segunda-feira, 4 de outubro de 2021

CLIENTE NEM SEMPRE TEM RAZÃO

 

Por Carla Gavazzoni, executiva de Customer Success da Zendesk             

Você já deve ter ouvido a expressão “o cliente tem sempre a razão”, não é? Neste setembro, que tivemos o Dia do Cliente, gostaria de te convidar para uma reflexão sobre como o perfil do cliente mudou nas últimas décadas e porque essa expressão está desatualizada.

Embora o cliente mereça o respeito absoluto – afinal, um negócio só existe por conta dele -, a verdade é que nem sempre ele tem a razão. Seguir ao pé da letra essa expressão e tratar o cliente de forma que ele nunca esteja errado pode, na verdade, prejudicar a cultura interna de uma empresa e impactar a qualidade do atendimento em geral.

Hoje em dia, os consumidores estão empoderados. Têm mais informação, sabem como arranhar a reputação das empresas e mudam de marca em um piscar de olhos. Além disso, existem órgãos protetores dos direitos do consumidor, como o Procon e o Reclame Aqui, que atuam para equilibrar a relação entre clientes e fornecedores. É um cenário bem diferente de 100 anos atrás, quando surgiu o ditado que incentivava um tratamento mais respeitoso aos clientes.

De lá para cá, a sociedade avançou para uma cultura de serviço, onde tratar bem o cliente é parte fundamental dela e, há alguns anos, começou uma transformação ainda mais profunda sobre a importância do cliente nos negócios. O customer centricity (ou centralidade no cliente) passou a ser buscado por empresas de todos os portes e um verdadeiro desafio implementá-lo.

Mas isso não significa que o cliente tenha sempre a razão. Uma companhia que até hoje segue esse mantra pode prejudicar sua experiência de atendimento. Explico melhor: quando ela orienta seus colaboradores para atuarem dessa forma, significa que eles irão gastar muito tempo e energia em poucos atendimentos, deixando de engajar com uma série de outros clientes, inclusive, com necessidades prioritárias. Além disso, os agentes de atendimento perdem o empoderamento e a autonomia para solucionar casos simples baseados no propósito da empresa. É preciso tomar cuidado para que a relação de atendimento entre consumidor e atendente não se torne desrespeitosa e impacte a moral e o engajamento da equipe que está na linha de frente.

Ninguém está certo o tempo todo

A realidade é que ninguém está certo o tempo todo e isso inclui os clientes. Às vezes, eles simplesmente estão mal informados sobre como um serviço ou produto funciona. E esta pode ser uma oportunidade para sua empresa atuar de forma proativa, com a inclusão de respostas à seção de Perguntas Frequentes, capacitação do time para lidar com as solicitações mais comuns ou ainda com a revisão de procedimentos que podem estar confusos.

Também é preciso preparar a equipe para lidar com aqueles clientes que são pouco razoáveis. Quero dizer, com os clientes que acabam tendo atitudes abusivas simplesmente por estarem no papel de clientes. Uma empresa que busca a excelência na experiência de atendimento precisa começar com uma experiência interna positiva para seus colaboradores. Confiar neles e em suas tomadas de decisão, com procedimentos flexíveis em casos de insatisfação do cliente, pode beneficiar a empresa como um todo. Isso porque reduz a complexidade e o engessamento dos processos de qualidade para que o time de atendimento se torne parte ativa do processo de melhoria contínua por meio de feedbacks constantes sobre o que estão percebendo no dia-a-dia da operação. Empoderar os times internos e também colocá-los no centro da experiência do cliente pode trazer benefícios de longo prazo para a empresa e para seus clientes.

Os tempos mudaram e, com eles, a filosofia de atendimento ao cliente. Como qualquer ditado popular, é preciso compreender seu real significado e o contexto em que foi criado. Mais do que isso, se ainda é aplicável à nossa realidade. O objetivo deste ditado criado há mais de um século continua sendo o mesmo de hoje, que é proporcionar a melhor experiência possível aos clientes. Apenas a forma de fazer isso que mudou.

Muitas empresas, especialmente as do ramo do varejo, estão se preparando para as grandes datas comemorativas de final de ano, como a Black Friday e o Natal. Seria o momento para refletir a estratégia de experiência do cliente que tem adotado? Uma abordagem de CX cuidadosa, que equilibra as necessidades dos clientes com as necessidades do negócio e do ecossistema da empresa, certamente será a melhor solução.

QUEM SOMOS

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

Diferenciais

  • Eficiência: A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
  • Acessibilidade: A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
  • Abrangência: A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
  • Comprometimento: A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

Missão:

Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.

Visão:

Ser uma empresa de referência no ramo de prestação de serviços de Tecnologia da Informação na região do vale do aço e conquistando relacionamentos duradouros.

Valores:

  • Integridade – Ética e Transparência
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Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

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domingo, 3 de outubro de 2021

ATOS POLÍTICOS CONTRA O BOLSONARO TIVERAM PEQUENA ADESÃO

 

 JOSÉ MARQUES, GUSTAVO FIORATTI, CAROLINA LINHARES, WASHINGTON LUIZ, LEONARDO AUGUSTO E LEONARDO VIECELI – FOLHA

SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ, BRASÍLIA, DF, E BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – As manifestações pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro em São Paulo e diversas cidades pelo país, neste sábado (2), foram lideradas por movimentos e partidos de esquerda e contaram com adesões tímidas à direita, apesar dos esforços de organizadores para que os atos tivessem amplitude ideológica.

Estiveram ausentes tanto presidenciáveis da chamada terceira via como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nome que lidera a disputa para 2022 e que foi exaltado pelos manifestantes nas ruas, mas até o momento não compareceu a um protesto da Campanha Nacional Fora Bolsonaro.

O ato na avenida Paulista reuniu 8.000 pessoas, segundo estimativa da Secretaria de Segurança Pública do Governo de São Paulo, pouco acima dos 6.000 participantes medidos no ato de 12 de setembro, promovido pela direita, mas bem abaixo dos 125 mil estimados no protesto bolsonarista do 7 de Setembro todos ocorridos na avenida Paulista.

Os organizadores estimaram 100 mil pessoas em São Paulo e um total de 700 mil no país e no exterior. Foram contabilizados 314 atos em 304 cidades em 18 países.

Nas diversas capitais do país, a crise econômica foi lembrada e dividiu espaço com o impeachment de Bolsonaro nos cartazes. Em São Paulo, um botijão inflável de gás de cozinha exibiu o preço de R$ 125 em frente ao Masp.

No Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife e Salvador, manifestantes empunharam faixas com menções à inflação, à fome e ao desemprego.

Em São Paulo, onde os organizadores concentram esforços para exibir uma versão nacional da manifestação, apenas Ciro Gomes (PDT) compareceu entre os pré-candidatos ao Planalto. Mais cedo, ele esteve no ato realizado no centro do Rio de Janeiro.

A dificuldade em furar a bolha de esquerda petista e promover um ato amplo ficou evidente pelas vaias a Ciro durante sua fala na avenida Paulista. O pedetista deixou o local com seu carro sob ataques de pedaços de pau.

No palco, ao ser vaiado, Ciro afirmou que “meia dúzia de bandidos travestidos de esquerda acham-se donos da verdade”. “O povo brasileiro é maior do que o fascismo de vermelho ou de verde e amarelo.”

Ciro, que tem sido crítico ao PT, defendeu o impeachment de Bolsonaro e disse que a medida é necessária para evitar um golpe. Seus apoiadores aplaudiam, enquanto os opositores vaiavam e xingavam —chegou a haver uma briga entre os manifestantes.

Em seu discurso no Rio, Ciro pediu união contra Bolsonaro e recebeu tanto aplausos como gritos contrários.

Lula mais uma vez optou por não comparecer. Segundo interlocutores, o ex-presidente pretendia evitar dar um tom eleitoral aos atos, além de demonstrar preocupação com aglomeração em meio à pandemia do coronavírus —o petista tem 75 anos.

Líderes da esquerda alinhados a Lula, como Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT), que pretendem se candidatar ao Governo de São Paulo, foram aplaudidos pelo público.

“A gente não pode recuar. Depois do dia de hoje, é momento de avançar, e não de recuar”, afirmou Boulos.

“Não vamos nos iludir por cartinha escrita por Bolsonaro com Michel Temer [MDB]”, disse, em referência ao texto divulgado pelo presidente após os atos de raiz golpista de 7 de Setembro.

Haddad, ex-prefeito de São Paulo, afirmou que essa desgraça de governo tem que acabar antes da eleição, porque o povo não aguenta mais”.

“Estamos aqui porque o povo quer comer e o Bolsonaro não deixa. Estamos aqui porque o povo quer estudar e o Bolsonaro não deixa. Estamos aqui porque o povo quer trabalhar e o Bolsonaro não deixa”, afirmou.

O discurso de Haddad foi feito pouco depois de Ciro ter sido vaiado. O petista abriu sua fala dizendo que os manifestantes “não podem perder de vista” o que estão fazendo nas ruas, que é se manifestar contra o presidente.

Ao deixar o local, Haddad disse que a tentativa de agressão a Ciro foi “lamentável”.

Mais cedo, ao discursar no palco, Antonio Carlos, dirigente nacional do PCO, defendeu Lula e chamou Ciro de “canalha”. A fala irritou os militantes pró-Ciro, que xingaram o PCO em coro.

Logo após a fala, organizadores do protesto tomaram o microfone e voltaram a defender a união entre pessoas de diversas ideologias contra Bolsonaro.

Na noite deste sábado, Ciro divulgou um vídeo afirmando que foi às ruas “sabendo, de antemão, que poderia enfrentar a fúria e a deselegância de alguns radicais”.

Os radicais, seja da esquerda, seja da direita, nunca me intimidaram. E nunca me intimidarão. […] As ruas não têm dono. E a democracia não tem senhores, afirmou o pedetista, ressaltando que a política ensina ser preciso união contra um inimigo coletivo.

Esta luta está apenas no começo e ela será mais rapidamente vitoriosa quando todos aprenderem quem é o verdadeiro inimigo e quem é o verdadeiro alvo. Para defender a democracia, voltarei às ruas tantas vezes seja necessário e ao lado dos que queiram sinceramente se livrar de vez de Bolsonaro e de todo atraso que ele representa.

A rodada de protestos contra Bolsonaro neste sábado foi a sexta organizada majoritariamente pela esquerda desde maio. Como nas edições anteriores, predominou a cor vermelha, mas, desta vez, houve algumas adesões de políticos da direita —antes basicamente limitadas a alas do PSDB, PSL, Cidadania e Solidariedade.

Depois dos atos de Bolsonaro no 7 de Setembro, tanto a oposição à direita como à esquerda buscaram expandir o escopo ideológico das suas ações e conseguiram alguma diversidade —porém longe de promover uma “reedição das Diretas Já” ou de fazer frente à multidão verde e amarela na avenida Paulista no feriado da Independência.

Entidades que organizaram os atos deste sábado ressaltaram sua importância pela união de políticos de 21 partidos, mas alguns representantes, devido a outros compromissos pessoais, enviaram apenas vídeos exibidos no palco em frente ao Masp —o que os poupou de vaias.

O deputado Paulinho da Força (SP), presidente do Solidariedade, por exemplo, foi chamado de golpista por alguns. Ele apoiou o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2016.

Militantes atribuíram os gritos a integrantes do PCO, que abertamente foram contra a presença de críticos de Lula na manifestação.

Em sua fala, Paulinho criticou o crescimento do desemprego e disse que é preciso “se livrar” de Bolsonaro.

O vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), a senadora Simone Tebet (MDB-MS), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), e o ex-senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) enviaram vídeos em que saúdam a união de forças diferentes para combater Bolsonaro.

Já o protesto pelo impeachment organizado por MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem Pra Rua), no último dia 12, não teve a adesão do PT ou de movimentos sociais próximos ao petismo. Houve participação de políticos do PDT, PSB e PSOL e, sobretudo, de nomes da terceira via —que foram ausências neste sábado.

Na ocasião, também lida como uma resposta ao dia 7 bolsonarista, estiveram presentes, em São Paulo, Ciro, Tebet, João Doria (PSDB), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) entre os presidenciáveis, além de João Amoêdo (Novo). O governador do Rio Grande do Sul, também presidenciável, Eduardo Leite (PSDB), participou do ato em Porto Alegre.

O próprio MBL chegou a participar de reuniões de organização dos atos deste sábado, mas decidiu não convocar sua militância.

Um dos principais organizadores das manifestações, Raimundo Bonfim, da Central de Movimentos Populares, afirmou que a mobilização foi positiva e destacou a dificuldade de realizar seis atos em pouco mais de quatro meses em meio à pandemia.

Ele admitiu que nomes da direita que eram esperados não compareceram e afirmou ser preciso continuar a superar divergências e intensificar a pressão popular pelo impeachment.

“Ainda que timidamente, os atos foram um pouco mais amplos do que as outras cinco mobilizações. Hoje, mais uma vez, a luta passou uma mensagem para a sociedade de que é possível. Foi uma demonstração de que a população não está disposta a esperar 2022 para derrotar Bolsonaro nas urnas, afirmou.

Ele afirma que um sentimento de revolta surge não só dos ataques à democracia, mas da crise econômica. Bonfim observou ainda que, no lugar da vacinação, já avançada no país, a questão social apareceu com mais força.

Sem uma união plena de forças de esquerda e de direita tanto no dia 12 de setembro como neste sábado, além de um público menor do que o do 7 de Setembro bolsonarista nas duas ocasiões, aumentam as expectativas sobre o dia 15 de novembro.

No feriado da Proclamação da República, a oposição promete voltar às ruas. A tentativa será a de promover uma unificação mais simbólica, como foram as Diretas Já.

Os atos deste sábado foram organizados ou tiveram a participação da Campanha Nacional Fora Bolsonaro (fórum de entidades majoritariamente de esquerda), além de Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, Direitos Já, Movimento Acredito, centrais sindicais, UNE, Coalizão Negra por Direitos, Somos 70%, MTST, MST, Comissão Arns, Uneafro e Central de Movimentos Populares.

Tabata Amaral (PSB-SP), Marcelo Freixo (PSB-RJ), Orlando Silva (PC do B-SP), Carlos Siqueira (PSB), Gleisi Hoffmann (PT), Carlos Lupi (PDT), Manuela D’Ávila (PC do B) e Fernando Alfredo (PSDB) foram alguns dos políticos e dirigentes partidários presentes na avenida Paulista, que reuniu representantes ainda de siglas menores de esquerda, como PCB, PCO, UP e PSTU.

O presidente da Comissão Arns, José Carlos Dias, e a presidente de honra, Margarida Genevois, participaram do ato na avenida Paulista, onde empunharam uma faixa pelos direitos humanos.

Em Brasília, no fim da tarde, os manifestantes chegaram a ocupar as seis faixas da Esplanada enquanto caminhavam do Museu Nacional em direção ao Congresso.

O ato teve a adesão de movimentos da esquerda, como sindicatos, organizações e estudantis e partidos como PT, PSB, PSOL, PC do B e PDT.

Além de carregarem faixas com críticas ao governo, os manifestantes inflaram um botijão de gás e um saco de arroz com a imagem do ministro Paulo Guedes (Economia) para reclamar do preço dos combustíveis e dos alimentos. Também houve frases contra a reforma administrativa e a privatização dos Correios.

Na capital federal, a adesão foi menor se comparada aos atos de 7 de Setembro a favor de Bolsonaro, mas foi maior que a organizada pelo MBL. A Polícia não divulga estimativa de público.

No Rio, a agenda de reformas e privatizações também foi alvo de crítica. Ao lado do palco na Cinelândia, havia um boneco inflável gigante de Lula e outro de um carteiro, contrário à venda dos Correios.

Bandeiras de partidos políticos ligados à esquerda e movimentos sociais dominaram o ato. Também foi possível observar o verde e amarelo de bandeiras do Brasil, usado em manifestações bolsonaristas.

Em Belo Horizonte, houve passeata pela região centro-sul, com integrantes do MST à frente.

​Apesar da expectativa de que a manifestação atraísse representantes de centro e centro-direita, a manifestação foi pela presença de partidos da esquerda como o PCdoB, PSOL e PT.

LULA E SEUS 20 PROCESOS

Fim da Lava Jato
Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

O ex-presidente Lula.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

As ações da Lava Jato que ainda restavam contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Justiça foram praticamente enterradas com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em junho, que considerou o ex-juiz Sergio Moro suspeito no caso do triplex de Guarujá – primeiro processo no qual o petista havia sido condenado. Nas últimas semanas, acolhendo pedidos da defesa, outros magistrados e tribunais se valeram da decisão para encerrar processos que também teriam sido “contaminados” pela alegada parcialidade de Moro.

Em agosto, por exemplo, o Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF-3), em São Paulo, trancou uma ação penal em que Lula era acusado de lavagem de dinheiro de doações recebidas da construtora ARG, que teria sido favorecida por ele na Guiné Equatorial (África). O acórdão do julgamento registrou que a decisão era uma “decorrência da doutrina dos frutos da árvore envenenada”, referência à suspeição de Moro, que teria também prejudicado a validade das provas desse caso.

Ainda no mês passado, em Brasília, a juíza Pollyanna Martins Alves rejeitou a denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia, pelo qual Lula também havia sido condenado na Lava Jato do Paraná. Por determinação do STF, após a declaração da suspeição de Moro, alguns processos foram redistribuídos a outros estados. A juíza apontou “falta de elementos comprobatórios”, em razão de outra decisão, de junho, na qual o ministro do STF Gilmar Mendes estendeu ao processo a suspeição de Moro, anulando assim todas as provas que haviam sido colhidas por ordem do ex-juiz.

Em 6 de setembro, o juiz Frederico Botelho de Barros Viana encerrou outra ação penal, na qual Lula era acusado de lavagem de dinheiro recebido da Odebrecht por suposta influência na ampliação uma linha de crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) para Angola, que beneficiaria a construtora. O magistrado apontou falta de justa causa, em razão da absolvição do ex-presidente em outro processo, em que era acusado de organização criminosa – o chamado “quadrilhão do PT” –, bem como a suspeição de Moro no caso do triplex.

Também em setembro, veio do STF mais uma decisão favorável a Lula: o ministro Ricardo Lewandowski suspendeu duas ações, iniciadas no Paraná, relativas ao Instituto Lula: uma que apontava corrupção e lavagem na doação, pela Odebrecht, de um terreno de R$ 12 milhões para sediar a entidade; e outro relativo a doações da construtora ao instituto, que seriam retribuições por favores prestados pelo ex-presidente.

Apesar de ainda caberem recursos contra essas decisões, a chance de retomada dos casos é remota. O trancamento de uma ação só pode ser revertido se surgirem novas provas. O Ministério Público no Distrito Federal, por exemplo, já informou que não pretende recorrer da decisão que encerrou a ação relativa ao suposto favorecimento da Odebrecht em Angola com crédito do BNDES. No caso das ações do triplex, do sítio e do Instituto Lula, as provas teriam de ser novamente colhidas e há chance considerável de o caso prescrever até a formulação de uma nova denúncia.

Veja, abaixo, a situação atual de 20 investigações ou ações contra Lula, a imensa maioria deles decorrentes da Lava Jato:

  1. Suposta corrupção de Lula em favor de montadoras
    Acusação: Seis pessoas, incluindo Lula e o ex-ministro Gilberto Carvalho, responderam por suposta corrupção na aprovação da Medida Provisória 471, que havia sido assinada em 2009 e prorrogava por cinco anos os incentivos fiscais para montadoras de automóveis com atuação nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Carvalho teria recebido R$ 6 milhões em troca da MP.

Resultado: Absolvição em junho de 2021.

  1. Pressão para Nestor Cerveró não fechar delação premiada
    Acusação: O ex-presidente Lula, o ex-senador Delcídio Amaral e o banqueiro André Esteves teriam pressionado Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, para que ele não fechasse um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato.

Resultado: Absolvição em julho de 2018

  1. Quadrilhão do PT 1
    Acusação: Lula, Dilma Rousseff, os ex-ministros Antônio Palocci e Guido Mantega e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foram acusados pelo crime de organização criminosa, motivado pela suspeita de que teriam atuado em conjunto para desviar dinheiro público de empresas estatais, em especial a Petrobras. Eles formariam o chamado “Quadrilhão do PT”. O Ministério Público Federal (MPF) solicitou a absolvição por falta de provas.

Resultado: Absolvido sumariamente em dezembro de 2019.

  1. Quadrilhão do PT 2
    Acusação: Outra denúncia contra o “Quadrilhão do PT”, envolvendo Lula, também foi apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em setembro de 2017. A PGR também denunciaria esquemas organizados do PP e do MDB, num total de quatro acusações.

Resultado: A acusação acabou rejeitada, em setembro de 2018.

  1. Mesadas para Lula e seu irmão Frei Chico
    Acusação: Lula e seu irmão, Frei Chico, teriam recebido mesadas da Odebrecht, em valores que, somados, ultrapassariam R$ 1 milhão.

Resultado: Em maio de 2020, o Tribunal Regional da 3.ª Região (TRF-3) rejeitou a denúncia por unanimidade, confirmando decisão anterior da 7.ª Vara Criminal Federal de São Paulo.

  1. Ocupação do triplex
    Acusação: O ex-presidente Lula teria instigado a ocupação do triplex do Guarujá. Dois meses antes de ser preso, ele declarou: “Eu até pedi para o Guilherme Boulos mandar o pessoal dele [o MTST, Movimento de Trabalhadores Sem Teto] ocupar aquele apartamento. Já que é meu, ocupem”. O imóvel acabaria sendo ocupado em 16 de abril de 2018, nove dias após a prisão de Lula.

Resultado: Em fevereiro de 2020, a 6.ª Vara Federal de Santos (SP), rejeitou a denúncia do Ministério Público Federal.

  1. Favorecimento à Odebrecht em Angola
    Acusação: Lula teria recebido pagamento da Odebrecht por palestras que realizou para a empresa. Mas seria na verdade uma troca pela atuação do ex-presidente junto a órgãos federais, incluindo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para liberar verbas para a realização de obras em Angola.

Resultado: Em setembro de 2020, a acusação foi arquivada pelo Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1).

Você acredita na viabilidade eleitoral de um candidato que possa fazer frente a Lula e Bolsonaro em 2022?
Sim. Se houver unificação da terceira via em um candidato, é póssível que ele chegue ao segundo turno.
Gostaria de acreditar que sim, mas acho que o voto da terceira via será pulverizado em vários candidatos.
Não. As eleições presidenciais serão cada vez mais polarizadas entre Bolsonaro e Lula.

  1. Doações ao Instituto Lula
    Acusação: Doações ao Instituto Lula feitas pela Odebrecht configurariam uma retribuição aos favorecimentos proporcionados pelo ex-presidente para a construtota.

Resultado: O caso não chegou a receber uma sentença. Com a suspeição do ex-juiz Sergio Moro confirmada pelo STF, a denúncia seguiu para a 10.ª Vara Federal do Distrito Federal. O MPF preparava uma nova denúncia, mas em setembro deste ano, o ministro Ricardo Lewandowski (STF) suspendeu o andamento, em liminar, por considerar imprestáveis as provas entregues pela Odebrecht em acordo de leniência.

  1. Terreno para o Instituto Lula
    Acusação: A compra de um terreno em São Paulo, no valor de R$ 12 milhões, seria uma forma encontrada pela Odebrecht para pagar propina ao ex-presidente. O imóvel seria utilizado para construir uma nova sede para o Instituto Lula.

Resultado: O caso não chegou a receber uma sentença. Com a suspeição de Moro confirmada pelo STF, a denúncia seguiu para a 10.ª Vara Federal do Distrito Federal. O MP preparava uma nova denúncia, mas em setembro deste ano, o ministro Ricardo Lewandowski (STF) suspendeu o andamento, em liminar, por considerar imprestáveis as provas entregues pela Odebrecht em acordo de leniência.

  1. Sítio de Atibaia
    Acusação: Obras em um sítio de Atibaia (SP) configuraria crime de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a denúncia da acusação. O sítio não pertencia formalmente ao ex-presidente, mas ele usava o local com tanta frequência que chegou a levar para lá parte de seu acervo pessoal. A empreiteiras Odebrecht e OAS teriam custeado as reformas do local, em troca de favorecimentos em contratos com a Petrobras.

Resultado: Lula havia sido condenado a 12 anos e 11 meses de prisão. Na segunda instância, o TRF-4 havia aumentado a pena para 17 anos, 1 mês e 10 dias. Com a suspeição de Moro declarada pelo STF, as denúncias foram anuladas. O caso recomeçou do zero na 12.ª Vara Federal do Distrito Federal. Mas, em agosto, a juíza Pollyanna Martins Alves alegou “falta de elementos comprobatórios” e rejeitou a denúncia.

  1. Triplex de Guarujá
    Acusação: O triplex teria sido reformado pela empreiteira OAS em troca de benefícios indevidos para a empreiteira em contratos.

Resultado: Lula foi condenado por Moro na primeira instância. No TRF-4, a pena havia sido estabelecida em 17 anos, 1 mês e 10 dias. Em abril de 2019, ao confirmar a condenação, o STJ havia reduzido o prazo para 12 anos e 11 meses de prisão. Mas, assim como no caso do sítio, com a suspeição de Moro declarada pelo STF, as denúncias foram anuladas.

  1. Caças Gripen
    Acusação: Segundo o Ministério Público Federal, as supostas negociações irregulares envolvendo a aquisição de caças Gripen caracterizariam tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Situação atual: Depois que a defesa de Lula solicitou a suspeição dos procuradores da República envolvidos no caso, o depoimento do ex-presidente foi suspenso.

  1. Crédito do BNDES para Odebrecht em Angola
    Acusação: Com base na delação premiada de executivos da Odebrecht, Lula foi acusado de lavagem de dinheiro recebido da construtora por influenciar a ampliação de uma linha de crédito do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES) em Angola.

Resultado: Em 6 de setembro de 2021, juiz Frederico Botelho de Barros Viana, da 10ª Vara Federal do Distrito Federal, encerrou ação penal por falta de justa causa, após absolvição no quadrilhão do PT e suspeição de Sergio Moro no caso do triplex.

  1. Lavagem de dinheiro da ARG
    Acusação: Em 2011, o Instituto Lula teria lavado dinheiro ao receber uma doação em troca de o ex-presidente petista ter intercedido junto ao presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, para que a construtora ARG fosse selecionada para construir uma estrada no país.

Resultado: em junho, o desembargador do TRF-3 Paulo Fontes determinou a suspensão do processo com base na decisão que acatou a suspeição de Sergio Moro. Em agosto, o tribunal trancou a ação penal, acolhendo tese da defesa de que a investigação foi contaminada pela parcialidade de Sergio Moro.

  1. Suposto favorecimento à Odebrecht em Angola
    Acusação: O Ministério Público Federal acusava o ex-presidente Lula de atuar junto ao BNDES a fim de favorecer a Odebrecht em empréstimos para obras em Angola. Os pagamentos aos envolvidos somariam R$ 30 milhões.

Resultado: O processo foi trancado pelo TRF-1 em setembro de 2020.

  1. Ajuda da Odebrecht para o filho caçula de Lula
    Acusação: Lula teria solicitado ajuda a Emílio Odebrecht para lançar a carreira empresarial de Luís Cláudio, seu filho caçula. A ação era baseada na colaboração premiada do próprio Emílio Odebrecht e de Alexandrino Alencar, ex-executivo do grupo.

Resultado: Acusação arquivada em dezembro de 2020.

  1. Patrocínio da Odebrecht para a revista Carta Capital
    Acusação: Os contratos de patrocínio da Odebrecht com a revista Carta Capital seriam ilegais.

Resultado: Arquivamento solicitado pela Polícia Federal e acatado pela 10.ª Vara Criminal Federal de São Paulo em setembro de 2020.

  1. Suposto favorecimento à OAS na Costa Rica
    Acusação: Lula era acusado de tráfico internacional de influência e corrupção ao tentar influenciar políticos da Costa Rica a contratarem a OAS. O então presidente da construtora, Léo Pinheiro, havia dito inicialmente que pagou por palestras de Lula como forma de pagar pela suposta ajuda do petista; e depois disse que não se tratou de vantagem indevida.

Resultado: Investigação trancada por prescrição.

  1. Palestras de Lula
    Acusação: suspeita da prática de crimes envolvendo as palestras ministradas pelo ex-presidente Lula a diversas empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato.

Resultado: arquivamento a pedido do MP por falta de provas, em setembro de 2018.

  1. Ofensa de Lula contra Bolsonaro
    Acusação: é uma das poucas investigações contra Lula que não teve relação com a Lava Jato. O petista teria se enquadrado desrespeitado a Lei de Segurança Nacional ao declarar que o presidente Jair Bolsonaro é “um miliciano” responsável “pela morte da Marielle [Franco, vereadora assassinada no Rio de Janeiro]”.

Resultado: O inquérito foi arquivado em maio de 2020.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/lula-livre-como-ficaram-as-20-acoes-e-investigacoes-contra-o-ex-presidente/
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SENADORES DA CPI DA COVID QUEREM INVESTIGAR USUÁRIOS DE REDES SOCIAIS

 

Na esteira do STF
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília

CPI da Covid pediu à Polícia Legislativa que investigue supostos ataques contra senadores nas redes sociais.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Nos últimos dias, senadores que participam da CPI da Covid-19 pediram à Polícia Legislativa do Senado, em duas ocasiões diferentes, que investigue supostos ataques contra parlamentares ocorridos nas redes sociais. As circunstâncias dos pedidos guardam paralelos com o que ocorre no inquérito das fake news, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na quarta-feira (29), o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pediu que a Polícia Legislativa faça um rastreamento em contas de redes sociais que interagiram com integrantes da CPI. Ele alegou que houve um ataque de robôs virtuais para ofender os parlamentares, “uma ação orquestrada exatamente no dia do depoimento de Hang”.

Já o senador Fabiano Contarato (Rede-ES), na quinta (30), pediu à polícia do Senado que apure ofensas feitas a ele via Twitter pelo empresário Otávio Oscar Fakhoury, que é depoente na CPI. A acusação é de crime de homofobia.

Para Andrew Fernandes Farias, especialista em Direito Processual, independentemente da gravidade dos eventuais crimes praticados, a atribuição de investigar ataques feitos via redes sociais não é da Polícia Legislativa, que deve se ater a situações ocorridas dentro das dependências do Senado.

“A Polícia Legislativa vai investigar os crimes que acontecerem no interior na dependência da Casa Legislativa. É intramuros a atribuição deles, e não extramuros”, diz.

O advogado observa que a finalidade constitucional da existência de uma polícia legislativa é preservar a independência e a incolumidade do Poder Legislativo – para evitar, por exemplo, que se exerça um ataque violento contra as dependências físicas do Senado.

Em seu artigo 52, a Constituição permite ao Senado criar sua própria polícia. A forma de atuação dessa polícia está especificada no Regulamento Administrativo do Senado Federal, que prevê que a Polícia Legislativa poderá fazer a “a apuração das infrações penais ocorridas nas dependências sob a responsabilidade do Senado Federal”.

“Não é tudo que eles vão investigar. Tem que estar em harmonia e em consonância com a teleologia constitucional, com o objetivo constitucional. Qual é a finalidade constitucional? Garantir a independência da Casa Legislativa. Por exemplo, aconteceu um furto dentro do Senado Federal, dentro da Câmara. Ok, isso se investiga lá. Eles têm uma atribuição para investigar isso”, explica. “Tem que se verificar se foi uma infração penal que ocorreu no interior das dependências da Casa Legislativa. Senão, me parece que não deve ter atribuição para investigar”, acrescenta.

Para o especialista, pedir à Polícia Legislativa que investigue supostos crimes ocorridos fora da dependência física do Senado é inconstitucional. “É até antirrepublicano. O critério não é mais dentro da dependência? O critério é quando a vítima for um parlamentar?”, questiona.

Liberdade de expressão não ser direito absoluto vira pretexto para abusos
Paralelo dos senadores com STF e o inquérito das fake news é evidente
A discussão sobre a constitucionalidade da abertura de investigações pela Polícia Legislativa remete a outra polêmica recente: à do inquérito das fake news instaurado pelo STF. O paralelo entre as duas situações é evidente.

Em março de 2019, a própria Corte instaurou esse inquérito para investigar ofensas, ameaças e notícias falsas contra o Tribunal. Para fundamentar as investigações, o STF se fundamentou no poder de polícia judiciária previsto no artigo 43 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, segundo o qual “ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito”.

Uma das diversas controvérsias do inquérito foi que o STF relativizou, em sua argumentação, o que se entende como “dependência” da Corte. Agora, a mesma lógica parece estar sendo seguida por senadores.

Em 2020, o próprio Supremo Tribunal Federal (STF) julgou a constitucionalidade do “inquérito das fake news”, definindo que ele é constitucional. As sustentações orais daquela época contrárias ao entendimento do STF mostravam como o inquérito das fake news é questionável do ponto de vista da Constituição.

Luiz Gustavo Pereira da Cunha, advogado representante do PTB e responsável por uma das sustentações orais do julgamento, afirmou que “o poder de polícia do Supremo, fora de suas dependências territoriais” é ilegal e inconstitucional. “O poder de polícia está limitado às dependências ou sede do tribunal, nada além disso. Há um limite geográfico, uma competência territorial para o inquérito, limite e competência impostas pela letra do regimento interno”, disse ao tribunal.

Já o então advogado-geral da União, José Levi Mello, também foi crítico ao inquérito e recomendou ao Tribunal “não criminalizar a liberdade de expressão ou a liberdade de imprensa, inclusive e em especial na internet”. Aconselhou ainda ao STF que, “na dúvida entre a liberdade de expressão e uma possível e alegada fake news”, assegure a liberdade de expressão.

Outro problema do inquérito, como apontou uma reportagem da Gazeta do Povo de 2020, é o caráter arbitrário do Supremo ao se posicionar simultaneamente como vítima, acusador e juiz. “Talvez seja o único inquérito no Brasil em que o mesmo juiz é vítima, investiga, julga, pede e defere medidas”, disse, naquele momento, o advogado criminalista João Paulo Boaventura. “Apesar de ter boas intenções, a forma é completamente inconstitucional”, acrescentou.


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PETROBRAS DIZ QUE NÃO VAI SEGURAR PREÇOS

 

Combustível
Por Gazeta do Povo

O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna.| Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A chance de a Petrobras segurar os preços dos combustíveis para, assim, ajudar no combate à inflação é “nenhuma”, disse o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna.

“A chance disso [segurar preços] acontecer é nenhuma”, disse o executivo em entrevista à agência Reuters. “Eu considero zero. A Petrobras é uma empresa muito bem regulada, com normas de conformidade. Nenhum colegiado vai aprovar uma coisa dessas.”

A Petrobras foi usada como ferramenta no controle da inflação durante o governo de Dilma Rousseff (PT), acumulando prejuízos bilionários ao não reajustar preços em meio a aumentos na cotação do petróleo no exterior.

“Nosso presidente [Jair Bolsonaro], ministro de Minas e Energia [Bento Albuquerque], ministro da Economia [Paulo Guedes], todos estão convencidos que isso [segurar preços] não é solução, é destruição do esforço que foi feito para recuperar a companhia”, afirmou Silva e Luna à Reuters.

A semana que passou foi marcada pelo reajuste de quase 9% no diesel nas refinarias, promovido pela Petrobras, e por declarações do presidente Jair Bolsonaro e do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre os preços dos combustíveis. Lira criticou a Petrobras e o ICMS dos estados, falou em votar projeto para fixar o imposto em reais por litro, e mais tarde ele e Bolsonaro defenderam a criação de um fundo regulador para estabilizar os preços.


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O MUNDO ESTÁ EM CRISE DE ENERGIA

 


  1. Internacional
     

Um choque de energia, entre a pandemia e a COP26, era tudo de que o mundo não precisava

Lourival Sant’Anna*, O Estado de S.Paulo

Uma crise energética bate à porta do mundo, com impacto ainda impossível de medir sobre a retomada da atividade econômica e a reorganização das cadeias de valor e da logística pós-pandemia, o descompasso já existente entre demanda e oferta em um grande número de setores, com as decorrentes pressões inflacionárias, e a transição de combustíveis fósseis para fontes renováveis de energia. A Ásia e a Europa são as regiões mais atingidas, mas o efeito dominó já atinge os EUA e a economia global.

O último inverno na Europa e nos EUA foi mais rigoroso do que de costume. A primavera europeia também foi mais fria e o verão asiático, mais quente. Tudo isso causou aumento na demanda de gás natural, usado no aquecimento das casas e escritórios e na geração de energia elétrica consumida pelos aparelhos de ar condicionado. Neste momento, a demanda é impulsionada pela formação de estoque para mais um inverno no Hemisfério Norte.

Europa e China estão reduzindo o uso do carvão na geração de energia, para cumprir suas metas de emissão de gás carbônico. Na conferência virtual da ONU sobre mudança climática, em dezembro do ano passado, o presidente Xi Jinping anunciou até 2030 o corte de mais de 65% das emissões por unidade de PIB, em relação ao nível de 2005. A China é o maior emissor de gases do efeito estufa do mundo. PUBLICIDADE

A decisão abrupta está relacionada com a disputa por projeção internacional com os EUA, que passariam no mês seguinte a ser governados por Joe Biden, com a questão ambiental no topo da agenda. Quatro meses depois, na Cúpula do Clima promovida pelo presidente americano, Xi se colocaria na posição confortável de ter anunciado sua ambiciosa meta antes das gestões de seu novo adversário.

A Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, que supervisiona o setor, anunciou que das 30 províncias e regiões chinesas, 20 não alcançaram suas metas de redução de energia no primeiro semestre. Em meados de setembro, a agência anunciou punições mais duras para as regiões que não cumprissem suas metas, incluindo as autoridades locais. 

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Um choque de energia, entre a pandemia e a COP26, era tudo de que o mundo não precisava Foto: Romeo Ranoco/REUTERS

Foi a senha para elas reduzirem o uso do carvão, resultando em racionamentos e blecautes. Fábricas interromperam suas produções, incluindo fornecedoras de empresas como Apple e Tesla. Em decorrência, o PIB chinês pode crescer 1 ponto porcentual a menos neste trimestre. 

A China e a Europa investem há anos na energia eólica e solar, que sofreram notável barateamento. Mas uma decisão abrupta como a de Xi desmonta qualquer planejamento. Na Europa, os ventos no segundo trimestre foram os mais fracos nos últimos 20 anos, prejudicando a geração de energia eólica. 

O aumento da demanda por gás natural na Europa para fazer frente a todas essas pressões coincidiu com a conclusão do gasoduto Nord Stream 2, que liga a Rússia à Alemanha. Mais de 60% do gás consumido na União Europeia é importado. A Rússia é o maior fornecedor, com 40% dessa fatia. 

A Gazprom suspendeu o fornecimento do gás por meio de seus gasodutos na Ucrânia – adversária da Rússia – como forma de pressionar a Bundesnetzagentur, a agência reguladora alemã, a apressar a autorização do Nord Stream 2, que pode levar meses.

O preço do gás subiu 250% este ano na Europa e 180% nos últimos 12 meses nos EUA. Em média, nesse período, a relação oferta-demanda continuou estável no mercado interno americano. Foram as exportações, para atender aos mercados da Europa e da Ásia, que subiram 65 este ano. O Federal Reserve reconheceu que a pressão inflacionária resultante pode abreviar sua política de estímulo à liquidez.

A energia é a base de toda a atividade econômica. Sua escassez afeta a produção e o transporte de alimentos, matérias primas, componentes e produtos acabados. Um choque de energia, entre a pandemia e a COP26 (conferência da ONU sobre o clima, daqui a um mês em Glasgow), era tudo de que o mundo não precisava.

* É COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’ E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

VIAGENS E TURISMO ATRAVÉS DOS TEMPOS

 


  1. Cultura
     

‘Nos intervalos de seriados como Bonanza, acompanhávamos a saga de Urashima Taro. Não se lembra? Provavelmente, você é jovem. Procure a história da tartaruga que ele curou no Google’

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

A maioria das pessoas nascia e morria em um mesmo lugar no mundo antigo e medieval. Raros humanos teriam conhecido mais do que alguns quilômetros fora da sua casa. Viagens eram incomuns e penosas. São Bento escreveu contra monges que iam de um lugar a outro. Chamou-os por um adjetivo que é quase um xingamento: giróvagos. Os chamados “ciganos” eram atacados continuamente. Pessoas “respeitáveis” estavam sempre no mesmo lugar. Sua aldeia era segura. Todos eram estrangeiros fora dela. O que vinha de fora era um risco. 

Exceções? Quando muito, havia comerciantes e um punhado de peregrinos em lugares sagrados como Santiago de Compostela. Conhecer terras distantes começa a crescer com os relatos de Marco Polo e suas incursões maravilhosas pela Ásia. As Cruzadas criaram rotas comerciais, religiosas e de horizontes novos. As grandes navegações da Idade Moderna alargaram tudo. Narrativas de riquezas da América estavam nas feiras. O resgate do imperador inca, Atahualpa, foi contado muitas vezes. Uma sala grande com ouro até o teto! 

Avancemos ao século 18. A elite inglesa tinha um programa obrigatório para seus rebentos dourados. O aristocrata deveria fazer uma viagem pela Europa, especialmente em lugares marcados pela presença da cultura clássica e do Renascimento. Era o “grand tour”, um rito quase obrigatório, uma forma laica de peregrinação que incluía Veneza, Florença e Roma. Levavam tutores, por vezes eruditos, guias escritos sobre os lugares e inauguraram a forma contemporânea de turismo, palavra associada ao “tour” inglês. Não traziam fotos, claro. Os baús retornavam às ilhas britânicas com quadros, antiguidades e mapas comprados em lugares de reputação variada. A viagem daria base para conversas futuras nas rodas da alta sociedade. O trajeto marcava o “quem é quem” da sociedade. PUBLICIDADE

No século 19, com a difusão de cartões-postais, o turismo recebeu outro aporte: viajava-se para ver aquilo que a foto mostrava. As exposições mundiais de Paris (1889 e 1900), por exemplo, transformaram a torre Eiffel em referência obrigatória. Em um mundo sem muita luz, a iluminação elétrica de uma estrutura com mais de 300 metros deveria ser algo estonteante. As elites ocidentais tinham descoberto hotéis e grandes destinos. Crescia o hábito de viajar em barcos a vapor e, logo, aviões. 

A jovem leitora e o jovem leitor não imaginarão o que contarei. Alguém ia viajar até a Europa em 1970, por exemplo? Dava-se uma festa de “bota-fora”. Os “argonautas” se despediam de todos, recebiam encomendas e conselhos: “Se for a Londres, coma em tal lugar”. Depois, no dia do embarque, uma pequena multidão acompanhava os bravos até o aeroporto. Aproveitava-se para tomar um café expresso, algo que muitos conheceram em Congonhas, por exemplo. As medidas de segurança eram muito mais fracas do que hoje. As mulheres embarcavam com “frasqueiras” repletas de líquidos. Dependendo da época e da pressurização ou não da aeronave, havia um saquinho plástico para as canetas-tinteiro. Poderiam estourar no voo! 

Os anos avançam… Toda vez que eu pegava uma mísera barrinha de cereal, lembrava-me das refeições da Varig. Comi com talheres de metal, tomei bons vinhos a bordo da classe econômica, recebi guardanapos de pano. Imaginava como seria na executiva ou na primeira classe. A revista Ícaro era linda. Havia propagandas da companhia aérea na televisão com um voo para o Japão. Lembro-me do jingle até hoje. Nos intervalos de seriados como Bonanza, acompanhávamos a saga de Urashima Taro. Não se lembra?

Provavelmente, você é jovem. Procure a história da tartaruga que ele curou no Google. Aproveite o impulso retrô e escute “Estrela brasileira no céu azul, iluminando de Norte a Sul, mensagens de amor e paz, nasceu Jesus, chegou o Natal! Papai Noel voando a jato pelo céu, trazendo um Natal, de felicidades, e um ano-novo cheio de prosperidade”. 

O turismo expandiu-se. Deixou de ser coisa exclusiva de uma elite. Movimenta massas. É um campo econômico vital. Cresceu tanto que despertou um neologismo: turismofobia, sentimento forte em lugares como Barcelona ou Paris. Legiões de turistas entopem calçadas e museus. Trazem dinheiro, claro, e fazem os preços subir. Formam filas em lojas de grife disputando bolsas. O turista clássico está sempre perdido, pedindo informações e querendo que alguém o ajude com uma foto. Alegram um setor da economia e infernizam outros. 

Bandeira do Brasil
Segundo a professora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, Ana Burcharth, “o Brasil se mantém entre os países com melhor perspectiva de investimento futuro” Foto: Dida Sampaio/Estadão

Há alguns anos, lembro-me, muitos ironizavam turistas orientais, especialmente japoneses. Andavam em grupo e fotografavam muito. Ouvi de mais de um guia na Europa: “Eles viajam para fotografar”. Formularam-se hipóteses para explicar aquele simpático senhor nipônico de chapéu com uma máquina em disparos constantes. Ele era apenas a vanguarda. O mundo inteiro hoje viaja para fotografar e postar. Os orientais anunciaram a tendência: mais importante do que o monumento, a comida ou o quadro do museu é a foto com ele. 

Não sou dos que cultivam um saudosismo ou dos que imaginam uma suposta idade dourada. Pelo contrário, vi com alegria a expansão das viagens aéreas para mais pessoas. Pergunto-me, seja você um rico da primeira classe ou alguém que pagou sua ponte aérea em dez vezes, qual o motivo do deslocamento? Em breve, talvez, voltemos a fazer mais viagens. Vamos “turistar” de novo! Resta pensar seriamente: por quê?  

*Leandro Karnal é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de A Coragem da Esperança, entre outros

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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