terça-feira, 17 de agosto de 2021

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PRATICA A ILEGALIDADE

 

Prisão arbitrária

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

Brasilia 24 10 2019 O ministro Alexandre de Moraes, durante abertura do terceiro dia de julgamento, sobre a validade da prisão em segunda instancia no Supremo Tribunal Federal (STF) Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag Brasil

Ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Não há nenhuma atividade pública de maior futuro no Brasil de hoje do que a prática aberta, agressiva e continuada da ilegalidade — desde, é claro, que você seja um dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (se você não é, não se recomenda tentar; só dá certo ali.) As decisões ilegais, por mais escandalosas que sejam, recebem apoio integral dos companheiros de plenário.

A classe política, a mídia e tudo o que existe das altas até as baixas elites dão o mais devoto apoio às ilegalidades; aceitam tudo como uma espécie de princípio religioso. Os juristas que se opõem — com a razão, a lógica e o texto da lei — aos atos ilegais são ignorados. O governo da República e o restante do aparelho público aceitam passivamente as agressões.

Mais que tudo, não há consequência nenhuma para o autor dos atentados ao sistema legal: assina um papel, todo mundo obedece e fica por isso mesmo, com o claro aviso de que outra bula totalitária pode vir a qualquer momento, contra qualquer um dos 220 milhões de cidadãos brasileiros.

A prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, é um escândalo. Seria motivo de protestos apaixonados dos movimentos de “direitos humanos” ao redor do mundo, se o preso não fosse, como ele, um político de direita e não apoiasse o governo “fascista” do seu país (só no Brasil de 2021 o sujeito é a favor do governo e acaba preso).

Na vida como ela é nesse nosso país em que só um dos três poderes realmente manda, a prisão não foi vista como um ato grosseiramente ilegal — foi vista, ao contrário, como um gesto heroico e corajosíssimo de defesa da democracia. Aqui e ali os defensores da prisão até admitem, com relutância, que a “letra exata” da lei talvez não tenha sido cumprida em todos os seus mínimos detalhes.

Mas o que são esses pormenores legais diante da imensa necessidade de defender a pátria de “atos antidemocráticos”? Os valores da “democracia”, pensam eles, estão acima de qualquer consideração. A lei? Ora, a lei.

Não há absolutamente nada de legal na prisão do ex-deputado Jefferson. A lei diz que nenhum cidadão pode ser preso a não ser em flagrante delito; qual o crime que Jefferson estava cometendo na hora em que foi interrompido pela polícia do ministro Moraes e jogado num camburão? Ele não apenas não praticou crime nenhum; o que fez foi dizer um monte de barbaridades contra o STF, os seus ministros e a CPI “da Covid”. Mas nem isso o preso estava fazendo; tinha falado essas coisas alguns dias antes de ser preso. Flagrante? Onde?

Para isso o ministro Moares inventou um expediente, que já utilizou em outras prisões ilegais: o “flagrante continuado”, ou permanente. Segundo essa aberração, que a elite jurídico-liberal brasileira engole sem dar um pio, falar mal das “instituições” é um ato que não cessa nunca; o sujeito que falou alguma coisa está falando para sempre.

O presidente do PTB é acusado de praticar atos contra a democracia. Quais? O decreto de prisão não aponta nenhum. Jefferson, claro, fala coisas horríveis dos ministros, mas isso é tudo o que faz — falar. Está simplesmente exercendo o seu direito à livre manifestação. Pode, é claro, ser denunciado pelos crimes de injúria e difamação, a qualquer momento, por quem se sente ofendido. Mas nenhum desses delitos permite a prisão de ninguém, muito menos em flagrante; é por isso, aliás, que não foi acusado de injúria ou difamação, e sim de agir “contra a democracia”.

Jefferson não está organizando nenhum grupo armado para derrubar a ordem legal e fechar as instituições, ou qualquer coisa parecida com isso. No máximo, está montando manifestações de protesto contra o STF. E daí?

O resto da história é um desastre do mesmo tamanho. Pela lei, só o Ministério Público tem o direito de acusar alguém por um crime nesse país; é ele e ninguém mais. Mas Alexandre de Moraes deu esse direito a si próprio. Mais: não apenas acusa, mas também prende.

Imaginem um juiz de primeira instância ou um desembargador de Tribunal Estadual de Justiça que decidisse abrir um inquérito por conta própria. Deixa o MP de fora, chama um delegado e meia dúzia de investigadores de polícia ao seu gabinete, dá ordens diretas a eles, sem passar por qualquer hierarquia, e manda prender um cidadão que não está cometendo nenhum crime em flagrante. Vão dizer o quê?

Pois, na prática, é isso o que Alexandre de Moraes está fazendo neste preciso momento. Pior ainda: no caso de Jefferson, o MP, quando se manifestou, foi contra a prisão.

Não importa quem Roberto Jefferson é — não importa a mínima. Ele pode ser o político mais detestável do país. Mas isso não tira dele nenhum direito; não pode, pelo fato de ser de direita, ter um passado penal e apoiar o presidente legal do Brasil, ser tratado como uma exceção e ficar fora da proteção que a lei dá a todos os cidadãos. Não pode, simplesmente — por mais que os defensores da “democracia” se sintam ameaçados por ele. A lei é para todo mundo, nos deveres e nos direitos.

Inevitavelmente, o que fica desse episódio é a seguinte impressão: o STF prende Roberto Jefferson, mas solta traficantes de droga de primeiro grau, anula os processos criminais contra Lula e mantém em liberdade plena os mais ofensivos corruptos da vida pública brasileira. Como ter respeito por um tribunal que age assim?

Quando se aponta essas realidades, os ministros se sentem injustiçados, dizem que fazem tudo dentro da lei e que o entendimento da ciência do Direito não é para todos. Pode ser. Mas a sua conduta torna muito difícil que a população brasileira tenha uma imagem diferente dessa aí.

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REAÇÃO DO STF ÀS AMEAÇAS DE BOLSONARO

 

Tensão entre poderes
Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

Ministros do STF avaliam que acusações de Bolsonaro contra Barroso e Moraes não vão andar no Senado; Luiz Fux está disposto a reconstruir ponte com o Planalto.| Foto: Marcos Correa/PR

A intenção do presidente Jair Bolsonaro de pedir ao Senado o impeachment dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso já despertou no Supremo Tribunal Federal (STF) planos para reagir à ofensiva. Se o chefe do Executivo apresentar as denúncias, a resposta será abrir uma nova frente de investigação contra ele, desta vez por suposta prática de denunciação caluniosa.

Este crime, previsto no Código Penal, consiste em dar causa a algum processo ou investigação contra alguém que o denunciante sabe ser inocente. A pena é de 2 a 8 anos de reclusão.

O cabimento dessa nova suspeita contra Bolsonaro depende, obviamente, do teor das denúncias a serem apresentadas contra Barroso e Moraes ao Senado, ainda desconhecidas.

Mas, qualquer que seja o conteúdo das acusações, já existe, na Corte, uma linha de defesa para cada um dos ministros (leia abaixo). Assim, eles não só poderão rebater as denúncias, como também revidar apontando denunciação caluniosa por parte de Bolsonaro.

Uma ideia em estudo é incluir a suspeita de denunciação caluniosa no inquérito das fake news, onde Bolsonaro, aliás, já é investigado por esse crime, por decisão do próprio Alexandre de Moraes. Ele é suspeito de ter cometido o crime por fazer acusações sem provas de fraude nas urnas eletrônicas. Mas também poderá ser investigado se a denúncia contra os ministros for considerada frágil. Essa avaliação também caberá à Procuradoria-Geral da República — Moraes poderá pedir ao órgão uma análise da iniciativa de Bolsonaro de acusar os ministros.

Dentro do STF, nenhum ministro acredita que o procurador-geral da República, Augusto Aras, vá denunciar Bolsonaro por isso, mas só o fato de enviar para ele mais essa suspeita aumenta o “passivo” do presidente na Justiça.

A intenção aqui é que, depois que Bolsonaro deixar a Presidência e perder o foro privilegiado, todas as investigações contra ele, em diversas frentes e inclusive com essa nova “suspeita”, tenham andamento na primeira instância da Justiça, onde um procurador comum possa, enfim, apresentar as denúncias.

O objetivo, com isso, é fazer com que Bolsonaro recue e deixe de denunciar os ministros, cogitando o risco de ser condenado no futuro. A resposta do STF ao presidente da República parte de um acordo tácito, feito entre os próprios ministros, de, a partir de agora, reagir a afrontas dele.

Até o meio do ano, as críticas de Bolsonaro aos ministros e ao STF eram deixadas de lado — eles consideravam que o presidente fazia isso para agradar sua base eleitoral. O cenário mudou quando ele endureceu o tom e passou a insultar Barroso e Moraes na discussão sobre o voto impresso.

O que os ministros do STF esperam das denúncias
Entre os próprios ministros, a aposta é que o presidente acuse Barroso e Moraes por ao menos dois crimes de responsabilidade previstos na Lei 1.079, de 1950, que define os tipos de conduta puníveis com a destituição do cargo. São eles: exercer atividade político-partidária e proceder de modo incompatível com a honra, dignidade e decoro de suas funções.

Esses dois crimes de responsabilidade poderiam ser usados para acusar tanto Barroso quanto Moraes, pelo fato de os dois terem se reunido com deputados e presidentes de partidos para convencê-los a rejeitar, na Câmara, a proposta do voto impresso.

Em conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro chegou a acusá-los de chantagear os políticos. O presidente insinuou que eles poderiam retaliar os partidos em julgamentos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde também são ministros.

“Tirando os partidos de esquerda, que votaram contra, muita gente votou preocupada. Estão com problemas. Essas pessoas resolveram votar com o presidente do TSE. Os que se abstiveram, é sinal que também ficaram preocupados com retaliações”, disse Bolsonaro no último dia 12.

As reuniões de Barroso e Moraes com políticos também poderão motivar a acusação de quebra de decoro. Poderá ser usada, por exemplo, uma foto de um almoço, na última segunda-feira (9), de Alexandre de Moraes com o deputado Rodrigo Maia (sem partido-RJ) e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), em uma churrascaria.


Situação de Alexandre de Moraes
Naquele mesmo dia, Moraes, na condição de ministro do TSE, subscreveu uma notícia-crime, assinada por todos os ministros da Corte Eleitoral, contra Bolsonaro, acusando-o de divulgação de segredo, por ter, na semana anterior, publicado nas redes sociais cópia do inquérito sigiloso da Polícia Federal sobre a invasão hacker aos sistemas das urnas eletrônicas.

O problema é que a notícia-crime foi destinada ao próprio Alexandre de Moraes, na condição de relator, no STF, do inquérito das fake news. Na quinta-feira (12), ele mesmo acolheu a peça e abriu nova investigação sobre o presidente pelo vazamento, na qual também será o relator.

“O membro do TSE que subscreveu a representação ao STF, não poderia, sendo ministro do STF, atuar naquele tribunal. Das duas uma: ou não subscreve a representação do TSE e atua lá no STF, ou ele faz a representação do TSE e não atua no STF. Se o ministro Alexandre de Moraes subscreveu a notícia-crime, não deveria atuar lá no STF, no inquérito das fake news. Não pode exercer duplo papel. Nisso reside o erro, a meu ver”, disse à Gazeta do Povo o advogado Eugênio Pacelli, mestre e doutor em direito penal e renomado autor na área.

Outro fato que torna a condição de Moraes mais delicada é a ordem de prisão do presidente do PTB, Roberto Jefferson, na última sexta-feira (13). Vários advogados criticaram a medida, pois consideram que a decisão não tem fundamentos sólidos. Moraes mandou prender o ex-deputado a pedido da delegada Denisse Ribeiro, da Polícia Federal, que disse que a prisão era a única forma de interromper ofensas e ameaças que Jefferson vinha fazendo aos ministros em entrevistas e nas redes sociais.

O fundamento da prisão preventiva, portanto, foi cessar a “continuidade delitiva”, o que é permitido pelo Código de Processo Penal. A dúvida, no entanto, é se realmente a conduta de Jefferson configura crime — até porque parte das suspeitas sobre ele são baseadas na Lei de Segurança Nacional, que acaba de ser revogada pelo Senado. Assim que ela for sancionada por Jair Bolsonaro, ele não poderá mais ser investigado e processado por esses delitos. Os outros crimes supostamente cometidos — calúnia, injúria, difamação e até mesmo ameaça — são considerados de menor potencial ofensivo, que não levam ninguém à prisão, mesmo após uma condenação.

Ainda pesa contra Moraes outro fato relacionado à prisão de Roberto Jefferson: o ministro do Supremo pode ser considerado suspeito no caso porque também é autor de uma ação particular por danos morais movida contra o presidente do PTB. No último dia 21 de julho, o Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou decisão da primeira instância que condenou Jefferson a indenizar o ministro em R$ 50 mil, justamente em razão de insultos e acusações sem provas contra Moraes.

O Código de Processo Penal diz que um juiz deve declarar-se suspeito — e se não fizer, pode ter sua atuação questionada — se for “inimigo capital” ou credor da parte. Com base nisso, a defesa de Roberto Jefferson já disse que vai pedir a suspeição de Moraes.

“A prisão é arbitrária, isso é fato, fundamentada em opinião, por mais dura que seja. A ordem constitucional foi quebrada, o ministro é suspeito porque processa civilmente o Roberto Jefferson. E ele não tem foro privilegiado para ser investigado no STF”, disse o advogado do presidente do PTB Luiz Gustavo da Cunha à reportagem, na última sexta-feira (13).

A lei do impeachment, por sua vez, também diz que um ministro do STF comete crime de responsabilidade se “proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na causa”. Trata-se de outra acusação, portanto, que Bolsonaro poderá fazer especificamente contra Moraes.

Como já vem fazendo, ele deverá alegar que se reuniu e conversou com deputados sobre o voto impresso a convite da própria comissão especial da PEC na Câmara. Em junho, o ministro debateu o assunto numa audiência pública, transmitida ao vivo pela internet e realizada no plenário principal, onde foi recebido pelo próprio presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

Em relação a Barroso, os ministros avaliam também que Bolsonaro não poderá denunciá-lo, por exemplo, em razão de seus votos e posicionamentos no STF — como a defesa do aborto, por exemplo, objeto de constantes críticas do presidente — e tampouco por ser considerado um magistrado progressista e indicado pela ex-presidente Dilma Rousseff, do PT.

Isso porque a jurisprudência da Corte é pacífica no sentido de que não cabe acusar um juiz em razão de suas convicções e dos fundamentos que adota em uma decisão judicial. O próprio Barroso foi relator de uma decisão de 2019 que livrou de punição o desembargador Rogério Fravreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Ele foi acusado de prevaricação por ter tentado soltar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante um plantão judicial, em julho de 2018.

O Ministério Público Federal o acusou de agir com motivações pessoais no caso — ele já foi filiado ao PT e ocupou diversos cargos por indicação do partido. Mas, ao julgá-lo, a Primeira Turma do STF entendeu que isso não era motivo para denunciá-lo.

“O vínculo pessoal do prolator da decisão, anterior aos fatos, não é suficiente para afirmar que a decisão tenha sido proferida para satisfazer sentimento pessoal, justamente porque o indiciado se utilizou de fundamentos jurídicos minimamente plausíveis”, afirmou a decisão de Barroso, ratificada, em 2019, por Moraes, Marco Aurélio, Luiz Fux e Rosa Weber.

O que esperar do Senado
Mesmo com todos esses problemas, os ministros do STF consideram que, no Senado, não há condições políticas para a deflagração de um processo de impeachment contra Moraes e Barroso.

Depois das declarações de Bolsonaro, no sábado (13), o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), fez chegar a alguns deles que, por enquanto, não tomará qualquer decisão sobre o assunto — cabe a ele deflagrar, ou não, processos de impeachment contra ministros do STF.

A quem considere que, por ter esse poder de decisão, Pacheco assumirá, a partir de agora, o papel de “moderador” na crise institucional entre o Planalto e o STF. Essa missão já coube a Arthur Lira, mas não vingou porque, mesmo após a derrota do voto impresso na Câmara, Bolsonaro não recuou da postura de enfrentamento em relação aos ministros.

A ponte do Planalto com o STF, no entanto, ainda poderá ser reconstruída. Da parte do presidente da Corte, Luiz Fux, há boa vontade. Na próxima quarta-feira (18), ele receberá, em seu gabinete, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), que pediu o encontro. Na quinta-feira (19), receberá a deputada Bia Kicis (PSL-DF), presidente da CCJ da Câmara e uma das maiores aliadas de Bolsonaro na Casa.


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CONGRESSO PÔS FIM À LEI DE SEGURANÇA NACIONAL

 

Futuro de inquéritos
Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília

Ministro do STF, Alexandre de Moraes, aceitou recentemente uma notícia-crime contra Bolsonaro que enquadra o presidente em três artigos da LSN.| Foto: Rosinei Coutinho/STF

Se o presidente Jair Bolsonaro sancionar a nova lei dos crimes contra o Estado Democrático de Direito, aprovada pelo Congresso na última terça-feira (10), serão automaticamente extintos todos os inquéritos, denúncias e processos baseados exclusivamente na Lei de Segurança Nacional (LSN), que será revogada. Com isso, deixam de existir, de forma definitiva, várias investigações abertas na Polícia Federal contra opositores de Bolsonaro.

No ano passado, o então ministro da Justiça André Mendonça requisitou a abertura de várias investigações, com base na Lei de Segurança Nacional, por causa de ofensas contra Bolsonaro. Alguns dos alvos foram os jornalistas Ricardo Noblat e Hélio Schwartsman, o cartunista Aroeira e o advogado Marcelo Feller.

Foi imputado a eles o crime previsto no artigo 26 da LSN: “caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato ofensivo à reputação”, com pena de 1 a 4 anos de reclusão.

Noblat foi investigado por postar uma charge de Aroeira que associava Bolsonaro a uma suástica. Schwartsman foi alvo de investigação por causa de um artigo em que dizia torcer pela morte do presidente. E Feller foi enquadrado por falar ao vivo na TV que Bolsonaro seria um genocida. Todos protestaram contra as investigações, argumentando que ela violava o direito constitucional à liberdade de expressão.

A nova lei extingue o tipo penal do artigo 26, o que leva à ocorrência de um fenômeno chamado “abolitio criminis”. “Todo e qualquer inquérito aberto com base na lei revogada será imediatamente extinto. Isso porque a retroatividade da lei penal benéfica é princípio constitucional e também lei ordinária federal, no artigo 2.º do Código Penal”, diz o advogado criminalista Daniel Gerber.

O artigo 2.º do Código Penal diz que “ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória”.

Segundo Gerber, isso significa que mesmo quem tenha sido punido com base na Lei de Segurança Nacional terá a pena extinta caso o processo não tenha transitado em julgado — ou seja, sem possibilidade de recursos judiciais.

Como ficam os inquéritos contra Bolsonaro e apoiadores
O próprio presidente Jair Bolsonaro e alguns de seus apoiadores também se beneficiarão com a extinção da Lei de Segurança Nacional. Mas isso não significa que vão se livrar dos inquéritos a que respondem. Isso porque alguns tipos penais nos quais estão enquadrados não deixarão de existir.

Bolsonaro, por exemplo, foi incluído neste mês no inquérito das fake news por supostamente cometer três crimes previstos na Lei de Segurança Nacional, em razão das críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Ao aceitar uma notícia-crime contra Bolsonaro, o ministro do STF Alexandre de Moraes disse que ele pode ser enquadrado por “tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito” – cuja pena é de 3 a 15 anos de prisão. Também poderia responder por “fazer, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social”, com pena de 1 a 4 anos de detenção. E por fim, ser responsabilizado por, supostamente, “incitar à subversão da ordem política ou social”, que tem a mesma pena de reclusão de 1 a 4 anos.

Se a nova lei for sancionada, ela entra em vigor em 90 dias e, a partir desta data, caem todas essas imputações, previstas na LSN.

Isso não significa, porém, que o inquérito será extinto, porque Moraes ainda enquadrou o presidente em outros crimes comuns e também eleitorais. Ele entendeu que as ofensas podem caracterizar crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), associação criminosa e denunciação caluniosa, inclusive com finalidade eleitoral.

“Os inquéritos que contemplam a investigação de outros delitos continuam válidos. Efetivamente, a prática daquele que estava previsto na Lei de Segurança Nacional é que deixará de ser investigado”, afirma Gerber.


As suspeitas contra Bolsonaro previstas na LSN são idênticas às que pesam contra o ex-deputado e presidente do PTB, Roberto Jefferson, preso na última sexta-feira (13) por ordem do ministro Alexandre de Moraes. Em entrevistas e postagens em redes sociais, Jefferson insultou os ministros e defendeu uma intervenção militar para expulsá-los do STF. No caso dele, há, segundo Moraes, ainda mais indícios de crimes comuns: além dos mesmos imputados a Bolsonaro, há também os de incitação ao crime, apologia ao crime ou ao criminoso, racismo e organização criminosa. Por causa de todos esses delitos, ele poderá continuar sendo alvo de investigação mesmo após o fim da LSN.

O mesmo poderá ocorrer com o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que virou réu no STF por causa do vídeo, divulgado em fevereiro, em que xingou os ministros do Supremo. Na gravação, Silveira disse que imaginou Edson Fachin “levando uma surra” e elogiou o AI-5 — o Ato Institucional n.º 5, que endureceu a ditadura militar no Brasil ao suspender direitos e garantias individuais.

Além dos crimes da LSN — incitar à animosidade entre as Forças Armadas e as instituições civis e tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o livre exercício de qualquer dos Poderes —, o deputado também responde pelo crime de coação no curso do processo, tipificado no Código Penal.

Trata-se do delito de “usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade”, com pena de 1 a 4 anos de prisão. Esse continua em vigor e dá sustentação à ação penal já aberta contra o parlamentar.

Outro alvo do inquérito das fake news, o apresentador e dono do canal Terça Livre, Allan dos Santos, é investigado por três tipos penais da Lei de Segurança Nacional — os mesmos de Daniel Silveira e também por supostamente “fazer, em público, propaganda de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social”, com pena de 1 a 4 anos.

Mas além desses, que poderão ser extintos, ele também é investigado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e crimes contra a ordem tributária e o sistema financeiro — tudo em razão de doações internacionais identificadas na investigação para manutenção de seu canal. Esses crimes permanecem válidos e dariam sobrevida ao inquérito.


Como é a legislação que substitui a Lei de Segurança Nacional
A lei que substituirá a LSN é mais enxuta — tem apenas 10 crimes, contra 22 da lei anterior — e acaba com uma série de delitos que, segundo críticos, inibe a liberdade de expressão ou são muito abertos, o que poderia levar a interpretações expansivas de sua aplicação.

Além de ofensas a chefes dos Poderes, a lei criminaliza, por exemplo, o ato de incitar “à subversão da ordem política ou social” ou “à luta com violência entre as classes sociais”, tipos que serão extintos, com a revogação integral da norma.

Alguns tipos criados são semelhantes: há, por exemplo, o crime de “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”, com pena de 4 a 8 anos de prisão.

Trata-se de crime semelhante ao previsto na LSN de tentar “mudar a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”, com pena de 3 a 15 anos.

O criminalista Daniel Bialski diz que quem respondia por esse crime não poderá ser reenquadrado na nova lei, com o tipo penal semelhante.

“Como advogado, sempre vou dizer que é inaplicável. Como promotor, poderia forçar uma interpretação de que a conduta se assemelha e que haveria uma discussão sobre amplitude da revogação. Como mestre do Direito, direi que a norma revogada deixa de existir. Se tiver alguém condenado, pode entrar com uma revisão criminal dizendo que o crime não existe mais no Brasil”, explica.

Bialski, no entanto, alerta para outra possibilidade. Se Bolsonaro vetar o artigo 4.º da nova lei, que revoga a LSN, as duas normas iriam conviver. Em tese, os tipos penais antigos continuariam em vigor e os inquéritos baseados neles permaneceriam válidos. Ainda nesse caso, a antiga lei poderia cair, pois que já tramitam no STF diversas ações para declarar sua inconstitucionalidade. Elas só não foram julgadas porque a nova lei prevê a revogação, o que levaria à perda de objeto do julgamento.

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CHUMBO TROCADO ENTRE O SENADO E BOLSONARO

 

  1. Política 

O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM), adiou o início da tramitação do nome do ex-advogado-geral da União para a vaga aberta na Corte

Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo

Bolsonaro elevou a temperatura da crise entre os Poderes no fim de semana, quando anunciou que pedirá ao Senado o impeachment dos ministros do Supremo Luis Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Alexandre de Moraes. Alega, para tanto, que os dois magistrados “extrapolam” os limites da Constituição.

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O ministro da Justiça, André Mendonça Foto: Gabriela Biló / Estadão

A pressão do presidente, porém, fez a cúpula do Senado reagir. Pacheco já avisou que não dará andamento a nenhum processo de impeachment contra magistrados do Supremo e líderes da Casa também descartaram essa possibilidade. Agora, porém, Pacheco também resolveu atrasar a tramitação da escolha de Mendonça, enviada ao Senado por Bolsonaro em 13 de julho. Mendonça é o segundo nome que ele indica para o Supremo. Em outubro do ano passado, ele conseguiu nomear o ministro Kassio Nunes Marques.

Em reação à ofensiva do presidente, que continua questionando a lisura das eleições de 2022 sem voto impresso, ataca o Judiciário e agora quer transferir o problema para o Senado, o senador decidiu se posicionar no jogo político. Pré-candidato ao Palácio do Planalto — e com intenção de trocar o DEM pelo PSD –, Pacheco tem procurado marcar diferenças com o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que comanda o Centrão e é aliado de Bolsonaro.

“O diálogo entre os Poderes é fundamental e não podemos abrir mão dele, jamais. Fechar portas, derrubar pontes, exercer arbitrariamente suas próprias razões são um desserviço ao país”, escreveu o presidente do Senado no Twitter, em recado para Bolsonaro. “Portanto, é recomendável, nesse momento de crise, mais do que nunca, a busca de consensos e o respeito às diferenças. Patriotas são aqueles que unem o Brasil, e não os que querem dividi-lo. E os avanços democráticos conquistados têm a vigorosa vigilância do Congresso, que não permitirá retrocessos”.

Pacheco precisa ler no plenário a mensagem de Bolsonaro com a indicação de Mendonça para uma cadeira no Supremo. Somente após esse ato formal é que a votação poderá ser marcada. O senador resiste a ler a mensagem imediatamente, o que é visto nos bastidores como um recado contra os últimos movimentos de Bolsonaro.

O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Davi Alcolumbre (DEM-AP), também levantou obstáculos à escolha de Mendonça desde o início e não tem respondido nem a colegas sobre quando será a sabatina do ex-advogado-geral da União. A comissão é uma das únicas que ainda não se reuniu para votar projetos neste ano.

Para assumir uma cadeira no Supremo, Mendonça precisa passar por uma sabatina na CCJ e ter o nome aprovado por pelo menos 41 dos 81 senadores. Como mostrou o Estadão, ele ainda não possui os votos necessários. O alinhamento com Bolsonaro e o perfil “terrivelmente evangélico”, citado pelo próprio presidente, aumentam as resistências no Senado. Mendonça é o segundo nome indicado por Bolsonaro para o Supremo. Em outubro do ano passado, ele conseguiu nomear o ministro Kassio Nunes Marques.

O quadro não está definido e governos costumam aprovar suas indicações. Mas as ameaças do presidente dirigidas ao Supremo e a pressão exercida por ele ao pedir apoio do  Senado para afastar Barroso e Moraes devem criar um caminho mais complicado para a tramitação da escolha de Mendonça.

“O presidente tem a visão dele. Ele considera que esses ministros estão passando dos limites em algumas decisões que têm sido tomadas, e uma das saídas dentro da nossa Constituição seria o impeachment. Acho difícil o Senado aceitar”, afirmou nesta segunda-feira, 16 o vice-presidente Hamilton Mourão.

A decisão de Bolsonaro de partir para o confronto contra ministros do Supremo foi tomada logo após ele ser informado que Barroso convidou o vice para uma reunião reservada em sua casa, no último dia 10, como revelou o Estadão. Aquele também foi o dia do desfile de blindados pela Praça dos Três Poderes e da derrubada da proposta do voto impresso pela Câmara, horas mais tarde.

Estadão apurou que Bolsonaro ficou muito irritado com o encontro entre Barroso e Mourão. Avaliou que o vice está fazendo “dobradinha” com o Supremo, participando de uma “conspiração” para derrubá-lo. 

O ministro chamou Mourão para uma conversa, porém, porque queria saber se as Forças Armadas embarcariam numa aventura golpista. O general assegurou que não havia risco de ruptura institucional no País.

Outro motivo do inconformismo de Bolsonaro com o STF foi a série de inquéritos contra ele e a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, determinada por Alexandre de Moraes. Aliado do presidente, Jefferson é acusado de participar de uma milícia digital para atacar as instituições e a democracia. Ainda na segunda-feira, o corregedor do TSE, Luis Felipe Salomão, determinou o bloqueio de verba de redes sociais para páginas bolsonaristas acusadas de disseminar fake news sobre eleições.

Na tentativa de diminuir as resistências, André Mendonça tem participado de encontros com senadores em busca de votos, fazendo o tradicional “beija-mão” no Senado. No último dia 3, o ex-advogado-geral da União se reuniu com senadores e outras autoridades na casa de Wellington Fagundes (PL-MT), em Brasília. O jantar contou com a presença do ministro do STF Gilmar Mendes e da titular da Secretaria de Governo, Flávia Arruda e de um integrante da oposição, o senador Jean Paul Prates (PT-RN). 

Para lembrar – Placar: apoio de 26 senadores

Levantamento feito pelo Estadão mostrou, em julho, que o apoio declarado à indicação do advogado-geral da União, André Mendonça, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal era de 26 dos 81 senadores. Esse pode ser considerado o núcleo duro a favor da candidatura de Mendonça. O índice (32%) significa o apoio prévio de três em cada dez senadores. O segundo indicado ao STF pelo presidente Jair Bolsonaro tem de obter ao menos 41 votos para ser aprovado em votação secreta.

O placar mostrou ainda que 54 senadores se disseram indecisos (36) ou não responderam como devem votar (18). A reportagem apurou que, entre os que se disseram indecisos ou que não responderam, pelos menos três pretendem votar a favor de Mendonça e outros três estão dispostos a rejeitar a indicação. Um único parlamentar – Jorge Kajuru (Podemos-GO) – afirmou previamente que votará contra o advogado-geral. /COLABOROU WESLLEY GALZO

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

PRODUÇÃO DE CONTÉUDOS INTOLERANTES NAS REDES SOCIAIS

 

Paulo Silvestre – Jornal Estadão

Em um mundo dominado pelo meio digital, em que as redes sociais ajudam a construir impérios e a vender de tudo, produzir conteúdo deixou de ser prerrogativa de empresas de comunicação e de jornalistas. Pessoas e negócios de todo tipo se aventuram nessa tarefa para se posicionar. Mas o que poderia ser algo benéfico e até divertido pode ganhar contornos sinistros, graças à intolerância nessas plataformas. E isso faz muita gente boa sofrer com suas publicações ou duvidar se deve se expor assim.

Na semana passada, o filho de 16 anos da cantora de forró Walkyria Santos se suicidou depois de receber uma enorme quantidade de comentários homofóbicos. Tudo porque ele havia publicado um vídeo que viralizou no TikTok, em que simulava um beijo em um amigo.

Esse é um caso extremo, mas infelizmente não é único. Além disso, vemos todos os dias uma enxurrada de ataques gratuitos, pesados e extremamente virulentos contra pessoas que fizeram publicações inofensivas e às vezes até positivas para a sociedade. Entretanto, por não concordarem com algo que foi dito, os “valentões digitais” não têm limites na sua fúria para desqualificar as ideias e destruir o autor.

Chegamos a um ponto irracional em que se produz conteúdo o tempo todo, mas isso pode subitamente destruir uma reputação e provocar grande sofrimento.


É absolutamente injustificável um ataque desumano como o sofrido pelo filho de Walkyria Santos. A maioria desses agressores possivelmente não faria o mesmo olhando nos olhos da vítima, mas protegidos pela ilusão da “manada digital”, que justifica e incentiva o ódio e a intolerância, cada um deles agora carrega uma parcela da culpa pelo suicídio do jovem. O problema é que eles nem devem estar se importando com isso, seguros do outro lado da tela.

É praticamente impossível agradar todo mundo, ainda mais quando todos parecem ter opinião sobre qualquer assunto. Os algoritmos das redes sociais, que nos colocam em contato apenas com quem pensa como nós, estão destruindo a empatia e a capacidade de se construir com as diferenças.

O ativista político e pesquisador do meio digital Eli Pariser descreveu isso há uma década, com o conceito de “filtros-bolha”. Segundo ele, os algoritmos não são éticos ao tentar nos mostrar apenas o que nos agrada, barrando qualquer pensamento dissonante, tudo para aumentar a audiência das plataformas digitais.

Longe de ser um exagero, o conceito de Pariser é um fato que nos embrutece e nos torna menos tolerantes, resultando nesse cenário insustentável em que vivemos. A sociedade entrou em uma desnecessária autofagia.

O paradoxo da tolerância

É triste observar tudo isso!

A Internet comercial nasceu em 1994 como um espaço muito democrático, em que todos podiam se expressar livremente. Ninguém a imaginava como a máquina política de manipulação que se tornou nos últimos anos. Era um cenário idílico, em que todos falavam e ninguém se agredia (sim, a Internet já foi assim!).

Como pesquisador do meio digital e jornalista que atua nele desde seu primeiríssimo momento, defendo essa liberdade e combato os intolerantes, o que pode parecer uma contradição. Mas ela foi perfeitamente descrita em 1945 pelo filósofo austríaco Karl Popper com seu “paradoxo da tolerância”, no best-seller “A Sociedade Aberta e Seus Inimigos”.

Segundo ele “a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância”. O filósofo explica que “se não estivermos preparados para defender a sociedade do assalto da intolerância, então os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”. Ele afirma que não é necessário calar as filosofias intolerantes, desde que possam ser combatidas com argumentos racionais e mantidas em xeque frente à opinião pública.

Popper alerta, entretanto, que os intolerantes podem não estar preparados para lidar com a razão, “a começar por criticar todos os argumentos e proibindo seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são enganadores e os ensinam a responder aos argumentos com punhos ou pistolas”.

Alguma semelhança com o mundo atual?

Popper sugere que devemos então, em nome da tolerância, não tolerar o intolerante. E conclui que “devemos exigir que qualquer movimento que pregue a intolerância fique fora da lei e que qualquer incitação à intolerância e perseguição seja considerada criminosa”.

O raso combatendo o profundo

Cada um dá aquilo que tem! Infelizmente, as pessoas estão com cada vez menos recursos intelectuais, então se valem da agressividade e da divisão para combater quem tem a profundidade da qual não dispõem.

O problema é que essa violência dói em quem está querendo se posicionar de maneira construtiva. Por isso, vejo muita gente que poderia contribuir brilhantemente com a sociedade nas redes se calando para evitar ser envolvido em algum turbilhão insano, que prejudique sua imagem e até sua saúde mental.

Em resumo, os únicos que ganham com isso são os rasos, os intolerantes, aqueles que querem achatar toda a sociedade a seu nível.

Àqueles que querem usar as redes sociais para se posicionar, eu sempre digo que façam isso com um bom conteúdo. E, por “bom conteúdo”, entenda-se algo que apresente suas qualidades, contribua com o crescimento de quem verá aquilo, e não ofenda ou diminua ninguém. Quem tem a pretensão de criar uma boa imagem no meio digital deve entender que isso deve ser feito de maneira construtiva, e não praticando a intolerância ou cometendo crimes.

Claro –como já expliquei– sempre haverá o risco de “receber pedradas” mesmo quando se fizer tudo corretamente. Por isso, a sugestão é publicar sempre com segurança do que se está fazendo ou dizendo. No caso de ataques, haverá argumentos para se apresentar.

É verdade que eles podem ser muito agressivos, e acabam abalando o autor. Alguns ainda fazem isso para tentar crescer um pouco ao criticar alguém de mais envergadura moral e intelectual. Mas não se deve deixar abater por isso. O “idiota da aldeia”, como o filósofo italiano Umberto Eco descreveu em 2015 esses tipos que florescem no pus do ódio das redes sociais, sempre podem ser ignorados ou até mesmo bloqueados.

Ou resgatamos a nossa capacidade de conviver em harmonia com as diferenças, construindo com elas ao invés de silenciá-las, ou corremos o risco de deixar de sermos uma espécie viável no futuro. Não podemos nos tornar uma sociedade medíocre pela agressividade dos intolerantes.

Portanto, para esses, o conselho é: cuidado ao atacar alguém só porque a “manada” justifica. Isso pode ferir uma pessoa profundamente. Se esse comportamento não for combatido, o agressor pode ser a próxima vítima.

A VERDADE E OS LIMITES

 

Paulo Silvestre – Jornal Estadão

Segundo consta, o paraibano Assis Chateaubriand começou a construir seu império de comunicação dos Diários Associados porque queria “ter opinião”. No início de sua carreira, ouviu do patrão que, para falar o que bem entendesse, tinha que comprar um jornal. E foi o que fez! Depois outro, outro e mais outro, até ser dono do maior conglomerado de mídia da América Latina na primeira metade do século XX, que chegou a contar com mais de cem jornais, emissoras de rádio e TV, revistas e agências.

Nada mal para quem só queria publicar suas ideias sem pedir permissão ao outro!

Passados cem anos, a coisa ficou bem mais simples. Não é preciso ter jornal, nem rádio, nem TV para expressar sua opinião. Basta uma conta nas redes sociais.

O problema é que, como diz o ditado, “quem nunca comeu melado, quando come, se lambuza”. Opinião todo mundo pode ter sobre tudo, inclusive religião, futebol e, mais recentemente, política. Mas ter opinião embasada e saber expor isso de forma respeitosa e construtiva exige habilidades que poucos carregam. E, nesse emaranhado de ideias sem limite, pessoas e empresas tentam se encontrar.


Chatô, como era conhecido Chateubriand, virou o “rei do Brasil” pelo poder que construiu na mídia. Acabou incorporando a bravata do antigo chefe, que repetia a seus subordinados: “se você quiser ter opinião, compre um jornal (ou uma revista)!” Defendia seu direito de se expressar, mas não que outros promovessem suas “verdades”, especialmente as contrárias às suas.

Esse comportamento condenável combinava com a personalidade autoritária e egocêntrica de Chatô. Apesar do poder acumulado, estava longe de ser um exemplo a ser seguido. Infelizmente agora a Internet permite que isso se multiplique indefinidamente por pessoas de todo tipo e todo lugar, donos de seus “pequenos castelos”.

Esse diálogo de surdos nas redes sociais se construiu porque as pessoas confundem sua opinião com fatos. É possível acreditar em algo, é possível repetir isso mil vezes, mas não é possível ser dono dos acontecimentos.

A intensa virtualidade em que vivemos, reforçada pelas várias horas que passamos metidos nas redes sociais todos os dias, favorece essa sensação de poder se controlar a verdade: qualquer coisa que dissermos nessas plataformas ecoará em muitas pessoas, graças aos algoritmos que criam bolhas de pensamento único a nossa volta.

Não podemos perder as referências do real e de nossa humanidade por essa sensação de falso poder. E isso nos traz outro desafio de nosso tempo, que é o de se posicionar, de promover a proximidade com o outro sem parecer oportunista ou piegas. Pelo contrário, como fazer isso de maneira construtiva e genuína?

Coragem e vulnerabilidade

O cenário de insana polaridade que vivemos decorre disso. Quando todos têm razão, ninguém tem razão. É como se, de repente, o Brasil fosse tomado por milhões de Chatôs.

Essa intolerância pode calar muitas boas vozes: pessoas não apenas com opinião, mas também com embasamento, só que sem interesse em entrar nos intermináveis e infrutíferos debates online. Daí, para se proteger, criam “couraças” sobre a pele.

Mas –suprema ironia– as redes sociais justamente premiam quem se mostra. Considerando que a presença nessas plataformas se tornou essencial para se posicionar, fica o dilema de como fazer isso sem se machucar.

Um dos caminhos é se demonstrar autêntico, despir-se da defesa da couraça. Para isso, é preciso coletar excelentes argumentos e fatos de fontes fidedignas antes de se pronunciar. E, nesse processo, temos um ganho secundário importantíssimo, que é separar aqueles que “falam apenas porque têm boca” dos que realmente têm algo útil a se dizer.

Não é uma tarefa simples. Em nossa sociedade competitiva e guiada pela tal meritocracia, mostrar-se genuinamente virou algo de certa forma indesejado. Ao tirarmos as “máscaras”, mostramos nossas imperfeições, e isso é visto como sinal de fraqueza, de alguém que não deve ser, por exemplo, contratado para um trabalho.

Esse pensamento é um grande erro, pelo simples fato de que ninguém é perfeito. Segundo Brené Brown, pesquisadora em serviço social da Universidade de Houston (EUA), “imperfeições não são inadequações: são um lembrete de que estamos nisso todos juntos.”

Brown é uma referência internacional quando se trata de vulnerabilidade. Para ela, demonstrar-se vulnerável pode ser uma poderosa ferramenta de autoconhecimento, que nos permite identificar e melhorar nossas deficiências e reforçar nossas habilidades. Esse é um passo essencial para demonstrarmos empatia por nós mesmos. Sem isso, não seremos eficientes em ser empáticos com o outro.

Não precisamos ter respostas para tudo na ponta da língua. Ninguém sabe tudo sobre algo e nem algo sobre tudo. Sempre teremos o que aprender. Dessa forma, o antídoto para a intolerância das redes passa pela coragem de se demonstrar vulnerável e construir algo com isso.

“Meta as caras”

Muito antes de saber dessas histórias de Chateubriand, eu criei um jornal, um tabloide mensal que chegou a ter 52 páginas coloridas e 50 mil exemplares por edição, que durou de 1991 a 1998.

O que me motivava era compartilhar um pouco do que eu sabia com muita gente, em um tempo em que a Internet comercial ainda não existia (só foi liberada no Brasil no fim de 1994) ou era muito restrita.

Era o começo da minha carreira. Ainda havia muito a se lapidar em mim, mas acreditava que podia contribuir com as pessoas. E fazia isso cuidadosamente, da melhor maneira que podia. Quando o impresso acabou, eu já tinha o digital para ampliar minha voz.

Hoje, só no LinkedIn, tenho mais de 750 mil seguidores. Naturalmente nem todos veem o que publico, e, dos que veem, nem todos gostam. E está tudo bem! Eu não quero ter uma opinião para impor aos outros e não sinto que sou dono da verdade. Entretanto, ao escrever um artigo, gravar um vídeo, fazer um simples post, procuro saber muito bem do que estou falando e me apresentar com autenticidade.

Em um mundo tão complexo como o atual, precisamos de menos Chatôs e de mais Brené Browns. Portanto, convido você a trilhar esse caminho da vulnerabilidade, da empatia e do compartilhamento de ideias construtivas. Ganhará você e quem você tocar.

BENEFÍCIOS DA NATUREZA PARA A SAÚDE

Estar em espaços verdes oferece-nos uma série de benefícios à saúde A população brasileira encontra-se em sua maioria nas grandes cidades. É o que indica a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015.   São 85% de pessoas vivendo em centros urbanos.   Viver em meio a urbanização nos apresenta inúmeras sensações e assimilações do convívio ao nosso redor, sensações que podem nos limitar a estresses, irritações e doenças mentais e físicas ocasionadas pela poluição sonora e poluição do ar.   Os estímulos causados pelas agitações como trânsito, luzes, pode nos acionar no corpo e na mente respostas, que variam de estados de grande euforia para estados de melancolia e depressão.   É neste contexto que entra o papel da natureza em nossas vidas para equilibrar o nosso sistema nervoso e emocional com intuito de nos proporcionar bem-estar e paz interior. As cores, a calmaria, os sons, sentimentos positivos que o espaço verde nos atribui, tem a capacidade de compensar e restaurar nossas emoções e pensamentos. Nos dando força para encarar com mais leveza e até mesmo enfrentar a rotina de uma grande cidade.   Um estudo feito pela Universidade de Brasília, coordenado pelo professor Reuber Albuquerque Brandão, mostra que o contato com a natureza aumenta a saúde e o bem-estar humanos por meio da redução do estresse e licitação de emoções positivas, como também a restauração da atenção.   Na pesquisa foi realizada tarefas cognitivas e autorrelatos emocionais em 33 pessoas, antes e depois de uma caminhada de 30 minutos no Parque Nacional de Brasília, e 30 minutos de caminhada no centro de Brasília. Registrou-se melhorias nos relatos emocionais após o contato com espaços verdes, enquanto a exposição urbana causou aumento nas emoções negativas e diminuição de felicidade.
  “A natureza nos conforta, nos acolhe, nos relembra que também fazemos parte dela, apesar de termos nos deslocado na construção de uma sociedade voltada para a mercadoria, para o produto. O contato com a natureza alivia o estresse, libera hormônios como dopamina e serotonina no corpo, é como se nos regenerássemos a cada contato,” explica Betina G. Rodrigues Alves, doutora em ciências biológicas.   
  QUEM SOMOS
A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva. Nosso principal produto é a Plataforma Comercial Valeon um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas. A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.     Diferenciais Eficiência: A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada. Acessibilidade: A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços. Abrangência: A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona. Comprometimento: A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro região do Vale do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.

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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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