quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

RODAS DE ALUMÍNIO FAZEM ECONOMIZAR COMBUSTÍVEL

Éden Felipe – Italspeed

Em tempos de pandemia, é natural que os grandes frotistas busquem recursos para otimizar os valores das entregas

Existem muitas variáveis que impactam o valor de um frete, porém já é fato que as duas principais despesas para um frotista estão no combustível e nos pneus. Uma das saídas para reduzir cerca de 4% do uso de óleo diesel e de 10% do uso dos compostos é aplicar rodas de alumínio no lugar das de aço.

Nos EUA e na Europa, este hábito é muito comum e no Brasil, uma pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) identificou que o uso de rodas de alumínio é uma das principais tecnologias encontradas pelos frotistas para aumentar a autonomia da frota e consequentemente reduzir o consumo de combustível.

O segredo do sucesso está no fato de as rodas feitas com o metal nobre deixarem o veículo em média 500 kg mais leve, algo em torno de 30 kg por roda. Se a conta com o caminhão descarregado já é vantajosa, imagine quando se consegue reverter o peso conquistado em carga, aumentando a capacidade para meia tonelada de grãos ou de produtos.

Outra conta feita por especialistas é que, por dissipar melhor o calor, o alumínio preserva superiormente as lonas e pastilhas dos veículos, além de contribuir para um menor consumo dos pneus.

Éden Felipe, técnico comercial da Italspeed, fabricante de rodas para fabricantes como GM, Fiat, Volkswagen, Renault, PSA, Ford, Mitsubishi e exportadora, coloca que está comprovada a eficiência e as vantagens das rodas de alumínio. Ele ressalta que além dos argumentos da autonomia e do consumo dos pneus, os modelos em alumínio são 40% mais resistentes e não exigem retoques de pinturas, reduzindo o custo operacional de operação em 30%.

“É preciso entender as demandas do consumidor moderno que tem as decisões na palma da mão e que buscam um excelente custo benefício. Por isso, sabemos que ao oferecer produtos mais leves, mais resistentes e feitos de material 100% reciclável é uma forma de contribuir para soluções inovadoras e inteligentes”, explica ele.

Entendendo a necessidade deste mercado e de olho nas tendências, a DPaschoal iniciou a revenda dos modelos da Italspeed em setes Trucks Centers localizados nas cidades de Batatais, Barretos, Catanduva, Jaboticabal, Sertãozinho e em duas lojas de Ribeirão Preto.

De acordo com o Bruno Gomes, diretor de operações da DPaschoal, oferecer produtos de qualidade e maneiras para os frotistas encontrarem a melhor maneira de trabalhar está no DNA da companhia. “As rodas de alumínio chegam em um momento em que o agronegócio continua em expansão, assim como o de logística, por isso, a nova opção se torna uma saída para o motorista ou frotista que busca uma alternativa melhor para o seu negócio”, finaliza.

 

MELHORES EMPREGOS ESTÃO NA ÁREA DE TECNOLOGIA

 

  1. Economia 
  2. Sua Carreira 

Aponta estudo

Pesquisa do LinkedIn mapeou as oportunidades que mais cresceram no Brasil nos últimos quatro anos e vão movimentar o mercado de vagas este ano

Redação, O Estado de S.Paulo

A adaptação para o modelo híbrido de trabalho e a digitalização das atividades têm feito as empresas buscarem profissionais capazes de melhorar a experiência do usuário, gerenciar grande quantidade de dados e zelar pela cibersegurança. Por isso, engenheiro e cientista de dados, bem como especialista em segurança cibernética, estão entre os 25 empregos em alta para 2022, de acordo com levantamento do LinkedIn. No geral, a área de tecnologia se destaca entre as oportunidades que vão movimentar o mercado de vagas este ano.

A rede profissional analisou os empregos que mais cresceram nos últimos quatro anos e meio no Brasil e levou em consideração dados próprios para identificar os cargos que tiveram maior demanda entre janeiro de 2017 e julho de 2021. Foram excluídos os estágios, cargos voluntários, cargos interinos e cargos dos estudantes, além daquelas vagas em que a contratação era dominada por um pequeno grupo de empresas no País.

Uma vez que TI e análise de dados serão as competências mais requisitadas, há necessidade também de recrutadores especializados em tecnologia, a fim de ter um processo seletivo adequado. A importância desse profissional explica o motivo deste cargo aparecer na primeira posição da lista. Antes de serem contratados nesta posição, os profissionais ocupavam cargos analista de recursos humanos, recrutador e assistente administrativo.

Trabalho
Tecnologia é a área que terá mais empregos demandados em 2022, segundo pesquisa do LinkedIn. Foto: Nappy.co/@WOCInTech

Milton Beck, diretor geral do LinkedIn para América Latina, comenta que esse cenário se repete em diversos países e a necessidade das empresas por cargos de tecnologia aumenta ano após ano. Além do Brasil, ele diz que México e Espanha são um mercado promissor para os profissionais da área. No País, as cidades que mais apareceram no ranking de oportunidades são São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

O especialista acrescenta que essas profissões em destaque estão mudando a demanda por competências e direcionando o mercado de trabalho do futuro. “As habilidades comportamentais continuam sendo essenciais, mas estamos vendo uma procura maior por especialização nestas áreas. Em outros países, como os Estados Unidos, também vemos essas profissões, mas por já estarem mais consolidadas, observamos ainda outras ligadas à diversidade, sustentabilidade, biologia molecular e especializações em vacina, por exemplo”, afirma.

Confira os 25 empregos em alta para 2022:

  1. Recrutador(a) especializado(a) em tecnologia
  2. Engenheiro(a) de confiabilidade de sites (Site Reliability Engineer – SRE)
  3. Engenheiro(a) de dados
  4. Especialista em cibersegurança
  5. Representante de desenvolvimento de negócios
  6. Gestor(a) de tráfego
  7. Engenheiro(a) de machine learning
  8. Pesquisador(a) em experiência do usuário
  9. Cientista de dados
  10. Analista de desenvolvimento de sistemas
  11. Engenheiro(a) de robótica
  12. Desenvolvedor(a) Back-end
  13. Gerente de engajamento
  14. Gerente de equipe de produto
  15. Engenheiro de QA (Quality Assurance)
  16. Consultor(a) de gestão de dados
  17. Líder de experiência do cliente
  18. Analista de design
  19. Analista de soluções
  20. Analista de gestão de riscos
  21. Consultor(a) de design de produto
  22. Coordenador(a) de vendas internas
  23. Enfermeiro(a) intensivista
  24. Designer de conteúdo
  25. Instrutor(a) de Agile

O levantamento do LinkedIn também traz, para cada cargo, as competências e os setores mais comuns, as cidades que mais contratam, as principais posições ocupadas pelo profissional antes de ser contratado, divisão por gênero e as vagas disponíveis atualmente. Veja aqui.

Mas o desafio do mercado de tecnologia segue sendo suprir a alta procura. Relatório da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom) publicado em dezembro aponta que 53 mil pessoas se formam por ano em cursos de perfil tecnológico no Brasil, enquanto a demanda média anual é de 159 mil profissionais. Ou seja, um déficit de 106 mil talentos.

Planejamento de carreira em 2022

Outra pesquisa feita pelo LinkedIn, entre 10 e 15 de dezembro do ano passado, mostra que 49% dos 1.118 profissionais brasileiros entrevistados consideram mudar de emprego este ano. Essa porcentagem é mais alta para aqueles entre 16 e 24 anos (61%). Os dois principais motivos para essa mudança são: busca por melhores salários e desejo por maior equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Esse resultado corrobora um levantamento da empresa de recrutamento Robert Half, que entrevistou empregados com mais de 25 anos de idade. Remuneração maior também é uma razão latente para trocar de emprego em 2022, além do desejo de inovar ou aprender algo novo (19%), da busca por realização pessoal (17%) e a expectativa de uma melhor qualidade de vida (12%).

Ainda segundo o LinkedIn, quase metade dos profissionais (49%) afirmam que a pandemia afetou negativamente a confiança no trabalho e uma das explicações é a síndrome do impostor. No Brasil, 43% dos respondentes dizem que não sentem que são bons o bastante em suas funções, número superior do que encontrado em países como Itália (34%), França (36%), México (38%), Alemanha (39%) e Espanha (41%).

“Vemos que há uma diferença cultural muito forte neste quesito, que tem afetado a confiança dos trabalhadores na hora da busca por um novo emprego ou planejamento de carreira. Vale dizer, no entanto que, apesar disso, vemos uma tendência de movimentação grande em um futuro próximo. Mais do que as vagas abertas, esperamos que esta lista ajude os brasileiros a entenderem os rumos do mundo do trabalho e as oportunidades no longo prazo”, diz Milton Beck.

O MARKETING E A INOVAÇÃO PRODUZEM RESULTADOS

 

Peter Drucker

Os factos históricos relacionados com o desempenho das empresas ajudam, na maioria dos casos, a esclarecer sobre de que lado está a razão. A recente aquisição da Burger King pela ‘private equity’ 3G Capital, no valor de 4 mil milhões de dólares pode constituir um bom exemplo desse confronto.

A Burger Kink é a segunda maior cadeia de ‘fast food’ nos EUA, atrás da McDonald’s mas as suas vendas têm vindo a claudicar nos últimos 2 anos, supostamente em função da crise económica.

Todavia, penso que podemos encontrar outro tipo de resposta se fizermos uma análise séria ao posicionamento destas 2 marcas, colocando a seguinte questão: qual tem sido verdadeiramente a variável de diferenciação da Burger King face ao líder? Como marca número 2, a Burger King deveria ter uma vantagem competitiva globalmente reconhecida pelos consumidores. Mas não tem!

A história conta-nos que quando a McDonald’s expandiu o seu menu para os pequenos-almoços, a Burger King fez precisamente o mesmo; quando acrescentou ao menu os “chicken nuggets”, a Burger King acrescentou os “chicken tenders”; quando criou um menu para crianças e um parque infantil, a Burger King criou um menu para crianças e um parque infantil.

Nesta estratégia constante de “me too” a única coisa que a Burger King não conseguiu alcançar foram os resultados produzidos pela McDonald’s, uma vez que, nos EUA, um ponto de venda Burger King, factura cerca de 33% menos que um McDonald’s.

No 2º trimestre de 2010, apuraram-se os seguintes resultados:

as vendas da McDonald´s subiram quase 5%; as da Burger King caíram 0,7%

os resultados da Mcdonald’s atingiram quase 1,5 mil milhões de euros; a Burger King apenas chegou aos 58 milhões euros

Não havendo diferenciação visível é difícil produzir resultados, ainda por cima quando se vende menos um terço do que o concorrente, em cada ponto de venda.

Nos últimos 15 anos passaram pela empresa 9 CEO’s, outros tantos CMO’s e várias agências de publicidade. É perfeitamente compreensível que a Burger King tenha conhecido este epílogo.

Por isso, não me parece que o problema da quebra de vendas da Burger King se deva à crise. Essa mesma crise contribuiu para aumentar as vendas da McDonalds em mais de 20%, desviando consumidores dos restaurantes tradicionais.

O problema é de Marketing! E com esta operação de aquisição, a 3G Capital tem um enorme desafio pela frente. Diminuir o fosso face ao líder, diferenciando-se. É preciso coragem para fazer o oposto do líder, pois o que funciona para este não funcionará para a marca nº2.

Só será possível manter o mesmo posicionamento se a Burger Kink encontrar novas áreas geográficas, onde não existam McDonald’s. O problema é que a McDonald’s tem mais de 31 mil restaurantes, está presente em 120 países, onde atende mais de 58 milhões de clientes por dia.

Fica difícil, se continuarem a fazer o mesmo.

O marketing e a inovação produzem resultados: tudo o resto são custos

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

AS VIRTUDES QUE UM BOM POLÍTICO DEVE TER

 

Artigo
Por
Valdemar Bernardo Jorge – Gazeta do Povo

Detalhe da “Alegoria do bom e do mau governo”, de Ambrogio Lorenzetti.| Foto: Reprodução

Conta-se que certo imperador da China medieval, ao sair com seu exército para debelar um grupo de revoltosos numa província afastada, jurou diante das tropas que acabaria completamente com aqueles seus inimigos. Chegando lá, tratou-os com tal brandura e amabilidade que eles desistiram da revolta, deixando as forças imperiais ociosas e indignadas. Alguns generais, então, censuraram o imperador, interrogando se era daquela forma, anistiando os rebeldes, que ele julgava estar cumprindo o seu juramento inicial de destruir totalmente os seus inimigos. A isso, o imperador respondeu: “Eu cumpri o que prometi. Não derramei sangue, mas onde estão os meus inimigos agora?”

Esta pequena história ilustra uma aplicação sábia de algumas das virtudes mais importantes que o líder político deve cultivar: a magnanimidade, que é aquela grandeza de alma que só os espíritos realmente nobres possuem, a prudência no uso da força e da autoridade, a clemência com os que erram e a paciência diante das situações desafiadoras.

O sentido da virtude
“Virtude” vem do latim virtus, que remete a “força moral”, “valor”, “hombridade”, e é derivada justamente da palavra vir, que significa “homem”, “varão”. Disto, concluímos que o homem de personalidade madura é necessariamente virtuoso; ele imprimiu no seu caráter traços habituais de justiça e autodomínio, é senhor de si, seus impulsos não sobrepujam os valores do seu espírito – por isso não se deixa levar por paixões desordenadas como a ira, a cobiça, a soberba ou a comodidade.

Os gregos antigos falavam da virtude como areté, que significa excelência, inclinação para a perfeição, e era entendida como uma condição para a vida boa e feliz. A areté denotava o cumprimento do verdadeiro propósito ao qual todo ser humano é destinado nesta vida: desenvolver os seus melhores potenciais, seus melhores atributos e tornar-se uma pessoa excelente. Não se tratava apenas de ser competente e eficiente no trabalho ou disciplinado na vida pessoal, mas um bom homem, uma boa mulher, no sentido pleno da palavra “bondade”.


Política raiz: nem individualismo, nem coletivismo
O filósofo Platão e o livro bíblico da Sabedoria (Sb 7,8) elencaram quatro virtudes cardeais: a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança. A primeira é confundida por muitos com uma mera “cautela” que poderia, inclusive, acabar resvalando em covardia, mas não é essa a verdadeira prudência. Ela, na realidade, é aquela que serve de eixo para todas as outras virtudes na medida em que dispõe a inteligência para discernir o bem em qualquer situação e optar pelos justos e melhores meios de alcançá-lo. “Ela é origem, raiz, mãe, padrão, fio de prumo, piloto, forma primordial de todas as virtudes morais”, diz Josef Pieper.

A justiça, por sua vez, é a vontade firme de assegurar aos outros o que lhes é devido e não tirar deles o que por direito lhes pertence. A fortaleza consiste na resistência corajosa perante as dificuldades e numa impávida constância na busca pelo bem. Por fim, a temperança evoca o domínio da reta razão e da vontade equilibrada sobre os instintos, moderando o nosso desejo dos bens e prazeres terrenos. Ora, se notamos que tais virtudes são importantes e úteis para o homem comum, com muito mais razão reconhecemos que os estadistas, legisladores, juízes e lideranças em geral devem se deixar conduzir por elas.

Descobrimos em Aristóteles que as virtudes não são adquiridas de uma hora para outra, nem pela mera aceitação mental, e tampouco mediante uma simples decisão de momento. Elas se formam em nós por meio de bons hábitos cultivados por um longo período de tempo com determinação e perseverança. Há um processo de educação dos próprios hábitos que precisa ser empreendido, já que a nossa natural inclinação é, geralmente, para o vício. Não há outro modo de adquirir a virtude. E todo candidato político ou magistrado que não esteja disposto a passar por esse processo certamente não está pronto para governar, legislar ou julgar.

O homem de personalidade madura é necessariamente virtuoso; ele imprimiu no seu caráter traços habituais de justiça e autodomínio, é senhor de si, seus impulsos não sobrepujam os valores do seu espírito

Nos tempos da cavalaria produziam-se os chamados “espelhos de príncipes”: manuscritos de formação moral geralmente redigidos por padres e destinados a imbuir nos príncipes e nobres em geral, desde a juventude, um amor pelo procedimento reto, benévolo e virtuoso, com lições destinadas a prepará-los para o justo exercício do poder.

Também as artes visuais, como a pintura e a escultura, foram empregadas com este tipo de finalidade político-pedagógica. Exemplar, neste sentido, é a Alegoria do bom e do mau governo, um afresco pintado em Siena na primeira metade do século 14 por Ambrogio Lorenzetti. Nele, vemos o bom governante assistido pelos anjos da caridade, da fé e da esperança e rodeado pelas figuras alegóricas da prudência, da temperança, da justiça (assistida pela sabedoria), da fortaleza, da magnanimidade e da paz. Doutra parte, o mau soberano é representado com feições diabólicas e aparece assessorado pela soberba e suas filhas: a crueldade, a traição, a avareza, a vanglória, a maldade, o furor, a divisão e a guerra.

No seu opúsculo De Regno, ou Carta ao Rei de Chipre, São Tomás de Aquino faz a distinção entre “reis” e “tiranos”, e recorda que “cumpre ao rei procurar o bem da multidão”. Ele não deve usar o poder, portanto, para servir a si mesmo, sobrecarregando os súditos com impostos ou abusando da sua autoridade sobre eles. Ao contrário, o poder lhe foi dado para servir ao seu povo, protegê-lo das ameaças internas e externas, socorrê-lo em suas necessidades mais urgentes, propiciar-lhe os meios de desenvolvimento pessoal e coletivo; enfim, ajudá-lo a construir uma sociedade sã, próspera e virtuosa. Em suma, o soberano deve servir ao bem comum, em tudo aquilo que este conceito abarca.

Vícios do mau político
Ser fiel à vocação para o serviço público exige, certamente, um alto grau de generosidade e desprendimento, pois o poder sempre traz consigo a tentação de usá-lo para fins escusos. A lisura no uso dos bens públicos deveria ser um pré-requisito para o exercício de qualquer função política. A Lei da Ficha Limpa, teoricamente, deveria cumprir essa função de filtragem, tornando inelegível qualquer político condenado por corrupção. Mas já vimos que ela não funciona quando o corrupto condenado em questão tem o favor dos que “podem mais” ou as graças da suprema corte jurídica.

De fato, para se engajar na política e não se deixar corromper é preciso coragem, integridade e amor à verdade. O político que mente uma, duas, três vezes acostuma-se a esse vício e sua língua logo se torna alérgica à verdade. “A opção pela verdade deve ser refeita diariamente, entre as hesitações e dúvidas que constituem o preço da dignidade humana”, defendia Olavo de Carvalho. Mas há autores políticos de referência que, em nome da “governabilidade” ou do poder como um fim em si mesmo, pregaram justamente o engano e a fraude nas questões de governo – vícios totalmente opostos à formação do bom político.

Nicolau Maquiavel, famoso pensador político, escreveu uma obra no século 16 chamada O Príncipe. Nela, o autor aparta o exercício da política das normas da moralidade, como se a política fosse isenta da ética e independente do reto agir. O que Maquiavel se presta a ensinar ali são “máximas de gangsterismo público e privado”, nas palavras de Leo Strauss.  Apesar disso, ela se tornaria amplamente difundida como referência para gerações de políticos modernos.

Para se engajar na política e não se deixar corromper é preciso coragem, integridade e amor à verdade. O político que mente uma, duas, três vezes acostuma-se a esse vício e sua língua logo se torna alérgica à verdade

Com o seu revolucionário conceito de virtù, Maquiavel distorceu o significado da virtude e operou uma completa inversão das lições encontradas nos “espelhos de príncipes” medievais: o príncipe dotado de virtù agora deveria ser capaz de conquistar o poder, centralizá-lo e mantê-lo por todos os meios, ainda que desonestos e violentos, estabelecendo, assim, objetivos bem menos dignos para a atividade política.

A própria Bíblia traz vários contraexemplos interessantes que servem de exortação ao político que quer de fato servir ao bem comum e resistir às tentações da injustiça. Encontramos nela, por exemplo, o caso do rei Acab, que ambicionava as terras onde estavam a vinha do lavrador Nabot e, com a ajuda da rainha Jezabel, tramou para que Nabot fosse morto a fim de se apoderar de suas terras. Há também o caso do rei Davi, que isolou o soldado Urias na linha de frente da batalha contra os amonitas para eliminá-lo e ficar com sua mulher, Betsabá.

A desonestidade e as várias formas de injustiça, contudo, não são os únicos defeitos contrários à virtude do político e que o afastam do autêntico espírito de serviço ao bem comum. O filósofo Alasdair MacIntyre, autor de Depois da Virtude e um dos mais argutos críticos da ética contemporânea divorciada da ética das virtudes, chama a atenção para o problema do foco na eficiência burocrático-administrativa que supervaloriza resultados de gestão e desconsidera valores mais fundamentais, como a dignidade, a moral e os bens imateriais do homem.


A política raiz e o castigo para quem não se envolve na política
Igualmente problemática é a postura daquele que só se importa com o desempenho da economia, como se esta pudesse subsistir incólume à degradação geral da cultura e da educação, como se fosse possível haver prosperidade em meio ao esgarçamento das famílias e da sociedade. Ou seja, um político pode ser altamente “eficiente” e honesto, mas, ainda assim, um agente nocivo para o corpo social.

As ideologias e o partidarismo cego, tanto quanto a mentira dita por interesses pecuniários ou sede de poder, contribuem para a perversão da política e desvirtuam igualmente a conduta do homem público. Este precisa se comprometer desde o começo, portanto, com uma visão equânime e sem juízos enviesados. Por isso, em sua bela carta-testamento dirigida ao seu filho, o rei São Luís IX precavia o futuro soberano da França contra os desvios de propósito e de discernimento: “Guarda o teu coração compassivo para com os pobres, infelizes e aflitos, e quando puderes, auxilia-os e consola-os… Em relação a teus súditos, sê justo até o extremo da justiça, sem te desviares nem para a direita nem para a esquerda… Procura com empenho que todos os teus súditos sejam protegidos pela justiça e pela paz”.

Humildade, prontidão, coerência de vida
Também a humildade é uma qualidade que precisa acompanhar o político que queira servir com verdadeiro espírito público. Conta-se que o imperador romano Marco Aurélio, alcunhado “o filósofo”, mantinha perto de si um servo cuja função era lhe dizer sempre aos ouvidos, sobretudo quando o imperador era louvado pelos outros: “És apenas um homem, és apenas um homem!”

Leo Strauss também recorda que “a filosofia grega e a Bíblia concordam em atribuir o lugar mais alto entre as virtudes não à coragem ou virilidade, mas à justiça. E, por justiça, ambas entendem, primeiramente, a obediência à lei [natural]. […] E a obediência a uma lei deste tipo é mais que a obediência ordinária; é humildade”.

Um poderoso auxílio no cultivo da humildade é a recordação da própria finitude. Uma vez, certo rei foi a um ourives e lhe pediu que gravasse na sua coroa uma frase que fosse consoladora e desoladora ao mesmo tempo, que o deixasse feliz, mas também triste. E o ourives escreveu: “Tudo passa”.

O homem público deve ser coerente. Deve partilhar dos sacrifícios pátrios que, em nome do bem comum, ele julgar necessário impor aos outros

Faz bem ao estadista estar ciente da sua transitoriedade, do caráter efêmero da sua autoridade e da sua própria vida. Por isso, ele precisa governar não somente para a sua própria geração, mas também para as gerações futuras, e se lembrar que um dia terá de responder a um onisciente Juiz por cada um dos seus atos de governo. “Lembra-te que és pó”, ou “Memento mori”, diziam os antigos filósofos e monges.

Pensar nisso incute em qualquer homem um maior senso de responsabilidade, um maior apreço pela sensatez. Isócrates postulava que o governante deve ser sábio, pois a sabedoria o afasta da “mediocridade” e previne muitos deslizes, sendo que “convém mais ao governante desenvolver as faculdades da alma do que ao atleta fortificar o seu corpo”.

O primeiro-ministro britânico Winston Churchill, ele próprio um grande estadista, tinha uma grande admiração pelo marechal francês Ferdinand Foch, que foi comandante-chefe das forças aliadas na Primeira Guerra Mundial e professor da École Supérieure Militaire. Referia-se a ele com grande respeito, destacando a sua perspicácia em antever que a paz obtida pelo Tratado de Versalhes, que impôs duros revezes à Alemanha ao fim da Primeira Guerra, duraria somente 20 anos. O marechal Foch era conhecido por sua serena determinação, prontidão e visão estratégica. Sua personalidade conjugava uma capacidade invulgar de decisão assertiva com aquela serenidade reflexiva que os líderes devem praticar para não meter os pés pelas mãos.

As ideologias e o partidarismo cego, tanto quanto a mentira dita por interesses pecuniários ou sede de poder, contribuem para a perversão da política e desvirtuam igualmente a conduta do homem público

Por fim, o homem público deve ser coerente. Deve partilhar dos sacrifícios pátrios que, em nome do bem comum, ele julgar necessário impor aos outros. Se corta salários, também deve cortar parte do seu. Se proíbe eventos sociais e aglomerações numa pandemia, não deve ser o hipócrita que prega que outros fiquem em casa enquanto ele continua frequentando suas festinhas VIP. Além disso, sua vida pessoal deve ser compatível com as causas e valores que ele defende. Um candidato deve ser um bom pai de família antes de falar em defender a família contra os assaltos do progressismo. Se o seu discurso enfatiza o papel da educação, veja-se antes o quanto ele se importa realmente com a formação dos jovens e se tem papel ativo, ao menos, na educação dos próprios filhos.

O iluminista Rousseau escreveu sobre educação e acabou se tornando uma referência para muitos pedagogos, mas o que poucos contam é que ele próprio abandonou os filhos que teve na “roda dos enjeitados” e nada fez pela educação deles. Da mesma forma, Eleonora Menicucci foi ministra do governo Dilma na Secretaria para as Mulheres, um cargo que implica em dar apoio a um dos maiores dons que as mulheres podem receber: a maternidade. Porém, tinha no seu currículo a mácula de ser uma aborteira profissional treinada na Colômbia e ligada a facções radicais feministas e marxistas, o que logo a tornou alvo de questionamentos sobre a sua idoneidade para a pasta.

Antes de querer ocupar um cargo de poder, portanto, o cidadão precisa ter tido um passado idôneo e uma reputação compatível com o cargo almejado. Precisa ter sido provado (e saído vitorioso) nas tentações e adversidades da vida. Precisa ter se firmado como um pilar seguro para a sua família e comunidade: alguém em quem as pessoas podem confiar e com quem possam contar. Precisa, enfim, ter ciência das responsabilidades que a missão política traz consigo.

Resumo da ópera: a atividade política virtuosa é o reflexo de uma alma generosa e bem ordenada, de uma personalidade forte que mira a excelência humana, constrói uma vida bem vivida e transborda os seus talentos e virtudes como serviço aos outros na esfera pública, não por desejo de vanglória, mas por genuíno amor ao próximo.

Valdemar Bernardo Jorge é professor, advogado, mestre em Direito Econômico e Social, e secretário de Planejamento e Projetos Estruturantes do estado do Paraná.


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EMPREGOS ESTÃO SENDO RECUPERADOS APÓS A PANDEMIA

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Carteira de trabalho digital.

| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A divulgação do resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) não ocorreu na sexta-feira, como era planejado, mas veio na segunda-feira, dia 31, com um número significativo: o ano de 2021 terminou com a abertura de 2,73 milhões de vagas de trabalho com carteira assinada, o melhor resultado desde o surgimento do Caged, em 2010, embora mudanças de metodologia feitas em 2020 dificultem comparações com os anos anteriores. O dado ainda está sujeito a mudança, como ocorrera com o Caged de 2020, que inicialmente apontava um saldo positivo de 142 mil vagas e, após duas revisões, passou para 191 mil postos de trabalho fechados, já que havia empresas que fechavam e não informavam imediatamente seus números. Ainda que a situação se repita em 2021, nas mesmas dimensões, o saldo positivo continuará bem acima dos 2 milhões de novos postos de trabalho formal.

Assim como muitos indicadores econômicos de 2021, a comparação com o ano anterior pode parecer ilusória, já que o primeiro ano da pandemia de Covid-19 foi marcado por uma forte recessão e os números de 2021, portanto, seriam construídos sobre uma base naturalmente deprimida. Mas também é preciso reconhecer que houve esforços do governo federal para que o emprego não fosse pesadamente afetado pelas medidas restritivas adotadas por estados e municípios para conter a pandemia. O mais relevante deles foi o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que impediu demissões ao permitir acordos de suspensão de contrato de trabalho ou redução de salário e jornada; ainda houve o adiamento da cobrança de impostos e outras medidas que acabaram sendo menos eficazes, como as linhas de crédito especiais para financiar a folha de pagamento, que nem sempre acabaram chegando a quem delas precisava. No fim, e mesmo considerando uma certa margem de erro dadas as diferenças de metodologia, o saldo negativo de 191 mil vagas de 2020 ainda foi um resultado bem menos catastrófico que o de 2015 (perda de 1,54 milhão de postos de trabalho) e 2016 (saldo negativo de 1,32 milhão), quando o Brasil não teve pandemia nem lockdown, mas teve Dilma Rousseff.

Continua havendo dezenas de milhões de brasileiros sem emprego ou precariamente colocados no mercado. Eles precisam ser incluídos nas prioridades máximas de Executivo e Legislativo neste ano de 2022

A pergunta que fica é: o que pode ser construído a partir de agora? Ainda que o dado consolidado de 2021 seja inegavelmente positivo, é preciso estar atento ao fato de que o Caged de dezembro veio bem abaixo das expectativas de mercado. Um saldo negativo era esperado, já que o último mês do ano é quase sempre marcado por mais demissões que contratações; mas foram perdidos quase 266 mil postos de trabalho, quando a previsão era de fechamento de cerca de 160 mil vagas.

Ainda que, do ponto de vista puramente numérico, o estrago da pandemia em termos de postos de trabalho com carteira assinada já tenha sido anulado com sobras (na Pnad Contínua, do IBGE, o desemprego está quase retornando aos níveis pré-pandemia), o desafio é muito grande: quando a Covid chegou, o país ainda estava longe de retomar os níveis de emprego anteriores àquele outro desastre, causado pela recessão lulopetista. Continua havendo dezenas de milhões de brasileiros sem emprego ou precariamente colocados no mercado, seja na informalidade, seja com seu potencial subaproveitado. Eles precisam ser incluídos nas prioridades máximas de Executivo e Legislativo neste ano de 2022.


Uma reforma tributária que, por exemplo, reduzisse a alta carga sobre produção e consumo e promovesse uma desoneração generalizada da folha de pagamento, para todos os setores, poderia ter um efeito amplamente benéfico e duradouro sobre o emprego. No entanto, essa é uma possibilidade remota neste momento; não se cogita alterar a balança de tributação, e a desoneração está emperrada devido a divergências sobre a maneira como se deveria compensar essa perda de arrecadação. O mais provável é que os desempregados tenham de esperar que a economia mantenha algum dinamismo em 2022 e que, talvez, alguma medida de caráter mais emergencial e paliativo facilite contratações.


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O CONGRESSO PODE VOTAR MAS NÃO VOTA NA ÉPOCA DE ELEIÇÕES

Câmara e Senado
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília

A sede do Congresso Nacional, em Brasília: ano eleitoral deve complicar votação de reformas estruturantes| Foto: Leonardo Sá/Agência Senado

Reforma tributária, reforma administrativa, privatizações, legalização dos jogos de azar. O ano de 2022 no Congresso Nacional se inicia com alguns temas que atravessaram praticamente todo o período da atual legislatura, que coincide com o mandato do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A chegada de 2022 marca o ano em que Bolsonaro tentará sua reeleição e grande parte dos congressistas buscará sucesso nas urnas. Em meio a este contexto, há espaço para a aprovação de reformas estruturantes ou outras pautas de relevo defendidas por Bolsonaro, por seus apoiadores ou outras lideranças políticas de destaque?

A Gazeta do Povo conversou com parlamentares e analisou as agendas de Câmara e Senado, além de pautas que foram elencadas como prioritárias em anos anteriores, para verificar a possibilidade de aprovação de alguns temas no Congresso. Leia abaixo o que pode avançar, o que tem futuro incerto e o que deve ficar pelo caminho em 2022.

Projetos com razoáveis chances de aprovação
PROPOSTAS PARA OS COMBUSTÍVEIS
As sucessivas elevações nos preços dos combustíveis – e o impacto que isso tem feito na popularidade do presidente Jair Bolsonaro – indicam a tendência de aprovação, em 2022, de alguma proposta para conter o quadro. O presidente falou recentemente sobre uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que permitiria a redução de impostos sobre os combustíveis, sem a necessidade de indicar a fonte compensadora.

Outra iniciativa é a de criação de um fundo, com recursos públicos, que seria acionado para impedir o repasse das altas do mercado ao consumidor final. Ambas as sugestões encontram resistência. Do lado de governadores e representantes dos estados, há o temor do impacto que as medidas causariam na arrecadação. Ainda assim, o interesse popular que envolve o tema pode estimular a aprovação de ao menos uma das iniciativas.

O senador Jean Paul Prates (PT-RN), relator de propostas no Legislativo sobre o tema, define as iniciativas em curso no Congresso como uma “caixa de ferramentas” que os parlamentares pretendem apresentar ao governo. O fundo, segundo ele, deve ser chamado de conta pública, que é o que está na alçada do Congresso. Esta conta permitirá aos produtores e aos consumidores uma compensação em ambas as pontas.

LICENCIAMENTO AMBIENTAL
A nova lei para o segmento foi aprovada pela Câmara em maio do ano passado e se encontra desde então sob avaliação do Senado. No período, foi alvo de audiências públicas e de uma tramitação conjunta em duas comissões da Casa, a de Meio Ambiente e a de Agricultura. O sucesso na Câmara e a tramitação conjunta indicam um possível caminho para a aprovação. Bolsonaro tem no agronegócio um importante grupo de apoio, o que se reflete também nas ações parlamentares.

O deputado governista Marco Feliciano (Republicanos-SP) elenca a aprovação do licenciamento ambiental como um dos melhores momentos da Câmara no quadriênio atual e pondera a necessidade de se avançar nas votações, mesmo à espreita do ano eleitoral. “Sabemos da responsabilidade de aprovar pautas urgentes do interesse público”, disse.

“Acho que é um tema que já está maduro para pauta. A senadora Katia Abreu [PP-TO] tem feito ajustes para que o texto atenda a algumas demandas dos ambientalistas, com as quais concordo em parte”, acrescentou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), que foi relator da proposição na Câmara.

JOGOS DE AZAR
A legalização dos cassinos e outros meios de jogos de azar é algo que não leva à divisão habitual de oposição e governo dentro do Legislativo, mas sim motiva rachas na própria base bolsonarista.

Entre os liberais, há o entendimento de que os jogos precisam ser legalizados, por se tratar de uma oportunidade de estimular o desenvolvimento de um setor da iniciativa privada. Já para os evangélicos, que dão em sua maioria sustentação ao governo Bolsonaro, os jogos podem representar um vício e, portanto, precisam ser combatidos.

A polarização entre os dois grupos atravessou os últimos anos, mas episódios recentes dão força ao grupo favorável à liberação. Em dezembro, a Câmara aprovou o regime de urgência a um projeto que trata do tema. A votação foi vista como uma sinalização de que os evangélicos tendem a ser minoria no debate.

Defensor da proposta, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) crê na aprovação também no Senado ainda em 2022. Um “cabo eleitoral” da iniciativa tem posição de destaque no Executivo: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é senador licenciado e autor de um projeto sobre o tema.

Propostas com destino imprevisível
REFORMA TRIBUTÁRIA
O Congresso se viu às voltas com uma série de projetos de reforma tributária em tramitação nos últimos anos. Defendida como uma prioridade pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a simplificação do sistema de tributos acabava esbarrando na variedade de sugestões e no conflito de interesses que gera. “Eu acho muito difícil a aprovação de qualquer reforma porque o governo não tem interesse em pautar nenhuma reforma. Não tem coragem necessária de enfrentar corporações”, afirmou o deputado Kim Kataguiri, que defende a reforma, mas se opõe ao governo Bolsonaro.

Mas, se por um lado a multiplicidade de projetos e a série de interesses pode dificultar o avanço do tema, do outro há o empenho dos comandantes de Câmara e Senado em relação ao assunto. Segundo a Folha de S. Paulo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse pretender se encontrar nos próximos dias com o comandante do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para abordar o tema.

É possível que a PEC 110, projeto que unifica nove tributos, passe por avanços. A dúvida é se haverá conclusões antes do fim do ano. “Vai depender muito da atitude do Senado. Se aprovar a 110, ela vai chegar aqui na Câmara com alguma força mobilizadora e com pressão da sociedade e do setor produtivo para que caminhe, e isso pode fazer com que a gente tenha algum avanço”, destacou o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (sem partido-AM).

EDUCAÇÃO DOMICILIAR
Parte da chamada “pauta de costumes” cara aos apoiadores do presidente Bolsonaro, a educação domiciliar, conhecida como homeschooling, inicia o ano em ambiente de incertezas. Sua aprovação já não soa tão improvável como em ocasiões anteriores, mas a real força para a aprovação é incerta.

O deputado Feliciano reconhece que o projeto é “polêmico” e “ainda carece de mais discussão no Congresso”, mas mostra otimismo para uma possível aprovação. “Tudo dependerá do presidente da Casa, Arthur Lira”, disse. No ano passado, a proposta já havia sido elencada por Bolsonaro como uma das prioridades do governo dentro do Congresso.

PRISÃO EM SEGUNDA INSTÂNCIA
A prisão de condenados em segunda instância é outro tema que inicia o ano com uma interrogação sobre si. No fim do ano passado, o projeto teve ares de aprovação, após o deputado Fábio Trad (PSD-MS) entregar seu relatório favorável à PEC que prevê a detenção. Uma manobra conduzida por vários partidos, porém, mudou a composição da comissão que avalia o tema, e Trad retirou o relatório.

O tema saiu do radar do Legislativo, mas é possível que retorne ao longo do semestre. “Minha vontade é de votar o mais rápido possível”, afirmou o presidente da comissão especial na Câmara, Aliel Machado (PSB-PR). Ele disse que precisará ajustar o tema com Lira, com Trad e com o autor da proposta, Alex Manente (Cidadania-SP).


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O PRESIDENTE DA REPÚBLICA É OBRIGADO A COMPARECER À PF PARA DEPOR?

Opinião

Por
Thaméa Danelon – Gazeta do Povo

O presidente Jair Bolsonaro.| Foto: Alan Santos/PR

Em 28 de janeiro de 2022, o presidente da República foi notificado pelo STF a comparecer na Polícia Federal (PF) para prestar depoimento em inquérito que apura eventual violação de sigilo profissional cometido, em tese, quando o presidente divulgou informações de inquérito que apurava o ataque hacker ao sistema da Justiça Eleitoral.

Para explicar melhor a questão, importante fazermos uma recapitulação do ocorrido. Após a realização da live semanal do Presidente no dia 29 de julho de 2021, o corregedor geral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a apuração de suposto vazamento de informações sigilosas. Sendo encaminhado o pedido ao ministro Alexandre de Moraes, este determinou a instauração de um inquérito para apurar a ocorrência do suposto crime e determinou diligências.

De início, pode-se constatar uma irregularidade, pois o Poder Judiciário não pode instaurar investigações criminais e passar a conduzi-las, pois os órgãos responsáveis para instaurar e realizar investigações criminais seriam apenas a polícia e o Ministério Público. A instauração de ofício de uma investigação pelo Judiciário viola o nosso sistema acusatório, que determina que as funções de acusar, defender e julgar devem ser exercidas por órgãos distintos, e não cabe nas funções dos magistrados investigar a prática de infrações criminais, mas apenas julgá-las.

Em relação ao suposto crime de violação de sigilo funcional, deve-se elucidar que o agente desse delito, ou seja, quem poderia cometer esse crime seria o indivíduo que tem o dever legal de guardar o sigilo, e, no caso em análise, seria o delegado de Polícia Federal titular do caso e os demais servidores envolvidos na apuração. A própria autoridade policial que está realizando a investigação da suposta quebra de sigilo funcional já constatou que o delegado responsável pelo caso não cometeu nenhum crime, logo, terceiros, como o presidente da República e o deputado Federal que participou da live presidencial, não poderiam ser responsabilizados por um crime que não ocorreu.

Ademais, o próprio delegado que apura os crimes de hackeamento informou que mencionado inquérito não estava sobre sigilo. Sobre a coleta do depoimento de presidentes da República, o Código de Processo Penal determina que o depoimento poderá ser colhido por escrito somente quando o chefe do Executivo é ouvido na qualidade de testemunha. Assim, quando presta um depoimento como investigado, esse ato deve ser realizado de forma presencial. É fato que o ministro Fachin autorizou que o ex-presidente Michel Temer prestasse declarações por escrito quando era investigado. Contudo, uma decisão judicial não pode revogar o Código de Processo Penal. Assim, entendo que o depoimento de Presidentes da República deve ocorrer de forma presencial quando são suspeitos de praticar algum crime.

Entretanto, no presente caso, a forma como esse inquérito foi instaurado não está correta, maculando todo o procedimento. Devemos também lembrar que em junho em 2018 o STF implementou o denominado “direito de ausência” determinando que o investigado não é obrigado a comparecer quando intimado por autoridade investigativa, não podendo ser conduzido coercitivamente a depor. Embora eu não compartilhe desse entendimento, pois o Código de Processo Penal em seu artigo 260 é claro ao afirmar que o investigado que se ausenta em depoimento poderá ser conduzido coercitivamente, penso que o STF deve fazer valer seu novo entendimento, e não aplicar qualquer consequência jurídica ao não comparecimento do presidente da República. Assim, ao exercer um direito – ainda que novo e criado pelo STF – o chefe do Executivo não poderá sofrer qualquer medida jurídica, e nem responder por crime de responsabilidade ao não comparecer perante a Polícia Federal.

No meu entendimento, os investigados e réus são obrigados a atender às intimações da polícia, do Ministério Público e do Judiciário, embora não sejam obrigados a falar, pois a Constituição consagra o direito ao silêncio; contudo, atender ao chamado dessas autoridades seria sim um dever do investigado ou réu, e também das testemunhas, sob pena de condução coercitiva.

Entretanto, as decisões garantistas do STF que, por muitas vezes, revogam a legislação (ainda que de forma indevida e interferindo nas funções do Poder Legislativo) devem ser aplicadas a todos, independentemente de posicionamentos políticos e ideológicos. Assim, o presidente não era obrigado a comparecer para prestar declarações, e não poderá ser responsabilizado por seu ato.


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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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