quinta-feira, 7 de abril de 2022

ALEXANDRE DE MORAIS MINISTRO DO STF ESTÁ CRIANDO AS SUAS PRÓPRIAS LEIS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Alexandre de Moraes teve decisão criticada por Kassio Marques em julgamento no STF.| Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Especialmente após a instauração do inquérito das fake news, aquele em que o Supremo Tribunal Federal assumiu o múltiplo papel de vítima, investigador, acusador e julgador, a sociedade brasileira tem percebido que a Constituição, a lei e os regimentos internos são detalhes que ministros da corte aprenderam a contornar e ignorar quando lhes é conveniente, sempre em nome de intenções consideradas nobres, como o combate às chamadas fake news, ou ao menos àquilo que os ministros consideram como tal. A Constituição proíbe a censura prévia, mas isso não impediu a censura da Crusoé. A Constituição garante a liberdade de expressão, mas ministros ameaçam banir aplicativos, ordenam a eliminação de perfis em mídias sociais e endossam quebras de sigilo de quem apresenta opiniões divergentes sobre temas que estão (ou deveriam estar) abertos ao debate. A Constituição protege a imunidade parlamentar, mas ela foi abolida (com a subserviência da Câmara, é preciso dizer) no caso do deputado Daniel Silveira, o protagonista de novo choque com a corte suprema.

E as recentes decisões do ministro relator Alexandre de Moraes (designado a dedo em 2019 pelo então presidente do STF Dias Toffoli, contornando o tradicional sorteio de relatorias) são nova demonstração de que um inquérito que nasce eivado de erros é quase impossível de consertar – a tendência é que os equívocos apenas se avolumem. No fim de março, Moraes considerou que Silveira havia desobedecido determinações judiciais e deveria voltar a usar uma tornozeleira eletrônica. O pedido da Procuradoria-Geral da República alegou três descumprimentos de determinações judiciais anteriores, pois Silveira se encontrou com outro investigado no inquérito das fake news, deu uma entrevista e criticou Moraes durante evento em Londrina (PR). Como Silveira se recusava a colocar de volta o dispositivo, chegando a passar noites nas dependências da Câmara dos Deputados, Moraes determinou multa diária e bloqueio das contas do parlamentar, que acabou cedendo.

Como as decisões do STF são tomadas dentro de uma moldura de funcionamento normal do Judiciário, o arbítrio, mesmo quando motivado pelas melhores intenções, acaba revestido de um verniz de legalidade; mas nem por isso deixa de ser arbítrio

Há uma série de aspectos que merecem crítica em todo o episódio. A proibição de conceder entrevistas, de imediato, já representa ataque claro à liberdade de expressão do parlamentar, como apontado por vários juristas ouvidos pela Gazeta do Povo. E será muito difícil encontrar algum crime real nas palavras do deputado durante o evento na cidade paranaense. Afirmar que falta “bússola moral” aos ministros, que Moraes está cometendo “inconstitucionalidades” e que o Judiciário está adotando “imposições” para uma “tomada de poder” é simplesmente exercer um direito de crítica que a Constituição garante a todo brasileiro, independentemente de haver ou não fundamento nas afirmações. Mesmo quando Silveira diz que “está ficando complicado aqui para o senhor [Moraes] continuar vivendo aqui, nem que seja juiz”, será preciso muito malabarismo hermenêutico para se enxergar ali uma ameaça concreta à vida ou à integridade física do relator.

Além disso, pode-se ainda questionar o recurso à tornozeleira eletrônica como medida cautelar imposta a membro do Congresso sem necessidade de autorização do Legislativo. Em 2017, em um caso envolvendo o então senador Aécio Neves, o Supremo decidiu que medidas cautelares que afetassem o exercício do mandato precisavam ser referendadas pela casa a que pertencesse o parlamentar, mas Moraes argumentou que o uso de tornozeleira eletrônica não se encaixava nesta situação. Por mais que já exista jurisprudência apoiando esta alegação, ela nos parece incorreta. Afinal, a tornozeleira deve monitorar se Silveira está cumprindo outra determinação, que limita sua circulação entre Brasília e Petrópolis (RJ), onde tem domicílio registrado. E esta limitação, sim, prejudica sua atividade parlamentar, impedindo-o, por exemplo, de integrar missões oficiais ou visitar outros locais onde sua presença seria importante. Seria preciso, portanto, que todas essas medidas fossem referendadas pela Câmara dos Deputados.

Mas é na forma usada por Moraes para levar Silveira a colocar a tornozeleira que está a mais recente inovação jurídica do relator. O Código de Processo Penal (CPP) não prevê multa ou bloqueio de bens – estas medidas são permitidas apenas na esfera cível, e em disputas entre particulares. Quando o tema foi levado ao plenário do Supremo, de forma virtual, apenas Nunes Marques e André Mendonça foram capazes de apontar este grave erro. A multa, afirmou Nunes Marques, “não tem qualquer arrimo no ordenamento jurídico pátrio e caracteriza-se de forma transversa em confisco dos bens do réu em processo penal por decisão monocrática e cautelar do relator em ação penal originária, sem o devido processo legal, claramente incompatível com a Constituição da República. Afinal, vivemos em uma democracia, onde o Estado de Direito vige, não sendo, portanto, admitida a imposição de qualquer medida privativa e/ou restritiva de direito não prevista no ordenamento jurídico legal e sobretudo constitucional” – o ministro ainda criticou a desproporcionalidade no valor cobrado, que em dois dias consumiria toda a renda mensal de um deputado, embora este nem seja o maior problema da medida.

Nunes Marques identificou corretamente o caminho jurídico usado por Moraes: já que tais medidas existem, mas no Código de Processo Civil, o relator resolvera aplicá-las por analogia ao processo penal para conseguir que Silveira cedesse. Este, no entanto, é um recurso que a boa doutrina jurídica não admite. Como o direito penal lida com a liberdade dos indivíduos, é ali que as garantias do réu se fazem ainda mais necessárias que nos outros ramos do direito. Não há possibilidade, portanto, de analogias ou aproximações: vale única e exclusivamente o que está na lei; “não há espaço para poder criativo por parte do Estado”, como afirmou em recente palestra on-line o juiz e professor Fernando Capez. “Ou você tem a legalidade estrita ou vai cair numa generalização de um poder geral da cautela, que é inadequado no processo penal, porque não tem um poder geral de punir”, alerta o professor Aury Lopes Jr., doutor em Direito Processual Penal, ouvido pela Gazeta do Povo. Mesmo assim, a medida foi referendada pela maioria dos ministros, em uma ironia que retrata muito bem o Supremo atual: a corte que age de forma tão “garantista”, ao sempre escolher uma interpretação possível da lei que acaba beneficiando bandidos e corruptos, contra outra interpretação igualmente possível e que penda para o lado do bem público, fechou os olhos às garantias reais existentes na lei e que protegem réus da vontade de juízes interessados em inventar crimes ou medidas que não estejam previstos no ordenamento jurídico.

E por que isso tem ocorrido de maneira tão acintosa nos últimos tempos? Como a Constituição e as demais leis se tornaram acessórios? Uma resposta tão certeira quanto simples é: os ministros agem dessa forma porque, cegos pela polarização política que domina o país e convictos de seu papel “iluminista” e “contramajoritário”, julgam poder (e, dependendo do caso, até dever) fazê-lo. Aqueles que o sistema de freios e contrapesos consagrou como os responsáveis por garantir que o Supremo não extrapole suas funções, os senadores, vêm se omitindo no seu papel de fiscais. E, como as decisões do STF são tomadas dentro de uma moldura de funcionamento normal do Judiciário, o arbítrio, mesmo quando motivado pelas melhores intenções, acaba revestido de um verniz de legalidade; mas nem por isso deixa de ser arbítrio.


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PETROBRAS PRIVATIZADA VAI ACABAR COM AS GREVES DE FUNCIONÁRIOS E CAMINHONEIROS

 

Entrevista

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo

O secretário de Desestatização, Desinvestimentos e Mercados, Salim Mattar, fala à imprensa

Salim Mattar foi secretário de Desestatização do governo Bolsonaro.| Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

O empresário Salim Mattar, ex-secretário de Desestatização do governo Bolsonaro, é defensor de um Estado mais enxuto. “Vivemos em um país dos absurdos”, diz ele, ao lembrar do “manicômio tributário” que se tornou o Brasil. Dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostram que desde a Constituição de 1988, foram editadas, em média, 2,17 normas tributárias por hora. Só para acompanhar essas mudanças, as empresas gastam R$ 187 bilhões por ano.

Mattar – que assina uma coluna quinzenal na Gazeta do Povo, com o lema “ideias liberais para um Brasil melhor” – acredita que um dos caminhos para o país é o de uma ampla privatização. E esse processo, na avaliação dele, deve incluir a Petrobras, que passou as últimas semanas sob forte ataque por causa do aumento do preço dos combustíveis. As críticas vêm sobretudo do presidente Jair Bolsonaro.

“Eu acho que a Petrobras deveria ser privatizada para resolver os problemas do governo”, diz. “Se o governo quiser acabar com as greves de caminhoneiros no Brasil, basta simplesmente vender sua participação na Petrobras”, completa.

Mattar diz que há um aparato dentro e fora do governo que inibe o avanço das privatizações. “São sindicatos, funcionários das estatais, fornecedores que mantinham relações incestuosas com as estatais, servidores públicos, congressistas, resistência no Judiciário.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Gazeta do Povo.

Gazeta do Povo: Qual deveria ser o papel do Estado no Brasil?

Salim Mattar: O Estado nasceu lá atrás para dar segurança ao cidadão. O papel era defender determinada região contra inimigos, contra vizinhos, contra pessoas que queriam usurpar aquele território. Mas, com o passar dos anos, no mundo inteiro, o Estado foi abrindo os seus tentáculos. Da segurança, ele pulou para economia, para educação, para infraestrutura. E em alguns países, como no Brasil, o Estado se agigantou muito.

Esse Estado grandioso é o pensamento dos progressistas, dos socialistas e da esquerda. Na visão deles, o Estado deve resolver a vida do cidadão, que é um beócio, não sabe decidir por si próprio. Então, o Estado vai tomar as providências para o cidadão. Por isso, ele se agigantou de tal forma. Mas o Estado deveria cuidar hoje da segurança, das relações internacionais, da defesa, da segurança interna, da defesa externa contra outros povos, da Justiça. A partir disso, é discutível o papel do Estado.


E no caso da infraestrutura, qual a sua avaliação?

Uma boa parte da nossa infraestrutura – ferrovias, rodovias, portos e aeroportos – já é operada pela iniciativa privada. Se você olhar lá atrás, no tempo do Barão de Mauá, as ferrovias eram privadas, a eletricidade era privada, os bondes eram privados. Até que os governos nacionalistas brasileiros estatizaram essas companhias. Então, penso que o Estado não precisa entrar na infraestrutura. O Estado tem que dar o direito de concessionar aquela atividade, sendo explorada pela iniciativa privada.

Eu diria que o Estado deve financiar o saneamento básico da população. A água, o esgoto, principalmente, nas periferias deve subsidiar. Mas não deve ser o Estado o responsável pelas obras porque, quando o Estado promove obras, você já sabe qual o resultado da história: custa muito mais caro e a ética fica em segundo plano.

Um de seus focos, enquanto secretário de Desestatização, no governo, foi o de trabalhar com as privatização. O que faltou fazer neste mandato?

Nós imaginávamos, o ministro Paulo Guedes e eu, que o processo de privatização, como era parte do discurso do candidato Bolsonaro, não seria um processo difícil. Mas ao chegar na Esplanada dos Ministérios, nós encontramos todos os grupos contrários à privatização: os sindicatos, os funcionários das estatais, fornecedores que mantinham relações incestuosas com as estatais, servidores públicos, congressistas, resistência no Judiciário… A gente vê, hoje, o TCU [Tribunal de Contas da União] contra a privatização da Eletrobras. Vimos também a resistência de militares. Então, nós vimos um punhado de resistência em diversas áreas.

Ou seja, a privatização era um discurso do candidato, mas efetivamente depois que chegou ao governo, aquelas pessoas que estavam próximas do governo não estavam tão alinhadas com o processo de privatização. Como o presidente falou durante o período eleitoral que iria fechar a empresa do trem-bala, chegando ao governo cumpri a promessa do presidente: tentei fechar a empresa do trem-bala e a Valec, que pertencem ao Ministério da Infraestrutura. O ministério disse: não, nossas empresas não serão fechadas. Então, além de servidores, funcionários, fornecedores, também ministros foram contra.

Ou seja, não existia um alinhamento do ministro Guedes e do presidente com todos os ministros e o establishment a respeito das privatizações. Tanto é que quando o [Roberto] Castello Branco começou a vender as subsidiárias da Petrobras, o ministro [do STF Ricardo] Lewandowski proibiu. E isso foi julgado no Supremo, até que depois, Lewandowski e mais três ministros perderam, então tivemos maioria para poder vender as subsidiárias de estatais. Mas quase que o Supremo não permite.

A verdade é que o establishment, Executivo, Legislativo e Judiciário não são favoráveis à redução do tamanho do Estado. Porque ao privatizar, o TCU reduz pela metade, o STF reduz pela metade, a PGFN [Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional] também. Você reduz substancialmente também o tamanho do Estado. Nós temos mais de 680 estatais.

Faltou apoio, empenho do próprio presidente?

Sim, o próprio presidente, que teve um discurso muito aberto a respeito de privatizações e de redução do tamanho do Estado durante a campanha, uma vez eleito e rodeado pelos seus asseclas, que talvez não eram favoráveis à privatização, ele se convenceu de não continuar adiante nesse processo. Embora ele esteja comprometido com o processo de privatização dos Correios e da Eletrobras. Pelo menos para salvaguardar o discurso de candidato. Nessas duas ele está se empenhando.

E o papel dos outros atores nesse processo. Faltou também apoio do Legislativo?

Sim. No Legislativo, teve [o caso da] Casa da Moeda. Fizemos uma medida provisória [MP 902/19]. Então, [o ex-presidente da Câmara] Rodrigo Maia nomeou para presidente da comissão a [deputada do PT] Benedita da Silva. Assim não vai ter privatização na Casa da Moeda. E o relator foi o senador Nelsinho Trad. Claro que essa comissão julgou inconveniente a privatização da Casa da Moeda.da Casa da Moeda.

Ou seja, o que o establishment disse, no caso, a Câmara dos Deputados e o Senado: “ó Bolsonaro, ministro Guedes, Salim, parem. Nós não queremos privatização”. Esse é o recado que eles deram. Eu entendi o recado. A partir daquele momento, muito da minha motivação diminuiu porque, de fato, a casa Legislativa não estava favorável à privatização de uma empresa periférica, pequena, que é a Casa da Moeda.

Uma mera gráfica, como o senhor diz…

Exatamente, uma mera gráfica. Ali eu vi que seria difícil a privatização.

Quais as perspectivas para a privatização em um eventual segundo mandato do presidente Bolsonaro?

Nós estamos já no mês de abril, em um processo eleitoral em andamento. Um ano muito polarizado, com muitos deputados e senadores preocupados com suas bases. Muitos serão reeleitos. Outros são candidatos a cargos majoritários. Então há um esvaziamento do Congresso nesse período. Há, sim, oportunidade de, ainda este ano, privatizar os Correios e a Eletrobras. Porém, os Correios acho menos provável e a Eletrobras, provável. Esse o cenário que temos.

Eu diria que é um pouco frustrante em relação a todo o discurso do presidente enquanto candidato e o discurso do ministro Guedes. E eu que fui lá para poder fazer a privatização. Foi criada uma secretaria de Privatização, Desestatização e Desinvestimento. Por que não aconteceu? Paulo Guedes e Bolsonaro, antes de ser eleito, não combinaram com o establishment.

Veja o TCU. Um ministro entre oito pede vistas do processo da Eletrobras e segura a privatização. Um ministro, que não foi eleito pelo voto, contra um indivíduo de 57 milhões de votos que diz: fui eleito pelo povo e quero privatizar a Petrobras. Os mandatários do Congresso, eleito pelo voto, disseram: ok, nós concordamos em vender a Eletrobras. Mas um ministro, que foi indicado ao cargo, diz: não, não vai vender. É o ministro Vital do Rêgo, do TCU.

Mas então esse processo de privatização, desestatização, de enxugamento do Estado na economia está fadado ao fracasso?

Precisamos de um grande líder para fazer uma grande transformação no Brasil. Um grande líder que tenha maioria no Congresso, com uma pauta conservadora e econômica, vai conseguir fazer essas reformas. Mas com a política segmentada brasileira, com tantos partidos e tal, a base de sustentação do governo tem sido frágil. Então, o sistema eleitoral e partidário brasileiro conduz a uma fragilidade governamental do Executivo. O Executivo terá sempre dificuldade de montar uma base de sustentação em relação à quantidade e diversidade de partidos.

Petrobras deveria de ser uma das prioridades da privatização?

Certa vez, comentei com presidente e o ministro Guedes o seguinte: por que não existe greve de caminhoneiro nos Estados Unidos, na Suécia e no Reino Unido? E por que tem greve de caminhoneiro no Brasil, no México e na França? Porque países que têm estatal de petróleo, têm greve de caminhoneiro. Não tem como caminhoneiro fazer pressão em um governo que não tem poder sobre iniciativa privada. Então, a greve que teve é porque o governo é sócio da Petrobras. Se o governo quiser acabar com as greves de caminhoneiros no Brasil, basta simplesmente vender sua participação na Petrobras.

Eu acho que a Petrobras deveria ser privatizada para resolver os problemas do governo. O governo tem muito problema. Agora está com dificuldade de achar um presidente [nota do editor: Mattar concedeu a entrevista antes da escolha de José Mauro Ferreira Coelho, anunciada nesta quarta-feira, 6]. A Petrobras teve um presidente a cada 18 meses desde a sua fundação. Como uma empresa pode dar certo trocando de presidente a cada 18 meses.

Então, eu defendo a privatização da Petrobras. E esse grande líder que um dia pode governar o Brasil, tendo a maioria do Congresso, eu tenho certeza de que ele vai privatizar não apenas a Petrobras. Ele vai privatizar todas as empresas que forem viáveis.

Um problema essencial é que o Brasil praticamente não cresce. Estamos estagnados. Dados do FMI mostram que nos últimos 10 anos, o país se expandiu ao ritmo de 0,27% ao ano, enquanto a economia mundial – tendo uma grande crise pandêmica como pano de fundo – cresceu ao ritmo de 2,8% ao ano. Qual a receita para viabilizar um crescimento maior do país?

Mais iniciativa privada e menos Estado. Nós temos um Estado grande demais. Nós precisamos reduzir o tamanho do Estado e temos que libertar a iniciativa privada. Nós precisamos dar mais liberdade para o empreendedor. Mais liberdade para o empresário. Mais liberdade econômica para que possa fluir o mundo dos negócios. Nós precisamos de mais liberdade, porque com mais liberdade vai acontecer naturalmente mais liberdade individual, mais liberdade política, mais liberdade econômica.

A consequência de mais liberdade significa mais capitalismo. Mais capitalismo, como consequência, mais geração de renda. Como consequência do capitalismo temos também mais geração de emprego. E, como consequência, temos melhor renda para o cidadão. Como consequência, ele, na sociedade de consumo, passa a ter uma melhor qualidade de vida. Por consequência, mais longevidade. Então, a liberdade é a origem. Nós temos que ter mais liberdade.

Hoje, no Brasil, temos às vezes cerceado o direito de expressão. A gente não sabe qual é o limite do direito de expressão. Tem candidato falando em regular a mídia. Recentemente baniram o Telegram. E agora voltou. Então, repara que a liberdade de expressão está em risco no Brasil. A democracia está em risco no Brasil. Mas está em risco por causa das instituições e não por causa do povo. Então, quem coloca a democracia em risco são as instituições. É o próprio establishment.


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CANDIDATO LULA ESTÁ SABOTANDO A SUA PRÓPRIA CANDIDATURA

Declarações polêmicas

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Lula fez declarações polêmicas a favor do aborto e contra a família.| Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O ex-presidente Lula fez declarações polêmicas nos últimos dias que contrariam a maioria conservadora do país. Eu não sei qual é a intenção dele. Nesta quarta-feira (6) disse que todas as mulheres deveriam poder fazer aborto. Se não quer ter filho, que tire o filho. Com isso, ele já brigou com todas as religiões cristãs. Depois, disse que os valores da família brasileira estão muito atrasados. Ainda criticou a classe média, que é mais ou menos a maioria do país. Só faltou chamar a classe média de burguesia, como aquela pessoa que disse lá no palco: “eu odeio a classe média”.

Essas declarações se somam a outras em que ele diz que vai dar toda a força para o MST, que vai cancelar as atualizações da lei do trabalho, que vai acabar com as privatizações e o teto de gastos. E ainda comprou briga com os deputados federais, dizendo que os sindicalistas deveriam descobrir o endereço deles para protestar. Tem até deputados entrando na Justiça e outros prometendo que vão esperar de arma na mão.

Eu só posso entender isso como uma vontade inconsciente de Lula, que ele talvez não controle, de não ir até o fim nessa campanha eleitoral. Ele parece querer inviabilizar a própria candidatura, esperando que o partido dê um suspiro por ele desistir.

Essa conduta de agora é exatamente o contrário da campanha que ele fez e conseguiu se eleger depois de três derrotas sucessivas em eleição presidencial. Perdeu para Fernando Collor e duas vezes para o Fernando Henrique Cardoso. Só fez 16% dos votos na primeira, depois 18% e 22%.

Só conseguiu superar esse teto quando fez a campanha do “Lulinha paz e amor”, quando deu garantia para os proprietários de terra de que não haveria invasão de terra, que ia respeitar os valores da família, garantia para os empresários de que iria respeitar os acordos e a lei de mercado, mas agora parece estar fazendo exatamente o contrário. Dá a impressão de que quer torpedear a sua própria candidatura.

Totalitarismo no Ceará
Os totalitários, quando têm o poder na mão, exercem o seu totalitarismo sem pudor. Como naquele caso de Araraquara (SP), de uma senhora que foi presa porque estava na praça, sozinha, ou daquela senhora que estava treinando natação com o filho na praia, presa também. Ou do sujeito que estava vendendo picolé, do lojista de Teresina arrastado no chão…

Agora chega outra história absurda, desta vez do Ceará, por causa de um decreto do governador. Um cidadão de 55 anos, Moisés Pereira da Silva, foi ao Detran para ser servido por serviços públicos. Entrou usando máscara, mas foi exigido passaporte vacinal para receber o serviço que ele tem direito.

Ele, então, se insurgiu e disse que aquilo era uma hipocrisia, que toda pessoa lúcida sabe o que é, e apresentou argumentos para corroborar essa palavra. E aí foi preso em flagrante, por desacato, num país onde quem desvia bilhões de dinheiro do povo está solto.


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TERCEIRA VIA ´NÃO É BEM ACEITA PELOS ELEITORES

 

  1. Política 

Regras do jogo eleitoral, sistema de governo e eleitorado difuso ajudam Lula-Bolsonaro

William Waack, O Estado de S.Paulo

O que conspira contra candidaturas de terceira via é muito mais do que a ausência, até aqui, de nomes fortes entre os candidatos e a hipocrisia/artimanhas de líderes partidários. O que conspira é a combinação das regras da eleição proporcional com o aumento do poder do Legislativo no sistema de governo, e a essencial formação de bancadas nutridas. Situação agravada por um eleitorado que não diferencia “esquerda” ou “direita”.

O voto para deputado federal é “pessoal”, mas vai para a legenda do candidato no imenso distrito (o Estado) no qual disputa a eleição. Os donos do partido precisam de puxadores de voto, pois o que interessa na distribuição das cadeiras é o quociente partidário. “Puxadores” de votos são cada vez mais (sub)celebridades, representantes de corporações (igrejas, por exemplo) e, óbvio, a força do nome de um presidenciável em determinada região. Por isso um mesmo partido se interessa em apoiar Lula numa parte do País e Bolsonaro em outra.

Palácio do Planalto
‘Polarização’ entre Lula e Bolsonaro é a continuação do que já temos. Foto: Dida Sampaio/Estadão

É perfeitamente lógico, portanto, que as grandes agremiações se submetam às questões regionais, pois delas dependem a formação das bancadas e a consequente distribuição das ferramentas de poder num sistema no qual o Executivo se enfraqueceu consideravelmente. Nesse sentido, os nomes de Lula ou Bolsonaro ajudam aqui e atrapalham ali, mas os da terceira via, até aqui, não ajudam em lugar algum a engordar o quociente partidário. 

Para os operadores da política, ser derrotado nas próximas eleições é ficar com poucos deputados – daí também as federações unidas pelo acesso aos fundos Partidário e eleitoral, e nem tanto para ter um candidato à Presidência. O “centrão”, que abrange as siglas “clássicas” dessa parte do espectro, mas também fatias de PSDB, MDB e União Brasil, é o retrato sem retoques do resultado das regras do jogo mais a “evolução” do sistema de governo. E, goste-se ou não, está ali nesse “centro” o espelho da “alma” do eleitor brasileiro.

Cuja demanda majoritária, indicam as pesquisas qualitativas, é “de direita”. Sem que ser “de direita” consiga nas pesquisas ser associado claramente a qualquer definição clássica da ciência política. O “público-alvo” a ser conquistado pela terceira via é uma proporção do eleitorado (uns 30% ou até mais). Mas isso é apenas um número, difuso e disperso, que não está, até aqui, agregado a um nome, a uma legenda e, muito menos, a uma plataforma “política”.

Regras do jogo, partidos fracos (em termos de programas e ideologias), piora do sistema de governo (que já era ruim) fazem da “polarização” entre Lula e Bolsonaro a continuação do que já temos. Que é paralisia e estagnação. 

JORNALISTA E APRESENTADOR DO JORNAL DA CNN

CIVÍS NA UCRÂNIA SÃO USADOS COMO ESCUDOS HUMANOS

 

Massacre de Bucha

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Fitas brancas em corpos de civis encontrados após retirada das tropas russas geram interpretações contraditórias| Foto: Divulgação

Militares ucranianos fizeram mais uma acusação de crimes de guerra contra tropas russas no cenário que vem sendo chamado de Massacre de Bucha. Segundo eles, civis teriam sido obrigados a usar um símbolo russo no braço, com o suposto objetivo de serem baleados por tropas ucranianas.

Poucas evidências dessa prática foram fornecidas pelos ucranianos e a Rússia nega a alegação. Mas a forma como os civis estão sendo identificados no campo de batalha é um fator importante para se entender o número de mortes de não combatentes na guerra da Ucrânia – que já ultrapassa as 1,4 mil, segundo o relatório mais recente da ONU.

Depois que as tropas russas se retiraram da cidade de Bucha, nos arredores da capital, Kiev, no dia 30 de março, fotos e vídeos revelaram que dezenas de corpos de civis foram encontradas nas ruas. Eles seriam mais de 300, segundo o governo ucraniano.

Algumas dessas pessoas tinham um item peculiar na vestimenta: um pedaço de pano ou fita adesiva branca enrolada no braço.

O que isso significa?

Militares russos e ucranianos usam veículos de combate, armas e até fardas muito parecidas. Para evitar o “fogo amigo” no campo de batalha, os ucranianos usam fitas amarelas ou azuis no braço. Os russos usam fitas brancas.

Mas por que corpos de civis estão aparecendo com essas fitas brancas? Eles poderiam ser combatentes usando roupas civis, mas isso não explica toda a questão. Alguns dos mortos não estavam em idade militar e usavam as fitas nos braços.

Live Jogos de Guerra: Bucha vai mudar o rumo da guerra na Ucrânia?

Militares ucranianos vêm afirmando que os russos obrigaram civis a usar a identificação branca e ordenaram que caminhassem em direção a áreas ocupadas por tropas ucranianas. A ideia era que os militares ucranianos os confundissem com russos e atirassem para matar.

Mas qual seria o objetivo disso? Segundo os combatentes no terreno, a ideia seria fazer os ucranianos dispararem suas armas, revelando assim sua posição no campo de batalha – sem expor tropas russas ao perigo. Os russos poderiam então bombardear as posições ucranianas.

Contudo, parece pouco provável que as tropas ucranianas não consigam distinguir um combatente russo de um civil com uma faixa branca no braço. Mas é fácil tentar julgar sem estar no calor da batalha.

Já o presidente Volodymyr Zelensky parece ter uma interpretação diferente sobre as mortes de civis em Bucha. Ele afirmou à ONU que russos estariam matando civis ucranianos “por prazer”.

Muitas das situações relatadas por ele – como pessoas tendo as línguas cortadas, estupros ou simulações de execução como forma de tortura psicológica – remetem ao passado desta região, quando tropas soviéticas invadiram países do leste europeu durante a Segunda Guerra durante o combate aos nazistas.

Mas há uma outra interpretação para as faixas brancas nos braços dos civis.

Desde o início da guerra, o presidente ucraniano vem incentivando homens civis em idade militar a pegar em armas. Muitos deles recebem fuzis e munições e vão para o campo de batalha com roupas comuns. As únicas coisas que os identificam como combatentes são a arma e a faixa amarela da Ucrânia no braço (a azul é para militares profissionais ou combatentes da legião internacional).

Ao mesmo tempo, os combatentes ucranianos têm usado edifícios e casas civis para se abrigarem e até emboscarem tropas russas. Sabe-se, por outro lado, que os russos estão bombardeando alvos civis e militares de forma aparentemente indiscriminada.

Essa zona cinzenta onde opera parte dos combatentes ucranianos dá à Rússia o seguinte argumento: “Não há civis no campo de batalha, apenas combatentes e insurgentes, portanto, todos seriam alvos legítimos” – o que claramente não é verdade, pois há toda uma população querendo apenas sobreviver ao conflito.

Assim, a realidade parece estar entre esses extremos. Relatos da frente de batalha dizem que os russos estariam ordenando que os civis usem as faixas brancas, não para usá-los como isca, mas para diferenciá-los dos combatentes. Mas isso não significa necessariamente que os civis estejam sendo protegidos.

Moradores relataram aos correspondentes da TV Record André Azeredo e André Zorato nesta semana na cidade de Bucha que tanto tropas russas como ucranianas invadiram casas e pilharam alimentos e bens dos cidadãos durante o combate.

Muitos foram tratados com violência e obrigados a permanecer dias escondidos em porões com acesso restrito a alimentos.

Evidências de assassinatos
Mas muitos moradores não conseguiram sobreviver aos combates e provas robustas dos abusos russos começam a surgir.

O chanceler russo Sergey Lavrov havia dito que os corpos de civis encontrados em Bucha foram colocados no local pelos ucranianos após a retirada das tropas russas no último dia 30.

Mas imagens de satélites mostram que objetos muito similares a esses corpos já estavam nas posições em que foram encontrados pelos ucranianos antes da saída das tropas russas da cidade.

Nesta quarta-feira, o jornal americano New York Times revelou outra evidência. Um vídeo registrado por um drone ucraniano mostra claramente blindados de transporte de tropas russas atirando com canhões em um homem que andava de bicicleta.

Em paralelo, surgem as provas testemunhais. Ao menos 25 mulheres afirmaram terem sido estupradas por forças russas em Bucha, segundo Lyudmyla Denisova, comissária de direitos humanos do Parlamento da Ucrânia.

Mas casos com provas tão claras são raros. Autoridades internacionais terão que conduzir investigações detalhadas para apurar crimes de guerra e, eventualmente, tentar impor punições. Mas esse não é um processo rápido.

Enquanto isso não acontece, o cenário de Bucha pode se repetir em cidades de onde as tropas russas se retiram, como Hostomel, Borodyanka, Chernigov, entre outras.


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RONALDO FENÔMENO É BOM EMPRESÁRIO


  1. Esportes
     
  2. Futebol 

Tem tudo planejado para assumir o comando do Cruzeiro neste mês

Atacante se cercou de profissionais competentes para desvendar as armadilhas e abrir todas as gavetas do clube antes de assumir 90% do controle acionário do time que o revelou; seu carisma atinge conselheiros e torcedores e será útil na busca de patrocinadores

Robson Morelli, O Estado de S.Paulo

Ronaldo não está no Cruzeiro por diversão. Desde que se apresentou para assumir o comando do Cruzeiro, o empresário Ronaldo Nazário se cercou de profissionais competentes que o guiassem na compra do clube que o lançou no futebol com a promessa de investimento de R$ 400 milhões. Até agora, o atacante não anunciou nenhum parceiro que estivesse dividindo com ele a conta do negócio. Portanto, Ronaldo estaria tirando das próprias contas os US$ 90 milhões aproximadamente para fazer a transação e adquirir 90% do controle acionário do clube de Minas Gerais. Ronaldo dá passos firmes e estudados na transação de sua vida. Ele é um ótimo empresário.

Ele não vai se descapitalizar na compra. Começaria com investimento de R$ 50 milhões, cerca de US$ 10 milhões. Seus pares dizem respeito somente ao trabalho de investigar todas as contas, receitas e dívidas do time que está comprando. Não há conversas paralelas. Nem promessas que ele não acredita que possa cumprir. O atacante estipulou prazos para ter tempo de descobrir tudo o que os últimos dirigentes do Cruzeiro esconderam dos torcedores. Em quatro meses de trabalho, ele é mais querido no clube do que dirigentes que passaram a vida dentro do Cruzeiro.

Ronaldo firma compra do Cruzeiro
Ronaldo deve efetivar compra de 90% da SAF do Cruzeiro Foto: XP

Os cartolas mineiros não estão negociando com um “zé-ninguém”, tampouco com um bobalhão. Ronaldo Nazário está longe de ser um gestor otário, capaz de ser enganado e passar por trouxa nas negociações. Mesmo se não souber tudo o que está vendo nos corredores da Toca da Raposa, ele não vai assinar papel em branco.

Ronaldo faz negócios no futebol muito antes de ter parado de jogar. Sabe todos os atalhos de um clube de futebol, sempre foi bem relacionado e tem em seu carisma uma porta de entrada para patrocinadores que queiram se juntar a ele. Pediu a cumplicidade dos torcedores e foi prontamente atendido no programa de sócio-torcedor. Nesta semana, após ter sua proposta aceita e aprovada pelo Conselho Deliberativo do Cruzeiro, tratou de afirmar que agora ele terá como acordar parcerias para o clube. Já tem algumas engatilhadas que farão seu investimento inicial ficar pequeno.

Ronaldo vê no Cruzeiro um clube com potencial de obter receita anual de R$ 500 milhões, ou mais. Tem de voltar para a primeira divisão neste ano, seu maior objetivo. Refazer seus contratos de TV, formar uma equipe competitiva e convencer que apoiar o clube é um bom negócio. Ronaldo já pensou em tudo. Correu para ter a aprovação do conselho para poder inscrever jogadores o quanto antes na Série B. Pagou dívidas que impediriam o clube de atuar, mesmo não tendo garantias do negócio. Estipulou prazos e metas. Deixou de viajar para fazer seu papel de dirigente presente e responsável.

Tem agora até o dia 18 para preparar a papelada, já pronta, mas que sofrerá algumas alterações por novas conquistas, como a inclusão das Tocas da Raposa I e II e um pedido de recuperação judicial ou extrajudicial do clube. Também haverá no contrato uma cláusula de pagamento da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) de R$ 200 milhões de impostos até 2032.

Há um apelo para que o torcedor cruzeirense assuma o time desde a primeira partida na Segundona, de modo a lotar o Mineirão em todos os jogos na competição. Tem ainda a Copa do Brasil, cujas cotas de participação já estão na casa dos R$ 3 milhões. Só do programa sócio-torcedor, o clube arrecada perto de R$ 20 milhões por ano. Quer bater nos R$ 25 milhões. Bilheteria e TV serão os carros-chefe nesse começo. Ronaldo espera anunciar um patrocinador forte.

Em seu discurso após a aprovação unânime dos conselheiros, Ronaldo foi astuto. “Só há um Cruzeiro.” Do alto da janela do prédio onde aconteceu a reunião, ele acenou para os torcedores que acompanharam a votação. Estava aliviado. Suado até. “Agradeço a confiança. Não temos motivos para comemorar e não temos tempo a perder. Arregaçaremos nossas mangas e trabalharemos incansavelmente”, disse.

Ronaldo também estava feliz. Recebeu abraços de conselheiros e de torcedores. Ele encarou a plateia muito mais confiante do que passava pelos seus marcadores. Ronaldo não é um cartola. É um investidor com ambições financeiras e esportivas. Ele fará de tudo ao seu alcance para recolocar o Cruzeiro na primeira divisão. Antes do fim deste mês, tomará posse como a mais recente dono do Cruzeiro, clube que o lançou para o mundo.

 

COLÉGIO DE ELITE FAZ LAVAGEM CEREBRAL DOS ALUNOS

 

  1. Política 

Área de ‘humanas’ é o território ideal para a prática do estelionato pedagógico que vem se tornando a marca registrada do ensino em escolas de rico

J.R.Guzzo, O Estado de S.Paulo

colégio Avenues, de São Paulo, cobra mensalidades de R$ 10 mil – quer dizer, é coisa exclusiva para gente muito rica. Mas o colégio, ao que parece, não está satisfeito apenas com isso; além do dinheiro dos pais milionários, quer também que os seus filhos saiam de lá prontos para combater na linha de frente da revolução socialista, ou comunista, ou coletivista, ou seja lá o nome que dão hoje aos movimentos de salvação da humanidade operados por aglomerações políticas de esquerda. O resultado é que os pais pagam para os filhos aprenderem que eles, pais, são criminosos sociais perigosos, que estão destruindo o Brasil e o mundo com as suas atividades capitalistas – e precisam ser detidos o mais rápido possível. É o trabalho prático que, segundo se aprende na Avenues, a moçada terá de fazer quando sair da escola.

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Fachada do colégio Avenues em São Paulo. Foto: WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Um episódio ocorrido dias atrás mostra com perfeição o que os alunos estão recebendo em troca das suas mensalidades. Um professor de antropologia, ele próprio militante político de “esquerda”, chamou para uma palestra a conhecida Sonia Guajajara, profissional do movimento “indígena” há anos, e presença garantida em manifestações contra o Brasil na Europa, ou contra o agronegócio aqui na frente do Congresso. Guajajara, é óbvio, disse que a atividade agropecuária é uma desgraça terminal para o Brasil: está destruindo o país com “agrotóxicos”, extermina os índios e é responsável direta por uma montanha de crimes sociais hediondos. Um dos alunos, na hora do “debate”, quis discordar: ouviu um cala-a-boca do professor-antropólogo. O homem disse que era doutor em antropologia, especialista “em Harvard”, e que o garoto só poderia se manifestar no dia em que soubesse tanto quanto ele em matéria de ciência antropológica. Mas não era um debate, com a palavra livre para os alunos? Não no modelo de debate que vigora no colégio Avenues.

É claro que essas coisas não acontecem nas aulas de matemática ou física, mas só nas áreas de “humanas” – o território ideal para a prática do estelionato pedagógico que vem se tornando a marca registrada do ensino em escolas de rico. O desfecho do episódio é uma aula perfeita sobre a vida real nesse mundo. O aluno foi repreendido por que “discordou da senhora Guajajara de maneira desrespeitosa”. O professor continua lá – o máximo que disseram é que a sua intervenção repressora não foi a mais apropriada. Os garotos vão continuar recebendo lavagem cerebral. Os pais vão continuar no papel de bobos – acham que por pagarem R$ 10 mil por mês seus filhos estão aprendendo alguma coisa. É um dos maiores contos do vigário que se encontra hoje na praça.

LULA-ALCKMIN É UM CASAMENTO CÍNICO

  1. Política 

Alckmin, ao se unir a Lula, está se unindo a tudo o que sempre combateu em sua vida

J. R. Guzzo*, O Estado de S.Paulo

O ex-governador Geraldo Alckmin está entrando para a história política do Brasil como um caso extremo de hipocrisia, de falsidade ou de oportunismo – ou, muito provavelmente, as três coisas ao mesmo tempo. Trata-se de um exagero, mesmo para os baixíssimos padrões de moralidade da política nacional: é comum que a fauna deste ecossistema vire casaca o tempo todo, e passe a dizer hoje o contrário do que dizia ontem, mas Alckmin é realmente uma história de superação. Dias atrás ele assinou sua ficha de inscrição num desses pequenos partidos que prestam serviços ao PT e se qualificou, oficialmente, para ser candidato a vice-presidente na chapa de Lula nas eleições presidenciais de 2022. É a aliança mais cínica de que se tem notícia, há anos, na vida política brasileira.

Desde que começou a se anunciar a possibilidade desta aberração, tempos atrás, Alckmin passou a ter um problema insolúvel. Antes de se dispor ao papel que está representando hoje, ele disse o seguinte: “Depois de ter quebrado o Brasil, Lula diz que quer voltar ao poder. Ou seja, meus amigos, ele quer voltar à cena do crime”. Como sair, agora, de um negócio desses? Não foi a mídia que falou em volta à cena do crime, nem os adversários; foi ele mesmo, Alckmin, de sua livre e espontânea vontade, e por iniciativa própria.

Alckmin
O ex-governador de SP Geraldo Alckmin. Foto: Daniel Teixeira/Estadão (29/8/2018)

Falando em português claro, para não complicar as coisas, Alckmin chamou Lula de ladrão – coisa que o seu principal adversário, o presidente e também candidato Jair Bolsonaro até agora não fez, não com essas palavras ou com essa clareza. Depois de ter dito, não retirou o que disse. Quer dizer, então, que o ex-governador está pronto a servir como vice de alguém que ele considera corrupto? Sim, quer dizer exatamente isso.

Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro pela Justiça brasileira, em três instâncias e por nove magistrados diferentes; Alckmin, portanto, estava apenas anunciando um fato, quando falou em volta “à cena do crime”. O problema é por que ele, agora, se bandeou para o lado dos que considerava criminosos até outro dia. Não é só a questão da ladroagem, que bateu recordes na era Lula-Dilma – um caso raro na história universal da roubalheira, com os ladrões assinando confissões de culpa e devolvendo dinheiro roubado. Alckmin, ao se unir a Lula, está se unindo a tudo o que sempre combateu em sua vida. Ele está agora, por exemplo, no mesmo palanque que o MST – que, segundo Lula, vai “participar” ativamente do seu governo. Um de seus colegas de campanha já disse que escritura de propriedade de terra, para ele, só se for assinada por Deus, com firma reconhecida. É o novo Alckmin.

 

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...