Lei negativa geral: quando um humano anunciar que deseja ser breve na fala, será excessivo
Leandro Karnal, O Estado de S. Paulo
Antropólogos marcianos estavam em um congresso interplanetário. Conheciam a tribo humana. A abertura foi feita pela doutora Thavas, renomada especialista de lá:
“Sugiro um Manual de Instruções. Após anos de observações, identifiquei cinco princípios gerais importantes. Quantos colegas, baseados em estudos isolados, ficaram perdidos diante de ações contraditórias dos humanos? Com estas Cinco Leis Gerais, pretendo eliminar parte do equívoco.
Concepção artística da sonda Mars Express em Marte Foto: ESA, INAF
1 – Lei geral do duplo sentido. Diferentemente de Marte, quando um humano diz que ama a família, isso não deve ser lido como afeto real. Constitui um desejo, uma projeção, uma frase importante de aceitação social. Quando submetidos a festas familiares ou viagens, brigam o tempo todo. Assim, devemos entender que o que sai da boca humana não corresponde a um sentimento de fato.
2 – Lei humana da causa oculta: todas as brigas entre os terráqueos não têm como causa real o objeto da discussão. Quando eles discutem no trânsito, não discutem a ultrapassagem perigosa. Estão debatendo a insatisfação sexual e econômica. É fundamental entender essa premissa para saber falar com eles.
3 – Lei do espelho: os povos do terceiro planeta não conseguem se ver. Existe uma membrana no olho que impede a percepção de si. Sua única capacidade é a projeção nos outros. Toda fala é sobre algo deles que foi projetado na imagem alheia. Levanto a hipótese de ser uma tática evolutiva que criou essa disposição genética.
4 – Lei da crítica invertida: este axioma se relaciona com o anterior. Cheguei a considerá-lo como uma divisão interna do terceiro. Todavia, tem sua especificidade. A crítica de um humano a outro é um elogio de si. Sempre. “Você é preguiçoso” implica dizer “eu sou trabalhador”. “Você nunca chega na hora” é igual a “veja como sou pontual”. É uma espécie de vaidade com vetor trocado.
5 – Lei negativa geral: quando um humano anunciar que deseja ser breve na fala, será excessivo. Toda vez que alguém enunciar na tribo de lá “sem querer atrapalhar”, a pessoa atrapalhará. “Não quero ser invasivo”, “Deus me livre fazer fofoca”, “Não desejo abusar da sua paciência” significam, necessariamente, que tudo isso que está sendo negado será levado adiante.
A doutora Thavas foi ovacionada. Era uma inovação científica bem fundamentada. As cinco regras logo se ampliaram e eu decidi compartilhar com você. Podem ajudar na próxima reunião ou almoço de família. A antropologia marciana ainda tem esperança na gente.
Escolha alguém bom e pesquise sobre duas ou três melhores obras. É uma viagem maravilhosa
Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo
Os calores começam a amenizar, lentamente. No Centro-Sul do País, batem ventos que clamarão, em breve, por mangas compridas. Chegamos a mais um outono, época de criatividade e introspecção. Que tal ler um pouco? Lemos para analisar o real, para ter companhia e, inclusive, para conseguir olhar um pouco além do rema-rema cotidiano.
Estamos no ano do bicentenário da Independência. Muita gente dará opinião, surgirão reportagens e o tema pode aparecer de muitas formas. Não perca tempo: uma boa maneira de estar preparado para a data é ler o recente Independência do Brasil, de João Paulo Pimenta (Ed. Contexto). Obra geral, bem-feita para ter uma visão ampla que o professor da USP oferece ao grande público. Se você não conhece, aproveite também para explorar 1822, de Laurentino Gomes (Globo Livros). Sempre gostei muito da trilogia (1808, 1822 e 1889), bem como os recentes sobre Escravidão. Por fim, se quiser estar “afiado” para o evento, também pode conhecer duas biografias de protagonistas do processo de emancipação política: D. Pedro I, de Isabel Lustosa, e José Bonifácio, de Miriam Dolhnikoff (ambos da Cia das Letras). Boas biografias são fascinantes e parecem prender a pessoa que lê de uma forma muito positiva.
Homem lê livro em janela na muralha da cidade velha de Cartagena Foto: Felipe Mortara/Estadão
Se o outono trouxe o desejo de boas narrativas literárias, Herança (Miguel Bonnefoy, ed. Vestígio) fará você passar horas agradáveis. O livro conheceu enorme sucesso na França. O autor faz um diálogo com as tradições da América e da Europa e mostra como a história afeta a percepção do mundo. Sempre gostei de autores com pés em dois mundos: Camus, Orwell, Carpentier…
Está com pensamentos densos sobre a busca da serenidade, o sentido da vida ou a necessidade de reorientar objetivos? Então, minha reflexiva leitora e meu meditabundo leitor: é hora de encarar três breves obras filosóficas. Estou falando de Grandes Mestres do Estoicismo (Edipro). Você vai descobrir muitas coisas bebendo das ideias Sobre a Brevidade da Vida (Sêneca); Meditações (Marco Aurélio) e o célebre Manual de Epicteto. Os estoicos quase sempre são muito práticos. A oportuna publicação da trilogia serve para amantes da Filosofia e para o público em geral.
Comemos muito, pensamos sobre alimentação e usamos a boa mesa como fonte de sociabilidade. Jacques Attali traz ideias muito inovadoras no texto A Epopeia da Comida, Uma Breve História da Nossa Alimentação (ed. Vestígio). Com frequência, volumes de história da alimentação trazem informações algo aristocráticas sobre as origens de um prato ou quando passamos a comer trufas. Grandes manuais do tema parecem ter um toque aristocrático-decadentista. O autor foge desse estereótipo. É uma viagem sobre a história da distribuição e elaboração de hábitos alimentares com partes analíticas da fome. Faz repensar a comida como fato geográfico, social e político.
O tema do machismo é fundamental para qualquer ideia educacional e de grupos de trabalho. Sugiro que as escolas, escritórios e as famílias façam grupos de estudos com o livro de Ruth Manus: Guia Prático Antimachismo para Pessoas de Todos os Gêneros (Sextante). Debater o machismo e a questão da mulher é uma aposta na civilização e na melhoria do nosso mundo. Ler o livro da Ruth, claro e contundente, é um ponto de partida.
Existe uma opção muito interessante. Só conhecemos um autor ou uma autora se entrarmos mais fundo no seu universo criativo. Que tal escolher um livro clássico e explorar mais obras de quem o concebeu? Deseja aceitar o desafio de entrar no cérebro de Clarice Lispector? Prefere Conceição Evaristo? Vai nadar de braçadas nos contos de Chekhov? Aceita o desafio de entender mais Ana Maria Gonçalves ou Itamar Vieira Júnior? Escolha alguém bom e pesquise sobre duas ou três melhores obras. Vá fundo! É uma viagem maravilhosa. Você verá repetição de alguns pontos e transformações de outros. Sua maneira de ler será transformada.
Quando eu estava no fim da minha graduação em História, a coletânea de Amin Maalouf foi uma descoberta. Ela apresentava as Cruzadas vistas pelas leituras de documentos árabes. Foi uma grande lição sobre fontes e a subjetividade das narrativas. Em 2011, o autor ingressou na Academia Francesa. Na obra O Naufrágio das Civilizações (Vestígio), ele analisa os conflitos identitários, o islamismo radical e o ultraliberalismo como riscos à civilização. O livro deu-me muitas pistas analíticas sobre o mundo que vivemos. Concordando ou discordando, torna-se, desde o lançamento, obra fundamental para debater onde estamos na eterna encruzilhada da história.
Em resumo, minha sedenta leitora e meu ávido leitor: ler é uma chave que abre o mundo e útil, igualmente, quando o mundo perde sentido ou sabor. Leia para mudar tudo, leia para entender o que está acontecendo e leia, enfim, para sobreviver ao naufrágio das coisas e do sentido. As pessoas que amam o mundo e querem mudá-lo devem buscar livros. Aqueles que detestam o mundo necessitam isolar-se, igualmente, lancem-se aos autores. Leia sempre e cada vez mais. Invista em si. Um bom livro aberto é uma lufada de esperança.
Com a volatilidade e a competitividade do mercado atual, a evolução das empresas deixa de ser uma opção e passa a se tornar uma imposição para aquelas que querem permanecer ativas com seus negócios. A pandemia reforçou ainda mais a questão, comprovando que é necessário estar pronto para se reinventar a qualquer momento.
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 700 mil empreendimentos que fecharam as portas na pandemia não devem reabrir. Agora, mesmo com a retomada econômica, é importante que os empreendedores permaneçam atentos ao contexto para reconhecer as oportunidades e demandas por inovação. “Em um mundo marcado pela transformação digital acelerada, as empresas precisam se reinventar de forma contínua, acompanhando as mudanças nas tecnologias e nos hábitos dos seus consumidores, se querem permanecer vivas”, comenta João Gustavo Pompeo, CEO da Eyemobile, empresa de tecnologias para vendas. Esse retrato já começa a refletir na média de vida dos negócios globais, que caiu de 58 anos, em 1958, para cerca de 22 anos atualmente, segundo pesquisa da consultoria McKinsey.
Confira três lições de empreendedores que precisaram reinventar suas operações, processos, mentalidades, produtos ou serviços para permanecer no mercado.
Esteja preparado para se fortalecer em novos mercados
As consequências drásticas da pandemia de Covid-19 não impactaram somente o mercado de eventos, como também todo o ecossistema que dá suporte ao setor. Um exemplo foi o da empresa Eyemobile, que oferecia uma solução de vendas móvel que ajudava a acelerar a experiência de consumo em grandes eventos. Criado em 2013, o software da startup permitia que o vendedor fizesse a operação sem estar no caixa — inovação que ajudava principalmente a reduzir as filas —, reunindo no portfólio cases como Jogos Olímpicos e Rock in Rio. Com a pandemia, porém, a empresa perdeu 95% do faturamento e acabou precisando reduzir o time de 100 para 15 colaboradores.
Diante do cenário, o CEO, João Gustavo Pompeo, decidiu fortalecer a atuação no varejo, área em que a empresa dava os primeiros passos à época. Ele, que havia se reinventado como empreendedor após uma trajetória de atleta e de músico no passado, percebeu que era o momento de recomeçar. “Mesmo que nós já houvéssemos iniciado nossa trajetória no varejo, precisamos mudar toda a estrutura para focar nesse segmento e, sobretudo, atuar também no ambiente virtual, que crescia exponencialmente”, explica João. A empresa passou a oferecer novos produtos focados em jornadas de compras digitais, com tecnologias para autoatendimento por QR CODE, delivery e take-away, por exemplo.
Além de superar as adversidades, a Eyemobile chamou a atenção de grandes marcas com seu modelo de negócio promissor e, em 2021, acabou sendo adquirida pela Getnet, braço de tecnologia de pagamentos do Grupo Santander. Hoje, a empresa oferece um sistema completo para vendas físicas e digitais, que integra frente de caixa (PDV), comandas eletrônicas, software de gestão, notas fiscais, meios de pagamento e relatórios de vendas. Desde a aquisição, o ritmo é de crescimento acelerado, com expectativas de ampliação do time para mais de 120 pessoas e de internacionalização das atividades neste ano.
Encontre uma dor real do mercado e desenvolva a solução
Foram mais de 10 MVPs até que o sonho de empreender levasse seis jovens recém-formados a uma solução escalável, criada para resolver uma dor real da área de trade marketing. A história da Involves, retail tech que desenvolve soluções para indústria e varejo, começou em 2008, em um quarto emprestado pelos pais de um dos sócios. André Krummenauer, co-fundador e CEO da empresa, conta que, inicialmente, a Involves era uma fábrica de softwares. “Nós tínhamos o sonho de empreender em tecnologia e começamos desenvolvendo portais, sites e sistemas específicos para atender as necessidades de alguns clientes”, relembra André.
Em paralelo, desde o primeiro dia da Involves já se colocavam esforços para ter um produto SaaS (Software as a Service) como o foco da empresa. “Buscando mais informações sobre indústria e varejo, identificamos os desafios enfrentados pelo setor para fazer a gestão de trade marketing. Foi aí que decidimos investir em um produto que solucionasse esses problemas”, explica André. Nascia então o Involves Stage, solução completa para a execução, gestão e inteligência em trade marketing.
Com a solução já consolidada no mercado e o conhecimento acumulado durante vários anos, a Involves decidiu ampliar e apostar em produtos que resolvessem também problemas dos varejistas, como o Involves Doors, que identifica e ajuda a corrigir uma das principais dores no varejo: a ruptura nas gôndolas. Atualmente, as soluções da Involves estão presentes em mais de 20 países, sendo usadas por clientes como L’Oréal, Fini, Unilever, Playstation, Motorola, Seara, Danone e 3 Corações.
Busque parcerias com startups, como A Startup Valeon preparada para te atender e universidades e outras empresas
A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.
A Startup Valeon um marketplace aqui do Vale do Aço volta a oferecer novamente os seus serviços de prestação de serviços de divulgação de suas empresas no nosso site que é uma Plataforma Comercial, o que aliás, já estamos fazendo há algum tempo, por nossa livre e espontânea vontade, e desejamos que essa parceria com a sua empresa seja oficializada.
A exemplo de outras empresas pelo país, elas estão levando para o ambiente virtual as suas lojas em operações que reúnem as melhores marcas do varejo e um mix de opções.
O objetivo desse projeto é facilitar esse relacionamento com o cliente, facilitando a compra virtual e oferecer mais um canal de compra, que se tornou ainda mais relevante após a pandemia.
Um dos pontos focais dessa nossa proposta é o lojista que pode tirar o máximo de possibilidade de venda por meio da nossa plataforma. A começar pela nossa taxa de remuneração da operação que é muito abaixo do valor praticado pelo mercado.
Vamos agora, enumerar uma série de vantagens competitivas que oferecemos na nossa Plataforma Comercial Valeon:
O Site Valeon é bem elaborado, com layout diferenciado e único, tem bom market fit que agrada ao mercado e aos clientes.
A Plataforma Valeon tem imagens diferenciadas com separação das lojas por categorias, com a descrição dos produtos e acesso ao site de cada loja, tudo isso numa vitrine virtual que possibilita a comunicação dos clientes com as lojas.
Não se trata da digitalização da compra nas lojas e sim trata-se da integração dos ambientes online e offline na jornada da compra.
No país, as lojas online, que também contam com lojas físicas, cresceram três vezes mais que as puramente virtuais e com relação às retiradas, estudos demonstram que 67% dos consumidores que compram online preferem retirar o produto em lojas físicas.
O número de visitantes do Site da Valeon tem crescido exponencialmente, até o momento, tivemos 83.000 visitantes.
O site Valeon oferece ao consumidor a oportunidade de comprar da sua loja favorita pelo smartphone ou computador, em casa, e ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez.
A Plataforma Comercial da Valeon difere dos outros marketplaces por oferecer além da exposição das empresas, seus produtos e promoções, tem outras formas de atrair a atenção dos internautas como: empresas, serviços, turismo, cinemas e diversão no Shopping, ofertas de produtos dos supermercados, revenda de veículos usados, notícias locais do Brasil e do Mundo, diversão de músicas, rádios e Gossip.
Nós somos a mudança, não somos ainda uma empresa tradicional. Crescemos tantas vezes ao longo do ano, que mal conseguimos contar. Nossa história ainda é curta, mas sabemos que ela está apenas começando.
Afinal, espera-se tudo de uma startup que costuma triplicar seu crescimento, não é?
Colocamos todo esse potencial criativo para a decisão dos senhores donos das empresas e os consumidores.
O relator da PL das Fake News na Câmara, Orlando Silva (PCdoB-SP).| Foto: Agência Câmara
Até esta sexta-feira (18), uma das razões apontadas por analistas para explicar a pressa da esquerda no Congresso em aprovar o Projeto de Lei 2630/20, o PL das fake news, era a de criar uma justificativa legal para o bloqueio do Telegram, aplicativo que tem moderação mínima de conteúdo e no qual grupos de direita levam evidente vantagem de engajamento. Ao que parece, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu que não precisava da lei para eliminar o aplicativo da vida pública do brasileiro. Numa decisão que será objeto de nossa análise nos próximos dias, o ministro determinou que provedores e plataformas adotem mecanismos para inviabilizar o funcionamento do Telegram. O episódio é a evidência mais recente do quanto a regulação das redes sociais e serviços de mensagens instantâneas é tema crucial para o futuro da liberdade de expressão no país.
Aprovada pelo Senado Federal em junho de 2020, a proposta institui a Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Recordando o histórico dessa proposta, embora ainda estejamos caminhando em terreno delicado, e ainda haja ameaças reais à livre manifestação de ideias no texto sobre o qual os deputados se debruçam, convém frisar que a mudança de foco ocorrida no Senado foi positiva, já que o projeto original consistia numa prepotente tentativa de combater a “desinformação” – ou fake news, de onde vem o apelido do projeto -, partindo de um conceito vago o bastante que poderia ser usado arbitrariamente para enquadrar nessa categoria um sem número de manifestações meramente opinativas, que nada tivessem de difamatórias ou propositalmente enganadoras.
O texto original, na verdade, trazia um vício ainda pior que esse. Colocava sob responsabilidade do Estado o estabelecimento de um sistema de governança da informação e de sua veracidade, operacionalizado por meio das chamadas agências de checagem de fatos. Tratava-se de uma ideia constrangedoramente orwelliana, que comprometia a atividade jornalística em si, subvertia vários princípios da liberdade de expressão e criava um ente de raiz estatal supostamente dotado de mais sabedoria do que qualquer outro cidadão, empresa ou grupo civil para analisar e decidir quais manifestações mereceriam o carimbo de “verdade” e quais deveriam ser punidos com o de “mentira”.
Na Câmara, esse texto e mais 80 apensados passaram pela análise de um grupo de trabalho que teve como relator o deputado federal Orlando Silva (PCdoB). A proposta que chegou às suas mãos priorizava a regulação de disparos em massa e o trabalho dos robôs, mas também regras para os provedores de redes sociais e ferramentas de busca. No entanto, o parecer apresentado ao grupo de trabalho em dezembro de 2021 trazia mais problemas do que os notados no texto moderado que chegou do Senado. Além disso, o noticiário político informa que as pressões por mudanças – sejam mais liberalizantes ou restritivas – não pararam e até que seja colocado em pauta, o texto ainda pode ser modificado pelo relator. O próprio Orlando Silva, aliás, foi autor de um requerimento de urgência que, se aprovado, dispensaria o texto de prosseguir tramitando em outras comissões, levando-o direto para o plenário.
O texto original, na verdade, trazia um vício ainda pior que esse. Colocava sob responsabilidade do Estado o estabelecimento de um sistema de governança da informação e de sua veracidade, operacionalizado por meio das chamadas agências de checagem de fatos
A julgar pela última versão do parecer apresentada ao grupo de trabalho, não há muito a comemorar. Embora tenha resistido à tentação de retomar a ideia de criação de um “ministério da Verdade”, um dos pontos mais problemáticos estaria na criminalização generalizante do que é chamado de “disparos massivos”. O substitutivo condena tanto a promoção como o financiamento da difusão de mensagem “que [se] sabe inverídica”, que causem dano à “integridade física das pessoas ou sejam capazes de comprometer a higidez do processo eleitoral”. Para os infratores, o projeto prevê pena de um ano a três anos de reclusão.
Se isso se confirmar na versão que o relator protocolar como apta à votação em plenário, estaremos, de novo, diante de uma proposta capaz de inibir severamente a divulgação de conteúdos que questionam posições supostamente consensuais. Isso serviria, por exemplo, para coação em discussões sobre a eficácia de medidas restritivas adotados na pandemia ou para calar quem expõe dúvidas sobre a segurança das urnas, apenas para citar temas que aqueceram o debate público nos últimos meses. Não nos parece exagero supor, contudo, que o leque de posicionamentos estabelecidos sobre os quais não seria aceitável se contrapor cresceria exponencialmente, afetando, por exemplo, aqueles que denunciam o aborto como um ato abominável ou os que criticam pontos da agenda LGBT.
A correção desses equívocos é indispensável e se não ocorrer, os aspectos positivos no texto proveniente do Senado seriam apequenados, a ponto de tornar discutível se a aprovação da matéria ainda compensaria, tendo em vista o necessário equilíbrio entre o respeito à liberdade de expressão e a coibição de verdadeiros crimes praticados na internet.
Um desses pontos bem-vindos é o que exige mais clareza nos critérios usados por grandes plataformas, como Instagram, Facebook e Twitter, nos casos em que há exclusão de conteúdo ou contas de usuários. O Legislativo realmente não pode ignorar as numerosas denúncias de tratamento seletivo, particularmente contra perfis e páginas de viés conservador, tanto no Brasil quanto no exterior.
Se é verdade que certo nível de regulação da internet convém à democracia, é igualmente verdadeiro o fato de que errar a mão na medida das restrições pode desfigurá-la, tornando o próprio conceito de liberdade de expressão mera formalidade, já que ninguém será realmente livre para compartilhar suas opiniões sobre certos assuntos de determinadas maneiras, mesmo que o faça de modo totalmente respeitoso, com embasamento e sem ferir a honra de ninguém. A caçada às fake news não pode ser usada como pretexto para nos transformar num país com instrumentos muito próximos daqueles com governos totalitários, nos quais as únicas verdades compartilháveis são as autorizadas por comitês.
Se bem aplicada, riqueza do pré-sal será um primeiro passo para ajudar a aumentar e modernizar nossa tão precária infraestrutura
Adriano Pires*, O Estado de S.Paulo
Uma nova eleição se avizinha, e continuamos sem definir qual modelo de desenvolvimento queremos para o Brasil. O País não cresce graças (i) à ausência de reformas; (ii) à regulação aplicada (muitas vezes burocrática e politizada); (iii) ao conflito entre o “nós e eles”; e (iv) à falta de um Estado e de agências reguladoras modernas, eficientes e menos corporativistas.
Qualquer saída para o Brasil exigirá criatividade, desapego a crenças e dogmas e uso das nossas principais vantagens comparativas: nossa potência no agribusiness e nossa potência energética.
Receita que virá do setor de óleo e gás poderá promover uma verdadeira revolução nas finanças do Brasil. Foto: Fabio Motta/Estadão
Se existe uma boa notícia para o País nos próximos anos, é a grande oportunidade da receita extraordinária que virá do setor de óleo e gás, um volume de recursos que poderá promover uma verdadeira revolução nas finanças e políticas públicas brasileiras.
A Pré-Sal Petróleo (PPSA), a estatal que representa a União nos contratos de partilha, projeta gerar receitas de US$ 116 bilhões entre 2022 e 2031 com a comercialização do petróleodos contratos de partilha do pré-sal. A PPSA ainda prevê que, até 2031, os contratos de partilha vão gerar outros US$ 92 bilhões em royalties e US$ 77 bilhões em Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Somando tudo, a receita estimada para os cofres públicos será a bagatela de US$ 285 bilhões em 10 anos.
Ou seja, o Brasil terá na renda do petróleo um poderoso combustível para turbinar a economia nos próximos anos, como teve a Noruega com a criação de seu fundo soberano.
Se bem aplicada, essa riqueza do pré-sal será um primeiro passo para ajudar a aumentar e modernizar nossa tão precária infraestrutura, reduzindo o custo Brasil e gerando empregos.
A chave aqui é o “se bem aplicada”. Obviamente, não estamos propondo a criação de novas estatais, tampouco um Estado construtor de portos, estradas ou gasodutos.
A ideia é que o Estado seja apenas o indutor dos investimentos greenfield, dando o start para que, num segundo momento, venha o investimento privado. Foi assim com o setor elétrico brasileiro, em que o governo viabilizou a rede básica para que a iniciativa privada depois assumisse a sua expansão.
Se o próximo governo for “de esquerda”, seria um grande erro repetir o passado, com aquelas políticas de conteúdo local, subsídios criando campeões nacionais e intervenção nas estatais que acabaram naquela recessão inesquecível.
E, se o governo for “de direita”, seria um erro encarar o benefício do pré-sal com dogmas e uma abordagem estritamente fiscalista, em vez de investir no aumento da capacidade física da infraestrutura e na modernização da economia.
*DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE)
Telegram foi bloqueado no País por determinação do ministro Alexandre de Moraes a pedido da PF nesta sexta, 18. Foto: Divulgação/Telegram
Bolsonaristas correm em círculos atrás de possíveis soluções para o bloqueio do Telegramno País. O clima entre lideranças é de que aplicativos alternativos como Gettr, Parler e Signal também poderão ser alvo de suspensões, sobretudo diante da animosidade de influenciadores de direita mais barulhentos, que devem aproveitar a sanção do Telegram para iniciar nova saraivada de ataques contra o STF. “Se há perfis problemáticos, postagens criminosas, que esses perfis e postagens sejam excluídos. É um precedente preocupante e, por estarmos em ano eleitoral, fica difícil deixar de fazer uma avaliação política”, disse à Coluna a deputada estadual Janaina Paschoal (PRTB-SP).
SEM CHANCE. Conter os ânimos na base bolsonarista não será tarefa fácil. Principalmente porque mesmo lideranças se recusam a baixar o tom e reconhecer deslizes nas guerras de narrativas, como nos casos de divulgação de fake news.
NA BRONCA. Do deputado estadual Gil Diniz (PL-SP): “Vamos continuar usando outras redes. Podem até tentar censurar uma ferramenta, outras surgirão”. Do federal Marco Feliciano (PL-RJ): “Hoje é o Telegram. Amanhã será qualquer veículo que discordar do Partido do Judiciário”.
VEM PRA CÁ. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) aproveitou a situação para criar um banco de dados em seu site e pediu para os apoiadores deixarem seus contatos. “Precisamos que vocês entrem em contato conosco de alguma outra forma”, disse aos seguidores.
CLICK. Michelle Bolsonaro, primeira-dama
Michelle vestiu farda da PF em encontro de mulheres da corporação. Pré-campanha do marido, Jair Bolsonaro, tenta reduzir rejeição entre mulheres.
FICA, VAI TER BOLO. O presidente do PSDB em São Paulo, Fernando Alfredo, se diz ainda confiante na permanência do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no partido. “É um excelente quadro para o futuro do partido”, disse.
AQUI, NÃO. Alfredo, no entanto, não esconde mágoa com o grupo que tenta reverter o resultado das prévias vencidas por João Doria. “Como esses antigos caciques tomavam decisão? Na casa de um ou de outro, em algum restaurante caro, tomando vinho e fumando charuto. Não é mais assim”.
VIOLÊNCIA. O senador Marcos do Val (Podemos-ES) apresentou projeto para ampliar a abrangência do censo para obter dados sobre diferentes tipos de violência. “Teremos os índices de qualquer tipo de agressão realizada com a garantia do sigilo empregado pelos pesquisadores”, disse.
PROFESSOR. O empresário Andrea Matarazzo é o novo coordenador da grade de especialização da Faculdade do Comércio de São Paulo.
NA MOITA. Fontes acreditam que o ministro da Educação do governo Bolsonaro, Milton Ribeiro, pôde atuar fora dos holofotes, enquanto o País se preocupava com a pandemia e crise econômica. Reportagem do Estadão ontem revelou que lideranças evangélicas passaram a atuar em nome da pasta.
SINAIS PARTICULARES (por Kleber Sales). Milton Ribeiro, ministro da Educação
PRONTO, FALEI! José Luiz Penna, presidente do PV
“Ao entregar a medalha do Mérito Indigenista ao presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Justiça, Anderson Torres, demonstra ser o ministro da injustiça”
Um exemplo de como se pode utilizar sistemas surgidos no processo de seleção natural para criar soluções tecnológicas
Fernando Reinach*, O Estado de S.Paulo
Flores de dente-de-leão se tornam pequenas bolas de sementes, cada semente com um miniparaquedas branco. Eu adorava assoprar essas bolas e ver as sementes caindo devagar ou sendo levadas pela brisa.
Já as redes sem fio, que carregam sinais de internetou telefone, são um grande conjunto de equipamentos, distantes uns dos outros. Cada um desses repetidores capta sinais de rádio e os passa adiante. Esses aparelhos precisam estar ligados à rede elétrica. Por isso criar uma extensa rede em locais sem eletricidade é difícil. E, para solucionar esse problema, os cientistas decidiram criar repetidores minúsculos, que dispensassem eletricidade e se espalhassem sozinhos pelo ambiente. Foram então criados repetidores de cerca de 1 mm e extremamente leves, pesando 30 mg, que dispensam a rede elétrica, pois têm uma minúscula célula fotoelétrica que transforma a luz solar em eletricidade.
Ccientistas decidiram criar repetidores minúsculos, que dispensassem eletricidade e se espalhassem sozinhos pelo ambiente, como as sementes do dente-de-leão Foto: Makunin/Pixabay
Até aí, essa nova tecnologia era apenas um fantástico feito de miniaturização. Sobrava um problema: como espalhar milhares ou milhões desses repetidores em uma floresta, em uma fazenda ou uma geleira, criando uma rede funcional? Foi então que os cientistas buscaram inspiração nas sementes de dente-de-leão. Cada um desses microaparelhos foi pendurado a um paraquedas artificial copiado da estrutura do usado pela semente de dente-de-leão. Após testarem vários desenhos, os cientistas obtiveram um modelo que permite que os equipamentos se espalhem com o vento, caindo no solo suficientemente distantes para permitir a cobertura de uma grande área, mas suficientemente próximos para que cada um capte os sinais de seus vizinhos. O paraquedas também foi otimizado para garantir o pouso com a célula fotovoltaica voltada para o céu, garantindo eletricidade.
Um drone sobrevoa a área desejada levando até 3 kg de equipamentos (100 mil repetidores). Nos testes, eles foram lançados de diversas altitudes e se espalharam com o vento. Mais de 95% pousaram com a célula fotovoltaica para cima, estabelecendo redes sem fio em áreas de dezenas de quilômetros quadrados, locais sem eletricidade, rodovias ou mesmo trilhas. Tudo a custo baixo.
Esses receptores podem carregar sensores de vários tipos, sendo capazes de monitorar o que ocorre em toda a superfície coberta pela rede e transmitir esses dados. Outro exemplo de como se pode utilizar sistemas surgidos no processo de seleção natural para criar soluções tecnológicas.