sexta-feira, 13 de agosto de 2021

PARLAMENTARES NÃO QUEREM MODERNIDADE NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

TRE-RJ transporta as urnas eletrônicas para os locais de votação do Rio de Janeiro

TRE-RJ transporta as urnas eletrônicas para os locais de votação do Rio de Janeiro| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Enquanto a direita puxava os cabelos com o voto impresso, a esquerda puxava os cabelos com o distritão.  O voto impresso até obteve a maioria simples (mais da metade dos votos), mas, sabe Deus por que, esta é uma questão constitucional, de modo que é necessária a maioria composta, de dois terços. O distritão foi aprovado numa etapa bastante inicial, que é a comissão relatora.

Creio que a proposta do distritão tenha se tornado nacionalmente conhecida ali às vésperas do processo de impeachment, quando Eduardo Cunha a propagandeava. O que vem a ser o distritão? Simples: os candidatos ao legislativo que ganharam mais votos são eleitos. Hoje o partido conta, e quem votou (digamos) num dos candidatos do Novo terá a certeza de que o seu voto contribuiu para eleger algum candidato do partido, não necessariamente aquele em quem ele votou.

O distritão foi derrotado em 2015, voltou à baila agora, em 2021, e foi rechaçado subitamente agora, depois de o senado dizer que nele não passa.

Gleisi Hoffmann e Marcel van Hattem juntos
Como a proposta do distritão é importante e é capaz de voltar de novo alguma hora, detenhamo-nos um pouco sobre essa comissão abafada.

O distritão uniu Gleisi Hoffmann a Marcel van Hattem (votaram contra). Bia Kicis, o Príncipe Orleans e Bragança, uma parlamentar do PCdoB e dois do partido da Universal votaram a favor. Assim, não dá para dizer que o projeto é obviamente de direita ou de esquerda.

Contra o distritão, costuma-se dizer que é errado os votos do eleitor num candidato derrotado serem simplesmente perdidos. A objeção faz perfeito sentido – se acreditarmos que o eleitor pensa em partidos na hora de votar. Por isso peguei o Novo como exemplo: era um partido com identidade muito definida; divulgava que fazia provas para garantir que só admitiria filiados de fato compromissados com o ideal liberal de direita do partido.

Mas aí Amoedo, o cacique do partido, deu uma guinada tucana, antibolsonarista incondicional, à qual nem todos os parlamentares aderiram. Marcel van Hattem é um que não aderiu. Assim, olhando em retrospecto, estaria coberto de razão aquele eleitor gaúcho que, em 2018, dissesse: “Marcel, não me interessa o partido. Quero votar em você, que eu confio!”

Ao meu ver, o maior problema da representatividade no congresso hoje é expresso por uma figura como Joice Hasselmann. A mulher levou um milhão de votos dos paulistas dizendo-se “Bolsonaro de saias” para depois virar antibolsonarista incondicional. (Aliás, em que deu aquela história do ninja bolsonarista e do olho roxo?) Faz falta um sistema de recall.

Mas o Brasil já foi pior. Da época de Cunha para cá, corrigiu-se um problema mais grave, que eram as coligações. Se um partido brasileiro já é um saco de gatos, as coligações se davam entre partidos, e o sujeito que votou numa lebre branca do Partido das Lebres termina elegendo um gato preto do Partido dos Gatos, que estava na coligação Unidos Venceremos, que reúne em Piraporinha do Oeste o Partido das Lebres, o Partido dos Gatos, o Partido dos Ratos, o Partido dos Papagaios e o Partido das Joaninhas. O cidadão comum nem imaginava que votando no amigo corria o risco de eleger qualquer espécime dessa fauna diversificada.

E são justamente as coligações que voltaram à discussão na Câmara agora, concomitantes com a rejeição ao distritão.

Os costumes e crenças dos eleitores e dos pequenos políticos
Como o assunto ficou às moscas desde 2015 – quando veio o processo de impeachment, depois das reformas de Temer, depois Bolsonaro –, não vou bater o meu martelo em favor do distritão. Digo apenas que vejo com bons olhos, dados os costumes do eleitorado brasileiro.

É verdade que os partidos não são totalmente destituídos de coesão; afinal, bão é só a ideologia que serve para dar a coesão interna a um partido. Grupos de interesse costumam se agregar em torno de partidos em democracias.

Assim, creio que a questão do distritão seria antes uma questão da compatibilização das práticas partidárias aos costumes do eleitor. Porque o que temos hoje são grupos de interesse usando as siglas para alocar puxadores de votos e destinar seus votos ao autêntico parlamentar que os representa.

Aconteceu-me aqui no interior da Bahia de conhecer um ex-prefeito que, segundo me explicaram, toda vez que bebe, diz que vai se candidatar à prefeitura outra vez. Perguntei-lhe por qual partido ele iria se candidatar e ele respondeu: “Ninguém vota no partido, vota na pessoa!” Seja como for, ele sabia informar a mim – e aos guardadores de carro que o abraçavam – qual seria o seu novo número eleitoral. Falei a sigla que correspondia ao número e ele concluiu que eu era uma grande entendida de política por isso.

Também me aconteceu de ser abordada por um vereador no bar, que queria conversar sobre a cidade. (Ele achava que todos os jornalistas tiram fotos. A cidade é turística.) Por coincidência, aconteceu pela primeira e única vez de um traficante sair da boca para vir me oferecer uma coisa que eu não fazia ideia do que era. O vereador olhou bem feio para o traficante. Tendo este ido embora, manifestei minha curiosidade de saber o que era aquilo. O vereador ficou desconfiado da minha curiosidade e quis saber se eu usava aquelas coisas. Falei que não e ele ficou tranquilo. Concordou que o traficante apareceu porque eu tinha cara de universitária.

Depois tive a curiosidade de verificar o partido desse vereador antidrogas e vi que era o PSB: justo o partido que acionou o STF para proibir a ação da polícia em área de tráfico no Rio de Janeiro. Minha conclusão: ele só usa partidos para se candidatar, e o PSB no Rio de Janeiro lhe parece tão remoto quanto as areias de Marte. “Ninguém vota no partido, vota na pessoa”.

E nisso os partidos acabam inflacionando a legitimidade que têm. Porque o pequeno político brasileiro enxerga o partido como um ônibus no qual é preciso ingressar para chegar à urna. Tanto faz a marca ou a companhia do ônibus.

Estratégias eleitorais
Nas cidades pequenas, o sistema atual funciona para o pequeno político. Já nas grandes, para ter penetração numa favela, é possível os partidos arranjarem um morador da área, um conhecido da vizinhança, para amealhar uns votos. Na última eleição eu justifiquei meu voto na Escola Municipal Bussunda, no Rio das Pedras, aquela favela de milícia no Rio de Janeiro. Ora, como o cenário era interessante demais resolvi ficar atenta ao material de campanha por lá. Dei a sorte de ouvir o comício de um candidato do PCdoB. (Só dava para saber o partido por causa do 65.) Qual a promessa de campanha dele? A volta de uma linha de ônibus chamada Rio das Pedras que ligava a favela a Madureira. (Já escrevi a respeito)

O candidato não foi eleito, mas seus votos – votos dos interessados em uma linha de ônibus! –, serviram para eleger ou tentar eleger a turma de Manuela d’Avila, que não sabe chegar nem ao Rio das Pedras, nem a Madureira, e está mais interessada em proteger os interesses do funcionalismo, ou de cartéis empresariais, ou de cartel de drogas. Ao meu ver, o candidato e seus eleitores caíram num golpe eleitoral. Golpe este combatido pelo distritão.

Outro golpe parecido é o de usar uma celebridade como Tiririca para puxar votos para o partido. Registro apenas que não é o Centrão que faz isso; partidos de esquerda também fazem. Aqui na minha cidade, um cantor de reggae famoso nos anos 90 ficou muito feliz ao ser convidado a se filiar ao PSOL com promessa de candidatura legislativa. Seu séquito de fãs fiéis diz que vota nele. Ele foi às redes sociais agradecer a Jesus pelo convite e esclarecer aos amigos que o PSOL não é o partido do diabo.

Registro ainda que tive a curiosidade de ver a quantas anda Vital Farias, um cantor e compositor paraibano do qual gosto bastante. Hoje ele usa as redes sociais para postar coisas contra a esquerda e a favor de Bolsonaro. Ele nunca fez parte da turma da MPB e, que eu saiba, nunca foi politizado. Pois bem: segundo noticiam sites de esquerda, ele já foi candidato pelo  pelo recém nascido PSOL em 2006 e pelo PCB em 2010. Tudo isso antes da Lava-Jato. Ao meu ver, é provável que ele tenha se sentido honrado com um convite de gente importante com a qual ele tinha relações cordiais e aceitado concorrer. Mais uma vítima de golpe.

De resto, há a estratégia do Novo em 2018 e 2020, honesta porém contraproducente. Primeiro, o partido proíbe qualquer um de se filiar e restringe com mão de ferro as candidaturas. (Os comunistas d’antanho chamariam isto de “centralismo democrático”.) Enquanto os outros partidos estão doidos por puxador de voto, o Novo os rejeita. É de admirar que tenha conseguido botar deputados no Congresso e ainda eleger um governador num grande colégio eleitoral.

Aqui na Bahia, um estado grande, eu sei que eles tinham uma candidata de Salvador que seria o principal nome, e punham puxadores de voto em outras regiões do estado. Mas esses puxadores também tinham feito a provinha e estavam alinhados com o liberalismo de direita. Nesse caso, os eleitores tinham bons motivos para crer que, ao votar numa pessoa, não corriam o risco de eleger outra muito diferente. Mas aí está Amoedo para provar que o senso comum do brasileiro vale mais que muita teoria política.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/bruna-frascolla/distritao-e-o-golpe-eleitoral/
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FESTA ESTRANHA ESSA DAS NOSSAS ELEIÇÕES

 

Por
Flavio Gordon – Gazeta do Povo

O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, durante entrevista à imprensa, em novembro de 2020.| Foto: Antonio Augusto/Ascom/TSE

“É questão de tempo para a gente tomar o poder, que é diferente de ganhar eleições” (José Dirceu, 2018)

“Eleição não se vence, se toma” (Luís Roberto Barroso, 2021)

No artigo da semana passada, que versava sobre o suspeito processo eleitoral brasileiro, afirmei que, entre outras coisas, o TSE “mente ao garantir a auditabilidade, a transparência e a segurança do sistema”. O artigo fora concluído apenas horas antes, vejam vocês, de o presidente Jair Bolsonaro apresentar no programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan, as provas (e não mais meros indícios) da invasão hacker ocorrida em abril de 2018 ao sistema do tribunal. Depois de apresentadas as provas – um relatório do próprio TSE admitindo a invasão, e um inquérito da Polícia Federal sobre o crime –, as mentiras recentes de nossas autoridades eleitorais ficam ainda mais expostas. Hoje, a sociedade brasileira constata com apreensão que os responsáveis pela condução das eleições no país não apenas deixaram de tomar quaisquer providências para corrigir as fragilidades de segurança do sistema, como têm se esforçado para ocultá-las, preferindo investir na propaganda e na censura das vozes discordantes.

Num país sério, de fato, o atual presidente do TSE teria sido afastado do cargo, e os seus antecessores, responsabilizados pelos danos causados à democracia brasileira. Mas, tendo passado os últimos meses transgredindo os próprios limites constitucionais ao fazer política partidária antigoverno, pressionar o Congresso para que votasse contra a PEC do voto auditável, e afirmar, mentirosamente, que as urnas brasileiras são invioláveis, ele não tem agora sequer a decência de pedir desculpas diante da constatação de que o sistema não apenas é, em tese, violável – o que vários técnicos independentes já haviam demonstrado – como foi, na prática, violado por (no mínimo) um hacker, que passou mais de seis meses ali dentro, onde conseguiu acessar códigos-fonte das urnas (o que permite adulterar a contagem eletrônica dos votos), obter com facilidade documentos sigilosos, credenciais e logins de autoridades (incluindo um ministro substituto) e de técnicos ligados à alta cúpula da segurança da informação do tribunal.

Num país sério, a invasão hacker teria levado o atual presidente do TSE a ser afastado do cargo e os seus antecessores, responsabilizados pelos danos causados à democracia brasileira

Por sorte, o hacker era inusitadamente honesto (ou demasiadamente vaidoso), e em novembro de 2018 teve a ideia de comunicar ao portal TecMundo a sua façanha de invadir o sistema do TSE. Não fosse isso, possivelmente a invasão não teria vindo a público. Disse à época o invasor: “Devido a falhas e vulnerabilidades (sic) de aplicações desenvolvidas pelo próprio TSE, acabei obtendo acesso remoto a um dos equipamentos ligados à rede. Desta forma, tive acesso à rede interna (intranet), e, por vários meses, fiquei explorando a rede, inclusive entrando em diversas máquinas diferentes do TSE em busca de compreender o funcionamento dos sistemas de votação (…) Obtive, juntamente com o código-fonte que compõe o funcionamento das urnas, as chaves que são utilizadas (…) Somente o código-fonte descompactado ultrapassa 3 GBs, sendo que obtive milhares de outros códigos”.

Junto com a mensagem, o invasor enviara capturas de tela dos computadores hackeados. Com essa bomba em mãos, o repórter Felipe Payão, do TecMundo, entrou em contato com a assessoria de comunicação do tribunal reportando o ocorrido. Em relatório interno da Secretaria de Tecnologia de Informação (STI), o TSE atestou a veracidade dos fatos relatados, e a sua então presidente, ministra Rosa Weber, enviou um ofício à Polícia Federal solicitando a abertura de um inquérito para investigar a invasão ao sistema do tribunal.

O relatório do TSE – cuja leitura na íntegra recomendo ao leitor – é estarrecedor, revelando um acesso ao sistema muito mais profundo do que até então fora admitido à imprensa. Nele, os técnicos do tribunal confessam: “O atacante descreve que possuiu acesso à rede interna, por vários meses, entrando em diversas máquinas. Este relato condiz com o que foi observado em abril deste ano”.


Era uma vez na América: o Partido Democrata e o “negócio” da fraude eleitoral
Além da extensão da invasão, fica provada também a insegurança do sistema: “Observa-se ainda o relato de que ele obteve acesso à senha do ministro (…) e também a senha de alguém ligado ao Secretário de TI. Conforme relatamos acima, é bastante provável que em abril, o atacante tenha conseguido copiar a base de dados do AD [Active Directory], e posteriormente tenha tentado quebrar as senhas de acesso, conseguindo a senha do ministro (…) e também do Coordenador de Infraestrutura, que possivelmente é a pessoa descrita na reportagem [do TecMundo] como ligada ao Secretário de TI (…) Ao tomar conhecimento da reportagem, esta equipe buscou verificar como o acesso aos códigos-fonte da urna poderia ter ocorrido, uma vez que as fontes ficam armazenadas em um servidor protegido. Durante esta pesquisa foi localizado o servidor (…), que possui um portal da Seção de Voto Informatizado, SEVIN. Neste portal, havia a indicação de link de dois servidores de integração contínua, um em Windows e outro em Linux (…) Estes equipamentos eram responsáveis pela compilação dos softwares, em sua versão Windows e na versão Linux. Em execução neste equipamento estava o Jenkins, configurado pela própria equipe da SEVIN e sem qualquer autenticação. Este servidor estava acessível para toda a rede e permitia a cópia do código-fonte”.

Para piorar a situação, o inquérito dá conta de que a Polícia Federal solicitou em vão ao TSE os arquivos logs, que registravam todo o histórico de atuação do hacker dentro do sistema. A essa solicitação, o Coordenador de Infraestrutura da STI do tribunal – um dos que tiveram a senha quebrada pelo invasor – respondeu o seguinte: “Devido a manutenções para solucionar travamentos no firewall do TSE, a equipe da [empresa terceirizada] fez reinstalação do serviço de gerência, não tendo o devido cuidado de não prejudicar os logs armazenados. Assim, informamos que o TSE não possui dados adicionais para repassar à Polícia Federal”. Ou seja: todo o registro da atividade do invasor, que poderia dar pistas sobre eventuais adulterações no sistema, foi apagado da história.

Assim caminha a República brasileira, com um sistema eleitoral ultrapassado e vulnerável, defendido por autoridades eleitorais arrogantes e politicamente parciais, que não hesitam em recorrer à mentira e à intimidação

Ainda assim, o TSE insiste em afirmar que o sistema é inviolável e que a invasão (uma patente violação, pois) “não representou qualquer risco à integridade das eleições de 2018”. A garantia? Sua palavra, que devemos tomar como verdade insuspeita e autoevidente. Em vez de se explicar, o presidente do tribunal resolveu incluir o presidente da República no inquérito ilegal das assim chamadas fake news, como forma de intimidar não apenas o chefe do Executivo, mas todos os cidadãos que agora sabem – e decerto não deixarão de falar – que o sistema foi violado. Uma estratégia de pressão que, aliás, deu certo também em relação ao parlamento brasileiro, que, após interferência indevida e inconstitucional de ministros do STF e do TSE, mudou de posição quando ao voto impresso, voltando as costas à demanda da sociedade por uma eleição limpa e transparente.

Também em vez de se explicar e se comprometer com o eleitor brasileiro, o presidente do tribunal resolveu, ainda, encaminhar ao STF uma notícia-crime contra Bolsonaro, sob a acusação de ter vazado informações de um inquérito sigiloso. Trata-se de mais uma altissonante fake news que a imprensa amestrada reproduz sem questionar, já que o sigilo do inquérito foi suspenso pela própria Polícia Federal, ao atender solicitação do deputado Felipe Barros (PSL-PR), no âmbito de sua relatoria da PEC do voto impresso.


Assim caminha a República brasileira, com um sistema eleitoral solipsista, ultrapassado, vulnerável e obscuro, defendido com desespero por autoridades eleitorais arrogantes e politicamente parciais, que não hesitam em recorrer à mentira e à intimidação como forma de desencorajar os questionamentos legítimos de cidadãos não submissos. Com uma grande imprensa corrupta – que, em vez de questionar o tribunal sobre as fragilidades do sistema, tudo o que faz é servir-lhe de assessoria de imprensa contra o inimigo político comum – e institutos de pesquisa que sempre “erram” para o mesmo lado, pode-se imaginar como será animada a “festa da democracia” de 2022 – uma festa estranha com gente esquisita, na qual se celebrará uma democracia sem povo e, quiçá, uma eleição sem eleitores.

Quanto a esses últimos, resta-lhes apenas torcer para que o próximo hacker seja também tão “honesto” e supostamente inofensivo quanto o anterior, cujo objetivo não ia além de, em suas palavras, “compreender o funcionamento dos sistemas de votação”. E que, no ano que vem, não tenhamos a presença de gente ainda mais esquisita (hackers chineses, russos, quem sabe?) invadindo a nossa festa já suficientemente estranha.


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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

INFLAÇÃO NO BRASIL

 


  1. Economia
     

Praticamente todas as economias vêm pagando o preço do retorno simultâneo do consumo, com o recuo das medidas mais restritivas de distanciamento social, mas no Brasil a inflação avança a passos largos

Celso Ming*, O Estado de S.Paulo

Há algo mais do que tem sido dito e escrito que precisa ser entendido como causa dessa inflação renitente que vai minando a saúde econômica do Brasil.

Os números de julho levantam graves indagações. Foram de avanço do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,96% no mês, que acumulou 4,76% nesses primeiros sete meses de 2021, ano em que a meta oficial é de 3,75% (com 1,5% de margem de tolerância). E foram de nada menos que 8,99% em 12 meses. 

É verdade que agora temos a bandeira vermelha patamar 2 nas tarifas de energia elétrica, que contribuiu para o avanço de 7,9% da conta de luz em julho. É mais uma pancada que pressiona o custo de vida e o orçamento familiar do brasileiro médio neste ano.

Os outros fatores que concorreram para a esticada da inflação são mais ou menos conhecidos: foi a alta dos alimentos puxada, ao mesmo tempo, pela disparada das cotações das commodities, pela seca que assola o Centro-Sul do Brasil e, a partir de julho, pelo frio intenso que prejudicou pastagens e plantações.

Inflação
A gasolina subiu 39,6% nos 12 meses encerrados em julho e 27,5% nos sete primeiros meses do ano. Foto: Paulo Liebert/Estadão

Não foi desprezível o avanço dos preços dos derivados de petróleo (alta de 27,5% na gasolina e 25,7% no óleo diesel em 2021); o avanço de 20,8% no preço do gás de cozinha de janeiro a julho; a escassez de insumos e de matérias-primas da indústria, provocada pela retomada da atividade econômica; e o aumento da demanda que se seguiu ao avanço da vacinação contra a covid-19.

Pode-se acrescentar que a abundância de um volume nunca visto de recursos despejados pelos Tesouros nacionais (recursos fiscais) e pelos bancos centrais lubrificou o crédito nos mercados e empurrou às compras o consumidor que antes andava retraído.

Mas a maioria desses fatores altistas não atingiu apenas o Brasil. Praticamente todas as economias vêm pagando o preço do retorno praticamente simultâneo do isolamento social. E, no entanto, a inflação por aqui vem atingindo proporções elevadas, mesmo enfrentando forte quebra de renda e um desemprego de 14,6% da força de trabalho, circunstância que deveria manter a demanda contraída. A tabela abaixo mostra como vem se comportando a inflação em outras economias.

Quem contava com a queda estrutural da inflação no Brasil a partir desta década está surpreendido agora com essa recaída. Velhos mecanismos inerciais (a cultura de reajustes mais ou menos automáticos, por exemplo) voltaram a atuar.

Esse não é o único fator que surpreende nessa volta. Também surpreendeu a passividade do Banco Central diante da virulência da alta, pelo menos até a última reunião do Copom.

O Banco Central errou no diagnóstico por ter entendido que a maioria dos causadores da inflação era temporária e que, pelo encolhimento do mercado consumidor, logo seria revertida. Errou por ter subestimado o impacto do avanço dos preços no atacado sobre o custo de vida, o mesmo que atirou a variação do IGP-M para os 33,8% em 12 meses. Errou, também, por não ter dado a devida importância à deterioração das contas públicas e ao choque provocado nos níveis de confiança. E errou por ter perdido capacidade de ancorar as expectativas dos fazedores de preços. Por isso, foi obrigado a correr atrás e a redobrar a dose do aperto monetário (política de juros) que agora foi para uma Selic de 5,25% ao ano, que, no entanto, deverá chegar em dezembro à altura dos 7%.

Enfim, a grama não nasce do mesmo jeito nos carreiros do gado em direção ao bebedouro e velhos hábitos continuam minando o equilíbrio. O mais prejudicado desse processo de perda de valor da moeda é o trabalhador de poder aquisitivo mais baixo, que não consegue se defender contra a corrosão de sua renda.

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

OBRAS DE PICASSO SERÃO LEILOADAS NOS EUA

 

  1. Cultura 
  2. Artes 

A venda pode arrecadar cerca de 100 milhões de dólares, e se acredita que será o leilão mais valioso já dedicado ao artista espanhol

Jill Serjeant, Reuters – Jornal Estadão

Cerca de 11 pinturas e obras do artista espanhol Pablo Picasso serão leiloadas em outubro, já que o grupo de cassinos e hotéis MGM Resorts quer diversificar mais sua vasta coleção de arte.

O leilão acontecerá no dia 23 de outubro no hotel Bellagio, na cidade norte-americana de Las Vegas, onde as peças estão expostas, informaram a MGM Resorts e a casa de leilões Sotheby’s nesta quarta-feira.

A venda pode arrecadar cerca de 100 milhões de dólares, e se acredita que será o leilão mais valioso já dedicado a Picasso.

Quadro de Pablo Picasso
Quadro de Pablo Picasso ‘Homme et enfant’. Foto: Artists Rights Society (ARS), Nova York/Divulgação via REUTERS

“Estamos comprometidos a criar uma coleção ainda mais inclusiva, que mantenha a abrangência de nosso portfólio existente dando mais voz a artistas de comunidades subrepresentadas”, disse Ari Kastrati, chefe de hospedagem do MGM Resorts, em um comunicado.

Coleção de Artes Visuais da MGM Resorts conta com cerca de 900 obras de 200 artistas, incluindo peças modernas de gente do calibre de Bob Dylan e David Hockney, expostas em seus hotéis por todo o mundo.

A coleção foi iniciada mais de 20 anos atrás pelo empreendedor Steve Wynn, ex-proprietário do Bellagio e ex-executivo-chefe do Wynn Resorts.

As obras de Picasso à venda incluem cinco pinturas, algumas das quais ficaram à mostra no restaurante de cozinha requintada do Bellagio – justamente batizado de Picasso. O restaurante continuará a exibir outras 12 obras do espanhol.

A MGM Resorts disse que sua coleção já era diversificada, mas que quer exibir ainda mais obras de mulheres, artistas LGBTQ, pessoas de cor e portadores de deficiência.

HOME OFFICE OU NÃO?

 

UOL EdTech | EdCorp   

Olá, como vai?

Quintou! E, desde que a pandemia do novo coronavírus se tornou uma realidade, estamos discutindo o futuro do trabalho. O tema é inesgotável e tem diversos viéses – que podem ou não ser conscientes para colaboradores e lideranças.

Conforme a vacinação avança em muitos países simultaneamente, as organizações começam a se questionar se é momento de voltar para o escritório e como essa volta pode afetar positiva e negativamente às organizações. E é sobre isso que vamos falar essa semana.

Boa leitura.

A possível volta aos escritórios conforme a vacinação avança é um dos temas mais discutidos no mundo dos negócios. A possibilidade de seguir um caminho híbrido, com idas ao escritório intercaladas por dias de trabalho remoto parece ser o melhor caminho, mas há vantagens e desvantagens em todos os modelos – a volta completa para os escritórios, a remotização total do trabalho e o trabalho híbrido. Confira os principais pontos que devem ser considerados pelas organizações e lideranças:

  • Trabalhar de casa reduziu custos para as organizações e aumentou o bem-estar geral dos colaboradores com a redução do tempo de transporte: para os colaboradores o ganho em não precisar mais contar com tempo de deslocamento também melhorou o senso de equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Para muitas organizações, a redução com custos de energia, manutenção e mesmo locação de escritórios também trouxe de volta quantias significativas para os caixas.
  • É muito difícil estabelecer bem uma cultura sem nenhuma troca presencial: quem mais sentiu o impacto da dissolução da cultura organizacional nesses 15 meses foram os profissionais mais júniors, que estão ingressando no mercado agora. Isso porque a espontaneidade de troca entre colaboradores foi substituída por reuniões previamente agendadas e a divisão entre quem aparece na tela e as apresentações impactam negativamente no senso de colaboração.
  • Assim como foi no começo da crise, as lideranças não sabem lidar com o trabalho híbrido: uma das principais questões que os líderes tinham sobre o trabalho remoto era saber como e quando as pessoas estavam trabalhando. A manutenção do controle por meio do controle de horário, entrada e saída de funcionários deu lugar ao acompanhamento de performance por impacto e entregas ao invés de performance por tempo de serviço. A volta para os escritórios pode gerar muita confusão nesse sentido e fazer com que muitos líderes queiram restabelecer suas rotinas de comando e controle principalmente por presença no espaço físico
  • Criar um formato híbrido de trabalho é um grande desafio: além de não cair nas armadilhas citadas no tópico anterior, criar uma cultura de colaboração híbrida é um desafio que muitas empresas precisam entender como e se vão investir.
  • Bons profissionais têm poder de barganha: gigantes da tecnologia como a Apple e a Google já estão sofrendo com o posicionamento de seus profissionais e tendo de repensar a volta aos escritórios. Isso porque forçar a volta ainda que parcial, principalmente em áreas aquecidas como áreas de tecnologia, pode significar a perda de grandes talentos para concorrentes ou outras empresas que ofereçam políticas melhores de trabalho remoto.

Em resumo: ainda é cedo para pensar numa volta integral aos escritórios e o melhor caminho, que é o trabalho híbrido, vai exigir muita conversa e muita capacitação dos colaboradores.

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PSEUDO REFORMA ELEITORAL É APROVADA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS

 

Eleições
Por
Wesley Oliveira e Sérgio Luis de Deus – Gazeta do Povo
Brasília

Plenário da Câmara dos Deputados durante sessão conjunta do Congresso Nacional para análise de vetos presidenciais e votação da revisão da meta fiscal. À mesa, presidente do Senado Federal, senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), conduz sessão. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Presidente da Câmara, Arthur Lira, antecipou a votação da reforma eleitoral, surpreendendo algumas lideranças partidárias.| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (11), em primeiro turno, o texto substitutivo à proposta de emenda à Constituição 125/2011, a PEC da reforma eleitoral. Foram 339 votos favoráveis e 123 contrários. A apreciação de destaques marcada para esta quinta-feira (12) ainda pode modificar a proposta. Depois disso, a PEC precisa ser votada em segundo turno.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), surpreendeu lideranças partidárias ao antecipar a votação, que estava prevista para quinta-feira (12). Vários partidos entraram em obstrução, deixando a sessão do plenário mais arrastada do que o normal. Mas um acordo que precedeu a votação permitiu a aprovação em primeiro turno. A relatora da PEC, deputada Renata Abreu (Podemos-SP), aceitou retirar do texto a adoção do chamado distritão para eleição no Legislativo.

O modelo do distritão, aprovado pela comissão especial que discutiu o tema na última segunda-feira (9), sofria resistência entre os deputados. Além disso, era conflitante com a proposta de resgate das coligações entre partidos para eleição de deputados federais, estaduais e distrital, e vereadores, que foi mantido na PEC da reforma eleitoral.

A volta das coligações é uma tentativa de “salvar” partidos que correm risco de perder o acesso a recursos públicos por cair na chamada cláusula de barreira — mecanismo que restringia a atuação das legendas. As coligações nas eleições para deputados e vereadores são alianças entre partidos. Elas foram proibidas pelo Congresso na reforma eleitoral de 2017. As eleições municipais de 2020 não permitiram essas alianças para os cargos de vereadores e as eleições de 2022 seriam as primeiras nacionais com essa regra.

O veto a coligações tinha, junto com a cláusula de barreira, o objetivo de reduzir o número de partidos no Brasil. As coligações eram consideradas uma das principais disfunções do sistema eleitoral brasileiro, pois os eleitores escolhiam para representá-los candidatos de uma linha ideológica e podiam acabar elegendo outros com bandeiras muito distintas — já que o modelo eleitoral do país (proporcional) dá peso ao voto nos partidos (e as siglas coligadas, na prática, funcionam como uma única nos pleitos).

A volta das coligações, porém, era incompatível com a proposta do distritão. Por meio do distritão, apenas o voto no candidato a deputado seria contabilizado. Ou seja, a legenda não teria mais nenhum peso para eleger alguém. Venceriam os candidatos mais votados no “distritão”, que nada mais é que o estado nas eleições estaduais.

Volta das coligações na reforma eleitoral foi proposta pelo PT
Contrária ao distritão, a bancada do PT foi quem propôs a volta das coligações — embora a ideia tenha apoio principalmente de partidos pequenos. Isso foi feito durante a construção de acordos entre as lideranças na comissão especial, o que acabou sendo acatado pela relatora.

Defensor das coligações, o deputado Sebastião Oliveira (Avante-PE) afirma que a união de partidos atende às “peculiaridades” de algumas regiões. “Entrei na vida pública 20 anos atrás. Em toda ela, participei de eleições por coligações partidárias. Existem, num país como este, continental como é, onde alguns estados são maiores do que muitos países da Europa, algumas peculiaridades estaduais e regionais. Sem dúvida nenhuma a volta da coligação poderá dar maior tranquilidade a isso”, diz.

Contrário à volta das coligações, o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) afirma que o fim das coligações só serviu para os vereadores serem feitos de “cobaias” nas eleições passadas. “Nós brigamos tanto para que não permitissem as coligações, agora querem acabar com o fim das coligações. Essa situação nem entrou em vigor, porque o fim das coligações só valeu para os vereadores, que viraram cobaias. Agora que vale para os deputados estaduais e federais, os deputados não querem. Pimenta nos olhos dos outros é colírio nos nossos olhos. Temos que manter o fim das coligações para valorizar os partidos”, diz o pedetista.


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Nos bastidores, líderes de alguns partidos se movimentaram para aprovar a PEC 125/2011 com o trecho da volta das coligações já para 2022, temendo que sejam atingidos pela cláusula de barreira. Essas legendas e diretórios pouco estruturados já admitem dificuldades para conseguir o número máximo de candidatos possíveis para deputado — equivalente a 150% o número de vagas em disputa.

De acordo com esses líderes, não lançar o número máximo de candidatos implica em ter menos gente fazendo campanha e, provavelmente, menos votos. Nesse cenário, as siglas com menos candidatos conseguem menos vagas.

Com a volta das coligações, esses partidos menores poderiam se unir em coligações e, consequentemente, somar os votos recebidos naquele estado. Sem essa regra, essas agremiações podem ser incluídas na cláusula de barreira já no próximo pleito. Esse dispositivo restringe o acesso de siglas com baixa representatividade ao fundo partidário e ao tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV.

Em 2018, a cláusula de barreira exigia que os partidos tivessem pelo menos 1,5% dos votos válidos. Mas, naquela eleição, ainda eram permitidas as coligações. No pleito de 2022, para superar à regra, as legendas precisam conquistar ao menos 2% dos votos válidos, ou eleger pelo menos 11 deputados federais distribuídos em nove estados.

Mesmo não sendo considerados pela cláusula de barreira, os desempenhos eleitorais dos partidos nas eleições municipais de 2020 passaram a ser utilizados como régua pelos dirigentes partidários para analisar seu desempenho eleitoral.

No ano passado, por exemplo, legendas como Psol, PSC e Patriota receberam 2,18%, 2,09% e 2% dos votos válidos, respectivamente. Ou seja, ficaram no limite da regra. Já Solidariedade, Avante, Pros, PCdoB, PRTB, PV, Novo, Rede, DC, Agir, PMN, PMB, PSTU, UP, PCO e PCB ficaram abaixo do mínimo exigido, e, se repetirem esse desempenho em 2022, perderão a verba dos fundos e o tempo de TV.

Contagem dupla de votos para mulheres
Além de derrubar o distritão e promover a volta das coligações, a Câmara também apreciou na noite de quarta-feira (12) outro destaque, do PSL, que tentava derrubar o dispositivo que prevê a contagem em dobro dos votos dados a candidatas e a negros para a Câmara dos Deputados, nas eleições de 2022 a 2030, para fins de distribuição entre os partidos políticos dos recursos do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral. O destaque foi derrotado por 352 votos a 97.

Foi decidido, entretanto, que essa contagem em dobro será aplicada apenas uma vez, ou seja, os votos para uma candidata negra, por exemplo, não poderão ser contados em dobro duas vezes.

Destaque pode suprimir fim do segundo turno
Entre os destaques ao texto-base aprovado que serão apreciados nesta quinta-feira (12), os deputados devem analisar sugestões do PT, do PSL e do Solidariedade que pretendem retirar do texto o fim do segundo turno para eleições de presidente da República.

Em substituição ao segundo turno, o texto-base da PEC prevê um sistema de votos em cinco candidatos e reposicionamento de votos caso o mais votado não obtenha a maioria absoluta dos votos.

Reforma eleitoral enfrenta resistência no Senado
As mudanças previstas pela PEC da reforma eleitoral precisam ser aprovadas por 308 dos 513 deputados em dois turnos de votação no plenário da Câmara. Em seguida, precisa passar por mais dois turnos no Senado.

Mas segundo o presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), as mudanças discutidas pelos deputados enfrentam resistência dos senadores — tanto o distritão como a volta das coligações.

“Da parte do Senado, há uma tendência de se manter aquela opção feita em 2017, com o sistema proporcional sem coligações e com cláusula de barreira, fortalecendo partidos políticos, fortalecendo representatividade, permitindo uma democratização daqueles que queiram ser candidatos. (…) Portanto, fizemos uma opção em 2017, e há tendência do Senado é ter um sentimento de que sistema não deva ser modificado”, afirmou Pacheco em entrevista à GloboNews.

Para que as mudanças sejam válidas na próxima eleição, a proposta precisa ser aprovada na Câmara e no Senado até o começo de outubro. A legislação exige que mudanças nas regras das eleições têm de ser aprovadas com pelo menos um ano de antecedência da realização do primeiro turno.


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STF ALIMENTA OS ARBÍTRIOS DA CPI DA COVID

 

Editorial
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Gazeta do Povo

O ministro do STF, Gilmar Mendes.| Foto: Nelson Jr./STF

Diante da repercussão negativa de seu ataque à liberdade de imprensa, a CPI da Covid recuou ao menos parcialmente, deixando de fora o grupo Jovem Pan, mas insistindo na quebra de sigilo bancário, telefônico e telemático de todos os demais alvos, incluindo sites noticiosos, de análise política e a produtora de vídeos e documentários Brasil Paralelo, com acusações genéricas de que todos eles estariam contribuindo para a propagação de notícias falsas sobre a pandemia de Covid-19. O Brasil Paralelo, então, recorreu ao Supremo Tribunal Federal para impedir a quebra de sigilo, mas o ministro Gilmar Mendes, em caráter liminar, indeferiu o pedido.

Os pedidos de quebra de sigilo, é preciso lembrar, foram realizados por meio de uma série de pedidos genéricos e copiados indiscriminadamente, sem nem mesmo um trabalho básico de revisão que permitisse distinguir entre pedidos relacionados a pessoas físicas ou jurídicas. Detalhe que também acabou ignorado por Gilmar Mendes, que ao negar a liminar destacou alguns trechos do requerimento de quebra de sigilo, incluindo “O grupo composto também pela pessoa qualificada influenciou fortemente na radicalização política adotada pelo Palácio do Planalto” e “a pessoa envolvida com as investigações desta CPI”, sendo que neste caso específico o alvo não era uma pessoa, mas a empresa Brasil Paralelo Entretenimento e Educação S.A.

O inquérito das fake news está se tornando a norma no Supremo, que valida investigações sem alvo definido e sem objeto definido, ao arrepio do ordenamento jurídico nacional e das garantias constitucionais

Este equívoco, no entanto, ainda empalidece quando se recorda que os requerimentos aprovados pela CPI foram incapazes de apontar uma única notícia falsa veiculada pelos sites ou pelo Brasil Paralelo, contentando-se com uma acusação genérica, completamente incompatível com o desproporcional grau de violação da intimidade que uma quebra de sigilo provoca. E o agora decano do Supremo também não viu problema algum neste fato, sendo obrigado a um contorcionismo jurídico que, embora completamente falacioso, não surpreende quem acompanhe o STF nos últimos anos.

Depois de afirmar que “a quebra de sigilo operacionalizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito deve fundamentar-se em (a) causa provável, (b) adequada ao suporte fático até então coligido, cuja ocorrência deve ser contemporânea à (c) deliberação parlamentar”, e que os parlamentares estão “vinculados ao dever de fundamentação constitucional”, Mendes argumenta que “é natural que as razões expostas para o afastamento não sejam apresentadas de forma exaustiva, até porque a dinâmica de deliberação parlamentar dificulta, em Colegiado amplo, a apresentação linear e inteiriça de argumentos e motivos”. Ora, se o requerimento da CPI ao menos trouxesse alguns exemplos concretos de notícias falsas, mesmo que não o fizesse “de forma exaustiva”, a alegação de Mendes faria algum sentido. Mas o requerimento não apresenta evidência nenhuma, fazendo desta quebra de sigilo um arbítrio completamente injustificado.


A única concessão feita pelo ministro foi limitar a quebra de sigilo ao período posterior a março de 2020, quando a pandemia de coronavírus foi declarada, em vez de coletar dados também de 2018 e 2019. Além disso, Gilmar Mendes determinou que “as informações levantadas devem permanecer sob a guarda do Presidente da Comissão [no caso, o senador Omar Aziz], que somente poderá franquear o acesso do Colegiado aos documentos relacionados à apuração da Comissão e em reunião secreta” – como se isso representasse alguma garantia de lisura no uso dos dados, considerando os métodos de alguns integrantes da CPI, especialmente seu relator, Renan Calheiros (MDB-AL).

Arbítrio “mitigado”, se é possível usar este termo, continua a ser arbítrio. O “inquérito do fim do mundo”, como o agora aposentado Marco Aurélio Mello chamou o inquérito das fake news aberto por Dias Toffoli e relatado por Alexandre de Moraes, está se tornando a norma no Supremo, que valida investigações sem alvo definido e sem objeto definido, ao arrepio do ordenamento jurídico nacional e das garantias constitucionais. De um agente político como a CPI, ainda mais quando composta por parlamentares do naipe de Calheiros e por senadores de um partido avesso à liberdade de imprensa como o PT, pode-se esperar todo tipo de abuso contra quem realiza um trabalho idôneo, mas não se curva ao ideário de esquerda ou dito “progressista”. Mas é obrigação do Judiciário barrar tais avanços. Quando não o faz, torna-se avalista do arbítrio.


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