quinta-feira, 14 de abril de 2022

JOVENS VOLTAM ÀS BALADAS APÓS A PANDEMIA

 

  1. São Paulo 

Jovens retomam o convívio social e voltam a lotar baladas em busca do ‘tempo perdido’ ao longo da pandemia

João Ker, O Estado de S.Paulo

Após dois anos de pandemia, os jovens que ficaram em casa agora voltam a lotar bares, boates e casas de show da capital, chegando mais cedo e voltando mais tarde em busca de recuperar o “tempo perdido”. O “after” depois das festas, apesar de existir há anos, também ganhou nova força diante da ansiedade para colocar o papo em dia e conhecer gente nova. A desobrigação do uso de máscaras, em março, foi o último sinal que a vida noturna precisava para voltar com toda a sua potência – ou pelo menos tentar.

“Esse tempo me fez crescer. Antes, tentava me encaixar onde ia, mas agora me entendo melhor. Troquei meus amigos, briguei com uns e me afastei de outros”, lembra o bailarino Guilherme Zoboli, de 20 anos. Sua primeira balada foi em novembro, 15 dias depois de ter tomado a segunda dose da vacina, porque até então tinha medo de prejudicar a saúde dos pais de 46 e 56 anos, com quem mora em São Bernardo do Campo. “Gosto de conhecer gente nova e a pandemia me privou disso. Achei que ia morrer.”

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Após flexibilização, notívagos se dizem mais seletivos e cuidadosos, mas assumem ânsia de varar a madrugada. São os chamados ‘inimigos do fim’ Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO

A maioria dos jovens admite ter se sentido confortável para retomar o convívio social e a vida noturna a partir da segunda dose de vacinação. “É muito mais por saber que, agora, a população está protegida e vacinada”, comenta o designer mineiro Leandro Costa, de 26 anos, que se diz “muito baladeiro desde sempre”, mas reconhece que algo mudou em si e na noite de São Paulo.

“Perdi muito tempo e quero ser mais feliz. Minhas prioridades mudaram. Agora saio para curtir as minhas amigas e não para ficar com alguém”, conta Maria Gentil, de 22 anos. Na noite da primeira sexta-feira de abril, ela foi ao Lions Nightclub, balada tradicional na região central, acompanhada de três amigas. Elas se conheceram no curso de publicidade da ESPM e ficaram praticamente a pandemia toda sem se ver.

A volta das baladas atiçou um hábito curioso na noite de São Paulo, observado tanto por quem frequenta quanto por quem comanda as casas de show e boates: o público tem chegado mais cedo, saído mais tarde e consumido uma quantidade maior de álcool. “Hoje quero usar meu tempo de uma forma melhor”, conta o fotógrafo Gustavo Ipólito, de 33 anos. “Sempre fui uma pessoa que saía mais cedo e voltava mais cedo. Hoje, costumo voltar de manhã.”

Bares do centro que serviam de ponto para o “esquenta”, antes de a noite começar, agora lotam até as primeiras horas da manhã, mesmo que boa parte do público tenha de ficar em pé na rua ou na calçada. São locais na Praça Roosevelt e no Largo de Santa Cecília.

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Casa cheia na Lions Nightclub: ‘Sinto aumento de consumo, de fluxo e de mistura, e maior permanência’, diz o empresário Cacá Ribeiro Foto: DANIEL TEIXEIRA/ ESTADÃO

Por definição, o “after” é tudo que vem depois da festa escolhida para aquela noite e pode acontecer tanto em uma segunda balada quanto na casa de alguém ou em um bar. A ideia é que a noite não tenha fim e, para isso, basta reunir os “mais chegados”.

Estadão acompanhou o movimento ao longo de uma noite no Lions Nightclub. A casa, que abre às 23h30 na sexta-feira, já estava praticamente lotada uma hora depois, e a fila do bar já impunha uma espera de quase 15 minutos para o atendimento. Na pista, o público dançava sem máscara e sem pudor sucessos novos e nostálgicos do pop, alguns deles lançados por artistas como Kylie Minogue, Lady Gaga e Dua Lipa durante a pandemia.

O empresário Cacá Ribeiro, de 59 anos e um dos sócios da Lions, investe na cena noturna de São Paulo desde 1992 e conta que agora vê algo “impensável” até então: um público disposto a chegar às 21h na boate e se misturar com outras tribos. Não é mais tão raro assim ver a galera do techno se misturar aos fãs de pop, à galera do rap ou quem mais apareça, uma fusão mais encontrada na noite carioca e que agora começa a dar as caras por aqui.

“Antes, cada noite tinha suas bordas bem definidas. Essas fronteiras agora estão ficando mais tênues. Sinto aumento de consumo, de fluxo e de mistura, e maior permanência. Os públicos estão mais misturados, nas três casas. O Baile do Leão, que seria a nossa noite mais hétero, está tendo atrações que iriam na Yatch, mais LGBTI+, por exemplo”, conta.  

Responsável também pelo Jerome e pela Yacht, Cacá é um caso de sucesso na noite paulistana e conseguiu manter as portas abertas dos três estabelecimentos, mesmo que tenha esperado quase dois anos para que eles voltassem a dar o lucro de antes. “Tivemos que segurar isso no limite do limite. Muitas vezes, é preferível colocar o pouco de dinheiro que é possível e manter os funcionários do que fechar o negócio e ter que arcar com esses custos”, explica.

Para outros, entretanto, fechar as portas foi inevitável, mesmo que a recuperação já esteja a caminho, como é o caso de André Almada, um dos nomes por trás da The Week, principal boate gay de alto padrão na ponte Rio-São Paulo. Durante a pandemia, as duas filiais da casa noturna nas capitais paulista e carioca encerraram o funcionamento.

Desde o fim do ano passado, Almada tem feito festas esporádicas nas duas cidades e, agora, anuncia que vai abrir uma nova boate nos próximos meses. “É claro que a pandemia impactou a economia como um todo, mas uma casa noturna é um espaço fechado com pessoas aglomeradas se divertindo. Era impossível reproduzir a experiência do encontro físico, de estar dentro de uma boate com seus amigos, com lives, por exemplo”, conta.

Empresários do setor noturno esperam que o prejuízo da pandemia seja recuperado em, no máximo, três anos. “Acho melhor retomar o trabalho e não fazer conta do passado, viver para o futuro”, observa Facundo Guerra, empresário de 48 anos responsável por casas como o Cine Jóia e a nova versão do L’Amour, que deve estrear mais tarde este ano. “Tem gente que perdeu a vida.Se eu perdi só dinheiro e tempo tá ótimo.”

OS MERCADOS DE LUXO SÃO IMUNES À TURBULÊNCIAS E CRISES

 

Luiza Castanho, mentora em empreendedorismo

3 gatilhos importantes para você virar a chave do seu produto ou negócio e vencer no mercado de luxo

Nesse segmento, imune a crises, é preciso oferecer algo diferenciado, carregado de valor, capaz de despertar o desejo do cliente – o tal sonho de consumo. Luiza Castanho, mentora em empreendedorismo, mostra o mapa da mina

Que empreendedor nunca quis oferecer um produto de alto valor em todos os sentidos, não apenas relacionado a preço, propriamente dito, capaz de despertar uma espécie de desejo ou sonho de consumo coletivo?

Conquistar algo assim é mergulhar, com sucesso, no mercado de luxo, geralmente imune às turbulências geradas por todos os tipos de crise. Para se ter ideia, esse segmento teve, no país, em setembro de 2021, um crescimento médio de 51,74%, comparado ao mesmo período de 2020, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael). E, se em 2020, a receita desse mercado ultrapassou os cinco bilhões de dólares, a projeção é de um crescimento de 3% até 2025.

Para inserir um produto ou um negócio nesse segmento, é preciso entender algumas coisas. Luiza Castanho, mentora em empreendedorismo, mostra os gatilhos mais importantes para quem deseja mergulhar, com êxito, nesse universo de negócios:

Maestria profissional. Entende-se por isso a capacidade de gerar valor acima da média. Inclusive financeiro. Esse é o requisito básico para que o seu produto ou negócio esteja inserido no mercado de luxo.

É produzir algo diferenciado, raramente ou nunca visto, que faz com que as pessoas paguem mais pelo que está sendo oferecido a elas, entendendo isso sem questionamentos. “É fugir daquela guerra de preços, tão comum quando se trata de produtos ou negócios genéricos”, explica Luiza.

Comprometimento com a excelência. Essa diferenciação que o mercado de luxo pede está relacionada a aspectos de sofisticação em todo processo que envolve o produto ou o negócio. No de produção, por exemplo, mão de obra e matéria-prima devem se destacar pela qualidade excepcional. Quando se trata de serviços prestados, agilidade e raridade são requisitos que andam de mãos dadas. “A ideia é oferecer uma experiência única ao cliente, para que ele perceba, facilmente, uma mudança na vida dele, e compreenda que não é mais possível ficar sem isso”, diz Luiza.

Construção da marca. Quando se cria um produto diferenciado, consolida-se, acima de tudo, uma marca, que faz com que os produtos produzidos por ela estejam em outro patamar, de modo que sejam desejados por muitos, independentemente da classe econômica.

Esse posicionamento é também imprescindível para se destacar nessa seleta prateleira do mercado de luxo. Agora, não se engane: o fato de custar mais, não significa que esse produto seja inacessível. Há pessoas que economizam a vida toda para um dia terem, ao menos, um desses objetos de desejo.

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

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A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

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  • No país, as lojas online, que também contam com lojas físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
  • O número de visitantes do Site da Valeon tem crescido exponencialmente, até o momento, tivemos 83.000 visitantes.
  • O site Valeon oferece ao consumidor a oportunidade de comprar da sua loja favorita pelo smartphone ou computador, em casa, e ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez.
  • A Plataforma Comercial da Valeon difere dos outros marketplaces por oferecer além da exposição das empresas, seus produtos e promoções, tem outras formas de atrair a atenção dos internautas como: empresas, serviços, turismo, cinemas e diversão no Shopping, ofertas de produtos dos supermercados, revenda de veículos usados, notícias locais do Brasil e do Mundo, diversão de músicas, rádios e Gossip.

                                                                                                                                                                   Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.

Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?

Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.

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quarta-feira, 13 de abril de 2022

NO FUTURO O BRASIL PODERÁ SER O QUINTO MAIOR EXPORTADOR DE PETRÓLEO DO MUNDO

 

Investimentos em produção

Por
Cristina Seciuk – Gazeta do Povo

Navio-plataforma FPSO Carioca no campo de Sépia, no pré-sal da Bacia de Santos: Brasil pode se tornar o quinto maior produtor e exportador de petróleo do mundo até o início da próxima década.| Foto: Agência Petrobras

Com dificuldade para elevar a produção no curto prazo, o Brasil não tem como aproveitar a janela de oportunidade que se abriu para exportadores de petróleo após a invasão russa na Ucrânia. Mas, em razão dos investimentos já feitos e dos programados para os próximos anos, deve aumentar sua produção de petróleo em 78% entre 2022 e 2031 e pode alcançar o posto de quinto maior exportador do mundo.

Em 2021, o Brasil exportou quase 483 milhões de barris, ou 1,3 milhão de barris por dia, o que representa 45,5% da produção nacional, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior e da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Foi o segundo maior volume vendido para o exterior, atrás apenas do recorde de 2020 (com mais de 500 milhões de barris exportados), e a maior receita de exportação da história, de US$ 30,6 bilhões, graças à alta dos preços do barril.

As sanções aplicadas ao óleo russo redirecionaram parte da demanda mundial, ainda que com incerteza sobre a continuidade desse movimento. No entanto, especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo avaliam que o Brasil não tem condições de alavancar prontamente a sua produção para patamares superiores ao atual, ficando de fora das movimentações provocadas pelo conflito.

Na avaliação de Rafael Schiozer, professor de finanças da FGV/EAESP, no curto prazo não há chance de avanço substancial no volume extraído.

“Em especial em campos marítimos, como é a produção brasileira, não se pode aumentar [a produção] do dia para a noite. O aumento de produção no Brasil depende de investimentos que vão maturando. Se a Petrobras resolver explorar um campo novo hoje vai demorar no mínimo três ou quatro anos para começar a produzir nele. Tem todo um investimento em plataformas, perfuração de poços”, diz Schiozer.

Por outro lado, avalia o especialista, o aumento na produção no médio prazo é certo, em razão dos investimentos já feitos. Segundo ele, o país tem campos que devem permitir uma escalada nas exportações dentro dos próximos cinco ou dez anos.


A perspectiva também é de que o saldo entre as importações e exportações de petróleo comece a pender mais pesadamente para o lado das vendas ao exterior. “O Brasil é um exportador líquido, mas por margem muito pequena”, aponta Schiozer.

Para Adilson de Oliveira, professor titular do Instituto de Economia da UFRJ, “o Brasil certamente será mais forte como país exportador de petróleo”, com a expectativa já prevista de incremento de mais de um milhão de barris por dia na produção nacional, fruto dos investimentos concretizados ou em desenvolvimento.

Conforme o novo Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE), lançado pelo Ministério de Minas e Energia no início de abril, a produção brasileira de petróleo deve ter incremento médio de 6% ao ano na próxima década, alcançando 5,2 milhões de barris ao dia em 2021, ante 2,9 milhões de barris/dia em 2021.

Ainda de acordo com o MME, são esperados investimentos da ordem de R$ 2,496 bilhões em exploração e produção de petróleo no período. Com essa previsão de aportes, o crescimento deve se manter para além da janela traçada pelo PDE 2031 e a evolução traçada, segundo o ministério, tem potencial para colocar o país na quinta posição entre os maiores produtores de petróleo do mundo em 2031. Hoje, o Brasil ocupa a nona posição, de acordo com dados da British Petroleum, e sobe para a oitava se for considerada apenas a produção de óleo cru.

Na frente do país no ranking de maiores produtores de petróleo em 2020 apareceram Irã (8º), Emirados Árabes (7º), China (6º) e Iraque (5º). Os quatro primeiros na listagem são EUA, Arábia Saudita, Rússia e Canadá.

Guerra não mexe com produção, mas novos mercados seguem no horizonte
Detentora da maior fatia de produção de petróleo e gás natural no país, com cerca de 95% do total, a Petrobras informou à Gazeta do Povo que o conflito no Leste Europeu não alterou sua projeção de produção – com incremento de 20% entre 2022 e 2026 – e que o portfólio de compradores dos petróleos da companhia “permanece similar ao historicamente observado”.

A empresa não respondeu se recebeu demandas formais por parte de novos compradores ou para incrementos em contratos já existentes, mas afirmou que segue “monitorando o mercado, buscando sempre os refinadores que mais valorizam as correntes de pré-sal”, que produzem óleo leve e encarado internacionalmente como de boa qualidade.

Para efeito comparativo, em 2020 a Petrobras vendeu ao exterior 713 mil barris ao dia, o que representou cerca de 30% da sua produção total e 52% das exportações brasileiras naquele ano, quando o país somou 500 milhões de barris exportados, conforme dados gerais do Anuário Estatístico de 2021 da ANP.

Ainda de acordo com a agência reguladora, o principal destino do petróleo brasileiro é o continente asiático, com especial destaque para a China, que aparece isolada no posto de maior compradora de petróleo brasileiro. Em 2020, ela comprou 292 milhões de barris do Brasil, 58,4% do volume total exportado pelo país.

Completam a lista dos cinco maiores importadores de petróleo brasileiro os Estados Unidos (35,9 milhões de barris), Índia (28,9 milhões de barris), Espanha (26,3 milhões de barris) e Portugal (20 milhões de barris).

Segundo a Petrobras, seus principais mercados individuais são EUA, Europa e América Latina, além de países asiáticos como China e Índia.

Em nota à Gazeta do Povo, a Petrobras destacou que o conflito entre Rússia e Ucrânia representa novas fontes de incerteza, somadas a outras variáveis consideradas críticas e que já eram acompanhadas pela companhia, como o comportamento da pandemia de Covid-19 e o nível de investimentos em expansão da produção de petróleo.

“A combinação de todas essas incertezas torna muito difícil para todas as empresas e analistas antecipar o que se pode esperar do mercado de petróleo não só em 2022 como também nos próximos anos”, afirma a petroleira, ao destacar que “ambientes incertos como esse reforçam a necessidade de mantermos a nossa abordagem para a gestão de portfólio que prioriza a preservação de ativos rentáveis e resilientes em diferentes condições de mercado”.


Exportação de petróleo além da Petrobras
Em seu Plano Estratégico, que traça ações para o período 2022-2026, a Petrobras vislumbra a concentração da atividade na produção do petróleo bruto, com foco em ativos de águas profundas e ultraprofundas – caracterizadas pelo custo mais baixo de extração e de menos emissão de carbono – como diferencial competitivo.

O objetivo traçado pela estatal é criticado por Adilson de Oliveira, da UFRJ, por trazer também a opção por desinvestimentos em refinarias.

Para o professor, a medida representa risco à segurança energética do país. “A Petrobras praticamente abandonou os investimentos em refino e nós, um pouco paradoxalmente, vamos ser um grande exportador de petróleo e um grande importador de derivados de petróleo”, diz.

Na avaliação do especialista, a empresa renuncia ao seu próprio mercado – o doméstico – e impõe ao país a “recompra” da produção sob a forma de derivados. “O maior problema não é nem o custo, o problema é a insegurança energética. No Brasil, que é um país totalmente rodoviário, a segurança do abastecimento é fundamental. Imagine o Brasil sem condições de importar diesel: todos os sistemas de transporte de mercadorias ficariam paralisados”, afirma.

Sob outra perspectiva, Schiozer pondera que nem todas as refinarias brasileiras estariam preparadas para beneficiar o óleo de produção nacional. “A questão principal é o tipo de óleo que a gente produz. Parte dele, em especial o óleo da Bacia de Campos (cuja produção já está declinando), é de óleos pesados e as refinarias brasileiras em geral não estão preparadas para refiná-lo. Então, o Brasil manda esse óleo para refinarias principalmente nos Estados Unidos e importa um óleo mais leve, que é adequado às nossas refinarias”, diz o especialista.

O especialista da FGV diz que “o Brasil não é só a Petrobras” e que não se deve erguer barreiras ao investimento estrangeiro no setor. “Tivemos essa política de concentrar o mercado de exploração e produção nas mãos da Petrobras, o que se mostrou ruim. Estamos voltando para um cenário em que as empresas podem vir aqui e investir livremente, isso é benéfico para o Brasil”, afirma, em referência à participações de companhias estrangeiras em leilões de exploração.

“Como exportador, é importante para o Brasil que outras empresas venham para cá, acelerem esse processo de investimentos de exploração e produção no Brasil. É dinheiro que entra aqui e mais produção que sai, como exportação”, completa.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/brasil-pode-ser-o-quinto-exportador-de-petroleo-do-mundo-em-dez-anos/
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A INFLAÇÃO NO BRASIL ACELERA MAIS DO QUE DEVIA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Com alta nos preços dos combustíveis, o setor de transporte teve maior peso na inflação em março.| Foto: Fernando Bizerra Jr/EFE

Uma “surpresa”, nas palavras do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. A inflação de março acelerou para 1,62%, batendo dois tristes recordes: esta é a maior inflação para o mês de março desde o período de transição para a implantação do real, em 1994; e também é o maior avanço mensal nos preços desde os 2,25% de janeiro de 2003. Com isso, o IPCA deste primeiro trimestre de 2022 foi de 3,20%, já encostando na meta do ano todo, que é de 3,50%; além disso, o índice acumulado dos últimos 12 meses saltou para 11,30%. E, por mais que março tenha sido um mês marcado por eventos atípicos, não há como atribuir apenas a eles a atual dinâmica inflacionária brasileira, como também lembrou o presidente do BC.

Como tem ocorrido com frequência nos últimos meses, novamente o grupo de transportes jogou o IPCA para cima com bastante força. No mês passado, a Petrobras autorizou um reajuste médio de 18,77% na gasolina e 13,65% no diesel, com aumentos menores, embora ainda significativos, para outros combustíveis – a decisão foi o estopim para a decisão do presidente Jair Bolsonaro de substituir o general Joaquim Silva e Luna no comando da estatal. O transporte coletivo subiu em várias capitais, especialmente Curitiba (22%) e Belém (11%). O grupo “alimentação e bebidas” também contribuiu para a aceleração da inflação, seja porque os custos de transporte subiram com o aumento dos combustíveis, seja por questões climáticas – que afetam, por exemplo, a soja – ou devido ao ataque russo contra a Ucrânia: os dois países respondem por cerca de 30% das exportações mundiais de trigo e 20% das de milho, e o conflito elevou o preço de ambas as commodities.

A pressão inflacionária praticamente anulou a boa notícia do mês, que foi a valorização do real

Por mais que apenas esses dois grupos (transporte e alimentação) tenham respondido por 43% da inflação de março, os dados do IBGE mostram que o aumento é generalizado – Campos Neto, em sua fala, mencionou especificamente o caso do vestuário, grupo que teve alta de 1,82%. Dos nove grandes grupos de produtos e serviços medidos pela instituição, apenas “comunicação” teve deflação de 0,05%, o que é mais uma estabilidade que uma redução real. O índice de difusão, que mede o quanto as altas de preços estão espalhadas na cesta de quase 400 itens medidos pelo IBGE, foi de 76% em março, contra 75% no mês anterior. A pressão inflacionária praticamente anulou a boa notícia do mês, que foi a valorização do real – um fenômeno que pode não durar, caso as economias desenvolvidas, especialmente a norte-americana, elevem seus juros para conter a inflação que também por lá está escapando do controle, embora em menor grau que no Brasil.

As perspectivas para os próximos meses são mais animadoras graças ao fim da bandeira tarifária de escassez hídrica, que elevou o custo da energia elétrica desde meados do ano passado – em seu lugar, passa a valer a bandeira verde, a mais barata, que não tem cobrança de sobretaxas. Assim como os combustíveis, a energia é o tipo de despesa que tem reflexos em muitos outros produtos e serviços, já que ao menos parte de seu custo acaba repassado ao consumidor final. Economistas ouvidos pela Gazeta do Povo acreditam que a mudança de bandeira deve reduzir o IPCA em 80 a 90 pontos-base, divididos entre abril e maio, já que a bandeira verde entra em vigor neste sábado. Com isso, há previsões de inflação próxima a zero em maio. Como há grandes chances de que não haja nova alteração na bandeira este ano, mesmo durante o período mais seco, ao menos um fator de pressão inflacionária estará contido.


A próxima reunião do Copom está marcada para o início de maio, antes que seja conhecido o IPCA de abril. No encontro anterior o órgão já havia antecipado mais uma elevação nos juros; como a inflação surpreendeu para cima, não há razão para supor que a promessa de subir a Selic mais um ponto não será cumprida. Juros maiores podem seguir chamando dólares, mas também atrapalham e muito a retomada do crescimento econômico, a geração de empregos e a trajetória da dívida pública.


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ELEIÇÕES NA FRANÇA E A CANDIDATA DA DIREITA QUE TEM PENSAMENTO ESQUERDISTA

 

Eleição na França

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo

A candidata direitista cumprimenta apoiadores em Vernon, norte da França, nesta terça-feira (12)| Foto: EFE/EPA/YOAN VALAT

Na sua terceira tentativa de chegar ao Palácio do Eliseu, Marine Le Pen, 53 anos, disputará em 24 de abril o segundo turno da eleição na França contra o atual presidente, Emmanuel Macron, que a derrotou também em segunda votação em 2017.

Embora o candidato centrista tenha sido o mais votado no primeiro turno e lidere as pesquisas para o segundo com uma vantagem entre dois e dez pontos (segundo diferentes levantamentos), a direitista tem a melhor chance das suas três candidaturas presidenciais de ser eleita: após não chegar ao segundo turno em 2012, a diferença agora parece estar bem abaixo dos mais de 30 pontos percentuais que a separaram de Macron na disputa final há cinco anos.

Le Pen se beneficiou desta vez por um discurso focado nos aumentos dos preços e do custo de vida, grandes preocupações dos franceses, e por ter abrandado o discurso eurocético e anti-imigração (especialmente contra muçulmanos) que a tornou conhecida.

Entretanto, essa plataforma segue no seu programa de governo. Entre outros pontos, a candidata quer limitar a chegada de imigrantes relacionada a conexões familiares e ao direito de asilo, proibir o uso do véu islâmico em todos os espaços públicos e priorizar cidadãos franceses sobre estrangeiros e asilados em programas de habitação e outros serviços públicos.

Em outros pontos, porém, Marine Le Pen tem posições que podem surpreender (ou decepcionar) quem tem uma imagem dela já formada. Confira alguns deles:

Ela é aliada de Putin
Le Pen disse admirar o presidente russo, Vladimir Putin, por “colocar os interesses da Rússia e do povo russo em primeiro lugar” em 2014, mesmo ano em que seu partido, a Frente Nacional (que a partir de 2018 passou a se chamar Reagrupamento Nacional), obteve empréstimos que somaram cerca de 11 milhões de euros junto a bancos ligados ao Kremlin.

Le Pen também alegou que a anexação da península ucraniana da Crimeia promovida por Putin não foi ilegal e que o plebiscito que aprovou a incorporação foi uma votação “incontestável”, o que não é reconhecido pelo Ocidente. Em 2017, ela pediu que sanções aplicadas à Rússia fossem retiradas e visitou Putin no Kremlin.

Porém, temendo desgaste em razão da guerra que o presidente russo iniciou em fevereiro, Le Pen vem defendendo “a integridade territorial” da Ucrânia e o acolhimento de refugiados da ex-república soviética. Também apoiou sanções devido à invasão deflagrada no mês retrasado, mas afirmou que elas não deveriam ser aplicadas ao gás e ao petróleo russos.

Ela é pró-aborto
Em uma entrevista em 2014, Le Pen disse que “ninguém pode ficar feliz” com um aborto e defendeu a implementação de políticas para ajudar mães sem condições econômicas durante a gestação, mas não se opôs à legalidade do procedimento. “A proibição [do aborto] não é o caminho”, alegou.

Le Pen tem defendido a manutenção da legislação francesa sobre o aborto. A interrupção voluntária da gravidez até a décima semana de gestação foi legalizada no país em 1975. O limite foi estendido para 12 semanas em 2001 e para 14 semanas este ano.

Convicções da Gazeta do Povo: Defesa da vida desde a concepção

Em 2016, sua sobrinha Marión Maréchal-Le Pen, que era deputada na Assembleia Nacional francesa, disse que numa eventual presidência da tia a legislação sobre o aborto na França seria mudada, mas Marine e o partido de ambas negaram.

Florian Philippot, coordenador da campanha de Le Pen em 2017, afirmou ao The Guardian que temia que mulheres jovens achassem que a candidata pretendia proibir o aborto. “É totalmente falso e prejudicial para o nosso segundo turno”, destacou.

Seu programa econômico tem afinidade com a esquerda
Nas suas cinco candidaturas à presidência da França, Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, defendeu uma agenda econômica de direita: livre mercado e Estado mínimo. Várias propostas de sua filha nessa área, porém, estão mais próximas da esquerda.

Marine Le Pen quer priorizar produtos franceses em pregões do governo, reduzir a idade mínima de aposentadoria para 60 anos para quem começou a trabalhar antes dos 20 e manter a de 62 anos para os demais – Macron quer elevar para 65. “Você percebe o que representa a aposentadoria aos 65 anos? É algo completamente injusto”, disse, em entrevista à BFM TV.

A candidata também quer eliminar o imposto de renda para quem tem menos de 30 anos, reduzir o imposto sobre energia de 20% para 5,5%, gastar 2 bilhões de euros em cinco anos para aumentar os salários dos funcionários da saúde e recrutar mais 10 mil deles, além de aumentar em 15% os salários dos professores até 2027.

Macron alegou que o programa da sua adversária criaria desemprego em massa porque afastaria investidores estrangeiros e não se sustentaria em termos orçamentários.

Desistiu do “Frexit” – mas ainda é eurocética
Um político do Reagrupamento Nacional disse à revista Time que um referendo para tirar a França da União Europeia (o “Frexit”) não está sendo cogitado dessa vez, mas a antipatia de Le Pen pelo bloco continua.

Ela pretende reduzir as contribuições da França para a UE e promover uma coalizão com países governados por políticos com quem tem afinidade, como Hungria e Polônia, governados pelo primeiro-ministro Viktor Orbán e pelo presidente Andrzej Duda, respectivamente.

Quanto à OTAN, a aliança militar do Ocidente, ela quer retirar a França da estrutura de comando integrada da organização, “para não ser mais envolvida em conflitos que não são nossos”.


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JUÍZES DO STF CRITICAM O GOVERNO NO EXTERIOR E DEMONSTRAM SIMPATIA POR LULA

 

Antigo Bolsa Família

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Ex-ministro da Cidadania, João Roma, em cerimônia de entrega de cartões do Auxílio Brasil, que substituiu o Bolsa Família.| Foto: Isac Nóbrega/PR

A Associação Brasileira de Incorporadores Imobiliários está entusiasmada com a reação do mercado imobiliário. No último trimestre levantado, de novembro/21 a janeiro/22, os lançamentos de imóveis cresceram 42% em relação a igual trimestre do período anterior. Isso é construção civil, a base de emprego, que dá mais emprego e para as pessoas que estão começando no mercado de trabalho.

Agora vejam que interessantes esses números. O número de beneficiários do Auxílio Brasil supera o número de pessoas com carteira assinada em 12 estados do Norte e do Nordeste. Isso só não ocorre, nessas regiões, no Rio Grande do Norte e em Roraima. No Maranhão, 1,1 milhão de pessoas recebem o Auxílio Brasil e apenas 529 mil têm emprego formal. Isso é mais que o dobro. No Brasil inteiro são 18 milhões de beneficiários do Auxílio e 41 milhões de pessoas com carteira assinada.

Como fica a isenção
Dois ministros do Supremo Tribunal Federal participaram do tal seminário Brazil Conference, em Boston (EUA), no último domingo (10). Ricardo Lewandowski criticou o governo, Luis Roberto Barroso também. E aí a gente se pergunta: mas eles podem fazer isso? Não, não podem.

Eles perderam totalmente a imparcialidade, a isenção, que um juiz deve ter, principalmente do Supremo, que tem que ser modelo para os outros. Fica uma situação estranha porque quando forem julgar alguma coisa relativa às eleições no TSE ou mesmo no STF, eles serão suspeitos, já que elogiaram um candidato e criticaram outro. Sinceramente, não consigo entender essas manifestações.

Cassação à vista
Por grossura ou ausência completa de cavalheirismo, coisa que está ficando rara nesse país, o deputado estadual Arthur do Val, o “Mamãe Falei” – cuja mãe não lhe ensinou educação, principalmente em relação às mulheres –, será cassado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. A Comissão de Ética da Casa aprovou nesta terça-feira (12), por 10 votos a zero, o relatório que recomenda a cassação do mandato dele.

Conspiração contra Tebet
Na noite de segunda-feira (11) ocorreu um jantar na casa de um prócer do MDB, em Brasília, para conspirar contra a candidatura presidencial da senadora Simone Tebet (MS). Lula foi o convidado de honra. Também estavam presentes seis dos 12 senadores do MDB, entre eles Jader Barbalho (PA) e Renan Calheiros (AL).

O ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (CE), que já foi ministro de Lula, foi o anfitrião da noite. Ele negou que estivessem conspirando. Disse que ninguém estava traindo Tebet e que se tratava apenas de um encontro para debate de ideias.

Enquanto isso, a senadora estava em São Paulo conversando com o presidente do MDB, Baleia Rossi, e o ex-presidente da República Michel Temer, para tratar da campanha. Ela já foi escolhida pelo partido para disputar a indicação de uma candidatura única da aliança que o MDB articula com o União Brasil e o PSDB.

Esse jantar do Eunício, por si só, já tem eloquência suficiente para demonstrar que foi uma reunião de conspiração para deixar a senadora sozinha e aderir à candidatura Lula.


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O INÚTIL PROJETO DAS FAKE NEWS

 

Na Câmara

Por
Thaméa Danelon – Gazeta do Povo

PL das fake news já foi aprovado pelo Senado e agora aguarda análise da Câmara dos Deputados| Foto: Rodrigo Viana/Agência Senado

O projeto das fake news (PL 2.630/20) foi apresentado pelo senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) com o propósito de instituir uma lei de liberdade, responsabilidade e transparência na internet. O PL apresenta mais de 30 artigos, contudo, somando-se todos os parágrafos e incisos tem-se o expressivo número de mais de 90 dispositivos da lei, ou seja, um PL completamente extenso, prolixo e subjetivo, o que seria disfuncional, pois uma lei adequada e boa é aquela composta de poucos artigos, com normas curtas, claras e objetivas.

Quanto mais uma lei “fala”, quanto mais diversos são os assuntos tratados, mais teremos uma ampla margem para subjetivismos, paradoxos e pouca compreensão, impedindo, assim, que a norma seja entendida de forma adequada pela população e possibilitando também uma “interpretação” – e possivelmente alteração – pelo Judiciário.

Esse projeto de lei, de acordo com seu texto, visaria garantir “a ampla liberdade de expressão, comunicação e manifestação do pensamento” e também o “impedimento da censura” no ambiente online. Entretanto, tais objetivos já estão escritos na Constituição Federal em seu artigo 5º, incisos IV, e IX, ao prever, respectivamente, ser livre a manifestação do pensamento e a expressão da atividade intelectual, independentemente de censura ou licença.

Logo, havendo a previsão desses direitos fundamentais no texto constitucional, não há qualquer necessidade de uma nova lei para  “assegurar” direitos já previstos na carta magna e que são inerentes a qualquer brasileiro ou estrangeiro residente no país.

No que se refere ao conteúdo da lei, alguns pontos devem receber atenção: o PL  diz que a referida lei tem como objetivo o “fomento ao acesso à diversidade de informações na internet”, entretanto nos parece que o PL visa exatamente o contrário, pois traz limitações à livre manifestação do pensamento, quando, em seu artigo 9º, pretende que os provedores de internet limitem o número de encaminhamento de uma mesma mensagem a usuários ou grupos.

Qual seria a lógica dessa limitação? Por que uma mensagem através de aplicativos não poderia atingir mais de cinco usuários? A quem interessa limitar o número de membros de um grupo de aplicativos de mensagens? Essa determinação não estaria de acordo com os preceitos constitucionais de liberdade de expressão e de livre manifestação do pensamento, mas estaria caminhando de mãos dadas com as limitações ao livre pensar, tolhendo as pessoas de difundirem suas ideias e convicções.

O artigo 11º desse projeto de lei proíbe a comercialização de ferramentas voltadas para o encaminhamento em massa de mensagens, e determina que o encaminhamento em massa ocorre quando a mensagem for enviada para cinco ou mais pessoas. Como o pequeno número de cinco indivíduos pode ser considerado uma “massa”? Além disso, qual seria a justificativa para se proibir ferramentas que possibilitem impulsionamento para grandes grupos? Essa limitação estaria fomentando a liberdade de expressão ou a limitando?

Um outro ponto que reputo delicado é a criação de um conselho que realizaria estudos, pareceres e recomendações sobre a liberdade e responsabilidade na internet. Esse conselho seria formado por 21 membros, sendo indicados pelo Senado, Câmara dos Deputados, CNJ e CNMP, dentre outros. Analisando-se as atribuições desse conselho, percebe-se que seria muito semelhante ao Ministério da Verdade (embora na prática este fosse um verdadeiro tribunal da mentira e de alteração da história) existente na obra 1984 de George Orwel.

Além de limitar a constitucional liberdade de expressão, o aludido conselho traria uma ampla burocracia repleta de subjetivismos, pois não cabe ao Estado definir o que pode e o que não pode ser postado nas redes sociais. É indiscutível que nenhum direito é absoluto, ou seja, em determinadas situações inúmeras garantias podem ser mitigadas, como a própria liberdade de expressão, pois nossa legislação não admite, e de forma acertada, divulgação de conteúdos nazistas, racistas, ameaçadores ou que ataquem a honra do indivíduo; e caso ocorram práticas como essas já há previsão da ocorrência de diversos crimes com as consequentes punições.

Desta forma, a legislação brasileira já trata de condutas e reprimendas para aqueles que excedem a sua liberdade de expressão e cometam crimes, assim, completamente desnecessária a criação deste conselho que, seguramente, caso aprovado, resultará em elevação de gastos públicos e em um controle nada democrático à livre manifestação do pensamento. Ademais, competirá a esses conselheiros definir o que é verdade ou mentira? Será que, eventualmente, serão censurados e perseguidos somente seus desafetos políticos? Ou indivíduos com ideologia distinta desses conselheiros?

O PL em análise já foi aprovado em sua casa originária, ou seja, o Senado Federal, e aguarda sua apreciação na Câmara dos Deputados. No dia 6 de abril último, foi votado um requerimento de urgência para apreciação do PL das Fake News. Entretanto, não foram obtidos os necessários 257 votos para sua aprovação; e, de fato, não vislumbro qualquer urgência para a análise de um projeto de lei completamente prolixo, desnecessário e que, em vez de fomentar o livre trânsito de ideias, apenas limita, controla e cerceia a liberdade de expressão, reduzindo, também, a obtenção de informações através dos mais variados meios, e atenta diretamente contra o preceito constitucional previsto no artigo 5º, inciso XIV, qual seja “é assegurado a todos o acesso à informação”.


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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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