segunda-feira, 6 de setembro de 2021

PRODUTORRES RURAIS VÃO PARTICIPAR DOS PROTESTOS DE 7 DE SETEMBRO

 

Atos pró-governo
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

Presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, está entre os organizadores dos atos de 07 de setembro| Foto:

Entre os diversos grupos que deverão participar dos atos convocados para o próximo dia 7 de setembro a favor do governo do presidente Jair Bolsonaro, entidades ruralistas despontam nas redes sociais como as principais organizadoras das mobilizações. Integrantes do Movimento Brasil Verde e Amarelo, os ruralistas defendem pautas como a liberdade do Brasil, afrouxamento de regras ambientais, obras de infraestrutura, entre outros pontos. 

O grupo, composto por mais de 100 associações e sindicatos ligados ao agronegócio, surgiu em 2017 para contestar a decisão do STF de declarar a constitucionalidade da cobrança do Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural) sobre o produtor rural pessoa física, um impasse que segue até hoje, com uma dívida do fundo já passa dos R$ 10 bilhões.

Entretanto, o Movimento Brasil Verde e Amarelo ganhou notoriedade nos últimos meses depois que passou a encampar a defesa do governo. Ruralistas do movimento foram os principais organizadores dos atos pró-governo do dia 15 de maio deste ano. Naquela ocasião, os manifestantes criticavam as medidas de restrição impostas pelos governadores em diversos estados por conta da pandemia.

“É um momento mágico para o agronegócio, uma movimentação pela liberdade e pela democracia. Foi um movimento ordeiro, inclusive com a presença de muitas famílias. Não foi uma comemoração, mas sim um ato pela nossa pátria. Estamos aqui lutando pela liberdade, democracia, independência dos três poderes e pelo voto auditável. É um momento de dar apoio ao presidente e seus ministros, que estão fazendo um trabalho de excelência. Me sinto orgulhoso dos nossos produtores rurais que estavam presentes, mesmo neste momento de pandemia”, afirmou naquele dia Márcio Bonesi, presidente da Aprosoja Paraná.

No mês passado, o Movimento Brasil Verde e Amarelo tentou organizar um churrasco para cerca de 2 mil ruralistas com a presença do presidente Bolsonaro na cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. A prefeitura havia concedido um decreto que permitia a realização do evento, mas a Justiça entendeu que liberação feria as regras sanitárias do Estado de São Paulo para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 – que autorizavam a ocupação de até 60% de estabelecimentos e não permitem a realização de eventos do tipo. Após a decisão judicial, a prefeitura cancelou o aval.

Além do Movimento Brasil Verde Amarelo, a mobilização pró-governo conta com o apoio de outros grupos, como a União Democrática Ruralista (UDR) e o Sindicato Rural de Uberlândia (MG).

Liderança
Antônio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), está entre os principais líderes do movimento – oficialmente, a entidade não confirma a participação na organização das manifestações.

A articulação que ele tem feito em favor dos atos pró-governo, porém, divide opiniões dentro do próprio setor. Alguns, como o deputado Neri Geller (PP-MT) e o ex-senador e ex-ministro Blairo Maggi, o repreendem por “usar” a Aprosoja “para fazer política”.

“Nem todos os sojicultores defendem a mesma tese. A Aprosoja deve defender os interesses comuns dos produtores e não fazer política. Sempre prezamos esta independência”, disse Maggi ao portal RDNews.

Galvan é um dos investigados no inquérito que apura a convocação de atos antidemocráticos, aberto pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Recentemente, ele e Sergio Reis foram alvos de mandados de buscas e apreensão, depois que o cantor sertanejo e diversos produtores de soja gravaram um vídeo na sede da Aprosoja, em Brasília, convocando seguidores para as manifestações de 7 de setembro. Galvan é citado por Moraes como possível patrocinador de uma suposta paralisação.

O ruralista se defende das acusações. Afirmou que o apoio da Aprosoja aos protestos foi definido em assembleias estaduais pela maioria dos 240 mil associados e que nem ele nem a entidade contribuíram com nenhum centavo para a organização do ato. “Quem me conhece sabe que sou mão-de-vaca. Já presto um trabalho voluntário para o setor como dirigente e não tem sentido colocar a mão no bolso”, disse Galvan após prestar depoimento à Polícia Federal.

Ainda de acordo com o empresário, ele só foi envolvido no inquérito por ter recebido Sérgio Reis na sede da Aprosoja. “Não fiz nada de ilícito. Minha fala foi dentro da legalidade. Fui envolvido nisso apenas por receber por cortesia o artista Sérgio Reis, de 81 anos, na sede da Aprosoja. Meu único envolvimento foi aparecer em fotos e vídeos com ele. Nunca apoiei depredação ou violência e nossos movimentos sempre foram ordeiros”, completou.

Além do depoimento à PF, Antônio Galvan e os demais líderes do movimento não podem se comunicar entre si nem usar redes sociais, segundo a decisão do ministro Alexandre de Moraes. Eles também foram proibidos de chegar a menos de um quilômetro de distância da Praça dos Três Poderes e de participar de eventos em ruas e monumentos do Distrito Federal. No entanto, o presidente da Aprosoja afirmou que estava recorrendo dessa decisão por considerá-la arbitrária.

Financiamento dos atos
De acordo com Antônio Galvan, o financiamento dos atos do 7 de setembro ocorria de forma espontânea, por doação de empresários ao Movimento Brasil Verde e Amarelo. O grupo estava recebendo essas doações por meio de uma chave PIX e chegou a divulgar que, entre os dias 03 e 09 de agosto, recebeu quase R$ 15 mil em doações.

Contudo, essa chave PIX e a conta vinculada a ela foram bloqueadas por decisão do ministro Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito envolvendo Galvan e Sérgio Reis. De acordo com o processo, o caminhoneiro Marcos Antônio Pereira Gomes (Zé Trovão), também investigado, teria alegado que estaria recebendo apoio de empresários do agronegócio para “‘custear a viagem’ de populares até a capital federal”, com “a pretensão de ‘salvar o país dessa carniça podre chamada ministros podres do STF’”, afirmando também que “só volta para casa com ‘tudo resolvido’”.

O sindicato Rural de Uberlândia, por sua vez, promete oferecer ônibus de graça para seus associados na “Caravana para Brasília em Defesa do Brasil”. Os cerca de 425 km serão cumpridos em um bate-volta, com saída pela manhã e retorno à tarde.

Bancada ruralista e entidades se dividem sobre as manifestações
Com mais de 250 parlamentares, a bancada ruralista tem se dividido entre apoiadores e críticos aos movimentos marcados para o dia 7 de setembro.

A deputada Aline Sleutjes (PSL-PR), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, já confirmou presença nos atos do dia 7 de setembro e convocou seus apoiadores.

Por outro lado, o ex-presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), criticou os ataques feitos ao Poder Judiciário e disse que as declarações atrapalham o setor produtivo.

“Essa é uma questão de natureza política, não tem nada a ver com o setor”, disse ao jornal O Estado de S. Paulo o emedebista que é presidente da Fundação Ulysses Guimarães – entidade do MDB que recentemente lançou um manifesto para nortear as articulações da ala do seu partido que defende uma terceira via como alternativa à polarização entre Bolsonaro e Lula (PT) nas eleições do ano que vem.

Outro sinal de reprovação aos atos de 7 de setembro veio da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). A entidade foi uma das signatárias de uma carta, divulgada nesta semana, que cobrou das lideranças do país uma postura “à altura” do Brasil e criticou a possibilidade de “aventuras radicais” do governo.

“Em nome de nossos setores, cumprimos o dever de nos juntar a muitas outras vozes responsáveis, em chamamento a que nossas lideranças se mostrem à altura do Brasil e de sua História agora prestes a celebrar o bicentenário da Independência”, afirma o texto assinado por Abag e entidades que representam setores como a soja, o óleo de palma e a indústria de celulose.

A Abag também deve ser uma das signatárias do manifesto que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) está preparando, com um pedido de harmonia entre os três Poderes. A ideia era que o documento fosse divulgado ainda nesta semana, no entanto, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, foi pressionado a postergar a publicação do texto para depois das manifestações de 7 de setembro.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/quem-sao-os-produtores-rurais-que-vao-participar-das-manifestacoes-de-7-de-setembro/
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PEQUENOS PROVEDORES DE INTERNET PODERÃO DISPUTAR O 5G

Comunicações

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

ANTENAS DE CELULAR – CURITIBA – 10/02/14 – Economia – Aumento no ritmo de instalacao de antenas de telefonia movel na cidade. Os novos tipos de antenas tendem a ser instaladas no topo de predios, diferentes das antigas torres. Foto: Marcelo Andrade. Agencia de Noticias Gazeta do Povo

Pequenos provedores também poderão participar da disputa pelo 5G, diz a Anatel.| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

Sexta-feira, eu falei da queixa de pequenos provedores – seriam 14 mil provedores no país – que reclamam que ficariam fora do edital do 5G no Brasil. Agora a Anatel esclarece que não ficarão fora; que a faixa de 700 MHz como de 400 MHz, e o de 3,5 GHz, que é o 5G, precisa também entrar nos distritos, nos municípios, nos pequenos municípios, e que está aberta à participação dos pequenos. Inclusive porque os grandes conhecidos aqui no Brasil vão ficar fora, já entraram no edital anterior, numa concorrência anterior. E precisa de investimento, R$ 200 milhões cada um, provavelmente podem se juntar em associações.

Então, de qualquer maneira, levantar o assunto é muito bom para que ninguém fique de fora; aqueles que estão se queixando, que sejam recebidos para conversar e esclarecer essas coisas. O que interessa é que tenhamos todos, principalmente o agro, que chegue lá ao agro o 5G, que é absolutamente necessário.

O Rio Grande do Sul apoiando o Sete de Setembro
Por falar em agro, a Farsul, a federação das associações rurais do Rio Grande do Sul, quase centenária, que representa um estado que já foi celeiro do Brasil e que neste momento está realizando a Expointer, a maior exposição agropecuária do Rio Grande do Sul, na 44.ª edição, reuniu seu Conselho Deliberativo e fez uma nota de apoio ao movimento do Sete de Setembro. A nota diz “Ordem e Progresso”, e abaixo: “manifestamos nosso repúdio ao viés político adotado pela mais alta corte do Poder Judiciário brasileiro, assim como a omissão de posição do Senado Federal diante de seu papel institucional; atitudes que nos levam a significativo grau de desarmonia entre os poderes da União. Sempre respeitando as leis, o Conselho de Representantes da Farsul manifesta seu apoio ao movimento cívico, pacífico, ordeiro e democrático do Sete de Setembro”.

O Rio Grande do Sul, que num determinado momento da política brasileira sediou a Legalidade, que garantiu a posse do vice João Goulart quando Jânio Quadros renunciou, também se manifestou através de sua Federação das Indústrias, que diz, numa nota assinada pelo presidente: “uma data de união dos poderes da República que devem trabalhar pelo povo, e não tolher esse mesmo povo, que lhe concedeu a autoridade dos respectivos limites constitucionais. Nenhum poder pode exorbitar esses limites para se colocar acima dos demais”, diz a Fiergs, lá no Rio Grande do Sul.

Aproveito para lembrar as pessoas que ninguém precisa pedir licença para se manifestar, para se reunir na rua, porque isso está garantido pelo inciso XVI do artigo 5.º da Constituição. Ninguém precisa pedir licença para expressar a sua opinião porque isso está garantido pela Constituição, no artigo 5.º, no artigo 220. Não precisa pedir licença. Só para esclarecer o óbvio, mas, enfim, nos dias de hoje estamos precisando fazer esse tipo de esclarecimento.

Imposto sobre remédio e combustível
Fiquei sabendo que lá no Rio Grande do Sul também está vigorando esse preço médio calculado sobre o consumo final de remédios para cobrar ICMS. É uma coisa incrível cobrar imposto sobre remédio, mas esse tal preço médio ponderado do consumidor final está sendo usado para cobrar mais ICMS sobre os combustíveis, sobre um preço final que muita gente diz não ser o preço final; que é superior ao preço final. Então, o governo federal, que tirou o PIS/Pasep à razão de 33 centavos em cada litro de combustível, está esperando que os governos dos estados cobrem um pouquinho menos de ICMS para ver se baixa o preço do combustível. A Petrobras fica com um terço do preço; o resto, a maior parte, é imposto.

Liberdade para a doutora Raíssa
Um registro: a juíza Nemora de Lima Janssen, de Porto Seguro, garantiu à doutora Raíssa, essa salvadora de vidas, que ela continue salvando vidas. O Ministério Público tentou denunciá-la e a denúncia foi indeferida pela juíza, dizendo que quando tudo é novidade, do vírus às vacinas, quando tudo é novidade não se pode impedir um tratamento, tudo o que for possível para combater este maldito vírus. A juíza foi sensata e, sobretudo, humanitária.


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CRESCIMENTO DO PIB É O PRINCIPAL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Copel / Termicas – Usina Termica de Araucaria (UEGA). Na planta externa estao: Vapor Pequeno, Caldeira 1 e 2 (torres) e o Resfriamento do vapor (voltando da caldeira).

Usina termelétrica em Araucária (PR): crise hídrica obriga o país a acionar parque térmico por mais tempo, o que vem encarecendo a tarifa de energia e pressionando a inflação.| Foto: Marcelo Andrade

A principal necessidade do país e o maior desafio, no campo econômico, dizem respeito ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Essa deve ser a prioridade máxima do governo e da sociedade, e não se trata de priorização injustificada por crescimento econômico por ou supervalorização do aspecto material da vida, quando o país apresenta, também, enorme elenco de problemas políticos, ambientais, educacionais, culturais, de direitos humanos e outros. A questão é que a primeira condição para que as pessoas e as famílias possam exercer o que os sociológicos chamam de o “caráter de humanidade”, inerente aos seres humanos, é o atendimento dos problemas básicos requeridos à sobrevivência física: alimentação, moradia, transporte, educação, saúde, lazer e os bens culturais.

O acesso aos bens e serviços capazes de propiciar a estrutura econômica da vida depende de produção, emprego, renda e poder de compra de toda a população. Nessa linha, não somente deve haver um produto nacional, mas esse produto deve ser de tamanho tal que crie emprego para todos e renda média suficiente para aquisição dos bens e serviços capazes de atender aquele conjunto de necessidades para a realização da “humanidade” dos membros da sociedade. O Brasil tem um PIB cujo tamanho – US$ 14.754 por habitante, segundo a nova metodologia de contabilidade nacional adotada pelo Banco Muncial – é insuficiente para oferecer um padrão médio de bem-estar de nível compatível com os países que estão no grupo dos desenvolvidos. Na comparação internacional, o produto por habitante classifica o Brasil como país pobre.

Não há programa social mais necessário e mais importante do que o crescimento do produto brasileiro e os empregos que ele pode gerar

Além de seu valor per capita, o PIB tem outra função essencial: a capacidade de dar empregos a todos os que compõem a população economicamente ativa (aquela em condições de trabalhar). Dizendo de outra forma, é o tamanho do PIB que define se, no processo produtivo, haverá empregos para todos ou não. Estima-se que desemprego em torno de 5% da população é considerado normal, em função dos movimentos regulares do sistema econômico. Os economistas chamam essa taxa aceita como normal de “desemprego fricativo”, pois ele resulta da fricção entre a oferta (feita pelo sistema produtivo) e a demanda (feita pelos agentes de mercado: pessoas, empresa, governo e resto do mundo). O Brasil está com 213,5 milhões de habitantes (segundo o relógio dinâmico do IBGE), 106 milhões em condições de trabalhar, em torno de 13 milhões empregados no setor estatal (não submetidos ao desemprego em razão da estabilidade), restando, portanto, 93 milhões de trabalhadores à disposição do setor privado.

Assim, a se aceitar como normal o desemprego de 5%, o país estaria no nível ótimo se não mais que 5,3 milhões formassem o contigente de brasileiros desempregados. A primeira contatação é que o PIB brasileiro atual, além de ser baixo no cálculo por habitante, é pequeno para o tamanho da força de trabalho. Essa realidade pode ser vista no número de 14,4 milhões de desempregados e mais 5,6 milhões de desalentados. Portanto, o aumento do nível de emprego depende diretamente do aumento do PIB, mesmo porque a evolução tecnológica é eliminadora de empregos. Logo, o crescimento econômico precisa ser robusto para absorver todos os que têm condições de trabalhar; esse é não apenas um problema social, mas é a principal questão social em si. Não há programa social mais necessário e mais importante do que o crescimento do produto brasileiro e os empregos que ele pode gerar. No meio desse cenário, a informação de que o PIB do segundo trimestre de 2021 foi 0,1% menor que o PIB do trimestre anterior é ruim, sobretudo por retardar a redução da taxa de desemprego.


Entre os especialistas tem havido debate sobre que causas levaram o PIB a cair quando a expectativa geral era de que seguisse a trajetória de crescimento, principalmente porque, à medida que as semanas passam, o Brasil vai aumentando o número de pessoas vacinadas. A esperança era de que a atividade econômica seguisse crescendo, após ter sido duramente retraída na fase de pandemia e isolamento social. O que ressalta dessa situação é entender que razões levaram à queda do PIB. Em termos gerais, sabe-se que vivemos instabilidade política, nervosismo na relação entre os três poderes da República, uma grave crise hídrica, encarecimento acentuado da energia (em parte como resultado da escassez de chuvas), elevação da inflação e queda na taxa de confiança dos investidores.

O Brasil vem apresentando alguns aspectos positivos, como alguma recuperação na infraestrutura, o avanço na privatização de setores importantes, a redução na burocracia (como a aprovação da Lei 14.195/2021, que facilita a abertura e registro de empresas) e o bom momento do comércio exterior. Porém, esses aspectos positivos não impulsionam o crescimento do PIB imediatamente nem funcionam desconectados dos problemas que inibem o crescimento. O desafio de crescer no Brasil é sempre espinhoso e difícil, e o sistema político não está em um momento bom, como se nota pelos radicalismos, pelos ataques às liberdades individuais e pelas crises de governabilidade.


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domingo, 5 de setembro de 2021

CONTRIBUIÇÃO PARA PRESERVAÇÃO DO BIOMA AMAZÔNIA

 

  1. Sustentabilidade 

Nos unimos há pouco mais de um ano, os três maiores bancos privados do País, com o objetivo de contribuir para preservar o bioma

Octavio de Lazari*, Sergio Rial** e Milton Maluhy Filho***, O Estado de S.Paulo

O Brasil abraça a retomada do crescimento em um novo momento do mundo. A nova agenda é ampla, e nenhuma pauta revela tanto sobre o nosso futuro quanto o modelo de desenvolvimento que escolheremos para a Amazônia

Tendo a importância do bioma em vista, nos unimos há pouco mais de um ano, os três maiores bancos privados do País, com o objetivo de contribuir de forma propositiva, com ações concretas e que se relacionem com as nossas atividades no setor financeiro, envolvendo pelo exemplo outras empresas e a sociedade em geral.

Nasceu ali o Plano Amazônia, como batizamos a iniciativa que teve como ponto de partida uma relação de dez compromissos visando ao desenvolvimento estruturado e sustentável do território amazônico. PUBLICIDADE

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Bancos reforçam compromisso com 10 medidas e crença na importância da floresta em pé Foto: Herton Escobar/Estadão

Convidamos especialistas de alto nível para um Conselho Consultivo que, ao longo deste tempo, intensificou esforços para refletir com profundidade sobre as dinâmicas locais, sugerir prioridades e nos desafiar quanto à efetividade das ações propostas. A partir da lista inicial de objetivos, priorizamos quatro, avançando sobre as necessidades mais importantes da região e na implementação de iniciativas já no curto prazo. 

De saída, vislumbramos no campo da bioeconomia o potencial para a formação de um pujante setor econômico. Compreendemos que isto será inexorável desde que sejam atendidas necessidades estruturais, como pesquisa e desenvolvimento, investimento, acesso a mercados internacionais e melhorias nas cadeias de suprimentos. Decidimos nos aprofundar, apoiando um projeto que mostrará as razões para a ainda baixa participação dos produtos amazônicos no mercado global e os caminhos para ampliá-la. Em suas recomendações, o trabalho trará elementos para a superação dos principais gargalos para o desenvolvimento de cadeias produtivas da região com alto potencial de inserção internacional. Os três bancos privados têm o papel importante de abraçar essa agenda.

No campo do apoio ao desenvolvimento das culturas sustentáveis, a exemplo de cacau, açaí, pimenta e aquicultura, descemos a lupa para identificar atividades que geram renda para as comunidades locais e promovem a conservação da floresta. Definimos uma meta inicial conjunta, que já foi superada, de levar R$ 100 milhões em crédito para cooperativas e agroindústrias que atuam no cultivo, manejo, extração, beneficiamento e comercialização dos produtos amazônicos, sempre dentro das melhores práticas. Cada instituição segue com suas condições comerciais e, adicionalmente, oferece serviços de assistência técnica, apoio à gestão do negócio e orientação financeira aos clientes.

Direcionamos o mesmo olhar atento para a pecuária. Assumimos o compromisso de apoiar a transformação do setor em busca do desmatamento ilegal zero, por meio da adoção de práticas diferenciadas como pré-requisito para a concessão de crédito. Entre as recomendações às empresas do segmento estão a rastreabilidade de fazendas e abatedouros com vistas à regularização ambiental e o uso de plataformas tecnológicas para a verificação de fornecedores diretos e indiretos, atendendo a requisitos mínimos de informação e segurança até 2025. Dentro do mesmo prazo, esperamos que estejam implementados os planos de ação que levem à eliminação do desmatamento ilegal em toda a cadeia. Tudo isso monitorado por indicadores de performance objetivos e previamente alinhados.

Outro grande desafio para concessão de crédito na região é a regularização fundiária. Sem o reconhecimento da titularidade da terra, o produtor não tem acesso ao financiamento, dados os riscos envolvidos e as limitações das normas do regulador. Neste tema, recebemos o apoio de renomados escritórios jurídicos que aceitaram nosso convite para trabalhar na elaboração de um documento, cujo objetivo foi mapear a legislação vigente nos nove Estados da Amazônia Legal e que poderá servir de base para apoiar a discussão do tema pelos entes competentes. 

Este primeiro ano de atuação nos conduziu a alguns aprendizados: i) a Amazônia é realmente um território único, incomparável e, por esta peculiaridade, demanda um olhar específico para o seu desenvolvimento; ii) não há panaceias ou soluções milagrosas capazes de contemplar simultaneamente e no curto prazo interesses tão diversos, seja do ponto de vista biológico, social, econômico ou geopolítico; iii) dada a dimensão do desafio, o êxito está fortemente ligado à cooperação com as diferentes iniciativas empresariais, de governo, da academia e do terceiro setor, muitas delas há muito tempo em curso na região.

Hoje, Dia da Amazônia, reafirmamos nosso compromisso com as dez medidas que assumimos, reforçando a crença no fato de que a floresta em pé guarda os mais valorosos ativos de nosso País e que o futuro da Amazônia será decisivo para o nosso destino enquanto nação.

*Presidente do Bradesco

**Presidente do Santander

***Presidente do Itaú Unibanco

O CELULAR E O ROCK

  1. Cultura 

‘Nosso talentoso roqueiro e pai de um brasileiro fez e cantou a música ‘Old Habits Die Hard’. Sim, velhos hábitos morrem com dificuldade’

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

Toca meu celular do nada. Não existe aviso prévio, mensagem ou pedido clássico: “Pode falar?”. Já sei que pode ser engano, ligação robótica oferecendo algo que eu não quero ou alguém mais velho. Ocorre o mesmo com vocês?

O telefone da minha infância estava em um móvel especial. Estava na sala, único, e, quando muito, convivia com uma extensão no quarto. Ao tocar, não sabíamos quem era, mas sempre corríamos para atender. Havia uma agenda ao lado dele com números e um bloco com lápis (nas casas prudentes, claro). Aprendemos a regra de gente educada: “não se liga para a casa de alguém antes das dez horas da manhã e após as dez horas da noite”. Se o telefone tocasse na madrugada, a casa despertava com uma onda de ansiedade: era desgraça! Diga-se de passagem, receber telegrama também causava certa ansiedade. Hoje não desenvolverei todos os arcaísmos da minha memória. Vou me ater ao telefone. 

Surgiram os telefones sem fio. Uma revolução! Podiam ser atendidos no sofá ou até no banheiro. Despontava a mobilidade e permanecia a regra pétrea dos horários. 

Vivemos a era dos celulares onipresentes. Ligar para alguém sabendo que é a pessoa que atenderá é uma facilidade enorme de comunicação. Todavia, com smartphones, surge uma nova etiqueta: deve ser enviada uma mensagem prévia com a já referida pergunta sobre a disponibilidade de alguém. Tem lógica. Estou ao lado do aparelho, mas posso estar em outra atividade que não permite interrupção. Pior: posso estar usando um aplicativo de trânsito e, em um cruzamento com muitas opções e dúvidas, pode tocar o chamado de alguém que consegue ocultar a tela de que eu preciso. Ligar sem perguntar por mensagem prévia anterior pode ser, inclusive, risco de vida. 

E onde entra Mick Jagger, nosso talentoso roqueiro e pai de um brasileiro? Ele fez e cantou a música Old Habits Die Hard. Sim, velhos hábitos morrem com dificuldade. O cantor ainda torna poética a divisão entre sua consciência formada, metade por delírios e outra metade por mistérios (But I’m half delirious, Is too mysterious). 

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Stones em Londres, 2013 Foto: REUTERS/Luke MacGregor

Pessoas mais velhas usualmente resistem a novas práticas. Jovens têm sua dose enorme de teimosia, porém, a cepa dura raramente atinge a área tecnológica. Parece que abrir mão de coisas com as quais estamos acostumados é reconhecer, de alguma forma, que estamos passando junto com o hábito. Dizem ser difícil ensinar um truque novo a um cachorro entrado em anos. De alguma forma, não apenas pode diminuir minha capacidade de ações novas, como, igualmente, resisto a elas porque manter o que eu sempre fiz garante que eu ainda tenha validade. “Ah, hoje em dia não se pode ligar mais para ninguém, tem de mandar texto, etc., etc.” A reclamação indica que lamentamos um mundo que passou e, com ele, partes expressivas de nós. 

O choque de coisas novas com as tradições é permanente. Reclamar que os jovens de hoje não querem mais “nada com nada” indica que tais humanos impúberes não têm interesse nas coisas do meu mundo. Velhos avós desejando contar longas histórias de sua juventude a netinhos fixados em um novo jogo no seu iPhone. Sim, a história da participação de vovô em algum evento da década de 1960 tem pouco apelo para a geração de adolescentes do século 21. Da mesma forma, o que vovô saberá sobre técnicas de jogos como Free Fire ou Among Us? Vovó ainda não se acostumou com Mick Jagger no cenário pop e a netinha já considera MC Fioti algo da estação passada. Na verdade, é o celular que possibilita ao neto ficar algumas horas na casa dos avós. Sem o analgésico do smartphone, o almoço de domingo poderia ser um desastre. Todos os jovens com os aparelhos em mãos compõem um cenário, reconheço, bizarro. Porém, é uma negociação: aceito estar com meu corpo no encontro familiar, apenas não cedo minha alma. Os adolescentes são Faustos estranhos que vendem o corpo e preservam o que imaginam imortal.

Meu pai tinha, na biblioteca do seu escritório, imensa coleção de livros de lombada vermelha onde se lia, solene, a palavra latina para a lei: Lex. Era uma coletânea de decisões de tribunais que, em algum momento, devem ter sido essenciais para o exercício jurídico. Um dia mostraram a ele um disco, um CD, com todas as leis e outros quejandos. Tudo o que ia até o teto do escritório estava ali resumido em um pequeno objeto circular. Era uma nova forma de armazenar que implicaria novos hábitos. Meu pai morreu afeito ao papel, resistente a tudo que fosse digital. Old habits… 

Sim, podemos bater pé como meu pai fez. O mundo segue, indiferente aos nossos hábitos. Escrevo para um jornal que cada vez mais não é, a rigor, um jornal. Crescem os leitores que acessam o texto, algo distinto de abrir o caderno com o cheiro típico do papel e da tinta. Pula o dedo indicador que jamais se suja na matéria concreta e antiga das páginas do diário. Tudo passa, sempre. Menos Mick Jagger. Um dia, em meio a uma terra devastada, ele estará lá, tomando chá com Elizabeth II. Um terá ligado para o outro sem mandar mensagem prévia. Boa semana para todos!

* Leandro Karnal é historiador, escritor, membro da Academia Paulista de Letras, autor de A Coragem da Esperança, entre outros

 

DICAS PARA ABERTURA DE NEGÓCIOS

Luzia Costa*

Você tem vontade de abrir seu próprio negócio? De começar do zero uma ideia que tem em mente? Tem aquele espírito empreendedor e o desejo de empreender, mas não sabe como prosseguir?

Então, quero falar com você, para te ajudar no primeiro passo antes de colocar seu empreendimento em prática.
Para isso, separei algumas dicas para você entender como pode prosseguir daqui para a frente para se tornar um empreendedor de sucesso. Vamos lá?

1. Documente o seu modelo de negócio.

Documente, escreva em algum lugar, tenha clareza de tudo que está na sua mente; tira tudo que está na sua cabeça e traga para o papel.

Transforme isso em algo que você consiga olhar e entender o planejamento para tudo isso.

Isso facilitará no momento que você for colocar em prática, pois terá clareza do modelo do negócio, o que você pensa, que caminho seguir, como precisará lidar e como o seu negócio pode ajudar a solucionar o problema de outras pessoas.

2. Tente colocar isso em prática em forma de piloto.

É essencial que seu negócio seja pilotado antes, para saber se realmente o modelo de negócio que desenhou funciona, e levar isso adiante.

Então se você tem uma ideia de abrir algo no segmento de alimentação, por exemplo, comece em um lugar pequeno, na sua casa. Teste as receitas, faça com que as pessoas experimentem, valide esse modelo de negócio e as técnicas que serão aplicadas.

Quando você ver que pode ser levado a diante, que possa ser vendido para outras pessoas, aí, sim, está na hora de ele ir para o mercado pra valer.

3. Tenha um bom discurso de vendas.

Esse discurso não tem a ver com falar muito, nem com inventar um monte de coisas, mas sim em transferir essa verdade para o outro, mostrar o quanto o seu negócio vai somar, o quanto vai fazer a diferença na vida das pessoas e porque as pessoas precisam comprar o seu negócio/produto/serviço.

E aí você faz um bom discurso para apresentar dentro das verdades que você acredita e se baseou para montar o seu negócio.

4. Tenha clareza do seu propósito.

Por que esse negócio tem que existir? Por que você quer fazer com que isso dê certo?

É preciso ter clareza da sua verdade, do seu propósito de vida. Clareza que seu negócio fará diferença na vida das pessoas.
Quando entender esses pontos, você verá o quanto ficará fácil colocar essa ideia em prática e o quanto a chance de sucesso vai aumentar.

Então, primeiro, comece com você e, depois, transfira para os outros.

*Empreendedora e mentora. CEO do Grupo Cetro, detentor das marcas Sóbrancelhas, Reduci, DepilShop, entre outras startups

CARACTERÍSTICAS DA VALEON

Perseverança

Ser perseverante envolve não desistir dos objetivos estipulados em razão das atividades, e assim manter consistência em suas ações. Requer determinação e coerência com valores pessoais, e está relacionado com a resiliência, pois em cada momento de dificuldade ao longo da vida é necessário conseguir retornar a estados emocionais saudáveis que permitem seguir perseverante.

Comunicação

Comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra pessoa. É o processo de passar informação e compreensão entre as pessoas. É a maneira de se relacionar com os outros por meio de ideias, fatos, pensamentos e valores. A comunicação é o ponto que liga os seres humanos para que eles possam compartilhar conhecimentos e sentimentos. Ela envolve transação entre pessoas. Aquela através da qual uma instituição comunica suas práticas, objetivos e políticas gerenciais, visando à formação ou manutenção de imagem positiva junto a seus públicos.

Autocuidado

Como o próprio nome diz, o autocuidado se refere ao conjunto de ações que cada indivíduo exerce para cuidar de si e promover melhor qualidade de vida para si mesmo. A forma de fazer isso deve estar em consonância com os objetivos, desejos, prazeres e interesses de cada um e cada pessoa deve buscar maneiras próprias de se cuidar.

Autonomia

Autonomia é um conceito que determina a liberdade de indivíduo em gerir livremente a sua vida, efetuando racionalmente as suas próprias escolhas. Neste caso, a autonomia indica uma realidade que é dirigida por uma lei própria, que apesar de ser diferente das outras, não é incompatível com elas.

A autonomia no trabalho é um dos fatores que impulsionam resultados dentro das empresas. Segundo uma pesquisa da Page Talent, divulgada em um portal especializado, 58% dos profissionais no Brasil têm mais facilidade para desenvolver suas tarefas quando agem de maneira independente. Contudo, nem todas as empresas oferecem esse atributo aos colaboradores, o que acaba afastando profissionais de gerações mais jovens e impede a inovação dentro da companhia.

Inovação

Inovar profissionalmente envolve explorar novas oportunidades, exercer a criatividade, buscar novas soluções. É importante que a inovação ocorra dentro da área de atuação de um profissional, evitando que soluções se tornem defasadas. Mas também é saudável conectar a curiosidade com outras áreas, pois mesmo que não represente uma nova competência usada no dia a dia, descobrir novos assuntos é uma forma importante de ter um repertório de soluções diversificadas e atuais.

Busca por Conhecimento Tecnológico

A tecnologia tornou-se um conhecimento transversal. Compreender aspectos tecnológicos é uma necessidade crescente para profissionais de todas as áreas. Ressaltamos repetidamente a importância da tecnologia, uma ideia apoiada por diversos especialistas em carreira.

Capacidade de Análise

Analisar significa observar, investigar, discernir. É uma competência que diferencia pessoas e profissionais, muito importante para contextos de liderança, mas também em contextos gerais. Na atualidade, em um mundo com abundância de informações no qual o discernimento, seletividade e foco também se tornam grandes diferenciais, a capacidade de analisar ganha importância ainda maior.

Resiliência

É lidar com adversidades, críticas, situações de crise, pressões (inclusive de si mesmo), e ter capacidade de retornar ao estado emocional saudável, ou seja, retornar às condições naturais após momentos de dificuldade. Essa é uma das qualidades mais visíveis em líderes. O líder, mesmo colocando a sua vida em perigo, deve ter a capacidade de manter-se fiel e com serenidade em seus objetivos.

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MARCO TEMPORAL DE 1988

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

Indígenas de várias etnias fazem caminhada para acompanhar em frente ao STF a votação do chamado Marco temporal indígena

Indígenas de várias etnias estão acampados em Brasília para acompanhar o julgamento do marco temporal no STF.| Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Como quase tudo no Brasil de hoje, a discussão sobre o chamado “marco temporal”, critério estabelecido na Constituição de 1988 para a demarcação de terras indígenas e que está sendo questionado no Supremo Tribunal Federal, acabou contaminada pela polarização política. Como o presidente Jair Bolsonaro manifestou sua posição sobre o tema, automaticamente vários setores da sociedade se alinharam favoráveis ou contrários ao marco temporal única e exclusivamente a partir do que afirmou o presidente, e não a partir dos critérios jurídicos que devem embasar uma decisão sobre o tema. E a análise que precisa ser feita em tema tão sensível é justamente esta: o que diz a lei e como aplicá-la.

A Constituição Federal de 1988 afirma, no caput do seu artigo 231, que “são reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. No parágrafo 1.º, define que “terras tradicionalmente ocupadas pelos índios” são aquelas “por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições”. Na sequência, o constituinte garantiu uma série de direitos aos índios: a posse da terra será permanente (parágrafo 2.º), eles não podem ser expulsos de suas terras (parágrafo 5.º), e terão direito a participação sobre os resultados de atividades econômicas realizadas em suas terras com autorização do Congresso (parágrafo 3.º).

O marco temporal não é, como dizem os detratores, plataforma de agropecuaristas inescrupulosos e de um presidente sem consideração para com os índios; ele é a aplicação pura e simples da Constituição

A chave para compreender o marco temporal é a expressão “tradicionalmente ocupam”, que dá aos índios a posse da terra em que estavam na data da promulgação da Constituição, segundo as características listadas no parágrafo 1.º do artigo 231, mas não a de terras que viessem a ocupar ou mesmo invadir depois de 5 de outubro de 1988. O Supremo já havia ratificado esta interpretação em 2009, no julgamento sobre a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol. A corte decidiu em favor dos índios, contra arrozeiros que chegaram à região nos anos 90 – ou seja, depois da promulgação da Constituição –, mas deixou claro que a data de 5 de outubro de 1988 era crucial para a definição da posse da terra.

O caso que é agora julgado pelo Supremo envolve a posse de uma área em Santa Catarina. De um lado, a Fundação Nacional do Índio (Funai) afirma que, em 2003, o Ministério da Justiça atestou que a região era ocupada tradicionalmente pelos índios da etnia xokleng. No entanto, uma fundação vinculada ao governo catarinense diz ter documentação comprovando a posse da área, que teria sido invadida pelos índios em 2009.

Esta é uma controvérsia que poderia – e deveria – ser resolvida de modo simples, averiguando-se quem ocupava a terra quando da promulgação da Constituição, e aplicando os princípios estabelecidos na Carta Magna e no julgamento de Raposa Serra do Sol. No entanto, complicou-se tanto a discussão que o Supremo pode até mesmo derrubar o critério constitucional e reverter a jurisprudência de 2009, abolindo o marco temporal. Esta é a posição do relator Edson Fachin, para quem muitas tribos não têm meios de comprovar que estavam, em 1988, nas terras que pleiteiam e das quais teriam sido expulsas posteriormente. Em vez do critério temporal, defende o ministro, o elemento definidor deveria ser um laudo antropológico da Funai – o que cria um primeiro problema, por se tratar de entidade cuja isenção no tema é ao menos questionável, já que se destina à defesa dos povos indígenas – que atestasse a ocupação “tradicional” da terra nos moldes do parágrafo 1.º do artigo 231 da Constituição.


É forçoso reconhecer que o Brasil, historicamente, não tratou seus indígenas com a dignidade que eles merecem. E o fez das mais diversas maneiras, indo da usurpação pura e simples de suas terras até certo “congelamento” ideológico defendido por muitos antropólogos que enxergam os índios como “museus humanos”, negando-lhes o direito de fazer suas escolhas livres, obrigando-os a abrir mão de qualquer avanço tecnológico e a não mudar absolutamente nada em suas práticas econômicas, culturais e religiosas, mesmo que esses indígenas desejassem adotar um outro estilo de vida. O constituinte buscou realizar uma reparação, reconhecendo os “costumes, línguas, crenças e tradições” indígenas e, principalmente, garantindo-lhes o direito à terra. Mas, para que pudesse haver uma pacificação definitiva do assunto, foi preciso estabelecer critérios, e a escolha do constituinte foi pelo marco temporal, que já garantiu aos indígenas algo entre 10% e 14% do território brasileiro, dependendo das estimativas – uma proporção já muito significativa quando se considera a participação dos indígenas na população brasileira.

O simplismo polarizador atual tenta descrever o marco temporal como mera plataforma de agropecuaristas inescrupulosos e de um presidente sem consideração para com os índios; no entanto, ele é a aplicação pura e simples da Constituição. A regra está posta: havendo a comprovação da ocupação da terra pelos indígenas em outubro de 1988, não se pode negar seu direito e o poder público tem a obrigação de seguir adiante com a demarcação da terra. Mas revogar o marco temporal seria colocar todo esse processo em xeque, plantando a semente do caos sobre o direito à propriedade de áreas rurais no Brasil e mostrando que a única certeza que existe, quando um tema chega ao Supremo, é a de que não existe certeza alguma.


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