sábado, 26 de março de 2022

GASOLINA DO BRASIL SEGUE O PREÇO EXTERNO

 

Combustíveis
Por
Rosana Felix, especial para a Gazeta do Povo

Sede da Petrobras no Rio de Janeiro: gasolina vendida no Brasil segue o preço internacional, embora o país produza grandes quantidades de petróleo e derivados.| Foto: Flávio Emanuel/Agência Petrobras

A guerra na Ucrânia e as sanções impostas à Rússia pelo Ocidente – que provocaram a redução da oferta de petróleo no mercado internacional e a consequente elevação nas cotações do barril – colocaram em evidência mais uma vez o mecanismo de formação de preços que a Petrobras utiliza desde 2016. O regime de preço de paridade de importação (PPI) está por trás dos valores recordes encontrados nos postos de combustíveis.

O PPI é defendido pelo mercado como ferramenta essencial para a sustentabilidade do abastecimento nacional, mas tido como vilão pelos consumidores, que questionam por que os derivados do petróleo produzidos e vendidos no Brasil têm de seguir a cotação internacional.

O mais recente aumento anunciado pela Petrobras, em 10 de março, foi de aproximadamente 25% para o diesel e 19% para a gasolina vendidos nas refinarias, depois que o barril do tipo Brent atingiu a casa dos US$ 139. Nesta quarta-feira (23), o óleo chegou a US$ 121. Até fevereiro, o consumidor brasileiro havia arcado com um aumento médio de 41% no diesel e de 33% na gasolina em 12 meses.

O consumidor e a classe política protestaram, inclusive o presidente Jair Bolsonaro, que teme os efeitos eleitorais da escalada de preços. Bolsonaro cobrou mudanças no PPI, que classificou de “legislação errada feita lá atrás”, e fez duras críticas à direção da Petrobras, afirmando que a estatal não tem sensibilidade com a população e pondo em dúvida a continuidade do general da reserva Joaquim Silva e Luna no comando da empresa.

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O que Bolsonaro defendeu para a Petrobras e os combustíveis na campanha de 2018
Bolsonaro também afirmou que o combustível brasileiro não é tão caro – o Brasil ocupa posição intermediária no ranking mundial de preços – e voltou a dizer que tem vontade de privatizar a Petrobras.

Em resposta ao aumento, Planalto e Congresso costuraram um plano para aliviar o impacto da alta dos combustíveis no bolso do consumidor. O presidente já sancionou a lei que determina a unificação das alíquotas de ICMS dos estados e a cobrança do imposto em reais por litro, e não mais em um porcentual do preço de venda. A mudança tem de ser regulamentada até o fim do ano pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que reúne os secretários de Fazenda dos estados, e até lá o preço de referência do diesel para a cobrança do tributo passa a ser a média dos últimos 60 meses, o que deve baixar o valor absoluto do imposto.

O Senado aprovou um fundo para estabilizar os preços dos combustíveis, uma mudança na política de preços da Petrobras, um vale-gasolina para motoristas autônomos e a ampliação do auxílio-gás para a população mais carente – o botijão teve reajuste de 16,06% em 10 de março. Porém, a Câmara ainda não apreciou esse pacote de medidas. O Ministério da Economia é contra o projeto aprovado pelo Senado, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que a proposta está “fora do radar” e que não há pressa para votá-la.

Enquanto outras medidas não são anunciadas, a Petrobras se vê no meio do fogo cruzado entre quem defende as vantagens do PPI e quem deseja mais intervenção governamental para conter a escalada de preços. A política de preços da petroleira será um dos temas debatidos na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, que já aprovou um requerimento para ouvir Silva e Luna e outros diretores da Petrobras.

Veja a seguir algumas das questões mais relevantes nessa discussão:

Como é definido o preço dos combustíveis na bomba?
O valor cobrado do consumidor leva em conta: o pagamento pela produção ou importação do combustível; a carga tributária; e a margem de lucro das distribuidoras e dos postos. A Petrobras responde pela primeira variável, definindo o preço nas refinarias. O mercado é livre e todos os agentes dessa cadeia têm liberdade para definir seus preços, sem tabelamento por parte do governo.

Na gasolina, a parcela de cada componente no preço final ao consumidor na média nacional é a seguinte, de acordo com valores calculados pela Petrobras a partir de dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) coletados entre 6 a 12 de março de 2022:

Petrobras: 35,5%
ICMS (tributo estadual): 26,2%
Distribuição e revenda: 14,5%
Custo do etanol adicionado: 13,5%
Cide, PIS/Pasep e Cofins (tributos federais): 10,3%
No diesel, a composição do preço de venda ao consumidor é a seguinte:

Petrobras: 55,2%
Distribuição e revenda, 14,6%
ICMS: 13,4%
Custo do biodiesel adicionado: 11,3%
Tributos federais: 5,6%

Como a Petrobras define o preço nas refinarias?
A partir de 2016, no governo Michel Temer, a Petrobras passou a utilizar o preço de paridade de importação (PPI), calculado a partir dos seguintes elementos:

Preço do barril cotado internacionalmente;
Taxa de câmbio;
Custos de frete marítimo e taxas portuárias;
Custo do transporte interno;
Margem de operação para remunerar a atividade e arcar com as demais despesas.
Antes do PPI, a companhia seguia “de longe” as cotações internacionais, em geral mudando o preço nas refinarias apenas uma vez por ano. O governo participava diretamente da definição do preço e, em momentos de alta do petróleo no exterior, a empresa adotou uma política deliberada de absorver os custos internacionais para minimizar o impacto da inflação no bolso do brasileiro.

Por que a gasolina vendida no Brasil segue o preço externo, se o país tem produção própria?
O Brasil ampliou sua produção de petróleo nas últimas décadas e até exporta uma parte dela. Mas nem todo o óleo bruto produzido no país é adequado para as refinarias brasileiras.

As características físico-químicas dos diferentes óleos extraídos no mundo têm indicações específicas para a produção de determinados derivados. E cada refinaria consegue processar determinados tipos de óleo.

A produção de petróleo no Brasil, que em 2000 era de 1,2 milhão de barris por dia, subiu para 2 milhões em 2010 e bateu na casa dos 2,9 milhões de barris diários em 2021, segundo dados da ANP, o que faz do Brasil um dos dez maiores produtores mundiais.

Dos 2,9 milhões de barris de óleo bruto produzidos diariamente em 2021, 1,3 milhão foi exportado. E o país importou em média 153 mil barris por dia.

Além das características próprias de cada óleo, a governança atual praticada pela Petrobras exige o uso do PPI. Em seus comunicados, a companhia enfatiza que o petróleo e seus derivados são commodities e têm seus preços definidos nos mercados internacionais, como ocorre com outros produtos, como soja, trigo, café e metais, por exemplo.

“Num ambiente de economia aberta e liberdade de preços, enfrentamos a concorrência dos importadores de combustíveis, cujos preços acompanham o mercado internacional. Assim, a variação dos preços nas refinarias é importante para que possamos competir de forma eficiente no mercado brasileiro”, diz a Petrobras em seu site.

Ainda segundo a empresa, o preço que ela cobra nas refinarias brasileiras “equipara-se aos preços de outros países que possuem mercados de derivados abertos e competitivos”.

Em outro trecho, no qual responde se um aumento na produção própria de petróleo pode afetar o preço da gasolina, a companhia ressalta que seus custos de extração de petróleo não definem o preço nas refinarias, “pois se trata de um mercado de commodities, atrelado à variação internacional”. “Isso ocorre em qualquer país cuja economia é aberta, onde pode haver importações e exportações e onde haja a livre concorrência”, diz a Petrobras.

Analistas de mercado defendem esse alinhamento ao preço internacional, ainda que em momentos como o atual possa ter um custo elevado para o consumidor. “O PPI busca manter o produtor nacional e importador em pé de igualdade. A defasagem pode criar distorções. O importador deixaria de ser competitivo e geraria um desabastecimento”, disse, em vídeo, o analista Pietro Rodrigues, sócio do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).

O Brasil consegue ampliar a capacidade de refino? Isso ajudaria a conter os preços?

Há quem defenda que o programa de desinvestimentos da Petrobras, a venda de refinarias e o nível de ociosidade das unidades da empresa têm prejudicado o consumidor brasileiro, mas a petroleira diz que opera em níveis seguros e que está investindo para aumentar a capacidade de refino. Independentemente disso, a própria empresa ressalta que o fator que define o preço do combustível que ela vende é o mercado internacional – e não seus custos de produção, por exemplo.

O consumo interno de derivados de petróleo em 2021 somou cerca de 2,4 milhões de barris por dia, dos quais 1,9 milhão foi produzido no Brasil. O restante da demanda foi abastecido por importações.

Ao longo dos últimos anos, o refino nacional não acompanhou o crescimento da produção de petróleo nem do consumo de derivados. O volume de petróleo processado nas refinarias em 2021 (1,9 milhão de barris diários) está próximo aos patamares de 2010 (1,84 milhão) e abaixo dos picos registrados em 2014 (2,17 milhões).

A Petrobras dominava praticamente todo o mercado de refino, até que em 2019 assinou um termo de compromisso com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), prevendo a venda de oito refinarias como forma de aumentar a concorrência no mercado. Por causa da pandemia, o calendário dos negócios foi afetado, mas eles continuam entre as prioridades da empresa. Duas unidades já foram repassadas ao setor privado, a de Salvador e a de Manaus.

Para o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), os desinvestimentos da Petrobras no parque de refino estão deixando a empresa “exposta à maior volatilidade em relação aos preços internacionais, e amplia-se o risco de desabastecimento do mercado interno e de elevação dos preços médios para o consumidor final, como já está ocorrendo na Bahia”.

A refinaria Mataripe, antiga RLAM, que a Petrobras vendeu para o fundo árabe Mubadala, segue de perto as oscilações do barril e no início deste mês vendia o combustível mais caro dentre todas as refinarias do país.

Outra crítica de sindicalistas diz respeito à ociosidade supostamente elevada das refinarias, que seria uma prática deliberada da Petrobras e estaria reduzindo a quantidade de produto refinado e contribuindo para o aumento dos preços.

Em artigo publicado no portal EPR, o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa Lima e Silva, afirmou que a empresa “está, na verdade, produzindo o máximo possível dentro de condições seguras, sustentáveis e econômicas e investindo para ampliar sua capacidade de refino nos próximos anos”.

Segundo o Relatório de Produção e Vendas da companhia, o fator de refino girou em torno de 77% entre 2018 e 2019, fechando 2021 com índice médio de 81%. No quarto trimestre, esse percentual chegou a 88%, “devido ao retorno de unidades relevantes que estavam em parada programada no terceiro trimestre e à produção mais elevada em outras refinarias”, diz o relatório. Para a FUP, se as refinarias trabalhassem a uma carga de 95% da capacidade instalada, poderiam atender todo o mercado nacional.

Outra crítica da FUP é que o PPI não leva em conta que apenas 6% do petróleo processado nas refinarias brasileiras vem do exterior – o restante é óleo nacional. De acordo com a federação, a maioria das refinarias do país “pode operar com quase todos os tipos de petróleo, exceto os óleos ultrapesados da Venezuela, porque as unidades foram projetadas inicialmente para óleos médios e leves”.

“Com o aparecimento dos óleos pesados da Bacia de Campos (RJ), foram feitas adaptações para o processamento desse tipo de óleo. Porém, com o surgimento dos petróleos da Bacia de Santos, voltamos a contar com óleos médios, muito similares aos petróleos do Oriente Médio, mas com a vantagem de serem de baixo teor de enxofre. São óleos de excelente qualidade para o refino”, afirma a FUP, em nota.

A venda de refinarias coloca em lados opostos a Petrobras e os petroleiros, que defendem maior autonomia nacional. Nesta quarta-feira (23), economistas ligados à FUP debateram a privatização da Refinaria Isaac Sabbá (Reman), em Manaus, em audiência pública na CAE do Senado. Segundo eles, a unidade foi vendida por um preço abaixo do valor de mercado, além de colocar em risco a geração de emprego e renda no estado. Eles também criticaram a possibilidade de um monopólio privado na região Norte, com elevação do preço dos derivados.

O relatório de administração da Petrobras de 2021 destaca que o plano é manter suas refinarias no Sudeste, maior mercado consumidor brasileiro, que “apresentam uma maior sinergia e integração com as vantagens competitivas dos ativos do segmento de exploração e produção”.

O que aconteceu com as refinarias planejadas pela Petrobras nos governos do PT?
Nos governos petistas, a Petrobras tinha grandes planos para a expansão de seu parque de refino. Quando Paulo Roberto Costa – condenado anos mais tarde na Operação Lava Jato – era diretor de Abastecimento da estatal, quatro novas unidades foram aprovadas:

O complexo petroquímico Comperj, no estado do Rio de Janeiro;
A Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, que seria construída em parceria com a venezuelana PDVSA;
A refinaria Premium 1, Maranhão;
A refinaria Premium 2, no Ceará.

Destas, somente uma entrou em operação: a Rnest, no fim de 2014. Considerada pela própria Petrobras como sua refinaria mais moderna, foi a primeira inaugurada pela empresa desde 1980. A PDVSA abandonou a sociedade e todo o investimento ficou a cargo da Petrobras. As obras da unidade, uma das várias envolvidas na Lava Jato, custaram mais de US$ 18 bilhões, ante um custo original orçado em US$ 2,5 bilhões, e até hoje não foram concluídas.

Apenas a primeira unidade da Rnest, de duas previstas, ficou pronta; a segunda foi interrompida depois do início das investigações de corrupção. No fim de 2021, após tentativas frustradas de venda, a direção da Petrobras decidiu retomar as obras, com orçamento estimado em US$ 1 bilhão para ampliação da primeira unidade e conclusão da segunda. A direção da empresa ainda quer vendê-la e entende que, com o término da construção, o empreendimento será mais atraente para o setor privado.

A construção das duas refinarias Premium foi cancelada em 2015, no governo Dilma Rousseff, com as obras ainda em estágio inicial. O motivo foi “ausência de atratividade econômica”, segundo a Petrobras, que em balanço da época estimou perdas de R$ 2,8 bilhões com o projeto.

A construção do Comperj foi interrompida e não se sabe qual seria o custo da conclusão. Em 2017, o Tribunal de Contas da União (TCU) calculou prejuízo de R$ 12,5 bilhões com o projeto. A Corte identificou indícios de gestão temerária que resultaram em um “empreendimento inviável economicamente”.

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O PPI ajudou a Petrobras a atingir lucro recorde de 2021?
Sim. O lucro da empresa em 2021, de R$ 106,7 bilhões, foi o maior de sua história. No ano anterior, a empresa havia registrado ganhos de R$ 7,1 bilhões. Segundo a companhia, o principal fator que contribuiu para o lucro recorde foi “a alta de 77% do preço do Brent em reais no período, aliado a maiores volumes de venda no mercado interno e melhores margens de derivados”.

Anteriormente, várias decisões de gestão – como a de absorver os custos internacionais, sem repasse nos produtos – levaram a Petrobras a registrar um pico de endividamento de US$ 132 bilhões em 2014. Nos anos seguintes, em especial após a adoção do PPI e o início do programa de venda de ativos, a dívida foi diminuindo, chegando a US$ 58,7 bilhões ao fim de 2021.

O lucro recorde da Petrobras é “justo”?
O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, e outros diretores terão de comparecer ao Senado para prestar esclarecimentos sobre esse assunto. A CAE já aprovou o requerimento de convocação, mas ainda não marcou a data.

A Petrobras já fez comunicados aos consumidores com o objetivo de explicar a situação, argumentando que o lucro foi compatível com o investimento, de US$ 8,7 bilhões. “Para entender o tamanho do lucro precisamos olhar o percentual. Você sabe qual foi a taxa anual de retorno do dinheiro empregado na operação da Petrobras em 2021? Oito por cento, apenas 2% acima do custo da sua dívida, um retorno justo”, diz vídeo da empresa publicado no Twitter.

O lucro de R$ 106,7 bilhões não foi efeito apenas do preço do petróleo e dos derivados. Ele também foi afetado por uma espécie de “reversão contábil” (impairment), que elevou o resultado financeiro. Em anos anteriores, operações contábeis similares haviam reduzido o lucro da empresa.

O Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), ligado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), critica o direcionamento da Petrobras, que teria deixado “de funcionar como um instrumento da política energética, que deveria ter como objetivos garantir, ao mesmo tempo, a segurança de abastecimento e o acesso energético aos mais vulneráveis; para se tornar uma empresa que se preocupa apenas com o lucro”.

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Por que a privatização da Petrobras não é garantia de combustível mais barato
O preço de paridade de importação estimula a entrada de empresas privadas no mercado?
Sim. A prática anterior de preços abaixo dos de mercado, além de eventualmente provocar prejuízos à Petrobras, sempre foi apontada por concorrentes e analistas de mercado como nociva à competição, por desestimular o investimento em refinarias privadas e a entrada de importadores no mercado, uma vez que essas empresas não conseguiriam praticar os mesmos preços da estatal.

Embora o mercado brasileiro de combustíveis tenha sido aberto à concorrência no início do século, na prática a Petrobras ainda domina a maior parte da cadeia e tira vantagem do fato de ser uma empresa integrada, que produz e refina o petróleo, tendo mais condições de compensar eventuais perdas numa ponta com ganhos em outra. A Petrobras atuou ainda, por décadas, na distribuição de combustíveis aos postos por meio da BR Distribuidora, mas a venda de sua participação nessa empresa foi concluída em 2021.

A adoção do PPI foi não apenas uma estratégia da Petrobras para melhorar seus resultados e reduzir o endividamento, mas também uma opção deliberada de seu maior acionista – a União – para acelerar a abertura do mercado. Essa escolha foi feita no governo de Michel Temer e até agora mantida pela gestão de Jair Bolsonaro.

Ao praticar preços mais próximos aos dos importadores e refinarias privadas, e também ao vender parte do seu parque de refino e outros ativos, a Petrobras abre espaço a uma maior participação do setor privado no mercado de combustíveis. Essa política foi defendida por Bolsonaro em seu plano de governo, muito embora o presidente agora faça críticas contundentes ao PPI.

Vale ressaltar que, em um mercado em que os agentes seguem os preços internacionais, e num contexto de alta dessa cotações, o crescimento da participação privada e do número de competidores não significa, necessariamente, uma queda no preço ao consumidor.

A razão é simples. Se uma petroleira estatal com grande poder de mercado não acompanha as cotações internacionais, o preço ao consumidor não será tão afetado por uma alta nesses preços. Por outro lado, se a mesma petroleira decide seguir preços de mercado, similares aos dos concorrentes, o valor na bomba acabará refletindo o que ocorre lá fora.

Caso o petróleo passe a cair de forma consistente no exterior, um mercado mais competitivo tende a resultar em preços menores ao consumidor – e eventualmente num repasse mais rápido dessa queda do que a que ocorreria caso a Petrobras não acompanhasse o mercado externo. No passado, a petroleira podia fazer um jogo de compensações para evitar maiores oscilações em seus preços de refinaria: em um primeiro momento não repassava toda a alta dos preços do petróleo e, mais tarde, não repassava toda a queda.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/por-que-gasolina-vendida-no-brasil-segue-preco-internacional/?ref=escolhas-do-editor
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MENDIGO QUE VIVEU UMA AVENTURA SEXUAL VAI CANDIDATAR A DEPUTADO

 

Identitarismo e Imbecilização
O resultado do jornalismo dominado pela lacração é veicular como se fosse notícia um mendigo contando detalhes íntimos de uma relação sexual. Mas a errada sou eu: falo mendigo em vez de morador de rua.

Por
Madeleine Lacsko – Gazeta do Povo

| Foto: Reprodução YouTube

Chegamos a um novo patamar do jornalismo brasileiro. Em rede nacional, um mendigo narra os mais íntimos detalhes sexuais do que alega ter sido seu encontro com uma mulher casada. VAR de sexo no carro é o novo patamar do shownalismo. Haja credibilidade. Quais serão as consequências dessa história?

Começo supondo que não seja uma armação completa, um combinado geral para atrair atenção do público e gerar cliques. Não é difícil que o mendigo vire deputado nas próximas eleições. O brasileiro acha que ser famoso é ter sucesso, ele já ganhou esse ponto. Além disso, o Forrest Gump é preferência nacional. Contou uma história comprida e esquisita? Já vai ter uma multidão defendendo. Otário é nosso maior patrimônio.

E a mulher? A vida dela, do marido e da filha como conhecia acabou. Não tem nenhuma chance de recuperar a vida como era antes nem se ficar comprovado que toda a história era mentira ou que ela realmente tem, como aparenta a documentação legal, problemas psiquiátricos.

A primeira alternativa para a mulher é mudar de país e cobrar os danos morais e materiais de quem destruiu a vida da família por lucro. Não é informação de utilidade pública, não é jornalismo. Como entretenimento de baixíssimo calão, a entrevista do mendigo é um produto excelente. Nesse mercado, no entanto, essas coisas são combinadas e a pessoa que tem perda de imagem recebe antecipadamente a compensação financeira.

Suponhamos que a mulher resolva abrir mão de todos os princípios morais ou isso tudo tenha sido uma grande armação. Ela também pode virar deputada. Pode engatar um feminismo pela liberação sexual da mulher casada misturado com um “quem dá aos pobres empresta a Deus”. Se juntar a defesa da dignidade da população de rua e apelar ao privilégio e preconceito de quem a criticou, o parque de areia antialérgica não só elege como começa a namorar mendigo. Se vestir feito um, boa parte já faz.

Quais as consequências para o jornalismo? Foi certo ou errado fazer a entrevista? Errado não foi, só não era jornalismo. Lidar com esse conteúdo seguindo a lógica jornalística produziu uma canalhice imensa e, talvez, um enorme passivo jurídico. A indústria da baixaria tem salvaguardas para comercializar a honra e a dignidade alheias. É o que foi feito nesse caso, algo muito diferente de jornalismo.

Você vai ver uma tentativa bizarra de defesa dizendo que muita gente se divertiu com o conteúdo. Óbvio que sim. Não tem nada que venda mais do que baixaria sexual. Os vídeos bateram a casa do milhão rapidinho, como ocorre com a indústria pornográfica, por exemplo. Esse tipo de engajamento não vem de noticiário ou credibilidade jornalística, mas de fantasia sexual e bizarrice.

Existe público consumidor disso e existe essa indústria, com regras próprias. Ao posar de paladino da moral, o jornalismo se esquece de ser minimamente ético. Se você vai expor completamente a intimidade de uma pessoa a ponto de comprometer a dinâmica da família e da profissão dela, qual o motivo? No caso, dinheiro e engajamento. Essas moedas seriam aceitas pela pessoa como compensação? Ela é quem precisaria decidir, simples assim.

Eu não vou cair aqui no moralismo porque ele leva necessariamente à mais desavergonhada canalhice. “Por trás de todo paladino da moral vive um canalha”, cravou o mestre Nelson Rodrigues. O conto erótico do mendigo é uma prova científica. Existe sim uma indústria da exploração da sexualidade e da intimidade, inclusive de formas bem bizarras. É o que foi feito aqui, só que da forma menos ética possível. E existe forma ética? Explico.

Você pode gostar ou não da indústria pornô, concordar ou não com a opressão e exploração das mulheres, ponderar ou não que vicia os homens jovens num tipo de sexo que não existe. Não é disso que eu estou falando aqui. Esses são julgamentos de valores e moral, eu tenho os meus sobre o tema. Mas falo de outro tema.

Digamos que alguém queira explorar comercialmente a sexualidade e a intimidade. Esta pessoa sabe que há um custo de honra e imagem a quem se expõe, é praticamente uma escolha de vida e círculo social na maioria das sociedades. Com base na viabilidade comercial e no que cada um empenha no processo, é feito um contrato que prevê compensação financeira. As duas partes, adultos que consentem, aceitam.

No caso concreto seria, por exemplo, propor à mulher exibir o filme do flagrante no carro com o mendigo e fazer a entrevista com ele em troca de uma compensação financeira acertada entre as partes. Digamos que ela pedisse um determinado valor e a empresa aceitasse. É correto? Pense antes de responder. Pode não ser coincidente com os seus valores morais, mas é correto e muito mais ético do que as reportagens feitas.

Qual seria a comparação então de algo não ético na indústria pornô? Tenho aqui o caso perfeito, que denunciei em um artigo de janeiro de 2020. Há homens ficando milionários nas plataformas pornográficas filmando secretamente abusos sexuais que cometem no transporte público. As vítimas, muitas delas menores de idade, descobrem que estão num vídeo pornô só depois que ele está no ar. Outros postam vídeos íntimos próprios e de terceiros em que a mulher não foi consultada sobre a publicação. No Brasil, os dois segmentos faturam milhões.

Sob o ponto de vista da ética, a situação é muito parecida. É possível alegar que os jornalistas não forjaram a situação entre a mulher e o mendigo. Verdade. Ocorre que forjaram entrevistas em que ele fala detalhadamente sobre a relação sexual que teria mantido com ela. Ninguém nem sabe se é verdade aquilo, mas ela ficou sabendo da exposição depois de feita, a não ser que seja tudo uma grande armação.

No caso de efetivamente ser uma grande armação, eu me rendo. Realmente escapa à minha capacidade humana de compreensão o que o jornalismo ganha com isso. Talvez seja a maior reviravolta da história da comunicação e a gente ainda fique sabendo que houve uma sacada de genialidade. Mas sinto que, infelizmente, o fundo do poço chegou e a primeira coisa é parar de cavar.

A derrocada moral das redações jornalísticas

O conto erótico que ganhou status de notícia é o resultado da ideologia que dominou o jornalismo, quase uma religião, o Woke ou Identitarismo. Você divide o mundo entre bons e maus de acordo com o grau de opressão. O valor humano vem do sofrimento.

Aqui temos, de um lado, um casal branco, evangélico e com situação financeira aparentemente estável. De outro lado, um mendigo negro. Quem representa o bem e quem representa o mal na história? Dentro da ideologia imbecilizante que tomou conta da imprensa brasileira, obviamente o mendigo está certo por ser oprimido. O casal está errado por ter o privilégio branco, apoiar o patriarcado e, pior de tudo, ser evangélico.

Agora que já dividimos a realidade entre oprimido e opressor, vem o moralismo de quinta categoria: toda proteção ao oprimido e vale tudo contra o opressor. Símbolos e estética importam mais do que ação. Eu, privilegiada, já seria apedrejada por chamar mendigo de mendigo. É ofensivo, ele é morador de rua. Quem fala morador de rua, no entanto, pode fazer um relato sexual detalhado sobre uma mulher e colocar na imprensa. Pior, ainda pode dizer que é jornalismo. Então tá.

O jornalismo está colhendo os frutos de fingir ser isento e, por isso, não ter princípios. Não existe isenção humana, existe honestidade. Você sabe quais são os princípios e valores de alguém, essa pessoa ou essa instituição deixam claro, então você sabe onde pisa. Se alguém te diz que é objetivo ou isento, pode até acreditar nisso mas, na realidade, é picareta.

A indústria da comunicação vive uma mudança gigantesca desde o surgimento da internet e, mais ainda, com a chegada das redes sociais. Aqui entra um alerta feito ao jornalismo por Daniel Boorstin, diretor da biblioteca do Congresso dos EUA, por meio do livro The Image lançado na década de 1960. “O pior inimigo do conhecimento não é a ignorância, é a ilusão do conhecimento”. O jornalista brasileiro tem certeza de que entende a sociedade digital.

É uma certeza patética e que levará cada um que a acalenta a quebrar a cara. Eu sei porque quebrei. Só que tomei vergonha na cara e fui estudar para compreender esse novo universo em que vivemos. Aprender sobre redes sociais, internet, algoritmos e impulsionamento é só o início. Precisamos aprender é sobre comportamento humano, cognição e ética. Sem isso, é impossível sobreviver à mudança digital.

As redes sociais nos levam a viver em grupos. Redações são geralmente dominadas pelos canceladores, gente que acha bonito apoiar projetos de bullying virtual como Sleeping Giants por alegar que briga contra o ódio. Não vai demorar muito para todo mundo aprimorar o discursinho moralista e passar a agir como canalha. É o que aconteceu aqui.

Conhecer sobre comportamento humano é ter a consciência de quem somos e de quem gostaríamos de ser. O moralista se apresenta publicamente como se fosse quem gostaria de ser. É essa confusão que extrapola para a natureza do negócio jornalístico. Jornalismo não é uma jihad contra a opressão, é credibilidade. Por isso, o jornalista não é inerentemente bom e ético, precisa ter disciplina.

Não pense que eu agora caí na armadilha do moralismo barato também. Tenho consciência dos meus defeitos, por isso faço um reexame com disciplina. Ocorre que confundir a natureza do negócio torna o jornalismo insustentável.

Digamos que os cliques sejam necessários e seja feita uma opção por um bom polemista ou uma boa polêmica. De certa forma, é o caso. Isso é shownalismo, um tipo de negócio que atrai cliques. Ele é viável economicamente quando prevê uma série de salvaguardas. No caso dos polemistas, eles têm o limite da lei em contrato. Além disso, os editores dão a palavra final.

No caso das polêmicas, é preciso avaliar caso a caso. Se alguém sair lesado, quanto seria o passivo judicial e em quanto tempo sairia a cobrança? Seria possível negociar antes da publicação? Caso seja, compensa o lucro com a publicação?

Parece cínico e é. Só que a gente não gosta de ser pragmático, cínico, piorar o mundo para melhorar as finanças. Então, qual a opção? Não fazer? De maneira nenhuma. Faz igual só que arruma justificativa moral. Ia cair na opinião pública de qualquer jeito, ele é oprimido porque é negro, você é racista porque chamou de mendigo em vez de morador de rua.

Esse tipo de coisa nunca colou, mas calou as pessoas durante muito tempo. O medo de ser cancelado fez com que a lacração dominasse a comunicação e a publicidade. Ela se instalou, agora mostra a que veio. Nem os machistas mais antiquados e porcos da história da comunicação pensariam em expor uma mulher desse jeito. Hipocrisia é bicho que come o dono. Comeu.


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TSE AUMENTA O GASTOS COM SEGURANÇA

  1. Política 

Investimentos em proteção e vigilância ocorrem em meio a ataques de apoiadores de Bolsonaro ao sistema eleitoral

Weslley Galzo, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) prevê um gasto de até R$ 59 milhões em segurança armada pelos próximos dois anos e meio – período que inclui as eleições de outubro. O montante abrange despesas com proteção privada em residências de ministros, vigilantes armados nas dependências da Corte e grades de metal. O valor será destinado à renovação do contrato de uma empresa terceirizada que expirou no início deste ano.

Em 2017, a Corte firmou um contrato de R$ 16 milhões com a empresa que fez a vigilância armada do tribunal até o início deste ano. Desde então, o custo anual do tribunal com segurança privada se manteve, o que equivale a uma despesa mensal de R$ 1,3 milhão. Caso a renovação prevista para os próximos dois anos e meio utilize totalmente os recursos fornecidos pelo tribunal, o gasto mensal subirá para cerca de R$ 2 milhões por mês.

Num momento de crise econômica, o reforço na segurança pessoal será destinado apenas a um seleto grupo de juízes. Com exceção dos ministros que assumem as cadeiras destinadas a advogados – como Carlos HorbachSérgio Banhos e alguns suplentes –, os demais integrantes do colegiado já são servidos pela polícia judicial dos respectivos tribunais. A proteção se aplica aos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ). A licitação em curso confere, portanto, um grau adicional de resguardo aos integrantes de tribunais superiores.

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Proteção garante independência do Poder Judiciário, afirma TSE Foto: Dida Sampaio/Estadão

No edital de contratação deste ano, o setor de licitações do TSE argumenta ser necessário o investimento em vigilância armada, incluindo a casa dos magistrados, para “resguardar a democracia e o trâmite dos processos da Justiça Eleitoral”. A Corte afirma ser preciso proteger “o patrimônio e a integridade física dos senhores ministros”, assim como os “inúmeros processos que estão em suas residências para julgamento”, uma vez que “tais autoridades constituem o nível máximo de representação da Justiça Eleitoral”. No processo parcial de licitação, sem serem aprovados critérios técnicos, a empresa favorita para vencer a disputa deu um lance de R$ 47 milhões para oferecer os serviços.

O aumento de despesas em segurança ocorre em meio a ataques ao processo das eleições por parte do presidente Jair Bolsonaro e de sua militância. Empossado presidente do tribunal com o slogan “paz e segurança nas eleições”, o ministro Edson Fachin e a instituição demonstram se preparar, desde o início deste ano, para um cenário de confronto.

‘Padrão’

Ao Estadão, a assessoria do TSE descartou a hipótese de que as contratações sejam voltadas a possíveis episódios de violência durante as eleições. Segundo o tribunal, as grades de proteção são “equipamento padrão utilizado em eventos diversos”, desde a organização do tráfego ao isolamento de áreas e “segurança orgânica”. O tribunal também informou não ter identificado riscos de depredação ou vandalismo da sede que justificassem a aquisição. “Tudo isso visa a garantir a autonomia e independência do Poder Judiciário e seus membros, sendo que o TSE, dos Tribunais Superiores, era o que detinha a mais acanhada estrutura de segurança, o que vem demandando gastos para prover sua Polícia Judicial de condições de cumprimento de suas atribuições de segurança orgânica e pessoal”, disse o TSE. 

‘Riscos’

Professor de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Rio), Wallace Corbo vê relação do investimento em segurança por parte do TSE à crescente onda de ameaças à realização das eleições. Para ele, o gasto com vigilância na casa dos ministros está vinculado também à vulnerabilidade desses locais em comparação com os tribunais, aos riscos de ataques a seus familiares e à possibilidade de violação de processos sigilosos. 

Corbo afirmou que uma investida violenta nessas áreas teria efeitos no exercício das funções dos ministros em um período decisivo para a Justiça Eleitoral. “Os magistrados não podem estar sujeitos a decidir com medo desses riscos”, disse. Ele observou que os ministros, assim como o tribunal, já têm uma estrutura de segurança. “Porém, quando chegamos a uma situação extraordinária como a de hoje, com riscos sem precedentes à democracia e às eleições, faz algum sentido, aparentemente, que o TSE adote medidas adicionais, com custos adicionais também sem precedentes.” l

 

PUXADORES DE VOTO DOS PARTIDOS

 

  1. Política 

Serra, Boulos, Marina Silva e Rosângela Moro:

Associação com os presidenciáveis ou histórico de grandes votações são as apostas das siglas para ampliar bancadas na Câmara

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

Com objetivo de ampliar suas participações na Câmara dos Deputados – e assim garantir acesso a fatias maiores dos fundos Partidário e eleitoral, além de tempo de TV, calculados a partir do tamanho da bancada eleita de cada legenda –, líderes dos partidos em São Paulo já começam a definir nomes com potencial de superar a meta de 1 milhão de votos. O objetivo é fazer com que esses candidatos atuem como “puxadores de votos” para eleger mais de uma cadeira na Casa. 

Além de Guilherme Boulos (PSOL), que abriu mão de disputar o governo paulista, o ex-governador José Serra (PSDB), a ex-ministra Marina Silva (Rede), o deputado Eduardo Bolsonaro (PL) e a advogada Rosângela Moro (Podemos) são as apostas de seus respectivos partidos para desempenhar este papel. O PT admite que ainda não tem um nome com grande densidade política. Principal aposta da legenda, o vereador Eduardo Suplicy deve disputar uma vaga de deputado estadual. 

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Mulher de Sérgio Moro, Rosângela vai concorrer pelo Podemos  Foto: Albari Rosa/AGP

Ex-governador, ex-prefeito, ex-ministro da Saúde e ex-chanceler, o senador tucano José Serra, que está se tratando de Parkinson, doença que está em estágio inicial, vai receber do PSDB tratamento de campanha majoritária na corrida pela Câmara. “Vamos fazer uma campanha em todo o Estado. Ele terá tratamento de campanha majoritária. A nossa expectativa é de que ele receba mais de 1 milhão de votos e supere Boulos, Marina e Eduardo Bolsonaro”, declarou o presidente do diretório paulista do PSDB, Marco Vinholi. 

A vaga de candidato ao Senado na chapa do partido está reservada para o apresentador de TV José Luiz Datena, do União Brasil. O PSDB vai dar destaque a Serra nas inserções de TV e ele terá uma fatia generosa do fundo eleitoral. 

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PSDB dará tratamento de campanha majoritária para José Serra Foto: André Dusek/Estadão

O PSOL vai usar a mesma estratégia com Boulos, que vai ser o protagonista do horário eleitoral gratuito na TV reservado à legenda no Estado. “Pela projeção política que ele ganhou, a estratégia será dar destaque e protagonismo para ele na campanha”, afirmou Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

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MARINA1 BSB DF MARINA SILVA/COLETIVA NACIONAL A ex ministra Marina Silva chega ao auditorio da CNTC para entrevista coletiva a imprensa sobre a criacao do Partido rede,em Brasília. 04/10/2013. FOTO:DIDA SAMPAIO/ESTADAO Foto: Dida Sampaio/Estadão

Cláusula

A ex-ministra Marina Silva, que se candidatou à Presidência em 2010, 2014 e 2018, é a maior aposta da Rede este ano para puxar votos na campanha para a Câmara. Um resultado expressivo ajudaria a sigla, que vai formar uma federação com o PSOL, a superar a cláusula de barreira, que tem o objetivo de impedir ou restringir o funcionamento do partido que não alcançar determinado porcentual de votos na eleição proporcional. Para este ano, a linha de corte é 2% dos votos válidos, ou eleger pelo menos 11 deputados federais distribuídos em nove Estados.

Vereador mais votado na eleição de 2020, o ex-senador Eduardo Suplicy seria o candidato natural ao posto de puxador de votos do PT, mas os planos são outros. O deputado federal Paulo Teixeira reconheceu que o PT não tem ainda nenhum candidato com potencial para superar 1 milhão de votos. “O Suplicy preenche esse critério de ‘supercandidato’, mas ele colocou seu nome para o Senado, caso os aliados não reivindiquem essa vaga, ou para deputado estadual”, disse o parlamentar. 

Guilherme Boulos
Guilherme Boulos (PSOL), líder do MTST, vai ser candidato a deputado federal. Foto: Werther Santana/Estadão

No PL, Eduardo Bolsonaro receberá tratamento especial nas inserções de TV para tentar repetir o resultado de 2018, quando teve a maior votação para deputado federal da história: 1,84 milhão de votos. Até então, o recorde de votos era de Enéas Carneiro, que, em 2002, conquistou 1,57 milhão de votos. 

Com dificuldade para montar um palanque forte no maior colégio eleitoral do País, a presidente do Podemos, Renata Abreu, tenta convencer a advogada Rosângela Moro, mulher do presidenciável Sérgio Moro (Podemos), a disputar uma vaga de deputado federal. Ela teria a garantia da legenda de recursos do fundo eleitoral e espaço generoso na TV.

RAIAM SANTOS É UM NÔMADE DIGITAL

 

Redacaoherospark

O sonho de muita gente é poder viajar o mundo ou, um dia, se tornar multimilionário. Mas, infelizmente, sabemos que essa é uma realidade distante da maioria das pessoas.

No entanto, é sempre bom se inspirar em pessoas que alcançaram esse feito, como é o caso de Raiam Santos. Ele conseguiu superar as dificuldades e, hoje, é um nômade digital multimilionário de sucesso.

Neste artigo, você descobrirá quem é Raiam Santos, como ele se tornou tão milionário e o que você pode aprender com ele. Acompanhe a leitura!

O que você verá:

Quem é Raiam Santos?

Como Raiam Santos ganha dinheiro?

5 coisas que você pode aprender com Raiam Santos

1. Não desista

2. Conte histórias

3. Aposte no digital

4. Invista em infoprodutos

5. Conte com a ajuda de plataformas

Quem é Raiam Santos?

Raiam Santos é um escritor, empresário, influenciador e nômade digital multimilionário nascido na zona norte do Rio de Janeiro. 

O multimilionário tem uma história de superação incrível: mesmo sendo de origem simples, graduou-se em uma das melhores universidades do mundo, a The Wharton School of the University of Pennsylvania, em três cursos: Economia, Relações Internacionais e Letras.

Além disso, ele é escritor do best-seller “Hackeando tudo” e de vários outros livros.

Por trabalhar como nômade digital, Raiam já morou em mais de 80 países e fala 7 idiomas. Dessa forma, ele tem construído uma rede de contatos e expandido o seu negócio.

O empresário já possui milhões de seguidores na internet, uma equipe que trabalha em home office e fatura cerca de 1 milhão por mês.

Como Raiam Santos ganha dinheiro?

A fortuna de Raiam Santos não veio da noite para o dia. O nômade digital começou a trabalhar com internet em 2005, mas alcançou o sucesso do seu negócio digital apenas em 2018. Logo, foram 10 anos de muito estudo e dedicação.

Raiam ganha dinheiro com diversos infoprodutos, como:

E-books;

Áudio livros;

Cursos online;

Lives;

Mentorias.

Ele também ganha dinheiro ministrando palestras, participando de eventos e de áreas vips. Seu livro “Hackeando tudo” tornou-se um best-seller e está há cerca de cinco anos entre os mais vendidos da Amazon.

Além dos livros, o empresário lucra com 12 cursos online, alguns deles são:

Nômade digital

Milionário com YouTube;

Hackeando tudo.

5 coisas que você pode aprender com Raiam Santos

Podemos aprender muito com a trajetória de Raiam Santos, principalmente se você também tem o desejo de crescer no digital.

Aumentar o lucro no mercado digital não é fácil, mas a história de Raiam confirma que com empenho e dedicação é possível obter sucesso neste mercado.

Por isso, listamos, a seguir, 5 lições que você pode aprender com Raiam Santos. Confira!

1. Não desista

Como vimos, Raiam só conseguiu obter resultados positivos depois de um tempo, mas ele não desistiu. Por isso, quando você lançar seu produto digital, pode não ter os resultados que gostaria a princípio, porém, não deixe de continuar tentando.

Às vezes o que falta é uma estratégia de marketing digital ou até o lançamento de outro produto para engatar as vendas. O importante é fazer testes, observar como seu público se comporta e manter-se firme. Uma hora os resultados positivos chegarão.

2. Conte histórias

Raiam aproveitou sua experiência como imigrante ilegal nos Estados Unidos para lançar seu primeiro livro: “Imigrante ilegal”. Desde então, ele tem feito sucesso compartilhando suas experiências, conquistas e esforços com os seus seguidores.

Nesse sentido, saiba que histórias inspiram sua audiência. Por conta disso, as práticas de storytelling têm se tornado cada vez mais populares no mundo digital.

Livros eletrônicos e mídias sociais são perfeitas para compartilhar sua vivência de forma genuína. Assim, você terá um público fascinado.

3. Aposte no digital

O mundo digital está crescendo, e ficar de fora dessa tendência pode resultar em perdas de oportunidades valiosas. Desse modo, assim como Raiam, você pode encontrar formas de ganhar dinheiro e, quem sabe, tornar-se nômade digital também.

Por isso, não subestime o poder da internet e das mídias sociais. Com elas, seu negócio pode atingir o sucesso que você tanto procura.

4. Invista em infoprodutos

Os infoprodutos estão ganhando espaço no mundo digital e diversos produtores digitais, assim como Raiam, têm lucrado neste setor. Portanto, se você quer lucrar, produzir esse tipo de conteúdo pode ser um recurso valioso.

Alguns infoprodutos que você pode produzir são:

E-books;

Cursos online;

Podcasts;

Webinar;

E muito mais.

5. Conte com a ajuda de plataformas

As plataformas digitais já fazem parte da vida dos usuários da internet, e Raiam contou com a ajuda delas para publicar seus e-books, cursos online e mentorias.

Portanto, procure plataformas de qualidade para divulgar e vender seus produtos. Existem inúmeras, mas poucas conseguem centralizar tudo o que o infoprodutor precisa em um só lugar.

Então, agora que você já sabe quem é Raiam Santos, faça como ele e lance seu infoproduto agora mesmo. Para isso, conheça a plataforma da Startup Valeon e caminhe rumo ao sucesso!

VOCÊ CONHECE A ValeOn?

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A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.

A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.

O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.

Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.

Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:

                                                                                                                                                                   Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.

Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?

Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

sexta-feira, 25 de março de 2022

DERRUBANDO MITOS NOS NEGÓCIOS

Por J. Ferrari e David Cohen e Innovatrix

Quando você compra um carro usado, pode sentir vontade de acreditar no que o vendedor diz: “um carro tão bom por um preço tão baixo!”. Além disso, não acreditar nele dá trabalho. Você precisa entender um pouco de carros, e é desagradável enfrentar o vendedor. Mesmo assim, você sabe que o vendedor tem motivos para “enfeitar” a verdade. Então você chuta os pneus, experimenta o carro num test-drive, faz perguntas probatórias. Pode até trazer um amigo que entenda de mecânica. Essa experiência toda está longe de ser divertida mas, se você não exercer um mínimo de ceticismo, há um preço que pagará mais tarde. O carro pode dar problemas. Então você se arrependerá de não ter investido um pouquinho de ceticismo no início do processo.

Esse raciocínio foi descrito pelo astrônomo americano Carl Sagan (1934-1996), no livro O Mundo Assombrado pelos Demônios. O mundo dos negócios está repleto de vendedores de carros usados. Curiosamente, homens que se orgulham de sua racionalidade e seu sangue-frio para tomar decisões costumam comprar esses carros de olhos fechados. Pior, dirigem-nos em alta velocidade, em estradas mal sinalizadas.

Claro, estamos falando em linguagem figurada. Os carros usados de Sagan, no mundo das empresas, são as teses de como alcançar o sucesso. Os vendedores, há de todos os tipos: consultores, mágicos, acadêmicos, psicólogos. Phil Rosenzweig, um professor de estratégia e

gestão internacional da escola de negócios IMD, na Suíça, se propõe a ser aquele amigo que entende de carros. Neste livro, ele revela os principais truques que grandes gurus, jornalistas e até respeitadas instituições utilizam — na maioria das vezes, sem ter consciência disso — para vender suas idéias. Eleito um dos melhores livros de negócios do ano passado pelo Financial Times, Wall Street Journal e pelo Boston Globe, Derrubando Mitos não fornece uma estratégia segura para alcançar o sucesso. Mas vai ajudá-lo a evitar grande desastres no caminho.

Ainda sobre o livro Derrubando Mitos (ver postagem do dia 08/10/2008), achei domingo passado um post sobre o livro escrito pelo senhor J. Ferrari em seu blog. Como todos sabem que achei esse livro espetacular, resolvi publicar o post integralmente. Vale a pena ler, principalmente para os que ainda não leram o livro.

Se você ler muitos livros sobre administração de empresas, é praticamente inevitável que desenvolva certo grau de ceticismo. Num dia, você acompanha os argumentos do consultor americano Jim Collins, autor de grandes sucessos como Empresas Feitas para Vencer (editora Campus). Ele assegura que as empresas só se tornam excelentes se seguirem uma estratégia incremental, com pequenas melhorias de cada vez. Aí você lê o professor de Harvard Clayton Christensen, outro autor de sucesso. Ele diz que, enquanto você dá um duro danado para melhorar seus serviços ou produtos, existe alguém lá fora inventando alguma coisa que vai fazer todo mundo esquecer aquilo que você produz.

Se você acompanha as teses de gestão há algum tempo, já deve ter visto vários modismos: a solução dos problemas da empresa pela aposta na qualidade, a solução pela reengenharia de processos, a salvação pelo foco em uma única atividade central, a salvação pelo investimento em várias atividades diferentes… É possível até que você tenha ficado em dúvida sobre o que é ser um gestor. Afinal, o que é administrar? É controlar, como dizia o pensador clássico francês Henri Fayol? Ou é realizar, apostar em coisas novas, como defende o megaguru americano Tom Peters? Será pensar e planejar, como diz o mestre da competitividade, Michael Porter? Ou liderar, como diz Warren Bennis, um especialista em… claro, liderança?

Para quem fica perdido no meio de tantas teorias contraditórias, vale a pena investir algum tempo na leitura de mais um livro de administração: Derrubando Mitos – Como Evitar os 9 Equívocos Básicos no Mundo dos Negócios (Editora Globo), do americano Phil Rosenzweig, professor de Estratégia e Gestão Internacional da escola de negócios IMD, na Suíça. O livro foi considerado um dos melhores lançamentos do ano passado pelos jornais econômicos Financial Times e Wall Street Journal. A edição brasileira, recém-lançada, é o primeiro tomo da coleção Época Negócios.

O principal mote do livro é revelar os truques que grandes gurus, jornalistas e até respeitadas instituições usam – na maioria das vezes, sem ter consciência disso – para vender suas ideias. Seus ataques se dirigem desde a autores famosos, como Jim Collins e Tom Peters, até a ícones da mídia especializada, como as revistas Fortune, Business Week e Forbes, e consultorias estabelecidas, como a Bain.

O primeiro dos nove truques que Rosenzweig apresenta é o efeito aura. Ele dá o título da obra, em inglês (The Halo Effect). O efeito aura foi um termo inventado pelo psicólogo americano Edward Thorndike no início do século passado. Nasceu da observação de Thorndike, de um serviço que prestou para o Exército americano. Sua tarefa era determinar quais soldados eram bons em tiro, quais eram os melhores corredores, quais eram os mais fortes e assim por diante. Depois de aplicar questionários a alguns comandantes, o psicólogo percebeu um fenômeno curioso. Quando um soldado era considerado bom em algo, geralmente ganhava notas altas em todos os quesitos.

Thorndike explicou o resultado como uma espécie de contaminação. Ao ver uma pessoa muito boa em algum campo de atuação, automaticamente acreditamos que ela se sobressai em outras atividades. Exemplos recentes? Com a economia brasileira em alta, o presidente Lula bateu recordes de popularidade, mesmo durante o escândalo político do mensalão. Nos Estados Unidos, logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quando um sentimento de união tomou conta do país, o presidente Bush foi bem avaliado em pesquisas sobre sua política econômica. Inversamente, quando as críticas à invasão do Iraque aumentaram, os americanos avaliaram sua conduta da economia como ruim.

Muitas vezes, essa contaminação faz sentido. Se uma companhia de renome lança um produto, é natural que as pessoas prefiram comprar dela, em vez de testar o produto feito por uma empresa desconhecida. A armadilha é que a aura nos impede de enxergar com clareza. Vários estudos mostram que nossas opiniões são influenciadas pelo contexto. Um deles é do professor de administração Barry Staw, da Universidade da Califórnia. Staw propôs tarefas a vários grupos. Depois, disse a alguns desses grupos que eles tinham tido bom desempenho, e a outros que não tinham ido bem. Staw fez isso aleatoriamente. E aí pediu aos grupos que descrevessem o trabalho em equipe. Nos grupos que ele afirmou ser melhores, as pessoas classificaram as equipes como mais abertas a mudanças, mais coesas, mais motivadas. Nos grupos que ele disse terem se dado mal, as pessoas se lembraram de comunicação ruim, falta de união e baixa motivação.

E qual o problema do efeito aura? É que ele contamina grande parte dos estudos supostamente científicos sobre sucesso. Talvez motivação seja um ingrediente essencial para o sucesso, mas, se você pergunta o segredo do sucesso a uma pessoa bem-sucedida, é provável que ela se lembre de ter tido mais motivação do que teve de verdade. O mesmo vale para clima organizacional, inteligência, ousadia etc.

Esse seria um problema dos livros que apontam receitas de sucesso a partir de empresas bem-sucedidas. Segundo Rosenzweig, o sucesso financeiro atual das empresas cria um efeito aura que faz executivos, empregados, rivais, jornalistas e até analistas especializados achar que tudo o mais vai bem.

As demais ilusões descritas por Rosenzweig são:

– A confusão entre correlação e causalidade. Digamos que um estudo tenha descoberto que as empresas mais bem-sucedidas financeiramente gastam mais com programas de educação para seus gerentes. O que concluir daí? Que as empresas que investem em seus funcionários colhem melhores resultados? Ou que as empresas que colhem melhores resultados têm mais dinheiro para programas de educação? a ilusão de que há uma explicação única para o sucesso.

– A busca de causas a partir dos efeitos. É uma ilusão comum nos estudos que procuram inferir receitas de sucesso olhando apenas para empresas bem-sucedidas.

– A ilusão das pesquisas “rigorosas” (quantidade de dados analisados não é igual a profundidade das conclusões).

– O mito do sucesso duradouro: a maioria das empresas bem-sucedidas, por uma simples questão estatística, tende a ter resultados piores que suas concorrentes no futuro, um fenômeno conhecido como regressão à média. Foi o que aconteceu com as empresas que constavam no livro Feitas para Durar, durante a década de 1990.

– A ilusão do desempenho absoluto: os carros da General Motors são hoje muito melhores que na década de 1980. O que explica sua queda na participação de mercado nos EUA, de 35% em 1990 para 25% em 2005? Os concorrentes melhoraram mais. Parece óbvio, mas, até o escândalo da “contabilidade criativa” de empresas americanas no início do século, a maioria dos altos executivos recebia bônus vinculados a resultados absolutos, e não às conquistas reais de mercado.

– O erro de interpretação: se olhamos apenas as empresas bem-sucedidas, não enxergamos aquelas que adotaram a mesma estratégia e se deram mal. Em vez de uma receita de sucesso, podemos estar seguindo uma receita de volatilidade. Um exemplo: durante um incêndio, uma pessoa se jogou do 4º andar e escapou sem nenhuma contusão e nenhuma queimadura. Mas jogar-se pela janela é uma estratégia radical que, na maioria das vezes, leva à morte. Em um incêndio, faz mais sentido esperar os bombeiros.

– A ilusão da física dos negócios. Essa é a noção de que o mundo dos negócios se presta a previsões, de que resultados podem ser repetidos, de que existem leis que regem os resultados. Não há.

O maior mérito do livro “Derrubando Mitos”, de Phil Rosenzweig (veja edição de março da Época Negócios) é demolir, sem dó nem piedade, a ideia mais cara aos “mercadores de ilusões” que dominam a literatura empresarial: “excelência empresarial”, entendida como vantagem competitiva sustentável, não existe. Nunca existiu, e está cada vez mais longe de existir. Qual o corolário disso? Simples. As várias safras de livros que apareceram, dos anos 80 para cá, com a pretensão de fornecer receitas para a “excelência”, são enganosas e levam à conclusões falsas. Rosenzweig desconstruiu o mantra da gurulândia – “faça assim, que você terá sucesso”- usando uma linguagem clara, sem tecnicismos estatísticos e dando nomes aos bois. Os bois se chamam: Tom Peters, Jim Collins, e mais uns três ou quatro “encantadores de serpente” do circuito dos palestrantes de negócios. Leiam o livro. Para mim é a melhor coisa publicada em nossa área em muitos anos. Mas o que me deixa pasmo é o seguinte: as conclusões do livro não são novidade. Pesquisadores dignos desse nome já vinham mostrando isso (os “bois”, acima, não são nada rigorosos, são só pretensiosos). Dois deles – Robert Wiggins e Tim Ruefli, da Universidade do Texas (corra ao Google!) -concluíram que vantagem competitiva é raríssima e, quando acontece, dura pouco. É da natureza da competição capitalista, leitor. Gente como Joseph Schumpeter – sobre quem já escrevi nesta revista – já tinha cantado essa pedra há décadas. Vantagem duradoura não pode existir num regime em que a competição é que gera a riqueza. É precisamente como na evolução biológica: as espécies coexistem interconectadas numa “corrida armamentista evolucionária” que não acaba nunca. Se um predador fica mais veloz, a presa desenvolve melhor camuflagem; aí o predador fica mais sensível ao odor da presa, e ela, então, “aprende” a saltar mais longe etc. Isso dura indefinidamente, não há descanso. Os biólogos, inspirados por Lewis Carrol, autor de “Alice no país das maravilhas”, chamam isso de competição “rainha vermelha” – um personagem de Carrol que diz: “aqui, você tem que correr o máximo que puder, para conseguir ficar no mesmo lugar”. Foi esse, exatamente, o efeito que o Wal Mart introduziu no varejo. Seus competidores não agüentaram o ritmo da corrida que ele impôs e vários “pediram para sair” (KMart, por exemplo, uma ótima empresa aliás). No sistema capitalista, a inovação (dinheiro novo) não vem de empresas que ficam na “crista da onda” por muito tempo, vem das que introduzem novos modelos e práticas de negócios, ameaçando a posição dos estabelecidos, obrigando-os a correr atrás, e puxando a média para cima. Eu chutaria que, nos setores mais competitivos, não há sucesso que fique “na crista da onda” por mais de 15 anos em média, e a tendência é essa janela diminuir. Vamos encarar o fato: empresas não inovam sustentavelmente, é o mercado que inova. E eu que, um dia, acreditei no conto da vantagem competitiva sustentável… Quero meu dinheiro de volta!

 

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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