segunda-feira, 28 de março de 2022

GUERRA LIMITADA PODE SE TORNAR UMA GUERRA ILIMITADA

 

Foto: Departamento de Defesa dos EUA /Domínio PúblicoPor The Economist – Jornal Estadão

Apesar de não parecer iminente, desastre se desenha como algo perturbadoramente possível

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Para um guerreiro em uma operação de sítio no século 16, a arte da escalada significava galgar altos muros fortificados de cidades evitando ser atingido por coisas desagradavelmente incandescentes ou afiadas. Para os homens que reescreveram as regras da estratégia segundo a era nuclear, a arte da escalada é o processo por meio do qual, pouco a pouco, uma guerra limitada se torna uma guerra ilimitada. Como nos cercos ancestrais, atualmente uma escada é crucial: mas uma escada conceitual, na qual cada degrau tanto eleva o nível do conflito quanto envia um sinal para o outro lado.

Herman Kahn, uma das várias inspirações para o personagem principal do inigualável tratado de Stanley Kubrick sobre dissuasão nuclear, Dr. Fantástico, concebeu uma escada de 44 degraus de escalada para estudar e analisar o fenômeno. O movimento do 9.º degrau (“Confrontos militares dramáticos”) para o 10.º (“Rompimentos provocativos de relações diplomáticas”), notou ele, é o passo no qual a guerra nuclear deixa de ser algo impensável.

Dr. Fantástico é uma comédia porque Kubrick considerou impossível colocar na tela de outra forma os absurdos desta conta escatológica e sua perturbadora teorização. Isso não significa que os conceitos da sistematização pela escada não tenham significado. A invasão da Ucrânia (12.º degrau: “grande guerra convencional”) sem dúvida elevou o mundo para além do nível em que a guerra nuclear deixa de ser algo impensável; nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, tais horrores “retornaram para o campo da possibilidade”. Os riscos de um conflito escalar para uma guerra nuclear são maiores hoje do que foram por mais de meio século.

Captura de vídeo divulgada pelo Ministério da Defesa da Rússia em 19 de fevereiro de 2022 mostra um míssil balístico intercontinental Yars sendo lançado durante um exercício de treinamento em um local indefinido na Rússia

Captura de vídeo divulgada pelo Ministério da Defesa da Rússia em 19 de fevereiro de 2022 mostra um míssil balístico intercontinental Yars sendo lançado durante um exercício de treinamento em um local indefinido na Rússia Foto: Russian Defence Ministry / AFP

Somente um dos lados na guerra possui armas nucleares. Apesar de a Ucrânia ter tido armamento atômico soviético estacionado em seu território até poucos anos depois de se tornar independente, em 1991, essas armas jamais estiveram sob seu controle político. E o país, ao contrário do que prega a propaganda russa, não empreende nenhum tipo de esforço para adquirir armas atômicas. Mas um adversário sem armas nucleares não garante contenção nuclear. E à Otan, que fornece armamento para a Ucrânia e reforça posições na região, não faltam ogivas atômicas.

Fantasma de guerra nuclear volta a assombrar

O presidente russo, Vladimir Putin, não deixou de alertar seus adversários a respeito dos riscos nucleares. Em um discurso na TV, no início da invasão russa, ele alertou as potências ocidentais que poderiam vir a tentar conter seu avanço a respeito de “consequências com as quais vocês jamais se depararam em sua história”. Em 27 de fevereiro, após a imposição de sanções bancárias sem precedentes pelos países do Ocidente (20.º degrau: “embargo ou bloqueio mundial”), Putin deu ordem para que as “forças de dissuasão” de seu país passassem para um “modo especial de prontidão de combate”.

O cenário nuclear mais simples prevê Putin, caso se veja diante de uma derrota na Ucrânia, tentando mudar a maré explodindo uma bomba nuclear (18.º degrau: “exibição ou demonstração de força espetacular”).

Christopher Chivvis, que serviu como chefe de inteligência dos EUA para a Europa entre 2018 e 2021, afirmou que, em vários jogos de guerra simulados após a anexação russa da Crimeia, em 2014, especialistas ocidentais e oficiais militares que faziam o papel dos russos escolheram certas vezes conduzir testes nucleares ou uma detonação de alta altitude que prejudica comunicações em uma ampla região – “Imagine uma explosão que faz apagar as luzes de Oslo”.

Um desdobramento disso poderia ser a Rússia usar um armamento nuclear menor na Ucrânia, justificando a ação enquanto um ataque preventivo contra armas de destruição em massa ucranianas não existentes ou alegando que foi a Ucrânia que explodiu a bomba. Isso seria seguido por uma exigência de rendição incondicional apoiada por ameaças de mais explosões similares.

Reforço no Leste
Otan envia reforços a aliados na fronteira com a Ucrânia

Uma pequena explosão nuclear pode parecer uma contradição em termos. Mas tanto a Rússia quanto a Otan possuem armas nucleares “não estratégicas” ou “táticas”, que causam muito menos danos do que as bombas arrasadoras, capazes de destruir cidades inteiras. Essas bombas nucleares estratégicas têm potência aferida normalmente na casa das centenas de quilotons: suas detonações equivalem a explodir no mesmo momento milhares de toneladas de fortes explosivos.

A potência das armas nucleares táticas equivale a poucos quilotons. O poder da bomba B61, um armamento americano com potência variável, pode ser “diminuído” para até 0,3 quiloton, caso o objetivo for utilizá-la como arma tática. A explosão de alguns milhares de toneladas de nitrato de amônio mal armazenado em Beirute, em agosto de 2020, mostrou quão terríveis essas explosões podem ser. Mas elas são muito menos devastadoras do que as bombas usadas em guerras totais.

Acredita-se que a Rússia possua milhares de armas nucleares não estratégicas; o país as considera um modo de compensar a força da Otan em avançados armamentos convencionais. A Otan mantém entre 100 e 200 bombas B61, apesar de as Forças Armadas americanas considerarem que esse armamento tem pouco valor no campo de batalha. A presença dessas bombas é mantida para dar aos aliados europeus relevância direta sob o guarda-chuva nuclear dos EUA.

A disponibilidade dessas bombas é parte do que torna assustadora a segunda rota, que é indireta, para o uso de armas nucleares. Esse caminho implica em Putin ampliar a guerra para um conflito em que as forças da Otan se envolvam diretamente, de uma maneira que a aliança tem resistido até aqui – e uma importante razão para isso é o risco nuclear inerente a esse confronto.

Em imagem de 2019, Vladimir Putin treina com equipe de judô em Sochi

Em imagem de 2019, Vladimir Putin treina com equipe de judô em Sochi Foto: MIKHAIL KLIMENTYEV

Um temor é que a Rússia possa atacar diretamente armazéns ou carregamentos de armas em território de países-membros da Otan. Se o país atacado conclamar seus aliados a tratar a agressão como gatilho do Artigo 5.º, a cláusula de proteção mútua, a Otan poderá decidir responder contra as forças russas na Ucrânia – ou mesmo dentro da Rússia.

Pior medo

Outra possibilidade é que os países ocidentais possam agir fomentando pressão interna para acabar com o derramamento de sangue, especialmente se a guerra na Ucrânia escalar, por exemplo, com o uso de armas químicas. A Rússia poderia usar suas alegações de que a Ucrânia possui esse tipo de armamento para justificar uma retaliação. Tais táticas espalhariam terror entre os civis ucranianos e sinalizariam para a Otan que a Rússia pretende ir até o fim.

Ao mesmo tempo, isso colocaria uma “imensa pressão sobre a Otan para obrigar a Rússia por meio da força a parar com esses ataques”, afirmou Oliver Meier, do Instituto para Pesquisas de Paz e Política de Segurança, em Hamburgo.

Meier vê uma “escalada descontrolada como resultado de atropelos, operações de bandeira falsa ou sinalizações mal interpretadas” – as rotas mais prováveis para o desastre. Atropelos, afinal, acontecem, e pessoas em guerra tendem a ficar nervosas. Em 9 de março, como se provesse um exemplo prático, um erro durante manutenções de rotina fez um míssil indiano com capacidade nuclear (mas neste caso não carregado) ser disparado contra o Paquistão, vizinho da Índia que também possui armas atômicas. Se as tensões estivessem elevadas entre os países, o encabulado pedido de desculpas dos indianos teria chegado tarde demais.

Qualquer que seja a cadeia de eventos que ocasione isso, uma irradiação até mesmo de uma pequena lasca da Ucrânia chocaria o mundo. Governos ocidentais seriam pressionados a reagir. Mas responder à Rússia na mesma moeda (27.º degrau: “ataque exemplar contra militares”) equivaleria a abrir caminho para um ataque contra cidades americanas e europeias (29.º degrau: “ataque exemplar contra civis”).

Um mês de guerra na Ucrânia
Rússia avança em território ucraniano e provoca êxodo de milhões de pessoas

Khan definiu outros 15 degraus em que adversários trocam ataques e arrasam cidades com ainda mais descuido. A doutrina da aniquilação mútua garantida sugere que, uma vez que cidades estão sendo destruídas, as coisas escalam rapidamente para o 44.º degrau: “espasmo ou guerra insensata”.

Mas a alternativa de tentar derrotar Putin usando apenas armas convencionais não o faria necessariamente atender a um similar, especialmente se a tentativa de colocá-lo para correr parecer próxima do sucesso em torno daqueles degraus iniciais. Mas não fazer nada pode muito bem se provar impossível; a necessidade de demonstrar que armas nucleares não permitem impunidade poderia se provar inevitável.

Jogos de guerra

Uma série de jogos de guerra realizados durante o governo de Barack Obama sugeriu uma gama de respostas possíveis. Em The Bomb: Presidents, Generals, and the Secret History of Nuclear War, o jornalista Fred Kaplan descreve a reação dos jogadores de guerra a um cenário no qual a Rússia invade um país báltico e dispara uma arma nuclear tática contra uma base alemã para impedir o contra-ataque da Otan.

Quando um grupo de generais simulou esse cenário, Colin Kahl, conselheiro de segurança nacional do então vice-presidente Joe Biden, argumentou que seria melhor continuar lutando com armas convencionais e isolar a Rússia diplomaticamente. Seu conselho foi seguido no jogo. Quando secretários de gabinete e comandantes militares fizeram a mesma simulação um mês depois, eles decidiram jogar uma bomba nuclear em Belarus, mesmo que o país não tivesse envolvimento na guerra.

EUA consideram que exército russo cometeu crimes de guerra na Ucrânia

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que Washington chegou à conclusão de que o exército russo cometeu ‘crimes de guerra na Ucrânia’.

Nisso tudo, é importante distinguir risco relativo de risco absoluto. Os riscos de uma escalada no confronto que leve ao uso de armas nucleares na Europa estão mais altos agora do que estiveram desde 1962. Isso não significa que esse desdobramento é provável. Para Putin, escalar a guerra de maneira que a Otan entre no conflito representaria uma abertura para uma derrota definitiva na Ucrânia; planejar impedir sua derrota com recursos nucleares seria arriscar uma retaliação em massa.

Mas os riscos são maiores – talvez até mesmo existenciais – para Putin do que para seus oponentes ocidentais. “Um confronto direto entre a Otan e a Rússia será a 3.ª Guerra Mundial”, alertou o presidente americano, Joe Biden, no dia 11. Isso faz dessa possibilidade “algo que temos de nos esforçar para evitar”. Putin pode considerar que há recompensas a serem conquistadas parecendo menos comprometido com essa prevenção.

Dissuasão

Thomas Schelling, economista e estrategista nuclear, observou certa vez que ameaças para dissuasão eram “questão de determinação, impetuosidade e obstinação clara”. Não é fácil fingir essas qualidades, notou ele: “Não é fácil mudarmos nosso caráter. E tornar-se fanático ou impetuoso seria um alto preço a pagar para tornar nossas ameaças convincentes”.

Um homem que invade a Ucrânia sem avisar a maioria de seus ministros e comandantes militares que está prestes a fazê-lo já estabeleceu esse personagem.

Para algumas autoridades ocidentais, essa assimetria de caráter e recompensa sublinha a necessidade de um rápido acordo, mesmo que isso favoreça o Kremlin. Outros notam que simplesmente dizer essas coisas dá a Putin uma vantagem de pressionar firme até que seja repelido com firmeza. “Putin valeu-se implacavelmente do medo da Otan de uma guerra nuclear como (o fim de linha) inevitável”, lamenta John Raine, ex-diplomata britânico. “Ele usou isso para criar um espaço muito amplo, no qual poder travar uma guerra convencional na Europa sem uma resposta militar da Otan.” O perigo é que Putin tente ampliar esse espaço ainda mais – ou se equivoque sobre esses limites. TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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FILMES PARA EMPREENDEDORES

 

StartSe

🍿 Domingo está acabando e nada melhor do que aproveitar o tempo livre para ver um – ou mais filmes com um balde de pipoca no colo. Mais do que diversão, o cinema também pode ser uma ótima forma de ganhar repertório.

Seja para conhecer uma história de resiliência, entender o mercado ou estudar as estratégias que levaram uma empresa ao sucesso, a sétima arte pode dar aquele empurrãozinho extra para tirar um projeto do papel. Opções para inspirar não faltam, de drama até comédia ou um ótimo enredo biográfico.

✅ Graças ao avanço do streaming, assistir às produções ficou mais fácil. Veja, a seguir, as recomendações do Startups com filmes sobre startups e empreendedorismo que você precisa conhecer:

Upstarts

🧠 Lançado em 2019, o filme indiano conta a história de 3 amigos universitários que decidem criar uma startup para solucionar alguns dos problemas que afetam a sociedade, levando remédios a lugares distantes e promovendo o acesso à saúde.

No entanto, à medida em que encontram um investidor e o negócio floresce, os jovens assumem mais trabalho e as demandas do dia a dia desgastam a amizade do grupo. Disponível na Netflix.

Steve Jobs

📌 Como o nome já diz, o filme estrelado por Michael Fassbender traz os momentos marcantes e decisivos na vida do inventor, empresário e fundador da Apple.

O drama biográfico aborda os bastidores do lançamento do computador Macintosh, da empresa NeXT e do iPod, em 2001, além de trazer a tumultuada relação entre Jobs e sua filha Lisa. Disponível na Netflix até 31 de março e (claro) no Apple TV.

Startups.com

👀 Lançado em 2001, nos Estados Unidos, o documentário acompanha a trajetória da govWorks.com, empresa que criou um software para ajudar clientes do governo dos EUA a rastrear contratos e funções de compra.

O filme retrata os momentos de maior sucesso da startup, criada em 1998, até chegar em sua falência, em 2001, causada pela explosão da bolha da internet. Disponível no YouTube.

Fome de Poder

🍟 O filme dirigido por John Lee Hancock conta a história da ascensão do McDonald’s. Na trama, o vendedor Ray Kroc, interpretado por Michael Keaton, adquire uma participação nos negócios da lanchonete dos irmãos Richard e Maurice “Mac” McDonald.

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domingo, 27 de março de 2022

PRODUTOS DERIVADOS DO TRIGO VÃO ENCARECER

Opinião
Editoriais
Por
Gazeta do Povo


| Foto: Agência Brasil

A mesa dos brasileiros será afetada pelos conflitos no Leste Europeu. Desde o aumento dos combustíveis neste mês, essa certeza já vem se materializando no orçamento doméstico de muita gente, mas efeitos piores ainda estão por vir. A subida no preço do diesel deve ter impacto inflacionário em cadeia, com a alteração no preço do frete sendo jogada para os produtos finais. Porém, já nas próximas semanas, é no preço dos panificados que os brasileiros irão sentir os efeitos da crise.

Nos 12 meses anteriores a fevereiro, o preço dos panificados viu um incremento de 9,28%. Até o dia 23 de março, o preço do contrato futuro de 5 mil bushels (136,1 toneladas) aumentou 75% em dólares em um ano, uma alta que chegou a quase 20% somente no mês passado. Alguns moinhos já estão observando altas na casa dos 40% no preço médio do grão.

Não se pode dizer que esse impacto era imprevisível. Ucrânia e Rússia exportam juntas mais de um quarto do trigo do mundo, alimentando milhões de pessoas que consomem pão, massa e alimentos embalados. Também são fornecedoras de cevada, óleo de sementes de girassol e milho, entre outros produtos.

Nos últimos dias, o preço dos produtos agrícolas tem flutuado acentuadamente à medida que as tensões em torno do Mar Negro ameaçam perturbar os carregamentos globais de muitos desses produtos. Essas perturbações, assim como o custo dos combustíveis e dos fertilizantes tem estressado os mercados e contribuem para o crescimento nos preços. Nos próximos três ou quatro meses, quando começa a colheita de trigo, o impacto pode ser ainda maior se o conflito se prolongar ou se houver danos ainda mais severos às instalações portuárias e ferrovias ucranianas.

É claro que a guerra agravou tudo, mas desde o ano passado a Rússia já vinha limitando os seus próprios carregamentos de trigo com uma taxa de exportação destinada a conter os preços internos dos alimentos. Uma vez que os mercados de produtos agrícolas são globais, qualquer redução na oferta afeta a procura e os preços do trigo cultivado noutras partes do mundo, incluindo a Austrália, a Argentina e os Estados Unidos

Com uma guerra longa, não há muitas opções para amenizar seus efeitos por aqui. Uma delas tem a ver com os estoques da indústria moageira, providenciados na colheita doméstica no final de 2021. Eles têm contribuído para o retardamento da alta dos preços nos supermercados brasileiros frente aos praticados nas bolsas globais. Na medida que o Real continuar ganhando força frente ao dólar, isso também impacta positivamente para reduzir o percentual de aumento esperado no mercado local.

Nos próximos três ou quatro meses, quando começa a colheita de trigo, o impacto pode ser ainda maior se o conflito se prolongar ou se houver danos ainda mais severos às instalações portuárias e ferrovias ucranianas

Também é possível que o aumento na área plantada na próxima safra possa ajudar. O país teve uma produção nacional recorde de 7,8 milhões de toneladas na última safra. É esperado que a crise possa levar a um aumento ainda maior da produção nacional neste ano. Outros países também podem seguir o mesmo caminho, como a Índia, a Austrália, que tiveram ótimas colheitas nos últimos anos, a um preço competitivo.

Entretanto, o fenômeno climático La Ñina e as alterações nos preços dos fertilizantes, dado o papel central da Rússia nesse mercado, são os elementos de incerteza no desempenho dessas alternativas. Ademais, existe muita dificuldade no mercado para precificar a commodity sem a produção do Mar Negro e a tendência é que o pessimismo impere.

No curto prazo, dependendo do tamanho do impacto na mesa dos brasileiros, talvez seja preciso cogitar reforços nos programas de transferência de renda para garantir a segurança alimentar dos mais pobres.

No médio e no longo prazo, o Brasil pode se beneficiar da expansão da área destinada ao trigo, com estímulos para o plantio de grão em áreas do Nordeste e no norte do cerrado, apontadas como promissoras pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Assim como no caso das máscaras, dos fertilizantes, dos combustíveis e de outros produtos afetados pelas crises globais, o preço do pão vem lembrar ao país a importância de uma política econômica soberana, que não deixe a população tão à mercê de forças econômicas globais cuja lógica nem sempre é a do funcionamento normal do mercado.


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BOLSONARO OFICIALIZA A SUA CANDIDATURA À REELEIÇÃO

Evento do PL
Bolsonaro lança pré-candidatura à reeleição neste domingo. Saiba como será

Por
Rodolfo Costa – Gazeta do Povo
Brasília

Bolsonaro vai anunciar campanha à reeleição em solenidade do PL na manhã deste domingo (27), em Brasília.| Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) lança sua pré-candidatura à reeleição neste domingo (27), às 10 horas, em um evento mais simbólico do que formal, em Brasília. São esperados discursos que apontem para a busca por um segundo mandato. Mas, para evitar punições da Justiça Eleitoral por uma eventual campanha antecipada, a solenidade deve ser mais marcada pela apresentação de novos filiados ao PL, das propostas da legenda para o país e das realizações do governo.

Advogados do PL e demais assessores jurídicos ligados à coordenação da campanha presidencial alertaram para os riscos de a solenidade incorrer em crime eleitoral. A lei das eleições veda o lançamento de pré-candidatura. Campanhas eleitorais, com comícios e eventos oficiais de candidatos, só podem ocorrer a partir de 16 de agosto. Antes disso, é permitido apenas eventos internos sobre filiação e debates acerca da definição de candidatos.

Por esse aspecto jurídico, a solenidade ganhou um aspecto de “Encontro Nacional do PL”. O partido, agora, trabalha a divulgação como o lançamento do “Movimento Filia Brasil” – que, segundo a legenda, tem como objetivo “fortalecer e ampliar a base eleitoral do partido, com ações para que o público eleitor conheça mais sobre o PL e as medidas defendidas pela legenda.

O PL ainda informa que o “o partido compreende a força dos jovens do nosso país e os convoca para fazer parte desse movimento”. “Se você tem mais de 16 anos e quer lutar por uma sociedade democrática, este Movimento é para você!”, informa o partido em comunicação sobre o evento divulgada na quarta-feira (24).


Que autoridades estarão no lançamento da pré-candidatura
Mesmo que apenas simbólico, o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro vai contar com a presença de deputados e senadores aliados da base governista no Congresso Nacional e ministros de Estado, inclusive aqueles que devem se desincompatibilizar até a próxima sexta-feira (1º) para concorrer nas eleições de outubro – a lei exige que autoridades com cargos públicos (como o de ministro) que queiram disputar o pleito têm de deixar a função seis meses antes do primeiro turno.

O deputado federal Bibo Nunes (PL-RS), vice-líder do partido na Câmara e aliado da base mais ideológica de Bolsonaro, diz que a expectativa é de que o evento conte com o apoio maciço de aliados congressistas e de todos os ministros.

Contudo, ele não acredita que o evento marcará a desincompatibilização dos ministros, nem a confirmação do ministro da Defesa, Braga Netto, como vice de Bolsonaro. “Eu acredito que não haja esses anúncios.” Segundo Bibo, os ministros tendem a ficar na Esplanada até o prazo-limite.

O aspecto jurídico é outro fator apontado por Nunes como motivo pelo qual ele espera gestos políticos mais tímidos no evento. “O presidente tem que se portar como pré-candidato, mas vai ter que se cuidar muito para não transparecer que faz uma campanha antecipada”, diz.

Por esse motivo, o que pode ocorrer é a filiação de alguns ministros ao PL, situação permitida pela legislação. É esperado que três ministros aproveitem o evento para se filiar ao PL: João Roma, da Cidadania; Marcos Pontes, da Ciência, Tecnologia e Inovações; e Gilson Machado, do Turismo.

Atualmente filiado ao Republicanos, Roma é pré-candidato ao governo da Bahia e selou sua ida ao PL após reunião na quinta-feira (24), no Palácio da Alvorada, com Bolsonaro e o presidente nacional de seu partido, deputado federal Marcos Pereira (SP). O presidente do PL no diretório baiano, Vitor Azevedo, confirmou ao site bahia.ba que o ministro e a esposa, Roberta Roma, vão se filiar à legenda.

Já Marcos Pontes está sem partido e vai sair candidato à Câmara dos Deputados por São Paulo. Gilson Machado vai disputar o Senado por Pernambuco na chapa com o prefeito de Jaboatão dos Guararapes (PE), Anderson Ferreira (PL), pré-candidato ao governo de Pernambuco.

Outros ministros também serão candidatos à eleição, mas não se filiarão ao PL. Alguns porque já se filiaram ao partido no ano passado, a exemplo dos ministros do Trabalho e Previdência, Onyx Lorenzoni, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. A ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, foi eleita pela legenda e permanecerá na sigla.

Os demais ministros que se candidatarão serão candidatos por outras legendas. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, vai sair candidata ao Senado pelo PP. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, sairão candidatos pelo Republicanos. E o ministro Braga Netto pode se filiar a uma dessas duas siglas.

Outros nomes com influência entre o eleitorado conservador também estarão no evento. Segundo apurou a Gazeta do Povo, ativistas como Amanda Teixeira Dias, filha do ex-ministro Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), e os youtubers Victor Lucchesi e Robson Calabianqui, conhecido como “Fuinha”, são alguns dos que estarão na solenidade e que podem se filiar ao PL.

O que esperar do discurso de Bolsonaro no evento
De Bolsonaro, é esperado durante a solenidade um discurso alinhado e semelhante ao que ele já vem fazendo em eventos recentes – tais como os esforços do governo para gerar emprego e renda, inclusive durante a pandemia, quando ele evitou o fechamento total da atividade econômica.

A defesa de ações adotadas pelo governo, como a entrega de obras da transposição do Rio São Francisco, e gestos ao agronegócio e a outros setores, também são esperados por interlocutores. Está ainda no radar um discurso sobre o combate à corrupção, além da preocupação com a segurança pública, a defesa dos direitos das mulheres e a titulação de terras.

O discurso dos ministros também pode ir na mesma linha. Segundo um interlocutor, é “certeza” que boa parte deles vai discursar. É incerto, contudo, se aliados congressistas terão oportunidade para se expressar ao público.

“Eu não sei como vai ser a distribuição da palavra, que, pelo nosso regimento [da Câmara], no plenário só pode falar líder e vice-líder. Não sei se vai seguir isso lá. Se for assim, aí eu poderei falar”, pondera o deputado Bibo Nunes.

O parlamentar aposta em um discurso de “muito improviso” por parte de Bolsonaro e com falas sobre “união”. “Principalmente em relação aos partidos que o apoiam. Tem que valorizar bem os partidos. Isso é vital no meu ponto de vista”, analisa. Nunes também tem a expectativa de que o presidente apresente um discurso “empolgante”.

“Tem que ter informação para empolgar, de que a pandemia está terminando, de que o Brasil vai superar a guerra [na Ucrânia e seus efeitos]. Só empolga quem está empolgado e só convence quem está convencido. E sei que o presidente está totalmente empolgado e convencido”, diz o aliado.


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PANORAMA DA GUERRA NA UCRÂNIA

 

Ucrânia

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Soldados ucranianos patrulham a periferia de Kiev, capital do país| Foto: EFE/EPA/ATEF SAFADI

Após um mês de guerra, as forças russas estão dando sinais de que vão restringir suas ações a objetivos militares específicos – ao invés de atacar a Ucrânia como um todo.

Segundo a inteligência britânica, as forças russas subestimaram a capacidade de resistência ucraniana. O que havia sido planejado pelo Kremlin para ser uma guerra de movimento (blitzkrieg) parece ter se tornado um impasse. Ou seja, uma guerra de atrito marcada por cercos e bombardeios prolongados de cidades.

Por outro lado, mesmo se forem levadas em conta as estimativas mais otimistas da Ucrânia sobre baixas no inimigo, a Rússia ainda conta com aproximadamente 90% de suas forças intactas. Elas foram estimadas entre 150 mil e 200 mil tropas no início da invasão.

Além disso, há registro de que grandes quantidades de tropas russas manobram em Belarus para entrar no teatro de operações em breve.

Assim, um dos cenários mais prováveis é que a Rússia se concentre em tomar a região mais a leste do país antes de concordar com um cessar-fogo. Dessa forma, Vladimir Putin poderia clamar vitória na guerra.

Mas ainda não está claro se a tomada da capital Kiev permanece um objetivo essencial para os russos. A tentativa de conquista da cidade tem potencial para gerar um número de baixas militares e civis visto apenas nos conflitos mundiais do século XX.

Confira abaixo o que aconteceu nas principais frentes de batalha na guerra e quais são as tendências dos combates para as próximas semanas.

1) Kiev

Segundo fontes de inteligência britânicas e americanas, o objetivo inicial da Rússia era lançar um ataque surpresa para tomar a capital ucraniana. A ideia era invadir os prédios do governo e prender ou assassinar o presidente Volodymyr Zelensky.

O passo seguinte seria tomar cidades importantes, como Kharkiv, Mariupol e Odessa, e a região de Donbass. Moscou então instauraria um governo pró-Rússia e encerraria a guerra garantindo que a Ucrânia se tornaria uma zona neutra entre a fronteira russa e os países da frente oriental da Otan.

Mas isso não aconteceu. Paraquedistas russos foram lançados sobre uma base aérea de Hostomel para tomar a área e esperar a chegada da força de ataque principal, que se deslocava de Belarus, ao norte.

Uma coluna de veículos de combate russos de quase 60 quilômetros de extensão se dirigiu à capital. Mas em vez de investir diretamente contra Kiev, a coluna começou a tomar pequenas cidades da periferia. Ou seja, como o objetivo inicial de conquista rápida não foi atingido, a ideia era cercar a capital, bombardear a área e forçar uma rendição.

Uma represa do rio Dnieper foi explodida e inundou todo o subúrbio norte da cidade. A área se tornou intransponível.

As tropas russas não conseguiram cercar completamente a capital, que nunca perdeu seu flanco ao sul nem teve sua linha de suprimentos interrompida.

A guerra de movimento se tornou uma guerra de atrito – onde pequenos ganhos territoriais passaram a acontecer ao custo de muitas vidas de combatentes e civis.

Na última semana, as forças ucranianas começaram a lançar contra-ataques contra as cidades de Irpin, Bucha e Hostomel. O objetivo era afastar a artilharia russa do alcance de ataque sobre a capital.

Os russos cavaram trincheiras para resistir ao contra-ataque e investem atualmente em uma ofensiva para tentar tomar a cidade de Brovary, a nordeste da capital.

Kiev foi desde o início um objetivo político, mas de relevância militar questionável. Após um mês de guerra, as forças russas parecem estar direcionando suas atenções para regiões mais a leste do país – essas, sim, alvos militares inquestionáveis.

Não é possível afirmar se a cidade será mesmo alvo de um ataque total das forças russas nas próximas semanas.

2) Sumy

Sumy foi uma das primeiras cidades ucranianas a ser alvo de bombardeios russos. A partir dela, é possível controlar as principais rodovias que seguem do nordeste do país para a capital Kiev e as regiões leste e sul.

Devido à umidade do solo provocada pelo degelo da neve, as tropas russas estão avançando e conquistando apenas as áreas próximas às rodovias. Blindados pesados que tentaram avançar pela zona rural e de florestas acabaram atolados na lama.

Bombardeios acabaram atingindo depósitos de amônia na região. A substância química é usada em indústrias de fertilizantes. Havia o risco de uma explosão de grandes proporções (como a que ocorreu em Beirute em 2020), caso essas instalações fossem atingidas por um bombardeio direto.

Forças russas tentam no momento completar o cerco à cidade de Sumy, com o objetivo de impedir a entrada de suprimentos e reforços.

3) Kharkiv
Ex-capital soviética da Ucrânia e a segunda maior cidade do país, Kharkiv foi cenário de alguns dos piores bombardeios contra alvos civis da campanha russa até agora.

Logo no início da guerra, a explosão de um míssil na Praça da Liberdade, uma das maiores da Ucrânia, mostrou que alvos civis não seriam poupados pelos russos. Desde então, teve ruas, prédios residenciais e edifícios públicos completamente arrasados por mísseis e fogo de artilharia.

A população de 1,4 milhão de habitantes vem sendo retirada do local por meio de corredores humanitários.

A tomada da cidade é considerada de elevada importância para a concretização do plano russo de tomar a porção mais a leste da Ucrânia. De lá, a Rússia pode lançar um ataque do norte para o sul contra a região norte do território de Donbass.

4) Lugansk e Donetsk
Essas duas províncias ficam na região conhecida como Donbass, cuja porção leste foi tomada por rebeldes separatistas financiados pela Rússia em 2014.

Lá, a população ucraniana é marcada pela miscigenação com os russos. O presidente Vladimir Putin chegou a usar como justificativa para a guerra a missão de “libertar” os russos étnicos da região do domínio do governo ucraniano.

Pouco antes do início da guerra, a Rússia reconheceu Lugansk e Donetsk como repúblicas independentes da Ucrânia.

Para conter o avanço dos rebeldes para oeste, o exército ucraniano vem construindo há oito anos um sistema de fortificações ao longo de toda a região. Estima-se que a nata das forças armadas ucranianas opere na área.

Na sexta-feira (25), o vice-comandante das forças armadas russas, o general Sergei Rudskoi, afirmou que a campanha russa passará a se focar na conquista militar de Lugansk e Donetsk.

As forças russas devem tentar atacar os defensores ucranianos pela retaguarda, fazendo um movimento de “pinça” na tentativa de isolá-los.

A seção norte da pinça deve ser formada por uma força de ataque que partirá da região de Kharkiv para tomar as cidades de Izium e depois Kramatorsk.

A seção sul da pinça deve partir da região de Donetsk para tomar Hrodivka e se unir às tropas do norte na região de Kramatorsk.

Se as forças russas forem bem sucedidas, as tropas ucranianas podem ser cercadas nas regiões de Lysychansk e Sieverodonetsk.

O objetivo das tropas ucranianas é não deixar a pinça se fechar e tentar empurrar as tropas russas para fora da fronteira. Mas, se isso não for possível, não está claro se as tropas ucranianas vão abandonar suas posições (e se retrair para oeste) ou lutar até a rendição ou aniquilação total.

5) Mariupol
Mariupol é o último enclave ucraniano ainda não conquistado completamente pelos russos da região conhecida como Azov. A cidade portuária teve cerca de 80% das suas edificações destruídas pelas tropas russas – exceto pelo porto, que foi deixado intacto para o desembarque de tropas e suprimentos.

Os ataques à cidade geraram algumas das cenas mais dramáticas da guerra até agora, como o bombardeio de uma maternidade – onde grávidas foram retiradas feridas por estilhaços – e de um teatro onde mais de 1,2 mil pessoas, a maioria mulheres e crianças, tentavam se proteger de mísseis e de fogo de artilharia e blindados.

Acredita-se que cerca de 100 mil pessoas estejam vivendo em escombros sem comida, água e energia elétrica. Os russos ofereceram uma rota de fuga para a população em troca da rendição das tropas defensoras, mas os ucranianos não aceitaram a oferta.

Mariupol é um alvo estratégico de alto valor. Sua conquista permitiria a Moscou criar um corredor terrestre ligando o território russo e a região de Donbass à península da Crimeia, tomada em 2014.

A cidade também é um importante porto no mar de Azov. Sua conquista daria à Rússia mais um “porto quente”, cujas águas não congelam durante o inverno. Sua perda seria um golpe forte na economia ucraniana e poderia minar o moral de suas tropas.

Segundo analistas militares, a queda de Mariupol deve acontecer a curto prazo, pois tropas russas já controlam parcelas da região central da cidade.

6) Mykolayiv

Mykolayiv é considerada uma “cidade fortaleza” no sul da Ucrânia. A grande concentração de tropas e as defesas construídas na região impediram o exército russo de avançar da Crimeia para a cidade de Odessa, na fase inicial da ofensiva.

De lá está partindo o contra-ataque ucraniano para tentar retomar a cidade de Kherson – o primeiro grande centro urbano ucraniano a cair nas mãos russas. A cidade tinha uma defesa desorganizada e foi facilmente tomada por tropas russas vindas da Crimeia.

Analistas militares também acreditam que a resistência ucraniana em Mykolayiv impediu que as forças russas avançassem não só para Odessa – em uma tentativa de bloquear todo o litoral ucraniano – mas também para o norte, para tomar toda a margem oeste do rio Dnieper. Se isso tivesse ocorrido, possivelmente a Ucrânia estaria dividida em dois territórios atualmente.

7) Lviv

Lviv e outras cidades da região oeste da Ucrânia, como Lutsk e Ivano-Frankivsk, estão servindo como porto seguro para milhares de refugiados e deslocados internos.

A região é a principal rota de fuga para a Polônia, a Romênia e a Eslováquia. A ONU estima que quase 4 milhões de refugiados tenham deixado a Ucrânia e cerca de 6 milhões fugiram de suas cidades mas ainda estão em território ucraniano.

A região abriga bases de treinamento de militares e depósitos de material bélico. Por isso, já foi alvo de uma série de ataques de mísseis russos. Porém, a possibilidade de uma invasão por tropas terrestres na região é considerada remota.

Um cenário possível é que tropas de Belarus se envolvam na guerra para tentar tomar as principais ferrovias e estradas que ligam essa região a Kiev – em uma tentativa de isolar a capital.

Um mês de guerra: entenda como está a invasão russa na Ucrânia

1Kiev: Rússia tenta cercar a capital e concentra ataques por nordeste; Ucrânia tenta contra-atacar em Irpin, Bucha e Hostomel
2Sumy: Russos tentam cercar e sitiar Sumy para abrir caminho para o oeste e sul
3Kharkiv: É um dos principais alvos militares da Rússia, sua tomada permitiria que russos avançassem para a região de Donbass
4Lugansk e Donetsk: Lá estão as melhores fortificações e tropas ucranianas. Russos tentam fazer um movimento de pinça para cercar a região
5Mariupol: Cidade foi 80% destruída. Russos querem tomar toda a região para criar um corredor terrestre entre a Rússia e a Crimeia
6Mykolayiv: Fortaleza ucraniana no sul do país, essencial para defender Odessa. Ucranianos usam cidade para lançar contra-ataque e retomar Kherson
7Lviv: Oeste da Ucrânia está servindo de porto seguro para refugiados e entrada de armas vindas do Ocidente

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jogos-de-guerra/o-panorama-estrategico-apos-um-mes-de-guerra-russia-deve-concentrar-acoes-no-leste/
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PREÇO DO ETANOL CAI E PODERIA SER BEM MENOR

 

Combustíveis

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo

Na semana encerrada em 19 de março, preço do etanol equivalia a 68% do preço da gasolina na média nacional.| Foto: Divulgação/Unica

Às vésperas do início da colheita da cana de açúcar, encher o tanque do carro com etanol hidratado está compensando em pelo menos quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais e São Paulo. É o melhor cenário para um início de safra desde 2019. Um ano atrás, usar o biocombustível não era vantajoso em nenhum estado.

Em geral, entende-se que abastecer com este combustível é mais compensador quando seu preço corresponde a menos de 70% do valor do litro da gasolina, devido à diferença da combustão no motor – esse porcentual, no entanto, pode variar para mais ou para menos, conforme o veículo.

Na média de mais de 4 mil postos pesquisados em todo o país pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na semana encerrada em 19 de março o preço do etanol (de R$ 4,94 por litro) equivalia a 68% do preço da gasolina (R$ 7,27). Essa relação, porém, varia conforme o local. Em regiões mais distantes de usinas de álcool, abastecer com esse combustível raramente compensa, dado o custo de transporte.

No ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o etanol foi o item que mais aumentou em uma cesta de 361 produtos e serviços que servem de base para o cálculo do IPCA, a inflação oficial. A alta para o consumidor foi de aproximadamente 62%, enquanto a gasolina subiu 47%. Segundo a analista de açúcar e etanol do Itaú BBA, Annelise Sakamoto, a alta no biocombustível em 2021 foi provocada por problemas climáticos que afetaram a safra de cana.

Neste ano, a realidade é outra. Desde o início do ano até a semana encerrada em 19 de março, o preço do etanol ao consumidor recuou 2,5% na média nacional, segundo pesquisas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No mesmo período, a gasolina subiu 10% nas bombas, em média.

O recuo dos preços do etanol era ainda mais forte até o início deste mês, quando chegou a acumular queda próxima de 9% desde 1.º de janeiro. Porém, o derivado da cana subiu de preço – devolvendo boa parte da queda anterior – após a forte alta da gasolina.


Clima prejudicou a safra passada de cana

“Tivemos muitos problemas na última safra”, diz o diretor técnico da União da Indústria da Cana de Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues. Geadas atingiram, no inverno, áreas de produção em São Paulo, Mato Grosso e Paraná. E a falta de chuva entre agosto e setembro complicou o cenário.

Os problemas climáticos contribuíram para diminuir a produtividade, que caiu para o menor nível da série histórica, iniciada na safra 2003/04. Segundo o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), até novembro, em média, tinham sido colhidas 67 toneladas por hectare. E o volume de açúcar total recuperável por tonelada (ATR) caiu 1,4%.

Dados da Unica estimam que houve uma redução de 13,3% na moagem de cana de açúcar na safra 2021/22. A produção de açúcar caiu 16,7% e a de etanol, 8,7%. Com essa queda, a produção de etanol hidratado teve de ir para o sacrifício para que as usinas fizessem mais anidro (usado na mistura com a gasolina) e assim assegurassem o abastecimento do derivado de petróleo.


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MENDIGO DOM JUAN

 

Pessoa em situação de rua

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

O interesse pelo combo pornografia + luta de classes no caso do mendigo conquistador ressalta a devassidão real que sustenta a devassidão das ideias.| Foto: Reprodução

São muito os aspectos imorais da história que, sem trocadilho ou com trocadilho, seduziu o Brasil nesta semana: a do mendigo flagrado em ato libidinoso com uma mulher de classe média dentro de um carro. Para piorar, quem surpreendeu os dois amantes foi o marido que, à moda antiga, deu uns tabefes no Don Juan socialmente desprovido. Como sói acontecer em tempos de Grande Irmão, tudo foi devidamente filmado e expostos nas redes sociais.

O mundo cão, acho que já disse por aqui, não me interessa. Quando me vejo obrigado, por dever profissional, a prestar um pouco de atenção a ele, tento guardar uma distância intelectual, moral e olfativamente segura. O mundo cão, para mim, é como aquele vira-lata caramelo de olhos tristonhos que você acaricia apenas na imaginação, com medo de pegar pulga, sarna ou, pior ainda, raiva.

Minha colega Madeleine Lacsko já explorou bem os aspectos absolutamente repreensíveis da exploração jornalística do caso. Por um lado, trata-se a tentativa desesperada de conquistar a atenção dispersíssima dos usuários de redes sociais. Por outro, é a irresistível tentação do combo pornografia + luta de classes que mexe com o imaginário de um público acostumado a consumir o miojo-com-vina do noticiário.

Numa semana marcada pela violência pornográfica da guerra, por ministro do STF traindo desavergonhadamente princípios jurídicos e por Geraldo Alckmin expondo a impudicícia de sua ambição e a indecência de seu oportunismo político, o caso do mendigo conquistador me chamou a atenção por trazer a discussão sobre esse Zeitgeist de devassidão para o mundo muito real. (Tem muito eco nessa frase, né? Vou fingir que é intencional e dizer que é estilo).

O adultério envolvendo duas pessoas de classes sociais distintas ajudou, inclusive, a atiçar deliciosos e inócuos preconceitos que a sacanagem jurídica tenta eliminar por meio da canetada. A própria palavra “mendigo”, obrigada a pedir esmola para aparecer em textos de uns poucos cronistas politicamente incorretos, voltou à boca do povo em toda a sua glória, legando ao limbo dos ofícios, memorandos, pareceres e portarias os detestáveis “morador de rua” ou “pessoa em situação de rua”.

Da imoralidade em si também dá para se tirar alguma lição útil a uma geração acostumada à amoralidade ou, na melhor das hipóteses, ao relativismo. Era justamente isso o que Nelson Rodrigues fazia com seus contos e peças de teatro. Talvez seja o otimismo de outono (sou desses), mas vejo com bons olhos o fato de o adultério estar sendo visto pelo ridículo que é. Um ridículo que causa sofrimento e que jamais deveria ser visto como “normal” ou um vício “inerente à natureza humana”.

Isto é, apesar das décadas de romantização do personagem, Don Juan não tem nada de admirável. É um mendigo moral que pode até ser esperto e muito eficiente em seus esforços de sedução. Mas o objetivo final de um Don Juan é a satisfação de um prazer fugaz que não compensa o sofrimento causado. Ele vai dizer que “foi por amor” ou “foi pelo bem comum” ou ainda que “foi em defesa da democracia”. Mas só acredita quem já está predisposto a se deixar seduzir por explicações fáceis e doces.

Nelson Rodrigues sabia muito bem que a devassidão pequena do sexo casual feito dentro de um carro e com um mendigo é o que explica e inconscientemente sustenta a devassidão maior, a devassidão das ideias, a devassidão das corriqueiras traições políticas – e jurídicas, convém agora acrescentar. Porque no fundo as duas devassidões têm uma origem em comum: o desejo de saciar rapidamente vontades que uma consultinha rápida ao bom senso seria capaz de reprimir.


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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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