quinta-feira, 12 de agosto de 2021

POUCO PROVÁVEL VOTO IMPRESSO RESSUSCITAR NO SENADO

 

Última esperança

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), considera o assunto voto impresso superado| Foto: Marcos Brandão/Senado Federal

A Câmara dos Deputados cassou o mandato da deputada Flordelis, do PSD do Rio de Janeiro. Ela é acusada de mandar matar o marido. O escore da votação foi de 437 votos a 7. Muito bem, a Câmara agiu rápido. Agora não está agindo em relação ao deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que continua preso, embora já tenha pago fiança. Parece que não leem o artigo 53 da Constituição.

Eu discordo do estilo dele, mas o artigo 53 da Constituição diz que são invioláveis deputados e senadores por suas palavras, discursos, atitudes e votos. É uma garantia dada àqueles que precisam ter voz na Câmara dos Deputados: os eleitores. Mas não estão vendo isso. Já deixaram prender Silveira e o deputado está lá. Temos um país com deputado preso, jornalista preso, e não é na Venezuela, é no Brasil. E isso preocupa muito porque são direitos na Constituição que estão sendo rasgados.

Indiciar o presidente por charlatanismo?
Agora ficamos sabendo que o relatório de Renan Calheiros (MDB-AL) na CPI da Covid vai propor o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro em curandeirismo e charlatanismo. A CPI perdeu o rumo e entra no ridículo.

Os artigos 283 e 284 do Código Penal, em que ele pretende enquadrar o presidente, falam de anunciar cura por meio secreto ou infalível, falam de curandeirismo. Eu fico pensando: tem cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) que tiveram contato com o João de Deus, que foi preso e etc. Dois deles inclusive se declararam impedidos intimamente de julgar o João de Deus, tal a relação.

E mais: a CPI está sugerindo que laboratórios que produzem remédios do tratamento precoce, como a ivermectina sejam processados para indenizar famílias que perderam entes queridos para a Covid-19. Aí vai ser complicado! Eu acho que a CPI está muito desligada do mundo real. Estão falando até em bloquear os bens de um dos laboratórios que produzem um desses remédios. Vão atingir milhões de brasileiros. Eles não estão sabendo disso, será? Será que estão tão afastados assim da realidade?

Último fio de esperança
A deputada Bia Kicis (PSL-DF), que teve a sua PEC do voto impresso derrotada na Câmara, diz haver um destaque sobre o mesmo tema em uma proposta de emenda à Constituição no Senado que pode ser aproveitado. Mas o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que “não conte com ele” para isso.

Também há a possibilidade, segundo ela, de debater o voto impresso via lei ordinária. Só que lei ordinária o Supremo derruba fácil, como derrubou as outras três que exigiam o comprovante impresso do voto digital. Por isso que ela propôs uma emenda constitucional, porque aí o STF não conseguiria derrubar.

De todo modo, o próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), deixou uma porta aberta: disse, depois da votação de terça-feira (10), que o viés constitucional já era questão encerrada, mas que os três poderes poderiam sentar e descobrir formas efetivas para dar mais confiança para o voto através de auditagem e transparência.

Essa é a esperança de muita gente que fica esperando uma decisão que dê certeza à integridade do voto, porque parece uma coisa masoquista dizer: “eu não quero que haja garantia no voto dos meus eleitores”. Isso é muito, muito, estranho.


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VOTO IMPRESSO MORREU DE CÂNCER

 

Requiescat in pace

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazzeta do Povo

A criança de apenas 12 anos não resistiu a um cancro supremo no Judiciário, com metástase no Legislativo e na imprensa biliática.| Foto: Custom Tombstone Maker

Morreu ontem o menino Votoauditável Marcelo da Silva. A criança de apenas 12 anos não resistiu a um cancro supremo no Judiciário, com metástase no Legislativo e na imprensa biliática. Tão bonito, tadinho, Votauditável será velado nos próximos dias sob uma saraivada absurda de aplausos por parte dos que, ontem (10), votaram para desligar as máquinas que o mantinham vivo, apesar do coma.

Votauditável Marcelo da Silva nunca teve vida fácil. Nascido nos estertores do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (com o qual, apesar do sobrenome, o menino sempre fez questão de dizer que não tinha qualquer parentesco), Votauditável foi logo abandonado pelos pais, mais preocupados em garantir a permanência no poder e em sugar os cofres públicos.

Não se sabe ao certo quem o amamentou nos primeiros meses de vida. Nem quem trocou suas fraldas, preparou papinha, o segurou pela mão nos primeiros passos e o ensinou a falar. Só se sabe que, ainda em 2015, Votauditável Marcelo da Silva recebeu a alcunha que o tornaria conhecido no Brasil inteiro até o seu derradeiro fim, na noite de terça-feira: Votimpresso.

Naquele ano, os deputados Marcelo Squassoni e Bacelar, ao verem o menino famélico nas esquinas da capital federal, decidiram pegá-lo pela mão e transformá-lo em Lei. Eles levaram Votauditável para casa, deram banho, comida, roupas limpas (um terninho, precisa ver que coisa linda ficou!) e o apresentaram ao Congresso. Foi aí que Votauditável ganhou o segundo nome que não é nada cafona, não, imagina!

Os parlamentares da época ficaram encantados com o menino. Tanto que 433 deputados votaram “sim” quando Leonardo Picciani (pronuncia-se “Pitchiani”) levou Votauditável ao plenário da Câmara. Quatrocentos e trinta e três! Picciani, a quem Votauditável chamava carinhosamente de “tio Piti”) fez um discurso emocionado à época, exaltando as qualidades do seu pupilo.

(Aqui, por pura falta de talento do cronista, Squassoni e Bacelar simplesmente desaparecem da história, como bem observa o crítico literário Maçante da Silva – que, apesar do sobrenome, tampouco tem qualquer parentesco com o menino ou o ex-presidente).

Temerosos de que o pequenino Votauditável se transformasse num Brutus a esfaqueá-los pelas costas, porém, os senadores da República Federativa do Brasil-sil-sil se negaram a transformá-lo em qualquer coisa semelhante à Lei. Diz a lenda totalmente crível que Votauditável viveu três anos no plenário do Senado, dormindo sob as poltronas e sobrevivendo à base de migalhas e de um ou outro cafezinho que conseguia surrupiar dos senadores.

Até que, em 2018, Votauditável viu sua vida mudar completamente. Ele estava lá, no Senado, brincando de polícia-e-ladrão com os petistas, quando ficou sabendo que, do outro lado da Praça dos Três Poderes, 11 super juízes que vestem capas pretas como o Batman (ah, a imaginação inocente das crianças…!) selariam seu destino. Ele tinha apenas nove anos, portanto, quando começou a lutar, sem saber, contra o cancro supremo que acabaria por vitimá-lo.

Por um placar de 8 a 2, e por iniciativa de Rachel Dodge, que neste triste conto de fadas faz o papel de bruxa má, Votauditável percebeu que não tinha muito futuro pela frente. No dia do impeachment de Dilma Rousseff, ele saiu do Senado, pegou um ônibus para o Rio de Janeiro, deu uma banana para a arquitetura de Oscar Niemeyer e disse: “Quer saber? Eu vou é curtir uma praia antes que seja tarde demais”.

Assim Votauditável passou o ano de 2019: curtindo a vida sobre as ondas. Ele tatuou um dragão no braço (“calção, corpo aberto no espaço”) e pensou em mudar de nome. Mas, indeciso entre se chamar Filipe ou Felipe, não percebeu quando um grupo de admiradores liderados por Bia Kicis o pegou dormindo sob uma marquise e o levou de volta a Brasília. “Você tem um destino a cumprir, moleque!”, disse ela, carinhosa, mas firme.

E foi assim, cheio de esperança e sob os holofotes, que Votauditável viveu seus últimos dias de vida. Era um menino alto, de aparência frágil e sorriso fácil, uns olhinhos melancólicos e, claro, desconfiados. Ele olhava com admiração o presidente, que retribuía o olhar; e se escondia sempre que via alguém usando uma capa preta. Era um Jeca Tatu com um quê de Macunaíma.

Sem saber do câncer que o consumia, Votauditável sofreu uma parada cardíaca na quinta-feira (5). Ressuscitado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, o menino mergulhou no coma. Todos os esforços foram feitos para que ele voltasse à semivida em que vivia. Mas não deu. Diante dos 218 votos contrários à existência de Votauditável Marcelo da Silva, coube a um resignado Arthur Lira (que alguns dizem que já até havia se afeiçoado ao moleque) desligar as máquinas que o mantinham vivo.


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O DINHEIRO PÚBLICO É QUE FAZ ELEGER OS CANDIDATOS

 

  1. Política 

Após aumento do fundo eleitoral para R$ 5,7 bi, parlamentares tentam ampliar para R$ 1,3 bi valor destinado ao custeio de partidos; recursos podem abastecer campanhas

Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Além de aumentar o fundo eleitoral para R$ 5,7 bilhões em 2022, o Congresso se movimenta para adotar duas medidas que têm influência nas eleições do ano que vem: turbinar o Fundo Partidário, aquele pago todos os anos às legendas, e retomar a propaganda das legendas no rádio e na TV fora do período eleitoral. As mudanças devem ampliar o montante de recursos públicos para as campanhas e pressionar o teto de gastos, que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

Em 2021, o Orçamento prevê R$ 979,4 milhões para o Fundo Partidário. Para 2022, a estimativa é de que o fundo tenha R$ 1,061 bilhão, caso não haja mudança na lei. Um projeto aprovado no Senado em julho, porém, traz a volta da propaganda das siglas e aumenta os recursos do Fundo Partidário para financiar as inserções no rádio e na TV.

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Movimento do Congresso para ampliar valor ganhou força após STF proibir doação empresarial de campanha. Foto: Cleia Viana/Agência Câmara

Se a proposta receber o aval da Câmara e for sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, o valor vai aumentar para R$ 1,3 bilhão no ano que vem, conforme análise da Consultoria de Orçamento do Senado repassada ao Estadão/Broadcast. Somados os dois fundos (eleitoral e partidário), o gasto público com as eleições de 2022 pode chegar a R$ 7 bilhões, um patamar inédito.

Diferentemente do fundo eleitoral, pago apenas no período das disputas, o Fundo Partidário é transferido todos os anos para as legendas com registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). É um recurso para bancar o funcionamento dos diretórios e as atividades diárias das siglas. Em ano eleitoral, porém, o dinheiro pode ser usado para irrigar as campanhas. A única exigência é gastar 5% do total com a promoção da participação de mulheres na política, regra que o Congresso tenta flexibilizar.

A articulação para ampliar os valores ganhou força após o Supremo Tribunal Federal (STF) proibir o financiamento empresarial de campanhas. A retomada dessa proposta chegou a ser ensaiada no Legislativo neste ano, mas não andou. O presidente Jair Bolsonaro já prometeu vetar o aumento do fundo eleitoral, mas admitiu negociar uma reserva de R$ 4 bilhões, patamar exigido pelo Centrão.

Propaganda. No dia 14 de julho, o Senado aprovou um projeto para recriar a propaganda partidária, extinta em 2017. A proposta foi apresentada pelos senadores Jorginho Mello (PL-SC) e Wellington Fagundes (PL-MT) e é relatada por Carlos Portinho (PL-RJ), todos aliados de Bolsonaro. O PL é um dos principais partidos do Centrão. A proposta estabelece que o Fundo Partidário seja reforçado em ano eleitoral com os valores da compensação fiscal que as emissoras de rádio e TV receberam em 2016, por causa da propaganda. Em ano não eleitoral, a referência será 2017.

Se os valores forem aplicados, o Fundo Partidário terá R$ 1,291 bilhões em 2022 e R$ 1,658 bilhão em 2023, sempre aumentando nos anos seguintes, de acordo com a análise da consultoria. Os senadores aprovaram o aumento sob a justificativa de bancar o retorno da propaganda, que gera renúncia fiscal para a União. A Consultoria do Senado afirma, porém, que a compensação não é suficiente, em razão do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas independentemente da arrecadação.

Nos últimos anos, o Fundo Partidário tem sido reajustado pela inflação por causa do teto. É o que estabelece o projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) aprovado no Congresso. O texto precisa ser sancionado ou vetado pelo presidente Jair Bolsonaro até o próximo dia 20.

A intenção de retomar a propaganda partidária é tão efetiva no Congresso que os parlamentares aprovaram um dispositivo na LDO de 2022 para obrigar o governo a prever despesas com o ressarcimento das emissoras de rádio e TV pelas inserções. No parecer do projeto do Senado, o relator Carlos Portinho argumentou “que há necessidade do fortalecimento do Fundo Partidário” para arcar com o novo gasto previsto”.

“A propaganda nunca foi gratuita. (O eleitor) não tinha ideia dos volumes de compensação. E a gente está falando de dinheiro público e de tributo”, disse o senador ao defender no plenário do Senado o aumento do Fundo Partidário para financiar o retorno da propaganda das legendas no rádio e na TV. 

Impacto. Da forma como foi aprovado pelo Congresso, o fundo eleitoral vai tirar R$ 4,93 bilhões de obras e serviços de interesse dos próprios parlamentares no ano que vem, como mostrou o Estadão. O valor corresponde aos recursos que sairão das emendas de bancada estadual, calculadas em R$ 7,06 bilhões no próximo ano.

O aumento do Fundo Partidário, por outro lado, vai acabar pressionando outras ações da Justiça Eleitoral, como a manutenção dos tribunais e os investimentos em tecnologia. Motivo: os recursos saem justamente do orçamento da Justiça Eleitoral e do total arrecadado com multas no Judiciário.

Os dois fundos são despesas obrigatórias e garantidas em lei. Precisam estar na previsão de gastos da União e são blindadas de cortes. Na prática, de acordo com técnicos ouvidos pela reportagem, o aumento retira dinheiro de outras áreas, como saúde e educação. No ano que vem, por exemplo, se o Executivo verificar a necessidade de bloquear gastos federais para cumprir a meta de resultado primário – a conta que precisa fechar no fim do ano entre receitas e despesas –, o corte em outras áreas pode se tornar obrigatório, já que os fundos partidário e eleitoral estão protegidos.

No mês passado, um grupo de parlamentares entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular a votação da LDO e proibir o aumento do fundo eleitoral. A Corte ainda não se pronunciou sobre a ação, mas pediu esclarecimentos à Câmara e ao Senado. A cúpula do Congresso defende a votação do projeto e nega descumprimento de normas do Legislativo, como alegam os críticos da proposta.

Para entender: fontes de financiamento

O Fundo Partidário é destinado aos partidos políticos para o custeamento de despesas diárias, como contas de luz, água, aluguel, etc. Ele é constituído por uma mistura de verba pública e doações privadas, em que entram dotações orçamentárias da União, multas, penalidades e outros recursos atribuídos pela Lei 9.096/1995. O Congresso aprovou que esse dinheiro também fosse destinado ao impulsionamento de conteúdo na internet, compra de passagens aéreas para não filiados e contratação de advogados e contadores.

Já o fundo eleitoral é um valor retirado inteiramente da verba pública (Tesouro Nacional) e destinado aos partidos em anos eleitorais para bancar as campanhas de seus candidatos, como viagens, cabos eleitorais e material de divulgação. Para ter acesso aos recursos, diretórios nacionais dos partidos precisam aprovar em votação os critérios para distribuição do dinheiro. Em seguida, as siglas enviam um ofício ao TSE com as informações sobre os critérios fixados.

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

DEBATE SOBRE O POLITICAMENTE CORRETO

 

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Paulo Cruz – Gazeta do Povo

Michael Eric Dyson, Michelle Goldberg, Jordan Peterson e Stephen Fry no Debate Munk sobre o politicamente correto, realizado em 2018.| Foto: Divulgação/Munk Debates

“Quando a realidade é manipulada para se encaixar numa visão particular, essa informação manipulada se torna um instrumento inapropriado para tomar decisões numa realidade que não perdoa nossas fantasias; por isso, devemos todos nos ajustar à realidade, pois ela não se ajustará a nós.” (Thomas Sowell, Os intelectuais e a sociedade)

O politicamente correto já foi tema de um artigo meu, aqui, nesta Gazeta do Povo, e naquela ocasião defini, com a ajuda de Michael William, autor de The genesis of political correctness: “o politicamente correto é o ʻmecanismo para a imposição da ideologia neomarxistaʼ. Ao contrário da ideologia marxista pura, baseada na crítica econômica, a ideologia neomarxista ʻé focada na cultura e em [pseudoconceitos como] raça, feminismo e direitos gays (sic) em particular. Também se opõe firmemente à nacionalidade, pelo menos no que diz respeito aos países ocidentais, e aos de língua inglesa em particularʼ”. Óbvio que nenhum defensor de tal ideologia concordaria com isso, como é possível constatar no recente lançamento da editora É Realizações: Politicamente Correto: os debates Munk, que é a transcrição do debate entre Jordan Peterson, Michelle Goldberg, Michael Eric Dyson e Stephen Fry, ocorrido em Toronto, no Canadá, em 2018. O livro traz, ainda, entrevistas individuais, pré e pós-debate, com os comentários sobre as expectativas e, depois, os resultados do debate.

Os “debates Munk” ocorrem desde 2008, promovidos pelo filantropo Peter Munk (falecido em 2018), e são famosos por trazerem sempre temas importantes para serem discutidos por vários pensadores célebres como Niall Ferguson, Steven Pinker, Christopher Hitchens etc., buscando uma verdadeira pluralização do debate público – algo raro em nossos dias. E nesse caso não foi diferente, pois conseguiram unir não só quatro pensadores de visões bastante distintas, como unir visões, em geral, contrárias, mas que se uniram sob o mesmo prisma – como as de Peterson e Fry. O tema partiu de uma resolução: O que você chama de “politicamente correto” eu chamo de “progresso”, e os debatedores discorreram, primeiro respondendo às perguntas do mediador, depois reagindo uns aos outros.

O politicamente correto nada tem a ver com a defesa de direitos, mas com um tipo de recurso retórico que visa a controlar a linguagem e as ações das pessoas

O psicólogo Jordan Peterson dispensa apresentações. Conhecido por sua oposição pública à lei canadense que tornou obrigatório o uso de pronomes neutros, atualmente tem quase 4 milhões de inscritos em seu canal no YouTube (no qual discorre sobre diversos assuntos com uma capacidade de comunicação invejável), um best-seller – 12 regras para a vida – com mais de 3 milhões de cópias vendidas, e figura entre os intelectuais mais influentes do mundo. Michelle Goldberg é escritora, colunista do New York Times e comentarista na MSNBC. Michael Eric Dyson é pastor batista, escritor, professor de Sociologia na Universidade Georgetown e apresentador, desde 2009, do programa The Michael Eric Dyson Show, na NPR. E, por último, o famoso ator, roteirista, comediante e apresentador de TV Stephen Fry, o Gordon Dietrich de V de Vingança. No debate, Peterson e Fry debateram contra o politicamente correto, enquanto Goldberg e Dyson defenderam a legitimidade da ideia (e da prática).

O livro é interessantíssimo, pois, para mim, é uma demonstração cabal de como o politicamente correto nada tem a ver com a defesa de direitos, mas com um tipo de recurso retórico que visa a controlar a linguagem e as ações das pessoas. Stephen Fry, que é um homem de esquerda, homossexual assumido, pontua bem em sua entrevista inicial: “acho que a esquerda, se ela quer conquistar tudo o que deveria, é uma questão de como se atinge o objetivo maior de tornar a sociedade mais tolerante, não de prescrever o uso da linguagem e forçar as pessoas a usar frases desconfortáveis e idiotas”. Peterson também se mostra bastante incomodado com o discurso castrador do politicamente correto, dizendo: “A coisa da liberdade de expressão é realmente interessante porque, na esquerda radical, não existe discussão sobre liberdade de expressão. Você não pode ter uma discussão sobre liberdade de expressão daquela posição ideológica porque lá não existe tal coisa. Tudo o que há são aqueles que manobram, por poder, em seus grupos respectivos, fazendo reivindicações que os beneficiam”.

Michelle Goldberg foi sincera ao dizer que “há várias coisas que caem sob a rubrica do politicamente correto que eu não considero progresso”, e tentou se colocar numa posição intermediária em relação ao tema, dizendo que, na verdade, em muitos casos, a única coisa que estão pedindo é por “um pouco mais de educação. […] Algumas dessas mudanças parecem antinaturais para as pessoas; elas meio que ficam entaladas na garganta. As mudanças que funcionam e têm utilidade social serão incorporadas com perfeição à linguagem, e as que não funcionam vão desaparecer, assim como desapareceram as exigências mais exageradas de épocas anteriores de agitação política”. Ela usou como exemplo a mudança do termo índio para indígena, mas não sei o quanto isso, na prática, mudou mesmo. Muito provavelmente tem mais adesão nas redações de jornais que no dia a dia das pessoas.


Michael Eric Dyson é, sem sombra de dúvidas, o sujeito mais intragável e desonesto desse debate, pois não foi capaz, nem por um minuto, de manter-se no tema a ser debatido. O que fez foi desferir insultos e provocações ad hominem a torto e a direito, como se tivesse pensado: “essa é minha oportunidade de lacrar e não vou perdê-la por nada”. Negro, pastor e militante – não necessariamente nessa ordem –, da linha de Al Sharpton e Jesse Jackson, transformou sua participação num amontoado de acusações de privilégio e racismo; é difícil acompanhar os seus “argumentos” sem irritação. Em sua entrevista inicial, já dispara – leviandade que repete durante o debate –: “Quando ouço homens brancos bancando os snowflakes, choramingando e reclamando sobre privilégio – falarei disso hoje à noite, mas agora vou apenas citar aquela grande influência, Keyser Söze, que supostamente disse que a maior façanha do diabo foi fazer com que as pessoas acreditassem que ele não existe. Esse é o privilégio do homem branco”.

No entanto, é forçoso admitir que ele, de certo modo, acerta quando diz: “Não tenho certeza, mas quando eu consulto a história parece que foram os brancos que inventaram a raça. E agora que isso saiu do controle e vocês perderam a narrativa… agora vocês ficam chateados? Os negros não inventaram a raça. As mulheres não inventaram o gênero”. Durante os séculos de escravidão os negros foram impedidos de exercerem sua individualidade, sendo vistos como um grupo. Ele generaliza muito, mas tem um ponto. Durante o debate, entre um insulto generalizado e outro, Dyson dirá:

“As políticas identitárias têm sido encaradas como uma bête noire [ovelha negra] pela direita, e mesmo assim a direita não compreende o grau com que a identidade foi imposta sobre as pessoas negras e as pessoas mulatas […] desde o começo, e sobre as mulheres e as pessoas trans. Vocês acham que eu quero fazer parte de um grupo que é constantemente abominado pelas pessoas na Starbucks? Estou cuidando dos meus assuntos de negro, andando pela rua, e empurram a identidade de grupo em cima de mim. Eles não dizem: ‘Ah, aha, lá vai um negro – muito inteligente, articulado, eloquente, capaz de investir em uma fúria retórica num piscar de olhos –, e a gente não devia interrogá-lo sobre a bona fide de seu status legal’. Não, eles me tratam como parte de um grupo, e o problema – que os nossos amigos não querem reconhecer – é que a hegemonia, a dominância daquele outro grupo tem sido tão perversa que negou para nós a oportunidade de existir como indivíduos”.

Tudo muito bonito e eloquente, mas que não tem nada a ver com o debate. E ainda, posteriormente, chamou, numa provocação absolutamente despropositada, Peterson de “homem branco perverso e raivoso”.

“A coisa da liberdade de expressão é realmente interessante porque, na esquerda radical, não existe discussão sobre liberdade de expressão. Você não pode ter uma discussão sobre liberdade de expressão daquela posição ideológica porque lá não existe tal coisa.”

Jordan Peterson, nos Debates Munk
Stephen Fry pondera e tenta colocar as coisas no lugar: “minha maior objeção ao politicamente correto não é que ele tenha tanto a ver com as coisas que desprezei e às quais me opus a vida inteira: pregação (com todo respeito), piedade, arrogância, caça às bruxas, delações, shaming, afirmações sem evidências, acusações, inquisição, censura. Não é por isso que estou incorrendo na ira dos meus companheiros liberais [o tradutor usou o termo original em inglês, liberal, que no Brasil tem o sentido de “progressista”, e não liberal clássico] ao me posicionar deste lado do debate. Minha real objeção é que acho que o politicamente correto não funciona”.

E Jordan Peterson coloca uma questão – que não é respondida durante todo debate:

“O que não vejo acontecendo na esquerda – e isso em consideração à esquerda sensível, porque existe tal coisa – é a mesma coisa sendo feita em relação à esquerda radical. Então, aqui vai uma questão aberta: se a diversidade, a inclusão e a igualdade não são o triunvirato que caracteriza a esquerda exagerada – e, a propósito, a igualdade definida não como igualdade de oportunidades, que é um objetivo absolutamente louvável, mas igualdade de resultados, que é como eles definem –, então como, exatamente, nós demarcaremos a esquerda extremista? O que nós fazemos?”

Ou seja, o que era para ser um debate sobre o conceito de politicamente correto e seus efeitos práticos na sociedade contemporânea se transformou numa discussão sobre raça e gênero. Peterson e Fry saíram visivelmente decepcionados; Dyson e Goldberg (mais Dyson), com a sensação de terem exposto e envergonhado um fascista – nesse caso, Peterson. Mas o livro é ótimo, com momentos argumentativos realmente interessantes, e vai agradar tanto pessoas à direita quanto à esquerda, pois, como em todo debate atual, o que as pessoas querem mesmo é somente marcar suas posições. Boa leitura!


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FILOSOFIA DE RUA FICA INACANSÁVEL

Alienação acadêmica

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

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A filosofia está influenciando nossa vida o tempo inteiro. O que um intelectual como Giannotti faz é transformá-la em puro diversionismo.| Foto: Bigstock

No último texto vimos de relance o papel da Fundação Ford na configuração de uma esquerda amiga de oligopólios, liberal quando comparada à esquerda tradicional, estatista. De um lado, o amor à URSS e a Cuba; de outro, o amor à guerra cultural e ao capital privado de oligopolistas – algo na verdade muito menos próximo do marxismo do que do fascismo, fundado por egressos do marxismo. Do CEBRAP saiu o PSDB. O PT é mais misturado: tem pelo menos um queridinho da Fundação Ford entre os seus fundadores (o racista Florestan Fernandes), mas tem em sua origem um peso muito grande da esquerda armada (isto é, terrorista), seja ela soviética ou católica. Com as privatizações de FHC, o funcionalismo perdeu o peso eleitoral de outrora, conseguindo eleger apenas cargos legislativos. O PT de Lula largou o funcionalismo e se tornou um partido da Fundação Ford, tal como o PSDB. A USP (FFLCH), o CEBRAP, Nova Esquerda, Estado na mão de oligopólios empresariais: estas coisas caminham todas juntas e se confundem entre si.

Em vez da política, foquemos hoje no pensamento. O que esse estado de coisas fomentou foi a alienação da academia perante o público. Essa tradição criou a estranha figura do intelectual cuja cara e voto todos conhecem, mas cujo trabalho acadêmico e ideias são um completo mistério. Querem ver só?

Marilena Chaui, Márcia Tiburi. Em quem votam? Todos sabem que no PT. Em que consistem suas atividades acadêmicas? Só quem passou por um curso de humanas sabe que Marilena Chaui em tese é respeitável por ser uma grande especialista em Baruch Espinosa (1632 – 1677). Que Márcia Tiburi é especialista em Theodor Adorno, eu só descobri porque tive a curiosidade de olhar o finado currículo Lattes.

Até aí, tudo bem. Numa cultura acadêmica em que quase todos são historiadores da filosofia, é natural que as mentes mais livres desenvolvam ideias fora do espaço acadêmico e venham a ser conhecidas por elas, em vez de trabalhos acadêmicos.

Mas que ideias fazem Chaui diferente de Tiburi ou de qualquer outro intelectual petista? Onde está a originalidade de qualquer uma delas? Se há uma frase de Marilena Chaui que todos conhecem, é “Eu odeio a classe média”. Frase que expressa um sentimento, não uma ideia. Aliás, já tentei criar uma subseção “Discurso de ódio” na seção “Controvérsias” do verbete “Marilena Chaui” da Wikipédia, mas os moderadores não deixaram. Aparentemente aquilo não é discurso de ódio.

Falta de ideias próprias
Pois bem: morreu recentemente José Arthur Giannoti, colega de Marilena Chaui menos espalhafatoso. Um amigo, também das humanidades, mas não de filosofia, me pergunta quais eram as ideias dele. Não sei responder. Posso informar apenas que foi tradutor pioneiro de Wittgenstein no Brasil, mas que sua tradução é meritória pelo pioneirismo em vez da qualidade. Os wittgensteinianos todos usam a tradução do Tractatus Logico-Philosophicus feita por outro uspiano, e o próprio Giannotti não pareceu ser muito apegado a ela.

Posso dizer que ele estudava vários filósofos e era crítico dos “filósofos que se casam com um filósofo e passam a vida toda falando dele”, como Marilena Chaui com Espinosa. Mas, tal como Marilena Chaui, é mais fácil apontar sua preferência política. Ele era amigo de Fernando Henrique Cardoso, membro do CEBRAP e, embora não fosse filiado, considerava-se um “tucanoide” e era identificado como um tucano pelos colegas. E, tal como Marilena Chaui, não podemos apontar uma ideia sua.

Ao noticiar a morte de Giannotti, O Globo se referiu a ele como estudioso de Marx. Poderia ser simplesmente um erudito; não há nada de mau nisso. Mas Giannotti (1930 – 2021) fazia apologia dessa falta de ideias próprias. E mostrou isso com clareza ao lançar ataques virulentos a um coetâneo que tinha ideias próprias: José Guilherme Merquior (1941 – 1991).

A polêmica se deu em 1987, quando Giannotti publicou na revista do CEBRAP um artigo contrário à obra “O marxismo ocidental”, em que Merquior descrevia e detonava a Nova Esquerda. Em “O tema da Ilustração em três registros”, Giannotti resenha três livros ao mesmo tempo, sendo um deles o de Merquior. Segundo nos conta, as editoras e os jornais estavam publicando uma quantidade inesperada de textos filosóficos: “Convém fazer o inventário dessa produção difusa, sobretudo convém distinguir os registros em que ela se faz, pois nada mais prejudicial do que pedir a um livro que se destina à divulgação filosófica que apresente o rigor necessário a uma tese de doutoramento, ou que o texto polêmico siga as regras do tratado.”

Para Giannotti, uma tese de doutoramento – e isso só quem conhece a academia brasileira sabe – deve ser feita sempre sobre algum filósofo, e não sobre alguma questão. Mais ainda: não se pode criticar o filósofo; é preciso explicá-lo como um sistema, a partir de vocabulários e premissas internos à obra. No frigir dos ovos, se o filósofo Fulänen disser que a borboleta tem penas porque “borboleta” (Tagfalter) significa galinha, não cabe ao acadêmico dizer que Fulänen fez uma escolha cretina de palavras; em vez disso, cabe explicitar o conceito, explicar por que Fulänen tinha razão ao dizer que viu a borboleta comendo milho, e discutir se devemos traduzir de Tagfalter (borboleta em alemão) como borboleta mesmo ou como galinha.

Evidentemente, não é dessa natureza o trabalho de Merquior sobre os marxistas ocidentais. E é disso mesmo que Giannotti reclama: “A crítica de Merquior é exterior e confunde alhos com bugalhos. Não há dúvida de que as propostas de Habermas são, como tudo em filosofia, altamente questionáveis. Não fica claro o que venha a ser este consenso assegurado, não fica claro o sentido duma pretensão de validade e assim por diante. Mas não se adianta um passo se, em face dessa extraordinária tentativa de se pensar o conceito de racionalidade e, por esse meio, o próprio significado da irracionalidade contemporânea, o crítico fincar pé numa posição exterior e acusar o filósofo de irracionalista, simplesmente porque não pensa de acordo com os padrões de racionalidade que o próprio crítico não explicita. Convenhamos, ninguém nos dias de hoje tem no bolso um critério de racionalidade”.

Outro exemplo: “Não há dúvida de que expressões como esta [de Hegel] beiram ao delírio, mas como Hegel não é louco, mas gênio, nossa tarefa não é acusá-lo de namoro com o irracionalismo (com que critério?), mas compreender a articulação interna de seu pensamento, que o leva a pensar a lógica duma óptica divina”.

Se o filósofo falou, não podemos discordar. Mas com que critérios podemos dizer que Hegel era gênio e Merquior não? Se todos os filósofos seguissem Giannotti, ninguém discordava de ninguém, porque cada um está certo segundo seus próprios critérios. E se ninguém discordasse de ninguém, não tinha filosofia.

Filosofia inútil para a política
Leiamos mais um pouquinho de Giannotti: “O que estou querendo provar com tudo isso? Que Merquior não sabe história da filosofia? Em primeiro lugar, saber é um estado subjetivo que, basicamente, não afeta o acordo ou o dissenso. Depois, houve filósofos geniais que pouco conheceram do que pensaram seus predecessores. Na verdade, Merquior fala desses filósofos, mas importa salientar que ele utiliza esse material duma forma totalmente diferente daquela do historiador ou do professor de filosofia. Sua enorme erudição serve-lhe para pescar (e tudo que cai na rede é peixe) certos argumentos que desarmem o adversário e entusiasmem os aliados. Quem são eles? O primeiro, é o militante marxista que repete chavões como um moinho de reza chinês. Quando este se põe como o herdeiro da ciência ou da história, Merquior lhe puxa o tapete. E seus aliados? Esta massa de leitores que consome cultura como doces duma confeitaria. Este jovem intelectual já escreveu dezenove livros, e no fundo é um militante marxista com sinal trocado”.

Giannotti concorda, portanto, que filósofos podem criticar filósofos sem deixar de ser filósofos por isso. Merquior, de fato, não fala como um professor ou um historiador meramente descritivo (mas eu diria que fala como um historiador, sim, já que desde Heródoto historiadores fazem algum tipo de crítica, seja dos costumes ou dos reis). Por que Merquior não pode falar como um filósofo? Ora, porque é, na verdade, um sofista. E é um sofista porque – veja só! – suas críticas têm um impacto no debate político!

Daí aprendemos que os filósofos são entidades mágicas que só podem ser criticados por gente pertencente à mesma espécie, e que o que dizem sobre política não deve ter relações com o mundo. Giannotti tem razão ao dizer que Merquior tinha os militantes marxistas repetidores de chavões como inimigos. Mas ele tinha também como inimigos os mais sofisticados, como o próprio Giannotti, que fez uma resenha-chilique contra o texto. E que faz um marxista sofisticado? Tira a filosofia da rua, dos jornais, para colocá-la numa prateleira inalcançável, longe do mundo.

Ora, mas a filosofia está influenciando nossa vida o tempo inteiro. O que um intelectual como Giannotti faz é transformá-la em puro diversionismo.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/bruna-frascolla/como-os-marxistas-tiraram-a-filosofia-da-rua-e-a-colocaram-numa-prateleira-inalcancavel/
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UNICÓRNIO CHILENO FABRICA LEITE E PRODUTOS PLANT-BASED

 

A startup, fundada por Karim Pichara, Matías Muchnick e Pablo Zamora, foi avaliada em US$ 1,5 bilhão após novo aporte

Por Tainá Freitas

NotCo, foodtech chilena que utiliza inteligência artificial para criar receitas de produtos plant-based, se tornou um unicórnio. A empresa recebeu um aporte de US$ 235 milhões em uma rodada série D liderada pela Tiger Global, chegando ao valor de mercado de US$ 1,5 bilhão.

A rodada atraiu novos investidores, como o automobilista Lewis Hamilton, o tenista Roger Federer, o fundador do Twitter, Jack Dorsey, e Joe Gebbia, cofundador do Airbnb. Entre os fundos, DFJ Growth Fund, ZOMA Lab e The Social Impact Foundation passam a integrar agora o quadro societário da NotCo. Jeff Bezos, fundador da Amazon, é uma personalidade que investiu na empresa há alguns anos.

“Todos nós compartilhamos a mesma visão sobre a capacidade de Giuseppe [a inteligência artificial] de tornar a adesão aos produtos plant-based cada vez mais ampla a vida das pessoas, em um ritmo rápido, focando no sabor, sustentabilidade e lançando produtos em várias categorias ao mesmo tempo”, diz Matias Muchnick, CEO e fundador da NotCo, no anúncio.

NOVO FOCO: A EXPANSÃO GLOBAL

A NotCo, que já atua na América Latina e América do Norte, agora se prepara para expandir para a Europa e Ásia. A empresa, fundada há cinco anos, cria produtos à base de plantas nas categorias de laticínios e carne.

Ciro Tourinho, CEO da NotCo no Brasil (foto: divulgação/NotCo)

No Brasil, a NotCo chegou em março de 2019 e está, atualmente, concentrada nas regiões Sul e Sudeste. Agora, o desafio é expandir para pequenos e grandes varejistas em todo o país. A companhia tem e-commerce próprio e também possui produtos à venda na Amazon, Mercado Livre e Pão de Açúcar.

A empresa chegou nos Estados Unidos recentemente, mas os planos são de tornar o país responsável por 50% do faturamento global da NotCo em 2022. A foodtech contará com um especialista no mercado americano de alimentos — Danny Meyer, fundador da rede de fast-food Shake Shack. Meyer investiu através do fundo Enlightened Hospitality Investments (EHI), do qual é sócio.

O USO DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA ALIMENTAÇÃO

A NotCo utiliza a inteligência artificial Giuseppe para facilitar na criação de receitas dos alimentos. A tecnologia auxilia na substituição de ingredientes de origem animal pelos à base de plantas. 

Ervilha, óleo de coco, óleo de girassol, fibra de chicória e extrato de abacaxi são alguns dos ingredientes utilizados pela companhia no NotMilk, leite à base de vegetais. Já na NotMayo, maionese plant-based, a empresa utiliza lima, vinagre de uva, grão de bico, óleo de canola e sementes de mostarda. A combinação de ingredientes comuns com outros mais raros — como fibra de chicória — são resultados do uso do Giuseppe

Ingredientes utilizados na NotMayo, criada pela The Not Company (foto: divulgação/NotCo)

“Quantos anos demoraria para qualquer pessoa, até mesmo um chef, unir tudo isso para chegar a uma consistência muito parecida com a do leite?”, questiona Ciro Tourinho, líder da operação do Brasil da NotCoem entrevista à StartSe.

Agora, a empresa estuda terceirizar o algoritmo do Giuseppe — isto é, permitir que outras empresas também possam utilizá-lo em suas operações. Recentemente, a NotCo abriu uma vertical B2B, que visa fazer negócios com outras empresas.

“Seria muito injusto mantermos o algoritmo apenas para nós. A expectativa é que grandes indústrias de alimentos possam ter produtos ‘Powered by NotCo’, assim como smartphones também utilizam peças de empresas concorrentes”, afirma Ciro Tourinho.

ValeOn UMA STARTUP INOVADORA

A Startup ValeOn um marketplace que tem um site que é uma  Plataforma Comercial e também uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Nossa Startup caracteriza por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Nos destacamos nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, a nossa startup busca fugir do que o mercado já oferece para se destacar ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave da nossa startup. Nossa empresa busca oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

Nossa startup procura resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

CENTRÃO ACABOU COM O VOTO IMPRESSO

 

Mauro Bomfim

Cronograma de Carga e Lacração – preparação da urnas para o 2° turno das Zonas Eleitorais do Paraná – Tags: eleições2018, eleições, voto, sulfrágio, Tribunal, urna eletronica. Fotos: André Rodrigues

Foram 64 ausencias de deputados federais ontem na votação da PEC do Voto Impresso.

Votaram pela aprovação 229 e pela rejeição 221.

Dos 64 absenteistas, certamente muitos podem ser de partidos do Centrão que “liberaram” suas bancadas.

Exatamente a fina flor do Centrão, partidos como o PP do Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, o PL de Waldemar Costa Neto e o PTB de Roberto Jefferson simplesmente liberaram os votos das bancadas, o que foi decisivo para derrota do voto impresso ( minha opinião a respeito do tema mereceria ampla digressão juridico-ontologica e por isso pouparei os leitores).

Não se desconhece que alguns deputados de partidos que recomendaram o voto “não ” acabaram votando “sim”. A traição do punhal de Brutus tem lâmina dupla.
Raras vozes dos que votaram em Bolsonaro em 2018, tiveram coragem e ousadia de alertá-lo para o perigo de entregar o coração e a alma do Governo para o Centrão, espécie de planta carnívora que suga tudo do Governo e depois expele um resto de placenta botânica no meio do charco da política brasileira.

A votação de ontem é um testemunho eloquente que o Centrão somente será fiel “no dia em que o Sargento Garcia prender o Zorro”.

Pensando em aprovar as reformas e até mesmo se blindar dos pedidos de impeachment, o Presidente Bolsonaro entregou o centro de gravidade do Governo ao Centrão.

E ao necessitar da fidelidade na votação, como no caso da PEC do Voto Impresso ontem, o Centrão simplesmente pratica às avessas a política “franciscana do é dando que não se recebe”.

Dirse-se-a que o presidente não governaria sem o Centrão. Mas vale a pena pagar preço tão caro e ainda se desgastar e perder apoio em ponderável parcela de seu eleitorado que foge do Centrão como o diabo da cruz?

Talvez hoje seja esse o grande dilema do Presidente Jair Bolsonaro.

Na genial tragédia de Goethe, Fausto vendeu sua alma para o
demônio. Os dois chegam ao acordo – selado com sangue – de que o
Diabo fará tudo o que ele quiser na Terra e, em troca, Fausto terá de
servir o demônio no Inferno. Mas há uma cláusula importante: a alma
de Fausto será levada somente quando Mefistófeles criar uma
situação de felicidade tão plena que faça com que Fausto deseje que
aquele momento dure para sempre.

Na cena brasiliense, Bolsonaro se personifica em Fausto, o
personagem do seminal escritor alemão, e o Centrão é o Demônio.

Como no poema trágico de vários atos, Jair Bolsonaro, como o final da
tragédia de Fausto pensa conseguir chegar ao Paraíso, por haver perdido
apenas metade da aposta com o demônio.

Mas as diatribes do Centrão colocam pedras e cascas de banana no caminho do Governo. Isso depois de sugar avidamente o ubere farto e generoso do Orçamento da União, com liberação de valiosas emendas para suas bases e proselitos nos grotoes do país, garantindo folgadamente a reeleição de parlamentares centralinos.

Em seus 28 anos vividos na Câmara dos Deputados, Bolsonaro já deveria ter captado em seu radar politico que o demoníaco Centrão, com o apetite de Pantagruel, sugara tudo o que puder e na hora de demonstrar fidelidade ao Governo, agirá como se quisesse o governo como amante, mas não como esposa.

Tal o Demônio que roubou a alma de Fausto,
o Centrão seduziu Bolsonaro, que o aceitou para ter maioria parlamentar.

Na sua intuição política, entregaria só os anéis, não os dedos. Mas
lidar com o Centrão é ter Mefistófeles nos seus calcanhares.

Ou o presidente Bolsonaro, como no canto final da tragédia de Goethe, cantará
o coro da vitória. Ou o Centrão arrastará Fausto para as profundezas
abissais do Hades, o inferno do herói mitológico Ulysses, narrado magistralmente por Joyce.

Não sei se o presidente vai pagar pra ver mais uma opera bufa executada pela partitura do Centrão.

Mauro Bomfim é
advogado, jornalista e escritor.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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