terça-feira, 5 de outubro de 2021

NEM O LULA ACREDITA NESSAS MANIFESTAÇÕES DE RUA CONTRA O GOVERNO BOLSONARO

Ato esvaziado

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

Ex-presidente Lula não foi ao ato programado pela esquerda na Avenida paulista| Foto: Ricardo Stuckert

A esquerda brasileira em geral, e o PT em particular, têm uma dificuldade congênita para aprender com a realidade, mesmo a realidade recente. Em sua própria visão, eles estão sempre certos; nunca cometem um erro, de nenhum tipo ou tamanho, e tudo o que fazem é um sucesso. Olham e leem a mídia, e acreditam em tudo o que está dito lá — o que sai impresso, ou vai ao ar, é sempre a favor deles e da sua lista de desejos. Têm certeza, então, de que a vida é linda.

Até hoje continuam achando que Lula fez muito bem em inventar Dilma como presidente, e que ela fez um grande governo; só caiu porque era tão boa, e tão genial, que “a direita” teve de dar “um golpe” para enxotá-la do Palácio do Planalto. Foi, ao exato contrário, um processo legalíssimo de impeachment, causado do começo ao fim por um governo monstruosamente ruim. Mas o PT nunca permite que os fatos interfiram com as suas doutrinas, e até hoje estão convencidos de que nunca houve nada de errado com Dilma. Aí fica difícil.

O miserável fracasso das últimas manifestações de rua do partido e dos seus servidores da esquerda é mais uma prova de quanto, exatamente, é difícil. Em vez de anotarem que a manifestação deu errado, tentarem saber por que, e trabalharem para melhorar o desempenho na próxima, ficam dizendo a si mesmos, junto com os jornalistas-amigos, que tudo deu muito certo. Deu errado, pela simples observação física das ruas e pela aritmética, mas e daí? Os donos do PT e os seus militantes querem ver outra coisa. E é essa coisa que fica valendo, no seu mundo mental e nos relatos feitos para o público.

A manifestação na Avenida Paulista, que funciona hoje como o termômetro para medir sucesso e fracasso em matéria de povo na rua no Brasil, reuniu, segundo os cálculos da PM do governador João Doria, 8 mil pessoas — uma calamidade terminal, quando se compara com as mais de 200 mil que, no mesmo lugar, foram manifestar seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro no último dia 7 de setembro.

Os militantes se concentraram na frente do carro de som de luxo, alugado por mais de R$ 100 mil para servir de palanque e pousada para as celebridades — e foi isso. Nos quarteirões vizinhos, apenas algumas ilhas isoladas de gente; nas ruas paralelas, não foi preciso nem fechar o trânsito.

É óbvio que a maioria da população não está ouvindo o chamado do PT para ir às ruas; quem consegue fazer isso, hoje, é Bolsonaro. Chato, não é? Não só chato, porque nega todas as grandes teorias hoje à venda sobre “popularidade política” no Brasil. Além disso, é uma demonstração concreta de que o discurso usado pela esquerda para o público está errado.

Talvez nada tenha comprovado essa realidade de maneira tão clara quanto o cartaz vermelho exibido por um grupo de manifestantes; dizia-se ali que o sindicato dos professores de São Paulo apoiava Lula, etc, etc. É duro acreditar, mas o fato é que o PT e a esquerda estão achando que manter as escolas públicas fechadas por mais de um ano é uma causa popular, digna de ser louvada entre as grandes “pautas” da manifestação; acham que isso rende voto e deixa o povo encantado.

A esquerda brasileira está se mostrando incapaz de entender que as suas grandes causas “populares” não são populares, não junto à realidade atual da população brasileira; estão falando em latim para ela, com a ajuda do “centro liberal–limpinho–equilibrado” — e colhendo nas ruas, diretamente, o resultado dos seus erros.

O primeiro a perceber isso parece ter sido o próprio Lula — ele não foi, simplesmente não foi, à manifestação da Paulista. Deveria ser o personagem principal, o ídolo a ser adorado pela multidão: nem se deu ao trabalho de aparecer. Se isso não é uma prova objetiva do fracasso dessa manifestação — que deveria lotar a praça e competir pau a pau com o ato pró-Bolsonaro — o que, então, poderia ser?

É verdade que Lula não tem coragem de botar o pé na rua há anos; sabe muito bem (ou desconfia) que é odiado por milhões de brasileiros. Se não fosse assim, por que se esconderia desse jeito? Não consegue ir a um jogo de futebol do Corinthians, e não quer se arriscar a nada; obviamente, dá sinais de que não acredita numa única sílaba das pesquisas do Ibope e do Datafolha onde se garante que sua popularidade nunca foi mais alta.

Mas com toda a repugnância que tem para se misturar ao povo, Lula poderia, sem nenhum risco para sua saúde, ir à manifestação; chegaria de helicóptero e ficaria o tempo todo protegido por um exército de seguranças, tudo pago pelos milhões de reais que o PT coloca à sua disposição. Não quis ir nem assim. É o melhor atestado de óbito para a “estratégia de massas populares” do PT. Se nem Lula aparece, imagine-se as massas.


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PRÓS E CONTRA O PASSAPORTE VACINAL

 

Pandemia

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Comprovante de vacinação contra a Covid-19 no município do Rio de Janeiro com a vacina da Pfizer.

Fiocruz defendeu que o passaporte da vacina seja adotado em todo o território nacional.| Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou dos Estados Unidos nesta segunda-feira (4), depois de cumprir a quarentena de 14 dias num hotel em Nova York por causa da Covid-19. Ele pegou a doença mesmo tendo sido vacinado duas vezes e de posse do “passaporte vacinal”. Ele é mais um caso entre milhares de pessoas que podem ter o passaporte — e passe livre para frequentar os lugares — e ainda assim estar com Covid.

Na Austrália está a maior confusão porque botaram a polícia para resolver um assunto que é do arbítrio das pessoas. Aqui no Brasil o Código Civil garante que a pessoa possa se recusar a receber remédios se acha que vai correr algum risco.

O Prêmio Nobel de Medicina foi anunciado nesta segunda e reparem que não foi para ninguém ligado ao desenvolvimento da vacina porque ela ainda é experimental. O Nobel foi para dois pesquisadores da Califórnia que estudaram o maior órgão do corpo humano, que é a pele, para saber como ela transmite sensações de temperatura, pressão, etc.

Digo tudo isso porque está nas mãos dos vereadores do Rio de Janeiro, e talvez nas de outros vereadores pelo país, a possibilidade de fazer um projeto de decreto legislativo cancelando a decisão do prefeito que exige o tal passaporte para entrar em determinados lugares.

Isso é uma volta nos tempos da escravidão, em que os escravos não podiam entrar em certo lugares, ou nos templos da Alemanha nazista, quando judeus alemães tinham que ter salvo conduto para andar no seu próprio país.

A Constituição diz que é livre a locomoção e o direito de reunião. Não faz sentido tudo isso. Os vereadores terão que decidir entre a democracia da liberdade e o totalitarismo da segregação. E de algo inútil, enfim, porque não é algo certo. Trata-se de uma obrigação de algo experimental.

Investimentos necessários
O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, está em Nova York e fica até o fim de semana, para tentar atrair investidores ao Brasil. Ele está apresentando a nova licitação da Via Dutra, da Rio-Santos, 16 aeroportos, nove portos, 12 mil km de rodovias, a Ferrogrão e dois terminais no Porto de Santos. Enfim, é muito investimento necessário para atender o crescimento do país.

Lá em Dubai, o ministro do Turismo discursou em inglês para apresentar o grande potencial do Brasil para ter mais companhias aéreas. A lei permite que venham companhias estrangeiras explorar o mercado doméstico porque há um grande potencial, estão fazendo cada vez mais aeroportos num país desse tamanho em que as pessoas estão cada vez mais necessitadas de transporte rápido.

Carne suína em alta
As exportações de carne suína cresceram em valor 37% em setembro. O mundo está cada vez mais consumindo carne suína porque se descobriu que é uma carne mais leve, mais saudável, com menos gordura e de fácil digestão.

Menos dependência
É preciso que o Brasil vá em busca da autossuficiência de  fertilizantes ou pelo menos uma menor dependência da importação de NPK, ou nitrogênio, fósforo e potássio. Nossa agricultura depende disso.


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MANIFESTANTES DO IMPECAHMET DE BOLSONARO NÃO SABEM O QUE QUEREM

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Manifestação contra Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro| Foto: Reprodução Lindbergh Farias

Perdoem começar com este título com um jeito tão tautológico. Os manifestantes do impeachment querem, naturalmente, o impeachment de Bolsonaro. Caso você não tenha ficado sabendo (eu só fiquei sabendo por ter meus perfis esquerdistas de estimação), neste dia 2 houve mais uma manifestação “pelo impeachment”, em que “o povo” foi às ruas pedir a saída do “genocida” porque “o gás está caro, culpa de Bolsonaro”.

Nas redes sociais viu-se a imagem de um Lula inflável na Cinelândia, de máscara, com uma faixa presidencial onde se lê “Lula Livre”. Ou seja, a manifestação “pró impeachment” era pró-Lula. E a manifestação pró-Lula é rival da manifestação pró terceira via.

Na cabeça de um Rasputin vermelho
Vou lhes dizer o que eu acho: algum Rasputin do PT andou assistindo a “Nem Tudo se Desfaz” e concluiu que as manifestações iniciadas em 2013 foram diretamente responsáveis pela eleição de Bolsonaro. Como totalitários têm uma dificuldade bem grande em lidar com espontaneidade, inferiram que tudo não passava de um plano de Olavo de Carvalho para derrubar o PT e colocar Bolsonaro. As manifestações iniciadas em 2013 “contra tudo isso que tá aí” aos poucos foram ganhando reivindicações específicas, e ninguém há de negar que a pauta pró impeachment foi um ponto alto do fenômeno.

Assim, algum guru petista terá pensado que basta refazer a receita e pronto: manifestações pró-impeachment serviram com Dilma, hão de servir com Bolsonaro. Agora é só repeti-las com alguma periodicidade e torcer para crescer. Quando não crescer, vão descobrir que o Gabinete do Ódio lançou um feitiço pelo WhatsApp que enfeitiçou as pessoas e fez com que elas não aderissem à manifestação. Resta dar uns telefonemas ao STF e clamar por “regulamentação” do zap-zap. Artistas e intelectuais do quilate do líder dos Entregadores Antifascistas entregarão à ONU e ao New York Times um abaixo-assinado pedindo que o zap-zap seja considerado uma arma de destruição em massa, por meio da qual Bolsonaro perpetrou um genocídio. Aquele chororô de sempre.

O bonequinho inflável Pixuleco, representando Lula preso, não foi uma marca registrada das manifestações pró-impeachment? Façamos então um Pixuleco de esquerda, com Lula livre e presidente.

Cadê Lula?
Cesar Benjamin é um dos seis ou sete esquerdistas honestos do país. Ele apontou bode na sala: “Lula não esteve nas manifestações pelo impeachment. Nas vésperas, havia jantado com José Sarney, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Edison Lobão e outros heróis brasileiros. Sérgio Cabral não foi ao jantar porque estava preso em outro compromisso.”

Num jornal comum, ainda antes da manifestação, um colunista fez a assessoria de imprensa do ex-presidente Lula. Ele não iria à manifestação por razões “políticas e sanitárias”. As políticas são a de respeitar a legislação eleitoral para que não se considere que Lula está em campanha antecipada. As sanitárias são: “Petistas envolvidos com o grupo de trabalho do partido na CPI da Pandemia disseram ao ex-presidente que ele ainda não tomou a dose de reforço da vacina contra Covid-19, e que sua presença provocaria tumultos e aglomerações em torno do trio.”

Eis o que se pode chamar de história mal contada. Lula não teve Covid-19? Lula já tem imunização natural; ele está mais para Bolsonaro do que para Queiroga. Se os petistas realmente estivessem preocupados com a imunização de Lula, dariam vivas e o considerariam tão apto para abraçar e beijar quanto Bolsonaro. É muito cômodo dizer que Lula poderia aparecer em público sem atrair ovadas — ao contrário, atraindo um montão de apoiadores.

De resto, lembremos que a pessoa que cuida das redes sociais de Lula tuitou em sua conta: “A vacinação deveria ser obrigatória. É como a mãe que insiste pro filho tomar remédio e ele não quer. Ela insiste porque quer que o filho melhore. Eu já tomei duas doses, se falarem de terceira tomo de novo. Eu acredito tanto na ciência que se precisar tomo vacina até na testa.” Lula tem 75 anos. A cidade de São Paulo começou esta segunda a aplicar a “dose de reforço” (eufemismo de “terceira dose”) em idosos de 60 a 69 anos.

Lula não quer tomar a terceira dose? Se ele teve reações à vacina, isso jamais poderia vir a público, porque está contra o oba-oba da vacina experimental segura e obrigatória. Ou Lula não teve nada e é desculpa para não levar ovada? De minha parte, sigo achando que o ex-garoto propaganda de empreiteira quer se aposentar e ficar de boa, mas a turma patrocinada pelo capitalismo lacrador não deixa, porque precisa de um Biden para botar na presidência.

A terceira via
Voltemos à assessoria de imprensa. Para estar seguro de que não iria sofrer sanções da legislação eleitoral, Lula só iria quando os outros presidenciáveis fossem. Porque esta, em tese, só é discernível de uma manifestação de terceira via pela presença do PT. As manifestações pela terceira via foram convocadas pelo MBL, cujo líder, Renan Santos, ficou chorando no Twitter porque o PT boicotou a manifestação. Excetuado o PCO, todos os satélites do PT compareceram. O PT, claro está, não vai a manifestações convocadas por outrem. Nunca vai ser coadjuvante em manifestação protagonizada pelo MBL.

Mas vejam vocês que paradoxo: terceira via alude a duas outras, a saber, Bolsonaro e o próprio Lula. “Nem Lula, nem Bolsonaro”, dizem, mas quando o PT não adere, dá chororô.

Pois bem: desta vez, tirando o MBL, o pessoal da terceira via aderiu formalmente ao ato: “Embora o ato tenha a aderência de partidos da centro-direita, entre eles MDB, PSDB, DEM, PSL e Novo, o pedetista Ciro Gomes foi o único postulante ao Planalto a garantir que estará no trio elétrico.”

Ciro Gomes compareceu para defender essa terceira via e foi perseguido por camisas vermelhas querendo dar-lhe pauladas e atirar-lhe garrafas. Descumpriu o acordo tácito segundo o qual nas manifestações para Lula só Lula pode brilhar.

Depois, instruído por João Santana, Ciro Paz e Amor gravou um vídeo dizendo que a esquerda é como a cristandade e precisa se unir em situações especiais, pausando as guerras intestinas. Bom, desde a época da ditadura, já se sabe que a esquerda só fica unida na cadeia. E olhe lá.


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ENTREVISTA COM O EX-PRESIDENTE TEMER

 

Entrevista exclusiva

Por
Isabella Mayer de Moura – Gazeta do Povo


O ex-presidente da República Michel Temer (MDB) demonstra descrença em uma candidatura de terceira via capaz de quebrar a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no ano que vem. Embora aponte faltar muito tempo ainda para as eleições de 2022 — e que até lá tudo pode acontecer —, Temer diz que a tendência hoje é de uma fragmentação dos votos do chamado centro democrático.

“O que vai acontecer nessa chamada terceira via é uma atomização dos votos, e isto, na verdade, vai manter a polarização dos dias atuais”, diz em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.

O ex-presidente vê a terceira via desunida e incapaz de alcançar uma convergência política que faça frente a Lula e Bolsonaro. Temer diz haver um “movimento divisionista” entre partidos e pré-candidatos do qual não faz questão de participar se o objetivo final não for somar forças. “O que eu puder somar, eu participo. Aquilo que é pra dividir, eu não participo”, afirma.

Temer também falou sobre sua participação na elaboração da declaração à nação, na qual Bolsonaro se comprometeu a cumprir as ordens judiciais do Supremo Tribunal Federal (STF), e afirmou que “não há a menor possibilidade de golpe no país”. Ele disse ainda que todas manifestações de rua a favor e contra o chefe do Executivo são legítimas, mas acrescentou que o Brasil tem 150 milhões de eleitores e que não são esses movimentos que decidem as eleições.

Sobre os pedidos de impeachment contra Bolsonaro, Temer demonstrou preocupação com a instabilidade que um processo dessa natureza poderia trazer ao país. “Um processo de impeachment leva ao menos nove meses para ser concluído. Imagine você, durante um pleito eleitoral, um pedido de impedimento com seguidores que ele [presidente] tem, convenhamos, radicais, muito entusiasmados. Ele poderiam criar um problema extraordinário no país. Portanto não vejo razão para um impedimento neste momento”.

Confira a seguir a entrevista completa em texto e vídeo.

A carta à nação e o 7 de setembro
Qual foi a sua participação na construção da declaração à nação assinada pelo presidente Jair Bolsonaro no mês passado? Quem contatou quem primeiro? E quais foram as consequências que o senhor observou depois da publicação da carta?

Michel Temer: As coisas se passaram da seguinte maneira. Numa sexta-feira que antecedeu o 7 de setembro muitas pessoas me procuraram, telefonaram dizendo o seguinte: ‘Olha Temer, você é um ex-presidente da República, tem uma palavra moderada. Hoje ninguém se entende com ninguém, as instituições não se entendem, você deveria ajudar nisso’. E eu confesso que vi aquilo, mas não sabia o que fazer. E aí passa sábado, domingo, segunda, terça, no 7 de setembro, quando houve aquela reunião de muita gente em várias partes do país.

Quando foi na quarta-feira, dia 8, por volta das 20 horas, o presidente da República me ligou. Me perguntou o que eu achei da manifestação, do povo que compareceu às ruas. Eu disse: ‘Olha, se me permite a franqueza, foi um grande movimento. Agora, o seu discurso, com a devida licença, não foi útil. Dizer o que você disse sobre um ministro do Supremo Tribunal Federal não fica bem na voz do presidente da República, especialmente para uma multidão’.

Aí ele me disse que realmente queria uma pacificação, que ele não aprecia essa disputa enorme que está havendo e que quer ter bom entrosamento com o Supremo, com os demais poderes. E até ele acrescentou: ‘O senhor é muito amigo do ministro Alexandre [de Moraes], poderia conversar com ele’. [Respondi:] ‘Se me permitirem que eu diga que o senhor me pediu para falar, eu converso com ele’. E ele disse que autorizava.

Então eu conversei com o ministro Alexandre, que me disse: “Olha, eu não dou nenhum despacho que não seja fundamentado na ordem jurídica, não há nada pessoal contra ninguém”. Aí eu disse [para Moraes] que para distensionar as relações, nós deveríamos talvez pensar numa declaração escrita do presidente, dizendo que cumpre a Constituição, cumpre as medidas judiciais, que tem apreço pela sua figura como professor e jurista, que aquela fala foi calor do momento e nada mais do que isso.

O ministro Alexandre de Moraes falou: ‘Se for assim fica uma coisa boa para distensionar isso que está acontecendo no país’. Então eu disse que ele [presidente] iria me ligar no dia seguinte, suponho, e eu transmitiria esses tópicos a ele para verificar se aceitaria.

Eu ainda tinha uma dúvida se ele ia aceitar ou não. Mas o fato é que ele me telefonou e quando disse que, em face das conversas, eu tinha elaborado um tópicos para que, se pudesse fazer uma declaração à nação, eu li os tópicos para ele e ele se colocou de acordo e disse: ‘Olha, estou enviando um avião aí para buscá-lo, quero que venha almoçar comigo porque vamos conversar sobre isso’.

Fui para lá [Brasília], conversamos durante o almoço, entreguei os tópicos para ele. Ele me pediu duas horas porque, naturalmente, ia conversar com mais alguém. Duas horas depois eu voltei, ele estava com a declaração pronta, que foi imediatamente divulgada.

Foi então que eu coloquei o ministro Alexandre na linha [de telefone] para conversarem, que é a coisa mais natural o presidente da República conversar com outros ministros de outras instituições. Eles conversaram por quatro ou cinco minutos, muito amigavelmente, pelo que pude perceber.

E interessante que, quando eu saí de lá, verifiquei a repercussão extraordinária que teve. A bolsa teve um pico para cima, o dólar caiu e as pessoas estavam muito entusiasmadas sobre aquilo que aconteceu. O que a mim revela que o povo brasileiro está cansado dessas disputas entre pessoas e entre instituições. Por isso teve a repercussão que se verificou. Rigorosamente, volto a dizer, foi um gesto modesto, mas que teve essa repercussão extraordinária. E foi muito rapidamente, foi das 20 horas de um dia para as 15 horas do dia seguinte.

O senhor chegou a achar em algum momento que haveria um risco de golpe ou ruptura institucional no Brasil, tanto antes como depois do 7 de setembro?

Não há menor possibilidade de golpe no país, porque quando você pensa em um golpe institucional, você tem que pensar no apoio das Forças Armadas, e eu conheço bem as Forças Armadas, tive muita convivência como presidente da Câmara dos Deputados, como vice-presidente e como presidente da República. Eu sei, primeiro, que eles são rigorosos cumpridores da Constituição. Segundo ponto, não querem jamais repetir o episódio de 1964, os militares não querem isso. Então não há a menor possibilidade do que se chama golpe institucional.

Ademais disso, eu devo reconhecer que o povo brasileiro está muito convencido nos pressupostos democráticos no nosso país. Não há a menor condição para isso. Aliás o movimento que ele [Bolsonaro] fez com muita gente foi um movimento pacífico, não houve violência. Até aí tudo bem, faz parte da democracia as pessoas se manifestarem.

O senhor considera que o discurso do presidente Jair Bolsonaro foi golpista, como afirmam alguns analistas e veículos de comunicação?

Se foi, na verdade dois dias depois, ele fez uma declaração à nação, dizendo exatamente o oposto, que é fiel cumpridor da Constituição, que a harmonia dos poderes é importante, que as decisões judiciais têm que ser cumpridas, elogiou a postura do ministro Alexandre de Moraes e revelou que aquilo foi um calor do momento. Então, se por algum momento passou no raciocínio dele essa hipótese, ela foi desmentida praticamente um dia e meio depois.

Impeachment
Há interpretações de que a sua intervenção foi feita para salvar o presidente Bolsonaro do impeachment, já que alguns grupos de centro começaram a considerar mais seriamente essa possibilidade durante o dia 8 de setembro. O senhor acredita que a sua intercessão livrou o presidente Bolsonaro da abertura de um processo de impeachment?

Com toda a modéstia de lado, o que eu acho que fiz — e fiz provocado — foi pacificar as relações entre os poderes e, por consequência, pacificar as relações no país. Desanuviou-se aquela coisa muito desagradável de brasileiro contra brasileiro, pelo menos naquele momento.

O segundo ponto é que, a partir daí, ele [presidente] amenizou o discurso. Dois ou três dias depois, ele fez uma solenidade no Palácio do Planalto e disse que Executivo, Legislativo e Judiciário formam um só corpo e, portanto, governam juntos. Um passo extraordinário. Depois na própria entrevista que deu à revista Veja, dias depois, adotou um tom muito mais ameno. Então, não me passou pela cabeça se eu ia salvá-lo de um impeachment, até porque o impeachment é um julgamento político, portanto é pautado pela ideia da conveniência e da oportunidade.

Vamos supor que hoje, em outubro, se inaugurasse um processo de impedimento. Passa outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro — praticamente para tudo — retoma-se em março, abril, maio, junho. Um processo de impeachment leva ao menos nove meses para ser concluído. Imagine você, durante um pleito eleitoral, um pedido de impedimento com os seguidores que ele tem, convenhamos, radicais, entusiasmados. Eles poderiam criar um problema no país, extraordinário. Portanto, não vejo razão para um impedimento neste momento.

Mas não foi esse o objetivo [da declaração à nação]. Nós temos que ir para as eleições e nas eleições é o povo quem tem poder e vai dizer quem quer eleger para governar o país. Pela minha cabeça não passou minimante essa coisa do impeachment.

Qual é a sua relação com o governo Bolsonaro?

É uma relação formal. Não tenho nenhum tipo de intimidade com o presidente Bolsonaro. Nós fomos colegas na Câmara dos Deputados, quando eu fui três vezes presidente daquela Casa, mas não tínhamos contato. Confesso que só tive contato quando ele, eleito, foi me visitar depois das eleições, e a partir daí fizemos a transição do meu governo para o governo dele. Depois falamos mais uma ou duas vezes pelo telefone e, finalmente, agora no dia 8 de setembro. Mas não tenho nenhum tipo de proximidade, intimidade com o presidente Jair Bolsonaro. Quando eu sou chamado, evidente que eu não me omito, especialmente se é para colaborar com uma certa tranquilidade no país.

Protestos
Qual avaliação o senhor faz das últimas três manifestações que ocorreram no Brasil: a de 7 de setembro, pró-Bolsonaro; a de 12 de setembro, contra Bolsonaro, organizada pela direita; e a manifestação do último sábado, da esquerda. O que explica o presidente Bolsonaro ter levado mais gente para as ruas do que a oposição, mesmo com alta rejeição, segundo pesquisas, na sua opinião?

São movimentos legítimos. Na democracia é assim, o povo às vezes se manifesta nas ruas. A única preocupação é que não haja violência nas ruas. E tanto o primeiro movimento quanto o segundo não houve violência em relação a prédios público, a prédios privados — isso não aconteceu. Talvez nesse último tivesse havido alguns embaraços, mas frutos de disputas políticas dentro do próprio movimento. Acho que esse foi o motivo para algumas agressões verbais que se verificaram.

São movimentos legítimos e não há razão para evitá-los, quanto mais queiram fazê-los. Não é isso que decide uma eleição. O Brasil tem quase 150 milhões de eleitores e nesse movimentos aparecem, quando muito, 30, 40, 50, 100 mil pessoas, quando, volto a dizer, o Brasil tem 150 milhões de eleitores. Mas são movimentos legítimos.

MBL e PT perderam sua capacidade de mobilização?

O lado do presidente Bolsonaro levou a uma militância muito ativa, uma militância que levou milhares de pessoas às ruas. Na verdade, até que se surgisse essa militância, a única que havia era do PT, do Psol, do PCdoB, do MBL, que eram militâncias menores. Mas volto a dizer, todas elas muito legítimas em face do fato de nós vivermos em um Estado Democrático. Agora, claro que do lado do presidente Bolsonaro talvez explorem — aí é uma questão política — a circunstância de um movimento não ter trazido muita gente para as ruas. Mas é um movimento de protesto e tem que ser levado em conta. Eu sempre levei muito em conta os protestos [quando era presidente]: eu não protestava contra os protestos, mas considerava a manifestação.


Eleições 2022
Na semana passada foi dito na imprensa que o senhor foi vetado em um encontro entre os ex-ministros Sergio Moro e Luis Henrique Mandetta e o presidenciável João Doria (PSDB). E do seu lado disseram que o senhor não participaria do encontro nem que fosse convidado. Eu gostaria de saber se isso é verdade e por que o senhor não participaria deste encontro?

Eu nem soube desse jantar. Soube um dia ou dois depois, que alguém publicou uma notinha, que haviam considerado a hipótese de chamar o Temer, mas depois acharam mais conveniente não chamá-lo. Eu confesso que tenho minha agenda própria, que é para somar, nunca para dividir. Portanto, todo o movimento divisionista, eu não participo. Você veja que no episódio do dia 9 de setembro, foi para somar, não para dividir. Por isso que eu disse que acho que não iria, porque não quero participar de coisa divisionista. O que eu puder somar, eu participo. Aquilo que é pra dividir, eu não participo.

Por que o senhor considera esse encontro divisionista?

Mesmo na soma da chamada terceira via, há divisões. Três ou quatro meses atrás, eu imaginava que os partidos lançariam pré-candidatos e ao final decidiriam por uma única candidatura. Mas hoje eu estou vendo, em face das divisões existentes, que os pré-candidatos estão se transformando em candidatos definitivos. Então, o que vai acontecer nessa chamada terceira via é uma atomização dos votos, e isto, na verdade, vai manter a polarização dos dias atuais. Por isso eu acho que não convém incentivar divisões nesse movimento. Quando tiver uma unidade do movimento, acho que todos podem participar.

Falando em eleições, eu gostaria de trazer aqui o exemplo da eleição presidencial na Argentina, que deu vitória ao Alberto Fernández. O ambiente lá era muito polarizado também. Mas a chapa kirchnerista parece que conseguiu contornar os altos níveis de rejeição de Cristina Kirchner colocando ela de vice do Fernández. O senhor acredita que essa estratégia possa ser colocada em prática aqui no Brasil? Por exemplo, Bolsonaro concorrer como vice de alguém. 

Não sei dizer, é preciso dar tempo ao tempo. Como você mesmo disse, estamos a um ano das eleições. E na política, às vezes as coisas mudam de um dia para o outro. Imagine um ano inteiro, então fica difícil saber se haverá uma repetição daquilo que aconteceu na Argentina ou não. Hoje em dia é muito difícil fazer uma avaliação definitiva sobre isso. Talvez quando for maio do ano que vem dê para fazer essa avaliação.

Pensando também no cenário eleitoral, qual é o principal problema que o presidente Jair Bolsonaro está enfrentando? Economia ou o ex-presidente Lula (que está liderando as pesquisas de intenção de voto)?

Economia e pandemia. Acho que até devo dizer e tenho pregado sempre que 2021 deveria ser dedicado ao combate da pandemia e à recuperação da economia. Esse é o ponto central que o governo deve levar adiante. Acho que no momento, não é ainda uma outra candidatura presidencial. Volto a dizer que nós estamos muito distantes da eleição. Eu não quero dizer que a pesquisa [eleitoral] de hoje não seja correta, ela é correta. Agora, eu não sei se ela vai se manter daqui dez meses, onze meses, um ano. Então acho que hoje é combate à pandemia e recuperação da economia, 2021 é para isso.

O presidente Jair Bolsonaro pode vir a enfrentar outros problemas. Uma coisa que se menciona na imprensa é a possibilidade de o STF ou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) tornar o presidente inelegível para as eleições do ano que vem. O senhor vê isso acontecendo?

Não consigo ver isso por uma razão muito objetiva: eu sou da área jurídica, eu não conheço o que está nos autos, então fica difícil, aí seria um palpite irresponsável. Eu não tenho condições de fazer uma avaliação dessa natureza, somente conhecendo o processo, conhecendo os autos.

Para fechar o assunto eleições, eu gostaria de saber o que a gente pode esperar do senhor nas eleições de 2022? Uma participação mais ativa, talvez até como candidato? Ou uma atuação mais nos bastidores?

Isto não está no meu horizonte. Você sabe o que se pode esperar de mim? É aquilo que eu coerentemente fiz ao longo da vida, é pregar o respeito absoluto à Constituição, coisa que as pessoas ignoram nos dias atuais e também a pacificação dos nossos brasileiros. Você verifica hoje que muitas vezes há brasileiros contra brasileiros, até mesmo em família. Ouvi histórias que não se pode fazer um jantar em família porque pode dar confusão. Isto não é típico do brasileiro; o brasileiro sempre foi muito solidário, muito pacifista. Não significa que ele não possa ter divergências programáticas, administrativas, eleitorais e até ideológicas. O que não se pode é fazer o que se fez nos últimos anos, que é pregar a divisão dos brasileiros.

Quando chamado, eu trabalharia pela pacificação do país por uma razão muito singela, porque a Constituição determina esta solidariedade entre os brasileiros e a harmonia entre os poderes, portanto, cumprimento rigoroso do texto constitucional.

Fake news
O que o senhor acha da aplicação de limitações para evitar a propagação de fake news? Há algumas propostas de lei que estão sendo discutidas no Congresso, como a do Código do Processo Eleitoral, que criminaliza a divulgação e o compartilhamento de fatos inverídicos ou descontextualizados.

Primeiro eu quero começar a falar sobre um tema mais geral, que é a liberdade de imprensa, que é fundamental no país. As pessoas pensam que a liberdade de imprensa é em favor do jornalista ou do dono do meio de comunicação e não é. A liberdade de imprensa é conteúdo de um continente maior chamado liberdade de informação.

O que a Constituição prestigia é a liberdade de informação ao fundamento de que, em um Estado Democrático, todos têm direito de saber a informação por completo. A Constituição prevê, por exemplo, o direito de resposta, que é para completar a informação. E até nos dia atuais é interessante que a imprensa, quando publica uma notícia, depois publica o outro lado, que dá para ter a informação por completo. É fundamental a liberdade de imprensa porque ela é a liberdade de expressão em consequência a liberdade de informação ao povo.

No tocante às notícias falsas, é preciso examinar os projetos que estão correndo no Congresso, porque não se pode limitar a liberdade de expressão. Há uma linha muito tênue entre liberdade de expressão e o impedimento da manifestação de opinião. Agora, o que as empresas de mídias poderiam fazer é exigir o não anonimato. Se não houver anonimato, o que acontece é o seguinte: você recebeu uma notícia falsa prejudicial à sua figura, você tem no sistema normativo os crimes de injúria, difamação, calúnia, e você pode ir ao Judiciário para tentar apenar aquele que assim se manifestou. O que não se pode permitir é o anonimato.

Segundo ponto: não se pode permitir também aqueles tais robôs que hoje parece que agem com muita frequência na internet. Desde que você consiga uma determinação que você só consiga publicar quem tem nome e RG, acho que aí você deixa livremente a manifestação. E quem manifestar-se inadequadamente, vai receber a consequência dessa manifestação, que são medidas judiciais.

O senhor disse que não acredita que os ministros do STF estejam fazendo ativismo judicial, porque é um poder que age quando é provocado. Mas o que o senhor tem a dizer sobre o inquérito das fake news, que foi aberto pelo próprio STF? Não seria um exemplo de ativismo judicial, como defendem os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro?

Não, porque um dos fundamentos da chamada independência entre os poderes é que cada poder tem competências próprias, têm regimento próprio, orçamento próprio, têm administração própria. Isso é a independência do poder. O Supremo Tribunal Federal tem um regimento próprio. Portanto, quando se abre um inquérito por provocação do próprio Supremo, é porque há uma autorização do sistema normativo, chamado regimento interno. Lá está dito que toda a vez que há uma agressão à instituição ou a ministros do Supremo Tribunal Federal é possível a abertura de ofício de um inquérito investigatório. Acho que não há exagero nenhum nessa abertura que se deu no inquérito do Supremo.

O senhor quer fazer algumas considerações finais?

O Brasil precisa muito de otimismo. Lamentavelmente, nos últimos tempos, temos tido muito pessimismo no país. Isso desestimula os jovens, os adultos e o brasileiro em geral. A capacidade de recuperação que o Brasil tem é uma coisa extraordinária. Há uma crise qualquer e logo depois ela é debelada. Portanto, o otimismo é minha última palavra.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/michel-temer-critica-divisoes-na-terceira-via-entrevista-exclusiva-gazeta/
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ATROPELAR ASALTANTES COM MOTO É VIOLÊNCIA?

 

Dilemas de fim de semana

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

A decisão de salvar ou não alguém de um ato de violência cometendo outro ato de violência é algo anterior ao próprio ato.| Foto: Reprodução/ Twitter

O vídeo rodou todos os infinitos caminhos da Internet no fim de semana. Numa rua deserta, um casal é abordado por dois homens numa moto. O casal está contra um muro alto e sob a mira de uma arma. De repente, vem pela rua um carro branco. Ao perceber o assalto, o motorista dá uma guinada brusca e acerta a moto por trás, lançando os bandidos longe e os arrastando por alguns metros. Ao se ver salvo, o casal sai correndo. Os bandidos se levantam e, até onde se sabe, vão a um hospital. Nada se sabe sobre o salvador/atropelador.

Ao ver aquela imagem sem som, mas com várias camadas de violência, a primeira coisa que me ocorreu foi me perguntar se eu faria algo parecido. Matutei, matutei – e nada. Mostrei o vídeo para a minha mulher e a alguns amigos. Uns bateram no peito e disseram que atropelariam os bandidos sem dó nem piedade, mas depois voltaram atrás. Outros disseram que não, jamais fariam algo assim, mas depois voltaram atrás.

As dúvidas nascem de uma combinação de fatores. Primeiro, das peculiaridades da cena e das muitas variáveis sem resposta para o observador. Se o motorista por acaso tiver algum tipo de relação com as vítimas, por exemplo, a coisa muda de figura. Sem contar que vivemos num país onde a violência é uma constante e, por consequência, há uma demanda maior por justiça. Depois há o fato de dispormos de tempo, algo que o motorista não tinha. Aqui vou precisar abrir um parágrafo.

Dizia eu que o motorista não dispunha de tempo. Ao mesmo tempo, ele dispunha de todo o tempo do mundo. O paradoxo me fascina. Porque, sim, dá para ver pela imagem que ele tomou a decisão de atropelar os bandidos por impulso. Num átimo, como dizem os causídicos. Pelo menos a guinada brusca sugere isso. Ao mesmo tempo, esse tipo de decisão, ao envolver tantos preceitos morais, foi tomada há muito tempo pelo motorista – e à revelia de suas sinapses momentâneas e embriagadas de cortisol e adrenalina. Isto é, a decisão de salvar ou não alguém de um ato de violência cometendo outro ato de violência é algo anterior ao próprio ato.

Há um terceiro fator que merece ser mencionado: o prejuízo material e jurídico de se lançar um carro sobre bandidos. Que (e este detalhe é importante) ainda não consumaram o crime. A seguradora dificilmente arcaria com os custos de um conserto decorrente de um choque intencional. Além disso, é bem possível que o motorista venha a sofrer algum tipo de investigação sobre o caso. Se tudo correr bem, ele terá sua inocência (aos olhos da lei) constatada, mas o risco de uma condenação não é exatamente zero. Sem falar nos custos envolvidos na defesa.

Por fim, há a questão das alternativas. Ou seja, partindo do pressuposto de que atropelar os bandidos é errado, que atitude caberia ao motorista? Ele deveria cometer uma infração de trânsito e ligar imediatamente para a polícia? Ou deveria estacionar antes? Ele deveria ter um papo com os bandidos, expondo os riscos envolvidos naquele gesto? Ou quem sabe ele deveria agir fisicamente de modo a não pôr em risco a vida dos assaltantes, sem atropelá-los, mas, de alguma forma, impedido o assalto? Enfim, qual seria a atitude moralmente correta neste caso?

Boas intenções e probabilismo
Sei que vivemos num país violento e com sede de justiça. Por isso, sei também que você deve estar com coceira no dedo para recorrer à caixa de comentários e dizer que, sem dúvida nenhuma, atropelaria os bandidos. Mas me deixe tentar pôr um pouquinho mais de dúvida na sua cabeça.

Conversei nesta manhã com um padre, cujo nome vou omitir aqui porque o WhatsApp caiu, impedindo que ele me desse autorização para citar seu nome. “O que parece na cena é que o motorista do carro, mesmo querendo evitar um assalto, quis fazer justiça com as suas próprias mãos. Mesmo que a intenção fosse boa, a de evitar o assalto, houve uma reação desproporcional. Ele evitou o assalto colocando em risco a vida dos assaltantes”, disse-me o padre. “O motorista pode ter agido movido pela paixão do momento, o que diminui a gravidade, mas não torna essa ação, em si má, uma ação boa. Não basta a boa intenção. A ação tomada deve ser boa e proporcional. O que não ocorreu”, completou.

Outro amigo, o professor Rafael Ruiz (que me deu autorização para citar o nome antes de o WhatsApp cair), disse de pronto que não agiria como o motorista do vídeo. E, antecipando-se à reação dos que defendem o atropelamento, disse que “a maior parte dos argumentos a favor se baseia numa antecipação do futuro, na “presentidade” de uma probabilidade. Na verdade, não sabemos como se desenvolveria a ação. E eu nunca faria um mal certo para evitar um mal possível”.

Ruiz explica ainda que nossas dúvidas e certezas têm raízes no probabilismo. “Dentro do probabilismo entendia-se que, para ‘fazer o bem’, eram possíveis diferentes ações, desde que fossem prováveis e prudentes. Atropelar alguém, mesmo no caso de evitar um mal possível, não é nem prudente nem provável, até porque o atropelamento certamente é um mal e pressupõe uma morte provável. O que se queria evitar pode dar em morte ou não, pode ficar apenas no roubo ou pode resultar numa fuga da moto. Há mais probabilidades certas de fazer a coisa certa, que não é mesmo atropelar”, disse.

O que eu faria
Ao me colocar no lugar do motorista, percebi que responder objetivamente à questão se eu atropelaria ou não os assaltantes é praticamente impossível. Justamente porque eu (assim como o padre e o professor) disponho de tempo para refletir sobre minhas atitudes e as consequências dela. Ao entrar na rua deserta e ver um casal ameaçado por bandidos armados, não sei se prevaleceria o que sei hoje sobre probabilismo. Tampouco sei se ponderaria a respeito dos prejuízos materiais e das consequências jurídicas do ato.

Por isso disse lá em cima que a decisão é uma decisão tomada na hora, mas formada muito, muito antes de o carro entrar na rua deserta. O que me traz à memória a figura de Meursault em “O Estrangeiro”, de Albert Camus. O personagem, que já se sente estranhamente julgado pelo mundo por não chorar no enterro da mãe, vai dar uma volta na praia e, estressadíssimo e cansado, se vê numa situação de confronto. Resultado: o sol refletido numa pedra lhe atinge os olhos e ele acaba matando um homem que o ameaçava com uma faca. Por isso Meursault é condenado à morte.

Será que Meursault teria se deixado levar pelo sol refletido no rosto se estivesse convicto de que a violência é sempre errada? Que princípios (ou falta deles) estão envolvidos numa decisão aparentemente tomada ao acaso ou por impulso? Mais: será que, se morasse num país violento e numa época em que a violência é onipresente, Meursault botaria a culpa no sol e alegaria inocência? Ou bateria no peito, alegando legítima defesa, quando não coragem e heroísmo?

E hoje eu ia dizer que excepcionalmente encerrarei o texto com um ponto de interrogação para, agora sim, você correr até a caixa de comentários e dizer o que faria numa situação semelhante. Mas, como se percebe daqui a cinco palavras, não foi desta vez.


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FACEBOOK SE DESCULPA PELO APAGÃO DE 7 HORAS ONTEM

 

Uma atualização incorreta tirou Facebook, WhatsApp e Instagram do ar; dados dos usuários não foram comprometidos

 Por Redação – O Estado de S.Paulo

Após pedido de desculpas de Mark Zuckerberg, Facebook acusa erro interno como causa do apagão

Após pedido de desculpas de Mark Zuckerberg, Facebook acusa erro interno como causa do apagão

Facebook afirmou que uma atualização incorreta foi a causa principal do apagão de 7 horas que tirou do ar os serviços da empresa. A companhia não deu mais detalhes sobre os responsáveis pelo erro e também não explicou se a mudança na configuração estava programada.

Em nota publicada na noite desta segunda-feira, 4, a empresa de Mark Zuckerberg informou que as alterações de configuração mudaram a forma com que os centros de processamento de dados da rede se comunicavam, o que causou um “efeito cascata” capaz de derrubar o Facebook, o WhatsApp e o Instagram. Apesar de já ter publicado um pedido de desculpas, essa foi a primeira vez que a plataforma tentou explicar o motivo do problema. Segundo a empresa, o apagão também afetou os serviços internos, o que dificultou o diagnóstico. 

“Nós também não temos evidências de que dados dos usuários tenham sido comprometidos como resultado da interrupção”, informou o Facebook em publicação em seu blog. Funcionários da empresa ouvidos pela agência de notícias Reuters acreditam que o problema foi causado por um erro interno, o que descarta a possibilidade de que um ataque hacker teria provocado o apagão.

“Pedimos desculpas a todos os que foram afetados. Estamos trabalhando para entender melhor o que aconteceu hoje e para continuar a tornar nossa infraestrutura mais resiliente”, concluiu. 

Levantamento da revista americana Forbes mostrou que o apagão dos serviços levou o Facebook a perder quase 5% de seus cofres, o equivalente a US$ 6 bilhões – a maior queda desde novembro de 2020. O problema aconteceu um dia depois da ex-gerente de produto do Facebok Frances Haugen revelar ser a fonte que acusou a companhia de colocar os lucros acima da segurança dos usuários. O caso foi relatado pelo jornal americano Wall Street Journal.

Em sua conta pessoal no Facebook, Zuckerberg também se desculpou. Sei que muitos de vocês dependem de nossos serviços para estar conectados com pessoas com as quais vocês se importam”, publicou./ COM REUTERS

DICAS PARA MELHORAR A PROSPECÇÃO DE VENDAS

 

*Juliano Dias, CEO da Meetz

Mesmo não sendo uma ciência exata, a prospecção de negócios é essencial para garantir perpetuidade e crescimento dos negócios. Quem trabalha com vendas, provavelmente já deve ter se perguntado sobre quais ações tomar para prospectar de forma mais eficiente. Independentemente se a empresa vende produtos e soluções de alta escalabilidade ou um serviço consultivo e customizado, para alcançar resultados satisfatórios é essencial ter acesso às empresas certas, no momento oportuno e conversar com quem tem o poder de decisão.

Hoje o erro mais comum cometido pelas companhias é acreditar que a prospecção é uma atividade simples e rápida. Não há uma fórmula mágica para uma organização começar a prospectar de forma eficiente. Antes de chegar a este ponto, é preciso testar vários canais, formas, comunicações e processos. Com tempo e análises de resultados, certamente a equipe comercial irá entender melhor o seu lead, conhecer os canais que geram melhores resultados e, consequentemente, conseguir medir com maior facilidade o retorno sobre o investimento.

Outra dificuldade comum dos times comerciais é a criação de relacionamentos, principalmente quando falamos de empresas B2B com processos mais consultivos e complexos. É importante ter em mente que neste nicho o relacionamento fala mais alto e que sentar à mesa com um decisor é só o início de um relacionamento. Em resumo, prospecção é a base, mas negócios de milhares ou milhões de reais não são fechados com apenas 20 minutos de conversa.

A seguir, elenco seis passos essenciais para ajudar as companhias a prospectar melhor e, consequentemente, ter resultados mais consistentes:

Entenda que não há venda impossível. A arte de prospectar bem passa por alinhar a comunicação adequada, no melhor canal, encontrando o decisor, no momento ideal. Garanta que tudo esteja alinhado e o sucesso chegará;

Como citado pelo Jeb Blount, autor do livro “Prospecção Fanática”: A prospecção que você fará nos próximos 30 dias vai gerar resultado nos 90 dias seguintes. Basicamente, a mensagem é: não deixe a prospecção para amanhã;

Prospecção é sempre acompanhada de interrupção, então, entender que as pessoas estão trabalhando e que você também está enquanto prospecta é um bom modo de assumir essa função com menos receio e mais segurança. Perca o medo de interromper os seus clientes potenciais, eles têm dores e você a solução. Encontre uma forma de deixar isso claro e seus números aumentarão drasticamente;

Marketing é a arte de transformar segundos em minutos. Cause impacto nos primeiros segundos, para garantir que terá os tão sonhados minutos com o tomador de decisão que a sua empresa almeja. Comunicação é a chave;

Conheça o seu cliente. Olhe para dentro do seu negócio para identificar os padrões. Entenda se quando você se reúne com um analista o seu ciclo de vendas é de 90 dias e a taxa de conversão é de 10%, mas quando fala com um diretor, o ciclo de vendas é de 40 dias e a taxa de conversão é de 20%. Neste exemplo, faria mais sentido dedicar tempo e investimento para prospectar reuniões com diretores do que com analistas e, a partir daí, entender quais os canais e o tipo de comunicação que dão maior resultado para atraí-los;

Nunca esqueça que negócios são feitos de encontros e que relacionamento é o caminho para ter sucesso nas vendas B2B. Sem relacionamento não há entendimento e sem entendimento, não haverá contrato.

QUEM SOMOS

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

Diferenciais

  • A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
  • A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
  • A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
  • A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

Missão:

Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.

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Ser uma empresa de referência no ramo de prestação de serviços de Tecnologia da Informação na região do vale do aço e conquistando relacionamentos duradouros.

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