segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

INOVAÇÃO É FAZER ALGO NOVO OU ALGO CONHECIDO DE MANEIRA DIFERENTE

 

Rafael Caribé

Empresas inovadoras têm conquistado destaque no mercado, por isso fizemos esse conteúdo especificamente sobre o tema.

Queremos ampliar os seus horizontes, mostrando tendências e oportunidades.

Antes de falarmos sobre as empresas inovadoras, vamos primeiro ao conceito de o que é inovação.

Inovação é fazer algo novo (uma nova ideia, um novo serviço, etc), ou então fazer algo já conhecido, mas de uma maneira diferente (inovadora).

Inovação requer criatividade e coragem para traçar um caminho que ninguém traçou antes.

É assim que grandes transformações costumam ocorrer no mercado, na sociedade e no mundo.

Dessa forma, empresas inovadoras buscam a todo momento impactar o cenário em que vivem e promover transformações através dos seus produtos e/ou serviços.

Dito isso, fique atento às questões que trouxemos sobre o tema, entenda a importância de se manter atento a isso e conheça 10 casos de inovação para inspirar você, empreendedor brasileiro.

O que são Empresas Inovadoras

As empresas inovadoras usam a inovação aplicada ao contexto do negócio, seja no seu próprio DNA, ou seja, se a empresa já nasceu fruto de uma inovação, ou seja também uma empresa que antes estava nos moldes tradicionais, mas que passou a inovar de alguma maneira, seja uma mudança em processos internos ou mesmo no que ela vende/oferece.

Geralmente, as empresas que inovam passam pela fase da descoberta de algo novo, elaboração de um produto ou serviço a respeito da “novidade” e, por fim, o seu teste (validação) no mercado.

É dessa forma que empresas inovadoras costumam se posicionar.

O que são empresas com serviços inovadores

As empresas com serviços inovadores são aquelas que, através de uma nova proposta como solução para um determinado problema, que pode ser interno (da organização) ou do mercado, possibilitam uma transformação no meio em que habitam.

Os serviços inovadores são ações planejadas e implementadas, que partem de um novo ponto de vista, que podem otimizar os processos internos de uma empresa e/ou gerar valor ao resolver um problema específico do mercado.

Dessa forma, essas empresas inovadoras são capazes de revolucionar cenários aos quais já estávamos acostumados.

A importância das empresas inovadoras no mundo

Para mudar o mundo, há necessidade de novas ideias — de uma perspectiva diferente.

Novos modelos de negócio são desenvolvidos por conta das ideias de empresas inovadoras.

Startups são empresas inovadoras.

E disso surgem novos produtos e/ou serviços que agregam valor para o dia-a-dia das pessoas e para a sociedade, pois buscam tornar a vida um pouco mais simples e fácil.

Além disso, vale ressaltar que as empresas inovadoras no mundo, muitas vezes, possibilitam que esses produtos e/ou serviços alcancem os indivíduos de forma mais democrática.

Empresas inovadoras possibilitam transformações incríveis no mundo.

Basta lembrar da ciência, da medicina, dos medicamentos, das vacinas, para perceber o quanto isso impacta na qualidade de vida e longevidade da gente.

A relevância do impacto gerado por empresas inovadoras

Como você pôde ver, empresas inovadoras fazem toda a diferença no mundo.

E, de um modo geral, a relevância do seu impacto pode ser percebido através da produtividade.

Seja na prestação de serviços, no comércio, independentemente da área, empresas inovadoras se valem de processos organizados que aumentam a produtividade e impactam o negócio, pois permitem que o mesmo ganhe tempo e/ou permita que o seu cliente ganhe também.

Afinal, para ter um bom desempenho em um mercado competitivo, que a cada instante apresenta um novo problema, haverá a necessidade de novas soluções.

Portanto, aquele empreendimento que não se encaixa na ideia de uma empresa inovadora, está perdendo tempo e oportunidade!

Isso, além da proposta de valor da empresa inovadora para o mercado, acaba por influenciar todo o meio em que a mesma habita.

Empresas Inovadoras que servem para te mostrar a inovação na prática!

A transformação para melhor é uma das principais consequências da ação das empresas inovadoras.

Afinal, não há como cogitar a ideia de uma empresa inovadora sem associá-la a melhoria dos processos.

Dentro dessa mudança, no cenário atual, vale frisar que a transformação digital é necessária para todos, e quem não se adaptar a isso, certamente ficará para trás.

Somente estando atento às tendências que você poderá extrair o melhor das oportunidades.

Dito isso, a seguir, confira dez casos de empresas inovadoras para inspirar você nessa jornada empreendedora:

Apple

Os impactos da globalização nas empresas inovadoras.

A Apple é, das empresas inovadoras, uma das mais influentes e renomadas.

Fundada em 1976, a Apple é referência em inovação no mundo.

E não é à toa, pois ela é uma das principais responsáveis pela mudança na nossa forma de comunicação.

Basta lembrar do impacto que a mesma causou no mundo ao lançar estas inovações:

Apple II: em 1977, a empresa foi responsável por difundir o conceito de computador pessoal (PC). Antes disso, apenas grandes instituições possuíam computadores, que eram enormes, e chegavam a ocupar uma sala inteira. Além disso, foi o primeiro a possuir um programa para edição de planilhas;

Macintosh: antes de 1984, utilizar o PC não era intuitivo. Ou seja, você não ligava o computador e acessava um programa/aplicativo em apenas um clique. Essa versão, tornou a utilização do PC intuitiva, fácil de usar. E isso foi replicado em todas as outras empresas que comercializavam computadores;

iPhone: em 2010, começou uma nova era tecnológica, pois foi lançado o conceito de smartphone — o celular inteligente, com diversos serviços integrados e tela sensível que revolucionou o mercado e a telefonia.

Observação: essas foram apenas algumas das principais inovações da Apple, que transformaram a forma com que vivemos.

Percebe como a inovação de uma empresa privada foi capaz de transformar o comportamento ao redor do mundo?

Sambatech

Uma das empresas mais inovadoras do Brasil, a Sambatech surgiu em 2004.

Ela é responsável por criar uma plataforma similar a do YouTube e Netflix.

Entretanto, o objetivo dessa empresa inovadora está em empreendedores que desejam criar conteúdo audiovisual em uma plataforma própria, que não ofereça riscos para os seus usuários.

E isso faz todo sentido, pois o YouTube, por exemplo, apesar de ser uma opção gratuita, se um belo dia sair do ar, todos os seus usuários (grandes empresas, pequenos empreendedores, etc) ficarão na mão.

Afinal, aquele espaço é do próprio YouTube. Já com a Sambatech é diferente. O espaço é seu!

Assim, em 2016, a empresa impactou o mercado, mais uma vez, ao possibilitar que todos os seus usuários pudessem criar conteúdo e disponibilizá-lo em uma plataforma própria, tipo um Netflix próprio.

Dessa forma, eles passaram a ter total liberdade e independência.

Quinto Andar

Das empresas inovadoras, essa se destaca muito no setor imobiliário.

A Quinto Andar é uma startup que surgiu em 2013 com a proposta de reduzir a quantidade de tempo gasto em um aluguel de um imóvel, além de boa parte do custo envolvido nesse processo.

Já é considerada uma “startup unicórnio”, ou seja, startup que vale mais de 1 bilhão de dólares!

Quem já alugou um imóvel sabe que um dos principais problemas enfrentados pelo inquilino (quem deseja alugar) e proprietário é a obtenção de informações precisas sobre a casa ou apartamento, por exemplo, que se deseja.

Além disso, há também uma questão de logística, pois na falta das informações devidas, expectativas podem ser criadas e, assim, na etapa de visitação do imóvel há frustração, descontentamento, gasto de locomoção, etc.

Logo, não há contrato fechado.

E é aí que a Quinto Andar inovou, ao gerar informações de qualidade sobre o imóvel.

Desde a contratação de um fotógrafo profissional para a tiragem de fotos do imóvel, informações sobre localização, precificação, até toda resolução da documentação necessária feita de forma digital pela própria plataforma, tudo isso surgiu como proposta de inovação dessa startup.

Isso pôde facilitar a vida do inquilino, do proprietário e do corretor, pois tudo passou a ocorrer de forma simples e rápida.

JusBrasil

Trabalho em equipe é uma das premissas das empresas inovadoras do brasil.

Uma das principais empresas inovadoras do país, a baiana JusBrasil inovou o mercado jurídico de um jeito ímpar.

Em 2008, surgiu com a proposta de ser uma plataforma disposta a promover o encontro entre quem necessita de um advogado de uma determinada especialidade e o profissional da área desejada, em tempo hábil.

Além disso, com a possibilidade de encontrar um bom profissional de advocacia na região mais próxima possível e também desses advogados, entre si, estabelecerem parcerias.

Antigamente, as indicações de advogados para clientes ficavam restritas aos parentes e amigos ou às antigas listas telefônicas.

Atualmente, além de impactar o mercado através da promoção desse encontro entre as partes interessadas, a plataforma produz conteúdo sobre a área jurídica, visto uma crescente demanda por assuntos desse meio.

SDW

A Safe Drinking Water For All, mais conhecida como SDW, é uma startup baiana fundada em 2015, que promete impactar todo o mundo.

Essa é uma das empresas inovadoras que, através do desenvolvimento de uma tecnologia que associa inteligência, simplicidade e sustentabilidade, permitiu que pessoas sem acesso à água potável pudessem usufruir desse recurso imprescindível de forma rápida e prática.

A tecnologia da SDW — a aqualuz —, única no mundo para tratamento de cisterna (reservatório para água de chuva), é um recipiente de inox, com capacidade de dez litros, que consegue realizar o tratamento da água de chuva através da luz solar e identificar o momento certo para o seu consumo.

Além disso, vale ressaltar que a SDW, sendo uma das empresas mais inovadoras do Brasil, já foi premiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) por conta do seu projeto.

Sanar

Mais uma baiana de peso dentre as empresas inovadoras do país.

A Sanar é uma startup de educação médica (healthtech) que surgiu em 2014. É a detentora da maior plataforma online de educação médica do Brasil.

A Sanar inovou ao se posicionar como “a casa da carreira do profissional da saúde”, pois seu objetivo é acompanhar esse profissional da saúde desde o começo da jornada na faculdade até a sua entrada no mercado de trabalho — tudo isso com o apoio da sua plataforma tecnológica.

Inicialmente, a Sanar ingressou no mercado como uma editora de livros voltada para a área da saúde.

Em seguida, passou a realizar cursos em plataformas online.

E, em quatro anos, a Sanar já estava presente em 13 países.

Em 2019, surgiu a Sanar Saúde que pôde, assim, confirmar a eficiência desse novo projeto ao perceber que 20% dos aprovados nas residências médicas do Brasil eram alunos da sua plataforma.

Dessa forma, lançaram turmas de pós-graduação e conseguiram abranger cerca de 95% do território nacional.

Cora

Empresas inovadoras ganham destaque no cenário nacional.

A Cora é uma das empresas inovadoras brasileiras que representa o grupo das fintechs.

Ou seja, uma startup focada em inovação na área de inteligência financeira.

É um banco digital, uma ideia de empresa inovadora, que está focado nos desafios das PMEs (Pequenas e Médias Empresas).

Além disso, há uma atenção especial para o empreendedorismo feminino, visto a sua importância para o mercado e mais ainda para a sociedade.

A Cora surgiu em 2020 e impacta a área como a primeira a despontar no segmento dos bancos digitais focados em PMEs.

Essa fintech possui uma plataforma que integra diversos serviços de outras empresas, através de parcerias, no intuito de facilitar ainda mais a vida do empreendedor.

Agilize

A gente criou a contabilidade online no Brasil.

Antes de mais nada, saiba que em 2013, quando era tudo muito incerto e não fazíamos ideia de se a Contabilidade Online daria certo ou não, gravamos um vídeo para nós mesmos no futuro. E o futuro chegou!

Toda vez que a gente assiste a esse vídeo, nos arrepiamos da cabeça aos pés. Confira:

Hoje, a gente faz parte das empresas inovadoras que marcam a história do país.

Nesse sentido, tudo teve início em 2013, quando a gente viu, no uso da tecnologia, a possibilidade de ajudar o empreendedor brasileiro ao oferecermos um serviço de contabilidade ágil e 100% online.

Além da abertura de empresas, cuidamos de toda a parte contábil dos negócios e ajudamos os clientes a tomarem decisões assertivas pautadas em informações seguras e centralizadas.

A gente começou de uma forma singela, parecida com a de muitos empreendedores brasileiros.

E, hoje, a gente conta com mais de 15.000 clientes em todo o Brasil.

Isso só foi possível, pois a gente soube que inovar nem sempre é um caminho linear e perfeito, muito pelo contrário!

Acertamos, erramos, tomamos boas e más decisões… e cá estamos, firmes e fortes, com a certeza de que ter criado esse tipo de serviço no país foi a melhor coisa que poderíamos ter feito pelo empreendedor brasileiro.

Por isso os nossos clientes são apaixonados: economia, praticidade e agilidade, além do mais, tudo ONLINE!

Quem diria que a Contabilidade poderia ser inovadora assim?

Parecia algo irreal, uma vez que todo empresário brasileiro já estava acostumado ao cenário contábil que sempre existiu.

E precisamos admitir: no início, nem tudo foram flores. A descrença e a desconfiança no nosso serviço, por ser uma grande novidade, foi uma verdadeira pedra no sapato.

Graças aos nossos primeiros clientes, que verdadeiramente confiaram na gente, é que fomos ganhando credibilidade e pudemos chegar onde estamos hoje!

A agilize contabilidade online está no hall das empresas inovadoras de destaque no país.

Bônus: inovação em tempos de pandemia

Com a chegada da pandemia, em 2020, a instabilidade do cenário econômico afetou todo o mundo.

Assim, até descobrirem uma forma de dar a volta por cima, algumas empresas inovadoras passaram por situações complicadas, mas conseguiram rapidamente se reerguer e impulsionar o negócio.

Dito isso, como bônus, conheça mais dois casos de empresas inovadoras no Brasil que representam muito bem a superação desse desafio.

Hotmart

A Hotmart é uma startup que foi fundada em 2011, sendo a principal responsável por inovar na comercialização de infoprodutos/produtos digitais (e-books, vídeo-aulas, etc) através de uma plataforma digital.

Uma plataforma para empreendedores digitais.

Nessa plataforma, qualquer pessoa física ou jurídica pode se cadastrar na plataforma e dar início ao seu empreendimento digital, oferecendo infoprodutos (aulas e cursos).

Recentemente, em 2020, devido a pandemia da covid-19, a Hotmart sofreu com o impacto negativo do mercado, redução de clientes e a alta do dólar.

Assim, estrategicamente, ao invés de recuar e diminuir a atuação, inovou e arriscou ao optar por ampliar ainda mais o alcance da sua plataforma, ganhar mercado, para não sofrer com os impactos da pandemia.

Dessa forma, comprou uma startup americana da área de educação, a Teachable — eleita pela revista Fast Company como uma das empresas mais inovadoras do mundo.

Essa aquisição também foi usada pela Hotmart como forma de entrada no mercado norteamericano, acabou dando muito certo e essa soma de força está rendendo bons frutos!

GetNinjas

A GetNinjas é uma startup que surgiu em 2011 com a proposta inovadora de conectar profissionais, prestadores de serviços, aos contratantes (pessoas físicas ou jurídicas).

Em 2020, por conta da pandemia, a GetNinjas sofreu um forte impacto negativo, pois os principais serviços solicitados na plataforma da startup pararam de ocorrer.

E isso foi fruto do medo que as pessoas e empresas estavam devido a contaminação da covid-19.

Em abril de 2020, a demanda caiu para 50% em comparação com o período pré-pandemia.

Por isso, a estratégia adotada pela startup foi de buscar atuar na prestação de serviços online.

Assim, novos profissionais de outras áreas, tais como professores de yoga, de tricô, fisioterapeutas, etc, passaram a atuar de forma online na plataforma e, atualmente, esse novo posicionamento corresponde a cerca de 40% dos serviços da GetNinjas.

Observe as oportunidades e esteja pronto para inovar!

Acordo realizado entre empresas inovadoras.

Ao longo do artigo, você pôde notar o quanto é bom inovar para ter sucesso e destaque nos dias de hoje.

Engana-se quem pensa que apenas grandes empresas precisam estar atentas a isso, afinal, todas essas empresas que citamos foram “empresas de fundo de garagem” lá no início, inclusive a gente!

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

domingo, 6 de fevereiro de 2022

LULA É UM POLÍTICO PARADO NO TEMPO QUE SÓ CUIDA DE SI MESMO

 

Jornal Estadão

Segundo o conto lulopetista, Luiz Inácio Lula da Silva seria o grande líder da esquerda brasileira, aquele que, nas últimas décadas, mais teria contribuído para o fortalecimento da chamada causa progressista no País. De acordo com a anedota, o ex-sindicalista encontrou resistência nos setores conservadores da sociedade, mas sua trajetória política seria a realização plena do sonho da esquerda: o operário que chega ao poder e transforma os caminhos da população. Nesse enredo, Lula seria o grande adversário da direita e o grande amigo da esquerda.

É fato que Lula, especialmente depois de forjar a desumana e antissocial divisão do País do “nós contra eles” e subverter a moralidade pública, encontrou e encontra forte oposição em parte considerável da população. Seria equivocado, no entanto, imaginar Luiz Inácio Lula da Silva como o grande benfeitor da causa da esquerda, tal como narra o conto lulopetista. A atuação do líder petista faz muito mal também à própria esquerda, submetendo-a a interesses particulares e impedindo sua livre organização e modernização.

Caso paradigmático é a contribuição de Lula para a permanência de Jair Bolsonaro no poder. Quando parcela significativa da população – especialmente, o eleitorado mais à esquerda –, indignada com a atuação do governo federal na pandemia, passou a pedir o impeachment de Bolsonaro, o PT fez mero jogo de cena. A omissão de Lula foi, no mínimo, incompatível com sua pretensa função de “grande liderança da esquerda”. Como se diz, o ex-sindicalista ficou na moita. Não fez nenhum movimento que pudesse acarretar eventual inelegibilidade de Bolsonaro. Afinal, sem o ex-capitão na corrida eleitoral, Lula teria muito mais dificuldade em sua campanha para voltar ao Palácio do Planalto.

Dessa forma, quando muitos se perguntam como foi possível que a nefasta atuação de Jair Bolsonaro na pandemia não tenha levado ao impeachment do presidente, é preciso advertir a ajuda especial de Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-capitão. O PT contribuiu para o Congresso permanecer alheio ao tema.

Vale lembrar também que Lula – que agora procura expandir os contornos de sua candidatura, fazendo tratativas com políticos mais à direita – proibiu expressamente Fernando Haddad de fazer movimento similar em 2018, até mesmo no segundo turno. Na prisão em Curitiba, Lula não trabalhou pela vitória da esquerda, mas exclusivamente por sua causa pessoal.

Tudo isso, que talvez escandalize pessoas mais jovens, não é nenhuma novidade. A história do PT sempre foi a tentativa de submeter o campo da esquerda à sonhada hegemonia de Luiz Inácio Lula da Silva. Essa pretensão provocou muitos atritos e rupturas. É fato notório que muita gente, ligada às origens da legenda, se frustrou profundamente com as práticas e rumos adotados pelo PT.

Mas o mal que Lula faz à esquerda transcende os limites de seu partido. Tal pretensão de hegemonia abastardou o debate e a articulação de propostas políticas sérias mais à esquerda. Muitas vezes, a discussão de ideias e projetos no chamado campo progressista – tão necessária para uma democracia plural e madura – ficou inviabilizada pela atuação de Lula e de sua legenda, que, incapazes do diálogo, não tinham maiores pudores em impor seus interesses.

A campanha de desinformação do PT em 2014 contra a então candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, é apenas um exemplo, entre muitos, de como Lula trata quem é de esquerda, mas não lhe presta vassalagem. Diante disso, compreende-se o fenômeno que se vê neste início de ano: a resistência de políticos com um pouco mais de experiência, que já sentiram na pele o modus operandi lulopetista, a apoiar a pré-candidatura de Lula.

A rigor, não é a direita que sofre com Lula. Quem mais padece e se vê tolhido pelo lulopetismo é o próprio campo da esquerda democrática e responsável, que, entre outros danos sofridos, se torna invisível para grande parte da população, ofuscado por um político parado no tempo que só se ocupa de si mesmo.

PT TEM PLANO DE ANULAR TODAS AS CONQUISTAS DA PREVIDÊCIA SOCIAL DOS ÚLTIMOS ANOS

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-presidente Lula.| Foto: Sergio Silva/PT

A série de propostas do Partido dos Trabalhadores para destruir a economia nacional caso a legenda retorne ao Palácio do Planalto não tem fim. Depois do teto de gastos, da reforma trabalhista e da política de preços de combustíveis, o novo alvo do petismo é a reforma da Previdência. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, afirmou no Facebook que “O PT realiza estudos para ‘reconstruir’ em eventual novo mandato de Lula o sistema previdenciário público, destruído em parte pela reforma da Previdência, de Jair Bolsonaro, e pela reforma trabalhista de Michel Temer”. A deputada não entra em detalhes, mas não é preciso especular muito para imaginar que se trata de desfazer o que foi feito em 2019, afrouxando as exigências para obter a aposentadoria e estabelecendo cálculos mais camaradas para o valor dos benefícios.

O petismo segue firme na crença de que o dinheiro público brota espontaneamente nos cofres do Tesouro Nacional e pode, então, ser gasto à vontade, como se não houvesse amanhã – é o mesmo caminho da “nova matriz econômica” que levou o Brasil à pior recessão dos últimos 100 anos, cortesia de Dilma Rousseff, Guido Mantega, Nelson Barbosa e Arno Augustin. Dificuldades com a matemática – e, de uma forma mais ampla, com o bom senso – não são exclusividade dos petistas, certamente, mas ao propor uma reversão da reforma da Previdência eles demonstram estar um passo à frente de outros populistas quando se trata de esfacelar as contas públicas.

O que o PT propõe é fechar os olhos para a realidade e iludir o brasileiro com a expectativa de uma aposentadoria razoável sem que sejam necessários muitos anos de trabalho, uma combinação impossível

Em 2021, a União fechou o ano com déficit primário de R$ 35,1 bilhões, mas o número poderia ter sido muito diferente se os regimes previdenciários fossem sustentáveis. Apenas o Regime Geral de Previdência Social, que ampara os trabalhadores da iniciativa privada, teve déficit de R$ 262,2 bilhões no ano passado. O rombo dos regimes próprios de previdência, que correspondem ao funcionalismo e a pensões e inativos militares, foi de R$ 99,1 bilhões. Ou seja, toda a Previdência sugou R$ 361,3 bilhões. Se não fosse pelo déficit da Previdência, o governo não só teria um superávit primário robusto como estaria próximo até mesmo de zerar o déficit nominal – aquele que inclui o pagamento dos juros da dívida –, que em 2021 foi de R$ 383,7 bilhões.

No curto prazo, a tendência é de que o rombo da Previdência continue na casa das centenas de bilhões de reais, já que os efeitos da reforma de 2019 só devem ser sentidos no médio e longo prazos. E, se há algo que pode ser criticado nas mudanças feitas no primeiro ano do mandato de Jair Bolsonaro, foi o fato de elas não terem sido tão intensas quanto deveriam. A tramitação no Congresso acabou atenuando a reforma e perpetuando algumas distorções em benefício do funcionalismo – e, dentro dele, para algumas categorias em especial –, negando o caráter igualitário que estava na ideia original do Ministério da Economia. Como resultado, a economia estimada (e “economia”, neste caso, é força de expressão, pois se trata apenas de gastar menos, e não de efetivamente fazer entrar dinheiro no cofre) ao longo das décadas foi bastante reduzida, de R$ 1,2 trilhão para R$ 800 bilhões.

O “bonus demográfico” brasileiro está sendo desperdiçado, e o país tem tudo para envelhecer antes de enriquecer. Haverá cada vez menos trabalhadores na ativa para sustentar aqueles que já deram sua contribuição para o país – é assim que funciona a previdência brasileira, no regime de repartição, ao contrário do regime de capitalização, em que cada trabalhador constrói o próprio “bolo” para ser usufruído quando da aposentadoria. Sem atualizações de regras que reequilibrem constantemente as receitas e as despesas, o resultado provável, ainda que distante, é o colapso do sistema previdenciário público brasileiro. O que o PT propõe é fechar os olhos para a realidade e iludir o brasileiro com a expectativa de uma aposentadoria razoável sem que sejam necessários muitos anos de trabalho, uma combinação impossível.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-plano-do-pt-destruir-a-previdencia/
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REMUNERAÇÃO DAS ESTATAIS PASSA MUITO DO TETO DE SALÁRIOS

 

Remuneração

Por
Isabelle Barone – Gazeta do Povo

Na EBC, estatal dependente de recursos do Tesouro, a remuneração máxima de empregados chega a R$ 47,5 mil, segundo relatório do Ministério da Economia.| Foto: ABR

As maiores remunerações pagas por estatais federais que dependem de recursos públicos para sobreviver – as chamadas “dependentes” – podem chegar ao teto constitucional de R$ 39.293, ou até superá-lo em alguns casos.

De 46 estatais sob controle direto da União, 18 são consideradas dependentes. Destas, sete declararam pagar aos empregados remunerações máximas exatamente iguais ao teto, e três informaram valores superiores a ele.

Os valores constam do mais recente Relatório de Benefícios das Empresas Estatais Federais (Rebef), com dados de 2020, elaborado pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest) do Ministério da Economia.

Segundo o relatório, as remunerações médias pagas pelas estatais dependentes variam de R$ 2,1 mil (caso da Imbel) a R$ 20,8 mil (Codevasf).


Estatais dependentes têm de obedecer ao teto do funcionalismo
As estatais dependentes são aquelas que, geralmente deficitárias, precisam de repasses do Tesouro Nacional – isto é, dinheiro do contribuinte – para conseguir bancar despesas do dia a dia, como salários.

O artigo 37 da Constituição Federal, em seu inciso XI, não cita empresas públicas e sociedades de economia mista entre as instituições que devem obedecer ao teto do funcionalismo, equivalente ao salário dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, o parágrafo 9.º do mesmo artigo, incluído por emenda constitucional em 1998, estabelece que o limite remuneratório deve, sim, ser seguido por determinadas estatais.

“[O teto] aplica-se às empresas públicas e às sociedades de economia mista, e suas subsidiárias, que receberem recursos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios para pagamento de despesas de pessoal ou de custeio em geral”, diz o parágrafo.

Para empresas públicas e sociedades de economia mista não dependentes da União, o entendimento é de que elas não se submetem ao limite remuneratório, pois conseguem bancar gastos de pessoal e custeio com recursos próprios, sem depender de repasses do governo.

Segundo o Rebef, as seguintes estatais dependentes declararam remunerações máximas acima do teto constitucional em 2020:

Empresa Brasil de Comunicação (EBC) – salário máximo de R$ 47.532;
Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) – R$ 41.746; e
Amazônia Azul Tecnologias de Defesa (Amazul) – R$ 41.143.

Em outras sete estatais dependentes, os maiores salários pagos em 2020 equivaleram exatamente ao teto de R$ 39.293. São elas:

Codevasf;
Conab;
Embrapa;
GHC (Hospital N. Sra. da Conceição);
Hospital de Clínicas de Porto Alegre;
INB (Indústrias Nucleares do Brasil); e
Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados).
As remunerações compiladas pelo Rebef, extraídas de demonstrações contábeis das próprias estatais, são apenas de empregados. Não foram considerados os salários de diretores.

À Gazeta do Povo, a CBTU informou que apenas dois empregados recebem o salário bruto acima do teto e que essas remunerações correspondem a “ações judiciais e antigas incorporações salariais que não existem mais na companhia”.

“Como a CBTU é uma empresa estatal dependente, ela não realiza pagamentos acima do teto. Os pagamentos são realizados através de um sistema do governo federal que calcula o que chama-se de abate teto, e o valor excedente é retirado do pagamento do empregado. Ou seja, mesmo que o cálculo do salário bruto seja acima do limite, na prática, o pagamento é limitado ao teto constitucional”, informou a empresa, em nota.

Contatadas, EBC e Amazul – as outras duas estatais dependentes que, segundo o Rebef, pagam remunerações máximas acima do teto constitucional – não responderam aos questionamentos da Gazeta do Povo.

O Rebef referente a 2020 não apresentou dados de duas estatais dependentes: a Valec, que não informou as remunerações em seus demonstrativos contábeis, e o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), fabricante de chips e semicondutores. O governo abriu trâmite para liquidar essa empresa, mas, em dezembro, o processo foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

Na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, estado onde fica a sede da Ceitec, tramita um projeto de lei que susta os efeitos de liquidação da empresa. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), à qual a Ceitec é vinculada, não informou por que a estatal não consta do relatório.

Salários representam, em média, 68% das despesas das estatais dependentes
Segundo o Boletim das Empresas Estatais Federais Dependentes do Tesouro Nacional de 2020, com base em dados de 2019, os 78.867 empregados das companhias dependentes custaram R$ 14,7 bilhões em um ano, representando 68% dos gastos totais das empresas. O gasto médio anual por empregado no ano foi de R$ 188 mil.

Os dados do relatório mostram que as estatais que apresentaram maior proporção de gastos com pessoal foram Amazul (97%) e Nuclep (88%). Na outra ponta, as com menor proporção foram Codevasf (19% dos gastos foram com pessoal) e a Imbel (21%).

Ao todo, o Tesouro aportou R$ 18,6 bilhões para a sobrevivência das 18 estatais federais dependentes em 2019. O boletim ainda mostra que 48% desse montante foi destinado a duas empresas, Ebserh – responsável pela administração de hospitais públicos federais – e Embrapa.

Além disso, pelo menos 13 das 18 estatais dependentes possuem “alto grau de dependência” financeira do Tesouro, segundo o relatório. A Amazul, por exemplo, depende 100% do aporte de recursos. CPRM, EPE, Embrapa, Conceição, Nuclep, Codevasf e EPL dependem em mais de 90% de verbas do Estado.

Diretores de estatais deficitárias poderão ganhar bônus

O governo federal ainda decidiu regulamentar, neste início de ano, o pagamento de um bônus de até 1,5 salário a diretores de estatais dependentes da União que atingirem uma série de metas pré-estipuladas.

Até então, esse tipo de benefício estava previsto apenas para as companhias não dependentes do Tesouro e que davam lucro. Em 2020 (dado mais recente disponível), a União transferiu R$ 19,4 bilhões para o custeio das 18 estatais dependentes.

Tema foi parar no STF
A discussão sobre o pagamento de salários acima do teto entre as estatais foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), por iniciativa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Em 2017, a Câmara Legislativa do DF aprovou a Emenda à Lei Orgânica nº 99, de autoria do ex-governador Rodrigo Rollemberg, que vedava vencimentos acima de R$ 30.471,11. Contra a lei, Rocha levou o assunto ao STF solicitando independência financeira para que as estatais criassem suas próprias tabelas remuneratórias.

“Para empresas estatais que não se utilizem de recursos públicos para pagamento de pessoal ou custeio geral, tal impedimento configuraria um elemento inibitório de competição de tais entidades para com outras de natureza privada no tocante a ter os melhores profissionais possíveis”, explica Sylvio Mukai, doutor em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP).

No entanto, o argumento aceito pelo STF em sua maioria, segundo o especialista, leva a outra conclusão, a de que estatais dependentes devem obrigatoriamente obedecer ao teto remuneratório. “Assim, se empresas estatais dependentes não cumprem o teto remuneratório o fazem em arrepio das normas constitucionais”, diz Mukai.

Em 2021, a Corte atendeu ao pedido do governador do DF, julgando ser inconstitucional uma lei distrital que submetia os salários pagos em entidades que não dependem de recursos do governo ao teto salarial do funcionalismo público local, que é de R$ 35.462 – valor equivalente à remuneração de um desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT).

Seis companhias do Distrito Federal foram beneficiadas com a decisão do Supremo:

Terracap
Ceasa
Banco de Brasília (BRB)
Companhia Energética de Brasília (CEB)
Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb)
DF Gestão de Ativos S.A.
Salário nas estatais não dependentes chega a R$ 145 mil
O levantamento do governo federal mostra que 13 estatais que não dependem da União pagam a seus empregados salários maiores do que o teto do funcionalismo, chegando a R$ 145,2 mil.

É o caso da Petrobras, por exemplo, que paga o maior salário entre todas as estatais sob controle direto da União. A petroleira e as demais empresas não dependentes de recursos públicos não precisam seguir o teto constitucional.

As estatais não dependentes que pagam salários acima do teto são as seguintes:

Petrobras (salário máximo de R$ 145,2 mil);
CDRJ (R$ 78,7 mil);
BNDES (R$ 76,8 mil);
Caixa (R$ 58,8 mil);
Codesa (R$ 58,8 mil);
Banco do Brasil (R$ 50,6 mil);
Correios (R$ 50,1 mil);
CDP (R$ 46 mil);
PPSA (R$ 44,9 mil);
SPA (R$ 44,6 mil);
BNB (R$ 44,5 mil);
Infraero (R$ 43,7 mil); e
Serpro (R$ 42,6 mil).

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CRISE MUNDIAL DE ALIMENTOS PODE AFETAR O BRASIL

 

Escassez?

Por
Luis Kawaguti – Gazeta do Povo

Agricultor colhe trigo no Iêmen, país onde alta dos preços dos alimentos contribuiu para queda de ditador em 2011| Foto: EFE/EPA/YAHYA ARHAB

O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, disse à coluna Jogos de Guerra que “existem países que têm pavor do Brasil ser o que é, como celeiro do mundo, em termos de alimentos”. A afirmação ocorre em um momento em que o mundo está à beira de uma nova crise mundial de alimentos.

Na quinta-feira (4), quando a entrevista foi exibida no canal da Gazeta do Povo, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou que o preço dos alimentos em janeiro deste ano atingiu o maior patamar desde 2011. Naquele ano, a alta contribuiu para as revoltas que derrubaram os governos da Tunísia, do Egito e da Líbia e catalisou outros choques da Primavera Árabe.

O índice da FAO, que mede preços de commodities agrícolas, atingiu 135,7 pontos. Na crise de 2011, quando o mundo árabe foi varrido por uma série de revoluções populares que culminaram na Guerra da Síria, o patamar atingido foi de 131,9 pontos.

Segundo analistas, as revoltas populares de 2011 não foram desencadeadas somente pela alta de preços dos alimentos, mas por uma mistura de problemas como inflação, corrupção e desemprego, além de fatores geopolíticos.

O estopim ocorreu na Tunísia, quando o ambulante Mohamed Bouazizi, de 26 anos, teve seu carrinho de frutas apreendido e por isso ateou fogo no próprio corpo, em frente a um prédio do governo. Menos de um mês depois, ondas de protestos derrubaram o presidente Zine al-Abidine Ben Ali. Depois foram Hosni Mubarak, do Egito, Muammar Kadafi, da Líbia, e Ali Abdullah Saleh, do Iêmen.

Nesses casos, a alta do preço dos alimentos incentivou revoltas e conflitos internos. Mas é quase consenso entre analistas internacionais que cenários de escassez tanto de comida quanto de componentes (como chips de computador) e minerais também têm potencial para aumentar a competitividade entre nações.

Essa rivalidade global pode levar a sanções e barreiras econômicas e sanitárias, protecionismo, represálias diplomáticas, ataques cibernéticos e outras ações agressivas abaixo da linha do conflito armado. Mas, embora menos provável, elas também aumentam a possibilidade de guerra total envolvendo nações.

Mas como fica o Brasil nesse cenário geopolítico?

O Brasil é o quarto maior produtor de grãos do mundo, depois de Estados Unidos, China e Índia, segundo dados de 2020 da Embrapa. Mas os países asiáticos consomem muito de sua produção, o que faz do Brasil o segundo maior exportador de grãos do mundo (19% da produção mundial), atrás apenas dos EUA (21,6%). Em seguida vêm Argentina (8%), França (4,5%), Canadá (5,2%), Ucrânia (8,3%), Rússia (8,1%), Austrália (3,1%), Índia (2,1%) e Alemanha (1,5%).

O Brasil também fica em segundo lugar na exportação de carnes, com 13,4% do mercado, atrás dos EUA (14,8%).

“Existem interesses no mundo de terminar com essa produção brasileira, que torna o mercado mundial quase que cativo do Brasil”, disse o ministro Heleno.

“Então, os países que têm produção de agricultura, eles querem que o Brasil se recolha em termos de produção. Não vai acontecer. O Brasil está destinado, até por providência divina, a ser o celeiro do mundo”, disse.

Heleno não afirmou quais seriam esses países. Mas disse que os rivais dos brasileiros nesse campo atuam para retratar o Brasil como o grande “vilão” do meio ambiente. Eles usam como argumentos crimes ocorridos na Amazônia, como queimadas, extração irregular de madeira, derrubada de árvores para criação de pastos e garimpos ilegais.

Usando esses argumentos, tentam impor barreiras a produtos brasileiros e, em última instância, podem travar uma guerra jurídica em fóruns internacionais para tentar impedir o Brasil de explorar seus recursos na Amazônia Legal.

Esse atrito tem se concentrado principalmente no campo da guerra informacional, com declarações de políticos, debates na imprensa e produção acadêmica de ONGs e Think Tanks.

“Nós somos o país que mais preservou florestas naturais até hoje na humanidade e vamos lutar muito pela preservação, daqui para frente, cada vez maior da Amazônia”, disse Heleno.

O ministro não citou nomes, mas um dos maiores detratores do governo brasileiro na questão ambiental foi o presidente francês Emmanuel Macron. O americano John Kerry, enviado especial climático do governo Joe Biden, também fez críticas à política ambiental brasileira.

Analistas alegam que a pressão da França contra o Brasil ocorreria para impedir a conclusão do tratado de livre comércio entre União Europeia e Mercosul. O objetivo seria proteger o setor agrícola francês.

Já os Estados Unidos estão perdendo mercado para o Brasil na exportação de milho e competem pelo mercado chinês para a venda de soja, segundo relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos.

Mundo caminha para cenário de escassez

Analistas temem que o mundo esteja entrando em uma nova crise global de alimentos, que pode resultar em cenários de fome em países mais pobres e alta de preços de alimentos em nações mais desenvolvidas e em desenvolvimento.

Esse cenário começou a se configurar no ano passado, a partir de uma combinação de fatores. A maioria deles está relacionada a fatores climáticos, como secas e inundações, e a disrupções em cadeias globais de produção causadas pela pandemia de Covid-19.

A vacinação de populações em 2021 propiciou o fim de políticas de lockdown e uma retomada econômica. Mas a redução do tráfego de bens diminuiu a capacidade do transporte marítimo. O valor do frete subiu e produtos de alto valor agregado tiveram preferência no transporte – enquanto alimentos ficaram em segundo plano.

Além disso, a produção de petróleo havia sido diminuída pelos países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e não foi retomada completamente.

Em paralelo, houve uma alta nos preços do carvão na China que fez o valor do gás natural subir também na Europa. Ocorria ainda a tentativa global de substituição de combustíveis fósseis por energia limpa.

A alta do petróleo impactou ainda os transportes e aumentou a inflação globalmente. Essa “tempestade perfeita” jogava o mundo em uma grave crise energética.

A elevação no preço do gás natural é particularmente importante na questão da crise alimentar, porque ele é usado na produção de alguns tipos de fertilizantes. Fábricas tiveram que fechar, pois o gás foi direcionado para o aquecimento das residências na Europa.

Também ocorreram sanções americanas contra Belarus, um dos maiores produtores de fertilizantes baseados em potássio do mundo. Aliada à paralisação de fábricas nos Estados Unidos pela passagem de furacões, esses fatores iniciaram uma escassez global de insumos agrícolas – entre fertilizantes e defensivos. Os países produtores decidiram parar de exportar para preservar seus mercados internos.

O Brasil detém apenas 2% da produção mundial de fertilizantes, segundo relatório da consultoria Cogo. A falta de insumos deve impactar a safrinha do milho e as safras de inverno, que estão sendo plantadas no início deste ano.

Com custos de produção mais elevados pela escassez de insumos e o real desvalorizado, produtores preferem exportar (para receber em dólar e diminuir suas perdas) ao invés de vender para o mercado interno. O governo diz que não faltará alimentos no país, mas os preços vão subir ainda mais.

Nesse contexto, entra o problema do protecionismo. Em uma economia liberal, não é desejável que o governo intervenha na decisão dos produtores. Na Argentina, o governo impôs restrições à exportação de grãos e carne para abaixar os preços no mercado interno. Segundo analistas, isso ameniza o problema a curto prazo, mas com o passar do tempo pode quebrar os produtores agrícolas.

O medo de ações como a da Argentina, que interrompe cadeias de suprimento internacionais, tem levado países dependentes de importação de alimentos a buscar alternativas pouco ortodoxas.

A mais controversa é a compra ou arrendamento de terras e fontes de água em países pobres, como já fizeram Coreia do Sul, Arábia Saudita e China. Os países alvo foram o Sudão e a Etiópia, na África. Os países mais ricos transportam toda a produção para seu território e acabam exaurindo fontes de água e supostamente danificando o solo nos países “hospedeiros”.

O fato de uma população vítima de insegurança alimentar ver carretas carregadas de alimento saindo do país pode levar a convulsões sociais.

Setores de inteligência do Brasil investigam uma suposta compra de terras pela China na região da Bahia, mas por ora não há provas concretas de que isso tenha acontecido. O governo local nega.

Perspectivas de futuro

Muitas nações tentam diminuir a dependência externa no setor de alimentos irrigando áreas para torná-las produtivas, mas essa solução é temporária. A Arábia Saudita, por exemplo, bombeou água de seus aquíferos por 20 anos até exauri-los. Sua solução agora pode ser trocar petróleo por alimentos em uma crise alimentar mais grave.

Em paralelo, há estimativas de parte dos analistas de que o aumento das temperaturas globais poderia influir na produção global de alimentos ao longo do tempo, supostamente diminuindo a eficácia da produção. Não há garantias de que avanços tecnológicos vão tornar o setor agrícola capaz de acompanhar o aumento da população mundial.

O processo irreversível de transição para a energia limpa também pode fazer com que parte das terras agricultáveis seja destinada à produção de grãos e cana-de-açúcar para geração de etanol – o que vai gerar mais pressão sobre a produção de alimentos.

Em teoria, o Brasil possui reservas de água e terras agricultáveis que podem mudar a balança geopolítica em favor do país. A economia muitas vezes é usada na geopolítica como “arma de guerra”, para forçar suas vontades sobre um rival.

Nesse contexto, segundo Heleno, o Brasil precisa explorar seu território de forma sustentável (sem destruir a floresta tropical) e fortalecer o agronegócio.

Mas isso não basta. É preciso que o país invista em infraestrutura, segundo o analista Gabriel Leal de Barros, economista chefe da RPS Capital. Para que o país continue a desenvolver um setor chave como o agronegócio, é necessário acabar com gargalos. Ou seja, criar formas de transportar a produção de forma mais eficiente, melhorando a logística e a infraestrutura.

Reformas econômicas realizadas no atual governo, como o marco das ferrovias e o programa de incentivo à navegação de cabotagem, são esforços positivos nesse sentido.

Com menos gargalos, o país teria a possibilidade de escapar da “armadilha” que vem proporcionando baixo crescimento econômico desde a década de 1980, segundo o analista.

De forma similar, se o mundo não conseguir produzir mais alimentos com menos água, manter os solos férteis e diminuir os custos de transporte, crises de alimentos como a que se configura hoje podem se tornar uma realidade cada vez mais comum. E em um cenário de escassez, rivalidades globais podem se acirrar e conflitos armados internos ou entre nações se tornarem mais prováveis.


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REMUNERAÇÃO DO JUCICIÁRIO BRASILEIRO É UM ESCÂNDALO

 

Privilégios
Embora as más línguas critique nossos programas de redistribuição de renda, somos os melhores em tirar do pobre para dar ao rico.

Por
Madeleine Lacsko – Gazeta do Povo

Estátua A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, praça dos três poderes, Fachada do Supremo Tribunal Federal (STF)

| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Muita gente reclama que o Brasil não consegue resolver a questão crônica da pobreza e redistribuição de renda. Programas como o Bolsa Família, por exemplo, têm resultados positivos mas recebem menos dinheiro do que o Bolsa Empresário Amigo de Governo, algo criado conjuntamente. No entanto, considero injusto dizer que não temos um programa de redistribuição de renda que funcione. Temos sim.

Talvez por falta de patriotismo você não saiba, mas o Brasil tem o mais eficiente programa de redistribuição de renda da galáxia. Redistribui do pobre para o rico e o rico ainda ganha o direito de chorar miséria e se dizer injustiçado. Chama-se Carreiras Jurídicas no Judiciário, MP e Defensoria. Nem deputado ganhou tanto benefício a mais na pandemia quanto estes bravos guerreiros.

Outro dia li a notícia de que os nobres desembargadores do Judiciário do meu estado querem aumento salarial porque estão trabalhando demais. Vocês sabem que eu já trabalhei no STF, assessorei associações de juízes e de promotores. Salvo raras e honrosas exceções, anônimas e lotadas no interior em sua maioria, difícil alguém que realmente pegue no pesado.

Fico pensando se resolvessem descontar das horas trabalhadas aquelas gastas em congressos nas cidades praianas ou dando entrevistas. Tem gente que, no final, iria ter trabalhado de verdade umas 4 horas por mês. O pessoal reclama da agenda do presidento, que tem menos compromisso do que minhas tias dondocas. Ficam xingando deputado que trabalha só de terça a quinta. Todo mundo aí tá trabalhando mais do que nossos bravos guerreiros da Justiça brasileira.

Obviamente é um privilégio para a casta da casta. Quem é trouxa dedicado acaba trabalhando em cidade pequena cheia de pobre e com ausência de outros órgãos do Estado. Daí, seja juiz ou promotor, vira uma espécie de faz-tudo. Aliás, nesses casos nem ter a formação em Direito basta, o sujeito tem de ter CRM, CRO, CREA e, principalmente, CRP. Vai resolver problema de todo mundo o tempo todo e ficar só com o salário mesmo, nada de penduricalhos mil nem folgas.

Anos atrás, o então presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo defendeu de forma enérgica a necessidade de aumento de salários. Os juízes estariam até mesmo sem dinheiro para ir comprar terno em Miami. Absurdo! Um amigo que pegou uma comarca trabalhista tumultuadíssima no ABC me disse, talvez com inveja: “veja que esse deveria ser meu tipo de problema e eu pego só enrosco”. Adivinha quem está pedindo aumento? O pessoal do terno em Miami, claro.

O amigo do ABC vive muito bem e vive agradecendo a Deus ter passado no concurso. Mas não chegou ao nível espiritual do terno em Miami nem de poder se ausentar do trabalho em função de dar entrevistas ou participar de convescotes. Durante a pandemia, o que ele ganhou foi processo disciplinar no CNJ. Saiu do sério numa audiência ao perceber que o empregado e o preposto da empresa estavam na mesma sala, escondendo do Judiciário que haviam feito acordo.

A renda do brasileiro caiu em torno de 10% durante a pandemia. Isso não quer dizer que cada um ganha 10% a menos, significa que tem gente absolutamente quebrada a ponto de gerar esse impacto na massa total de trabalhadores. Enquanto isso, viralizaram durante toda a pandemia as listas de quem recebeu salários de mais de R$ 100 mil na casta do Judiciário. Mas eles estão trabalhando demais e precisam de aumento. Será pago obviamente pelo pessoal que ficou mais pobre. Redistribuição de renda.

Esse gráfico é do Boletim Desigualdade das Metrópoles, da PUC/RS e mostra a variação da renda dos trabalhadores. Nada animador. Mas o dado mais interessante talvez seja o quanto é essa renda. Eu li em vários lugares que o baque econômico atingiu primeiro os pobres mas chegou já na classe média alta. Isso significa que a família ganha mais de R$ 3.100,00 per capita e está nos 10% mais ricos da população. Talvez você já esteja no clube dos bilionários sem saber.

Aqui está a prova cabal de que realmente temos, com as Carreiras Jurídicas do Judiciário e MP, o melhor programa de redistribuição de renda da Via Láctea. O vale-refeição dos desembargadores do Tribunal de Justiça do Amapá é de R$ 3.500,00. Só isso já é R$ 400,00 a mais que a renda necessária para integrar a classe-média-alta brasileira, os 10% mais ricos. Leia essa coluna do Lucio Vaz e entenda por que eu luto tanto por uma nomeação no Judiciário brasileiro.

Obviamente não é em todos os tribunais que se tem tanto sucesso na redistribuição de renda. Os juízes do Tribunal de Justiça de Pernambuco recebem apenas R$ 1.561,80 de vale-refeição, o que deixa as refeições deles distantes da classe média alta. E veja a injustiça: só chegou nesse valor porque eles conseguiram um aumento de 46% no último mês de junho, em plena pandemia.

A coluna do Lucio Vaz traz os casos em que você é bem mais generoso com nossos bravos guerreiros da Justiça. Tem uma juíza que foi removida de um estado a outro e ganhou R$ 100 mil de auxílio-mudança. Eu achei que tinham aberto uma comarca na Lua quando vi o valor. De repente abriram mesmo, mas quem está lá é o desembargador do Rio de Janeiro que recebeu R$ 72.400,00 de indenização de transporte. Por isso você teve de pagar a conta de celular de R$ 17.300,00 de um desembargador de Goiás, ligou para a nova comarca na Lua.

Mas eu estou preocupada mesmo é com a saúde de diversos desembargadores pelo Brasil. No Amapá, um deles recebeu R$ 163.000,00 de auxílio-refeição. Avalie o quando a Excelência precisou comer para chegar nesse valor, um perigo para a saúde. É por essas e outras que, no Maranhão, nós precisamos pagar R$ 334.000,00 de auxílio saúde para uma desembargadora. Ambiente insalubre o deles.

Em dezembro, 20 dos 26 desembargadores do Tribunal de Justiça do Amazonas receberam salários de mais de R$ 100.000,00. O que recebeu mais teve rendimentos de R$ 237.067,45. Mas não é tudo salário. São R$ 35.462,22 de salário, R$ 9.960,26 de indenizações, R$ 4.964,71 de direitos pessoais e R$ 186.680,26 de direitos eventuais. Eu não sei o que são direitos eventuais mas, se quiserem me pagar, também aceito.

Você pode achar os salários nababescos. Mas são cargos importantíssimos e que exigem muito preparo e estudo. Na verdade, o que o pessoal do Amazonas ganha não é suficiente para muitas coisas. Por mim, eles adotariam o auxílio-livro, à semelhança do Tribunal de Justiça do Mato Grosso. São dois salários extras por ano, cerca de R$ 70.000,00. Como não têm a verba, os desembargadores do Amazonas passam perrengues como o da queda da estante de livros falsa na audiência virtual.

Tomara que o desembargador não ouça a jornalista porque é bem capaz de querer processar o vendedor do cenário por danos morais de verdade. As juízas que foram para o aeroporto errado e perderam o voo por isso processaram a companhia aérea e ganharam uma bolada, por que não? Quem vive nesse mundo é que julga os eventuais conflitos e disputa do país em que rico ganha menos que vale-refeição de juiz. É um sistema que definitivamente não tem como dar certo.


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CASAS CONSTRUÍDAS EM ENCOSTAS DE MORRO CAEM MESMO

  1. Política 

Se alguém está precisando responder rápido qual é a safadeza número um do Brasil, dificilmente vai errar se disser: ‘É a hipocrisia’

J.R.Guzzo, O Estado de S.Paulo

Se alguém está precisando responder rápido qual é a safadeza número um do Brasil dos dias de hoje, dentro da calamidade permanente que marca o dia a dia da nossa vida pública, dificilmente vai errar se disser: “É a hipocrisia”. Sempre foi, é claro, mas em certas horas fica pior; acaba de ficar pior, mais uma vez. Dias atrás, num espetáculo que há 50 anos, ou mais, se repete com a regularidade da troca do dia pela noite, desabaram dezenas de casas num dos muitos purgatórios sem esperança que compõem a periferia de São Paulo. Muita gente perdeu o pouquíssimo que tinha. Podem ter morrido mais de trinta pessoas. Foi uma tragédia.

Nessas horas sempre querem dizer ao público, em cinco segundos, o que aconteceu – e, principalmente, quem é o culpado. Já disseram, é claro. O culpado, segundo a sabedoria em vigor na praça, foi o presidente da República. Ele não tem “políticas sociais” corretas, dizem – e sem isso as pessoas morrem quando o tempo fica ruim. Outros, mais agitados, jogaram a culpa também no governador do Estado. Pois então: eis aí, com todos os seus holofotes, a hipocrisia fundamental, automática e histérica da elitezinha que quer pensar por todos neste país, o tempo todo e em todos os assuntos. As casas do fim de mundo paulistano não caíram por falta de uma política social. Caíram porque foram construídas em terrenos de morro onde não se pode construir uma casa. Estão dentro de ângulos em que nenhuma construção fica de pé. Carregam um peso que o solo não aguenta. Seus materiais são de quinta categoria. É impossível que não venham abaixo.

Estragos provocados pelas chuvas na Grande São Paulo e interior paulista
Desabamentos causaram dezenas de mortes em São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão

A Grande São Paulo, pelo que se informou, tem no momento 750.000 casas em situação de risco, e quase 1.000 áreas onde moradias correm perigo de desabar – uma vergonha que não foi construída em 15 minutos, e por nenhum governo individualmente, mas que o Brasil civilizado nem vê. De que jeito a culpa poderia ser só de um, ou de dois? Basta olhar os números. Os jornalistas, urbanistas e peritos em “questões habitacionais”, diante dessa demência, se lançam a discursos contra “a política social” do presidente. Faz bem para eles, mas é a melhor garantia de que jamais haverá solução real para o problema.

Há duas leis no Brasil. Da classe média para cima, as pessoas precisam de licença da Prefeitura, alvará, “habite-se” e sabe lá Deus mais o que para construir um metro de parede; daí para baixo a autoridade pública não toma conhecimento. Nem poderia: se abrisse a boca, a esquerda, o MP e o padre iam sair gritando “inimigo do pobre”, “higienista”, e daí para pior. Fica assim, então.

JORNALISTA

 

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...