sexta-feira, 17 de setembro de 2021

O OVO DA SERPENTE NA POLÍTICA BRASILEIRA

 

Por
Carlos Ramalhete – Gazeta do Povo

Bebedouro segregado no estado norte-americano do Oklahoma, em 1939.| Foto: Russell Lee/Farm Security Administration/Domínio público

Uma severa maldição atinge os poucos que se dedicam ao estudo da História. O nome da musa Clio, filha de Júpiter e Mnemósine (personificação da memória humana), significa “proclamadora”, e normalmente se a representava lendo de um pergaminho e tocando a lira. O que não se diz, todavia, é que a atenção que se lhe dá é ainda menor que a dada ao pobre tecladista de churrascaria, a quem só se presta atenção quando ele toca, pela enésima vez naquele dia, Parabéns pra você. E olhe lá. Clio proclama, e ninguém ouve. Do mesmo modo, quem conhece a História sabe de onde vêm as diversas narrativas, as diversas histórias com “H” minúsculo que voltam, como pragas, a afetar as sociedades. Os mesmos erros, repetidamente cometidos; as mesmas maldades, repetidamente justificadas pelas mesmas repetidas mentiras. Clio fala pela voz de quem conhece a História que ela personifica, proclama, e nenhuma atenção lhe é dada. Ninguém reconhece o ovo da serpente, e todos o tomam por pedra preciosa; a voz de quem o conhece é ignorada, apenas para que depois todos se espantem ao ver surgir e atacar a serpente que não haviam reconhecido.

Conto, pois, como Clio, uma história esquecida, um fio da História que se esquece. Aponto, inútil porém teimosamente, o ovo da serpente que se está – mais uma vez – aninhando ao peito.

Esta história começa com o surgimento, no Iluminismo, dos Estados nacionais laicos. Até então – tal como ainda hoje é o caso em grandes partes do mundo – a religião do povo era sempre a base da nacionalidade e o suporte da legitimidade dos governantes. Em termos práticos, isto significava que as minorias religiosas eram tidas e mantidas como nações à parte, conservando costumes próprios, casando-se apenas entre si e de modo geral gerenciando seus próprios assuntos internos. Podemos ver exemplos bastante recentes deste sistema; por exemplo, na Argélia francesa (colônia tida como parte da Metrópole, de que apenas uma curta viagem pela pequena longitude do Mediterrâneo a separava), o governo francês ofereceu aos judeus e aos muçulmanos a opção de manter os costumes antigos e viverem como nações à parte no mesmo território, ou aceitar a cidadania francesa em troca de perder o direito a tribunais próprios. Os judeus aceitaram a oferta, tornando-se cidadãos franceses; os islâmicos a rejeitaram.

Os nazistas inventaram uma “raça judaica”, independente de religião, para efetuar a resseparação das nações de base religiosa que se haviam tornado uma nação única quando a religião cessara de servir de base ao pertencimento e organização nacionais

No território europeu, todavia, com o surgimento dos Estados nacionais laicos, o que aconteceu foi o início de uma feliz mescla, em que povos que haviam vivido à parte por séculos passaram a finalmente integrar-se. Pela primeira vez, puderam os judeus sair dos guetos em que se confinavam e eram confinados, e as sinagogas passaram a ser lugares de culto apenas, não de definição nacional. Foi então que surgiu, no judaísmo, o movimento reformista. Ele buscava construir um judaísmo religioso, não nacional. Seus membros – ao contrário de seus pais e avós – vestiam-se como os demais cidadãos, frequentavam as mesmas escolas, falavam a mesma língua, submetiam-se à mesma lei civil e penal. A diferença era a religião; guardavam ainda o sábado, e não o domingo cristão, e mantinham os rituais de seus ancestrais.

A toda ação, todavia, corresponde uma reação igual em força e contrária em sentido. Depois de algumas gerações em que membros da antiga nação judaica e da antiga nação cristã vieram a casar-se, constituir família, ter filhos e integrar-se ainda mais, alevantou-se a besta-fera nazista. O objetivo primeiro do nazismo era separar as nações que se vinham unindo. Não lhes interessava, contudo, separar por religião, na medida em que o próprio nazismo era uma espécie de religião antagônica a todas as formas de Cristandade. Tentava-se, inclusive, fazer reviver artificialmente os paganismos germânicos antigos para combater toda religião de base mosaica, fosse ela judaica ou cristã.

Recorreram, então, os nazistas a outro termo, a outro vocábulo. Inicialmente concebido para “provar” a suposta superioridade da nobreza prussiana em relação ao campesinato eslavo, o termo já pulara o Atlântico. Foi ele empregado para permitir que nos EUA, após a Guerra Civil que aboliu a escravatura, as pessoas que haviam sido escravizadas continuassem socialmente separadas das que se haviam considerado “proprietárias” delas. Trata-se – horresco referens – da famigerada “raça”.


Inventaram, então, os nazistas uma “raça judaica”, independente de religião, para efetuar a resseparação das nações de base religiosa que se haviam tornado uma nação única quando a religião cessara de servir de base ao pertencimento e organização nacionais. Foi o que os levou, por exemplo, a martirizar Santa Teresa Benedita da Cruz, monja carmelita oriunda de família judaica, nascida Edith Stein. Para os nazistas tanto fazia se uma pessoa era católica, tão católica que se havia feito monja carmelita, ou judia praticante: era a tal “raça” que importava, não a religião. A “raça judaica” seria composta, literalmente, de “subumanos”, de seres inferiores. Já, claro, a “raça ariana” (alemães, nórdicos e anglo-saxões) seria a “raça superior”, destinada a governar o mundo. Toda e qualquer “poluição” desta por aquela seria o mais horrendo dos crimes.

Assim sendo, uma das prioridades nazistas foi a marginalização dos membros da tal “raça judaica”. Isto foi feito de várias formas e, como sabemos todos, culminou no Holocausto, o primeiro genocídio efetuado com metodologia industrial, clamando cerca de 6 milhões de vítimas inocentes. No início do processo, contudo, a prioridade evidente era efetuar a radical separação daqueles que se haviam unido poucas gerações antes. Várias medidas “legais” (alemães prestam muita atenção neste tipo de coisa) foram tomadas, entre elas a criação da Câmara de Cultura, subordinada ao Ministério da Propaganda e Esclarecimento Público. Suas subcâmaras lidavam com cinema, música, belas artes, teatro, rádio e televisão, imprensa e literatura. Cada uma delas iniciou seu nefando trabalho efetuando “censos raciais”, em que se buscava identificar os membros da “raça judaica” que estariam “infiltrados” naquelas áreas da cultura. Em seguida foi decretada, claro, a necessidade de pertencimento à suposta “raça superior”, privando a Alemanha da magnífica contribuição de talentos extraordinários… mas preservando a tal “raça ariana” de ser exposta àquilo que viesse da “degenerada raça judaica”.

Como nos EUA tratou-se, desde o princípio, de evitar qualquer mistura entre a população escravizada e a livre (origem das tais “raça negra” e “raça branca”), estabeleceram-se duas nações que conviviam, mas que legal e praticamente não podiam mesclar-se

Mas persistia uma difícil questão: como se poderia definir a “raça”? O que seria ela? A pseudociência nazista bem que tentou usar critérios físicos, medindo narizes, crânios e orelhas. Nada disso, entretanto, servia para diferenciar pessoas que, no fim das contas, tinham de diferente apenas o pertencimento nacional-religioso dos antepassados. A legislação racial americana, considerada por Hitler o modelo ideal, foi ardentemente estudada em busca de soluções. Afinal, nada mais diretamente apropriado para os medonhos fins nazistas que leis como esta:

“Todo casamento entre uma pessoa branca e um negro, ou entre uma pessoa branca e uma pessoa descendente de negros até a terceira geração, inclusive […] é perpetuamente proibido e será considerado nulo; e qualquer pessoa que viole as provisões desta seção deve ser considerada culpada de crime infame, e ser punida com encarceramento em penitenciária por não menos que dezoito meses e não mais que dez anos.” (Código Penal do Estado de Maryland, Crimes e Penas, artigo 27, par. 393-398, ed. 1957[!])

Chegaram todavia os nazistas à conclusão de que, enquanto as legislações antimiscigenação “racial” americanas eram adequadas a seus fins, o mesmo não ocorria com as definições americanas de “raça”. Eram, julgaram os nazistas, estritas demais: o racismo americano era para eles exagerado, por ser baseado na exorbitante “regra da única gota”: a pessoa que tivesse na sua ascendência “uma única gota de sangue negro” pertenceria à oprimida “raça negra”, e seria desprovida de grande parcela dos direitos garantidos aos ditos brancos. A razão sociológica de tal regra é relativamente simples de entender: como nos EUA tratou-se, desde o princípio, de evitar qualquer mistura entre a população escravizada e a livre (origem das tais “raça negra” e “raça branca”), estabeleceram-se duas nações que conviviam, mas que legal e praticamente não podiam mesclar-se. As crianças nascidas de relações extraconjugais entre membros de “raças” diferentes – até mesmo como forma de desincentivar tais relações – forçosamente pertenciam à menos favorecida delas.


Já na Alemanha não apenas a temida miscigenação já ocorrera por algumas gerações, mas – justamente pela aceitação entusiástica da cultura alemã por muitos descendentes da antiga nação religiosa judaica – os que dela vieram haviam sido criados na cultura da população em geral. Eram, na prática, indistinguíveis dos demais cidadãos, tendo inclusive considerável parcela deles adotado as práticas religiosas da maioria cristã de sua região. Assim, não apenas seria dificílimo identificar quem viesse a ter tal “única gota de sangue” da “raça” tida por inferior, mas com isso seriam atingidos muitos nazistas fanáticos. Basta ver, por exemplo, que pelas regras religiosas judaicas, em que a pertença ao Povo Eleito é transmitida matrilinearmente, pelo menos um almirante e um brigadeiro da Alemanha nazista seriam considerados judeus e teriam, nos tempos atuais, direito à cidadania israelense. Isto ocorre por – no fim das contas – terem os nazistas decidido que seria de “raça judaica” quem tivesse três ou quatro avós pertencentes a ela; menos que isso faria do sujeito ou bem um “mestiço” ou bem um membro da “raça ariana”. Algumas restrições ainda pesavam sobre os tidos por “mestiços”, todavia: aquele que se casasse com um membro da “raça judaica” seria tido por pertencente a ela, e privado de cidadania. Aliás, trata-se de cópia de lei americana, que considerava que a mulher de “raça branca” que viesse a casar-se com um sujeito de “raça oriental” (na época proibida de obter cidadania americana, mesmo nascendo nos EUA) perderia, ela também, o direito à cidadania.

Nos EUA, a legislação racista só veio a ser derrubada nos anos 1960, graças a um movimento que uniu membros da “raça negra”, como Martin Luther King, a grande quantidade de jovens americanos de “raça branca” de origem familiar judaica. Os horrores do nazismo haviam mostrado claramente a eles a gravidade do racismo americano.

O fim das disposições legais racistas, no entanto, não operou o milagre de unir o que na prática veio a ser um país cindido em duas nações, uma “negra” e outra “branca”. Até hoje, nos EUA, é malvisto pela família e comunidade aquele que quiser casar-se com pessoa de outra “raça”, mesmo sendo isto legalmente permitido. Do mesmo modo, as nações pseudorraciais continuam tão separadas que, mesmo nascendo e morando na mesma cidade, vivem em bairros segregados e diferem culturalmente ao ponto de ser possível saber a “raça” de uma pessoa pelo sotaque (!), pelo nome de batismo, pela música que ouve, pela roupa que veste, pelos hobbies e lazeres etc. Do mesmo modo, é tão forte a separação entre as nações apelidadas de “raça” que se veio recentemente a descobrir que sistemas de inteligência artificial aplicada ao diagnóstico médico são capazes de discernir a partir de imagens de tomografia e radiologia a “raça” a que o paciente declarara pertencer.

O fim das disposições legais racistas nos EUA não operou o milagre de unir o que na prática veio a ser um país cindido em duas nações, uma “negra” e outra “branca”

Foi neste triste contexto que surgiram as ditas “ações raciais afirmativas” visando elevar a condição socioeconômica dos ditos pretos e criar uma classe média urbana pertencente àquela nação. Para isso foram muito eficazes medidas como cotas “raciais” nas universidades; afinal, o médico, engenheiro ou advogado vindo da nação dita preta iria forçosamente casar-se com moça pertencente à mesma nação, criando-se assim uma família cujos filhos já seriam criados em situação socioeconômica mais favorecida, sem contudo perder o pertencimento pseudorracial à nação de origem. Um limite inesperado para este mecanismo de elevação socioeconômica foi discernido recentemente por um pesquisador que observou que o número de filhos das mulheres da nação negra é inversamente proporcional à sua escolaridade, de forma muito mais aguda em comparação com as mulheres da nação branca. Em outras palavras, uma mulher com estudos superiores, mestrado e doutorado oriunda da nação dita preta tem em média menos filhos que uma mulher com a mesma escolaridade pertencente à nação dita branca.

Já aqui no Brasil, felizmente, nada disso acontece ou aconteceu. Nosso processo de formação nacional, ao contrário, foi baseado na integração de todos, desde o princípio. Os colonos portugueses, no mais das vezes, casavam-se com moças da terra, frequentemente filhas de caciques. Mesmo o vergonhoso capítulo de nossa história em que pessoas escravizadas na África eram compradas e vendidas como se fossem bichos ou coisas em nossa nação não teve, em momento algum, um componente de separatismo dito racial. A pessoa escravizada podia comprar ou ganhar a própria liberdade (alforria), e muitas vezes comprava ela mesma – ocasionalmente enquanto ainda escravizada! – a suposta propriedade de outras pessoas. Escravos tinham escravos, e havia “senhores” com todo tom de pele. Após a Guerra Civil americana, um bom número de americanos derrotados veio ao Brasil, fundando a cidade de Americana (SP). Ao chegar, horrorizaram-se ao ver gente de evidente ascendência africana com títulos de nobreza, fazendas (logo, “propriedade” de escravos) e poder político.

Todavia, tendo os africanos chegado todos na mais baixa condição social possível, criou-se na prática não um separatismo como nos EUA, mas uma certa correlação entre a aparência fenotípica africana e a pobreza. Ao ascender socialmente na nossa sociedade lindamente vira-lata, contudo, o descendente de pessoas escravizadas tendeu e tende a casar-se com moça oriunda não da mesma nação pseudorracial (pois não as temos), mas da mesma classe social. O mesmo, evidentemente, ocorre com a pessoa fenotipicamente europeia que desce socialmente; mantém-se assim a correlação entre fenótipo e condição social, mas de maneira tremendamente diversa da americana.

Nosso processo de formação nacional, ao contrário do norte-americano, foi baseado na integração de todos, desde o princípio

Isto, com o surgimento dos testes de DNA que mostram a ascendência genotípica, tornou-se perfeitamente claro e visível: o famoso Neguinho da Beija-Flor, por exemplo, cujo fenótipo gerou o nome artístico, tem mais de dois terços de ascendência europeia. Enquanto isso, não são raros os casos de irmãos em que um é aceito como cotista numa universidade e outro não, com base no fenótipo, tendo todavia exatamente a mesma ancestralidade. Ou lourinhas estilo “paquita” com farta ascendência africana.

Quer-se, contudo, importar o horror racista americano para nossas plagas. Eu mesmo assustei-me tremendamente ao topar de maneira claríssima com o ovo da serpente dia desses, quando me chegou um convite por e-mail para o “censo racial da imprensa brasileira”. Pareceu-me ver os olhinhos malvados e porcinos de Max Amann, o Reichsleiter für die Presse, “líder nacional para a imprensa” e Presidente da Câmara de Imprensa nazista, sorrindo por trás daquele horror. Mas a coisa é na verdade ainda pior, na medida em que o que está sendo importado não é o racismo mitigado, ainda que genocida, dos nazistas, sim a obscena “regra da única gota” americana. Nossa esquerda, macaqueando a esquerda americana como de hábito, vem tentando importar o racismo de lá, tão desmedido que os próprios nazistas preferiram criar regras próprias. Querem impor a um país construído pela integração de todos os povos a asquerosa separação americana, em que a pessoa que ousa amar a de outra nação pseudorracial é ostracizada até pela própria família. Os movimentos racistas brasileiros – cópia dos gringos – chegaram a inventar termos depreciativos para tentar ofender quem comete o crime de amar pessoa fenotipicamente diversa: a “palmiteira”, por exemplo, seria a mulher que ousa amar alguém com menos melanina que ela.

E é nesse trilho que segue o tal “censo racial” defecado na minha caixa de entrada de e-mail. O enganoso “assunto” da mensagem era “Participe do censo completo da imprensa brasileira. É rápido!” Quando se abre a mensagem, no entanto, logo vê-se a serpente à espreita na forma de um mapa do Brasil todo dividido em tons de marrom e preto, com o texto “Perfil Racial da imprensa brasileira”, estando a palavra “Racial” (assim mesmo, com inicial maiúscula) em letras muito maiores que as demais. Mais adiante no texto, entre gracinhas várias e sucessivos apelos a participar na barbaridade em tela, vê-se o seguinte: “O Perfil Racial da Imprensa Brasileira é direcionado a jornalistas que trabalham em redações. Queremos gerar a maior quantidade de dados possível para que as caras do Jornalismo possam refletir as de quem consome as notícias”.

Os movimentos racistas brasileiros chegaram a inventar termos depreciativos para tentar ofender quem comete o crime de amar pessoa fenotipicamente diversa: a “palmiteira”, por exemplo, seria a mulher que ousa amar alguém com menos melanina que ela

Esta última frase, confesso, me gelou os ossos. Eles querem que “as caras” (o fenótipo) do jornalismo reflitam “as de quem consome as notícias”. Mas espera aí. O que significa isso se não a mesma barbaridade nazista, pela qual os membros da “raça ariana” não deviam ler notícias escritas por membros da desprezada “raça judaica subumana”? O tal perfil racista visa, num segundo momento, como tal frase deixa claro, o estabelecimento de cotas por fenótipo, numa tentativa descarada e literalmente criminosa de copiar aqui de forma ainda piorada o que provavelmente é o pior aspecto da cultura de nossos irmãos do Norte.

Pombas, o que tem a ver a cor (bastante morena, diga-se de passagem; “raça” alguma me aceitaria, vira-lata que sou!) da minha pele com a qualidade do que escrevo ou, mais ainda, com a cor da pele de cada membro do público que me lê? Não faz, no Brasil, sentido algum querer que fenótipos “raciais” sejam refletidos onde quer que seja. Faria mais sentido “refletir” na imprensa o tipo de corte de cabelo, a música que se aprecia, a religião que se pratica ou a formação acadêmica do público. Afinal, estas são características modificáveis, e que realmente dizem algo acerca da pessoa, de suas escolhas, de seus gostos. O racista, contudo, na sua maldade, separa as pessoas por linhas retas que cortam e isolam (exatamente como no mapa de um Brasil cindido em cores de pele “aceitáveis” que serve de símbolo ao tal “Perfil RACIAL”), e nada se pode fazer. Um islamista fanático pode ainda oferecer a sua vítima a oportunidade de converter-se à religião do algoz e assim sobreviver, mas o racista nem isso oferece. Ele divide (e quer “refletir” inclusive e especialmente na imprensa, claro) por fatores fenotípicos perfeitamente arbitrários, mas que não se tem como modificar. De nada valia para os nazistas o batismo e o hábito de monja de Santa Teresa Benedita da Cruz: para eles ela era ainda, e sempre seria, a judia Edith Stein.

O que tem a ver a cor (bastante morena, diga-se de passagem; “raça” alguma me aceitaria, vira-lata que sou!) da minha pele com a qualidade do que escrevo ou, mais ainda, com a cor da pele de cada membro do público que me lê?

No fim do e-mail lê-se ainda: “Numa segunda etapa, uma amostra de cerca de 200 jornalistas vão [sic] responder a uma pesquisa feita por telefone, caso se disponham, onde poderão responder a outras perguntas mais sensíveis sobre a temática racial. Para se candidatar a participar dessa etapa, basta informar o telefone no questionário da primeira fase da pesquisa”.

Mentira.

Tapei o nariz e fui lá responder o questionário. Pois bem: dependendo da opção que se marque na terceira questão (“Qual a sua cor ou raça?”), surge ou não uma pergunta a mais, no fim do texto: “14) Nesse projeto haverá uma pesquisa com amostra de profissionais que se declararam pretos ou pardos, sobre questões sobre o racismo. Se você for sorteado para essa pesquisa estaria disposto a responder a uma entrevista por telefone de duração aproximada de 10 minutos?”

Tal como os cartazes do Parque de Xangai durante a ocupação inglesa, que proibiam a entrada de cachorros e chineses, neste Perfil raci[st]al os “brancos”, “amarelos” e “indígenas” não têm sequer o direito de saber que, por mais que desejem, não farão jamais parte da segunda etapa. Ela não está aberta a todos, só aos felizardos que sejam da “raça” certa.

Está aí, senhores, o ovo da serpente, já com a casca rachada e a linguinha bifurcada da besta a aparecer. Poucas vezes vi em nossos tempos e em nossa pátria tamanho horror sendo expresso de forma tão clara, com tanta confirmação de malícia e racismo, separando as pessoas (ou demandando-lhes que se separem) liminarmente em categorias arbitrárias de que jamais poderão escapar. Por mais que os abomine, ainda prefiro os fanáticos jihadistas: ao menos eles dão a suas vítimas a opção de mudar de categoria.


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VACINAÇÃO DE ADOLESCENTES FICA SUSPENSA NO BRASIL

 

Pandemia
Vacinação de adolescentes: treta política importa mais que informar o cidadãoNão há razão para pânico. Revisões de conduta são normais em novas doenças e novas vacinas. Entenda.

Por
Madeleine Lacsko – Gazeta do Povo

Uma vacina nova contra uma doença nova terá várias revisões de procedimentos.| Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

Hoje eu ia escrever sobre outra coisa, mas quando o tema é comunicação em vacinação e combate a epidemias, eu não resisto. Uma das coisas mais importantes e gratificantes que já fiz foi ser parte da equipe que erradicou a pólio em Angola. Não haverá vacina, remédio e médico suficientes se não houver boa comunicação. É revoltante ver o tratamento que nós, brasileiros, estamos recebendo na pandemia.

Decidi parar de ser colunista por um dia e voltar à minha prática da década passada, comunicação durante emergências em saúde. Se você conhece quem tem filhos adolescentes e entrou em pânico com a palhaçada generalizada de hoje, compartilhe o texto. A primeira coisa a saber é que não há razão para pânico e são naturais revisões de procedimentos em vacinas e remédios novos. Agora explico o imbroglio, que é recente e terá um desfecho.

Nós vemos vacinas e remédios como milagres ou salvação, mas eles não são nada disso. Estamos diante da busca pelo mal menor. Aliás, da aspirina infantil à vacina da Covid, não há bem que se faça ao corpo, há contenção de danos. Esqueça neste momento os gigantescos interesses econômicos das Big Pharma – que existem sim – e a manipulação política e narrativa sobre Covid. Pense naquilo que você realmente conhece, cuida e pode controlar, o bem estar da sua família.

Ninguém aplicou em adolescentes algo que mata ou compromete para sempre. Verificou-se antes se havia essa probabilidade. Você já deve ter recebido as postagens questionando a vacinação, muitas delas absolutamente verídicas e fundamentadas na ciência. É bom que essas postagens existam, significa que os cientistas estão acompanhando e revendo procedimentos. Ainda vai acontecer várias vezes, é assim.

O que acontece com a vacina da Covid em adolescentes?
O corpo de crianças e adolescentes é diferente do corpo adulto. Tanto as doenças desenvolvem-se nele de forma diferente quanto remédios e vacinas têm ações diferentes muitas vezes. Para se ter uma ideia da diferença, a taxa de internação por Covid em idosos é de 15%. A cada 100 que contraem a doença, 15 são internados.

Na medida técnica mais usada, a cada milhão de idosos que contraem Covid, temos 150 mil internações. Já entre adolescentes saudáveis, a cada milhão que contraem Covid temos 26,7 internações. Então não precisa de vacina? Ocorre que alguns desses internados morrem e não é admissível perder vidas humanas podendo evitar. Quando você vacina idosos, a probabilidade de internação cai muito e imaginou-se a reprodução deste efeito em adolescentes.

No Reino Unido, na União Europeia, em Israel e nos Estados Unidos, foram acompanhados todos os adolescentes que receberam vacinas para ver se o número de internações caía vertiginosamente como ocorre em outras faixas etárias. Verificou-se que infelizmente isso não aconteceu e, novamente, teremos de buscar novas soluções. Nenhuma mãe e nenhum pai merecem ter de enterrar um filho simplesmente porque estava confuso para nós, adultos.

As taxas de crianças vacinadas internadas não tiveram muita alteração, então foram ver as causas. Miocardite, uma infecção no coração, que é sintoma colateral da vacina, mas insignificante nas outras faixas etárias. Se você consultar o doutor Google, vai ler que é causada por infecção viral e pode gerar morte. Existem infinitos tipos de miocardite e, entre os adolescentes acompanhados, não há registro de morte ou sequelas.

Ocorre que, pelo menos de acordo com os levantamentos preliminares, a chance de um adolescente ser internado pelo efeito colateral da vacina, após tomar duas doses, é maior que a dele ser internado por Covid. Por outro lado, não há registro de mortes pelo efeito colateral da vacina, mas há quem perdeu filho para a Covid. O que se faz agora? Um freio de arrumação. Existe alguma solução melhor que essa e os cientistas vão achar.

O que dizem os estudos
Já havia diversos estudos que suspeitavam da relação entre a miocardite e a vacina, mas não pareciam conclusivos. A informação nova veio na última quinta-feira, com um estudo ainda não revisado, publicado na Universidade da California. O resultado separa meninas de meninos e aí ficou claríssimo o que ocorre. Meninos entre 12 e 15 anos são os que acabam mais internados por efeito colateral do que por Covid.

A probabilidade de um menino saudável que contraiu Covid ser internado é de 26,7 casos em cada milhão. A probabilidade de internação de um garoto de 12 a 15 anos por efeito colateral da 2a dose da vacina é de 162,2 por milhão, 6 vezes mais. Entre os garotos de 16 e 17 anos, a probabilidade é de 94 por milhão, 4 vezes mais. Já entre as meninas de 12 a 15 anos, a probabilidade de internação por efeito colateral da vacina é 13 por milhão, metade das internações por Covid. Nas meninas funciona.

O NHS, Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido, está reconsiderando os critérios de vacinação de adolescentes. O mesmo ocorre no CDC norte-americano, na União Europeia e em Israel. O estudo é só com vacinas da Pfizer e Moderna, as únicas que esses países aplicaram em adolescentes. Agora, os cientistas têm diversas sugestões para progredirmos e uma unanimidade: os governos terão de mudar seus planos iniciais.

A questão é como fazer isso. O Reino Unido está recrutando vacinadores para escolas e agora cogita dar apenas a primeira dose para adolescentes. Os números de casos do efeito colateral natural da Pfizer, miocardite, são bem menores na primeira dose e a segunda dose não traz benefícios que compensem este risco.

Entre os especialistas internacionais, a sugestão é fazer um acompanhamento de caso mais aprofundado de um grupo de adolescentes vacinados antes de decidir sobre políticas públicas. Uma das sugestões é fazer um exame de troponina logo após a aplicação da primeira dose. A troponina é um marcador biológico de lesões no tecido cardíaco. Ter troponina no sangue não significa ter um problema do coração que precise de remédio ou hospital, mas todo mundo que tem algo grave no coração tem troponina alta.

Quem foi criança há muito tempo, como eu, lembra que nós pegávamos catapora e as mães já levavam toda a primaiada para pegar. Não havia vacina e a doença em criança é quase nada, em adulto é um pesadelo, gravíssima. O mesmo ocorre com caxumba e sarampo. Até com gripe, que é um resfriadinho no filho e vira uma coisa do outro mundo na gente. Doenças virais são mais graves em adultos.

Espero que esse esclarecimento chegue aos aflitos. É cruel enfiar pais em briga política e tentativa de sinalizar virtude em plena pandemia. O anúncio do ministro da Saúde foi abrupto e sem os esclarecimentos suficientes. As reações a ele pioraram ainda mais a situação. A nota do Ministério da Saúde tem diversas imprecisões. Adversários políticos, jornalistas e cientistas nas redes focaram em desmentir os pontos obscuros e esqueceram de informar o público o básico.

O ministro tem razão quando fala que a Anvisa precisa ser o centro de todas as decisões. Você deve lembrar daquele delírio terraplanista de defenderem a vacina Sputnik contra os técnicos da Anvisa que, no final, estava certíssima. Para vencer um vírus, é preciso unir o povo. Não adianta esperar isso dos nossos políticos, os interesses e as brigas deles vêm sempre primeiro. O anúncio do ministro foi feito de forma incendiária e virou mais uma briga política benéfica para políticos, influencers e jornalismo declaratório. Você, que pagou a entrada do circo e a alimentação do picadeiro, não deve ter visto vantagem nenhuma.

A nota técnica do Ministério da Saúde é uma piada de mau gosto com as famílias brasileiras. As reações a ela são igualmente patéticas. A fixação em desmentir cada ponto para alimentar-se da treta é mais importante que esclarecer as pessoas sobre a saúde dos filhos delas. O Artur Marques, brasileiro que mora na Alemanha, enviou-me o comunicado do governo deles sobre o mesmo tema. O nosso tem uma página mal escrita, o deles é um livro de 56, o 33o a ser publicado para o cidadão comum.

As pessoas só nos tratam da forma que permitimos. Se os políticos acham que não devem satisfação e os formadores de opinião preferem desqualificar político a servir o público, é porque ensinamos isso. O cidadão agora vai assumir um lado da treta, bater boca defendendo um e xingando outro. Formadores de opinião vão desmentir ponto a ponto da nota do Ministério da Saúde. Esse esforço de desinformação e desserviço gerará muitos likes e compartilhamentos do cidadão, que precisa de nomes de peso em seu bate-boca particular sobre o tema.

Em quem confiar? Só deixaremos de ser massa de manobra quando pararmos de ser reféns de paixões e ilusões. Há milênios se divide para conquistar e reinar. Há milênios nos deixamos enganar por quem ganha com divisionismo. Nos apaixonamos por um grupo ou uma ideia e entregamos nosso destino a relacionamentos abusivos. A primeira coisa para combater um vírus é informação de qualidade. Não temos porque ainda não sabemos exigir respeito.


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SHOPPING CENTERS ESTÃO ADERINDO ÀS VENDAS EM MARKETPLACES

 

Beatriz Antunes

Os shopping centers são desafiados pelo sucesso das lojas online, mas o marketplace entra para salvá-lo no presente e mantê-lo no futuro.

O aumento de shopping centers migrando suas operações para o modelo marketplace como o da Valeon é perceptível, e a tendência dos shopping centers se digitalizarem não é tão nova, quanto pensamos. Muitos shoppings já migraram para modelos que integram com os canais digitais, sabemos que a pandemia simplesmente serviu para acelerar esse processo.

Segundo pesquisa da Ebit | Nielsen, o Webshoppers, os varejistas de marketplaces têm participação de 78% no faturamento total do mercado, e o crescimento do setor com a pandemia é perceptível, R$ 30 bilhões do faturamento do primeiro semestre de 2020 são de lojas estão em marketplaces, um aumento de 56% sobre o mesmo período de 2019.

O principal desafio é o comportamento do cliente.  A pesquisa leva automaticamente a maioria dos clientes aos grandes marketplaces, mas não ao shopping center local – é por isso que as vendas online estão crescendo e as vendas de lojas físicas estão sendo ameaçadas. A digitalização representa grandes desafios para o setor do varejo; o aumento das vendas no comércio online, a mudança do comportamento do consumidor, e os crescentes requisitos do cliente, são fatores que influenciam esse processo. Para se manterem competitivos, os shopping centers precisam reconhecer essa transformação e repensar modelos de negócios testados e comprovados. 

Não é novidade para ninguém que os consumidores estão cada vez mais adeptos às compras online, e o número de clientes fiéis desse modelo mostra que os marketplaces como o da Valeon seguem crescendo e vem se tornando um negócio muito popular no Brasil.

O marketplace como o da Valeon para os shopping centers vai ser uma plataforma omnichannel que conecta o estoque do varejista online e offline, atendendo assim às novas necessidades dos clientes e, em simultâneo, torna os shopping centers mais atraentes. Por meio do marketplace do shopping center, os consumidores podem verificar se o produto que desejam está disponível, na loja em que desejam, realizar a compra e optar por receber em casa ou retirar no local em algumas horas.

Isso é possível por meio da integração dos estoques das lojas, que acontece em tempo real. Os dados dos produtos, como descrições dos itens, fotos e preços, são obtidos diretamente por meio do sistema integrador. 

O clique e retire como opção no marketplace de shoppings centers, é muito importante. Alia a flexibilidade e praticidade do pedido online aos benefícios oferecidos pelas lojas físicas. Além de recolher os produtos em pouco tempo, o serviço oferece a possibilidade de experimentar os produtos antes de comprar. O marketplace passa a direcionar os clientes aos varejistas locais.

Os varejistas podem usar o alcance online para aumentar a frequência de clientes nas lojas e gerar mais vendas, aproveitando para atuar como mostrar novidades e vantagens que são obtidas somente indo à loja física.

O foco deve estar também na experiência do consumidor, porque tudo depende inteiramente do serviço e da comodidade que são oferecidos ao consumidor. Seja numa compra finalizada no marketplace ou quando o consumidor opta por retirar na loja física, os varejistas devem entender o que é necessário para oferecer a melhor experiência, com praticidade e flexibilidade, sempre atendendo muito bem o consumidor. Os shoppings devem implementar a digitalização tendo todos esses parâmetros em mente.

Oferecer ao consumidor a oportunidade de comprar da sua loja favorita do shopping pelo smartphone ou computador, em casa, e ainda poder retirar ou receber o pedido com rapidez. Uma forma de deixar a jornada de compra fluida para o consumidor, o que é necessário durante a pandemia, mas se a experiência for boa, será desejada depois.

PROPÓSITOS DA VALEON – “ValeOn É TOP”

ValeOn é uma Startup Marketplace que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa.

Encontre Produtos, Profissionais e Serviços em toda a região do Vale do Aço

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A ValeOn é uma startup daqui da região e foi acelerada pelo programa AGITA/SEBRAE/MG e pretendemos atuar no ramo de Publicidade e Propaganda online e pretendemos atender a todas as 27 cidades do Vale do Aço.

O nosso mercado será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar os produtos / serviços para vocês clientes, lojistas, prestadores de serviços e profissionais autônomos e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Viemos para suprir as demandas da região no que tange a divulgação de produtos/serviços cuja finalidade é a prestação de serviços diferenciados para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O nosso diferencial está focado nas empresas da região ao resolvermos a dor da falta de comunicação entre as empresas e seus clientes. Essa dor é resolvida através de uma tecnologia eficiente que permite que cada empresa / serviços tenha o seu próprio site e possa expor os seus produtos e promoções para os seus clientes / usuários ao utilizar a plataforma da ValeOn.

A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Pretendemos cadastrar todas as empresas locais com CNPJ ou não e coloca-las na internet.

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Para acessar a plataforma da ValeOn poderá ser feita por:

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Vamos tornar a nossa marca ValeOn conhecida em toda a região como um forma de ser desenvolvedora do comércio da região e também de alavancar as vendas do comércio local.

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quinta-feira, 16 de setembro de 2021

PREÇO DA GASOLINA NA PETROBRAS SUBIU MAIS QUE OS IMPOSTOS

 

Combustíveiss

Por
Fernando Jasper – Gazeta do Povo

REPAR / PETROBRAS – ARAUCARIA – 17/06/14 – Economia – Refinaria Presidente Getulio Vargas – Repar. A refinaria pertence a Petrobras e fica no municipio de Araucaria, Parana . FOTO: MARCELO ANDRADE. Agencia de Noticias GAZETA DO POVO

Preço da gasolina nas refinarias da Petrobras subiu mais que a arrecadação do ICMS do combustível.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

O ICMS tem peso significativo na formação de preço dos combustíveis, e a arrecadação dos estados está aumentando conforme o brasileiro gasta mais para encher o tanque. Mas o imposto estadual não foi o principal responsável pela forte alta da gasolina no último ano. A maior fonte de pressão veio da Petrobras.

Nos últimos 12 meses, os preços nas refinarias da estatal subiram mais que a arrecadação do ICMS, tanto em valores absolutos quanto em termos relativos.

Os números destoam de afirmações do presidente Jair Bolsonaro, para quem o imposto estadual é o maior culpado pela escalada dos preços – discurso que foi endossado na terça-feira (14) pelo presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, em audiência na Câmara dos Deputados.


No início de setembro de 2020, a Petrobras vendia a gasolina A (pura), sem impostos, a um preço médio de R$ 1,78 por litro. Os valores variavam de R$ 1,62 a R$ 1,92, dependendo da refinaria e da modalidade de venda do combustível às distribuidoras.

Desde então, o combustível nas refinarias da estatal ficou R$ 1,01 mais caro, o que corresponde a uma alta de 57%, chegando à média atual de R$ 2,79 por litro. Conforme a unidade produtora e a forma de venda, o preço do litro varia hoje de R$ 2,68 a R$ 2,93.

Nesse mesmo intervalo de 12 meses, o peso do ICMS em cada litro de gasolina aumentou entre R$ 0,34 (caso do Paraná) e R$ 0,58 (em Goiás). Em termos relativos, o incremento da arrecadação do tributo nas 27 unidades da federação variou de 27% (em Mato Grosso do Sul) a 52% (no Amazonas).

Segundo a Petrobras, o preço na refinaria representa hoje 33,8% do valor cobrado nas bombas, na média nacional, enquanto o ICMS corresponde a 27,8%. Os demais componentes do preço ao consumidor final são: custo do etanol anidro que é misturado à gasolina (17,2%); tributos federais (Cide, PIS e Cofins, com 11,4%); e distribuição e revenda (9,8%).

Confira: A variação do preço da gasolina na refinaria e do ICMS em SP, RJ e PR

Preço da gasolina na Petrobras reflete alta do barril de petróleo
Os reajustes promovidos pela Petrobras são resultado do regime de preço de paridade de importação (PPI), no qual a estatal busca acompanhar o comportamento das cotações do petróleo no mercado internacional.

Impulsionado pela recuperação da economia mundial e por decisões da Opep, o cartel dos exportadores, o barril ficou 57% mais caro no período de 12 meses a partir de 1.º de setembro de 2020. Um pequeno alívio veio do dólar, que, após vários altos e baixos, ficou 4% mais barato nesse intervalo.

Em 2018, Pedro Parente pediu demissão da presidência da estatal em meio ao desgaste causado pela greve dos caminhoneiros, que protestavam contra o preço do diesel. Em abril deste ano, Roberto Castello Branco deixou o comando da empresa por ordem de Bolsonaro, que estava incomodado com os reajustes do diesel e sua repercussão entre os transportadores de carga.

O regime de alinhamento às cotações internacionais contrasta com a política dos governos do PT, quando que a Petrobras absorvia boa parte das flutuações do barril, eventualmente sofrendo prejuízos bilionários, de forma a evitar oscilações mais fortes na bomba e na inflação.

Estados mantiveram alíquotas do ICMS, mas subiram preço de referência
Da parte dos estados, a alíquota do ICMS sobre a gasolina não sofreu qualquer alteração do ano passado para cá. Continua variando de 25% a 34%, conforme a unidade da federação.

O que mudou foi valor de referência usado na cobrança do imposto, o Preço Médio Ponderado ao Consumidor Final (PMPF), que subiu em todos os estados. As altas variaram de 27% a 52% em 12 meses, refletindo o aumento dos preços nas bombas – na média nacional, a gasolina ficou cerca de 40% mais cara em um ano, segundo medições da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e do IBGE.

Definido pelas secretarias estaduais de Fazenda e publicado no Diário Oficial da União, o PMPF é renovado a cada 15 dias e costuma acompanhar a evolução dos preços nos postos. É sobre ele que incide a alíquota do ICMS.

Essa forma de cobrança, a partir de um preço de referência, é parte do regime de substituição tributária, no qual todos os impostos são recolhidos na origem da cadeia. É usando o PMPF que a Petrobras pode embutir o ICMS no seu preço de venda, uma vez que não há como saber com antecedência qual será o preço final do combustível em cada posto.

Embora sejam comuns queixas de que um ou outro estado “abusa” desse preço de referência, arbitrando valores artificialmente altos para arrecadar mais, os dados oficiais mostram que hoje o PMPF está abaixo dos preços médios ao consumidor em quase todas as unidades da federação.


A comparação entre o PMPF válido para a primeira quinzena de setembro e os preços médios nos postos na semana passada, verificados em pesquisa da ANP, revela que apenas no Acre o valor de referência para o imposto estadual é superior ao cobrado do consumidor – e, ainda assim, a diferença é de apenas 0,2%.

Nos demais estados, o PMPF está abaixo do preço médio na bomba. A maior diferença está no Paraná, onde o valor de referência para o ICMS da gasolina foi de R$ 5,20 por litro na primeira quinzena de setembro, 10% abaixo do preço médio cobrado pelos postos do estado na semana passada (R$ 5,78).

A variação do preço da gasolina na refinaria e do ICMS em SP, RJ e PR
Os exemplos de três estados – São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná – ajudam a ilustrar a evolução dos preços da gasolina nas refinarias da Petrobras e da arrecadação do imposto estadual no último ano.

São Paulo tem a menor alíquota de ICMS do país (25%) e o Rio de Janeiro, a maior (34%). O Paraná aplica um porcentual intermediário (29%).

Eventuais discrepâncias nas casas decimais se devem a arredondamentos de valores:

São Paulo

O preço da gasolina A na refinaria de Paulínia no início de setembro de 2020 era de R$ 1,81 por litro. Hoje é de R$ 2,83, com aumento de R$ 1,01 por litro (56%) em um ano.
No mesmo intervalo, o PMPF (valor de referência para a cobrança do ICMS) no estado passou de R$ 4,01 para R$ 5,52 por litro (aumento de R$ 1,51, ou 38%).
Aplicando-se uma alíquota de 25% sobre o PMPF, a arrecadação do ICMS em São Paulo subiu de R$ 1,00 por litro de gasolina em setembro de 2020 para R$ 1,38 atualmente (aumento de R$ 0,38 por litro, ou 38%).
Rio de Janeiro

O preço da gasolina A na refinaria de Duque de Caxias no início de setembro de 2020 era de R$ 1,84 por litro. Hoje é de R$ 2,85, com aumento de R$ 1,01 por litro (55%) em um ano.
No mesmo intervalo, o PMPF (valor de referência para a cobrança do ICMS) no estado passou de R$ 4,75 para R$ 6,37 por litro (aumento de R$ 1,63, ou 34%).
Aplicando-se uma alíquota de 34% sobre o PMPF, a arrecadação do ICMS no Rio de Janeiro subiu de R$ 1,61 por litro de gasolina em setembro de 2020 para R$ 2,17 atualmente (aumento de R$ 0,55 por litro, ou 34%).
Paraná

O preço da gasolina A na refinaria de Araucária no início de setembro de 2020 era de R$ 1,77 por litro. Hoje é de R$ 2,79, com aumento de R$ 1,01 por litro (57%) em um ano.
No mesmo intervalo, o PMPF (valor de referência para a cobrança do ICMS) no estado passou de R$ 4,03 para R$ 5,20 por litro (aumento de R$ 1,17, ou 29%).
Aplicando-se uma alíquota de 29% sobre o PMPF, a arrecadação do ICMS no Paraná subiu de R$ 1,17 por litro de gasolina em setembro de 2020 para R$ 1,51 atualmente (aumento de R$ 0,34 por litro, ou 29%).
Tributos federais têm valor fixo. Bolsonaro quer o mesmo para o ICMS
Ainda que o PMPF em geral acompanhe o comportamento do preço na bomba, o governo federal costuma destacar que a tributação federal sobre a gasolina não sofre qualquer alteração há muito tempo.

De fato, a soma de Cide, PIS e Cofins permanece em R$ 0,69 por litro, independente do valor cobrado do consumidor. Isso ocorre porque esses tributos têm valor fixo, em reais por litro, ao passo que o ICMS representa um porcentual do preço – não só nos combustíveis, mas em milhares de outros produtos.

Em fevereiro, Bolsonaro enviou ao Congresso um projeto de lei complementar para que o imposto estadual sobre os combustíveis também tenha valor fixo, e igual em todos os estados, mas a proposta – que enfrenta oposição de governadores – não avançou.

Meses depois, o presidente anunciou a intenção de mudar o texto, permitindo que cada estado defina seu ICMS, mas mantendo a ideia de uma alíquota fixa.

Referências:
Petrobras – Preço da gasolina nas refinarias
Confaz – Tabelas do PMPF
ANP – Levantamento de preços ao consumidor
ANP – Série histórica de preços ao consumidor
IBGE – Inflação medida pelo IPCA


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/preco-da-gasolina-na-petrobras-subiu-mais-que-o-imposto-cobrado-pelos-estados/
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BOLSONARO E O CONSERVADORISMO

 

Direita pom-pom de cortina

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

O presidente da República, Jair Bolsonaro e a primeira-dama do Brasil, Michelle Bolsonaro, participam de cerimônia de cumprimentos aos oficiais-generais promovidos

Bolsonaro faz um gesto “não conservador” durante uma cerimônia qualquer.| Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agênci

Agora virou moda entre os pensadores da direita pom-pom de cortina (na qual jocosamente me incluo) usar todo o estoque de aspas com pedigree conservador para constatar: Jair Bolsonaro não reza por essa cartilha. Sério? Qual foi o primeiro sinal? A julgar pela velocidade da constatação, prevejo a surpresa do primeiro intelectual do tipo a tropeçar num Mises para descobrir que Bolsonaro tampouco é liberal.

Curiosa, aliás, essa necessidade de enquadrar ideologicamente um presidente eleito sob condições muito específicas, com uma personalidade ambígua e dono de uma visão de mundo para lá de confusa, a fim de justificar o antibolsonarismo empedernido, casmurro mesmo. Um antibolsonarismo que, mais do que um movimento, é uma sensação revolucionária que nasce de uma visão idealizada do conservadorismo.

Ou seja, a fim de fazer com que esse ou aquele líder popular se enquadre numa ideologia a ser combatida, o intelectual ignora as infinitas nuances que tornaram esse líder popular o que ele é. Incluindo, aí, o carisma, a capacidade de comunicação com as massas e até uma dose de salvacionismo, entre outras características que unem os populistas.

Não. Bolsonaro e seu bolsonarismo (à venda nas versões leve, médio e intenso) não são conservadores. Mas e se eu disser que o antibolsonarismo obstinado, birrento e cabeça-dura, quando não psicótico, tampouco é conservador – por mais que se tente racionalizá-lo com aspas e apuds os mais diversos? Afinal, o conservador digno desse nome está mais preocupado em navegar virtuosamente pela realidade do que em alterar essa realidade.

Indiana Jones e a busca pelo conservador puro
Isso é algo que me incomoda profundamente nesse antibolsonarismo que se pretende a esclarecido, mas que é só carente de uns afagos da tchurma. Ainda mais quando ele vem de um grupo que, ainda que de nariz torcido, ajudou a eleger Bolsonaro. Estou falando de um idealismo quase romântico, do tipo que pressupõe que o líder de um povo precisa ser um representante moralmente puro não do povo, mas da elite que ambiciona guiar esse povo. Ideologicamente, esse líder precisa ser um ortodoxo – no limite da perfeição.

Quando, até por características próprias da democracia contemporânea, o líder popular, vulgarmente chamado de populista, é um amálgama que reflete precariamente os valores da maioria que o elegeu. Não, Bolsonaro não é um conservador de alta estirpe simplesmente porque o brasileiro, ainda que majoritariamente possa se identificar como conservador, entende o conceito ora como reacionarismo, ora como puritanismo, ora como messianismo e ora – pasmem, direita pom-pom de cortina! – como revolução.

A um conservador digno do nome e da gravata borboleta, pois, era de se esperar também um olhar ultracompassivo em relação ao presidente. O que, reconheço, não é fácil – ainda mais quando se vive sob pressão de uma turba anônima nas redes sociais e no Tempo da Indignação Permanente. Mas é o que eu sempre digo: se fosse fácil, se não demandasse o exercício das virtudes mais nobres, qualquer progressista louquinho faria.

Pergunta que proponho ao intelectual que faz carinha de nojo para Jair Bolsonaro só porque o homem não leu Scruton: o que há de conservador (e cristão?) no julgamento impiedoso, quando não irado, de um homem falho, necessariamente falho, e que por circunstâncias incontroláveis e temporárias hoje veste a faixa presidencial?

Não seja o mal que você abomina
Não, Bolsonaro não é conservador. Não segundo a régua de Russell Kirk, não segundo a régua de Roger Scruton, não segundo a régua de Oakeshott. Não segundo a minha régua – que dirá a sua! Isso não o torna reprovável per se. E de forma alguma o torna automaticamente um governante a ser derrubado e substituído por “conservadores” como João Dória ou (faz me rir!) Lula.

Mas é o que já disse aqui uma vez: o grande problema do debate público no Brasil é a qualidade da oposição, que alterna períodos de omissão e momentos de antagonismo agressivo e irracional. O bolsonarismo é tão estranho, tão incompreensível e às vezes tão incômodo que nubla nosso olhar outrora disposto a encontrar um mínimo de boa fé nos feitos de um líder que pode até ser esteticamente repulsivo, mas que foi democraticamente eleito.

Também ela, a direita conservadora (que aqui chamo de “pom-pom de cortina” só para dar cor ao texto), não sabe lidar com a política das paixões – da qual Bolsonaro é produto. Perdida e sem se sentir representada pelo governante que idealizava em 2018, essa direita acaba por abdicar de princípios a fim de ver prevalecer sua alternativa. Que, no caso de Bolsonaro, é qualquer um  (alguns cortejam até Lula).

Um ensinamento universal, sedimentado na melhor tradição que o conservadorismo afirma proteger, diz que não devemos ser o mal que tanto abominamos e contra o qual lutamos com tanto afinco. Para mim, é na desobediência a esse ensinamento que Bolsonaro mais se desvia da rota da virtude (moral, política, econômica, etc). Mas, curiosamente, é neste ponto que Bolsonaro e o antibolsonarismo se unem no que têm de pior: a crença de que só a destruição do outro vai nos trazer paz e prosperidade.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/certo-bolsonaro-nao-e-conservador-e-por-acaso-o-antibolsonarismo-e/
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VACINA CORONAVAC DO BUTANTÃ TEM POUCA COBERTURA VACINAL

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Vacina – Foto: Américo Antonio/SESA

Coronavac: o jornalismo abdicou de questionar as fontes oficiais| Foto: Américo Antonio/SESA

Algo surpreendente nesta pandemia é a maneira simplória com que muitas pessoas instruídas lidam com a verdade. Aprendemos a desconfiar das autoridades políticas, mas qualquer autoridade tecnocrata goza de uma confiança inexplicável. Aprendemos a desprezar jornais que chancelam tudo o que uma autoridade do Executivo diz, mas basta botar um jaleco que a autoridade pode ser babada e lambida por um jornal sem que este perca a credibilidade. Tudo se passa como se políticos fossem demônios e cientistas fossem anjos, em vez de serem todos humanos. E tudo se passa, também, como se a burocracia científica não estivesse sujeita à influência de algum chefe do Executivo.

A maior expressão disso talvez sejam as agências de checagem de fatos. Quando não está checando memes e piadas, o Estadão Verifica costuma defender com unhas e dentes qualquer declaração dos burocratas do Instituto Butantan.

História mal contada
Desde o começo da pandemia, ninguém precisava de links nem do respaldo de especialistas concluir que aquela vacina chinesa que Doria tentava empurrar era uma baita de uma história mal contada. Bastavam bem senso e atenção. O primeiro indício foi que a vacina penou para conseguir o mínimo de eficácia necessário para ter aprovação emergencial da Anvisa, que consiste em míseros 50%. Para atingi-los, foi necessário um novo método de cálculo de eficácia, pois, segundo o cálculo tradicional, ficava abaixo dos 50%. O Dr. Fernando Reinach denunciou isto à época no Estadão e foi tachado de fake news. Escrevi sobre isto no já remotíssimo janeiro de 2021. No fim das contas, a eficácia da Coronavac era de 49,69% segundo o cálculo tradicional; segundo o cálculo de odds ratio, os 50,38% anunciados à imprensa.

É pouco. Mas Doria, amparado por burocratas do Butantan, fez um escarcéu para dizer que a vacina “do Butantan” (e não chinesa) tinha incríveis 100% de eficácia na prevenção de casos graves. Ou seja: de alguma maneira, só havia 50% de chances de alguém vacinado não pegar covid; mas, ainda assim, era 100% certo que não teria covid grave. O que quer dizer que alguém que pese 150kg, tenha hipertensão e diabetes pode pegar covid e ter a certeza certa de não morrer. Isso é minimamente razoável?

Para quem gosta de diplomas, recomendo o texto do Dr. Fernando Reinach, que condenou a falta de clareza sobre a amostragem e a ousadia dessa universalização. Mas basta bom-senso para ver que um negócio desses não pode ser verdade. E se o Butantan chancelava isso, azar do Butantan: só põe lama na sua credibilidade.

À época eu fiquei surpresa com a insistência nesses 100%, porque basta um único caso grave para falsear do que foi dito. Hoje, tendo visto Doria no Roda Viva, considero que está no padrão dele.

Ex-fake news?
Por alguma razão, a rotina dos céticos desta pandemia envolve o rótulo de bolsonarista. Às vezes as pessoas se declaram bolsonaristas, às vezes são declaradas por outrem de forma injuriosa. De minha parte, julgo isso muito elogioso para a pessoa de Bolsonaro, já que seu círculo se revelou o único capaz de abarcar o ceticismo. É uma tristeza para o Brasil que o ceticismo só tenha um político a ser identificado consigo.

Pois bem: em abril de 2020, um youtuber bolsonarista disse que a Coronavac precisaria de terceira dose por se mostrar ineficaz. Agora, em setembro de 2021, o Butantan anuncia a terceira dose da vacina, supostamente necessária para proteger idosos da variante delta. (Por que uma dose igual às demais vai proteger de uma nova variante? Porque os especialistas dizem que vai.) Ou seja: o youtuber bolsonarista, sem diploma nem nada, estava absolutamente certo há mais de um ano. Ele assistiu a uma entrevista de um diretor do Butantan e tirou essa conclusão.

Mas lá em abril o Estadão Verifica anunciou: “É falso que Coronavac tenha se mostrado ineficaz e precise de terceira dose”. Depois foi desmentido pelo tempo e acrescentou uma errata: “Atualização, 28/05/2021: Esta checagem foi produzida com base em informações científicas disponíveis no dia 28 de abril de 2021. A possibilidade de uma dose de reforço foi discutida posteriormente em estudo preliminar de 21 de maio de 2021.”

Com que propriedade o Estadão Verifica dizia que se tratava de fake news? Ora, ouvindo a entrevista do diretor, o youtuber foi capaz de tirar uma conclusão perfeitamente correta. Além disso, meses após a aplicação da vacina já era possível o cidadão comum observar que os vacinados estavam tendo casos graves de covid e colocar em dúvida muito do que fora propagandeado.

Admitamos, porém, que é possível as evidências de então não serem conclusivas. Seria correta a manchete, e a errata seria prova de humildade; afinal, as evidências (chamadas de “informações científicas”) vão apontando para diferentes hipóteses conforme o tempo. No entanto, o corpo do texto mostra que o raciocínio não é esse: “Questionado por jornalistas da emissora sobre formas de aumentar essa taxa, Palacios [o diretor que o bolsonarista escutou] responde que Butantan estuda a possibilidade de aplicar uma dose de reforço, seja com a própria Coronavac ou com outros imunizantes, mas que isso depende de pesquisas prévias.” A possibilidade estava aberta, portanto. No parágrafo seguinte, continua a matéria: “Nas redes sociais, o Instituto Butantan também desmentiu a informação de que estaria recomendando uma dose extra. “O Butantan esclarece que não será necessária uma 3ª dose da vacina contra a covid-19”, escreveu no Twitter. “A Coronavac é segura e eficaz após o ciclo de duas doses e mais 15 dias, conforme apontam vários estudos.” Aqui, tudo mudou. O Twitter do Butantan e o diretor do Butantan estão dizendo coisas diferentes: um diz que até então não se estabeleceu a necessidade de uma terceira dose; outro, que nunca será necessária uma terceira dose. É evidente que a afirmação de Palacios é muito mais prudente do que a do tuiteiro anônimo. E com qual das duas o checador de fatos se alinha? Com a do tuiteiro!

No parágrafo seguinte, a versão parcimoniosa volta, sem que o jornalista atine que são duas coisas muito diferentes, as defendidas: “ ‘O que o Butantan estuda é atualização da vacina, com a possibilidade de, no próximo ano, aplicar uma outra dose, em razão das novas cepas e da evolução da doença, como ocorre com a vacina da Influenza’, acrescenta em nota. Palacios não fala, em nenhum momento da entrevista, que a vacina não estaria funcionando na prática.” No comunicado do Butantan de agora, não há nenhuma menção a esta ser uma vacina nova feita especialmente para a variante delta. As vacinas de Influenza são atualizadas para cobrir novas cepas; a Coronavac, se foi, o Butantan não contou no comunicado citado.

Checagem de fatos pode ser provada falsa?
É significativo que o jornalista tenha escolhido o termo “informação científica” em vez dos usuais “evidências” ou “indícios”. Informação científica é informação com o carimbo do Butantan.

Karl Popper revolucionou a filosofia da ciência ao colocar o critério de falseabilidade como essencial para separar ciência de pseudociência. Frente a toda afirmação científica, devemos poder pensar num meio de colocá-la a prova. É diferente da astrologia ou do marxismo, em que as coisas primeiro acontecem e depois são interpretadas como convém ao teórico, sem que ninguém possa provar que ele está errado.

É possível provar que os checadores de notícias estão errados? Não! Porque a verdade, para eles, é o que o carimbo do burocrata diz; é a Palavra do Butantan. Leiamos o grau de certeza da criatura: “Estudos demonstraram eficácia da Coronavac com duas doses – Como já explicou o Estadão Verifica em outras checagens, todas as vacinas aprovadas pelos órgãos regulatórios passam por uma sequência de etapas rigorosas de testes.” Se os estudos do Butantan disponíveis em abril concluíram tal coisa, assunto encerrado. Tudo o que os contrarie é fake news. Ora, nós não podemos mudar os estudos pretéritos; logo, se era fake news naquela época, é fake news pra sempre. Se o Instituto Butantan disser algo aparentemente contrário depois, aí sim as coisas mudam. É como se o Papa soltasse uma bula nova, e os checadores que deem seu jeito de arrumar as ideias.

Frise-se que é vedada a análise crítica dos dados do estudo do Butantan. O Butantan não conclui; o Butantan demonstra. No texto do Estadão Verifica de abril, sobra até para o Fernando Reinach, que em janeiro defendeu a eficácia de meros 49,69%. De posse dos dados do estudo usado como autoridade pelo checador, Reinach chegou a uma conclusão diferente e foi sumariamente considerada fake news. Sem citá-lo nominalmente, o artigo volta a repetir as conclusões por ele criticadas no próprio Estadão.

Vê-se assim que a questão das vacinas, o Estadão Verifica nada mais é que uma caixa de amplificação da propaganda do Butantan de Doria.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/bruna-frascolla/a-checagem-de-fatos-dos-jornais-e-infalivel/?utm_source=salesforce&utm_medium=emkt&utm_campaign=newsletter-bom-dia&utm_content=bom-dia?ref=link-interno-materia
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