quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

CANDIDATOS À TERCEIRA VIA NÃO ENTRAM EM ACORDO

 

Eleições 2022

Por
Isabella Mayer de Moura – Gazeta do Povo

Candidatos que tentam se viabilizar como uma via alternativa às candidaturas de Lula e Bolsonaro: Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Sergio Moro (Podemos), Rodrigo Pacheco (PSD) e João Doria (PSDB)| Foto: Marcos Lopes/ALMT; Divulgação/MDB; Saulo Rolim/Podemos; Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil; Governo do Estado de S. Paulo

A terceira via vai entrar em 2022 “congestionada”. São ao menos sete pré-candidaturas alternativas às do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) – que, neste momento, são os protagonistas da corrida eleitoral. Sergio Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), Rodrigo Pacheco (PSD), Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania), Felipe D’Ávila (Novo) e André Janones (Avante) colocaram seus nomes à disposição para disputar a Presidência no ano que vem.

A tendência é que nem todos eles continuem sendo uma opção de voto em 2 de outubro, dia da eleição. Mas, ao menos neste fim de 2021 e começo de 2022, são baixas as chances de que haja uma candidatura única de terceira via para fazer frente à polarização entre Bolsonaro e Lula. Ciro, Doria e Moro, os três principais nomes da chamada terceira via, não parecem estar dispostos a abrir mão de concorrer à Presidência da República.

Porém, especialistas ressalvam que muitos fatores podem mudar o cenário nos próximos dez meses e que, em se tratando de política, nada pode ser descartado. Como disseram Felipe D’Ávila e Alessandro Vieira recentemente: “a maratona está apenas começando”.

Ciro nega desistência 

Ciro Gomes e o presidente do PDT, Carlos Lupi, sustentam que a candidatura do pedetista está de pé, contrariando especulações de que Ciro possa desistir ou até mesmo se unir ao PT na corrida eleitoral.

Essas hipóteses ganharam fôlego depois que Sergio Moro oficializou sua entrada na política e teve resultado melhor do que o cearense, segundo pesquisa eleitoral de dezembro da Genial/Quaest (o ex-juiz apareceu com 10% das intenções de voto e Ciro com 5%).

Por causa da estagnação do pré-candidato do PDT, uma ala do partido acha melhor que Ciro desista, por receio de que o partido fique isolado nas eleições de 2022 e que isso acabe prejudicando candidaturas de parlamentares, especialmente no Nordeste, onde a popularidade de Lula é maior.

À Gazeta do Povo, Lupi negou que a candidatura de Ciro Gomes esteja fragilizada. Quanto às pesquisas eleitorais, disse que “não há com o que se preocupar neste momento” e, em relação aos questionamentos internos sobre a candidatura de Ciro, ele foi taxativo: “Ciro vai resistir. O PDT vai resistir. Para aqueles que pensam diferente, a porta aberta é a serventia da casa. Serve para entrar os convictos e para sair aqueles que não têm as suas convicções entrosadas com a do partido”.

O presidente do PDT disse também que quem tem que se preocupar com a entrada do ex-juiz da Lava Jato na disputa eleitoral é Bolsonaro. “Bolsonaro é a matriz e Moro é a filial, Então quem tem que se preocupar é a matriz. A gente não disputa a mesma parcela do eleitorado”.

Apesar da aparente serenidade em relação à pré-candidatura de Moro, Ciro passou a criticar o ex-ministro de Bolsonaro com mais frequência. “Sergio Moro é um ex-juiz politiqueiro, que botou Lula na cadeia e depois foi ser ministro do outro [Bolsonaro], que se elegeu porque tirou os direitos políticos do outro [Lula]. Virou ministro porque passou a mão, acobertou a ladroeira de Bolsonaro, da família do Bolsonaro, deixou o Coaf ser desmoralizado para proteger Bolsonaro”, afirmou Ciro em entrevista à BandNews no começo de dezembro. Ele também já convidou Moro para o debate. “Eu vou tirar a sua máscara”, disse a Moro durante entrevista ao apresentador da Band TV José Luiz Datena.

Lupi também descarta uma união com o PT, ao menos no primeiro turno. “A etapa do Lula no governo já foi ultrapassada. Nós temos que olhar o futuro do Brasil de uma nova maneira”, disse o presidente do PDT em entrevista recente ao jornalista Luis Nassif, quando perguntado sobre a possibilidade de uma chapa com Lula e Ciro.

Mesmo após ser alvo de uma operação da Polícia Federal em dezembro, em uma investigação que apura um suposto esquema de corrupção envolvendo as reformas da Arena Castelão, em Fortaleza (CE), Ciro reiterou sua disposição em concorrer ao mais alto cargo Executivo do país. Ele se defendeu dizendo que a operação foi abusiva e que o objetivo da operação foi criar danos à sua candidatura presidencial.

A ideia do partido para ampliar as chances de Ciro nas eleições de 2022 é aumentar o diálogo com a sociedade. “Estar cada vez mais na rua, ter interlocução com a sociedade, visitar comunidades carentes, apresentando nosso projeto. Só se encontra caminhos caminhando”, disse Lupi à Gazeta do Povo.


Campanha de Doria acredita em união da terceira via de centro
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), começará o ano eleitoral com poucas intenções de voto, segundo as pesquisas de dezembro da Genial/Quaest e do Datafolha (2% e 4%, respectivamente). Ainda assim, é um candidato que não pode ser subestimado, seja pela capilaridade do PSDB ou da capacidade política para reverter cenários desfavoráveis que ele apresentou em eleições anteriores.

Em 2016, nas eleições para a prefeitura de São Paulo, Doria tinha apenas 5% das intenções de voto dois meses antes das eleições, segundo o Datafolha – naquele ano, o tucano venceu a disputa no primeiro turno. Apesar disso, impulsionar a campanha nacional promete ser mais difícil, pois Doria já é um político bastante conhecido no Brasil e não conta mais com o fator “novidade”.

Para alavancar sua candidatura, economia e vacina serão os temas estratégicos de Doria em 2022. Wilson Pedroso, coordenador da campanha do governador paulista, disse à Gazeta do Povo que, nessas áreas, Doria tem bons resultados nos três anos em que esteve no comando do Palácio Bandeirantes. Ele citou o crescimento do PIB paulista em 2020, apesar da pandemia de Covid-19, e o fato de Doria ter articulado a parceria com o laboratório chinês Sinovac, que possibilitou a fabricação da Coronavac no estado de São Paulo. Doria também já apresentou a equipe econômica que o acompanhará durante a campanha: os economistas Henrique Meirelles, Ana Carla Abrão, Vanessa Rahal Canado e Zeina Latif.

Pedroso também considera que a realização das prévias tucanas, que escolheram Doria o candidato a presidente pelo PSDB, também darão uma vantagem competitiva ao pré-candidato. O processo, segundo ele, deu à campanha a oportunidade de se organizar, conversar com lideranças partidárias e empresariais, e conhecer as necessidades locais. Ele nega que haja uma divisão do partido e diz que mantém contato com o governador gaúcho, Eduardo Leite, que disputou as prévias com Doria.

Enquanto lida com divergências internas e os impactos midiáticos negativos da saída de Geraldo Alckmin, um de seus fundadores, o PSDB busca apoio de outros partidos e não descarta a união de siglas de centro e centro-direita nas eleições presidenciais do ano que vem, com União Brasil, MDB, entre outros. “Este é um momento de diálogo e estamos em contato com todos da terceira via. É possível e é o ideal [que haja apenas uma candidatura da centro-direita em 2022]”, afirmou Pedroso.

Um recente encontro entre Doria e Sergio Moro (Podemos) alimentou especulações sobre uma possível aliança entre os pré-candidatos do Podemos e do PSDB em 2022. O paulista avaliou a reunião como positiva “para construção de uma base de centro-liberal com sentimento de proteção do Brasil e dos brasileiros”. O presidente do PSDB, Bruno Araújo, chegou a declarar que Moro seria um ótimo vice de Doria. Mas o principal empecilho para isso, neste momento, é que a candidatura do ex-juiz mostra mais viabilidade eleitoral do que a do tucano, considerando as duas pesquisas eleitorais citadas anteriormente (Moro tinha 10%, segundo a Genial/Quaest, e 9%, de acordo com o Datafolha).

Ainda é muito cedo para dizer se um dos dois desistirá de concorrer à Presidência para apoiar o outro ainda no primeiro turno. Uma decisão só será tomada no ano que vem, mais perto do prazo limite da Justiça Eleitoral para definição das candidaturas, em agosto.

Podemos aposta que Moro terá voto útil da terceira via
Sergio Moro é a opção de terceira via mais bem posicionada, segundo as pesquisas mais recentes do Datafolha e Genial/Quaest. Por isso, líderes do Podemos estão convictos de que o ex-juiz é o candidato da terceira via com mais chances terá de chegar ao segundo turno.

“Os números das pesquisas são muito bons. Foi um crescimento rápido desde a filiação. E, por incrível que pareça, ainda existe um grau de desconhecimento da candidatura dele. Naturalmente, com o processo da campanha andando e as pessoas sabendo que ele é candidato e entendendo que ele é a única via com possibilidades, a tendência é que ele tenha inclusive o voto útil da terceira via”, disse a presidente do Podemos, Renata Abreu.

A estratégia do partido para que Moro cresça nas pesquisas será mostrar que o ex-juiz representa “muito mais do que o combate à corrupção” e que é uma pessoa com capacidade de trazer estabilidade política e institucional para o Brasil, fugindo de “radicalismos”.

A deputada Renata Abreu também afirmou à Gazeta do Povo que a sigla está conversando com todos os partidos de centro de forma permanente e que os recentes encontros de Moro com outros pré-candidatos, como Doria e Felipe D’Ávila, têm o objetivo de consolidar um pacto de não agressão entre esses pré-candidatos.

“Nós temos uma convergência de que qualquer um desse espectro que entre é melhor para o Brasil, então a nossa ideia é não fazer um trabalho destrutivo”. Sobre a perspectiva de que haja apenas um candidato da terceira via de centro, Renata disse que a “ideia é trabalhar por isso”. “Acho que a população vai cobrar isso dos candidatos.”

Tebet, D’Ávila e Vieira têm alguns meses para mostrar viabilidade
Os demais postulantes da terceira via terão que provar que têm potencial para subir nas pesquisas ao longo do primeiro semestre do ano que vem. Caso contrário, a tendência é que retirem suas pré-candidaturas e apoiem outros nomes.

No caso da senadora Simone Tebet, a cúpula do MDB pretende viabilizar a candidatura dela até março. A seu favor, há o fato de ser a única mulher na disputa, ter baixa rejeição e contar com o suporte de um dos maiores partidos do país. Contudo, até mesmo pelo tamanho da sigla, seu nome não é consenso interno. No Nordeste, por exemplo, lideranças emedebistas são a favor de uma composição com o PT, aproveitando a popularidade de Lula na região.

D’Ávila (Novo) também está disposto a abrir mão da candidatura à Presidência, mas salienta que este é um momento em que os pré-candidatos estão apresentando propostas e que é preciso “dar tempo ao tempo” para que as ideias sejam debatidas. “Por enquanto estamos na fase de apresentar os rostos. Mas, daqui para frente, é preciso cobrar o debate de propostas. É isso que vai fazer com que haja união lá na frente, porque se as propostas forem completamente dissonantes, não haverá união”, afirmou D’Ávila em entrevista recente ao site Poder 360.

“É uma maratona de 41 quilômetros e estamos apenas no quilômetro um. As coisas mudam muito na política. São muito dinâmicas. Tem muito chão até a definição das candidaturas em julho do próximo ano”, continuou. “Não adianta antecipar essa união, porque ela não vai acontecer antes desse período.”

Em outra entrevista, ao jornal mineiro O Tempo, ele disse acreditar que até maio ou junho, a chamada terceira via terá “dois ou três nomes competitivos”. “Evidentemente, ao longo do próximo ano, até maio e junho, a terceira via, que tem muita gente hoje, provavelmente vai ter ou três nomes só, competitivos. Aí que precisa estudar se há a possibilidade de real união, que acho que existe, mas que tem que ser embasada nas propostas, não em torno de pessoas ou partidos”, pondera.

Já a respeito do senador Alessandro Vieira, a informação de bastidor é que ele tende a desistir de sua candidatura presidencial nos próximos meses. Membros do Cidadania inclusive se reuniram com Moro e uma aliança com o Podemos em 2022 já foi cogitada. Apesar disso, o partido sustenta que continua apoiando a pré-candidatura de Vieira.

Pacheco será candidato, garante Kassab

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, reafirmou recentemente que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, será o candidato ao Planalto pelo partido. Segundo Kassab, Pacheco é alguém que representa “a mais importante expressão da renovação na política”.

Sobre os baixos percentuais de intenção de voto em pesquisas eleitorais, Kassab argumenta que a tendência é que esse resultado permaneça até abril ou maio do ano que vem devido ao desconhecimento de seu nome e de sua candidatura, até porque Pacheco nunca foi candidato no plano nacional.

Na avaliação do presidente do PSD, além de Pacheco, são viáveis as candidaturas de Lula, Bolsonaro, Sergio Moro, Ciro Gomes e João Doria. Ele considera ainda ser possível uma união entre Doria e Moro e não descarta a saída de Ciro da corrida eleitoral.

Contudo, uma união do PSD com com o PT é cogitada nos bastidores. O ex-tucano Geraldo Alckmin poderia ingressar no partido para compor a chapa da presidência com Lula.


Veja os resultados de todas as pesquisas eleitorais para Presidência da República divulgadas até o momento
Metodologia das pesquisas citadas na reportagem
A pesquisa Genial/Quest citada na reportagem teve o seguinte resultado: Lula (PT), com 46%; Jair Bolsonaro (PL), 23%; Sergio Moro (Podemos), 10%; Ciro Gomes (PDT), 5%; João Doria (PSDB), 2%; Rodrigo Pacheco (PSD), 1%; Felipe D’Ávila (Novo), 1%. Branco/nulo somaram 7% e indecisos, 4%.

A pesquisa da Genial/Quaest foi realizada entre os dias 2 e 5 de dezembro, com 2.037 pessoas com 16 anos ou mais. A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas face-a-face, por meio da aplicação de questionários. O nível de confiança do levantamento é de 95% e a margem de erro estimada é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Já o Datafolha entrevistou 3.666 eleitores com 16 anos ou mais, entre 13 e 16 de dezembro, em 191 municípios brasileiros. As entrevistas foram presenciais. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/eleicoes/2022/terceira-via-comeca-2022-com-baixa-expectativa-de-uniao-em-torno-de-um-so-nome/
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BRIGA EUA E CHINA POR ROTAS DE SATÉLITES E ESTAÇÃO ESPACIAL

 

Reclamação na ONU
Por
Fábio Galão

Elon Musk fala sobre o projeto Starlink em videoconferência durante evento em Barcelona, em junho deste ano| Foto: EFE/Alejandro García

Elon Musk, o homem mais rico do mundo, é o pivô do mais recente desentendimento diplomático entre China e Estados Unidos.

Pequim enviou no início de dezembro uma reclamação ao Comitê para Uso Pacífico do Espaço Sideral das Nações Unidas para reclamar que a estação espacial Tiangong, menina dos olhos do programa espacial chinês, teve que realizar “manobras evasivas” para “evitar uma possível colisão” com satélites Starlink lançados pela SpaceX, uma das empresas de Musk.

Segundo informações da Associated Press, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, argumentou esta semana que colisões quase ocorreram em 1º de julho e 21 de outubro, colocando em risco a tripulação de três membros da estação espacial, e exigiu que Washington “tome medidas imediatas para evitar que tais incidentes voltem a acontecer”.

A Starlink é um projeto de Musk para o estabelecimento de uma constelação de satélites, com o objetivo de fornecer internet de alta velocidade a todo o mundo. Mais de 1,9 mil satélites foram lançados pela SpaceX desde o início do projeto, em 2019, e o número deverá chegar a cerca de 42 mil em órbita nos próximos anos.

No contexto da Guerra Fria 2.0, a queixa chinesa não pode ser entendida como apenas uma preocupação com a segurança da sua estação especial – diz respeito também à disputa militar com os Estados Unidos.

“Se os satélites de Musk ocupam grandes porções das órbitas [próximas à Terra e sincronizadas com o sol], haverá poucas oportunidades para outras nações enviarem seus próprios satélites”, afirmou Song Zhongping, ex-instrutor das Forças Armadas chinesas, em entrevista ao South China Morning Post.

“Os satélites Starlink têm potencial para servir às forças dos Estados Unidos durante períodos de guerra, e o poder de ter milhares de olhos no céu nunca pode ser subestimado”, acrescentou.

O projeto de Musk não vem sendo criticado apenas pela China. Recentemente, o diretor-executivo da Agência Espacial Europeia, Josef Aschbacher, acusou o empresário sul-africano naturalizado americano de estar “ditando as regras” para uma nova economia espacial comercial.

Em resposta, Musk alegou ao Financial Times que o espaço é “enorme” e que seus satélites são muito pequenos. “Não é uma situação em que estamos efetivamente bloqueando os outros de alguma forma. Não impedimos ninguém de fazer nada, nem planejamos fazer isso”, argumentou.

Independentemente de disputas comerciais e militares, especialistas cobram uma regulação do lançamento de satélites para evitar que o acúmulo de lixo especial ameace a segurança de telecomunicações e tripulações espaciais.

Em novembro, a Rússia confirmou um teste com míssil antissatélite, que atingiu um aparelho espacial inoperante russo que estava em órbita desde 1982. Em resposta, os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter colocado em perigo a tripulação da Estação Espacial Internacional (EEI) e informaram que o teste gerou centenas de milhares de fragmentos orbitais menores, que representarão um risco a operações espaciais durante anos.

“O espaço pode ser grande, mas como os satélites estão em áreas bem específicas, (essas áreas) estão ficando lotadas. Certamente, o recente teste antissatélite russo mostrou como essas regiões podem estar superlotadas”, afirmou Marla Geha, professora de astronomia na Faculdade de Artes e Ciências de Yale, em entrevista ao site da universidade.

“Além da coleta de lixo espacial, acho que o verdadeiro caminho a seguir é a regulamentação. Precisamos fazer alguns pequenos ajustes agora – como colocar um foguete em cada satélite para tirá-lo de órbita de maneira responsável – para que não haja um grande problema em cinco ou dez anos”, complementou.


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DEVOLUÇÃO DO DINHEIRO DO ROUBO E LACRAÇÃO DO BRADESCO

 


Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

17-11-16 – Alberto Youssef saiu da carceragem e foi conduzido ate a Justica Federal em Curitiba (JF), para colocar a tornozeleira. O doleiro, preso na operacao lava-jato vai cumprir prisao domiciliar em Sao Paulo.

Viatura da Polícia Federal durante ação ligada à Operação Lava Jato, em 2016| Foto: Gazeta do Povo

Vejam só: já devolveram para a Petrobras do que roubaram R$ 6,17 bilhões. Do que roubaram. Agora, peraí: mas está todo mundo solto? Essa devolução equivale a uma confissão, “eu roubei e estou devolvendo”. Todo mundo perdoado? “Ah não, houve engano não era para ser em Curitiba, tinha que ser em outro foro”. Alguém que decide isso pensa que nós somos muito ingênuos ou alienados. Ou não estamos ligando a mínima para os valores deste país. Talvez seja isso. Por exemplo: agora eu vejo, no Tribunal de Contas da União, um juiz de lá, ministro Bruno Dantas, mandou a consultoria que fazia a administração judicial da Odebrecht na Lava Jato, a Alvarez & Marsal, que contratou Sergio Moro, que explique – acho justo – o que Sergio Moro fazia lá e quanto ganhou. Só que o ministro Bruno Dantas está na foto do jantar para o Lula, o último jantar em São Paulo. Inclusive, na foto está o Renan Calheiros com a mão no ombro do ministro Bruno Dantas, e a turma toda. Eu não entendo por que um ministro não diz “olha, eu fui ao jantar do Lula, então não posso me envolver em nada que afete um outro candidato”. São coisas estranhas que a gente vê nesse país.

A outra coisa estranha, agora lá em Santana do Livramento (RS): a Polícia Federal, na BR-158 – eu não sei de onde estava saindo o caminhão, lá tem um porto seco rodoviário; mas deveria vir do Uruguai a carga, porque era tudo produto estrangeiro. Relógio, óculos, roupa, sapato, eletrônicos. Só tinha uma coisinha: o motorista era o mesmo que, em 2019, estava com uma carga igualzinha. E estava solto lá, livre e desimpedido. Não é estranho isso?

Banco contra a carne

Outra coisa estranha: o maior banco privado do país fez uma campanha contra a carne. Agora está arrependido, está pedindo desculpas aos pecuaristas. Mas agora é tarde. Caiu. Ingênuo. Não pode, um banqueiro não pode ser ingênuo. Teve lá uma consultoria, que é desligada do povo brasileiro, pensando naquele outro mundo intelectual, de coisas assim que eles ficam imaginando por falta do que fazer, e resolveu fazer uma campanha contra a carne, inclusive fazendo afirmações que são desmentidas pela pesquisa da Embrapa. A pecuária não é provocadora de excesso de carbono. E história do pum da vaca… coisas ridículas, risíveis. E aí veio uma reação muito grande do Brasil real. E o banco agora está pedindo desculpas. Devia perguntar para os gerentes. Tem milhares de agências, pergunte ao gerente quem é o público desse banco. Para não se apartar do público, porque aí o público se aparta do banco. Eu não tenho conta nesse banco. Mas no outro, onde eu tenho conta, quando fizeram uma promoção supostamente cultural com um homem pelado no chão para ser olhado por crianças, eu tirei 80% do empréstimo que eu tinha pro banco – eu emprestando para o banco, nas aplicações. Quem aplica é o emprestador. Aí eu acho graça que o tal banco do boi está contra a carne, e vai ficar só com a mortadela. Está escolhendo. Tem outro banco grande cuja herdeira está tomando partido político na eleição. Aí vai ficar só com o lado que não sei se terá dinheiro para aplicar no banco.

Banqueiro tem que ser como o dinheiro. Ele opera com dinheiro, é a mercadoria dele. Dinheiro não tem cor, não tem pátria, não tem ideologia, não tem religião. Dinheiro é dinheiro. Eu não acredito que banqueiro esteja ficando ingênuo.

Djokovic e Maurílio
E para terminar, o tenista número 1 do mundo, o sérvio Djokovic não vai para a Austrália participar de dois grandes certames. Porque lá eles exigem que todo mundo esteja vacinado, e ele então não vai participar, e o certame fica sem a maior estrela do mundo do tênis. Lá na Alemanha está acontecendo algo parecido, as pessoas estão abandonando o emprego. Abandonando a carreira por causa da exigência. Aliás, problemas com dois navios de cruzeiro na costa brasileira – todo mundo que entra no navio tem que estar vacinado. 32 casos de covid. O mesmo problema que está acontecendo num porta-aviões da Marinha, o Theodore Roosevelt, com o destróier Helsy, com o navio de guerra Milwaukee, que neste momento está lá em Guantánamo, e o Carnival Freedom, no Caribe. Mesmo problema. Todo mundo entra vacinado, mas não sei o que está acontecendo.

E eu quero lamentar a morte de mais um jovem, o cantor Maurílio, que fazia dupla com a Luiza, em Goiás. Ele começou a sentir dor nas pernas, depois no peito, depois atingiu os rins. Quando ele teve uma parada cardíaca, foi para o hospital e morreu. 28 aninhos.


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COMUNISTAS CONTEMPORÂNEOS QUEREM UMA GOVERNANÇA GLOBAL

 

Por
Flavio Gordon – Gazeta do Povo

Em entrevista, Lula deixou claro que concorda com a retirada de soberania dos países em prol de uma “governança global”.| Foto: Ricardo Stuckert

“O objetivo do socialismo não é apenas acabar com a divisão da humanidade em pequenos Estados e com o isolamento das nações sob todas as formas, não é apenas unir as nações, mas integrá-las.” (V. I. Lenin, A Revolução Socialista e o Direito das Nações à Autodeterminação, 1914)

“A transição para a Nova Ordem Social Mundial requer a integração das novas nações cativas em governos regionais.” (F. Petrenko e V. Popov, Política Externa Soviética: Objetivos e Princípios, 1985)

Publiquei recentemente na Gazeta uma série de textos intitulada “Um artigo censurado sobre Comunismo e Globalismo”. Ela complementava uma série mais antiga sobre o mesmo assunto, intitulada simplesmente “Comunismo e Globalismo”. Juntas, elas perfazem 14 artigos dedicados a explicar as transformações históricas e adaptações estratégicas por que passou o velho internacionalismo comunista para se transformar no projeto globalista contemporâneo, cuja utopia última é uma centralização total do poder político em alguma forma (mais ou menos totalitária) de governo mundial.

Com o processo de dissolução nominal do comunismo na URSS e no Leste Europeu, os principais ideólogos e estrategistas comunistas passaram a sofisticar seu linguajar político, adaptando-o à langue du bois das organizações internacionais e tornando-o mais abstrato e universalista

Mostrei nesses textos como, em fins dos anos 1980, com o processo de dissolução nominal do comunismo na URSS e no Leste Europeu, os principais ideólogos e estrategistas comunistas passaram a sofisticar seu linguajar político, adaptando-o à langue du bois das organizações internacionais e tornando-o mais abstrato e universalista. Nesse contexto, toda referência tradicional a coisas como “ditadura do proletariado”, “propriedade coletiva dos bens de produção”, “combate ao capitalismo”, “guerra ao imperialismo” e jargões militantes de mesma cepa deveria ser abandonada em favor de discursos genéricos e (ao menos na aparência) ideologicamente insípidos sobre os “valores comuns” a “toda a humanidade”. Como escreveu Gorbachev no livro Em Busca de um Novo Começo: desenvolvendo uma nova civilização:

“O futuro da humanidade não será definido pela oposição entre capitalismo e socialismo. Foi essa dicotomia que criou a divisão da comunidade mundial e toda a série de consequências catastróficas. Devemos encontrar um paradigma que integre todas as realizações do espírito e das ações humanas, sem nos ater à ideologia ou ao movimento político no qual se originam. Esse paradigma só pode se apoiar em valores comuns que a humanidade desenvolveu ao longo dos séculos. A busca por um novo paradigma deveria ser a busca por uma síntese daquilo que é comum e une os povos, os países e as nações, e não daquilo que os divide”.

Alguns conceitos-chave começam, então, a aparecer o tempo todo na fala e nos escritos dos comunistas: interdependência, convergência, bem comum da humanidade, segurança ambiental, desarmamento etc. “Nenhum país, nenhuma nação deveria ser considerada de forma isolada das outras, muito menos oposta às outras. É o que o nosso vocabulário comunista chama de internacionalismo, o que significa o anseio em promover os valores humanos universais” – explicou ainda Gorbachev em Perestroika, o livro. Tratava-se, em suma, de uma ocultação do projeto comunista de poder sob o simbolismo pacifista do globalismo onuseiro.

Eis que, recentemente, dois líderes comunistas contemporâneos ilustraram perfeitamente essa mudança estratégica que já vem de décadas. No início do mês, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, cometeu no (cada vez mais sinófilo) jornal O Globo um artigo que é uma verdadeira joia de desinformação comunista e inversão revolucionária. Intitulado “O ‘neocolonialismo’ disfarçado de democracia”, o texto ataca o pretenso neocolonialismo americano, acusando-o – pasmem! – de violar as soberanias nacionais, a democracia, a paz e os direitos humanos. Tudo isso dito assim, com tamanha desfaçatez, pelo representante de um regime que mantém minorias étnicas em campos de concentração, que censura imprensa e internet, persegue opositores, restringe a liberdade religiosa e adota uma postura cada vez mais imperialista e agressiva nas relações internacionais.

Mas, menos que o conteúdo em si do texto, que nada tem de novo para quem conhece a retórica vitimista do agitprop chinês, o que mais nos interessa aqui é a forma verbal utilizada pelo diplomata comunista, que reproduz exatamente a verborragia propositadamente vazia traçada pelos estrategistas soviéticos há mais de meio século. “Nos assuntos internacionais, a China defende a construção de uma comunidade global de futuro compartilhado, bem como os valores comuns de humanidade de paz, desenvolvimento, equidade, justiça, democracia e liberdade”, diz o embaixador da China. E continua com uma sem-cerimônia de assustar, chegando ao cúmulo de citar a pandemia – como se a mesma não fora, no mínimo, facilitada pelas mentiras e omissões do governo chinês – como pretexto para o seu belo discurso globalista. “Numa época em que se sobrepõem mudanças sem precedentes nos últimos 100 anos e a pandemia do século, todos os povos, mais do que nunca, são interdependentes, e seus destinos estão interligados. A China está disposta a trabalhar com a comunidade internacional para resistir às práticas de falsa democracia, que abrem o caminho para o neocolonialismo, preservar os valores comuns de toda a humanidade e levar adiante o progresso humano”. De novo: interdependência, interligação, valores comuns de toda a humanidade… É quase uma receita de bolo.

Lula afirma com todas as letras aquilo que grande parte da imprensa ainda nega existir: quer uma “governança global” que possa atropelar as decisões soberanas dos Estados nacionais e dos Legislativos eleitos de cada país

Mais recentemente ainda, em entrevista a um canal do YouTube, também o ex-presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, fundador do Foro de São Paulo e candidato da China e dos globalistas para a próxima eleição no Brasil, não teve qualquer pejo (pois, amparado por camaradas togados, já passou dessa fase) em assumir seu papel numa eventual volta à Presidência: acabar de vez com a soberania nacional e a democracia representativa no país, submetendo o povo brasileiro aos ditames de uma elite internacional não eleita.

“Numa crise como esta, precisava ter uma governança global, que seria possível através de um Conselho de Segurança da ONU mais forte, mais participativo, com mais gente, decidindo coletivamente o que fazer”, diz. “Eu participei da criação do G-20, eu participei de muitas reuniões do G-20. Não adianta nada você tomar uma decisão coletiva com 20 presidentes se a decisão de execução é do Estado nacional e depende do Congresso de cada país. Aí as coisas não são decididas como o mundo espera. Então, nós precisamos pensar um novo modelo de governança global para que determinadas decisões sejam coletivas e implantadas por todos os países”.

VEJA TAMBÉM:
Um artigo censurado sobre comunismo e globalismo (parte 5)
Um artigo censurado sobre comunismo e globalismo (parte 6)
Um artigo censurado sobre comunismo e globalismo (final)
O ex-presidiário afirma com todas as letras aquilo que grande parte da imprensa ainda nega existir: quer uma “governança global” – como tenho mostrado (aqui e aqui, por exemplo), um mero eufemismo para governo mundial – que possa atropelar as decisões soberanas dos Estados nacionais e dos Legislativos eleitos de cada país. Suas eventuais decisões presidenciais, claro está, já não terão o povo brasileiro como fiador e interessado, mas uma abstração chamada “o mundo”. É preciso decidir “como o mundo espera”, diz o candidato a fantoche globalista.

Nessa fala, o ex-presidiário – que, embora tenha ressuscitado o movimento comunista na América Latina, para muitos não tem nada de comunista – está aí sendo fiel a uma tradição que remete a Lenin. Como escreveu Gorbachev: “Sendo ele chefe do partido proletário, e justificando em nível teórico e político as pautas revolucionárias deste último, Lenin podia ver mais longe, transcender os limites de classe do partido. Mais de uma vez, ele falou da prioridade dos interesses comuns a toda a humanidade, para além dos interesses de classe. Somente hoje é que conseguimos alcançar toda a profundidade, toda a significação dessas ideias… A espinha dorsal do novo modo de pensamento é o reconhecimento da prioridade que se deve dar aos valores humanos, ou, para ser mais preciso, aos valores da sobrevivência humana”. Problemas globais e sistêmicos que supostamente ameacem a sobrevivência da humanidade: eis o pretexto ideal defendido por comunistas contemporâneos para a concentração do poder mundial em organizações internacionais historicamente aparelhadas por seus quadros. “Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus” – como admitiu o próprio ex-presidiário.

As eventuais decisões presidenciais de Lula, claro está, já não terão o povo brasileiro como fiador e interessado, mas uma abstração chamada “o mundo”. É preciso decidir “como o mundo espera”, diz o candidato a fantoche globalista

Com efeito, quando topamos com declarações sobre a pandemia como as do diplomata chinês, do ex-presidiário brasileiro ou mesmo a de um intelectual como Slavoj Zizek (“aqui não estamos falando do comunismo de outrora, naturalmente, mas de algum tipo de organização global que possa controlar e regular a economia, como também limitar a soberania dos Estados nacionais quando seja necessário”), estamos diante de uma longa tradição. Antes mesmo da Revolução Russa, em 1915, Lenin já afirmava que o internacionalismo comunista deveria assumir a forma de um “Estados Unidos do Mundo”. Em 1936, lia-se no programa oficial da Internacional Comunista: “A ditadura só pode se estabelecer por meio de uma vitória do socialismo em diferentes países ou grupos de países, depois do que as repúblicas proletárias deverão se unir federativamente às que já existem, e esse sistema de uniões federativas vai se expandir até a formação de uma União Mundial de Repúblicas Socialistas Soviéticas”.

Pouco tempo depois da fundação da ONU, em declaração ao jornal Pravda (23 de março de 1946), ninguém menos que Josef Stalin saudava a organização nestes termos: “Atribuo grande importância à ONU, dado que é um importante instrumento para a preservação da paz e da segurança internacional”. Eis uma frase que qualquer um dos personagens da coluna de hoje subscreveria.


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BRASIL VAI GANHAR MUITO DINHEIRO COM A PRESERVAÇÃO DA AMAZÔNIA

 

Zerar o desmatamento é oportunidade para o Brasil recuperar relevância no debate internacional

João Gabriel de Lima
ESTADÃO

A líder indígena Txai Suruí foi a única brasileira a discursar na abertura da Cúpula do Clima (COP) de Glasgow, em novembro. Sua fala não teve apenas valor simbólico. Marcou o ano em que a sociedade brasileira despertou para a mudança climática. Em 2021, ficou claro que ter voz forte no tema – o que pressupõe zerar o desmatamento da Amazônia, nosso grande ativo ambiental – é essencial para que o Brasil recupere relevância no mundo. Os jovens brasileiros e as populações tradicionais são os principais porta-vozes dessa ideia, que pode crescer em 2022 e chegar ao debate eleitoral.

Para a Economist Intelligence Unit, braço de estatística e consultoria da revista britânica The Economist, vivemos a era do “eco-despertar” – e o Brasil ocupa um lugar de destaque. Um dossiê sobre o assunto mostra que nosso país é o campeão mundial de abaixo-assinados sobre questões ambientais. A Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura – que reúne cientistas, ambientalistas, empresários e líderes do agronegócio – foi considerada um exemplo de mobilização da sociedade civil em 2021.

Quando da publicação do dossiê, o pesquisador Tasso Azevedo, coordenador do projeto MapBiomas, disse ao Estadão que havia descompasso entre governo e sociedade – a The Economist lamentava a explosão do desmatamento e culpava o governo federal pelo resultado desastroso.

Tal descompasso se materializou na COP de Glasgow. O Brasil foi o único país a ter dois pavilhões na reunião: um patrocinado pelo governo e outro organizado por entidades da sociedade civil. Neste último, com audiência bem maior, marcaram presença cientistas como o próprio Azevedo, novas lideranças como Eduarda Zoghbi – aluna da Universidade Columbia (EUA) que ajudou a redigir um manifesto da juventude –, e representantes de entidades empresariais, como Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag).

A participação brasileira na COP representou uma vitória da sociedade civil sobre o governo – que, contrariando o próprio discurso e o que havia defendido na COP anterior (a de Madri em 2019), acabou assinando o Pacto Climático de Glasgow. Nele, o Brasil se compromete, entre outras coisas, a zerar o desmatamento.

Lideranças da sociedade civil já vislumbraram a oportunidade. “O Brasil tem vocação verde. Tem tudo para ser o grande líder do planeta nessa área. É uma oportunidade colossal”, disse o economista Armínio Fraga em evento em dezembro. Um mês antes, pouco antes de embarcar para Glasgow, Marcello Brito, da Abag, falava a uma plateia de especialistas: “No Brasil, política ambiental é sinônimo de desenvolvimento e inserção internacional”.

O cineasta João Moreira Salles escreveu numa reportagem especial sobre a Amazônia: “Um projeto de país digno do nome seria compreender essa riqueza e, a partir daí, transformar o Brasil naquilo que pouquíssimos países estão habilitados a ser: uma potência ambiental”. Se o Brasil zerar a devastação, dará contribuição significativa no combate à mudança climática, dado que o desmatamento é o principal responsável por nossas emissões de carbono.

E o Brasil não perde nada se deixar de desmatar, pois – diferentemente do que ocorre na Indonésia, por exemplo, onde a extração de óleo de palma gera divisas e empregos – não há atividade econômica importante que se beneficie do desmatamento. Essa é a conclusão de uma pesquisa coordenada por Juliano Assunção, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio e um dos líderes do projeto Amazônia 2030, que está entre os principais levantamentos já feitos sobre o desenvolvimento na região.

“Na Amazônia não se cortam árvores para instalar agricultura ou pecuária relevante. Há só o desmatamento criminoso, que deve ser combatido”, disse Assunção ao Estadão na época da COP.

O Brasil tem outra vantagem importante na área. Quase metade (48%) da energia consumida no País vem de fontes limpas, como hidrelétricas. A média mundial é de 14% – a dificuldade de nações como China e Alemanha para se livrarem das fontes de carvão ilustra o drama de vários países ricos. Pela quantidade de vento – principalmente no Nordeste – e sol – no País inteiro – há oportunidades enormes de crescimento nas áreas de energia eólica e solar.

“A Alemanha é uma das líderes de desenvolvimento de tecnologia em energia solar, mas os pontos de sol mais importantes da Alemanha têm menos sol que os lugares menos ensolarados do Brasil”, afirma Juliano Assunção.

A transição energética será uma mudança radical. Poucos escreveram tão bem sobre o assunto quanto o checo Vaclav Smil, cujo livro Os números não mentem acaba de ser lançado em português. Num dos capítulos da obra, ele lembra que a última transição energética da história da humanidade durou dois séculos. Ela começou por volta de 1800, quando se obtinha energia queimando madeira e carvão vegetal, e durou até o final do século 20, com a arrasadora predominância dos combustíveis fósseis.

Nesse período, a economia cresceu, geraram-se empregos, a pobreza diminuiu – mas, no caminho, colocamos o planeta em risco. Já na Rio 92 começou a ficar claro que teríamos que perseguir a economia de baixo carbono.

De 1992 a 2017, a produção solar e eólica, lembra Smil, multiplicou-se, proporcionalmente, por nove – de 0,5% da energia gerada para 4,5%. No mesmo período, contudo, a participação dos combustíveis fósseis caiu apenas de 86,6% para 85,3%. Smil alinhava outras verdades inconvenientes. As energias solar e eólica são úteis na geração de eletricidade, mas a eletricidade representa só 27% do consumo de energia no mundo. Outras atividades essenciais – como a produção de ferro e cimento – ainda dependem dos combustíveis fósseis. O problema é que não haverá mais planeta se a transição atual durar outros 200 anos.

MUDANÇA GRADUAL

O americano William Nordhaus ganhou um Prêmio Nobel de Economia defendendo a tese de uma transição gradativa, porém célere, com participação ativa dos governos. Caberia aos países taxar os setores da economia que mais liberam carbono, nas áreas de energia, transportes e uso da terra, e investir o dinheiro na transição energética.

Trata-se precisamente do que a União Europeia vem fazendo nos últimos anos, notadamente agora na gestão de Ursula Van der Leyen. A presidente da Comissão Europeia tem martelado o slogan “o futuro será verde e digital”, mantra do Pacto Ecológico Europeu (“European Green Deal”), que prevê a neutralidade carbônica (saldo zero de emissões de gases) até 2050.

A União Europeia tem o principal ativo para perseguir um objetivo assim: dinheiro. Um terço da verba da reconstrução da economia depois da pandemia – cerca de 1,8 trilhão de euros – será destinada à transição energética.

Mesmo com dinheiro, nada é simples. Além da economia existe a política, como mostraram as eleições deste ano na Alemanha. Nunca o Partido Verde conseguiu tantos votos, principalmente dos jovens que seguem a sigla desde sua fundação em Karlsruhe.

No debate eleitoral, porém, os operários da próspera indústria automobilística da Baviera – que exporta Mercedes, Audi e BMW para a China – manifestaram incômodo com a meta incluída no Pacto Ecológico Europeu de reduzir drasticamente a produção de carros. Os candidatos do Partido Verde acenaram com as novas oportunidades da transição para a economia de baixo carbono, e com a conversão das montadoras tradicionais em fabricantes de carros elétricos. Nada apaga o fato, no entanto – lembrado por Smil em outra de suas verdades inconvenientes – que uma fábrica da Toyota, mesmo com a robotização do setor, gera muito mais empregos que um Google.

A transição para a economia de baixo carbono vai depender muito dos incentivos econômicos – que incluirão o mercado de créditos de carbono, finalmente regulamentado em Glasgow – e da capacidade de as democracias administrarem conflitos, como o que opôs operários e ambientalistas na Alemanha.

As oportunidades do Brasil se destacam nesse cenário complexo. Zerando o desmate, o País resolve, no curto prazo, sua contribuição para as metas de descarbonização. Haverá tempo para atacar alguns gargalos, como a excessiva dependência de transporte rodoviário. E para investir em oportunidades na transição, como as plantas solares e eólicas citadas por Juliano Assunção.

Não se pode, no entanto, esquecer do principal. 60% da maior floresta tropical do planeta – sem a qual não será possível cumprir as metas do Acordo de Paris, pacto de 2015 para frear o aquecimento global – se situam no Brasil. É a Amazônia que pode nos tornar novamente relevantes no cenário internacional. Para aproveitar a enorme oportunidade, temos – simples assim – de parar de desmatar. E, mais que isso, colocar a Amazônia, nosso maior ativo, no centro do debate político do País. Em ano eleitoral, é fundamental ouvir o que cada candidato tem a dizer sobre a floresta que define nosso lugar do mundo.


Floresta fica cada vez mais perto do ponto de não retorno

Ben Hur Marimon Junior
PROFESSOR DE ECOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

A maior ameaça à Amazônia é a combinação de fogo reincidente e desmatamento em larga escala. Isso é resultado da aliança perversa entre mudanças climáticas e a falta de políticas públicas eficazes no controle do uso da terra, o que estimula práticas ilegais. As queimadas são os principais vértices deste processo, que vêm consumindo a floresta a taxas desesperadoras, nunca antes registradas. Em 2022 está previsto novo evento de El Niño, que causa secas e calor intenso na Amazônia. Por isso, podemos esperar pelo pior cenário em meados do ano que vem.

Sem controle legal adequado, as queimadas retroalimentam um círculo vicioso nas bordas da Amazônia, visto que, após um evento de fogo, o aumento da temperatura e da seca favorecem novos incêndios. O “efeito de borda” atinge áreas muito maiores do que as diretamente afetadas pela ação humana. Como consequência, as florestas remanescentes se degradam a um ponto sem volta, que avança mais e mais a cada ano, sustentando ciclo crescente de degradação rumo ao coração da Amazônia.

Esta equação se completa pela alta nos preços internacionais das commodities agrícolas, o que estimula a abertura de novas áreas com novas queimadas na Amazônia, onde os preços das terras são atrativos. Mas não precisa ser necessariamente assim. O Brasil dispõe de tecnologias para multiplicar a produção rural sem derrubar nenhuma árvore, como a integração lavoura-pecuária, o plantio direto e a agricultura de precisão. É uma forma também de atender ao mercado internacional, que aperta cada vez mais o cerco contra produtos originados de áreas desmatadas.

É preciso reverter a política atual para a Amazônia e intensificar a fiscalização e o monitoramento em tempo real de ilegalidades, com sistemas de alerta, prevenção e combate aos incêndios. Ao mesmo tempo, devemos ter políticas públicas de financiamento especial ao produtor rural da floresta que já implementa práticas sustentáveis ou de novas tecnologias para aumento da produtividade.

Ou isso ocorre, ou se repetem grandes desastres, como o de 2019, quando desmatamento e queimadas destruíram as bordas da Amazônia Brasileira, apavorando o mundo.

Se ficar como está, estaremos cada vez mais perto do ponto de não retorno da Amazônia, que continuará se degradando das bordas para o centro. A floresta tem papel fundamental na regulação climática da América do Sul e indiretamente do resto do planeta.

O agronegócio do Brasil, principalmente do Centro-Oeste, depende das chuvas amazônicas, cada vez mais escassas por causa do desmatamento. Não se trata apenas de proteger preciosíssimo patrimônio natural e sua biodiversidade, mas também valorizar a economia brasileira. Afinal, desenvolvimento econômico e conservação da Amazônia são conceitos que devem andar sempre juntos.

VARIANTE ÔMICRON ATINGE EUA E REINO UNIDO

 

  1. Internacional 

Onda de infecções causada pela variante Ômicron nos últimos 7 dias aumenta ocupação de hospitais; entre os britânicos, 90% dos internados não receberam aplicação extra de imunizante

Redação, O Estado de S.Paulo

NOVA YORK, LONDRES e BRUXELAS – EUA e Reino Unido vêm batendo recordes de novos casos de covid-19. Segundo especialistas, as variantes Delta e principalmente a Ômicron são as responsáveis pela nova onda de infecções. A média móvel de casos em sete dias nos EUA chegou a 267 mil nesta quarta-feira, 29, segundo o New York Times. O Reino Unido somou 183 mil novas contaminações em 24 horas – no país, 90% das internações são de quem não tomou a dose de reforço. 

Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), o “tsunami” de infecções pela Ômicron nos últimos sete dias aumenta a pressão sobre os sistemas de saúde, que estão “à beira do colapso”. Nos EUA, a Ômicron superou a variante Delta em poucas semanas e representa 96,3% dos novos casos em três Estados do noroeste do país (Oregon, Washington e Idaho), de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). PUBLICIDADE

No Reino Unido, a situação se repete. A Escócia, por exemplo, relatou 15.849 novos testes positivos para covid em 24 horas, o maior total diário desde o início da pandemia, superando o recorde anterior, de 11.030, registrado em 26 de dezembro. O número diário da Inglaterra também bateu recorde, com 138.287 casos na quarta-feira, ante a 117.093 de terça-feira.

Com recordes de novos casos, aumentam também as internações. Os EUA têm registrado uma média de mais de 71 mil por dia. As mortes também estão em alta, com média diária de 1.243 – em 26 de janeiro, o país notificou 3.342 óbitos, o número mais alto até agora. “Uma onda gigantesca de casos de Ômicron, provavelmente, inundará grande parte do país no próximo mês”, disse Neil Sehgal, professor da Universidade de Maryland. 

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Pessoas aguardam em fila para teste de covid-19 na Times Square, em Nova York; EUA e Reino Unido registram pico de casos da doença Foto: Seth Wenig/AP

A variante Ômicron é mais rápida do que outras, inclusive a Delta, para infectar pessoas vacinadas. No Reino Unido, 9 em cada 10 internados na UTIs com covid não tomaram a dose de reforço da vacina, segundo informou o primeiro-ministro, Boris Johnson, que fez um novo apelo para que a população tome a dose adicional antes do ano-novo. “A variante Ômicron continua provocando problemas reais. Vemos que os casos aumentam nos hospitais”, disse Johnson. 

Campanha

Em razão do aumento de casos e internações, o Reino Unido lançou uma nova campanha para incentivar vacinação. Pelo menos 57% da população maior de 12 anos já tomou a dose extra. 

O objetivo é oferecer o reforço a toda a população adulta antes do fim do ano – o que autoridades dizem ser difícil. Nos Estados Unidos, o governo do presidente Joe Biden também tenta acelerar a dose adicional. Até o momento, 32,7% da população recebeu o reforço. 

Segundo levantamento da agência de France Presse, com base em dados oficiais, o mundo registra uma média móvel de 935.863 novos casos por dia. O total é superior ao recorde anterior, alcançado entre 23 e 29 de abril, com 817 mil infecções diárias. “O risco global relacionado à variante Ômicron continua muito alto”, alertou a OMS em seu relatório semanal. O documento destaca que o número de casos dobra a cada dois a três dias. /NYT, REUTERS e AFP

DELEGADOS DA POLÍCIA FEDERAL CONTRA OS CORTES NO ORÇAMENTO DA PF

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