domingo, 20 de fevereiro de 2022

CENSURA DA IMPRENSA PROPOSTA POR LULA É INADMISSÍVEL

 

Liberdade de expressão
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília

Bucharest, Romania – July 25, 2020: A Panasonic handheld camcorder of a news TV channel is seen at a news event in Bucharest.

Lula quer regular a imprensa em eventual retorno à Presidência. Bolsonaro, Moro e Doria são contra.| Foto: BigStock

A intenção de regular os meios de comunicação em um eventual retorno à Presidência da República em 2023 vem sendo repetida de forma obstinada por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em declarações nos últimos meses. Em entrevista no último dia 9 à Rádio Clube, de Pernambuco, o ex-presidente voltou ao tema, o que suscitou discussões sobre os riscos para a liberdade de imprensa no Brasil em caso de um novo mandato de Lula.

“Você não pode deixar a internet do jeito que está. Você não pode deixar a internet virar uma fábrica de mentiras, uma fábrica de fake news, uma fábrica de provocações”, disse o político que já foi preso. Ele definiu seu projeto de regulamentação da mídia de forma vaga e disse apenas que é necessário “estabelecer determinadas regras de civilidade nos meios de comunicação”. “É preciso que haja regulamentação na imprensa. Você não pode regulamentar a imprensa escrita, mas você tem internet para regular, tem o sistema de televisão”, afirmou.

O ex-juiz Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência, criticou as falas do petista por meio do Twitter. “Lula quer controlar o conteúdo de TV e internet e de forma dissimulada chama isso de ‘democratização’. Isso é coisa de regimes autoritários. Liberdade de imprensa é pilar da democracia e é INEGOCIÁVEL”, disse Moro.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também se manifestou contra Lula. “Liberdade de imprensa é um princípio básico da democracia. Regular imprensa significa censurar a imprensa. Seja da direita ou da esquerda, quem flerta com a censura, compactua com o autoritarismo e com a ditadura. Um atraso para o Brasil e uma afronta à liberdade do país”, afirmou Doria.

As suspeitas de flerte com o autoritarismo não são exageradas. Lula nunca escondeu sua simpatia pelo chavismo, que tem um histórico de graves violações à liberdade de imprensa na Venezuela. Em 2017, a ditadura comandada por Nicolás Maduro aprovou a “Ley contra el Odio, por la Convivencia Pacífica y la Tolerancia” (Lei contra o Ódio, pela Convivência Pacífica e a Tolerância), que surgiu de uma alegada necessidade de coibir o “discurso de ódio” na internet, mas é usada, na prática, para calar a oposição.

Por outro lado, defender a necessidade de regulamentar a atuação de meios de comunicação não é necessariamente uma pauta da extrema-esquerda. Nos Estados Unidos e em algumas nações da Europa, a regulação dos meios de comunicação por agências que atuam de forma independente – mas pertencem ao governo – já existe. No Reino Unido, por exemplo, o Office of Communications (Ofcom), instituído em 2003, é a autoridade que regula televisão, rádio, telecomunicação e outros serviços. Uma de suas funções é proteger o público de conteúdos ofensivos. Nos EUA, um papel parecido cabe à Federal Communications Commission (FCC), instituída em 1934.

No Brasil, em 2009, o Supremo Tribunal Federal (STF) revogou a lei de imprensa do período militar, o que, na opinião de alguns juristas, deixou um vácuo normativo sobre o assunto no país. Desde então, processos relacionados à imprensa são levados à Justiça e analisados somente à luz da Constituição, do Código Civil e do Código Penal. Além disso, não há um órgão cuja função específica seja regular temas relacionados à radiodifusão.

O tema da liberdade de expressão nos meios de comunicação tende a ser, em 2022, um dos focos dos debates na corrida presidencial. As discussões sobre os limites dessa liberdade e sobre as formas de conter dinâmicas nocivas para o convívio social suscitadas pela internet têm ficado cada vez mais acirradas, especialmente com a crescente interferência do Poder Judiciário no assunto.

Dias antes da fala de Lula, Bolsonaro discursou sobre liberdade de expressão
Uma semana antes da fala de Lula sobre o controle da imprensa, o presidente Jair Bolsonaro (PL) abordou o tema em seu discurso na sessão solene de abertura dos trabalhos do Congresso em 2022. A declaração pareceu dirigida de forma indireta ao petista.

“Reafirmo, meus senhores: me sinto hoje parlamentar aqui, também. Não deixemos que qualquer um de nós, quem quer que seja que esteja no Planalto, ouse regular a mídia. Não interessa por quê, com qual intenção e objetivo. A nossa liberdade, a liberdade de imprensa, garantida em nossa Constituição, não pode ser violada ou arranhada por quem quer que seja neste país”, afirmou.

Em setembro do ano passado, Bolsonaro já tinha feito uma declaração no mesmo sentido, após uma fala semelhante de Lula. “A nossa liberdade de imprensa, com todos os seus defeitos, tem que persistir. No que depender de nós, jamais teremos quaisquer medidas visando censurá-los. É melhor falando do que calado”, disse o presidente.

Durante seu governo, Bolsonaro entrou em diversos conflitos com jornalistas, ameaçou cortes de publicidade e chegou a insinuar que a concessão pública da Rede Globo poderia não ser renovada em outubro de 2022. Até agora, no entanto, as diferenças do presidente com a imprensa não saíram da retórica.

Em setembro de 2021, Bolsonaro editou uma Medida Provisória para alterar o Marco Civil da Internet. O objetivo era dar uma solução legislativa para o problema da liberdade de expressão nas redes sociais no Brasil. O seu principal alvo era a moderação injustificada de conteúdos e de contas em redes sociais.

A MP exigia “acesso a informações claras, públicas e objetivas” sobre qualquer tipo de moderação de conteúdo feita por redes sociais. As redes deveriam explicar “os critérios e os procedimentos utilizados para a decisão humana ou automatizada” para suas decisões, exceto em casos que envolvessem segredos comerciais ou industriais.

O documento também pedia “contraditório, ampla defesa e recurso” diante de qualquer tipo de moderação de conteúdo nas redes sociais, que precisariam disponibilizar um canal específico para que as pessoas que tivessem seus conteúdos removidos pudessem se manifestar.

A MP foi criticada por diversos setores da sociedade por não tratar a fundo o problema da veiculação de informações falsas, e acabou sendo devolvida pelo Congresso. Depois, tornou-se um projeto de lei, mas está com a tramitação parada.

Guru de Lula sobre imprensa quer criar o Conselho Nacional de Comunicação
Nos últimos meses, em diversas entrevistas e declarações, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou sobre seu desejo de regular os meios de comunicação no Brasil em caso de um eventual novo mandato na Presidência da República a partir de 2023.

Em agosto do ano passado, ele afirmou a uma rádio da Bahia: “Estou ouvindo muito desaforo, leio muito a imprensa. Tem alguns setores da imprensa que não querem que eu volte a ser candidato. Porque, se eu voltar, vou regular os meios de comunicação deste país”.

Lula afirmou em um discurso da mesma época que era preciso aprovar de forma urgente a regulamentação da comunicação no Brasil. Na ocasião, ele chegou a citar a mídia da Venezuela que, segundo ele, “destruiu” Hugo Chávez, a exemplo do que a imprensa brasileira teria feito com ele próprio.

No campo da comunicação, o homem de confiança de Lula é o jornalista Franklin Martins, ex-ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social de seu governo. A principal proposta de Martins é criar um Conselho Nacional de Comunicação, com composição representativa dos poderes públicos e de setores da sociedade civil, para estabelecer normas e políticas públicas do setor da comunicação.

A criação de conselhos é comum em democracias, mas o aparelhamento desse tipo de órgão sempre foi uma marca da gestação de ditaduras socialistas. No caso do Brasil atual, um dos riscos relacionados a um órgão do tipo para o controle da comunicação seria o de eles acabarem capturados por ONGs de caráter progressista, que costumam se perpetuar em assentos destinados à sociedade civil em conselhos dessa espécie.

O modelo de controle de imprensa que costuma ser mais citado como inspiração pelo PT é o britânico. A regulação da imprensa do Reino Unido é exercida por um órgão chamado Ofcom — abreviação de Office of Communications —, estabelecido em 2002 para controlar as indústrias de radiodifusão e de telecomunicações e os correios do Reino Unido.

A atribuição legal do Ofcom é representar os interesses dos cidadãos britânicos perante os meios de comunicação e proteger o público de conteúdos nocivos ou ofensivos. Historicamente, desde sua criação, a necessidade de existência do órgão nunca chegou a ser contestada no Reino Unido de forma expressiva, mas algumas de suas decisões causam polêmica.

No começo de 2021, por exemplo, o Ofcom passou a fiscalizar a presença de discurso de ódio em meios de comunicação. “Discurso de ódio” é definido pelo órgão como “toda forma de expressão que espalha, incita, promove ou justifica o ódio com base na intolerância a deficiências, etnia, origem social, sexo, gênero, mudança de gênero, nacionalidade, raça, religião ou crença, orientação sexual, cor, características genéticas, idioma, opinião política ou qualquer outra opinião, pertença a uma minoria nacional, propriedade, nascimento ou idade”.

Crítico da atuação do Ofcom, o jurista britânico Andrew Tettenborn observou, em artigo de 2021 publicado no site The Critic, que o Ofcom é uma ameaça à liberdade de expressão no Reino Unido, citando vários casos em que sua atuação poderia estar extrapolando a sua missão original.

“Em maio deste ano, o Ofcom interveio com força para sancionar as emissoras por veicular assuntos que supostamente se oporiam ao consenso científico e reduziriam a confiança popular nas tentativas do governo de lidar com a Covid-19. (…) Além da regulamentação direta, nos últimos três anos ou mais, o Ofcom tem aproveitado a ampla função estatutária que lhe foi confiada para promover a igualdade de oportunidades em relação a raça e sexo, impondo exigentes cotas às emissoras sob ameaça de encerramento e até mesmo retirada da licença caso não se conformem às diretrizes”, escreveu Tettenborn.

Moro é contrário à ideia de controle da imprensa, mas já foi favorável à “prisão de radicais” no inquérito dos atos antidemocráticos
Tanto Doria quanto Moro já manifestaram posicionamentos contrários à ideia de regular a imprensa proposta por Lula, e nunca falaram em projetos de regulamentação da comunicação no Brasil. Ambos também já criticaram Bolsonaro por seus conflitos com jornalistas.

Quando o presidente brigou com uma repórter da TV Vanguarda em julho de 2021, Doria tuitou: “Lamentável mais um surto verborrágico do presidente Bolsonaro contra a imprensa. O ato demonstra sua intolerância e descontrole. Minha solidariedade à jornalista agredida e aos profissionais atacados. A liberdade de imprensa é um direito que o atual governo insiste em confrontar”.

Em seu discurso de filiação ao Podemos, em novembro de 2021, Moro fez uma declaração que pareceu direcionada tanto a Lula como a Bolsonaro: “Chega de ofender ou intimidar jornalistas. Os jornalistas são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como vigilantes de malfeitos dos detentores de poder. A liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremos estimular agressões. Jamais iremos propor controle sobre a imprensa – social ou qualquer que seja o nome com que se queira disfarçar censura ou controle de conteúdo”, afirmou.

Apesar da defesa da liberdade de expressão, Moro já se manifestou favorável à prisão de investigados do inquérito dos atos antidemocráticos, em junho de 2020. “A prisão de radicais que, a pretexto de criticar o STF, ameaçam explicitamente a instituição e seus ministros, é correta. A liberdade de expressão protege opiniões, mas não ameaças e crimes. O debate público pode ser veemente, mas não criminoso”, disse ele à época.


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BRASIL QUER PARCERIA DA RÚSSIA PARA FORNECIMENTO DE ARMAMENTOS

Exclusivo

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

O presidente Jair Bolsonaro em visita ao russo Vladimir Putin, esta semana em Moscou| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL KLIMENTYEV/KREMLIN/SPUTNIK

A visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia teve como objetivo no campo militar a prospecção e eventual compra ou desenvolvimento conjunto de tecnologias nas áreas espacial, de guerra cibernética e tecnologia nuclear.

O Brasil está interessado, por exemplo, em tecnologias relacionadas a mísseis de longo alcance e hipersônicos, defesa antiaérea, navios de patrulha e lanchas rápidas de assalto.

“Acho que temos uma janela de oportunidades muito boa para romper com velhos paradigmas em antigas situações de dependência”, afirmou à coluna Marcos Degaut, secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa.

Um dos fatos mais importantes na visita à Rússia foi a assinatura de um acordo para proteção mútua de informações classificadas. Ele foi firmado pelo general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e o general Nikolai Patrushev, diretor do Serviço Nacional de Segurança (FSB, o órgão que sucedeu o órgão de inteligência soviético, a KGB).

Live Jogos de Guerra: O Brasil e a Rússia estão mais próximos?

“A importância desse entendimento bilateral é que teremos uma cooperação facilitada em tecnologia de ponta e áreas sensíveis”, afirmou na ocasião o chanceler brasileiro Carlos Franco França.

Em outras palavras, o Brasil quer obter na Rússia tecnologias estratégicas que não têm sido compartilhadas pelos atuais parceiros do Ocidente.

“As nossas conversas com o governo russo podem vir a resultar em um salto qualitativo muito grande para a base industrial de defesa brasileira do ponto de vista do incremento da tecnologia para aumentar o nosso grau de autonomia tecnológica e estratégica em diversos setores”, afirmou Degaut.

Na entrevista exclusiva à Jogos de Guerra, o secretário citou quais são as tecnologias russas em que o Brasil está interessado. Com base na lista, fizemos um panorama completo sobre foguetes lançadores de satélites e mísseis hipersônicos, sistemas de guiagem de mísseis, defesa antiaérea e navios de patrulha oceânica.

Míssil hipersônico
Uma das tecnologias mais disruptivas em que o Brasil está interessado é da área espacial. A ideia é ter acesso ou desenvolver foguetes lançadores de satélites e de mísseis hipersônicos.

O míssil e o planador hipersônico são hoje alguns dos armamentos mais valorizados da nova corrida armamentista. São mísseis capazes de voar a mais de 6 mil km/h dentro da atmosfera (cinco vezes a velocidade do som) e fazer manobras para evitar os sistemas de defesa antiaérea existentes. Eles podem carregar ogivas nucleares.

A Rússia foi pioneira nesse setor. Possui o míssil hipersônico Kinzhal desde 2018, o planador hipersônico Avangard desde 2019 e testou no ano passado o míssil hipersônico naval Tsirkon – que pode ser usado nos exercícios de mísseis liderados por Putin neste fim de semana.

A China surpreendeu o mundo ao testar a tecnologia no ano passado e os Estados Unidos, embora já tenha tido sucesso em alguns testes, só devem incluir esse tipo de arma em seu arsenal no fim deste ano.

O Brasil testou com sucesso, em dezembro do ano passado, o motor scramjet de seu protótipo de planador hipersônico 14-X. Ele foi levado ao espaço por um foguete brasileiro. Mas o projeto nacional tem ainda ao menos mais três fases de desenvolvimento. Será preciso criar materiais que resistam a um voo que gera aquecimento de mais de 2 mil graus Celsius em alguns segundos – entre outras dificuldades técnicas.

As conversações entre Brasil e Rússia ainda não avançaram a ponto de ser possível saber se a participação russa vai se restringir ao foguete que leva o planador até o espaço. Essa tecnologia já foi abordada na coluna.

A ideia geral é firmar parcerias para desenvolver o Programa Estratégico de Sistemas Espaciais da Força Aérea.

Mísseis guiados
Outra das tecnologias a que o Brasil quer ter acesso é o sistema de guiagem para mísseis. Hoje, os maiores avanços do Brasil na área estão relacionados à Avibras. A empresa possui um sistema chamado Astros II que é exportado para países como Catar, Arábia Saudita e membros da Otan.

Porém, ele usa uma tecnologia de saturação, ou seja, dispara vários foguetes em um curto período de tempo para atingir toda uma área. Ou seja, não são mísseis de precisão “cirúrgica”.

Em outra frente, a empresa desenvolve para o Exército o mais potente míssil de cruzeiro do Brasil, o AV-TM 300, que ainda não está pronto. Ele deve ter capacidade para atingir alvos a 300 quilômetros de distância.

O acesso à tecnologia de guiagem de mísseis, em teoria, pode diminuir a dependência do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que hoje importam esse tipo de armamento.

A Rússia implementa desde a metade da década de 2010 um programa de modernização de seus mísseis guiados disparados de aviões para abater outras aeronaves, segundo estudo do think tank Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS).

Durante a guerra da Síria, a força aérea russa usou mísseis de cruzeiro guiados Raduga que foram modernizados durante o programa para abater alvos a até 2,5 mil km de distância. Eles eram lançados de aviões bombardeiros.

A marinha russa também usou mísseis guiados de alcance semelhante (3M14 Kalibr) para atingir unidades militares terrestres na Síria a partir dos mares Cáspio e Mediterrâneo, segundo o IISS.

Defesa antiaérea
O Brasil sonda a Rússia para ter acesso a sistemas de defesa antiaérea de curto, médio e longo alcance. Ou seja, sistemas de mísseis capazes de abater aeronaves.

Pouco se sabe sobre quais equipamentos o Brasil quer negociar. Durante o governo do PT, Brasil e Rússia começaram a dialogar sobre o sistema de mísseis de médio alcance Pantsir. Mas a compra não avançou.

A Venezuela possui mísseis antiaéreos russos S-300 – que chegou a posicionar na fronteira brasileira durante a crise de refugiados em 2018. O Brasil não tem nada parecido e, em tese, se um conflito tivesse se concretizado, não poderia aproximar nenhuma aeronave dentro de seu próprio território a menos de 300 quilômetros da Venezuela, por causa do alcance da arma de origem russa.

Na atual crise da Ucrânia, a Rússia disparou durante exercícios em Belarus o S-400, um míssil antiaéreo capaz de atingir alvos a mais de 400 quilômetros de distância.

Navios de defesa costeira
A marinha russa não tem a mesma capacidade de atuar “longe de casa” como tinha no período soviético. Mas um projeto de modernização de navios voltados para a defesa do litoral começou em 2008.

A Rússia só tem um porta-aviões hoje, o Almirante Kuznetsov. Segundo o IISS, a estratégia do país, em linhas gerais, é investir em submarinos (que podem atuar em qualquer parte dos oceanos e dissuadir ataques) e em uma esquadra que possa defender seu litoral.

Como a Marinha Brasileira também é voltada praticamente para a defesa do litoral, a ideia é negociar com os russos parcerias na construção de navios de patrulha oceânicos de grande porte e lanchas rápidas de assalto.

Uma outra área de pesquisa, essa ainda um pouco mais distante, é que o Brasil e a Rússia podem ser parceiros é o desenvolvimento de embarcações civis movidas a motores nucleares.

Analistas acreditam que esse pode ser o futuro da navegação mundial, devido ao processo de transição de fontes de combustível fóssil para energias limpas. Não há um consenso entre especialistas se a energia nuclear pode ser considerada limpa ou não, mas poucas outras fontes se revelaram promissoras para abastecer a navegação mundial. A Rússia já possui navios quebra-gelo movidos a motores nucleares de baixa capacidade.

Monitoramento de fronteiras
O governo brasileiro também sondou Moscou sobre possíveis parcerias para desenvolver o Sistema de Monitoramento de Fronteiras (SIsfron) e o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz). Eles são sistemas de fiscalização e segurança eletrônicos compostos por radares e satélites. Foram concebidos para vigiar as fronteiras terrestre e marítima do Brasil, mas operam hoje apenas em regiões limitadas do país.

Contudo, este colunista apurou com fontes envolvidas com o Sisfron que integrar tecnologia russa com o sistema já existente baseado em radares e sistemas ocidentais seria uma tarefa extremamente complexa. Autoridades do governo apontam que a falta de investimentos no Sisfron já está tornando o sistema obsoleto.

O caminho a seguir

Como essas compras e parcerias podem se concretizar? Não está claro ainda, mas temos algumas pistas.

O poder militar da Rússia decaiu muito nas décadas de 1980 e 1990, com a dissolução da União Soviética. Praticamente só o arsenal de mísseis e armas nucleares receberam verbas.

Em 2008, quando os russos invadiram a Geórgia, diversas falhas de mobilização e desempenho de pessoal e equipamentos ficaram evidentes. Moscou realizou então entre 2011 e 2020 seu Programa Estatal de Armamento.

Em paralelo, a Rússia abandonou seu antigo sistema militar baseado na conscrição massiva de sua população para dar lugar a mais militares profissionais. Eles ganharam experiência de batalha nas campanhas da Síria, na invasão da Crimeia e na campanha de forças irregulares que levou à invasão de províncias do leste da Ucrânia em 2014.

A Rússia nunca esteve tão forte militarmente desde a queda da União Soviética. Mas nem tudo saiu como Moscou planejou. Em relação às forças terrestres, uma grande parte do esforço de rearmamento se baseou em equipamento soviético que foi modernizado, mas não na quantidade que a Rússia planejava. Também não houve muitos avanços em direção a tecnologias disruptivas, segundo o IISS.

Houve exceções, é claro, como a adoção do S-500, a unidade de artilharia capaz de lançar mísseis a mais de 500 quilômetros de distância.

Na área naval, sanções econômicas e baixo desempenho dos estaleiros fizeram com que a indústria militar ficasse aquém do planejado. Toda a capacidade russa de operar nas “águas azuis” (longe do litoral) se baseia em navios soviéticos. Não há também navios suficientes para realizar desembarques anfíbios em larga escala.

Já a força aérea russa, os programas de mísseis hipersônicos, drones e guerra espacial e cibernética passaram por grande desenvolvimento.

Mas Moscou ainda precisará fazer muitos investimentos tanto para finalizar o processo de modernização de forças existentes quanto para criar armas novas que possam desequilibrar o cenário militar.

Uma das formas de obter recursos para isso é investir na exportação de armamentos e tecnologia. A Rússia é o maior exportador de armas do planeta, atrás apenas dos Estados Unidos.

Washington, por sua vez, restringe exportações de alguns tipos de armas e tenta impor sanções a países que compram equipamentos russos.

Moscou também terá que compensar os gastos com o deslocamento de mais de 160 mil tropas e equipamentos para a fronteira da Ucrânia – um tipo de operação que não é barata.

Nesse contexto, interessa à Rússia ter um cliente como o Brasil e, eventualmente, um parceiro no desenvolvimento de novas armas.

A questão é como o Brasil faria para pagar por esse tipo de tecnologia bélica. Hoje, as Forças Armadas desenvolvem armas em parcerias com empresas privadas brasileiras e estrangeiras ou compram o que precisam no exterior.

Há incentivos fiscais para o setor de defesa nacional como um todo, mas o Planalto não apoia empresas específicas, garantindo seu financiamento e sobrevivência. Ou seja, não há “campeãs nacionais”. Embora muitos analistas advoguem por esse modelo (que ocorre nos EUA, por exemplo), ele estaria em descompasso com a política liberal do atual governo.

Um caminho poderia ser fomentar parcerias entre empresas brasileiras e russas para construção de equipamentos. Ou comprar das empresas russas, mas exigir contrapartidas, como transferência de tecnologia ou produção no país. Esses são modelos que o Brasil já pratica.

As exportações de equipamentos bélicos, que bateram recorde histórico no ano passado (R$ 9,4 bilhões), podem eventualmente ajudar empresas nacionais a trabalhar com conjunto com as russas.

Há também a opção de investir em estatais de defesa, o que é menos provável, segundo analistas. Mas em quase todos os casos, para adquirir armamento avançado e competitivo, o Brasil provavelmente terá que investir recursos públicos. O governo parece apontar para uma solução que ajude a desenvolver a base industrial de defesa brasileira.


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MOTIVOS PARA VACINAR AS CRIANÇAS

 

Artigo
Por
Rubens Cat – Gazeta do Povo

Vacinação de crianças contra a Covid-19, no Rio de Janeiro.| Foto: José Cruz/Agência Brasil

Vários são os motivos da necessidade e urgência de vacinarmos crianças e adolescentes contra a Covid-19. Depois dos acidentes, a Covid-19 é a principal causa de mortes em crianças e adolescentes no Brasil. O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes de crianças em decorrência da doença; somente perdemos para o Peru.

Hoje temos duas vacinas seguras e eficazes, aprovadas pela Anvisa, para serem aplicadas em crianças e adolescentes. Neste momento, a população mais vulnerável é a de não vacinados – e as crianças são o principal grupo de não vacinados no mundo. Nunca as crianças foram tão ameaçadas pela Covid-19 como agora, com a variante ômicron. As crianças estão pegando e transmitindo da mesma forma que adultos. Nunca houve tantos casos e internações entre crianças.

Apesar de a variante ômicron ser menos agressiva, ela é mais transmissível, e isto faz dela mais grave em termos de saúde pública, pois, com maior número de casos, teremos como consequência maior número de internações e complicações, com risco de termos mais mortes. Vejamos alguns números: nos Estados Unidos, até agosto de 2021, havia em torno de 50 mil novos casos de Covid-19 em crianças ao mês, com uma taxa de internação de 1,5% a 2%. Isto daria uma média de 1 mil internações ao mês. Em dezembro houve aproximadamente 1,8 milhão de casos. Mesmo diminuindo pela metade a necessidade de internações (1%), ainda teríamos 18 mil internações, ou 18 vezes mais que com a variante delta.

Nunca as crianças foram tão ameaçadas pela Covid-19 como agora, com a variante ômicron. As crianças estão pegando e transmitindo da mesma forma que adultos

Quase a totalidade dos casos de internação e morte é de crianças e adolescentes não vacinados. Muitos por ainda não serem elegíveis para a vacinação, e muitos outros cujos pais não os vacinaram. A vacinação pode não evitar a Covid-19, mas tem evitado formas graves, internações e mortes em todas as idades.

A principal, ainda rara e grave complicação da Covid-19 em crianças é a Síndrome Inflamatória Multissistêmica. Esta complicação acontece de duas a seis semanas após a infecção, que na maioria dos casos foi leve ou assintomática. É a principal causa de internações em UTIs: 50% dos casos têm lesões do coração, 20% necessitam de ventilação mecânica e a mortalidade é de 6,2%. No Brasil, temos 1.503 casos – um caso a cada 1,6 mil crianças com Covid-19 –, com 93 mortes (6%), que poderiam ter sido evitadas com a vacinação. Com a explosão de casos devido à variante ômicron, meu medo é que possamos ter também um aumento exponencial desta grave complicação e todas suas consequências. As taxas de letalidade e mortalidade da Covid-19 e da Síndrome Inflamatória Multissistêmica no Brasil são dez vezes maiores que nos EUA, que tem quatro vezes mais casos de Covid-19 em crianças que no Brasil, mas com três vezes menos mortes. Se a relação custo-benefício das vacinas é extremamente favorável aos benefícios nos EUA, no Brasil, então, estes benefícios são no mínimo dez vezes maiores.

Os riscos e gravidade da miocardite (inflamação do coração) com a doença são muito maiores do que por evento adverso das vacinas. Enquanto o risco de uma criança internada (forma grave) com Covid-19 ter miocardite é de 15%, com mortalidade de 6%, a chance de miocardites pós-vacina da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos é de 0,0001%, sendo estes raros casos benignos, transitórios e sem relatos de mortes.

Entre 5% a 10% das crianças com Covid-19 têm risco de apresentar o que se chama de “Covid longo”: a permanência de sintomas por mais de três meses e com risco de consequências por tempo indeterminado. Podem apresentar sintomas respiratórios, cardíacos, neurológicos e comportamentais como alteração de memória, concentração e raciocínio. Se temos no Brasil em torno de 3 milhões de crianças que tiveram ou estão com Covid-19, são no mínimo 300 mil crianças com esta temida complicação e com o problema de como o SUS vai absorver e tratar com qualidade todo este contingente de crianças com estes problemas crônicos.

A vacinação de crianças vai tornar o necessário retorno escolar mais seguro do que já é, quando escolas executam protocolos de segurança. Com menos casos nas escolas, menos quarentenas e isolamentos serão necessários, amenizando a já enorme perda que principalmente crianças de escolas públicas tiveram.A vacinação também vai tornar o ambiente familiar mais seguro, visto que muitos lares são compostos por adultos com comorbidades e/ou idosos, a chamada “coabitação multigeracional”. Hoje a chance de uma criança ser o primeiro caso da casa e transmitir Covid a outras pessoas é a mesma dos adultos.

A segurança, eficácia e necessidade de vacinarmos o mais rápido possível o maior número de crianças é inquestionável. As vacinas aprovadas pela Anvisa são seguras e eficazes. Não são vacinas experimentais e sim novas, com mais de duas décadas de estudos.

Os riscos e gravidade da miocardite (inflamação do coração) com a Covid são muito maiores do que por evento adverso das vacinas

A maior irresponsabilidade que ouvi nesta pandemia é de que as vacinas causam mais mal e riscos do que a doença, propondo que as crianças se imunizem pegando a doença. Se imunidade coletiva (rebanho) já é uma falácia em adultos, em crianças isto é um crime. Não existe a possibilidade de a proteína spike ficar circulante pelo resto da vida no corpo de quem se vacinou, como não existe a mínima plausibilidade de causar futuras complicações como câncer, doenças inflamatórias ou esterilidade. Ou esses profissionais da saúde que falam e divulgam essas falsas notícias não sustentáveis pela boa ciência não sabem diferenciar a boa da má ciência, ou o fazem por algum outro motivo que desconheço. De qualquer forma, estão cometendo uma conduta perigosa e imprudente, pois estão induzindo muitos pais a não protegerem seus filhos da maior ameaça às suas vidas atualmente, que é a Covid-19.

Se você quer proteger o coração de seu filho, fazer um seguro de vida e garantir a qualidade de vida de seu filho, vacine-o. Vacinas salvam, e a Covid-19 pode machucar e matar.

Rubens Cat é professor do Departamento de Pediatria do Hospital de Clínicas da UFPR.


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FACHIN PODE FALAR ABOBRINHA BOLSONARO NÃO PODE

 


  1. Política
     

Por que a ‘Rússia’ estaria atacando os computadores do TSE? Fachin não diz nada

J. R. Guzzo*, O Estado de S.Paulo

Os brasileiros devem ao ministro Edson Fachin, mais que a qualquer autoridade pública deste país, uma situação que não existe em nenhuma sociedade democrática do mundo – a candidatura para a Presidência da República de um ladrão condenado pela Justiça em três instâncias sucessivas e por nove magistrados diferentes, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Fachin anulou com um único golpe de caneta, sem discutir absolutamente nada sobre culpa, provas de crime ou qualquer fato relevante, as quatro ações penais que condenaram o ex-presidente Lula à pena de prisão fechada. Pronto, eis aí o milagre: um cidadão que a Justiça brasileira declarou oficialmente corrupto, e expulsou da vida pública, é candidato ao cargo mais elevado do Brasil.

Fachin e a
Edson Fachin, ministro do Supremo Tribunal Federal.  Foto: Nelson Jr./SCO/STF

É um portento para encher qualquer biografia, mas Fachin está longe de se mostrar satisfeito. Não basta ser o pai e a mãe da candidatura Lula. Ele também quer, na sua posição no “Tribunal Superior Eleitoral”, que Lula ganhe a eleição – e acaba de dar um passo que ele julga importante nesta direção, ao criar um tumulto inédito, deliberado e grosseiro em torno da limpeza das eleições. Segundo Fachin, o sistema eleitoral brasileiro “pode estar”, já neste momento, sob ataque da “Rússia” – não dos russos em geral, ou de um grupo de malfeitores russos, mas da “Rússia”, assim mesmo. Por que raios a “Rússia” estaria atacando os computadores do TSE? Fachin não diz nada. O ministro não apresentou um átomo de prova para a acusação que fez em público, nem um raciocínio lógico, nada; falou apenas em “relatórios internacionais”, sem citar nenhum. A única coisa certa é que fez a sua acusação justamente durante a visita do presidente da República à Rússia.

Fachin falou também sobre hackers da “Macedônia do Norte”. E da Macedônia do Sul, o que ele acha? Não se sabe qual o grau de conhecimento do ministro sobre qualquer Macedônia, do Norte ou do Sul, e muito menos por que ele resolveu dizer o exato contrário do que seu colega Barroso vem dizendo, sem parar, com a mesma fé que o papa tem no Padre Nosso: o sistema eleitoral brasileiro é “inviolável” e, se alguém duvida disso, é acusado na hora de querer “o golpe militar”. Cada vez que o presidente cobra “mais segurança do sistema”, anota-se automaticamente que ele falou “sem apresentar provas”. E Fachin? Pode falar uma barbaridade dessas sem prova nenhuma, num ataque primitivo a uma nação que mantém relações perfeitamente normais com o Brasil, e pretender ser um juiz imparcial das eleições de 2022?

A acusação de Fachin não é apenas um ato de vadiagem mental. É uma convocação à desordem.

*JORNALISTA

EXEMPLO DE UM POLÍTICO ATUAL

 

  1. Política 

Síntese da política, Kassab está com Lula, Pacheco, Leite ou com Bolsonaro?

Eliane Cantanhêde*, O Estado de S.Paulo

No centro da barafunda eleitoral, o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, líder inconteste do PSD, não é candidato a nada, mas interfere no tabuleiro, embaralha as peças e mexe com os nervos de quem disputa a Presidência da República. Por quê? Porque é capaz de tudo.

Kassab blefa o tempo todo e deixa aliados e adversários, reais ou potenciais, sem entender o que ele pretende. Logo, com a pulga atrás da orelha, ora se esforçando para tirar proveito, ora para escapar da manipulação.

Kassab como ele é
Cantanhêde: ‘O Kassab dessa história não é só Kassab, é a política como ela é’.  Foto: Alex Silva/Estadão

Em meio às articulações, análises de pesquisas e definições de estratégia, o mundo político se dedica a uma tertúlia político-psicológica: afinal, qual é a jogada de Kassab? Cada um arrisca um palpite, envolvendo seu palpite com ares de verdade absoluta.

Na percepção geral, Kassab previu há tempos a vitória do ex-presidente Lula, do PT, e já pulou no barco. Sem anunciar. Até diz que não descarta o apoio a Lula no primeiro turno, deixando claro o apoio no segundo, mas não admite com todas as letras.

O motivo é simples, já os desdobramentos são complexos. Kassab não pode fechar desde já com Lula porque líderes do PSD têm ojeriza ao petista e ao PT, sobretudo no Sul. Racharia o partido, que é tudo o que ele não quer.

Como desdobramento, é preciso fazer contorcionismos que só ele sabe fazer. Lançou o nome do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para sossegar o PSD. Agora, deixa Pacheco em banho Maria, enquanto aquece a vaidade do governador Eduardo Leite (RS), ainda tucano.

Afinal, Kassab trabalha para construir uma terceira via com Eduardo Leite, usa o gaúcho justamente como bucha de canhão para implodir o centro e deixar o caminho livre para o embate direto entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro, do PL, como, aliás, os dois lados querem?

As apostas dividem o próprio PSDB. Adversários de João Dória, que venceu as prévias, se dizem convencidos de que as intenções de Kassab são honestas e ele está genuinamente empenhado em dar nome, cara e forma à alternativa de centro.

Já a linha de frente de Dória tem certeza do oposto, de que Kassab opera para prestar dois serviços para Lula: usando Leite para (1) rachar ainda mais o centro e (2) unir o PSD para dar de presente para o petista e fazer uma robusta bancada em 2023.

Porém… Assim como está com Lula enquanto o petista é favorito e sacode a terceira via enquanto ela ainda tem um mínimo de viabilidade, Kassab terá crise moral para aderir a Bolsonaro, se ele virar o jogo?! Difícil, mas por que não? Se Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul “exigirem”…

PS: O Kassab dessa história não é só Kassab, é a política como ela é.

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

JOGOS DE COMPUTADOR AJUDAM NA FORMAÇÃO DE PILOTOS DE FÓRMULA 1

 

Cem Bolukbasi, de 24 anos, é o primeiro piloto do mundo a fazer a transição de competições de e-sports para as pistas reais; piloto contou sobre mudança de carreira ao ‘Estadão’

 Por Bruna Arimathea – O Estado de S. Paulo

Cem Bolukbasi já competiu por equipes de e-sports da Red Bull e da McLaren 

Cem Bolukbasi já competiu por equipes de e-sports da Red Bull e da McLaren 

Em março, a largada da nova temporada da Fórmula 2, principal categoria de acesso para a Fórmula 1, vai estar um pouco mais próxima dos jogos de videogame, que viram ligas de e-sports voltadas ao automobilismo crescerem nos últimos anos. 

Atrás do volante, com o pé no pedal e olho nas luzes, o piloto turco Cem Bolukbasi, de 24 anos, vai ser um dos 22 aspirantes tentando mostrar talento. Porém, ao contrário dos rivais, ele não passou boa parte da vida em pistas de corrida — não no mundo real. Bolukbasi começou a carreira em simuladores de corrida e se tornará o primeiro piloto a sair do mundo dos games direto para as pistas reais. 

Correndo pela equipe Charouz, Bolukbasi vai ter o desafio não apenas de provar o quão fiel pode ser um game às pistas reais, mas também se tem as mesmas habilidades de um piloto de formação no asfalto. A empolgação é nítida — a confiança, também. Isso porque, com a experiência das ligas oficiais de Fórmula 1 online, o turco já conhece muitas das ‘manhas’ para conduzir um monoposto de verdade. 

“Os pontos básicos são bem similares, porque correr é esterçar o volante e operar os pedais, que são iguais no simulador e na vida real. Por conta da tecnologia atual, os jogos estão ficando cada vez mais realistas. A sensação que você tem quando está no jogo está cada vez mais perto da vida real”, afirma Bolukbasi, em entrevista ao Estadão.

Embora não sejam tão apurados quanto os simuladores desenvolvidos para testes de equipes profissionais, os emuladores usados nas competições de e-sports têm muitas semelhanças com um carro de verdade. Várias delas estão no cockpit, que imita não só a posição do piloto, mas também algumas das sensações e vibrações que podem ser experimentadas. Além disso, pontos de freada e aceleração são bem próximos dos reflexos necessários quando os pilotos vão para o asfalto. 

Para construir um simulador, é necessário um escaneamento da pista que permite reproduzir o modelo exato no computador. Esse processo é feito com câmeras e sensores Lidar (presentes também no iPhone), que determinam profundidade e fazem mapeamento 3D do ambiente. Com isso, é possível capturar detalhes do traçado e do entorno do autódromo.

Depois de capturadas, as imagens passam por uma edição computadorizada que une os dados de escaneamento com dados coletados em atividades reais na pista. Essa etapa permite que o circuito virtual ganhe características mais precisas na hora de pilotar o simulador. Só então são adicionados controles motores no assento e no volante, reproduzindo algumas das respostas que o piloto pode encontrar na pista — mesmo sem replicar fatores como impacto e ação da força G sobre o piloto, os simuladores acabam com um nível alto de proximidade com a vida real.

“Foi diferente estar em um carro de verdade, mas eu competi em pistas que eu já conhecia muito bem dos torneios online. A minha primeira sensação foi de pensar que os simuladores estão, de fato, próximos da vida real, porque eu nunca tinha andado naquelas pistas antes. E foi algo bom, porque, se não fosse minha carreira online, eu não teria como competir com pilotos que já eram experientes por terem passado por categorias juniores. Isso me mostrou o quão realista os jogos têm se tornado”, explica Bolukbasi.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=zR9q62

Carreira

O caminho para os jogos online não foi uma escolha deliberada de Bolukbasi. A troca das pistas de kart, quando era criança, para o mundo virtual ocorreu quando a família do piloto descobriu os custos para arcar uma carreira no exterior. 

“Eu competi em alguns torneios de kart em nível nacional quando eu tinha uns 7 anos. Fiquei alguns anos nesses campeonatos, mas, no geral, é um esporte muito caro. Então, quando percebemos o quanto realmente ia custar para competir em categorias juniores, desistimos. Foi aí que comecei a participar de campeonatos de e-sports, porque não queria parar de correr”, explica Bolukbasi.

O sucesso, que começou com um Playstation 3 e controles do tipo joystick, levou o turco para competições oficiais de e-sports, como piloto de equipes renomadas como McLaren e Red Bull (na sua equipe B, a Toro Rosso).

Além de ser o primeiro piloto a competir na F2 vindo dos games, Bolukbasi também é o primeiro turco a chegar na categoria

Além de ser o primeiro piloto a competir na F2 vindo dos games, Bolukbasi também é o primeiro turco a chegar na categoria

Não demorou para que o piloto voltasse às pistas e ganhasse a chance na F2. A carreira, iniciada em 2013 no mundo virtual, abriu espaço para competições juniores de automobilismo no mundo real, como Euroformula, Fórmula Asiática e GT4 Europeia, onde, desde 2020, conquistou o top 10 no campeonato em todas as competições — incluindo um vice-campeonato.

“No final de 2019, tive uma oferta para competir em algumas corridas pela equipe turca BOM na GT4. Me disseram: ‘ok, se você consegue dirigir assim nos simuladores vamos ver o que você é capaz de fazer em um carro de verdade’. Para mim foi uma oportunidade enorme, mas, obviamente, eu não tinha experiência em pistas reais, não tinha muita experiência nem em carros de rua, no trânsito. Mas correu tudo bem, me classifiquei em terceiro na primeira corrida e terminamos no pódio na segunda”, conta.

Escola

A transição de Bolukbasi relativamente tranquila para as pistas reais indica como a tecnologia de simuladores está avançada, permitindo que seja usada para além da diversão. Segundo Fabio Delatore, professor de engenharia do Centro Universitário FEI e supervisor no Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1, a tecnologia aproximou os simuladores das sensações reais que um piloto tem na pista. 

“Existe um equipamento 3D que escaneia a pista para recolher informações sobre inclinação e curva. Um extenso volume de informações é tratado e, usando conceitos de cinemática, esses simuladores conseguem prever como o carro vai se comportar de acordo com o peso, e a distância entre eixos. Tudo isso é consolidado e torna possível fazer uma correlação dos carros reais e virtuais”, explica Delatore.

Uma das principais fornecedoras de software para esses equipamentos na Fórmula 1 é a holandesa Cruden, que ressalta a função dos games em ajudar os pilotos a interpretar circuitos na tela do simulador. Mas, segundo Dennis Marcus, gerente comercial da Cruden,  quando o trabalho passa a ser dentro de uma equipe no ‘mundo real’, o caminho de aprendizado ganha mais uma camada. 

“O software não é diferente (entre games e simuladores profissionais): são apenas modelos de traçados mais precisos, melhor visual e menor latência (o atraso entre o disparo e a execução de um comando). Na F1/F2, os simuladores não são usados ​​para ajudar os pilotos a aprender uma pista porque eles já conhecem a maioria delas. O objetivo principal é permitir que engenheiros e pilotos trabalhem juntos na definição da configuração do carro em preparação para uma corrida”, afirma Marcus, em entrevista ao Estadão.

Um exemplo desse tipo de trabalho pode ser visto em 2021, em um dos campeonatos mais disputados da história da Fórmula 1. No duelo pelo título entre Max Verstappen, piloto da equipe Red Bull, com Lewis Hamilton, heptacampeão mundial da Mercedes, o simulador foi um dos recursos adotados pelo piloto inglês para melhorar a performance de pista contra o adversário da Red Bull. Antes da batalha, Hamilton não costumava ser adepto da simulação. 

Futuro

O movimento de Bolukbasi para a Fórmula 2 foi pioneiro, mas não deverá ser o único no mundo do automobilismo. O próprio piloto acredita que as equipes ficarão mais atentas aos talentos das competições de e-sports.

Prestes a estrear na Fórmula 2, Bolukbasi testa assento da sua Charouz de 2022

Prestes a estrear na Fórmula 2, Bolukbasi testa assento da sua Charouz de 2022

Essa também é a opinião de João Bruno Palermo, membro do projeto Fórmula FEI Elétrico, do qual Delatore é coordenador. Palermo enxerga que o avanço desse tipo de equipamento pode ajudar a construir carreiras, que exploram as corridas virtuais. De certa forma, seria uma maneira de ampliar o acesso a um esporte altamente elitizado.   

“Acredito que é possível ter novos pilotos saindo dos games. Ver equipes grandes da Fórmula 1 comprando equipes para competir em e-sports e testando esses pilotos em carros reais. Será porta de entrada para outras pessoas na categoria”, aponta Palermo.

Outro trunfo importante para quem domina as pistas virtuais é a capacidade de desenvolver trabalhos fora da pista. Com a importância do simulador aumentando nas equipes, é possível que esses pilotos tenham cada vez mais espaço para integrar equipes de desenvolvimento de tecnologia. 

Nas pistas reais, onde Bolukbasi vai dividir o box com o brasileiro Enzo Fittipaldi na equipe Charouz, o desafio vai ser uma novidade, mas o piloto não parece assustado. Em mais um ano de pé no acelerador, a oportunidade do turco é de fazer história e mostrar o avanço da tecnologia no universo do automobilismo.

“Eu acredito 100% que outros pilotos também podem fazer carreira em carros reais a partir dos e-sports. Eu posso ser o primeiro, mas eu tenho certeza que não vou ser o único. Quanto mais essas categorias se aproximarem da vida real e desenvolverem tecnologias de ponta, mais acessível vai ser para que outros pilotos também apareçam nesse caminho”.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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