argentina (AEA), Jaime Campos, discursou nesta terça-feira (7) no evento de celebração dos 20 anos da entidade, declarando que a nova tributação é um retrocesso. “Temos mais de 160 impostos no nosso país. E, para voltar a crescer e gerar emprego, é preciso reduzir impostos”, reforçou.

Um vídeo gravado pelo presidente argentino para os participantes do evento foi transmitido em um telão. Na gravação, Fernández comentou sobre o novo imposto. “Não conseguimos relacionar nossos produtores de alimentos a todos os argentinos, nem separar totalmente os preços internacionais dos valores internos”, disse o presidente, pedindo a compreensão dos empresários.

O líder argentino também falou sobre a fome que vai aumentar no mundo, especialmente em países pobres, devido à guerra na Ucrânia. E explicou que, apesar do conflito poder gerar uma vantagem para a exportação de alimentos produzidos na Argentina, “é uma oportunidade para todos que habitam a terra argentina, e não apenas para um produtor ou empresário”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/falta-diesel-na-argentina-logo-pode-faltar-pao/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

UCRÂNIA SE PREPARA PARA O INVERNO MAIS DIFÍCIL DO PAÍS

 

Guerra na Ucrânia
Gazeta do Povo com Agência EF


O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fala em entrevista coletiva durante visita dos presidentes da Polônia, Estônia Letônia e Lituânia, em 13 de abril de 2022.| Foto: Sergey Dolzhenko/EFE/EPA

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, anunciou nesta terça-feira (7) planos para preparar o país para “o inverno mais difícil de todos os anos de independência” devido à “agressão da Rússia”.

Com esse objetivo, Zelensky disse no seu habitual discurso noturno que se reuniu com funcionários do governo e representantes das maiores estatais de energia e órgãos reguladores.

“Independentemente do que os ocupantes planejam para si, temos de nos preparar para o próximo inverno no nosso país”, informou o governante.

“Na situação atual, devido à agressão da Rússia, este será o inverno mais difícil em todos os anos de independência”, afirmou Zelensky, ao anunciar que a Ucrânia não venderá gás e carvão a outros países, uma vez que toda a produção interna será direcionada para as necessidades dos seus cidadãos.

O presidente também anunciou que a Ucrânia pretende aumentar a sua capacidade de exportação de eletricidade.

“Após a histórica adesão do nosso país à rede energética unificada da Europa, tais exportações não só nos permitem aumentar as nossas receitas em moeda estrangeira, mas também influenciar diretamente a estabilização da situação energética nos países vizinhos, o que reduz o consumo de energia da Rússia”, acrescentou.

Outro aspecto importante discutido na reunião desta terça-feira foi o programa de reparação de centrais térmicas, usinas de produção combinada de calor e eletricidade e caldeiras, especialmente aquelas que foram danificadas ou completamente destruídas pelos ataques russos.

“A implementação deste programa nos próximos meses é uma das principais tarefas do Ministério da Energia ucraniano”, disse Zelensky.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/ucrania-se-prepara-para-o-inverno-mais-dificil-desde-a-independencia/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

FALAR MAL DA URNA ELETRÔNICA DÁ PRISÃO E CASSAÇÃO DE PARLAMENTAR

 

Injustiça do STF

  • Alexandre GarciaPorAlexandre Garcia
  • De Santa Cruz do Sul (RS)

Deputado Fernando Francischini teve o mandato cassado pelo TSE e confirmado pelo STF| Foto: Gerson Klaina/Tribuna do Paraná

Falei com um sertanista veterano e a notícia que ele me deu não é boa. O jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira que estão desaparecidos no Vale do Javari, um território do tamanho de Portugal no Amazonas, e que é povoado por muitas etnias indígenas que não querem saber de contato com ninguém. Ele me disse que eles reagem com violência e não são de conversa.

O sertanista me disse que a única pessoa capaz de entrar lá seria o Sidney Possuelo, que é um grande sertanista brasileiro. Embora a Funai esteja fazendo buscas por lá com 15 pessoas, dois helicópteros militares e quatro embarcações, ninguém sabe o que pode ter acontecido com eles. Tampouco se sabe o que eles queriam fazer lá.

Enfim, só nos resta aguardar o fim das buscas e mais notícias.

Acordo não cumprido

O presidente Jair Bolsonaro revelou, enfim, o que para mim era um mistério: aquele encontro dele com o ex-presidente Michel Temer, no dia 9 de setembro do ano passado, depois de ter feito um discurso duro contra o Supremo Tribunal Federal e o ministro Alexandre de Moraes no 7 de setembro.

Temer apareceu no Palácio do Planalto com uma espécie de rascunho para uma declaração de paz entre Bolsonaro, Alexandre de Moraes e o Supremo.

Bolsonaro contou no SBT News que foi feito um acordo com Moraes, pelo telefone celular, na presença de Temer, só que o ministro do Supremo não cumpriu a parte dele. Tudo indica que o acordo era o seguinte: Bolsonaro dá um recuo nas críticas ao Supremo e Alexandre de Moraes deixa de perseguir os seguidores de Bolsonaro. Mas o presidente reclamou que não aconteceu isso.

Cala a boca já morreu?

A Segunda Turma do STF confirmou nesta terça-feira (7), por 3 a 2, a cassação do mandato do delegado Francischini, deputado mais votado do Paraná em 2018. A decisão do Supremo equivale a cassar os 427.749 votos de eleitores paranaenses que elegeram Francischini.

Os dois ministros derrotados na votação foram Nunes Marques e André Mendonça, exatamente os que foram indicados por Jair Bolsonaro. Já Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Edson Fachin votaram pela cassação.

Sobrou o seguinte recado: não pode falar mal de urna eletrônica. Isso agora virou pecado mortal. Muito embora a ministra Cármen Lúcia tenha dito seis anos atrás, quando era presidente do Supremo, que “cala a boca já morreu”. Mas agora continuam calando a boca.

STF CASSA DEPUTADO ESTADUAL

 

Punição desproporcional

Por
Thaméa Danelon


Fernando Francischini foi o deputado estadual mais votado no Paraná em 2018.| Foto: Albari Rosa/Arquivo Gazeta do Povo

Durante o primeiro turno das eleições de 2018, o então deputado federal Fernando Francischini realizou uma “live” em suas redes sociais divulgando informações recebidas de algumas pessoas que estavam, eventualmente, com dificuldades em realizar a votação nas urnas eletrônicas. Era relatado que algumas pessoas não estavam conseguindo votar no então candidato Jair Bolsonaro por conta de problemas, ou supostas fraudes em algumas urnas. Francischini também afirmou que algumas urnas teriam sido apreendidas por indícios de fraude.

Após essa live, foi instaurado um processo na Justiça Eleitoral contra Francischini até que, em 2021, seu mandato de deputado estadual (pois foi eleito em 2018 para esse cargo) foi cassado sob argumento de ele ter disseminado desinformação. A decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também desconsiderou os votos recebidos pelo parlamentar, que foi o mais votado no estado do Paraná naquele ano e, por conta disso, outros três parlamentares do mesmo partido também perderam seus mandatos.

Francischini recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra sua cassação. No último dia 2, o relator do caso, o ministro Kassio Nunes Marques, suspendeu a decisão do TSE que cassou o mandato de referido deputado. No dia seguinte, o suplente de Francischini, o deputado Paulo Bazana, que assumiu o mandato após a cassação, ajuizou um mandado de segurança contra a decisão de Nunes Marques, para que fosse restabelecida a cassação do mandato, iniciando-se, assim, um imbróglio jurídico no Supremo.

Esse mandado de segurança foi distribuído entre os membros do STF, tendo sido sorteada a ministra Cármen Lúcia para relatar o caso, a qual requereu a realização de uma sessão virtual extraordinária para a votação deste mandado de segurança. A ministra atendeu ao pedido do suplente de deputado e votou para que fosse restabelecida a decisão do TSE, ou seja, que fosse cassado o mandato do parlamentar paranaense. O ministro Edson Fachin acompanhou o voto de Cármen Lúcia.

Entretanto, o ministro André Mendonça em vez de votar, requereu vistas dos autos, fato que suspendeu o julgamento do mandado de segurança no plenário virtual. Mendonça sustentou que essa sessão extraordinária para julgar o mandado de segurança não poderia ocorrer, pois nesta terça-feira, 7 de junho, já estava agendado o julgamento do processo principal, ou seja, aquele onde o ministro Nunes Marques devolveu o mandato ao deputado.

Dessa forma, como a Segunda Turma do STF já iria julgar esse caso, não faria sentido o plenário virtual do STF votar em sessão extraordinária o pedido liminar no mandado de segurança. Assim, para André Mendonça seria prudente evitar decisões conflitantes, em benefício da ordem processual. Horas depois do pedido de vista, a Segunda Turma do STF decidiu, por 3 votos a 2, anular a liminar de Nunes Marques e restabelecer a cassação do mandato do deputado. O próprio ministro André Mendonça foi voto vencido nesse julgamento.

Pois bem, passemos a analisar tecnicamente as decisões sobre o caso. Penso que a opção de Nunes Marques por restabelecer o mandato do deputado Francischini foi correta, pois, de fato, não ficou comprovado o alegado uso abusivo dos meios de comunicação, pois as informações foram divulgadas através das redes sociais, e não por meio de veículos tradicionais de comunicação, sendo certo que, como bem salientado pelo ministro Nunes Marques, qualquer pessoa, bem como qualquer candidato poderia valer-se da utilização dessas redes.

No meu entendimento não ficou comprovado que os fatos noticiados pelo deputado continham desinformação e nem que ele tinha ciência que eram informações supostamente falsas. Além disso, ainda que comprovada a existência de notícias/informações inverídicas, a imunidade parlamentar prevista no artigo 53 da Constituição Federal assegura que deputados e senadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, logo, não caberia ao TSE a cassação do mandato do parlamentar, pois somente a respectiva casa legislativa poderia apreciar uma eventual cassação.

No que se refere ao pedido de vistas dos autos pelo ministro André Mendonça, sob argumento de se evitar decisões conflitantes, eu também entendo que foi uma providência sábia e adequada, e que visou estabelecer a segurança jurídica. Se no mesmo dia a Segunda Turma do STF iria julgar o processo principal que trata sobre a cassação do mandato do deputado, não havia sentido para o plenário virtual julgar uma ação acessória que discutiria a mesma questão. Haveria sérios riscos de proferimento de decisões paradoxais que iriam causar prejuízo à ordem processual (ou seja, dos processos propriamente ditos).

Na minha visão, a decisão do TSE restabelecida agora pela Segunda Turma do STF foi desproporcional, pois coloca em risco a liberdade de expressão prevista no artigo 5º da Constituição Federal, e principalmente no que diz respeito a um parlamentar que foi eleito com mais de 400 mil votos.

Thaméa Danelon
Procuradora da República (MPF) desde dezembro de 1999, ex-coordenadora do Núcleo de Combate à Corrupção em São Paulo/SP; ex-integrante da Lava Jato/SP; mestre em Direito Político e Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo (ESMPSP); professora de Direito Processual Penal e palestrante. ** Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

SUBSTITUIÇÃO DAS MOEDAS FÍSICAS POR DIGITAIS

 

Geopolítica centralizada
Artigo recente revela o verdadeiro (e preocupante) objetivo por trás do PIX e do Real Digital

Por
Daniel Lopez


No final das contas, é tudo sobre controle| Foto: BeInCrypto

O que antes era especulação, hoje se torna realidade. Enquanto muitos ainda acreditavam que a ideia da substituição das moedas físicas por suas versões digitais (controladas pelos bancos centrais) representava um movimento natural de desenvolvimento tecnológico, agora sabemos que se trata de uma medida de concorrência. Ou melhor, um meio de frear o avanço de outra tecnologia ascendente, que tem tirado o sono daqueles que desejam não apenas manter o status quo, mas aumentar os instrumentos estatais de controle sobre a sociedade.

Num artigo recente publicado no site do Banco de Compensações Internacionais (BIS), sob o título “Initial steps towards a central bank digital currency by the Central Bank of Brazil” (“Passos iniciais para uma moeda digital do banco central

pelo Banco Central do Brasil”, em tradução livre do inglês), fica claro o objetivo da implementação do real digital. Podemos vislumbrar este alvo por meio de 2 problemas que a nova tecnologia busca resolver: impedir as corridas bancárias (restringindo o saque, por meio de “circuit breakers”) e evitar a desintermediação financeira (ou seja, impedir que as pessoas deixem de usar os serviços oferecidos pelos bancos tradicionais). Para manter a relevância dos bancos de hoje, a ideia é não pagar juros diretamente no Real Digital, obrigado o usuário a depositar seus recursos da moeda online nas grandes instituições bancárias, caso queira receber juros em aplicações.

Com a estratégia acima, entendemos como o Banco Central pretende, mesmo instaurando um sistema de pagamento e uma moeda digital próprias, impedir que os bancos tradicionais se tornem desnecessários ou obsoletos. Pelo contrário, o argumento é que a novidade tornará mais moderno o sistema bancário, viabilizando contratos inteligentes e pagamentos programados. Entretanto, no decorrer do estudo, o verdadeiro objetivo começa a aparecer.

Lemos que a grande vantagem da moeda digital centralizada é criar um ambiente “regulado” (como se regulação fosse, em si, algo sempre positivo). Contudo, essa regulação procura, entre os objetivos, impedir que o real possa eventualmente ser substituído por moedas privadas, como as criptomoedas. Finalmente ficou explícito o plano: impedir que o bitcoin se torne a moeda padrão. Como é sabido, o objetivo original do bitcoin era ser uma moeda descentralizada, que não estive sujeita ao controle dos bancos centrais, que, por meio de suas politicas econômicas, detêm o poder de desvalorizar a moeda (por meio da impressão e, consequentemente, da inflação) e de usar a taxa de juros para estimular ou retrair a economia.

Dessa forma, a criação do real digital serviria não apenas para fazer uma concorrência com o bitcoin, mas para aumentar o controle, a regulamentação e a rastreabilidade de todo o comércio em território nacional. Na verdade, o Pix já funcionou como uma tentativa de impedir o sucesso de criptomoedas como forma de pagamentos. Por isso, é visto como o primeiro passo para a implementação do Real Digital.

Enquanto os early adopters (os consumidores mais propensos a usarem novas tecnologias) estão muito empolgados com a chegada do Real Digital, julgo ser pertinente lembrarmos do alerta feito pelo economista Robert Wenzel, ainda em 2020, quando deu sua opinião sobre o Fedcoin, a moeda digital do Banco Central norte-americano: “Uma moeda digital criada pelo Fed poderia ser um dos passos mais perigosos tomados por uma agência do governo. Colocaria, nas mãos do governo, a possibilidade de criar uma moeda digital com a capacidade de rastrear todas as transações em uma economia — e proibir transações por algum motivo. Em termos de liberdade individual no futuro, isso seria um pesadelo”. Fica a reflexão.

Muitos especialistas alertam que o temido “crédito social” só pode ser implementado por meio da substituição da moeda física por sua versão digital. Contudo, o que nos consola, é que o lançamento do Real Digital, que estava previsto para o segundo semestre, acabou de ser adiado, estando hoje sem data definida para ocorrer. Menos mal.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/daniel-lopez/este-sera-o-xeque-mate-global/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

HOJE SE FALA TANTO NA NECESSIDADE DE EMPREENDER

 

Sérgio dal Sasso – Consultor, Palestrante e Escritor

  1. O que é empreendedorismo?
    O empreendedorismo é um estágio maior a ser alcançado nos níveis profissional ou empresarial, relacionado com a capacidade, visão e competência de perceber oportunidades e criar soluções que gerem crescimento e resultados. Em tudo que fazemos é preciso absorver vivência e experiência, que entre erros e acertos, devem acumular conhecimento para a produção e resultados. Quando vamos subindo organizadamente em nossas atividades vamos aprendendo a qualificar nossos objetivos, evoluindo o fluxo das informações externas e internas, aplicando novos conhecimentos, ampliando bases e potenciais mercados, e assim, acrescentando visão para a sofisticação das estratégias.
    Para se consolidar no topo temos que enxergar mais, melhorar a organização para qualificar e realizar.
  2. Por que hoje se fala tanto na necessidade de se empreender?
    Na verdade, o que se fala é que temos que sair do arroz com feijão, aprender a se impor através de soluções que tenham valor diferenciado, conhecer mais os mercados que atuamos ou podemos atuar, ter equilíbrio entre a capacidade humana e tecnológica para a geração de processos inteligentes e assim por diante.
    Existe um pouco de confusão quando se classifica a palavra empreender como sendo “a vontade de”. As estatísticas generalizam um pouco o conceito do empreender, integrando num único pacote as pessoas que se arriscam sem estarem preparadas, com outras que organizadamente desenvolvem suas atividades, obtendo sucesso. Empreender é uma evolução a ser alcançada, que fica entre a vontade e o conhecimento disponível para uso, o que nem sempre está próximo dos impulsos que naturalmente temos, quando da necessidade imediata por encontros de novos caminhos para a garantia da própria sobrevivência.
  3. Na prática, ou seja, no dia-a-dia das empresas como se revela o empreendedorismo?
    Empresas brilhantes ligam seus processos com pessoas competentes e comprometidas, aquelas do tipo que são referências de mercado, que fazem com que seus nomes estejam conectados com os meios que atuam. Numa época aonde temos que atender a mercados cada vez mais exigentes, o fator humano e sua forma de integração (com os negócios e dentro do grupo) serão estratégicos para a qualificação das ações e resultados surpreendentes. A visão de grupo e sua capacidade de troca é um diferencial fundamental, pois amplia as possibilidades do sucesso, reduzindo riscos, permitindo pela qualidade do conhecimento uma maior velocidade de entender e aplicar na frente, e quem faz na frente tende a estabelecer liderança nos meios competitivos.
  4. Qual o destino das empresas que ainda não despertaram para necessidade de empreender?
    Tenho a visão de que todos estão preocupados em ser ágeis, pois isso está ligado a “grana” no bolso. Na verdade, de algumas décadas para cá, percebemos mudanças profundas na ordem da formação das empresas e negócios. No passado montávamos em primeiro o conjunto interno das organizações, para depois estabelecer as regras do mercado (produto, preço e venda). Hoje, vamos ao mercado, definimos estratégias pelas oportunidades e depois pensamos no modelo ideal para gerir o que faremos (Processo, valor e competição), que em muitas vezes nem se encontrará dentro da própria casa.
    Ser flexível e estar focado no mercado é a regra do jogo, o destino de quem se antecipa é a rentabilidade e quem não a têm não investe, não cresce, ou morre, ou é absorvido pelo concorrente.

ESCALANDO NEGÓCIOS DA VALEON

1 – Qual é o seu mercado? Qual é o tamanho dele?

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.
A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

2 – Qual problema a sua empresa está tentando resolver? O mercado já expressou a necessidade dessa solução?

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

3 – Quais métodos você usará para o crescimento? O seu mercado está propício para esse tipo de crescimento?

Estratégias para o crescimento da nossa empresa
Investimento na satisfação do cliente. Fidelizar é mais barato do que atrair novos clientes.
Equilíbrio financeiro e rentabilidade. Capital de giro, controle de fluxo de caixa e análises de rentabilidade são termos que devem fazer parte da rotina de uma empresa que tenha o objetivo de crescer.
Desenvolvimento de um planejamento estratégico. Planejar-se estrategicamente é como definir com antecedência um roteiro de viagem ao destino final.
Investimento em marketing. Sem marketing, nem gigantes como a Coca-Cola sobreviveriam em um mercado feroz e competitivo ao extremo.
Recrutamento e gestão de pessoas. Pessoas são sempre o maior patrimônio de uma empresa.

O mercado é um ambiente altamente volátil e competitivo. Para conquistar o sucesso, os gestores precisam estar conectados às demandas de consumo e preparados para respondê-las com eficiência.
Para isso, é essencial que os líderes procurem conhecer (e entender) as preferências do cliente e as tendências em vigor. Em um cenário em que tudo muda o tempo todo, ignorar as movimentações externas é um equívoco geralmente fatal.
Planeje-se, portanto, para reservar um tempo dedicado ao estudo do consumidor e (por que não?) da concorrência. Ao observar as melhores práticas e conhecer quais têm sido os retornos, assim podemos identificar oportunidades para melhorar nossa operação e, assim, desenvolver a bossa empresa.
4 – Quem são seus principais concorrentes e há quanto tempo eles estão no mercado? Quão grandes eles são comparados à sua empresa? Descreva suas marcas.
Nossos concorrentes indiretos costumam ser sites da área, sites de diretório e sites de mídia social. Nós não estamos apenas competindo com outras marcas – estamos competindo com todos os sites que desejam nos desconectar do nosso potencial comprador.
Nosso concorrente maior ainda é a comunicação offline que é formada por meios de comunicação de massa como rádios, propagandas de TV, revistas, outdoors, panfletos e outras mídias impressas e estão no mercado há muito tempo, bem antes da nossa Startup Valeon.
5 – Sua empresa está bem estabelecida? Quais práticas e procedimentos são considerados parte da identidade do setor?
A nossa empresa Startup Valeon é bem estabelecida e concentramos em objetivos financeiros e comerciais de curto prazo, desconsideramos a concorrência recém chegada no mercado até que deixem de ser calouros, e ignoramos as pequenas tendências de mercado até que representem mudanças catastróficas.
“Empresas bem estabelecidas igual à Startp Valeon devemos começar a pensar como disruptores”, diz Paul Earle, professor leitor adjunto de inovação e empreendedorismo na Kellogg School. “Não é uma escolha. Toda a nossa existência está em risco”.
6 – Se você quiser superar seus concorrentes, será necessário escalar o seu negócio?
A escalabilidade é um conceito administrativo usado para identificar as oportunidades de que um negócio aumente o faturamento, sem que precise alavancar seus custos operacionais em igual medida. Ou seja: a arte de fazer mais, com menos!
Então, podemos resumir que um empreendimento escalável é aquele que consegue aumentar sua produtividade, alcance e receita sem aumentar os gastos. Na maioria dos casos, a escalabilidade é atingida por conta de boas redes de relacionamento e decisões gerenciais bem acertadas.
Além disso, vale lembrar que um negócio escalável também passa por uma fase de otimização, que é o conceito focado em enxugar o funcionamento de uma empresa, examinando gastos, cortando desperdícios e eliminando a ociosidade.
Sendo assim, a otimização acaba sendo uma etapa inevitável até a conquista da escalabilidade. Afinal de contas, é disso que se trata esse conceito: atingir o máximo de eficiência, aumentando clientes, vendas, projetos e afins, sem expandir os gastos da operação de maneira expressiva.
Pretendemos escalar o nosso negócio que é o site marketplace da Startup Valeon da seguinte forma:
objetivo final em alguma métrica clara, como crescimento percentual em vendas, projetos, clientes e afins;
etapas e práticas que serão tomadas ao longo do ano para alcançar a meta;
decisões acertadas na contratação de novos colaboradores;
gerenciamento de recursos focado em otimização.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (App)
E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com
Site: https://valedoacoonline.com.br/

terça-feira, 7 de junho de 2022

LULA TEM MEDO DAS RUAS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

São Bernardo do Campo SP 15 11 2020-O ex presidente Luis Inacio Lula da Silva votou em ABC hoje pela manhã. foto Ricardo Stuckert


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).| Foto: Ricardo Stuckert/PT

O ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula tem evitado aparecer no que, agora, está sendo chamado de “ambientes não controlados” – ou seja, aquilo que, num passado não muito distante, era simplesmente “a rua”. Em suas aparições públicas, o petista tem dado preferência a eventos com rígido controle de acesso de público, resultado em plateias totalmente entusiásticas, com risco zero de contestação ou animosidade que desmintam a sensação de vitória iminente de Lula, quem sabe ainda no primeiro turno.

O partido, obviamente, tem a explicação pronta para que Lula não encare as ruas, e que vai de questões de segurança até o receio de algum ato público acabar caracterizado como propaganda eleitoral antecipada – como se um discurso para uma plateia puramente chapa-branca não pudesse também se encaixar nesse conceito. Mais ainda: o PT e Lula garantem que, a partir de 15 de agosto, quando a campanha eleitoral começar oficialmente, o hoje pré-candidato irá “viajar o Brasil” e “conversar com o povo brasileiro”. No entanto, mesmo na hipótese de que não haja um “medo das ruas” da parte do petista, há uma outra relutância que deveria ser vista com muita preocupação por todos os que partilham da preocupação com o futuro da economia brasileira.

Os grandes problemas atuais da economia nacional – inflação, desemprego, juros altos, real desvalorizado, saúde fiscal deteriorada – não serão resolvidos com aquilo que Lula vem prometendo; pelo contrário, eles serão agravados

Reportagem do jornal O Estado de S.Paulo publicada em 28 de maio mostra que Lula tem se recusado terminantemente a encontrar empresários para expor sua plataforma econômica. Membros da pré-campanha de Lula afirmaram que o petista já foi procurado para conversas com integrantes do mercado financeiro, mas já disse que não participará de nenhum evento no qual ele possa ser questionado abertamente sobre suas propostas para a economia. Em vez disso, ele acaba enviando emissários, como empresários amigos e ex-ministros. Oficialmente, o argumento é o de que o plano de governo ainda não está pronto; mas, neste caso, faltou combinar com o próprio Lula, que já anunciou todo tipo de loucura quando está diante de plateias que aplaudam entusiasticamente tudo o que saia de sua boca.

Afinal, o ex-presidente já prometeu derrubar o teto de gastos, revogar (ou ao menos “revisar” a reforma trabalhista de 2017 (criação de pessoas com “mentalidade escravocrata”, chegou a afirmar), interferir na política de preços da Petrobras para “abrasileirar” o preço dos combustíveis, e frear ou até mesmo revisar privatizações. Esse tipo de promessa, aliás, não é feito apenas diante de apoiadores; aparece dia sim, dia também nas mídias sociais de Lula, em artigos de jornal como o assinado por Guido Mantega no início deste ano, e até mesmo em alguns eventos com empresários aos quais o ex-presidente envia representantes. Um caso emblemático foi o de um jantar ao qual Lula mandou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann – participantes descreveram o conteúdo como “horroroso”, remetendo à “nova matriz econômica” que devastou o Brasil no governo Dilma Rousseff.


Há quem diga que a retórica do atraso se destina apenas a “eletrizar a militância”, e que o programa de governo será diferente, como aconteceu com o “Lulinha paz e amor” de 2002 – afinal, todos os formadores de opinião que se esforçam diariamente em descrever Lula como um “moderado” teriam dificuldades em sustentar seu discurso diante de cada fala que anuncia a perspectiva de uma guinada tão radical à esquerda. Mas Lula não tem necessidade de pregar para convertidos. O mais provável é que o ex-presidente e seu partido estejam expondo suas reais convicções num raro rasgo de sinceridade, contando talvez que outra parte do eleitorado apenas associe a figura de Lula a um tempo de bons indicadores econômicos, sem refletir muito sobre como esses indicadores foram conquistados, sobre como Lula recebeu uma “herança bendita” de FHC e aproveitou um bom momento internacional, e sobre como o desastre veio assim que o PT implantou sua própria política econômica. Mas disso tudo os empresários e representantes do mercado financeiro – ao menos aqueles que não foram “amigos do rei” no passado, ou não tenham se deixado cegar pela ideologia – lembram muito bem, e isso pode explicar a relutância de Lula em se encontrar com eles.

Os grandes problemas atuais da economia nacional – inflação, desemprego, juros altos, real desvalorizado, saúde fiscal deteriorada – não serão resolvidos com aquilo que Lula vem prometendo; pelo contrário, eles serão agravados. Isso não é mera hipótese: já foi realidade menos de uma década atrás, quando o programa gastador e estatizante do petismo foi implantado e o resultado foi a maior recessão da história do país. Mas Lula não quer ter de ouvir isso, pois ele não teria resposta satisfatória a dar. É muito mais simples esconder-se e contar com a memória curta do brasileiro em outubro.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/do-que-lula-tem-medo/
Copyright © 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CORTE BILIONÁRIO NAS VERBAS FEDERAIS PARA A EDUCAÇÃO

 

MEC
Por
Ana Carolina Curvello, especial para a Gazeta do Povo

Predio do Ministerio da Educacao


Ministério da Educação (MEC).| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ensino superior brasileiro teve mais um corte na semana passada. O bloqueio de R$ 3,23 bilhões no Orçamento para universidades públicas e institutos federais foi anunciado pelo Ministério da Educação (MEC) em 27 de maio. O ato significa diminuição de 14,5% nas despesas discricionárias, que não são obrigatórias por lei, para cada unidade federal de educação.

Em nota, o MEC reforçou que “promove interlocução junto a equipe econômica do Governo, e demais agentes governamentais para que, assim que houver melhora no cenário econômico, os desbloqueios sejam realizados”.

O Ministério da Economia confirmou o novo bloqueio no orçamento, mas informou que o valor ainda não foi definido. “O tamanho dos bloqueios de cada ministério ainda não foi definido, e uma vez definido o bloqueio total para cada um, é o ministério que decide a divisão dessa restrição entre os órgãos”, explica a pasta.

A área econômica informou que o recente corte orçamentário é para abrigar novos recursos, sem descumprir o teto de gastos. Sendo assim, a assessoria especial do Ministério da Economia explicou que serão alocados R$ 4,8 bilhões em sentenças judiciais, R$ 2 bilhões para o Proagro, R$ 1,1 bilhão para o Plano Safra 21/22 e outro R$ 1,2 bilhão para o Plano Safra 22/23. Os valores correspondem ao que foi explicado em coletiva de apresentação do relatório de avaliação de receitas e despesas do segundo bimestre, realizada no dia 20 de maio.

Gastos discricionários x eficiência
O novo corte orçamentário irá variar de instituição para instituição, conforme repasse dos gastos discricionários feito pelo MEC. De acordo com as universidades, ele pode comprometer o pagamento de serviços terceirizados, compra de materiais e manutenção de equipamentos, entre outros gastos. Além disso, as instituições de ensino superior dizem que, a depender das verbas discricionárias, programas como bolsas de auxílio para estudantes e de pesquisas acadêmicas também podem ser afetados.

Para compreender o impacto desse bloqueio no orçamento da Educação em cada universidade, é importante perceber que cerca de 86% dos recursos das instituições federais de ensino são obrigatórios (pagamento de salários, em sua maioria) e não serão bloqueados. Uma universidade como a UFRJ, por exemplo, que tem orçamento anual da ordem de R$ 4 bilhões – mais do que muitos municípios brasileiros – tem 86% desse valor garantido, R$ 3,44 bilhões. Do restante, um pouco mais de R$ 560 milhões nesse caso, terá uma parcela do corte anunciado; se for próximo aos 14,5%, o valor congelado será de R$ 81,2 milhões.

Em uma audiência na Câmara dos Deputados para tratar do orçamento da Educação, realizada em agosto de 2021, o ex-ministro Milton Ribeiro destacou a necessidade de um aumento de 7,2% para as despesas discricionárias e disse que os gastos obrigatórios têm pressionado as outras despesas. Na época, o ex-ministro também foi bastante crítico sobre a aplicação correta dos recursos e ponderou que a  eficiência é mais importante do que a quantidade de recursos. “O problema todo é gestão”, ressaltou.

O ranking de Governança do Tribunal de Contas da União, por exemplo, divulgado em 2019, reforçou a necessidade de melhorar a qualidade dos gastos dos recursos públicos nas universidades. Segundo o levantamento, 86% das universidades obtiveram nota abaixo de 5, em uma escala de 0 a 10.

Ainda em 2019, ao tratar dos bloqueios no orçamento do MEC, o ex-ministro Abraham Weintraub mostrou, em uma audiência no Senado, que o Brasil “gasta como país rico e tem índices de país pobre”. No ensino superior, o Brasil investe US$ 14,3 mil por aluno, quase a média dos países da OCDE, US$ 15,7 mil. Com isso, está na 16ª posição de um total de 39 países, e gasta mais por aluno na universidade do que Estônia, Espanha, Portugal, Itália, México e Irlanda.

Mudança orçamentária desagradou instituições
A medida orçamentária desagradou representantes das universidades e foi apontada como “inadmissível” pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Em nota, a Andifes afirmou que a justificativa dada pelo governo federal para o corte não tem fundamento no próprio orçamento público. A associação critica “a redução contínua e sistemática”, desde 2016, para o custeio e investimento das universidades públicas e ressalta que o Orçamento de 2022 foi aprovado muito “aquém” do que era necessário.

O presidente da associação, reitor Marcus Vinicius David, disse em um vídeo publicado nesta quinta-feira (2) que os reitores estão empenhados em negociar com o governo federal. Ele informou que o conselho participou nesta semana de reunião com os ministros da Educação, Victor Godoy, e da Casa Civil, Ciro Nogueira, para tratar do bloqueio do Orçamento.

“Providenciamos agenda com o MEC e a Casa Civil, onde tivemos a oportunidade de relatar as gravidades financeiras das universidades. Nosso Conselho ouviu do ministro da Educação a justificativa de que, em função do curto espaço de tempo, não teve como aprofundar o estudo e por isso aplicou o corte linear em todas as unidades do MEC, mas ele prometeu lutar na tentativa de reverter esse bloqueio”, disse David.

Sobre a reunião na Casa Civil realizada no dia 1º de junho, o presidente da Andifes informou que o ministro Ciro Nogueira ficou de buscar uma solução para as universidades federais. “Ouvimos do ministro que, em que pese as dificuldades orçamentárias enfrentadas pelo governo, ele se empenharia em buscar uma solução para atenuar os nossos problemas”, disse.

“Constante redução”
Os cortes no orçamento na área da Educação não ocorreram apenas no governo atual. Segundo dados do MEC, que foram apresentados em uma audiência pública realizada em 2019 na Câmara dos Deputados, o maior corte no setor aconteceu em 2015, no início do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), quando a redução orçamentária de R$ 9,4 bilhões.

De acordo com o doutor em Educação e professor do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), Gregório Grisa, a redução nos investimentos para educação tem sido sistemática e, desde 2017, a área perdeu recursos que contabilizam aproximadamente R$ 74 bilhões. Ele afirma que boa parte desse contingenciamento se deve ao cumprimento do teto de gastos, que mudou os cálculos do regime fiscal da União, e à falta de prioridade no remanejamento de recursos.

“A educação não tem sido prioridade. Quando você avalia a despesa da educação com a despesa global da União, a educação perde espaço e sai de 6,5% da despesa global para 5,2%. A alocação para educação não é prioridade do atual governo assim como a ciência e tecnologia, o orçamento tem sido direcionado para outras áreas”, explica.

Segundo o Portal da Transparência, o orçamento do MEC em 2021 foi de R$ 120 bilhões, sendo a maior parte dos recursos destinada para gastos com pessoal e com transferências para complementação do Fundeb.

Sobre o aumento substancial com recursos humanos ao longo dos anos, o professor explicou que isso se deve a oferta de novos cursos e instituições de ensino que dobraram em comparação aos últimos 10 anos. Pelo último Censo do Ensino Superior, o aumento da rede pública de 2009 a 2019, foi de 32,4%.

“O número de funcionários cresceu porque as universidades e institutos dobraram e por isso cresceu o número de servidores. Em um período recente em que a gente tem uma estabilidade em relação ao número de servidores, o gasto obrigatório não cresceu – enquanto a folha cresceu R$ 4 bilhões, os gastos discricionários caíram R$ 16 bilhões – a matemática não fecha”, disse.

O pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV/DGPE), João Marcelo Borges, reforçou a “constante redução” nos investimentos federais em educação e declarou que o recente corte trará impacto para as universidades e institutos federais.

“Esse é um corte que já incide sobre uma base insuficiente para o financiamento do ensino superior e técnico no Brasil. O impacto será tremendo pois ainda estamos lidando com um momento de recuperação da pandemia, em meio a uma crise econômica gigantesca, com uma inflação alta e perda de renda. As universidades terão menos capacidade de arcar com os custos fixos e terão dificuldades para bancar a assistência estudantil, aumentando assim a evasão universitária”, explica.

Segundo o pesquisador, as reduções orçamentárias são naturais quando se tem uma recessão econômica. Porém, ele destaca que em outros governos as perdas educacionais foram menores em comparação com outros setores. “O corte agora anunciado incide sobretudo na educação, mas o mesmo ato do governo aumenta os gastos do Ministério da Integração Nacional. Isso é uma decisão política, cortar de um lugar e aumentar de outro”, avalia.

Impactos nas Universidades
Algumas universidades já começaram a calcular o impacto desse bloqueio na manutenção e custeio dos investimentos. Na Universidade de Brasília (UnB), a reitora Márcia Abrahão apresentou uma nota em que destacou que o corte representa um montante de R$ 36,6 milhões para a instituição – de um orçamento total de R$ 2 bilhões anuais.

“O recurso é direcionado basicamente para investimento em ciência, com a compra de equipamentos de laboratório e livros; para a manutenção do funcionamento das atividades, com o pagamento de serviços básicos como água e luz; e para garantir a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica”, explica.

Para a reitora da UnB, “o corte orçamentário coloca o Brasil na contramão do mundo. O país precisará de décadas para reverter as consequências da desvalorização da educação e da ciência sofrida sistematicamente a partir de 2016”.

A Universidade Federal do Pará (UFPA) também divulgou uma nota criticando o que chamou de “duro golpe” com o bloqueio de verbas orçamentárias. “O corte orçamentário, na UFPA, equivaleria à perda de R$ 28 milhões de um orçamento que já é R$ 10 milhões menor do que o de 2019, contra uma inflação de 18,89% no período. Uma condição de financiamento que já era crítica torna-se, neste momento, absolutamente insustentável”, afirmou reitor Emmanuel Zagury Tourinho. O orçamento anual da universidade é de R$ 1,59 bilhão.

Por meio de uma nota de repúdio, o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif) informou que o bloqueio no orçamento da educação profissional prejudica mais de 1 milhão de estudantes e pode acarretar demissão de terceirizados.

Repercussão no Congresso
A mudança no orçamento da educação repercutiu no Congresso Nacional após q pressão de estudantes e reitores de universidades federais, os quais cobraram uma posição do Parlamento.

O presidente da Comissão de Educação na Câmara dos Deputados, deputado Kim Kataguiri (União-SP), considera o corte “absolutamente inaceitável”, e informou que a comissão já tem uma audiência pública aprovada para debater os cortes na educação, ainda sem data definida até o momento. “Esse corte é absolutamente inaceitável, inviabiliza o funcionamento das universidades neste ano, principalmente os gastos com os alunos mais pobres que precisam de transporte, alimentação e muitas vezes até moradia. Já temos uma audiência pública aprovada para discutir esse tema e vamos trabalhar para trazer o relator do Orçamento e ter rubricas que o governo não possa cortar e nem contingenciar na LOA e LDO”, disse.

Já a deputada Professora Dayane Pimentel (União-BA), fez críticas aos “cortes de um lado para estancar outro” e reforçou que o Parlamento não pode se calar nesse momento de crise. “Precisamos enfrentar essa luta e ir para o debate. Na Bahia, algumas universidades e institutos federais não vão conseguir funcionar até o fim do ano. Duas instituições, o IFBA e a UFRB, já afirmaram que só conseguem funcionar até setembro. É um absurdo! Lutarei contra isso”, afirma a parlamentar.

Com o intuito de derrubar o decreto do governo Bolsonaro que dispõe sobre o corte na educação, o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) apresentou um Projeto de Decreto Legislativo (PDL 184). Segundo o deputado petista, áreas como o ensino público, saúde e pesquisas acadêmicas serão duramente afetadas. “Tais bloqueios podem levar a paralisia das atividades das universidades e do desenvolvimento científico no país. Vamos conclamar todo o Congresso Nacional para resguardar o orçamento que já havia sido aprovado e assim defendermos a Ciência, as Universidades e os Institutos Federais”, disse.

Parlamentares ligados à base do governo não quiseram se manifestar sobre o corte orçamentário.

Mensalidades como solução?
Na avaliação do deputado federal General Peternelli (União-SP), uma das soluções para evitar o corte de investimentos seria a cobrança de mensalidades em universidades públicas, assim como ele propõe na PEC 206/19. A proposta tem enfrentado resistência no Congresso Nacional.

De acordo com um estudo feito pelo Banco Mundial, um estudante em universidades públicas no Brasil custa de duas a três vezes mais que universitários em instituições privadas. Entre 2013 e 2015, o custo médio anual por estudante em universidades privadas sem e com fins lucrativos foi de aproximadamente R$12.600 e R$ 14.850, respectivamente. Em universidades federais, a média foi de R$ 40.900.

“Uma opção para aumentar os recursos das universidades federais – sem sobrecarregar o orçamento – seria a introdução de tarifas escolares. Isso é justificável, pois o ensino superior oferece altos retornos individuais aos estudantes e, com base em dados atuais, o acesso privilegia fortemente estudantes de famílias mais ricas. Assim, a ideia da PEC é, justamente, aumentar o recurso das universidades, facilitando o investimento.”, destaca o General Peternelli.

A discussão da PEC 206/19 na Comissão de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados foi adiada até o próximo ano, após um acordo firmado nesta semana entre os parlamentares da oposição e do governo.

© 2022, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...