segunda-feira, 4 de abril de 2022

PREJUÍZOS DA PETROBRAS COM REFINARIAS NÃO CONSTRUÍDAS

 

Petrobras
Por
Rosana Felix, especial para a Gazeta do Povo

Hugo Chávez e Lula, então presidentes da Venezuela e Brasil: parceria desfeita na refinaria Abreu e Lima.| Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Um dos projetos mais ambiciosos do PT na infraestrutura brasileira era a ampliação do parque de refino da Petrobras. Em 2008, a petroleira projetava chegar à marca de 3,4 milhões de barris refinados por dia em 2015, o que colocaria o Brasil entre os cinco países com maior produção de derivados de petróleo. Essa marca nunca foi atingida e não consta dos planos atuais: em 2021, as refinarias da Petrobras processaram 1,9 milhões de barris por dia, volume próximo do registrado em 2008.

Entre aquele momento de euforia e a realidade atual ocorreram problemas de gestão, atrasos nas obras e denúncias de superfaturamento e corrupção levantadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Operação Lava Jato. Confira a seguir o que aconteceu com cada refinaria que havia sido planejada quando o acionista majoritário – o governo brasileiro – era comandado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


Obra: Pedra fundamental lançada em dezembro de 2005; início das obras em setembro de 2007.

História: A Refinaria Abreu e Lima foi um projeto que marcou a ascensão da esquerda na América Latina, tendo como “padrinho” o presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em 2013. Foi ele quem batizou a unidade, tendo como referência o general José Inácio Abreu e Lima (1794-1869), brasileiro que teve papel de destaque no movimento de libertação dos territórios hispânicos na América, liderado por Simón Bolívar.

A admiração que Chávez nutria pelo general Abreu e Lima era notória. Ainda na posse de Lula, em 1.º de janeiro de 2003, o venezuelano afirmou: “Há 200 anos outro Inácio, também pernambucano, lutava ao lado de Bolívar”.

Já em seguida a Petrobras e a PDVSA aceleraram as negociações para definir um investimento conjunto na área de infraestrutura energética no Brasil, com preferência pelo estado de Pernambuco. A princípio, a estatal venezuelana teria participação majoritária, e por isso opinou na escolha do local e do nome Abreu e Lima, escolhido por Chávez.

Entretanto, a parceria com a PDVSA nunca prosperou. Chávez participou dos eventos de lançamento da pedra fundamental e do início das obras de Abreu e Lima, mas o acordo era apenas informal.

Em outubro de 2019, a Petrobras comunicou que ela e a PDVSA “concluíram com êxito as negociações para a constituição da empresa que vai construir e operar a Refinaria Abreu e Lima, localizada em Pernambuco. A participação acionária na empresa será de 60% para Petrobras e 40% para PDVSA”. Passaram-se dois anos sem que fosse celebrado o contrato efetivo, mas a Petrobras ainda informava que as negociações estavam em andamento. Foi só em 2013 que a empresa brasileira deu por encerrada a proposta de sociedade.

Desse modo, a Petrobras teve que arcar sozinha com todos os recursos, que foram mal orçados. O projeto inicial previa investimentos de US$ 2 bilhões, mas quando as obras tiveram início, em 2007, o custo pulou para US$ 4,05 bilhões. O plano era refinar 200 mil barris por dia, que contribuiria para atender a demanda crescente de derivados no Nordeste a partir de 2011.

O custo final, porém, bateu na casa dos US$ 18,5 bilhões, e a unidade entrou em operação apenas no fim de 2014 com apenas 64% da capacidade. Em 2020 a produção chegou a 111,9 mil barris por dia, mas em 2021 caiu para R$ 72,5 mil, por causa de uma parada de manutenção por um mês e meio. Embora esteja em operação há pouco mais de sete anos, a refinaria até hoje não foi concluída; apenas parte do projeto ficou pronta.

Abreu e Lima foi a primeira refinaria construída no Brasil desde 1980. Em 2014, o ex-presidente da Petrobras Sergio Gabrielli disse que a unidade de Pernambuco “era pioneira” e por isso o custo foi “um pouco mais alto”.

O problema de superfaturamento foi detectado cedo. As obras começaram em setembro de 2007, e já no ano seguinte o Tribunal de Contas da União (TCU) identificou indícios de superfaturamento, exigindo prestação de contas da Petrobras. Esses assuntos foram tema de uma primeira CPI da Petrobras em 2009, mas os governistas dominaram o colegiado e o relatório final afastou a possibilidade de superfaturamento, indicando apenas a necessidade de uma nova metodologia para calcular obras de grande porte e com alto nível tecnológico.

O TCU continuou com as auditorias e recomendou a paralisação das obras na Lei Orçamentária de 2011, medida acatada pelo Congresso mas vetada na sequência por Lula, que passou a criticar o tribunal por querer “paralisar o país”.

Em 2014, a Operação Lava Jato começou a desvendar uma série de irregularidades em contratos da Petrobras, o que motivou a criação de uma nova CPI no Congresso. O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa foi preso logo na segunda fase da operação, em março. Sob seu comando estavam as obras de refinarias como Abreu e Lima. Mas a unidade de Pernambuco foi investigada mais a fundo na 20.ª fase da Lava Jato, em novembro de 2015, sob suspeita de corrupção e desvio de dinheiro. Várias ações relacionadas ao pagamento de propinas na Refinaria Abreu e Lima continuam a tramitar na Justiça Federal.

Em fevereiro de 2021, o juiz da 13.ª Vara da Justiça Federal em Curitiba Luiz Antônio Bonat – substituto de Sergio Moro – condenou cinco pessoas pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em contratos firmados para a construção da Refinaria Abreu e Lima entre 2009 e 2014.

Como está hoje: A Petrobras ainda não conseguiu vender a refinaria, como previsto em acordo firmado em 2019 com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). No fim de 2019, a diretoria da estatal decidiu que vai investir mais R$ 5,6 bilhões para concluir a unidade, de forma a deixá-la mais atraente para os compradores.


Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj)

Obra: Pedra fundamental lançada em junho de 2006; início das obras em março de 2008.

História: O Comperj também foi lançado para ser símbolo do desenvolvimentismo pregado pelo PT, favorecendo regiões até então “esquecidas” pelo poder público. Em discurso em 2006, no lançamento da pedra fundamental, Lula disse que o empreendimento iria “fazer com que São Gonçalo deixe de ser o patinho feio do estado e Itaboraí de ser uma cidade de interior”, em referência às duas cidades que abrigariam o polo petroquímico e o centro de capacitação de mão de obra.

Na época, Lula também exaltou o avanço tecnológico que se buscava com o complexo e o licenciamento ambiental para a obra. “O Comperj é uma conquista tecnológica histórica, talvez, só comparada à tecnologia desenvolvida pela Petrobras em águas profundas”, disse.

O Comperj foi orçado inicialmente em US$ 6,5 bilhões, mas em 2008, quando as obras começaram, o projeto já custava US$ 8,4 bilhões. A meta era refinar cerca de 150 mil barris por dia a partir de 2013. O Comperj não foi concluído e gerou prejuízo de pelo menos US$ 14,3 bilhões à Petrobras, conforme levantado em 2015 durante CPI no Congresso.

As obras do Comperj também foram alvo de auditorias do TCU e depois foram investigadas na Operação Lava Jato. Em junho de 2017, o então juiz Sergio Moro, na 13.ª Vara Federal de Curitiba, condenou o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A condenação foi confirmada no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região), mas os defensores de Cabral tentam reverter a decisão no Supremo Tribunal Federal (STF), utilizando os mesmos argumentos de Lula a respeito da anulação das condenações no âmbito da Lava Jato. Outras ações envolvendo o Comperj continuam a tramitar na Justiça Federal.

Em dezembro de 2019, depois de uma avaliação técnica, a Petrobras anunciou que desistiu de concluir as obras do Comperj depois de um estudo de viabilidade econômica feito com empresa chinesa CNPC.

Como está hoje: Em 2020, a petroleira renomeou a unidade como Polo GasLub Itaboraí e iniciou estudos para produção de gás natural no local – os testes de produção tiveram início em 31 de janeiro de 2022. Nos próximos anos deve ser feita a integração com a Refinaria de Duque de Caxias, visando a produção de lubrificantes e combustíveis, além de estudos para construção de uma termelétrica.

Refinaria Premium 1, no Maranhão, e Premium 2, no Ceará

Obra: Anunciadas em 2008, nunca saíram do papel.

História: Dentro do planejamento de ampliar a capacidade de refino do Brasil, o então presidente da Petrobras Sergio Gabrielli lançou em 2008 os projetos das refinarias Premium 1, no Maranhão, e Premium 2, no Ceará. Na época, o anúncio também foi visto como afago do ex-presidente Lula a governadores do Nordeste que lamentaram ter ficado de fora do grande investimento feito na Refinaria Abreu e Lima.

Pelo anúncio feito em 2008, as usinas seriam as maiores do Brasil, com capacidade de refino de 600 mil barris por dia na Premium 2 e 300 mil barris por dia na Premium 2.

Logo os planos foram revistos. Com a crise econômica mundial de 2008, a demanda por petróleo caiu e os preços baixos da commodity desestimularam investimentos na área. Em dezembro daquele ano, o barril do petróleo caiu a US$ 40, o menor valor em anos. Hoje o preço está próximo de US$ 120.

As pedras fundamentais das refinarias foram lançadas em 2010. No Maranhão, o terreno escolhido passou por terraplanagem, mas as obras não evoluíram mais do que isso. Em julho de 2011, a Petrobras suspendeu oficialmente as obras das duas refinarias por problemas de caixa. Naquela ocasião, a interferência do governo federal, que vetou reajustes nos combustíveis, levou a companhia a postergar investimentos de R$ 44 bilhões.

Em 2012, Graça Foster assumiu o comando da Petrobras e as refinarias Premium entraram no rol de projetos em avaliação, para verificar as despesas já feitas e refazer o orçamento. O escândalo do aumento de custos da Refinaria Abreu e Lima, detectado pelo TCU, tinha afetado as decisões de negócio da Petrobras. Ainda assim, o governo fazia afagos aos governadores do Maranhão e Ceará – Roseana Sarney e Cid Gomes, respectivamente – comprometendo-se a construir as refinarias no futuro.

Ao longo de 2013, foram feitas negociações com empresas chinesas e sul-coreanas na tentativa de atrair um sócio privado para ajudar a Petrobras a tirar as obras do papel. Naquele ano, auditoria do TCU apontou irregularidades nos gastos com a terraplanagem no Maranhão.

Em 2014, a recessão econômica no Brasil provocou queda na demanda por combustíveis, e de novo a companhia brasileira precisou rever os planos de investimento. A Operação Lava Jato já estava em curso, mas foi só em outubro daquele ano, quando o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa prestou depoimento sobre um esquema de corrupção e desvio de recursos, que a estatal começou a analisar a fundo a viabilidade dos projetos das refinarias.

No início de 2015, a Petrobras reconheceu que os projetos Premium 1 e 2 tinham gerado perdas de R$ 2,7 bilhões. Em novembro de 2015, o TCU deu continuidade às investigações sobre as unidades, exigindo esclarecimentos sobre gastos com todas as refinarias ao Conselho de Administração da Petrobras. Acórdão aprovado em 2018 fez uma série de recomendações à empresa e aos órgãos de controle para estabelecer novas regras de governança.


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POLÍTICA ECONÔMICA E IDEOLÓGICA DA ARGENTINA NÃO DEVE SER SEGUIDA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

O ex-presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva conversa com o presidente da Argentina, Alberto Fernández.| Foto: EFE/ Juan Ignacio Roncoroni

Simón Bolívar (1783-1830), nascido em Caracas (atual Venezuela), é considerado – sobretudo nos países em que ele ocupou cargos – o principal personagem na luta pela libertação do continente latino-americano contra o domínio espanhol, que durou até 1824. Nos últimos anos de sua vida, desolado com o fracasso do projeto unificador dos países em razão da mesquinharia política e da prevalência de interesses pessoais dos líderes caudilhos regionais, Simón Bolívar desabafou, amargurado: “A América Latina é ingovernável. A única coisa que se pode fazer na América é emigrar”, e o grande líder viu o declínio de seu poder e viveu seus últimos tempos em solidão, sem povo e sem aliados.

Compreender por que a parte latina do continente americano não conseguiu ter o mesmo desenvolvimento da Europa ocidental, dos Estados Unidos e do Canadá, mesmo com abundantes recursos naturais, sempre foi um desafio intelectual para historiadores, economistas e sociólogos e outros estudiosos. O passar do tempo e a observação das experiências políticas e econômicas até este início de terceira década do século 21 permitem algumas conclusões que, se não são as únicas, são as mais importantes para explicar a permanência do atraso.

Na América Latina, políticas equivocadas e malsucedidas foram praticadas por políticos, burocratas e governantes populistas sempre em nome do combate à pobreza e desigualdade, mas o resultado foi o aumento da pobreza e da desigualdade

Em linhas gerais e sem descartar outras causas também importantes, a estrutura estatal, os modelos de governo, a organização político-partidária, o populismo político e a apropriação dos recursos públicos por grupos de interesse, corporações e classes estão na base do baixo desempenho econômico e elevado grau de pobreza e atraso de praticamente todos os países latino-americanos. Quando Simón Bolívar identificou o poder avassalador da estrutura política, seus caudilhos e suas oligarquias sobre a impossibilidade de progresso material, moral e intelectual dos países da região, ele deu a primeira pista para o que viria a ocorrer na sequência: dois séculos de atraso econômico, subdesenvolvimento educacional, pobreza social, inclinação para ditaduras, instabilidade política, maus governos e incapacidade de gestão econômica eficiente.

Os países que compõem a América Latina não se desenvolveram em ritmo e intensidade iguais, de forma que há alguns poucos que conseguiram bom grau de crescimento econômico e desenvolvimento social. Porém, apesar das diferenças, praticamente não há nenhum dos países dessa região que tenha se igualado ao padrão de renda por habitante dos países desenvolvidos. Vale citar um caso bastante peculiar de equívoco, que é a Argentina. Dotada de grande extensão territorial, terras férteis, população com cultura superior em comparação com a média da região, primeiro país a eliminar o analfabetismo, a Argentina chegou a ser rica no padrão dos melhores do mundo (nos anos 1950, o país tinha renda por habitante no nível dos Estados Unidos e do Canadá) e apresentava as condições para equivaler-se ao padrão de Dinamarca, Suécia, Inglaterra ou outro país similar. A derrocada e a descida consistente rumo à baixa renda por habitante, crises, atraso e pobreza fazem da Argentina um caso ímpar de país que enriqueceu, criou as condições para seguir rico, mas trilhou o caminho oposto até o ponto extremo de atingir, em 2021, taxa de pobreza de 46% de sua população. Esse porcentual de pobres é padrão de países quase miseráveis e sem perspectivas. Como tal trajetória perversa aconteceu com a rica Argentina, que houvera conseguido construir uma nação desenvolvida na América do Sul antes dos anos 1950, é evento estranho e propício para observação e estudo.


O populismo econômico e as eleições (editorial de 1.º de janeiro de 2022)
É útil examinar as causas que levaram esse país vizinho cheio de recursos a trilhar um caminho tão nocivo para seu povo, até para se saber o que um país não deve fazer. A lista de erros é imensa. Políticos demagógicos; governos populistas; experiências ditatoriais malsucedidas; fechamento da economia, setor estatal inchado e ineficiente; paixão por estatização; desprezo pela economia de mercado; déficits públicos constantes; ambiente desfavorável ao investimento e ao empreendedorismo; governos contrários à inserção internacional; hostilidade ao capital estrangeiro; moratória da dívida externa; má gestão macroeconômica; inflação; descontrole na emissão monetária; sindicalismo truculento; domínio do país por caudilhos; corrupção em alta escala; desapropriação de empresas; confisco de fundos de investimento; confisco de poupança; tributação excessiva – essas são algumas doenças que a Argentina vem cultivando há décadas e das quais parece nunca conseguir se livrar.

Com algumas variações, o figurino argentino foi e continua sendo adotado por outros países latino-americanos, sem que suas lideranças políticas, empresariais e intelectuais consigam perceber que suas práticas políticas e econômicas nunca enriqueceram qualquer país. Embora com um povo culto e bom nível educacional, a Argentina não resistiu, entrou em processo de empobrecimento e chega à atual década em condição similar à de países pobres, sem perspectiva de reversão e melhorias em curto prazo. Essa lista é como uma espécie de cardápio dos vícios que um país deve evitar pelo provado enorme poder destrutivo sobre seu futuro e sua população. Na América Latina, essas políticas equivocadas e malsucedidas foram praticadas por políticos, burocratas e governantes populistas sempre em nome do combate à pobreza e desigualdade, mas o resultado foi o aumento da pobreza e da desigualdade. São lições e exemplos do que o Brasil não deve fazer, apesar de ainda hoje haver muitos candidatos a cargos legislativos e executivos tentando se eleger propondo as mesmas coisas.


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MOTIVOS DA VALORIZAÇÃO DO REAL

 

Câmbio

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo

| Foto: Pixabay

A taxa de câmbio caiu 16% desde o início do ano, de acordo com dados do Banco Central. A cotação média do dólar comercial na última sexta-feira (1.º) foi de R$ 4,69, quase R$ 0,90 abaixo da registrada no fim de 2021. A valorização do real está sendo impulsionada pelo fluxo de capitais em direção ao Brasil.

Nos três primeiros meses do ano, as entradas líquidas (compras menos vendas) de recursos estrangeiros foram de R$ 64 bilhões na B3. Até o dia 18, o movimento de câmbio contratado era comprador em US$ 9,45 bilhões, 54% mais do que o registrado em todo ano passado, segundo o BC.

Uma série de fatores explica este movimento, apontam especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo:

os juros em patamares elevados deixam o país mais atraente para o investidor estrangeiro;
as perspectivas de novas altas na taxa básica de juros, a Selic;
países que concorrem com o Brasil na atração de capitais estrangeiros, como a Rússia e a Turquia, apresentam risco mais elevado; e
os papéis brasileiros, especialmente as ações, estão oferecendo uma relação favorável entre risco e retorno.

O especialista em renda variável do grupo Aplix, Kaue Franklin, aponta que há papéis valendo menos que o caixa das empresas. Ações de empresas de commodities e do setor financeiro são tradicionalmente usadas como forma de proteção por parte dos investidores.

E a alta dos preços das commodities também contribui para a valorização do real, segundo Carlos Macedo, especialista em alocação de investimentos da Warren. “Isso favorece a entrada de dólares na economia brasileira e amplia o faturamento das empresas exportadoras.”

Alef Dias, especialista em macroeconomia e grãos da hEDGE Point Global Markets, lembra que os estoques de soja e milho estão bastante apertados e a quebra da produção no Sul do Brasil contribuiu para elevar os preços das matérias-primas.

O que também está ajudando, segundo ele, é a questão fiscal. A arrecadação de tributos federais atingiu R$ 148,7 bilhões em fevereiro, com alta real (descontada a inflação) de 5,3%, em comparação com mesmo mês de 2021. É o melhor resultado para esse mês desde o início da série histórica, em 1995.

No acumulado do primeiro bimestre, o crescimento real foi de quase 13% em comparação a igual período do ano passado, aponta a Secretaria da Receita Federal.

As contas do governo central – que incluem Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central – fecharam com um déficit de R$ 20,6 bilhões em fevereiro. É o menor, em termos reais, para este mês, desde 2015. No ano, as contas têm saldo positivo de R$ 56 bilhões.

O diretor de câmbio da corretora Ourominas, Mauriciano Cavalcante, diz que este cenário todo injeta mais confiança no investidor externo. “No exterior, há mais confiança no Brasil do que no ano passado.”

Segunda valorização do real em 12 meses
A alta do real frente ao dólar neste ano é o segundo movimento de valorização nos últimos 12 meses. Entre o fim de abril e o fim de junho do ano passado, o câmbio passou de R$ 5,404 para R$ 4,942, o que representa uma alta de 9,34% para o real.

São cenários completamente diferentes, diz Macedo: “No ano passado havia uma perspectiva de um crescimento mais resiliente. O panorama embaralhou a partir do segundo semestre, com a discussão do teto de gastos”.

Dias destaca que outro fator que contribui para o atual movimento é o grau de aperto monetário, que é maior.

Entrada de capitais tende a continuar nas próximas semanas
A expectativa dos analistas é de que, pelo menos, no curto prazo, o movimento de capitais em direção ao Brasil persista. Agora, segundo Macedo, há um nível de juro mais elevado e o preço das ações está extremamente atraente. “Os ativos brasileiros oferecem melhor remuneração. É um fluxo mais resiliente.”

Anilson Moretti, head de câmbio da HCI Invest, acredita que um patamar a ser testado nas próximas semanas é o de R$ 4,65 a R$ 4,67. A moeda norte-americana tem oscilado na casa dos R$ 4,70 desde a semana passada.

Cavalcante prevê, diante desse cenário de maior confiança do investidor estrangeiro, que o dólar possa recuar até R$ 4,60. “Até, porque, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) teremos uma nova alta na taxa Selic.”


O que pode atrapalhar o avanço do real frente ao dólar, segundo os analistas, é a intensificação da guerra da Ucrânia, o que no momento parece estar mais distante; uma aceleração da alta nos juros nos Estados Unidos, que enfrenta a maior inflação em 40 anos; e o desenrolar do processo eleitoral.

Um dificultador, de acordo com Macedo, em relação à questão eleitoral seria a falta de sinalização de políticas pró-mercado. E, tradicionalmente, anos de eleições gerais são períodos de valorização da moeda norte-americana. “Não vai ser diferente em 2022”, destaca o executivo da Ourominas. Ele projeta que depois do processo eleitoral haverá uma tendência à estabilização do câmbio.

Dias, da hEDGE Point Global Markets, tem outra visão. Ele não vê tanto problema nas eleições, porque os dois candidatos que lideram as pesquisas não são novos. “Eles já adotaram algumas medidas de ajuste fiscal em seus mandatos”, diz ele, que não acredita que o dólar caia abaixo de R$ 4,50.

Nas últimas semanas, bancos e consultorias têm revisado para baixo suas projeções para o patamar em que estará o câmbio ao fim deste ano. Apesar da queda, o consenso do mercado ainda embute a perspectiva de uma alta do dólar (ou seja, desvalorização do real) daqui em diante. No início de fevereiro, a mediana das estimativas coletadas pelo Banco Central indicava cotação do dólar em R$ 5,60 ao fim do ano. Agora, o ponto médio é de R$ 5,25.

Nas previsões mais otimistas, porém, houve uma mudança mais significativa. A projeção mais baixa coletada pelo BC no começo de fevereiro era de dólar em R$ 5,10 ao fim do ano; agora é de R$ 4,20.

Os impactos da valorização do real na economia brasileira
Até agora, segundo os analistas, a valorização do real tem inibido maior aceleração nos preços. Mas as expectativas de inflação vêm aumentando nas últimas 11 semanas, segundo o relatório Focus, do BC. O ponto médio está em 6,86%. Quatro semanas antes estava em 5,60%.

Moretti aponta que antes, o dólar era a principal fonte de preocupação. Agora, é o preço do barril do petróleo, na faixa de US$ 120 por barril, e o das commodities.

“Há um arrefecimento das pressões inflacionárias. A importação de bens de capital e de insumos se torna mais barata e tende a haver maior oferta de produtos domésticos”, explica Macedo, da Warren.

Dias não prevê muitos impactos sobre as exportações. Tradicionalmente, momentos de valorização da moeda tornam menos competitivas as vendas para o exterior. “É que a maioria dos negócios envolve commodities e o balanço entre oferta e demanda está apertado.”

Por outro lado, pelo fato de as expectativas não sinalizarem um grande crescimento da economia – a mediana das projeções no relatório Focus, do BC, aponta para um crescimento de 0,5% neste ano –, não deve haver impacto sobre as importações, destaca o especialista da hEDGE Point. “Os termos de troca (relação entre exportações e importações) estão mais favoráveis em 2022.”


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GOVERNO GASTA 2,8 MILHÕES COM PAVILHÃO EM DUBAI

 

Por
Lúcio Vaz – Gazeta do Povo

A construção do Pavilhão do do Brasil na Expo Dubai custou US$ 25 milhões à Apex| Foto: Alan Santos/PR

As viagens do presidente, diretores, gerentes e convidados da Apex-Brasil pelo mundo custaram R$ 2,8 milhões no ano passado. Só os deslocamentos dos convidados somaram R$ 1,2 milhão. Eram deputados, senadores e jornalistas. Dos R$ 8 milhões gastos com passagens, diárias e hospedagem, a metade foi investida na Expo Dubai, nos Emirados Árabes. A Apex investiu mais 25 milhões de dólares na construção do Pavilhão do Brasil na feira de negócios.

As 145 viagens para Dubai ao longo do ano custaram R$ 4,2 milhões. Considerando todas as viagens nacionais e internacionais, foram gastos R$ 2,7 milhões com diárias, R$ 2,6 milhões com hospedagens e R$ 2,5 milhões com passagens. Os 184 deslocamentos do presidente, diretores, gerentes e convidados consumiram R$ 3,15 milhões. Servidores da agência foram destacados para ciceronear deputados, ministros e auditores do Tribunal de Contas da União (TCU) na Expo Dubai e em outras feiras mundo afora.

O ex-presidente Sérgio Segóvia foi exonerado quando estava em Dubai, em 27 de abril, nos preparativos iniciais para a apresentação brasileira na Expo Dubai. As despesas da viagem de 10 dias somaram R$ 43 mil, sendo R$ 22 mil em diárias. Ele já havia passado uma semana naquela cidade para participar da Feira de Alimentos e Bebidas do Oriente Médio, a Gulfood, com despesas de R$ 28 mil. Os 10 integrantes da comitiva gastaram R$ 304 mil.

Os maiores gastos de diretores e gerentes
O novo presidente, Augusto Pestana, diplomata, também estava na viagem em que aconteceu a demissão de Segóvia, mas na condição de diretor de Negócios da agência. Pestana retornou a Dubai em novembro para participar da Expo 2020 e acompanhar o presidente Jair Bolsonaro ao Bahrain. Esses deslocamentos custaram R$ 57 mil. A missão durou uma semana.

O diretor de Gestão Corporativa, Roberto Escoto, esteve com Pestana em Dubai, em novembro, e também acompanhou o presidente Bolsonaro no Bahrain. As despesas do diretor em 10 dias chegaram a R$ 55 mil, incluindo R$ 19 mil em diárias e R$ 23,7 mil com hotel. General de brigada da reserva, ele tem renda total de R$ 75 mil – R$ 29 mil como militar aposentado e R$ 46 mil como diretor da Apex. Contra-almirante da reserva, Segóvia tinha renda de R$ 76 mil, como mostrou reportagem do blog. A Apex é uma entidade de direito privado e não está submetida ao teto remuneratório. Mas é controlada pelo governo e mantida quase que exclusivamente por contribuições sociais.

Nas viagens nacionais e internacionais, a Apex paga a seus dirigentes e servidores despesas com passagem aérea, hospedagem e diárias, além de “outros serviços”. Uma vez que há recursos destinados a hospedagem, o blog questionou quais despesas são pagas com as diárias. Não houve resposta.

O diretor de Negócios, Lucas Fiuza, também esteve na Semana do Brasil na Expo Dubai, em novembro, fazendo uma despesa de R$ 46 mil. A viagem para Nova York e para a abertura da Expo Dubai custou mais R$ 44 mil. Fiuza e Escoto estiveram juntos no evento OTC Houston (EUA), durante uma semana, em agosto. Escoto foi palestrantes. As despesas dos dois somaram R$ 68 mil. Também foram juntos para a Anuga, feira da indústria de alimentos e bebidas, em Colônia (Alemanha). A viagem de Escoto durou 11 dias. A de Fiuza, apenas três dias. Mais R$ 87 mil de despesas.


O gerente de Integridade, Marcelo Barreto, ligado diretamente à presidência da Apex, viajou a Dubai, de 26 de setembro a 5 de outubro, para acompanhar os trabalhos do representante da Presidência do TCU, durante a visita técnica institucional à Expo Dubai. A sua viagem custou R$ 32 mil. Foi acompanhado na missão pelo gerente de Aquisições e Contratos, Rafael Coelho, que acompanhou a visita do representante do tribunal e auditoria interna ao pavilhão do Brasil. Mais R$ 29,6 mil de despesas.

Em meados de novembro, Barreto voltou a Dubai para acompanhar a “visita institucional” de ministros do TCU à Expo Dubai, em particular ao Pavilhão do Brasil. No início daquele mês, o gerente Jurídico, João Marcos, ligado à presidência, foi enviado a Dubai para reuniões técnicas e para acompanhar os ministros do TCU Jorge Oliveira e Vital do Rego.

Como mostrou o blog, o TCU gastou mais R$ 530 mil com 12 deslocamentos para Dubai no ano passado, sendo quatro ministros e oito assessores. Apenas uma caravana, liderada pela presidente do tribunal, Ana Arraes, custou R$ 280 mil.

O coordenador de Auditoria Interna, Eduardo Kruger, esteve em Dubai, de 24 de setembro a 5 de outubro, para executar auditoria na Expo Dubai. Ficou registrado que “a opção do hotel foi pela localização (próximo ao metrô), indicações de colegas da Apex e por estar dentro dos limites de valor”. Sua viagem custou R$ 38 mil, sendo R$ 17 mil com hospedagem. A Apex afirmou ao blog que Kruger esteve em Dubai para “acompanhar os processos de auditoria da Expo, realizados em estrita observância com os procedimentos internos da Agência”.

Parlamentares e jornalistas convidados
O senador Irajá (PSD-TO) esteve na Expo Dubai na primeira semana de dezembro, como convidado da Apex, para participar de atividades no Pavilhão do Brasil na feira. Suas despesas ficaram em R$ 22 mil. Os analistas da Apex Thiago Silva e Antônio Ferreira gastaram mais R$ 62 mil para acompanhar o senador na visita à feira. Reportagem do blog mostrou que a Câmara e o Senado gastaram mais R$ 210 mil com viagens de parlamentares a Dubai.

Irajá também foi convidado para a Anuga, feira comercial para a indústria de alimentos e bebidas, em Colônia (Alemanha), no início de outubro. Sua despesa chegou a R$ 27,5 mil. Foi uma viagem em família. A senadora Kátia Abreu (PP-TO), sua mãe, também foi convidada para o evento. A Apex enviou 13 funcionários para a feira, com uma despesa de R$ 490 mil. A viagem do gerente de Relações Institucionais e Governamentais, Tiago Vicente, durou 18 dias, com um custo de R$ 82 mil, sendo R$ 38 mil com hospedagem e R$ 21 mil com passagens.

Também foram convidados para o evento os deputados Aline Sleutjes (União-PR), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Sérgio Souza (MDB-PR), Evair Vieira de Melo (PP-ES), Hugo Nóbrega (Republicanos-PB) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL). A despesas com todos os convidados para a  Anuga chegou a R$ 239 mil, sendo R$ 153 mil com hospedagem. Marcos Pereira, Bulhões e Hugo Nóbrega estiveram também em Houston (EUA) como convidados da Apex. Sleutjes esteve no México.

A Apex registrou na prestação de contas que “a justificava para o convite aos parlamentares é mostrar o trabalho da Apex Brasil junto às feiras que apresentam oportunidades para a ampliação das exportações e eventuais investimentos no Brasil. O parlamentar complementará a divulgação do trabalho da Apex no exterior”.

Seis jornalistas da TV Record e da Agência Brasil estiveram em Dubai a convite da Apex, ao custo de R$ 97 mil. A agência afirmou que a “viagem de familiarização” levou os jornalistas para cobrir a abertura da Expo 2020 Dubai, a agenda do vice-presidente da República nos três primeiros dias de outubro em Dubai e também agendas de negócios.

No final de novembro, a agência levou nove jornalistas especializados em arquitetura para visitar o Pavilhão do Brasil na Expo Dubai. Mais uma despesa de R$ 103 mil. Oito jornalistas árabes foram trazidos de Dubai para Foz do Iguaçu (PR) para conhecer fábricas de empresas brasileiras participantes na Expo Dubai e conhecer o trabalho da Apex. A viagem custou R$ 107 mil.

“Exposições projetam imagem do país”
A Apex afirmou ao blog que, “em relação à viagem de convidados e colaboradores, essas e tantas outras atividades fazem parte do cotidiano de trabalho da agência, uma vez que uma das missões estratégicas da Apex Brasil é promover negócios brasileiros no exterior – seja em feiras internacionais, rodadas de negócios, entre outros eventos. Isso inclui construir agendas com parceiros em eventos organizados pela agência”.

O blog também questionou a Apex sobre o retorno dos investimentos feitos na Expo Dubai. A agência respondeu que “o balanço completo da Expo será divulgado oportunamente. Alguns dados de investimentos não podemos divulgar por força das cláusulas de confidencialidade com nossos parceiros privados. No entanto, podemos te adiantar que há indicações de que o retorno previsto do investimento feito pela Agência superará as expectativas iniciais”.

A agência acrescentou que presta contas à sociedade brasileira, “até por isso, ações como as de familiarização voltadas ao Legislativo, aos órgãos de controle e à imprensa nacional são fundamentais. Por fim, destacamos que as exposições universais têm forte componente de projeção de imagem do país no exterior e, por isso, viagens como as citadas por você fazem parte desta estratégia. A relação de parceria com os Emirados Árabes Unidos vai muito além da Expo, afinal nossa relação de negócios com eles é abrangente. No período da Expo, tivemos mais de 50 feiras e conferências realizadas em Dubai, num contexto de retomada pós-pandemia”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/diretores-gerentes-e-convidados-da-apex-gastam-r-28-milhoes-com-viagens/
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MORO COM A MUDANÇA DE PARTIDO VAI ACABAR FICANDO SEM CARGO

 

Política

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Ex-juiz Sergio Moro migrou do Podemos para o União Brasil| Foto: Saulo Rolim/Podemos

Para que lado vai Moro? Para que lado vai Doria? Como é que fica Eduardo Leite? Essas são algumas perguntas que a gente tem depois de toda essa movimentação de troca-troca de partidos em que a cada quatro deputados federais, um trocou de partido. E esse troca-troca beneficiou o partido de Bolsonaro, que ficou sendo a maior bancada da Câmara, e também beneficiou outros partidos que estão apoiando a reeleição do presidente.

Nos governos dos estados, renunciaram para concorrer ao Senado o governador Flávio Dino (PSB), do Maranhão; Renan Filho (MDB), de Alagoas; Wellington Dias (PT), do Piauí; e Camilo Santana (PT), do Ceará.

Mas renunciaram também para concorrer à mesma vaga de candidato à presidência da República – e pelo mesmo partido, o PSDB – João Doria, ex-governador de São Paulo, e Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul. Não cabem os dois, e certamente Doria não vai querer ser vice de Eduardo Leite, e a recíproca é verdadeira.

E Eduardo Leite já deu uma declaração dizendo que ele está entre a nova geração que vai mudar o mundo, junto com – ele disse – Volodymyr Zelensky; Emmanuel Macron; Justin Trudeau, lá do Canadá; e com a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern.

Moro em dificuldades
Já Moro saiu do Podemos e fechou as portas do Paraná para ele. Porque quem estava o apoiando eram o Álvaro Dias e o Oriovisto Guimarães, os dois senadores do Paraná. E o União Brasil disse que “aqui, como candidato a presidência da República, não – só se quiser ser candidato a deputado estadual ou federal por São Paulo”. Então ele está amarrado num estado onde ele não é tão conhecido como no Paraná e já há até uma certa dúvida sobre se ele consegue algum cargo eletivo.

Enquanto isso, três prefeitos de capitais também estão arriscando: o Alexandre Kalil (PSD), de Belo Horizonte, quer ser governador e renunciou no meio do mandato. O Gean Loureiro (União Brasil), lá de Florianópolis, também quer ser governador, assim como o Marquinhos Trad (PSD), de Campo Grande.

Terceira via enfraquecida
E cada vez mais está enfraquecida a tal “terceira via”, que foi tão falada pelos especialistas – especialistas que disseram que o Viktor Orbán iria perder a eleição de ontem lá na Hungria, e ele ganhou pela quarta vez. Especialistas que disseram que o Moro iria acabar com a polarização porque seria o presidente da República. E aí a terceira via está vendo que não vai ter; vai acabar com o Ciro Gomes tendo mais votos do que o Eduardo Leite.

A tendência é o Eduardo Leite virar candidato do PSDB, mas aí ele tem que se tornar conhecido no Piauí, no Pará, em Roraima, em Mato Grosso, em Minas Gerais, na Bahia… Vai ser complicado, tem pouco tempo para isso.

Disputa entre direita e esquerda

São esses os problemas dos que sonharam e levitaram. E os outros ficaram com o pé no chão diante da realidade. E a realidade é esta: vai ser uma disputa entre direita e esquerda. Para o pessoal do Bolsonaro, o Bolsonaro sugere que é a luta entre o bem e o mal. Vai ser uma campanha difícil a de Lula, depois de todas as condenações, depois do Mensalão, depois do Petrolão, depois da Lava Jato… Vai ser muito difícil convencer as pessoas que não são fanatizadas.

Ainda não começou a campanha, mas está todo mundo se movimentando.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/apos-movimentacao-moro-pode-acabar-sem-cargo-eletivo/
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GASTOS DE CANDIDATO COM MARQUETEIRO ULTRAPASSA 45 MILHÕES

 

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Orçamento apresentado pela agência contratada por decisão do ex-presidente e de Franklin Martins amplia a disputa com Jilmar Tatto por controle da comunicação

Luiz Vassallo, O Estado de S.Paulo

A contratação do marqueteiro Augusto Fonseca e de sua agência, a MPB Estratégia e Criação, ampliou um intenso embate que transcorre nos bastidores do PT e da pré-campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Fonte de suspeitas de caixa 2 em outras disputas, o marketing eleitoral da futura campanha de Lula já revive as cifras milionárias do passado. 

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O Estadão mostrou, em março, que Franklin e Tatto têm protagonizado discordâncias sobre como conciliar a propaganda de Lula e do partido na corrida presidencial. Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil e Alex Silva/Estadão

Segundo apurou o Estadão, o primeiro orçamento apresentado pela agência escolhida foi de R$ 45 milhões para ações de comunicação. A briga pelo controle dos recursos milionários se tornou o ponto central das divergências entre os grupos do ex-ministro da Secretaria da Comunicação Social Franklin Martins – conselheiro mais próximo de Lula – e o do secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto

O secretário petista era contra a contratação de uma agência e defendia “estatizar” o marketing da campanha, mantendo as ações dentro da máquina do partido. Com apoio de Lula, Franklin bancou a escolha de Fonseca após uma concorrência na qual os valores não foram apresentados previamente, segundo dirigentes da legenda e integrantes da pré-campanha.

O valor pedido pela MPB é comparado por petistas aos cobrados por Duda Mendonça, histórico marqueteiro que ajudou Lula a se eleger em 2002 e que morreu no ano passado. Naquela campanha, Fonseca auxiliou Duda. A MPB fica em um prédio na Avenida Nove de Julho, em São Paulo, dois andares abaixo da antiga agência do simbólico marqueteiro das campanhas petistas. Além de Fonseca, os outros dois sócios da MPB, Manoel Antonio Canabarro e Eduardo de Matos Freiha, também atuaram com Duda. Canabarro já foi o braço direito do publicitário. Freiha chegou a ser condenado no mensalão.

Dirigentes do PT e integrantes da campanha afirmaram ao Estadão, sob condição de reserva, que apenas após a escolha ser feita por Franklin – e avalizada por Lula –, foram discutidos os preços dos serviços. Fonseca apresentou a cobrança de R$ 45 milhões para o primeiro turno da disputa. O valor envolve gastos com o marketing, locação de câmeras, ilhas de edição e serviços relacionados às redes sociais e internet. Está excluída do pacote a demanda de pesquisas, que costuma atingir valores milionários.

Estadão mostrou, em março, que Franklin e Tatto têm protagonizado discordâncias sobre como conciliar a propaganda de Lula e do partido na corrida presidencial. A contratação da MPB acirrou a disputa interna e a levou para o campo financeiro, diante do elevado montante de recursos envolvido. Segundo dirigentes do PT, integrantes da pré-campanha e profissionais próximos de Fonseca, há uma negociação para reduzir este valor. 

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), empresas de pesquisa eleitoral, produtoras e locadoras de equipamentos custaram R$ 29 milhões em 2018, somadas a pré-candidatura de Lula – que acabou preso e barrado pelo TSE antes do pleito – e a candidatura de Fernando Haddad. O marqueteiro era Otávio Antunes, que fará a campanha do ex-prefeito ao governo de São Paulo. Antunes é jornalista e foi chefe de comunicação da Fundação Perseu Abramo. Tem boa relação com Tatto, para quem trabalhou na campanha ao Senado naquele ano.

Em 2005, em meio ao mensalão, Duda Mendonça confessou ter recebido R$ 10,5 milhões em caixa 2 no exterior para a campanha de Lula. Ele acabou absolvido, mas se tornaria delator anos depois, na Operação Lava Jato. Sócio da MPB, Freiha era produtor de vídeo de Duda à época. As investigações, no entanto, mostraram que seus serviços iam além das câmeras e ilhas de edição. Em 2015, foi condenado por evasão de divisas sob acusação de controlar contas atribuídas a Duda que receberam US$ 2,5 milhões no exterior. Em segunda instância, o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região reconheceu a prescrição da pena.

Quando a contratação da agência foi anunciada, somente o nome de Fonseca foi mencionado pela assessoria de Lula. Freiha é sócio administrador da MPB e participará da campanha como diretor de vídeo. Nas eleições de 2018, a MPB recebeu R$ 10 milhões pela campanha de Ciro Gomes (PDT). Hoje, Ciro tem como marqueteiro João Santana, que fez as campanhas de Lula, em 2006, e da ex-presidente Dilma Rousseff em 2010 e 2014. Santana foi delator na Lava Jato e confessou ter recebido valores da Odebrecht e da JBS no exterior pelas campanhas petistas. O marqueteiro e sua ex-mulher, Mônica Moura, devolveram R$ 80 milhões aos cofres públicos em seus acordos de delação.

Fonseca também trabalhou para a campanha de Aécio Neves (PSDB) em 2014, quando o então senador rivalizou com Dilma. Quando a petista foi reeleita, em 2014, último ano em que contribuições de empresas foram permitidas na disputa presidencial, a arrecadação foi de R$ 318 milhões. Em 2018, a campanha do PT ao Planalto recebeu valor bem inferior: R$ 55 milhões. Mas, com o aumento do fundo eleitoral aprovado pelo Congresso e avalizado pelo Supremo Tribunal Federal, partidos vão receber R$ 4,9 bilhões em recursos públicos. Atrás apenas do União Brasil, o PT terá a segunda maior fatia do bolo de recursos públicos: R$ 484 milhões para gastar em campanhas.

Procurados, Augusto Fonseca e Eduardo Freiha não se manifestaram. A assessoria de Lula e de Franklin Martins afirmou que não faria comentários sobre divergências internas do partido e valores da campanha. Sobre a contratação da MPB, disse que foi realizada uma concorrência entre quatro agências, e que foi escolhida a melhor proposta na opinião do ex-presidente, da presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e de Franklin.

O PT nacional afirmou que “os valores e contratos com fornecedores para a campanha eleitoral serão negociados no devido tempo, de acordo com a legislação e levando em conta os recursos disponíveis das três fontes: fundo eleitoral, Fundo Partidário e arrecadação própria” do partido.

Para lembrar

Embate

Estadão mostrou, em março, que a campanha de Lula ao Palácio do Planalto enfrenta uma disputa de bastidores pelo comando da comunicação.

Divergências

De um lado está o coordenador de comunicação da equipe de Lula, Franklin Martins, e, de outro, o secretário do PT, Jilmar Tatto. Os dois têm protagonizado divergências sobre como conciliar a propaganda de Lula e do partido na corrida presidencial.

Controle

Ex-ministro da Secom no 2.º governo Lula, Franklin quer ter o controle sobre todas as ações envolvendo o ex-presidente. Já Tatto exige autonomia para administrar as redes sociais, a TVPT – canal do partido no YouTube –, a rádio e o aplicativo da sigla

PETROBRAS BUSCA NOVO NOME PARA O PRESIDIR O CONSELHO

 

Empresário volta atrás e recusa indicação; ministério diz esperar ‘trâmites’ sobre nome de Adriano Pires à presidência da estatal

Marlla Sabino, Célia Froufe e Aramis Merki II, O Estado de S.Paulo

Ministério de Minas e Energia passou a procurar um outro nome para o conselho de administração da Petrobras, depois que o empresário Rodolfo Landim comunicou, na madrugada de ontem, que decidiu recusar a indicação para presidir o colegiado. De acordo com a pasta, a nova indicação será avaliada com a “responsabilidade que a situação requer”.

Landim havia sido indicado para o cargo em 28 de março, junto com o nome do economista Adriano Pires para a presidência da estatal. Em carta endereçada ao ministério, Landim, que também é presidente do Flamengo, afirma que, “apesar do tamanho e da importância da Petrobras para o nosso País, e da enorme honra para mim em exercer este cargo”, decidiu abrir mão da indicação e concentrar-se na administração do time. 

“Entendo que existiria um risco considerável, caso fosse conduzido à presidência do conselho da Petrobras, de não conseguir exercer ambas as funções com a excelência por mim desejada e à altura que a Petrobras e o Flamengo merecem”, escreveu.

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Aumentou a apreensão em torno da viabilidade de Adriano Pires para presidência da Petrobras   Foto: Estadão

Ex-funcionário de carreira da Petrobras, ele presidiu a antiga BR Distribuidora (agora Vibra Energia), de 2003 a 2006, no governo Lula. Deixou a estatal para assumir cargos de liderança nas empresas do Grupo X, de Eike Batista, com quem tem uma longa rixa, inclusive na Justiça. Em carreira solo, criou sua própria petrolífera, a Ouro Preto, vendida em 2020.

A desistência de Landim elevou ainda mais a temperatura em torno da troca de comando na Petrobras, depois que o presidente Jair Bolsonaro demitiu o general da reserva Joaquim Silva e Luna da presidência da estatal. É que Pires, indicado para o cargo, já tem seu nome contestado pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) por suposto conflito de interesses. 

Em representação, o subprocurador-geral do MP-TCU Lucas Rocha Furtado afirmou ter identificado problemas, “tendo em vista sua (de Pires) atuação na iniciativa privada, a lançar dúvidas sobre a possibilidade ética e legal de vir a assumir a presidência da Petrobras”. Segundo Furtado, Pires “mantém relações econômicas de caráter privado com diversas empresas nacionais e internacionais que se relacionam com a Petrobras, inclusive concorrentes diretas da estatal no mercado internacional”.

Entre as questões para que o economista seja efetivado no cargo, estaria a necessidade de desligamento compulsório do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), empresa que é comandada por seu filho, Pedro Pires. A legislação brasileira é clara ao dizer que um executivo da estatal não pode ter parentesco com outra pessoa que atue no mercado e que possa ser considerado um concorrente. 

Além disso, também há a relação da CBIE com empresas dos setores de energia e óleo e gás. Entre elas, a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), que tem como associadas empresas concessionárias dos serviços de distribuição de gás canalizado, e grandes empresas como Exxon Mobil, Shell, Braskem, Chevron, Ipiranga, CPFL Energia, Eneva, Engie e outras de diferentes segmentos.

‘TRÂMITES LEGAIS’.

O Ministério de Minas e Energia afirmou que, desde a semana passada, Pires está cumprindo os “trâmites legais e administrativos” exigidos para a proposição do seu nome à Assembleia Geral Ordinária, marcada para o próximo dia 13. “Temos de aguardar todas essas análises e, se tiver algum óbice, se pode ser superado”, informou a pasta. Procurado ontem, o economista não retornou às chamadas até a conclusão desta edição.

Depois de contar com um presidente das Forças Armadas, o general Silva e Luna, o governo buscava de volta um nome do mercado para as presidências da estatal e de seu conselho. Luna e seu antecessor, Roberto Castello Branco, acabaram saindo da empresa justamente por divergências com o Palácio do Planalto sobre a política de preços da companhia. Em entrevista ao Estadão, Silva e Luna afirmou que “é muito mais fácil encontrar um culpado do que uma solução” e desejou “sorte” a seu sucessor.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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