domingo, 6 de fevereiro de 2022

PENSE BEM ANTES DE PEDIR DEMISSÃO DO EMPREGO

 

  1. Economia 
  2. Sua Carreira 

Salário, benefícios, colegas de trabalho, volume de tarefas e propósito de vida são questões que devem ser levadas em conta na hora da decisão

Jelena Kecmanovic, The Washington Post – Jornal Estadão

O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos informou em 4 de janeiro que 4,53 milhões de pessoas pediram demissão de seus empregos em novembro de 2021, quebrando um recorde estabelecido em setembro e parte de uma tendência de quase um ano que foi apelidada de a “Grande Debandada”. Você talvez esteja tentado a se juntar a essas pessoas: em julho, a Gallup descobriu que 48% dos trabalhadores americanos estavam procurando emprego ativamente ou de olho em oportunidades, uma situação que a organização de pesquisa classificou como a “Grande Insatisfação”.

Como psicóloga, vi essa insatisfação ser expressada em meu consultório. Vários dos meus pacientes estão refletindo muito mais sobre seus trabalhos do que antes da pandemia surgir em nossas vidas.

Alguns, sobretudo as mulheres, estão decidindo que continuar em seus empregos não é viável ou vale a pena durante o transtorno da pandemia. Isso é coerente com as estatísticas indicando que havia cerca de 2,3 milhões a menos de mulheres entre os trabalhadores em fevereiro de 2021 do que um ano antes, e quase 1,8 milhão a menos de homens.

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Ter controle sobre como e quando você faz seu trabalho também afeta fortemente a satisfação e o bem-estar no emprego. Um exemplo é a flexibilidade entre home office e presencial.  Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Você talvez esteja pensando em como avaliar se está na hora de deixar seu emprego. Aqui estão seis perguntas que podem ajudá-lo a tomar essa decisão.

1. Meu trabalho supre minhas necessidades básicas?

Um emprego deve, no mínimo, oferecer um salário digno, condições de trabalho seguras, licença médica e seguro saúde e por invalidez, disse Jay Spence, psicólogo e diretor de produtos da Uprise Health, em Irvine, Califórnia.

“Infelizmente, a pandemia expôs como muitos empregos não atendiam nem mesmo as necessidades biológicas e de segurança mais básicas dos trabalhadores”, disse Spence. Embora isso seja especialmente verdade para aqueles em empregos com salários mínimos, trabalhadores com educação superior também enfrentam medidas inadequadas para mitigar a covid-19 no trabalho, além de licenças médicas e seguros saúde escassos.

Quando uma pessoa se sente derrotada por tentar pagar as contas com o pouco dinheiro que recebe e pelo constante medo de adoecer no trabalho, talvez não pareça ser o momento para fazer essa pergunta, e pode ser difícil encontrar tempo e energia para procurar outro emprego. Mas Claudia Bernhard-Oettel, professora de psicologia organizacional na Universidade Estocolmo, na Suécia, recomenda fortemente que os trabalhadores tentem fazer isso.

“Você talvez se sinta preso, como se não houvesse mais opções”, disse ela. “Mas este é o momento para tentar fazer algo diferente, enquanto os empregadores estão desesperados por trabalhadores. E os estudos mostram que quando as pessoas que se sentem presas conseguem fazer algo diferente, elas acabam se sentindo melhor.”

2. Meu volume de trabalho é exequível e viável?

Com todos os fatores de estresse da pandemia, como ajudar as crianças com a escola online, 43% dos empregados dizem ter se sentido sobrecarregados no trabalho. Mas esse problema é anterior à pandemia.

Christina Maslach, professora emérita de psicologia da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que sua pesquisa nas últimas décadas mostrou que “as pessoas estavam cada vez mais recebendo mensagens de seus chefes de que ‘precisamos fazer mais com menos’”. No entanto, segundo ela, “pedir constantemente que as pessoas corram uma maratona no ritmo de um sprint não é viável”.

Christina, que é coautora do livro “The Truth About Burnout: How Organizations Cause Personal Stress and What to Do About It” (A verdade sobre o burnout: como as empresas causam estresse nas pessoas e o que fazer a respeito disso, em tradução livre), disse que o esgotamento profissional é fruto de três elementos: resposta a uma experiência de estresse crônico, manter uma postura hostil ou cínica em relação ao trabalho e ter uma avaliação negativa de si mesmo.

O burnout, por sua vez, está relacionado à depressão, insônia e ao abuso de substâncias, além de problemas cardiovasculares, gastrointestinais, dores, entre outros problemas de saúde.

Se seu volume de trabalho está incontrolável há um tempo e você sente uma constante pressão pelos prazos que o impedem de fazer qualquer outra coisa em sua vida, é hora de mudar. Você pode pedir uma redução nas demandas do trabalho, como o número de clientes que atende ou de horas trabalhadas, ou um aumento de recursos, como auxílio de um supervisor e de colegas de trabalho, ajuda técnica e outras coisas.

“Não podemos esperar que as empresas nos deem o que precisamos”, disse Rebecca Longman, psicóloga organizacional em Wilton, Connecticut, e autora de “Let’s Love to Work: How People Create Careers They Love” (Ame trabalhar: como as pessoas constroem carreiras que amam, em tradução livre). “Precisamos ser agentes de mudança e retomar o controle para beneficiar a nós mesmos e a nossos colegas de trabalho.”

Caso você faça esses pedidos e isso não resulte no alívio que precisa, talvez seja hora de procurar outro emprego.

3. Tenho um grupo de colegas nos quais posso confiar no trabalho?

Uma das necessidades humanas mais importantes é sentir-se como parte de um grupo. Bons relacionamentos com supervisores, supervisionados e colegas de trabalho estão relacionados com uma maior satisfação no emprego. Como terapeuta, costumo escutar como a conexão ou desconexão entre as pessoas no trabalho afeta o bem-estar de meus pacientes.

“Construir ou manter um senso de comunidade no trabalho é particularmente difícil em um ambiente de trabalho remoto”, disse Spence. Essa desconexão talvez explique por que 39% dos trabalhadores dizem se sentir decepcionados com colegas, gestores e chefia. Caso você se sinta afastado de seus colegas de trabalho, tente propor atividades em grupo ou reuniões individuais, assim como priorizar a colaboração ao trabalhar presencialmente.

Um grande problema é ter uma cultura no local de trabalho caracterizada pela baixa empatia e compaixão, e alta hostilidade, discriminação ou até mesmo bullying. “Nesses ambientes, é provável que aconteça a síndrome de burnout”, disse Christina.

Um tratamento justo e imparcial é decisivo para a forma como os funcionários se sentem no trabalho. Uma característica particularmente nociva de locais de trabalho insalubres é a falta de “segurança psicológica” – por exemplo, ter medo de falar a respeito dos problemas porque você não pode confiar que os demais vão lhe ajudar e não lhe punir.

Se você tentou chamar atenção ou mudar aspectos tóxicos da cultura de seu trabalho e foi em vão ou, pior, se você se sentiu prejudicado depois de fazer isso, a melhor alternativa talvez seja procurar emprego em outro lugar.

4. Estou sendo recompensado pelo que faço?

Receber um salário é a recompensa mais óbvia e que pode ter se tornado ainda mais importante durante a pandemia. Uma pesquisa descobriu que um terço dos profissionais acha que a saúde mental deles é afetada ao serem mal remunerados. Além dos salários, os trabalhadores buscam valorização por meio de bônus e aumento de benefícios, como abono para despesas com educação, acesso à creche ou férias.

A pesquisa sugere que o feedback positivo e o reconhecimento verbal também podem ser incentivos poderosos, sobretudo quando são frequentes, específicos e no momento certo. Infelizmente, 28% dos trabalhadores dizem que não se sentem reconhecidos ou valorizados por seu trabalho durante a pandemia.

“As pessoas pedem demissão quando não se sentem respeitadas pelo chefe”, disse Anthony C. Klotz, professor de gestão da Mays Business School, da Universidade Texas A&M, que cunhou o termo “Grande Debandada”. “E se demitem quando não têm a sensação de que o trabalho delas é importante e valorizado.”

Sem dúvidas, o desenvolvimento de habilidades e a ascensão na carreira estão entre os fatores mais importantes que contribuem para a satisfação no trabalho e a retenção de funcionários. “As oportunidades de aprendizado impedem as pessoas de considerar outras opções de trabalho”, disse Claudia.

Portanto, avalie quanto você está recebendo de seu trabalho, tanto em termos financeiros como não financeiros, e também em oportunidades de crescimento, e decida se isso é proporcional ao que está dando ao seu trabalho. E se as recompensas estão suprindo as suas necessidades e as de sua família.

5. Como o meu trabalho se encaixa na minha vida?

A pandemia proporcionou uma chance de nos distanciarmos e analisarmos nossos empregos no contexto de nossas vidas como um todo.  “Muitas pessoas estavam se perguntando: “Meu trabalho vale todos os sacrifícios que tenho feito em relação à minha família e à minha saúde?’”, disse Klotz. “Minha pesquisa descobriu que essas epifanias pandêmicas têm contribuído para o aumento dos pedidos de demissão.”

Nancy Rothbard, professora de gestão e vice-reitora da Wharton School da Universidade da Pensilvânia, disse que o estresse maior durante a pandemia motivou muitos a avaliar o que era mesmo importante e primordial para eles, levando a escolhas diferentes daquelas que talvez tivessem sido consideradas antes. “Estar em casa também permite uma avaliação integral dos papéis ou identidades pessoais e sociais”, disse ela.

Por exemplo, pergunte a si mesmo se seu trabalho está alinhado com quem você quer ser como pessoa e se você apoia os valores da empresa em que trabalha. Idealmente, um trabalho “deve oferecer pelo menos algum propósito em sua vida, além de um salário”, disse Christina.

Ter controle sobre como e quando você faz seu trabalho, e sobre as decisões que afetam seu trabalho também revelaram afetar fortemente a satisfação e o bem-estar no emprego. Por exemplo, quase metade dos profissionais ainda estava trabalhando de casa de certa forma em outubro e a maioria esperava que a flexibilidade continuasse, de acordo com uma pesquisa da Gallup. Caso contrário, um terço deles disse ser muito provável que procurassem outro emprego.

6. Já tentei melhorar meu trabalho atual?

Por último, certifique-se de refletir se seu trabalho pode ser melhorado antes de pedir demissão. “É bom avaliar se o seu trabalho atual é satisfatório ou pode talvez ser satisfatório”, disse Nancy. Se o seu trabalho tem potencial, você deve tentar explorá-lo antes de pedir demissão.

“Sempre vale a pena defender a si mesmo e tentar pedir o que você quer”, disse Rebecca. “Funcionando ou não, você aprenderá mais a respeito da empresa em que trabalha e sobre si mesmo, e isso pode guiar suas decisões.”

Além disso, lembre-se de que mudar de emprego não é garantia de felicidade, como indicam dois estudos de 2021. Uma pesquisa alemã mostrou que os trabalhadores que pediram demissão de seus empregos para se tornarem autônomos tiveram um bem-estar menor do que o esperado depois da mudança. E uma análise australiana descobriu que um ano depois da mudança de emprego, os profissionais estavam menos satisfeitos no trabalho do que antes de pedir demissão do anterior.

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/ TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

METAMOBILIDADE DA HYUNDAI

 

Por Tainá Freitas

A empresa criou o conceito de “metamobilidade”, no qual espera que o tempo, distância e espaço se tornem irrelevantes. Entenda

Por Tainá Freitas

A CES, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo, começou. A feira acontece anualmente em Las Vegas e, como esperado, uma novidade está em alta: o metaverso. Recentemente, a Samsung anunciou que planeja lançar televisões com suporte à NFT; agora, é a vez da Hyundai compartilhar os planos para o metaverso.

A montadora sul-coreana deseja levar robôs para dentro (e fora) do metaverso. A iniciativa é fruto da aquisição da Boston Dynamics, criadora do robô Spot, realizada no ano passado, por US$ 1,1 bilhão. Agora, a expectativa é que os robôs possam ajudar avatares e pessoas a realizarem comandos do metaverso para o mundo real.

A companhia apelidou a iniciativa de “metamobilidade”. “O que costumava ser uma experiência virtual devido a limitações tecnológicas agora pode ser refletida no mundo real através de conexão com dispositivos inteligentes, permitindo que usuários tenha liberdade ilimitada de movimentos entre os dois mundos”, escreveu a Hyundai no anúncio.

COMO IRÁ FUNCIONAR?

A expectativa da Hyundai é que, com a metamobilidade, o “espaço, tempo e distância se tornem irrelevantes”. A companhia exemplifica que será possível “abraçar e alimentar um cachorro na Coreia do Sul usando um robô”, através de comandos no metaverso e realidade virtual.

Os planos vão além do metaverso, incluindo também as indústrias. A companhia planeja que máquinas e tarefas possam ser operadas à distância, com a ajuda dos dispositivos robóticos.

“Indo um passo além da experiência imersiva de ‘estar lá’ que o metaverso fornece, os robôs se tornarão uma extensão de nossos próprios sentidos físicos, permitindo-nos remodelar e enriquecer nossas vidas diárias com a metamobilidade”, afirmou Chang Song, presidente e líder de transporte como um serviço na Hyundai Motor Group.

Visto que robôs ainda não são dispositivos acessíveis (o Spot, por exemplo, custa mais de US$ 70 mil!), será que a moda pega?

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

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sábado, 5 de fevereiro de 2022

SUPREMA CORTE PENDE PARA A LEGALIZAÇÃO DO ABORTO NO BRASIL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

A ministra do STF Cármen Lúcia.| Foto: Nelson Jr./STF


Já há muito tempo um truque comum dos defensores da legalização do aborto, seja no Brasil, seja em outros países, é simplesmente evitar a palavra, especialmente nas nações onde a população é majoritariamente contrária à prática. Por isso, não é surpresa alguma que uma recém-publicada “Carta Aberta Brasil Mulheres”, cujas signatárias seriam “representativas de vários segmentos e setores da sociedade” – embora todos esses “segmentos e setores” estejam à esquerda e à extrema-esquerda do espectro político –, defenda claramente o direito ao aborto sem usar o termo uma única vez.

A expressão que mascara a defesa do aborto é “direitos sexuais e reprodutivos”, que começou a ser usada no contexto das conferências das Nações Unidas na década de 90 – especialmente a conferência sobre população, em 1994, no Egito; e a conferência sobre a mulher, em 1995, na China. De início, muita gente de boa vontade acabou iludida pelo palavreado, até porque o termo era vendido também como a defesa de direitos reais das mulheres, mas logo a farsa acabou desmascarada graças a defensores da vida atentos, que souberam ler nas entrelinhas e acompanharam os debates internacionais e seus desdobramentos. Hoje, praticamente ninguém familiarizado com a discussão sobre o aborto ignora o real significado do termo “direitos sexuais e reprodutivos”, mas ele continua sendo empregado na falta de disfarce melhor e porque ainda há uma parcela da sociedade que não percebeu o engodo.

No caso do aborto boa parte dos ministros do Supremo deixa de lado qualquer pudor

É no décimo dos 19 itens da carta que se defende a “manutenção e expansão dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”, pauta colocada ao lado da “promoção da saúde integral da mulher ao longo de todo o ciclo de vida, com especial atenção à mulher idosa” e da “valorização e defesa do SUS”, como se houvesse alguma equiparação moral possível entre a necessária atenção à saúde da mulher e um suposto direito de eliminar um ser humano indefeso e inocente ainda no ventre da mãe. Para que não fique nenhuma dúvida a respeito do que realmente se pretende neste documento, dirigido também aos candidatos nas eleições de outubro, basta perceber a quantidade de signatárias com histórico de defesa do aborto e ler o relato do jornal Folha de S.Paulo, segundo o qual uma das participantes da reunião teria dito que “a gente vive um momento no Brasil em que a gente não pode falar sobre o aborto, e isso é um grande problema. A gente precisa falar sobre os nossos direitos reprodutivos”.

Obviamente, a militante não está dizendo que há alguma censura em curso sobre o tema, mas apenas que deixar claras suas intenções é suicídio político em um país onde a maioria da população defende a vida por nascer, daí a necessidade de camuflar o discurso. Na verdade, podemos e devemos falar sobre o aborto, sobre o que ele realmente é – a eliminação, repetimos, de um ser humano indefeso e inocente –, sobre os riscos envolvidos, sobre as sequelas físicas e psicológicas que deixa. Tudo isso é convenientemente escondido por aqueles que propagam os tais “direitos sexuais e reprodutivos” – aparentemente, um direito que eles pretendem negar às mulheres é o de saber exatamente o que está em jogo quando se trata do aborto.


O aborto na França e o truque de linguagem (editorial de 14 de agosto de 2020)
A carta aberta ainda chama a atenção pelo nome de uma de suas signatárias: a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal. Apesar dos relatos de que ela teria deixado a reunião de elaboração do texto, ocorrida na casa da ex-ministra e ex-senadora Marta Suplicy, por discordâncias justamente sobre o tema do aborto, ela aparentemente não se incomodou com a redação final da carta a ponto de pedir que seu nome não fosse incluído.

Cármen Lúcia defendeu-se das críticas por ter assinado a carta afirmando que “no ofício, juiz não tem amigos, tem obrigações”. Pois uma de suas obrigações está no artigo 36 da Lei Orgânica da Magistratura, pelo qual o juiz não pode “manifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem”. E o Supremo tem pendentes de julgamento várias ações sobre a legalização do aborto, das quais a principal é a ADPF 442. Ao assinar uma carta que pede a “expansão dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”, e quando se sabe que a expressão nada mais é que uma camuflagem para a defesa do aborto, a ministra estaria deixando clara sua opinião sobre um tema que ela pode vir a julgar se a ADPF for levada a plenário.

Infelizmente, no caso do aborto boa parte dos ministros do Supremo deixa de lado qualquer pudor. Luís Roberto Barroso já “sequestrou” um julgamento sobre um habeas corpus para decidir que a proibição do aborto no primeiro trimestre de gestação seria inconstitucional, no que foi seguido por Edson Fachin e Rosa Weber. Esta última, por sua vez, na relatoria da ADPF 442 promoveu audiências públicas completamente enviesadas, em que o número de palestrantes a favor da legalização era muito maior que o de vozes contrárias; além disso, muitos pró-vida convocados tinham alguma ligação religiosa, em uma tentativa da relatora de transformar o debate em uma controvérsia religiosa, quando o aborto é, fundamentalmente, uma discussão ética e científica. Regras processuais e o dever de imparcialidade, ao que parece, nada valem quando se trata de relativizar o mais importante dos direitos, o direito à vida.


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CONGRESSO QUER RETIRAR IMPOSTOS DOS COMBUSTÍVEIS

Além de corte de impostos

Por
Célio Yano – Gazeta do Povo

Projetos na Câmara e Senado, de teor semelhante, propõem corte de impostos sobre combustíveis.| Foto: Pedro França/Agência Senado

Em uma disputa de protagonismo no combate ao alto preço dos combustíveis, duas propostas de emenda à Constituição (PECs) com teor semelhante foram apresentadas na última quinta-feira (3) na Câmara e no Senado. Os textos autorizam a redução de tributos que incidem sobre derivados de petróleo, porém sem a necessidade de se compensar a perda de arrecadação, driblando a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

A ideia vinha sendo trabalhada pelo próprio governo, mas enfrentava resistência da equipe econômica, preocupada com o impacto fiscal da medida. O ministro da Economia, Paulo Guedes, aceitava levar adiante a proposta, mas defendia que a desoneração ficasse restrita ao óleo diesel.

Na segunda-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse esperar do Congresso uma proposta para reduzir impostos sobre combustíveis e gás de cozinha, garantindo que zerará PIS e Cofins do diesel caso a medida seja aprovada.

A PEC protocolada na Câmara autoriza União, estados, Distrito Federal e municípios a promover, nos anos de 2022 e 2023, “redução total ou parcial de alíquotas de tributos de sua competência incidentes sobre combustíveis e gás”. Conforme o texto, o corte não demandará compensação, apenas estimativa de impacto e respeito às metas anuais de resultado fiscal.

Além dos tributos que incidem sobre combustíveis, a PEC abre margem para redução de alíquota, nos anos de 2022 e 2023, de qualquer outro tributo de caráter extrafiscal. Entram nessa classificação, por exemplo, IPI, IOF e Cide, considerados tributos regulatórios.

O texto foi apresentado pelo deputado federal Christino Áureo (PP-RJ), mas o jornal Valor Econômico revelou que o documento foi produzido na Casa Civil, mais especificamente no computador do subchefe adjunto de Finanças Públicas (SAFIN) da pasta, Oliveira Alves Pereira Filho.

Segundo apurou o UOL, a apresentação da proposta contou ainda com o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que não queria deixar com o Senado o protagonismo da pauta. Lira e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI) são considerados os líderes informais do Centrão, que atualmente está na base do governo no Congresso.

A ideia inicial era que o senador recém-empossado Alexandre Silveira (PSD-MG) assumisse a autoria da proposta, mas o plano foi abortado após o parlamentar se negar assumir a liderança do governo no Senado.

Ainda de acordo com o portal, Guedes soube da PEC pela imprensa durante uma viagem a São Paulo. A equipe econômica do governo é contrária à aprovação da proposta por considerá-la inviável financeiramente – o custo fiscal da desoneração de combustíveis seria de ao menos R$ 65 bilhões por ano. Caso a medida se aplicasse apenas ao óleo diesel, o impacto cairia para cerca de R$ 20 bilhões.


PEC no Senado prevê auxílio-caminhoneiro de até R$ 1,2 mil, vale-gás maior e subsídio para transporte coletivo
Poucas horas depois da apresentação da iniciativa na Câmara, o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) apresentou outra PEC com teor semelhante – a redação de alguns dos dispositivos é idêntica nas duas propostas. A iniciativa teria o apoio do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), correligionário de Fávaro.

Da mesma forma que a proposição da Câmara, o texto também autoriza reduzir os preços de combustíveis e energia por meio do corte de impostos sem que seja necessário apresentar fonte compensatória. Seu alcance, porém, é ainda mais amplo.

Em nota divulgada na noite de quinta-feira (3), Fávaro classificou a PEC apresentada na Câmara como “superficial” e disse que a proposta pode “ser engolida pela continuidade do aumento dos preços no mercado internacional”.

Entre as medidas previstas na PEC estão a criação de um auxílio-diesel de até R$ 1,2 mil por mês para caminhoneiros autônomos e a ampliação do vale-gás para cobertura de 100% do valor do botijão, em vez dos atuais 50%.

Além disso, cerca de R$ 5 bilhões seriam repassados a estados e municípios para subsidiar o transporte coletivo de idosos. “Precisamos de mecanismos para assegurar aos brasileiros o transporte público”, diz o deputado, “tendo em vista o aumento de gastos das operadoras de serviço devido ao aumento dos combustíveis e inflação de 2021.”

Em relação ao corte de impostos, o texto fala em autorizar, no período, União, estados e municípios a “promover a redução de tributos de suas competências incidentes sobre os preços de diesel, biodiesel, gás e energia elétrica, bem como outros tributos de caráter extrafiscal” – gasolina e etanol não são mencionados na redação.

A redução de carga tributária não exigiria compensação, apenas estimativa de impacto e “respeitar as metas anuais de resultado fiscal”. Como na proposta da Câmara, todas as ações previstas na PEC teriam duração de dois anos, para os exercícios de 2022 e 2023.

Na proposta, são citadas três fontes que custeariam as medidas:

Recursos consignados ao Fundo Social, incluído seu superávit financeiro, exceto aqueles vinculados à educação e saúde;
Dividendos pagos pela Petrobras à União;
Receitas auferidas pela União com leilões dos volumes excedentes da cessão onerosa do pré-sal.
“Por se tratar de medida extraordinária, com duração até dezembro de 2023, financiada com fonte própria que nunca foi utilizada para realização de nenhuma despesa primária, não faz nenhum sentido estar subordinada ao teto de gastos, nem a qualquer outra medida de limitação de realização de despesas, seguindo o mesmo princípio adotado para o Auxílio Emergencial”, afirma o senador na justificativa da PEC.

O senador agora trabalha para colher assinaturas de outros 26 parlamentares para iniciar a tramitação do texto – uma PEC precisa ser apresentada por pelo menos um terço dos senadores para ter validade. Iniciado o trâmite, a proposta precisa ser aprovada em dois turnos por três quintos de cada uma das Casas legislativas para ser promulgada.

Outras propostas também buscam baratear combustíveis

Além das duas novas PECs, outras propostas que tramitam no Congresso buscam reduzir o peso dos combustíveis no bolso dos consumidores. Um projeto de lei aprovado na Câmara e enviado ao Senado em outubro do ano passado prevê mudanças na forma de cobrança do ICMS sobre os derivados do petróleo.

Outra iniciativa, aprovada na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado em dezembro, dispõe sobre mudanças na política de preços da Petrobras e a criação de um imposto sobre a exportação de petróleo bruto e de um fundo de estabilização do valor dos combustíveis.

Relator de ambos os projetos, o senador Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou na terça-feira (1º) que também deve incluir um dispositivo que permita a desoneração do óleo diesel no pacote de matérias.


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ANO ELEITORAL E URNAS EM DISCUSSÃO

 

Ano eleitoral

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Edifício sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Edifício sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Esta terça-feira (1º) é dia de reabertura do Judiciário, neste ano eleitoral. E entre as primeiras pautas, estão as federações de partidos, inventadas porque as coligações foram proibidas e é preciso saltar por cima da cláusula de barreira que pega os nanicos; outro tema será a data de início para contar a inelegibilidade de oito anos da Lei da Ficha Limpa, outra hipocrisia igual à primeira, porque o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) já lavou a ficha de condenado em três instâncias que é hoje candidato, sem esquecer que foi o presidente do Supremo que presidiu o julgamento no Senado que baniu ad hoc da Constituição a inelegibilidade por oito anos da presidente condenada.

Não podemos nos queixar que estejam ocultando algo, porque claramente podemos acompanhar os movimentos. Tudo é feito em nossa cara, talvez na aposta de que não pensamos nem somos capazes de imitar os caminhoneiros canadenses. São evidentes as ações para fustigar o candidato à reeleição.

A obrigatoriedade de um presidente da República comparecer pessoalmente diante de um delegado da Polícia Federal na última sexta-feira (28), pode ser incluída no conjunto de provocações, como apreender o telefone celular do chefe de Estado, ou de impedi-lo de nomear um subordinado, ou de tornar pública reunião interna da Presidência, entre outras.

O tal “vazamento” do inquérito dos hackers no TSE não existiu, porque se refere a documentos distribuídos aos deputados pelo relator da Comissão Especial da PEC do Voto Impresso, deputado Felipe Barros. A comissão aprovou a requisição à Polícia Federal e recebeu os inquéritos de invasão de computadores do TSE. Não havia sigilo sobre os documentos. O delegado federal que trabalhou no caso confirmou, em depoimento, que não havia sigilo no inquérito.

O caso é de extrema gravidade, pois levanta preocupações do eleitor sobre a segurança da contagem de seu voto. Quando o presidente se manifestou sobre a violação do sistema do tribunal, aí apareceu a versão do sigilo desrespeitado, corroborada pela delegada escolhida por Alexandre de Moraes para tocar o caso.

O assunto, de 2018, estava dormido, mas a insistência do ministro Moraes despertou novamente a polêmica. Por que não emitir um comprovante, como fazem as maquininhas de cartões de crédito, como garantia de checagem, se houver dúvida? Seria tão simples. Por que ter medo disso? Além de tudo, o TSE comprou, em 2020, 180 mil urnas da Positivo, com entrada para impressora. Se as Forças Armadas vão acompanhar, a convite do TSE, certamente não será para endossar qualquer disfunção no cômputo dos votos. O mais difícil para alguns do TSE será deixar cristalina a isenção requerida em relação à disputa eleitoral.

Uma ministra do Supremo recém participou de reunião política em São Paulo. Há poucos meses, oito do Supremo decidiram que o condenado duas vezes em três instâncias, é elegível – e é o principal adversário do candidato à reeleição, que tem sido fustigado por juízes do mesmo tribunal, que integram o TSE. Vão ter que fazer um esforço sobre-humano para ganhar confiança do dono da eleição, que é o eleitor, que certamente tem acompanhado de rabo de olho toda a movimentação dos que vão apurar o voto que é origem do poder.


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CHINA E RÚSSIA INTENSIFICAM AMIZADE PELO MESMO INTERESSE

 

Nos Jogos de Inverno
Por
Agência EFE – Gazeta do Povo

Ditador chinês disse que China e Rússia “salvaguardam o verdadeiro espírito da democracia”| Foto: EFE/EPA/ALEXEI DRUZHININ/KREMLIN/SPUTNIK

China e Rússia intensificarão “sem descanso” a coordenação estratégica e enfrentarão juntas as “ingerências externas e as ameaças à segurança regional”, afirmou nesta sexta-feira (4) o ditador do país asiático, Xi Jinping, durante reunião com o presidente russo, Vladimir Putin.

“Isso é algo que não mudou e não mudará. Respeitamos a soberania do outro, assim como seus interesses de segurança e desenvolvimento. Encararemos as ingerências exteriores e as ameaças à segurança nacional”, afirmou o presidente chinês, no primeiro encontro em dois anos com o líder da Rússia, ocorrido nesta sexta em Pequim.

A reunião aconteceu em meio às crescentes tensões dos dois países com os Estados Unidos.

Putin chegou à Pequim para acompanhar a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno e comemorou que as relações da Rússia com a China gozem de “uma proximidade sem precedentes”. O líder do Kremlin destacou que o gigante asiático é o parceiro estratégico “mais importante e um amigo próximo”.

Com a crise na Ucrânia e as tensões relacionadas a Taiwan, Xi Jinping foi enfático ao dizer que China e Rússia se comprometeram a “aprofundar sem descanso a coordenação estratégica” e a “defender a igualdade e a justiça internacional”.

Os dois países, além disso, emitiram um comunicado conjunto sobre a entrada das relações internacionais “em uma nova era”, em que são expostas “posições comuns” sobre democracia, ordem, desenvolvimento e segurança.

“Participamos ativamente na reforma e na construção do sistema de governança global, praticando o multilateralismo, salvaguardando o verdadeiro espírito da democracia. Exercemos um papel essencial na hora de unir a comunidade internacional para superar as dificuldades e preservar a justiça e a igualdade internacional”, afirmou Xi.

Putin, por sua vez, destacou que, desde a chegada de ambos ao poder na China e na Rússia, os respectivos governos se apoiam mutuamente “em todo tipo de matéria”, incluindo a política exterior e o desenvolvimento econômico. Além disso, que os laços entre os países são “um modelo do que devem ser as relações internacionais no século XXI”.

Segundo o presidente russo, o objetivo do aprofundamento das relações entre as nações visa “preservar os interesses em comum”, mas também “a segurança de todo o mundo”.

Putin acrescentou que os dois países devem, igualmente, apostar na cooperação em projetos de energia e que essa parceria deve aumentar com a distribuição de gás natural.


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FORMAS DE REDUZIR OS AUMENTOS CONSTANTES DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS

 

  1. Economia 

Uma redução de volatilidade e dos preços no curto prazo só será possível mexendo na parcela de impostos

Adriano Pires*, O Estado de S.Paulo

A discussão sobre o preço dos combustíveis vem ganhando cada vez mais tração, diante de um cenário de rally do preço do barril de petróleo e no ambiente das eleições. As propostas colocadas na mesa são muitas e vão desde a criação de um fundo de estabilização, mudanças nos tributos federais e estaduais, passando por ideias populistas, como imposto de exportação sobre o petróleo e política de preços baseada nos custos de extração do petróleo e de refino. E sempre paira no ar um medo de retrocesso, com a possível volta de intervenção na Petrobras. Mas o que podemos fazer e como fazer?

Em primeiro lugar, é fundamental entender que o que devemos buscar é a redução da velocidade da volatilidade dos preços no bolso do consumidor, mais do que gasolina e diesel baratos. Para atingir essa meta, temos de compreender como se forma o preço dos combustíveis. Os preços dos combustíveis no Brasil são compostos do preço na refinaria, das margens de distribuição e revenda e de uma parcela de impostos federais e estaduais. Além disso, no caso da gasolina, ainda influencia no seu preço final a mistura de 27% de etanol anidro e, no diesel, os 10% de biodiesel

Posto de gasolina
Posto de combustível em São Paulo; caso a taxa de câmbio hoje fosse R$ 4,50, os preços da gasolina e do diesel seriam reduzidos em algo como 14% Foto: Daniel Teixeira/ Estadão – 1/10/2021

No preço da refinaria incide a política de paridade de importação (PPI), determinada pelos preços no mercado internacional, variável exógena, fora do nosso controle, e do câmbio que reflete o grau de confiança na economia brasileira. Para ter uma ideia da importância do câmbio, caso a taxa de câmbio hoje fosse R$ 4,50, os preços da gasolina e do diesel seriam reduzidos em algo como 14%. Primeira conclusão: a taxa de câmbio tem sido uma grande vilã, igual ou pior do que o preço do petróleo.

Outro ponto importante é o fato de que as margens de refino, de distribuição e revenda são baixas e isso é uma característica da indústria do petróleo mundo afora. Ou seja, não é discutindo a redução de margem que vamos diminuir a volatilidade e os preços dos combustíveis.

Dito isso, a segunda conclusão é que uma redução de volatilidade e dos preços no curto prazo só será possível mexendo na parcela de impostos.

É bom que fique claro que os impostos não são a causa do aumento nos preços, mas os preços são altos e muito voláteis na bomba, em função da metodologia de cálculo dos impostos, em particular, do ICMS.

Terceira conclusão: no curto prazo precisamos ter um ICMS reais/litros calculado com prazos mais longos do que os atuais 15 dias; no médio prazo, esperar a valorização do real ante o dólar; e no longo prazo, ter um fundo de estabilização ou um novo imposto como política estrutural de redução da volatilidade. 

*DIRETOR DO CENTRO BRASILEIRO DE INFRAESTRUTURA (CBIE)

LIÇÃO DE VIDA AO RECUPERAR DAS DROGAS

 

  1. Cultura 

Ele conta como acabou se envolvendo com outros espetáculos do ‘Satyros’ e foi incorporado ao grupo

Gilberto Amendola, O Estado de S. Paulo

O revólver continua nas mãos de Alex de Jesus. Desta vez, ele não passa de um objeto cenográfico, incapaz de ferir alguém. Mas, há 10 anos, quando ainda era um menino de 13, o cano, o berro, a ferramenta em questão não tinha nenhuma função lúdica. A vida dele nunca foi de festim. 

Na véspera da reestreia do espetáculo Pessoas Brutas, Alex recebeu a reportagem do Estadão no Espaço Satyros, na Praça Roosevelt, região central de São Paulo. No teatro vazio, ele narrou a própria história – o caminho percorrido entre o dia em que saiu algemado da escola até sua descoberta como artista e sua formação como advogado.

Os pais de Alex vieram da Bahia e se instalaram na comunidade Filhos da Terra, na zona norte. O sustento da família vinha do trabalho do pai como pedreiro e da mãe como empregada doméstica. Em uma madrugada de 2011, Alex e o irmão mais velho foram acordados pela água da chuva que invadia o quarto em que dormiam. “Perdemos quase tudo. Neste dia, tive um estalo: eu precisava ganhar algum dinheiro para ajudar meus pais”, falou. 

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Do fundo do poço para uma vida com esperança, Alex de Jesus se reinventou  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Aos 12 anos, arrumou um “trampo” de pedreiro (ajudando o pai), depois em shopping e, finalmente, como cobrador em lotação. “Eu ficava na janela da perua gritando o itinerário. No fim do dia, dava uns 30 contos”, lembrou. Logo, Alex entendeu que aquilo não era o suficiente para ajudar sua família.

 “Na quebrada, a gente conhece todo mundo. Sempre andei com os mais velhos. Cresci junto dos bandidos mais considerados da época”, contou Alex. Esse “conhecimento” fez com que os irmãos começassem a trabalhar como leva e traz de dinheiro para um chefão da região. A função, como é de se imaginar, exigia algum grau de proteção. “Meu irmão conseguiu o revólver. A gente não usava para roubar. Era proteção.”

O tal revólver era levado para todos os cantos – inclusive para a escola. Até que, um dia, a presença de uma arma em sala de aula foi denunciada. A polícia fez uma revista minuciosa em todos os alunos e acabou encontrando o que procurava dentro da mochila de Alex. “Saí da escola algemado e de camburão”, lembrou. 

Alex foi encaminhado para o 73.ª DP (Jaçanã) e depois transferido para a unidade do Belenzinho da Fundação Casa. A passagem foi breve, mas serviu para que ele entendesse a tristeza da mãe – que sempre sonhou em ver o filho “doutor”. Além disso, durante sua audiência de soltura outra coisa capturou a atenção de Alex. “Aqueles homens de terno, os advogados. Aquelas figuram me marcaram”, disse.

Em liberdade assistida, Alex foi fazer serviços comunitários – primeiro perto da escola onde tinha sido preso; depois, na Fábrica de Cultura do Jaçanã. Ao mesmo tempo, voltou a estudar. “Em uma das escolas, a gente precisava fazer trabalhos extraclasse. Foi quando me sugeriram fazer teatro. Faltava gente, não tinham homens. Eu, que nunca tinha visto uma peça e nem sabia direito o que era teatro, acabei aceitando. A peça era As Bacantes e eu fazia Dionísio”, lembra.

O espetáculo escolar foi parar no festival Satyrianas (organizado pelo grupo Satyros). A performance de Alex fez com que ele fosse convidado para o Satyros Teens (projeto teatral com alunos de 14 a 17 anos da rede pública). “Minha primeira reação foi falar que não, que meu negócio não era teatro. Só que me contaram sobre a bolsa de R$ 600. Topei na hora.”

O dinheiro serviu para que Alex começasse a pagar a mensalidade do curso de Direito. Ele acabou se envolvendo com outros espetáculos do próprio Satyros e incorporado à companhia. A história poderia terminar aqui – mas a grana ainda não era o suficiente e Alex decidiu retomar seus velhos contatos: começou a vender drogas. Neste período, tomou outra decisão ruim. “Resolvi experimentar. Aí já era. Todo dinheiro que eu ganhava ia para o vício.” O resultado foi uma convulsão que o fez apagar. “Só acordei no hospital, com minha mãe chorando ao lado.”

Neste dia, fez uma promessa: realizaria o sonho da mãe de ter, enfim, um filho doutor. Depois do susto e do juramento, retomou o pé da vida, passou a frequentar reuniões dos Narcóticos Anônimos, largou o tráfico e voltou às aulas na faculdade e ao teatro.

 E foi em um debate após uma apresentação que um homem perguntou se Alex queria viver de arte. “Quero viver de arte, mas preciso pagar as contas. Estou no terceiro ano de Direito e procurando estágio na área”, respondeu. Na saída, o homem entregou-lhe um cartão. “Me ligue amanhã”, disse. 

Mesmo desconfiado, Alex ligou. Conseguiu uma entrevista em um grande escritório de advocacia na Avenida Faria Lima. “Quando cheguei, já sabiam da minha passagem pela Fundação Casa. Também fui honesto dizendo que não sabia nem mexer em computador, mas tinha muita vontade de aprender.”

Alex foi admitido. A partir daí, começou a levar as duas paixões, o teatro e o Direito. Duas semanas atrás, no 20 de janeiro, foi aprovado no exame da OAB. “Minha mãe estava na laje de casa quando dei a notícia. Nos abraçamos e choramos por uns 10 minutos”, contou. No trabalho, foi admitido como associado do escritório. 

Como advogado, quer desenvolver trabalhos para a comunidade em que mora, na zona norte. Como ator, está em Pessoas Brutas e, em breve, estará na segunda temporada da série Pico da Neblina (HBO). Mas Alex ainda tem um sonho. “Quero investigar outros lados da minha personalidade, quero que meus próximos trabalhos tirem a arma da minha mão”, concluiu.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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