domingo, 10 de abril de 2022

ELEIÇÕES NESTE DOMINGO PARA PRESIDENTE DA FRANÇA

 

Primeiro turno

Por
Fábio Galão – Gazeta do Povo

Cartazes de campanha dos dois favoritos expostos lado a lado em Paris: Marine Le Pen e o atual presidente, Emmanuel Macron| Foto: EFE/Rafael Cañas

Neste domingo (10), os franceses vão escolher o presidente do país pelos próximos cinco anos entre 12 candidatos. As pesquisas apontam que a eleição deve ir para o segundo turno, marcado para 24 de abril, e que será a escolha presidencial francesa mais acirrada desde 2012, quando o socialista François Hollande bateu o então presidente Nicolas Sarkozy em segunda votação por apenas três pontos percentuais (51,6% a 48,4%).

O atual presidente, o social-liberal Emmanuel Macron, e a direitista Marine Le Pen aparecem nos dois primeiros lugares nas pesquisas e devem repetir o embate de 2017. Naquela votação, Macron teve uma vantagem pequena sobre sua adversária no primeiro turno, com 24,01% contra 21,3% dos votos válidos.

A diferença é que cinco anos atrás as pesquisas feitas antes da primeira votação já indicavam que Macron venceria facilmente no segundo turno, com mais de 60% dos votos, o que realmente acabou acontecendo: ele teve 66,1% dos votos válidos e Le Pen, 33,9%.

Este ano, Macron chegou a abrir em meados de março 12 pontos percentuais de vantagem no primeiro turno nas pesquisas, mas essa diferença foi se reduzindo e um levantamento divulgado na sexta-feira (8) pelo instituto Elabe mostrou que ele e Le Pen estão empatados dentro da margem de erro (que é de 1 a 2,8 pontos percentuais), com 26% preferindo o atual presidente e 25% a sua principal adversária.

Os candidatos mais próximos dos dois são o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (17,5%), o direitista Éric Zemmour, com 8,5%, e Valérie Pécresse, de centro-direita, com 8%.

E desta vez, ao contrário de 2017, as simulações de segundo turno feitas antes do primeiro indicam que Macron está ameaçado: a pesquisa do Elabe mostrou o presidente com 51% da preferência do eleitorado e Le Pen, com 49% – novamente, empate técnico.

Acertos de Le Pen e erros de Macron
Analistas são unânimes em apontar que a candidata direitista está conseguindo atrair eleitores mais ao centro porque atenuou sua agenda anti-imigração e anti-União Europeia – ajudou também o fato de que Zemmour tem um discurso mais agressivo nessa área.

Além disso, Le Pen focou sua campanha nos aumentos dos preços e do custo de vida, grandes fontes de desgaste para Macron.

O presidente também foi criticado por se recusar a participar de debates e parte da população francesa se revoltou com os passaportes vacinais impostos pelo governo – indignação amplificada por uma declaração de Macron, de que pretendia “irritar” os não vacinados com medidas restritivas até que decidissem se imunizar.

Outro erro foi ter demorado a entrar na campanha, já que o atual presidente priorizou nas últimas semanas a resposta à invasão russa à Ucrânia. A princípio, isso levou Macron a disparar nas pesquisas em meados de março, mas depois sua vantagem foi diminuindo.

“De certa forma, a guerra lhe serviu perfeitamente no início: seria uma espécie de não campanha, com um presidente que se mostrava supervisionando tudo, como um pai protetor”, disse Raphaël Llorca, especialista em comunicação, ao site Politico. “Mas o grande erro foi considerar que esse impulso duraria até abril.”


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LEI PAULO GUSTAVO VETADA POR BOLSONARO

República

Por
Roger Pereira – Gazeta do Povo

Presidente Bolsonaro durante missa em santuário no Paraná.| Foto: Assessoria

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, neste sábado (09), em Bandeirantes, interior do Paraná, que vetou a lei Paulo Gustavo para não permitir que governadores destinassem dinheiro a “figurões que ficaram de fora da Lei Rouanet”. Bolsonaro, que participou de uma missa, al lado do governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) no santuário de São Miguel Arcanjo, na cidade do norte paranaense, disse que prefere usar os R$ 4 bilhões que a lei destina à cultura para socorrer as Santas Casas e o agronegócio.

“Agora aprovaram a lei Paulo Gustavo: R$ 4 bilhões para governadores aplicarem em cultura. O Rui Costa (PT) vai aplicar no que na cultura na Bahia? Naqueles figurões que ficaram fora da Lei Rouanet. Então vetei, porque estamos precisando de R$ 2 bilhões para as a Santas Casas e R$ 3 bilhões para acertarmos o agronegócio dada as secas e outros problemas que tivemos”, afirmou. O presidente lembrou que reduziu de R$ 10 milhões para R$ 500 mil o teto da Lei Rouanet para cada artista ou projeto cultural. “Por ano, era R$ 1,5 bilhão com a lei Rouanet. Haja Cultura!”, ironizou.

Inflação dos alimentos e preço dos combustíveis
Bolsonaro ainda comentou a inflação dos alimentos no país, dizendo ser um problema mundial pro consequência da pandemia de Covid-19 e da guerra na Ucrânia. “O mundo todo está em uma inflação muito grande de alimentos fruto da pós-pandemia, consequência do ‘fica em casa’ e, também, por causa da guerra entre Ucrânia e Rússia. O Brasil desponta, no momento, como o melhor país para investimento. Lá fora, já começa o desabastecimento. Aqui, dado ao nosso agronegócio e a nossa política externa, porque nós fomos à Rússia conversar com o Putin e um dos assuntos tratados foi a questão dos fertilizantes, estamos prontos para recuperar o Brasil e tocar o barco”, afirmou .

Sem citar nomes, presidente culpou quem governou o país entre 2003 e 2015 (Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef) pelo fato de o Brasil ainda precisar importar combustíveis. “Temos que importar petróleo porque teve gente que assumiu o governo em 2003 prometendo construir três refinarias e não fez nenhuma. Das 10 maiores economias do mundo, somos a única que precisa importar derivados de petróleo. E tem gente querendo que essa cambada volte para cá”, afirmou.

Bolsonaro esteve no norte do Paraná nesta sexta-feira (08) e sábado, onde visitou a ExpoLondrina, uma das maiores feiras agropecuárias do país. Neste sábado, participaria de uma motociata entre Andirá e Bandeirantes, mas sua equipe de segurança vetou a participação no trajeto de 18 km, que ocorreu mesmo sem a presença de Bolsonaro. O presidente participou da missa no santuário e ainda visitou o município de Ibiporã, antes de deixar o Paraná.


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CONTROLE DIGITAL É IMPORTANTE NO CONTROLE DE GASTOS DE ENERGIA ELÉTRICA

 

Indústria 4.0
Por
Pedro Okuhara*

Como a evolução digital pode contribuir para a eficiência energética?| Foto: Unsplash, Anirudh/Reprodução

Em recente levantamento, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostrou que mais de 40% nos custos de produção industriais brasileiros estão relacionados ao consumo de energia elétrica. E o pior: a eletricidade é o maior insumo de 79% das fábricas nacionais. Como diminuir o impacto do custo de energia elétrica na produção industrial? É possível fazer uma gestão de custos que permita maior eficiência na utilização da energia?

Não existe uma solução única para o gerenciamento de energia, essa é uma medida que precisa ser estudada caso a caso, iniciando sempre pelo mapeamento de consumos e cargas de uma empresa ou indústria. A decisão mais oportuna neste sentido é o rateio de energia nos centros de custos, muito apropriado para customizar um plano eficiente de gestão de energia, baseado em alocação real dos dados de consumo.

Um passo fundamental rumo a este caminho está na digitalização dos processos, um dos principais elementos da Indústria 4.0. Com a utilização de diversas tecnologias, é possível fazer o monitoramento contínuo dos custos com energia elétrica e utilidades, em tempo real e on-line, realizando o rateio do consumo total da empresa ou indústria em suas respectivas áreas de negócios, departamentos ou unidades consumidoras, ou até mesmo por unidade produzida.

Um servidor realiza a coleta de dados para fornecer o histórico de custo de energia de forma gráfica, além de enviar notificações e alarmes por e-mail. O banco de dados permite a análise, em tempo real, de como a energia está sendo consumida, não apenas para o consumo geral da planta, mas segmentando seus departamentos e até as máquinas e equipamentos no chão de fábrica. Além da enorme quantidade de dados, normalmente chamada de Big Data, é importante que os setores de manutenção e sustentabilidade tenham acesso a esses dados de forma estruturada e de fácil entendimento, para realizarem ações e projetos voltados para eficiência energética das respectivas medições.

Geralmente, as áreas com maior número de colaboradores e uso de máquinas pesadas consomem mais energia, revelando ali uma maior necessidade de monitoramento de consumo de energia elétrica. Dessa forma, equipes encarregadas pela gestão de utilidades podem gerenciar e otimizar a utilização de energia elétrica por departamento, prédio, andar ou instalação, bem como por aplicação, processo de fabricação ou equipamento, para assim fazer um levantamento compartilhado e detalhado dos gastos.

A medição mais detalhada do consumo de energia gera um volume maior de dados sobre os quais os gestores devem se dedicar para traçar o melhor plano de eficiência energética e tomar as melhores decisões. Além dos dados coletados, também podem entrar nos critérios de cálculos o número de máquinas em operação em cada centro de produção, o número de pessoas trabalhando em cada unidade consumidora, quantidade de turnos de produção, entre diversos outros fatores.

Além de ser útil para planejar ações de eficiência energética, o rateio de custo setorial ajuda na implementação de medidas para melhorar o perfil de consumo das empresas, com decisões mais delineadas para sustentabilidade. Resultados eficientes podem ser obtidos por simples mudanças no processo, ou até mesmo pelo retrofit ou substituição de tecnologia por produtos mais atuais e eficientes.

Por que gerenciar a energia é essencial?

O principal objetivo para a medição de energia e seu rateio de custos para a indústria é garantir uma gestão mais eficiente, em busca de soluções pontuais, e uma cobrança mais coerente de cada área envolvida no processo produtivo.

Gestores e administradores só têm a ganhar com a automatização de dados em uma rede interna ou até mesmo online via internet. Este tipo de mapeamento do consumo de energia ajuda a identificar o problema na origem. A partir do cálculo do rateio, pode-se quantificar o número de máquinas em operação em cada centro de distribuição ou a quantidade de pessoas trabalhando em cada unidade consumidora. Em resumo: medidas que impactam positivamente na produtividade, na eficiência e no controle de despesas.

O Brasil e o caminho da eficiência
O setor industrial brasileiro é um dos setores que mais investe em eficiência, porém ainda existe uma enorme oportunidade na melhoria de processos e máquinas, e a consequente diminuição nos custos de produção.

Em levantamento feito em 2018, o Brasil ocupava o 22º lugar entre os países de maior eficiência energética, em lista liderada por Alemanha, Dinamarca e Japão. Nosso país precisa investir na modernização de seus parques industriais e empresariais para melhorar sua competitividade.

As tecnologias da indústria 4.0 estão cada vez mais acessíveis e devem ser utilizadas a favor da modernização do nosso país, auxiliando não somente na competitividade industrial, mas também na eficiência energética e redução de consumo que nosso país está precisando agora.

*Pedro Okuhara é especialista de produto e aplicação da Mitsubishi Electric.
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INTERESSANTE ALEGORIA SOBRE O PURGATÓRIO

 

Artigo
Por
Joseph Pearce – Gazeta do Povo
The Imaginative Conservative

Cheerful senior Elderly man digging garden spring time

Tolkien expressou aversão pela alegoria formal, mesmo assim escreveu uma interessante alegoria sobre o purgatório. Imagem ilustrativa.| Foto: Bigstock

J.R.R. Tolkien já expressou aversão pela alegoria formal ou direta, rejeitando o emprego de abstrações personificadas em seu trabalho.

Você não encontrará na Terra Média, por mais que procure, nenhum gigante chamado Desespero ou nenhuma bela mulher chamada  Filosofia. Você não encontrará nenhum cavaleiro de armadura brilhante chamado Dom Razão batalhando com um monstro chamado Espírito da Época, nem mesmo a nobre serva de Dom Razão, a Senhorita Teologia.

Mesmo assim Tolkien se entregou a essa forma de alegoria em um conto chamado Leaf by Niggle [Folha, de Niggle] no qual ele filosofa sobre o sentido da vida e o propósito da arte, levando o leitor com ele numa jornada pelo túnel escuro da morte para o misterioso reino do purgatório.

O protagonista da história é um homem chamado Niggle, uma palavra que significa “irritado”. Niggle é caracterizado por sua irritabilidade, especialmente em relação a seu vizinho, o apropriadamente chamado Sr. Paróquia, que está sempre o impedindo de terminar a enorme pintura da paisagem na qual Niggle está trabalhando e que precisa terminar antes de ser forçado a ir em um jornada inevitável.

Niggle pode ser visto como a personificação do artista, em geral, mas também como a personificação do próprio Tolkien, pois a história pode ser vista como significativa do ponto de vista biográfico.

Tolkien, como Niggle, era apaixonado por terminar sua própria paisagem literária, o legendário de contos inacabados que seriam publicados postumamente como A história da Terra Média e, como Niggle, estava sempre sendo afastado de seu trabalho pelas demandas de sua família, amigos e vizinhos.

Devido às incessantes demandas de tempo do Sr. Paróquia, o progresso de Niggle em sua pintura é extremamente lento. “De qualquer forma”, diz ele consigo mesmo, “vou conseguir fazer este quadro, o meu verdadeiro quadro, antes de ter que ir a essa jornada miserável”.

No caso, ele tem de partir para a jornada mais cedo do que ele percebeu. Um homem alto, vestido de preto, o visita inesperadamente. “Venha comigo!”, diz o homem. “Eu sou o Motorista… Você começa hoje a sua jornada”.

Niggle começa a chorar, exclamando que não acabou sua pintura. “Não acabou?” disse o Motorista. “Bem, de qualquer maneira, acabou, no que diz respeito a você. Venha comigo!”

O Motorista não dá tempo para Niggle fazer as malas, dizendo que ele já deveria ter feito isso. Pegando o trem, Niggle adormece assim que ele entra em um túnel escuro.

O significado da alegoria é bastante simples e direto. A jornada é aquela em que todos nós devemos embarcar, que nos levará desta vida para o que vier depois. O Motorista é a própria Morte, a Ceifadora, e o túnel escuro é o momento da morte, ou a passagem desse mundo para o outro.

Niggle acorda numa estação de trem.

“Ah, aí está você!” diz o Carregador, que estava claramente esperando por ele. “Por aqui! O quê! Sem bagagem? Você terá de ir para a Casa de Trabalho”. Por estar despreparado no momento da morte, por ter falhado em ficar alerta como advertiu São Mateus, Niggle está claramente inapto ao Céu. Ele é levado de ambulância para a enfermaria da Casa de Trabalho. “Parecia mais uma prisão do que um hospital”, informa o narrador.

Niggle tem de trabalhar duro, fazendo o tipo de tarefas que sempre o incomodou, porque o impedia de pintar. Ele tem de cavar muito, o que não fez em sua vida terrena (negligenciando seu jardim, para grande aborrecimento do Sr. Paróquia), e só tinha permissão para pintar placas sem enfeites com uma cor apenas.

Niggle passa muito tempo sozinho, para que possa “pensar um pouco”. Com o passar do tempo, ele começa a ver as coisas de forma diferente. Ele fica menos mesquinho com o Sr. Paróquia, quando pensa nele, e se arrepende de não tê-lo ajudado mais quando teve oportunidade. Não há sensação de pressa. Ele é “mais quieto por dentro” e tem uma paz interior que sempre escapou dele no passado.

Deitado no escuro, Niggle escuta duas vozes, uma das quais é “severa” e a outra “gentil”. A última é “uma voz de autoridade” que soa tanto esperançosa quanto triste. Ao ouvirmos as vozes discutindo “o caso de Niggle”, percebemos que são as vozes da Justiça e da Misericórdia.

Após a devida deliberação, a Segunda Voz declara que é hora de Niggle progredir para um tratamento mais suave. A Primeira Voz concorda, dizendo que Niggle deve continuar para a próxima fase de sua recuperação. Ele pega o trem mais uma vez e é levado para uma estação no meio de uma bela paisagem. Quando o trem parte novamente, ele vê uma bicicleta com seu nome escrito.

Enquanto anda de bicicleta pelo campo, começa a ter uma sensação de déjà vu. Ele parece ter visto ou sonhado com a grama na qual está pedalando. As curvas do terreno parecem de alguma forma familiares.

“Sim: o solo estava ficando plano, como deveria ser, e agora, é claro, estava começando a subir novamente. Uma grande sombra verde se interpôs entre ele e o sol. Niggle olhou para cima e caiu da bicicleta… Diante dele está A Árvore, sua Árvore, acabada. Se você pudesse dizer isso de uma Árvore que estava viva, suas folhas, seus galhos crescendo e se curvando ao vento”.

Era exatamente o que Niggle havia sentido ou adivinhado, mas tantas vezes deixara de perceber quando estava com o pincel na mão. Todas as folhas que ele já trabalhou estão lá, “como as tinha imaginado, em vez de como as tinha feito”.

Havia também outras folhas “que apenas brotaram na sua mente, e muitas outras que poderiam ter brotado, se ao menos tivesse tido tempo”.

Olhando para A Árvore, ele levanta os braços lentamente e os abre em uma expressão de louvor.

“É um presente!”, exclama ele.

Examinando a ampla extensão da paisagem ao redor da árvore, ele também reconhece como sua pintura, mas em sua forma viva e perfeita, da qual sua própria pintura era apenas uma sombra ou um prenúncio. A floresta, sua floresta, abriu-se em todas as direções e marchou para longe.

Além, estavam as montanhas, brilhando no horizonte distante. As montanhas não pareciam pertencer à imagem exceto quando algo a conecta a outra coisa, um vislumbre de algo mais distante e mais profundo do que qualquer coisa que ele já tenha visto ou imaginado.

Niggle acaba sendo acompanhado pelo Sr. Paróquia, que evidentemente também fez a jornada através do túnel escuro:

Enquanto trabalhavam juntos, ficou claro que Niggle era agora o melhor dos dois em matéria de ordenar seu tempo e fazer as coisas até o fim. Estranhamente, foi Niggle quem ficou mais absorvido na construção e na jardinagem, enquanto Sr. Paróquia muitas vezes se perguntava sobre como olhar para as árvores, especialmente para A Árvore.

Aproxima-se dele então um homem que parecia um pastor. Ele tinha chegado do alto das montanhas e se ofereceu para ser seu guia se estivessem prontos para explorar mais e mais além, além da “borda” de qualquer coisa que eles já imaginaram. O pastor explica ao Sr. Paróquia que ele tinha sido muito cego em sua vida mortal para ver a beleza da pintura de Niggle.

“Mas não parecia assim”, disse Paróquia, “não era tão real”.

“Não”, responde o pastor, “foi apenas um vislumbre, mas você poderia ter visto o vislumbre, se alguma vez tivesse pensado que valia a pena tentar”.

Niggle se despede do Sr. Paróquia, que vai ficar até sua esposa se juntar a ele, e acompanha o pastor em uma jornada para as montanhas.

Tal como acontece com a imagem das montanhas em O Grande Abismo e A última batalha de C.S. Lewis, elas representam uma visão purgatorial muito mais colorida e reconfortante do que a proporcionada por Dante.

E assim vamos deixar Niggle, que não faz mais jus ao seu nome, vagando cada vez mais para cima:

Ele iria aprender sobre ovelhas e pastagens altas, olhar para um céu mais amplo e caminhar cada vez mais longe em direção às montanhas, sempre para cima. Além disso, não consigo imaginar o que aconteceu com ele. Até o pequeno Niggle em sua antiga casa podia avistar as montanhas ao longe, e elas entraram nas bordas de seu quadro; mas como elas realmente são e o que está além delas só quem as escalou pode dizer.

Joseph Pearce é colaborador sênior do The Imaginative Conservative. Nascido na Inglaterra, Pearce é diretor de publicação de livros do Instituto Augustine e autor de várias obras, incluindo “The Quest for Shakespeare”, “Tolkien: Man and Myth”, “Literary Converts”, “Wisdom and Innocence: A Life of G.K. Chesterton”.
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ELON MUSK APRENDE QUALQUER COISA

 

Por Camila Petry Feiler – StarSE

Aprender a aprender: a fórmula do sucesso de Elon Musk, que segue inovando em diferentes áreas. Conheça os caminhos

No topo da lista de bilionários da Forbes em 2022 e com previsões de se tornar o primeiro trilionário do mundo em 2024, Elon Musk é um dos empresários mais badalados, dividindo o público com opiniões polêmicas e ações rápidas. Frente a empresas como Tesla e SpaceX, agora também membro do conselho do Twitter, ele é admirado por sua capacidade de disruptar diferentes áreas, olhando para caminhos além dos tradicionais. 

Por trás disso, está a capacidade de aprender a aprender, ferramenta fundamental para quem quer seguir relevantes nos negócios e na carreira. Por isso, separamos aqui os caminhos de Elon Musk na aprendizagem que você já pode colocar em prática.

CONHECIMENTO É COMO UMA ÁRVORE

Mudar de carreira é uma coisa, agora dominar a ciência de foguetes depois de co-fundar o PayPal e a Tesla é realmente um exercício para quem sabe como lidar com novos conhecimentos em pouco tempo.

Quando questionado sobre isso, ele comentou que organiza o conhecimento como uma árvore semântica, registrando os princípios fundamentais de cada disciplina.

“Um conselho: é importante ver o conhecimento como uma espécie de árvore semântica – certifique-se de entender os princípios fundamentais, ou seja, o tronco e os grandes galhos, antes de entrar nas folhas/detalhes ou não há nada para eles se agarrarem.”

Dessa forma, enquanto um novo conceito é desdobrado e entendido, fica mais fácil enxergar relações e criar conexões inusitadas (olha aí a inovação!). Para colocar em prática, é possível usar mapas mentais nos estudos e ir conectando os aprendizados. Outra ferramenta de ouro é o Project Zero, desenvolvido por Harvard, que oferece rotinas de pensamentos para mapear o entendimento do assunto de forma simples e provocadora.

A PRÁTICA DE CONEXÕES

O que os mapas mentais e as rotinas de pensamento têm em comum é a possibilidade de conexões além do óbvio. O que Elon Musk faz ao ter a base de um tema bem sedimentado unido à prática de um eterno curioso. Ele sempre cultivou o hábito da leitura, lendo dois livros por dia. Assim pode navegar entre ficção científica, filosofia, religião, programação, até biografias de empreendedores, ficando exposto a diversos assuntos.

Ele estuda de forma mais ampla várias áreas diferentes e faz conexões interessantes entre elas. Além disso, contrata grandes experts para suas empresas, com quem aprende e troca muito. Outra base da aprendizagem: ele coloca o conhecimento em movimento, reorganizando conceitos sob uma nova ótica, acoplando conhecimento técnico de um time especializado.

+ Aprendizagem Criativa: Como Aprender a Criar

A INSPIRAÇÃO: COM QUEM ELON MUSK APRENDE?

Elon sempre apontou o físico ganhador do Prêmio Nobel , Richard Feynman, como uma de suas maiores fontes de inspiração. Feynman via a vida com certa curiosidade e senso de aventura. Embora sempre tenha procurado resolver problemas empiricamente, também nunca perdeu a curiosidade pelo modo como o mundo funciona e enxergava tudo como um jogo.

+ Ad Astra: a escola criada por Elon Musk para seus filhos

Ao longo de sua carreira, Feynman usava a seguinte estratégia de aprendizagem:

Escolha um assunto

Escreva no topo de uma página o tópico escolhido e elenque todas as informações que você já sabe sobre ele. Sempre que aprender algo novo, anote ali. Simplifique ao máximo na hora de escrever, isso faz com que você se force a entender ao ponto de conseguir simplificar.

Aprenda como se pudesse ensinar a uma criança

Ao falar sobre o tópico escolhido, utilize termos de fácil compreensão.

Identifique os pontos de melhoria

Ao explicar o tópico, dúvidas vão aparecer e você não vai saber respondê-las. Isso mostra os gaps que precisam ser retomados no estudo.

Em vez de memorizar coisas arbitrariamente, procure a explicação que a torne óbvia

Para isso, ilustre seu conhecimento com analogias, conecte conceitos e fortaleça a compreensão. Conte em voz alta a argumentação que você conseguiu construir em torno daquele tema.

Lembra o que Elon Musk vem fazendo, não? 4 passos simples que podem ser aplicados por você – construa o troco e vá observando as conexões que suas vivências vão providenciar.

E O DIPLOMA DE ENSINO SUPERIOR, HEIN?

Ao longo da vida, Elon Musk adquiriu conhecimentos vastos em caminhos não tão tradicionais. Lendo mais que a média, garantia muito além do que qualquer escola pediria. Então qual é a postura de Elon Musk sobre a formação tradicional? “Você não precisa da faculdade para aprender coisas, tudo está disponível basicamente de graça”, comentou.

Inclusive a Tesla faz parte das empresas que não incluem nos requisitos para vagas um diploma específico de ensino superior. De acordo com o bilionário, o valor da graduação está no networking e na capacidade das pessoas para se dedicar a tarefas difíceis, “especialmente a lição de casa chata”.

Em sua trajetória, Musk recebeu dois diplomas de bacharel em 1997: um em física pelo College of Arts and Sciences e o outro em economia pela Wharton School.

Antes disso, em 1995, ele havia fundado um negócio ao lado do seu irmão Kimbal e de Greg Kouri, a Global Link Information Network, empresa que inicialmente ajudava outras empresas a criarem seus sites, mas que depois se especializou em ajudar jornais a criarem guias online de cidades.

ESCALANDO NEGÓCIOS DA VALEON

1 – Qual é o seu mercado? Qual é o tamanho dele?

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

2 – Qual problema a sua empresa está tentando resolver? O mercado já expressou a necessidade dessa solução?

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

3 – Quais métodos você usará para o crescimento? O seu mercado está propício para esse tipo de crescimento?

Estratégias para o crescimento da nossa empresa

  1. Investimento na satisfação do cliente. Fidelizar é mais barato do que atrair novos clientes.
  2. Equilíbrio financeiro e rentabilidade. Capital de giro, controle de fluxo de caixa e análises de rentabilidade são termos que devem fazer parte da rotina de uma empresa que tenha o objetivo de crescer.
  3. Desenvolvimento de um planejamento estratégico. Planejar-se estrategicamente é como definir com antecedência um roteiro de viagem ao destino final.
  4. Investimento em marketing. Sem marketing, nem gigantes como a Coca-Cola sobreviveriam em um mercado feroz e competitivo ao extremo.
  5. Recrutamento e gestão de pessoas. Pessoas são sempre o maior patrimônio de uma empresa.

O mercado é um ambiente altamente volátil e competitivo. Para conquistar o sucesso, os gestores precisam estar conectados às demandas de consumo e preparados para respondê-las com eficiência.

Para isso, é essencial que os líderes procurem conhecer (e entender) as preferências do cliente e as tendências em vigor. Em um cenário em que tudo muda o tempo todo, ignorar as movimentações externas é um equívoco geralmente fatal.

Planeje-se, portanto, para reservar um tempo dedicado ao estudo do consumidor e (por que não?) da concorrência. Ao observar as melhores práticas e conhecer quais têm sido os retornos, assim podemos identificar oportunidades para melhorar nossa operação e, assim, desenvolver a bossa empresa.

4 – Quem são seus principais concorrentes e há quanto tempo eles estão no mercado? Quão grandes eles são comparados à sua empresa? Descreva suas marcas.

Nossos concorrentes indiretos costumam ser sites da área, sites de diretório e sites de mídia social. Nós não estamos apenas competindo com outras marcas – estamos competindo com todos os sites que desejam nos desconectar do nosso potencial comprador.

Nosso concorrente maior ainda é a comunicação offline que é formada por meios de comunicação de massa como rádios, propagandas de TV, revistas, outdoors, panfletos e outras mídias impressas e estão no mercado há muito tempo, bem antes da nossa Startup Valeon.

5 – Sua empresa está bem estabelecida? Quais práticas e procedimentos são considerados parte da identidade do setor?

A nossa empresa Startup Valeon é bem estabelecida e concentramos em objetivos financeiros e comerciais de curto prazo, desconsideramos a concorrência recém chegada no mercado até que deixem de ser calouros, e ignoramos as pequenas tendências de mercado até que representem mudanças catastróficas.

“Empresas bem estabelecidas igual à Startp Valeon devemos começar a pensar como disruptores”, diz Paul Earle, professor leitor adjunto de inovação e empreendedorismo na Kellogg School. “Não é uma escolha. Toda a nossa existência está em risco”.

6 – Se você quiser superar seus concorrentes, será necessário escalar o seu negócio?

A escalabilidade é um conceito administrativo usado para identificar as oportunidades de que um negócio aumente o faturamento, sem que precise alavancar seus custos operacionais em igual medida. Ou seja: a arte de fazer mais, com menos!

Então, podemos resumir que um empreendimento escalável é aquele que consegue aumentar sua produtividade, alcance e receita sem aumentar os gastos. Na maioria dos casos, a escalabilidade é atingida por conta de boas redes de relacionamento e decisões gerenciais bem acertadas.

Além disso, vale lembrar que um negócio escalável também passa por uma fase de otimização, que é o conceito focado em enxugar o funcionamento de uma empresa, examinando gastos, cortando desperdícios e eliminando a ociosidade.

Sendo assim, a otimização acaba sendo uma etapa inevitável até a conquista da escalabilidade. Afinal de contas, é disso que se trata esse conceito: atingir o máximo de eficiência, aumentando clientes, vendas, projetos e afins, sem expandir os gastos da operação de maneira expressiva.

Pretendemos escalar o nosso negócio que é o site marketplace da Startup Valeon da seguinte forma:

  • objetivo final em alguma métrica clara, como crescimento percentual em vendas, projetos, clientes e afins;
  • etapas e práticas que serão tomadas ao longo do ano para alcançar a meta;
  • decisões acertadas na contratação de novos colaboradores;
  • gerenciamento de recursos focado em otimização.

sábado, 9 de abril de 2022

PETROBRAS TERÁ NOVO PRESIDENTE AGORA EM ABRIL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Governo indicou José Mauro Ferreira Coelho como novo presidente da Petrobras.| Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Depois da curta expectativa em torno do nome do economista Adriano Pires, indicado para presidir a Petrobras, mas derrubado antes mesmo de assumir devido a conflitos de interesse, o governo buscou um nome “de dentro” para o comando da estatal petrolífera. Com 25 anos de experiência no setor, José Mauro Ferreira Coelho foi secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Ministério de Minas e Energia (MME) até outubro de 2021; antes disso, passou por vários cargos na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) entre 2007 e 2020; e, desde maio de 2020, preside o Conselho de Administração da PPSA, a Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S/A, mais conhecida como a “estatal do pré-sal”. O nome foi bem recebido por analistas e pelo mercado, espantando, ao menos por ora, o temor de que o cargo acabasse nas mãos de um defensor da revisão da atual política de preços da estatal.

Nas poucas ocasiões em que se manifestou publicamente, Coelho defendeu maior abertura do mercado de petróleo a outros players; o programa de desinvestimento da Petrobras, com venda de refinarias; e a política atual de preços, que usa como critério principal a cotação do petróleo no mercado internacional. “Nós temos de ter os preços do mercado doméstico relacionados à paridade de preços de importação (PPI), porque se assim não fosse, não teria nenhum agente econômico com aptidão ou vontade de trazer derivados para o mercado doméstico e poderia ter desabastecimento no país”, afirmou em entrevista pouco antes de deixar o Ministério de Minas e Energia, acrescentando que o fenômeno de alta nos preços dos combustíveis é mundial, já que o aumento do barril de petróleo era tendência desde que a retomada da economia mundial se intensificou, passado o pior momento da pandemia de Covid-19.

Se o nome de Coelho for ratificado no próximo dia 13, o que se espera é que ele tenha liberdade para continuar o bom trabalho de seus quatro últimos antecessores

Na mesma entrevista, Coelho também ressaltou o peso da tributação estadual sobre o preço dos combustíveis, afirmando que “o ICMS tem o potencial de aumentar ainda mais o preço. É um efeito cascata: o combustível aumenta e o valor do ICMS em relação ao litro aumenta também”. O então secretário do MME, no entanto, não chegou a propor nenhuma forma de solucionar a questão – um vespeiro, a bem da verdade, no qual nem compete à Petrobras mexer, mas que é um dos vários exemplos da disfuncionalidade do sistema tributário nacional e que só será resolvido a contento com uma reforma tributária abrangente, não com remendos legais que criem soluções paliativas.

Vários analistas ouvidos pela imprensa, no entanto, ressaltaram que Coelho, apesar dos anos de experiência no setor de petróleo e de sua defesa da atual política de preços, é um novato em termos de gestão, ao contrário de seus antecessores – Joaquim Silva e Luna havia sido diretor-geral da Itaipu Binacional; Roberto Castello Branco ocupou cargos executivos na iniciativa privada e fizera parte do Conselho de Administração da Petrobras anos antes de presidir a estatal. Mesmo assim, Silva e Luna já elogiou publicamente a escolha tanto de Coelho quanto de Márcio Andrade Weber, selecionado para presidir o Conselho de Administração da estatal, do qual já faz parte.


Se o nome de Coelho for ratificado no próximo dia 13, o que se espera é que ele tenha liberdade para continuar o bom trabalho de seus quatro últimos antecessores. Silva e Luna, Castello Branco, Ivan Monteiro e Pedro Parente tiveram muito trabalho para resgatar a Petrobras do desastre das gestões petistas, especialmente com José Sérgio Gabrielli e Graça Foster, que ajudaram a “privatizar” a empresa, fazendo dela um instrumento do projeto de poder do PT, seja pela corrupção pura e simples, seja pela dilapidação da saúde financeira da companhia por meio de políticas de preço irresponsáveis. A era do intervencionismo populista e eleitoreiro pertence ao passado, e lá deve ficar. Por mais justificada que seja a preocupação atual com o custo dos combustíveis, canetadas voluntaristas nunca foram e nunca serão resposta benéfica para a Petrobras e para o país como um todo.


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LULA E SUA ARROGÂNCIA

 

Opinião
Por
Guilherme Macalossi – Gazeta do Povo


Recém-lançado nos cinemas, o documentário “O presidente improvável” retrata Fernando Henrique Cardoso narrando sua história e seus oito anos de governo, incluindo as dificuldades que passou também pela oposição incessante de Lula e do PT, que, em suas palavras “votavam sistematicamente contra tudo”. O tudo a que se refere são a moeda, o conjunto de reformas do estado e mesmo os programas sociais. Em determinado momento, o grão-tucano relata seu encontro com Lula antes do lançamento do Real. Segundo o ex-mandatário, o líder petista compreendeu a ideia do plano econômico, e foi por isso que se posicionou contra. Não dá para caracterizar como moderado quem sempre colocou as ambições políticas na frente da agenda de desenvolvimento do país.

O petismo investe no revisionismo histórico a partir da suspeição de Sergio Moro e da anulação dos casos envolvendo Lula. Usam as decisões do Supremo Tribunal Federal para negar a corrupção que aconteceu durante os mandatos presidenciais do partido. Ainda que o lavajatismo tenha debulhado o devido processo legal, inclusive levando à impunidade, o fato é que o estado foi assacado e empresas públicas instrumentalizadas para o objetivo último de converter a democracia em uma cleptocracia, para ficar com palavra usada pelo Ministro Gilmar Mendes. Ou alguém poderá dizer que Pedro Barusco e outros muitos delatores não desviaram somas incalculáveis de recursos do erário? Quem quiser constatar como essa gente lida com a institucionalidade pode ler o livro “A organização”, de Malu Gaspar. É didático.

Lula chegou ao Palácio do Planalto por uma carapaça de compostura arquitetada pelo publicitário Duda Mendonça de forma a apagar da memória nacional a imagem do sindicalista avesso a protocolos e que pregava a ruptura de contratos. Acabou funcionando, principalmente porque, do ponto de vista da conduta, o petista sempre foi um pragmático. Mas é erro confundir pragmatismo com compreensão do processo democrático. Essa suposta adesão nunca passou de instrumento para que, uma vez no poder, este fosse hegemonizado. Foi demonizando opositores e tentando se projetar como ente superior de razão da sociedade que o petismo pariu o ódio e a polarização política das quais o bolsonarismo também se alimenta para subsistir.

Nos últimos dias, Lula tem deixado aflorar sua verve intolerante. Aquela que é mantida segregada por inúmeras camadas de propaganda. A um só tempo disparou contra a classe média, fez propaganda da liberação do aborto e instigou seus militantes para que abordassem em casa parlamentares eleitos e suas famílias. Com isso, não apenas furou a monopolização de Bolsonaro no campo das boçalidades como deu palanque para seu adversário, implodiu pontes com o eleitorado evangélico e criou um desgaste com os setores ao centro da coligação que ele busca construir com Geraldo Alckmin, político identificado com a ponderação e valores religiosos.

Líder em todas as pesquisas, o ex-presidente vinha faturando muito também por não ser cobrado e se manter em silêncio. Momentos como esses que ele protagonizou falando para convertidos serão devidamente explorados nas redes sociais. Do alto de sua arrogância, e do sentimento de muitos em seu entorno de que a disputa de 2022 já está ganha, Lula subestima o antipetismo adormecido, que pode servir como incentivador para um segmento inteiro da sociedade que não gosta de Bolsonaro, mas que pode acabar votando nele para evitar o retorno de um petista que se mostre raivoso, ameaçador, vingativo e truculento, mesmo que ele apareça falando para multidões usando relógio Piaget de R$ 80 mil.


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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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