segunda-feira, 9 de agosto de 2021

PUBLICIDADE PRECISA DA PRODUÇÃO GRÁFICA

Texto extraído de artigo publicado originalmente na XI Jornada Científica – Faculdades Integradas de Bauru – FIB, págs. 17 e 18.

Redação Netshare em PUBLICIDADE

Texto e edição: João Vitor Nogueira / Autores: João Vitor Nogueira e Carina Nascimento

A publicidade tem como objetivo gerar intenção de compra de um produto ou serviço. Nesse sentido, o desenvolvimento de uma peça gráfica é crucial para que a propaganda crie corpo e atenda às necessidades e expectativas da empresa e respectivos mercados.

A criação de uma peça gráfica, precisa se diferenciar e se destacar em meio a tantas outras formas de comunicação para que o receptor seja capaz de assimilá-la e depois lembrar dela refletindo tudo o que captou. Dessa forma, as equipes de criação precisam trabalhar elementos significativos que chamem a atenção dos públicos e consequentemente gere intenção de compra do produto ou serviço oferecido.

O que é uma peça gráfica?

Uma peça gráfica é um meio de comunicação poderoso de alta visibilidade. Seja ela para jornal, revista, ao ar livre, correio, ônibus é um poderoso meio de comunicação de alta visibilidade e eficiência, oferecendo uma vasta gama de oportunidades aos anunciantes.

Para desenvolvê-la, além do profissional de Criação, faz-se necessária a existência de um Produtor Gráfico no ambiente de agência que seja responsável pelo gerenciamento de processos gráficos, – a Produção Gráfica, que segundo o autor Collaro é a atividade que organiza e supervisiona a realização de peças impressas, tendo em vista a contratação dos serviços, materiais e fornecedores gráficos, acompanhando as seguintes etapas: pré-impressão, impressão e acabamento.

O papel do produtor gráfico

No desenvolvimento de uma peça gráfica de uma campanha, além do acompanhamento dessas três fases, o produtor gráfico precisa contratar serviços e materiais de fornecedores gráficos capacitados, como também otimizar os resultados no que diz respeito à melhor relação custo-benefício entre gráficas e anunciantes. Além disso, a indústria gráfica atualmente passa por mudanças que devem ser consideradas de forma mais ampla que não se restringem apenas a eliminação ou inclusão de etapas do processo, desenvolvimento de novos equipamentos, como também novos conceitos e profissionais qualificados.

Para melhores resultados, cabe ao produtor analisar a peça gráfica e perceber a melhor forma de produzi-lo, o melhor material, o melhor acabamento.

Os processos

A impressão é a etapa onde as ideias são materializadas, é o processo de impressão propriamente dito. A pós-impressão é a última etapa do processo gráfico. É durante este processo que os últimos requisitos do pedido são finalizados e o impresso recebe forma definitiva. Como se observa, a presença da Produção Gráfica no desenvolvimento de uma peça numa campanha publicitária é de extrema importância, visto que cada etapa requer muita atenção, considerando sua complexidade no processo gráfico. O cumprimento de todas as fases regadas a muita eficiência e qualidade, garante que a peça gráfica atenda os objetivos da campanha e consequentemente as demandas de empresa e mercado.

PROBLEMAS QUE A STARTUP ValeOn RESOLVE:

A dinâmica empresarial cria fluxos no qual a população busca por produtos e serviços cada vez mais especializados. Desse modo a dinâmica e a rede comercial gera interferências em todas as cidades aqui do Vale do Aço.

Existem as mudanças de costumes e hábitos inseridos na sociedade que por meio das tecnologias acessíveis e do marketing chegam até aos menores lugares, levando o ideário de consumismo e facilitando que esses locais igualmente tenham oportunidade de acesso aos diversos produtos.

A facilidade no acesso as novas tecnologias, à propaganda e estímulo ao consumismo fazem com que mesmo, com o comércio físico existente nessas cidades, ocorra a difusão das compras por meio da internet.

O setor terciário agrega as atividades que não fazem e nem reestruturaram objetos físicos e que se concretizam no momento em que são realizadas, dividindo-se em categorias (comércio varejista e atacadista, prestação de serviços, atividades de educação, profissionais liberais, sistema financeiro, marketing, etc.)

Queremos destacar a área de marketing que é o nosso negócio que contribui na ampliação do leque de informações através da publicidade e propaganda das Empresas, Serviços e Profissionais da nossa região através do site que é uma Plataforma Comercial da Startup ValeOn.

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O QUE FAZ A STARTUP ValeOn

A Startup ValeOn através do seu site que é uma Plataforma Comercial feita para fazer publicidade e propaganda online das Empresas, Serviços e Profissionais Liberais da região do Vale do Aço para as suas 27 (vinte e sete) cidades.

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

 

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO TEM UMA FOLHA ENORME DE PAGAMENTOS A FUNCIONÁRIOS

 

Burocracia
Por
Gabriel de Arruda Castro, especial para a Gazeta do Povo

Prédio do Ministério da Educação

Prédio do Ministério da Educação, em Brasília.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nenhum órgão do Executivo tem uma folha de pagamento maior do que o Ministério da Educação (MEC). Em 2020, a pasta gastou R$ 29,2 bilhões apenas para pagar os seus mais de 375 mil funcionários. O Ministério da Saúde, por exemplo, tem um número muito inferior de servidores: 65,2 mil. Somente a Defesa, que engloba o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, emprega mais pessoas no Brasil.

Acontece que a função da Defesa é, por definição, nacional: proteger as fronteiras e assegurar a soberania do território brasileiro. A do Ministério da Educação não necessariamente é. Por isso, há quem questione a necessidade de uma estrutura centralizada para gerir o ensino no país.

Embora ainda sejam uma corrente minoritária, os defensores da abolição do Ministério da Educação fazem cada vez mais barulho – especialmente entre organizações de perfil liberal. O argumento é o de que a gestão das escolas e universidades não precisa de um comando em Brasília encarregado, dentre outras coisas, de estabelecer currículos para o ensino básico, nomear reitores de universidades e distribuir recursos entre prefeituras e governos estaduais.

Anamaria Camargo, mestre em Educação e presidente do Instituto Livre pra Escolher, não tem dúvidas: “Os estudantes e a produção científica do Brasil estariam muito melhor sem o MEC”, afirma ela, que atua pela redução do papel do Estado na educação brasileira. Segundo Anamaria, o ministério tem fracassado em suas funções mais básicas. Citando um estudo do Instituto Paulo Montenegro, Anamaria afirma que um grande número dos universitários brasileiros mal sabe ler. “Temos 29% de universitários chancelados pelo MEC que são semialfabetizados. Ou seja, a chancela do MEC não significa absolutamente nada em termos de garantia de qualidade de aprendizado”, diz ela.

“O que acontece na prática é uma padronização de más práticas, de má gestão, de um excesso de gastos e recursos em estruturas, folhas de pagamento, coisas que não são necessariamente o objetivo final da educação”, afirma Giuliano Miotto, presidente do Instituto Liberdade e Justiça. Com sede em Goiânia, a organização busca aplicar princípios liberais na educação, dentre outras áreas.

Uma eventual abolição da pasta não significaria o fim dos recursos públicos para a educação, é claro. A arrecadação, que se origina sobretudo nos estados, continuaria existindo. Os gastos é que seriam menores porque a redução de custos com a burocracia seria considerável.


Outra vantagem apontada pelos que defendem o fim do MEC seria a possibilidade de que as diferentes unidades da federação adotassem soluções mais adequadas às suas realidades e às necessidades dos alunos. “Como o Brasil é um país gigante, o fato de ter um órgão centralizador das direções na área de educação cria muitas distorções. O MEC acaba sendo o propagador de uma educação de péssima qualidade”, diz Miotto.

Os críticos do MEC reconhecem, entretanto, que o fim do Ministério da Educação é uma bandeira inviável no curto prazo, já que o tema nem mesmo faz parte da agenda do governo ou do Congresso. Mas eles enxergam possíveis avanços com uma possível redução do escopo da pasta.

Outros países, inclusive muitos dos que têm um bom desempenho nos testes internacionais, não possuem uma estrutura centralizada com amplos poderes. Os Estados Unidos alcançaram um nível de excelência em educação graças sobretudo ao protagonismo da iniciativa privada, das organizações religiosas e das autoridades locais. Somente em 1979 é que o governo resolveu criar o atual Departamento de Educação.

“O ‘MEC’ dos Estados Unidos foi criado apenas para cumprir uma promessa de campanha que Jimmy Carter tinha feito ao National Education Association (NEA), o maior sindicato do país. Não foi pela educação. Foi pela eleição. Foi pelo corporativismo sindical”, afirma Anamaria Camargo.

Nos Estados Unidos, o executivo federal praticamente não mantém instituições de ensino, com a exceção das academias das forças armadas. O Departamento de Educação tem atribuições bem delimitadas e, não por acaso, possui uma estrutura enxuta quando comparada à do Ministério da Educação do Brasil: o órgão americano tem 4,4 mil funcionários.

A situação é semelhante na Alemanha. É o que diz João Batista de Oliveira, doutor em Educação pela Universidade do Estado da Flórida e presidente do Instituto Alfa e Beto. “Lá também existe um ministério, mas desde o pós-guerra e até recentemente era algo praticamente simbólico. A responsabilidade estava com os estados”, afirma. Em anos mais recentes, diz ele, o ministério ganhou atribuições, mas os estados continuam com autonomia para definir seus modelos educacionais.

Embora acredite que o fim do Ministério da Educação seria uma boa ideia, Oliveira afirma que mudanças menos bruscas nessa direção já teriam um efeito positivo. “Um passo preliminar iria exigir tornar a Constituição mais clara no que diz respeito às responsabilidades da União, Estados e Municípios. E retirar dela a maioria do que nela está sobre educação – inclusive a obtusa ideia de que toda universidade precisa ter ensino, pesquisa e extensão”, defende Oliveira.

O fim do Ministério da Educação também não significa que todas as normas nacionais para a educação serão abolidas, nem que os estados mais pobres ficariam em uma situação orçamentária ainda pior. Nada impede que os entes da federação formem parcerias entre si, de forma horizontal. “O currículo nacional poderia ser feito mediante concordância entre os estados – como é o caso dos Estados Unidos”, exemplifica Oliveira.

Para o presidente do Instituto Alfa e Beto, um regime sem ministério poderia funcionar muito bem, desde que fossem mantidos alguns parâmetros legais básicos para a educação brasileira. “Não precisa existir um Ministério de Educação. Mas precisa haver uma unidade mínima para coordenar informações e estimular as inovações. Se o MEC atual deixar de existir, faria muito pouca diferença na educação. E a diferença poderia ser até positiva”, afirma.

MEC tem papel importante, diz especialista
Para a professora Neide Noffs, da Faculdade de Pedagogia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, o problema essencial do Ministério da Educação é a sua má administração, o que pode ser corrigido sem medidas mais drásticas como o fechamento da pasta. “A Educação tinha de ter um plano nacional, seguido por planos estaduais, com o objetivo de reduzir as desigualdades regionais. O papel do ministério nisso seria muito importante porque caberia a ele ter um plano nacional de fato”, afirma ela. “Este plano poderia ser de aplicação voluntária, mas ofereceria uma variedade de cursos não obrigatórios tratando de temas como a Base Nacional Comum Curricular, o atendimento à primeira infância e o Plano Nacional de Alfabetização, para articular as propostas”, afirma. A exigência de um currículo mínimo nacional, por exemplo, ajuda os estados mais vulneráveis na batalha por cobrir as matérias essenciais.

Na avaliação da professora, o ministério tem funcionado de forma pouco eficaz porque atribui para si funções em excesso. Ainda assim, ela admite que a pasta tem uma função importante a cumprir no sistema educacional – especialmente no que diz respeito aos estados com piores índices educacionais.

Apesar de sua posição crítica quanto à missão da pasta, João Batista Oliveira também não acredita que o Ministério da Educação seja inerentemente mal. “O grande problema não é o MEC, é cultural: temos um país habituado à tutela, uma viúva cujos cofres encerram tesouros infinitos para satisfazer as mais variadas demandas, corporações bem articuladas que utilizam a lei para assegurar seus ‘direitos’, e políticos ‘pragmáticos’ que cedem às pressões por dever de ofício”, critica.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/educacao/o-brasil-precisa-mesmo-de-um-ministerio-da-educacao/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

MORDOMIAS DOS EX-PRESIDENTES É MUITO GRANDE

 

Mordomias

Por
Lúcio Vaz – Gazeta do Povo

O ex-presidente Lula viajou a Cuba para gravar um documentário durante a pandemia da Covid-19.| Foto: Ricardo Stuckert

No auge da pandemia da Covid-19, os seis ex-presidentes da República torraram R$ 2,5 milhões dos cofres públicos no primeiro semestre deste ano – dinheiro suficiente para comprar 50 mil doses de vacinas. Cerca de 90% desse valor foi gasto com os salários dos 36 integrantes das equipes de apoio dos ex-presidentes – assessores, seguranças e motoristas. Quem mais gastou desta vez não foi Luiz Inácio Lula da Silva, mas Fernando Collor de Mello, hoje senador da República.

As despesas de Collor chegaram a R$ 496 mil, sendo R$ 374 mil com a remuneração da equipe de apoio. Ele gastou mais R$ 64,7 mil com passagens aéreas e R$ 39 mil com diárias para seus assessores e seguranças nas viagens pelo país, a maioria delas para Maceió, São Paulo e Rio de Janeiro. O curioso é que no mesmo período ele usou mais R$ 200 mil da cota para o exercício do mandato de senador com divulgação e passagens aéreas. E tem mais: além dos seis servidores da Presidência, ele conta ainda com 54 assessores no Senado com folha de pagamento mensal de R$ 370 mil – ou R$ 2,2 milhões no semestre.

Lula teve despesas totais de R$ 386 mil – R$ 314 com os salários da sua equipe de assessores pagos pela Presidência da República. Nem mesmo no período em que esteve preso Lula abriu mão dos seus seguranças e assessores. As despesas com diárias e passagens somaram R$ 63 mil. Não há registro de viagens pagas pela Presidência nos deslocamentos de Lula para articular a sua candidatura a presidente em 2020.


Viagens a Cuba e México
Estão incluídos nesses valores, parcialmente, as despesas com a viagem a Havana, de 21 de dezembro do ano passado a 20 de janeiro deste ano. Aquele passeio custou um total de R$ 164 mil. Cada um dos três servidores recebeu 30 diárias. Lula viajou para participar das gravações de um documentário sobre a América Latina, produzido e dirigido pelo cineasta norte-americano Oliver Stone. Mas nove integrantes da comitiva foram contaminados pela Covid, e as gravações foram adiadas. Os gastos já estavam feitos. Após receber alta, Lula reuniu-se com o presidente cubano, Miguel Díaz-Canel.

A ex-presidente Dilma Rousseff teve despesas de 460 mil, sendo R$ 400 mil com a equipe de apoio. A sua viagem mais cara foi para a Cidade do México, de 11 a 14 de maio, onde participou da cerimônia de comemoração aos 700 anos de fundação da cidade. Só as passagens e diárias para assessores custaram R$ 46 mil. Dilma afirmou durante o evento que o atual governo brasileiro “é responsável talvez por um dos maiores processos de genocídio da história da humanidade”, referindo-se aos mais de 400 mil mortos na pandemia.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não gastou com diárias e passagens nem combustível. A despesa de R$ 382 mil foi quase que exclusivamente com a equipe de apoio. Os gastos do ex-presidente José Sarney também foram concentrados nos salários de assessores, seguranças e motoristas. No total, foram R$ 367 mil.


Carros oficiais na estrada
Michel Temer fez duas viagens para Tietê e seis para Itu, no interior de São Paulo, utilizando carro oficial. Ele gastou apenas R$ 11 mil com diárias e passagens aéreas, mais R$ 11,6 mil com combustível. Os salários dos assessores e seguranças somaram R$ 386 mil. A despesa total chegou a R$ 410 mil.

Cada presidente conta com dois veículos oficiais, um deles blindado. No ano passado, em plena pandemia, a frota de 12 veículos foi trocada pelo valor total de R$ 1,3 milhão. Os motoristas também são pagos pelo contribuinte. As despesas com combustível dos ex-presidentes FHC, Lula, Dilma e Temer são pagas com cartão corporativo do governo federal. Já Sarney e Collor abastecem os seus carros “chapa branca” no Posto de Combustíveis da Presidência da República.

Fazendo a conta por tipo de despesa, os salários das equipes de apoio custaram R$ 2,5 milhões. As passagens aéreas, R$ 120 mil; as diárias, mais R$ 76 mil. O combustível consumiu mais R$ 30 mil. Há ainda despesas com tecnologia da informação, indenizações e taxas tributárias. Os ex-presidentes não botam a mão no bolso para pagar nada. Em tempos normais, sem pandemia, as despesas anuais dos ex-presidentes chegam a um total de R$ 6 milhões.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/lucio-vaz/ex-presidentes-torram-25-milhoes-reais-no-primeiro-semestre-quem-gastou-mais/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

A ENERGIA BRASILEIRA É UMA DAS MAIS CARAS DO MUNDO

Editorial
Por
Gazeta do Povo – Gazeta do Povo

A seca dos reservatórios em hidrelétricas tem feito o governo se preocupar com a necessidade de racionamento de energia.| Foto: Rubens Fraulini / Itaipu Binacional

A revista Conjuntura Econômica, da Fundação Getúlio Vargas, é conhecida por seu alto nível técnico, profundidade teórica e estudos sobre os mais variados setores, com predomínio da análise econômica fundada em dados reais. Em sua edição de junho de 2012 – portanto, há nove anos –, a revista publicou um estudo sobre a situação da oferta de energia no Brasil, que iniciava com as seguintes palavras: “Preços, impostos, encargos, carência de investimentos e incentivos a fontes alternativas e sustentáveis revelam as fragilidades da política energética brasileira”. Naquele momento, o Brasil sofria as consequências de erros na política energética e parecia que o país, sobretudo governo e os agentes econômicos que atuam no setor, estava entendendo melhor o problema e disposto a dar mais atenção aos efeitos negativos sobre a produção nacional e o crescimento econômico.

O Brasil já vinha havia tempo se destacando por ter uma combinação esquisita de um fenômeno altamente positivo (matriz energética das mais limpas do mundo) com algo bastante negativo (a terceira energia mais cara do planeta). Logo de início se identificavam duas causas para a anomalia de ter energia limpa convivendo com preços altos: os tributos elevados e vários encargos cobrados nas contas. Vale recordar alguns aspectos, porque o Brasil tem o hábito de não extirpar anomalias tributárias e, quando tenta consertar a coisa, introduz defeitos novos sem que os velhos tenham sido suprimidos.

Há tempos o Brasil exibe a combinação esquisita de um fenômeno altamente positivo (matriz energética das mais limpas do mundo) com algo bastante negativo (uma das energias mais caras do planeta)

Como os consumidores sabem, o alto valor das faturas começa com o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é um tributo estadual introduzido sobre a energia após a Constituição Federal de 1988 e, sobre o valor-base do consumo, ultrapassa um terço da conta. As altas alíquotas de ICMS sobre energia continuam e nada indica que irão se reduzir. No passado, além da introdução do ICMS, outros encargos passaram a sobrecarregar a fatura, como a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), criada para promover o setor nos estados e levar energia a todos os habitantes; a Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), instituída para compensar os custos mais elevados da energia em determinadas regiões do país; e a Reserva Global de Reversão (RGR), valor pago pelas concessionárias de geração, transmissão e distribuição para gerar caixa destinado a cobrir gastos do governo com a política energética.

Ocorre que, no Brasil, quando se extingue a cobrança de algum encargo de natureza tributária ou para outro fim específico, o governo, percebendo que o consumidor está acostumado com o alto preço da conta, arruma um jeito de não retirar os encargos antigos ou retira-os, mas impondo algum outro ônus no lugar. A estrutura de custos da energia e a sanha tributária decorrem de dois fatores: um, que a produção e a oferta de energia eram feitas por empresas estatais (monopólio legal); outro, a energia tem sua produção e distribuição estruturadas sob monopólio técnico, isto é, não é tecnicamente viável haver uma dezena de empresas de energia levando rede de fios e cabos a todos os consumidores para estabelecer competição entre elas. No futuro, as novas formas de energia que venham a dispensar postes e fios para chegarem até o consumidor deixarão de ser monopólios técnicos, mas, por enquanto, ainda predomina a rede física clássica.


Na elevação dos custos e dos preços da energia no Brasil estão presentes equívocos cuja raiz está no apagão ocorrido em 2001 que, pela grave crise hídrica derivada de enorme seca (como está acontecendo agora de novo), expôs a nação a um duríssimo racionamento do consumo comercial e residencial. Causou perplexidade na população, na época do apagão, a informação de que havia 19 usinas iniciadas e não concluídas, algumas paradas e em processo de deterioração, numa demonstração clara da grave ineficiência na administração pública no setor. Na sequência do racionamento, iniciou-se a reestruturação do setor sob nova política, em 2004, intitulada “Novo Modelo”, para elevar investimentos, concluir as obras paradas e garantir o abastecimento e manutenção de geração limpa de energia.

Atualmente, o Brasil está diante de duas crises: uma energética e outra no abastecimento de água. A crise energética está caracterizada principalmente pela energia cara, e a crise da água está nos baixos níveis dos reservatórios, situação que vem se agravando pelo período de seca que já passa de um ano e meio. A presidente Dilma Rousseff, que se dizia especialista em energia por ter sido ministra da pasta correspondente, declarou à época de seu primeiro governo que abandonaria os dogmas petistas contra as privatizações e anunciou um plano de atração de capitais privados para o setor, mas, como é costume no Brasil, passada a gravidade da crise o governo parou de falar no assunto, ou pelo menos parou de se sentir pressionado a dar solução estrutural para o drama. A atual crise hídrica, que está assustando pelo tempo longo demais sem chuvas, traz de volta o problema da água e da energia e, mais uma vez, não importando quem seja o governante ou partido no governo, se descobre que os velhos gargalos não foram resolvidos. A sociedade, que não tem como resolver a crise por sua conta, deve pelo menos gritar e pressionar os governantes para que enfrentem as soluções de uma vez por todas.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/o-velho-problema-da-energia-cara/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

 

VOTO ELETRÔNICO COM RECIBO IMPRESSO

 

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Teste Público de Segurança (TPS) 2017

Teste Público de Segurança (TPS) da urna eletrônica em 2017.| Foto: TSE
Ouça este conteúdo

Não há como deixar de saudar os atletas brasileiros na Olimpíada de Tóquio. Foram 21 medalhas – um recorde histórico. Foram sete ouros, nove pratas e 15 medalhas de bronze. Houve um grande desempenho dos atletas militares, principalmente dos da Marinha. E os baianos também.

Na Marinha, 13 sargentos levaram o ouro. A Kahena Kunze na vela; a Ana Marcela na maratona aquática; o Hebert Conceição e a Beatriz Ferreira no boxe.

Isso é algo que anima o país. O tricampeonato de futebol no México, por exemplo, animou o país a ponto de termos um milagre econômico, em que não havia desemprego, todo mundo estava trabalhando e ganhando. O país cresceu uma média de mais de 11% ao ano.

Agora, temos isso de novo. Um ouro no futebol, o nosso esporte mais popular. Que vivam os atletas. Salvem os atletas. Isso é resultado de muito esforço, muita gente treinou sob as piores condições, ainda mais com esses isolamentos da pandemia.

Doenças cardiovasculares matam mais que Covid-19
As doenças cardiovasculares já superaram a Covid-19. Esse tipo de doença, segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mata uma média de 1.100 brasileiros por dia. E agora a Covid-19 já está matando menos de mil.

Temos que cuidar muito do que mata mais. Mas não deixar de cuidar das outras doenças, é claro, como sempre deveria ter sido.

PEC do voto impresso
Vai ao Plenário da Câmara dos Deputados a decisão sobre se o nosso voto terá garantia ou não. Não se trata de voto impresso. O voto será sempre digital. O que se está pedindo para ser impresso é o comprovante do voto. Estão tentando nos enganar chamando isso de voto impresso.

O voto não é impresso, é digital. O comprovante do voto é que é impresso, para comprovação. Todos os países do mundo que adotam o voto digital têm esse comprovante. É uma garantia extra e necessária. Vejam só, aqui no Brasil, um hacker entrou no sistema eleitoral, e o próprio Tribunal reconheceu, chamou a Polícia Federal, lá no ano eleitoral de 2018. Ele ficou de abril a novembro circulando dentro do mundo digital da Justiça Eleitoral. A PF foi investigar e tinham apagado os rastros por onde ele percorreu. Isso é muito estranho. É necessário sim, e é só uma adição.

O presidente da Câmara, Arthur Lira, mostrou protagonismo, teve a coragem política de avocar para o Plenário essa decisão, que é a corte maior de decisão. Porque o poder emana do povo e eles são os representantes do povo.

O ex-presidente dos EUA, Ronald Reagan, afirmou que o Estado é um automóvel, e o povo é o motorista. Porque todo poder emana do povo. Quando Bolsonaro vai para as ruas, como aconteceu em Joinville (SC), na sexta-feira (6), enchendo a maior cidade do estado; depois vai à capital, Florianópolis, enchendo também a beira-mar – e até o próprio mar -, com moto terrestre e moto aquática, ele está indo à fonte primária do poder: o povo. No dia dos pais, também saiu pra rua, em Brasília, enchendo a cidade de motos.

É uma questão que cabe a cada candidato, eleitor, decidir se quer ou não garantia para o seu próprio voto. Um candidato pode pensar: “eu quero garantia para o voto que vão me dar?” E o eleitor: “eu quero garantia da apuração do meu voto?”.

Por três vezes a Câmara Federal aprovou por imensa maioria esse tema, e foi derrubada pela Justiça. Agora, vai outra vez para discutição. O que for decidido, obviamente será seguido por todos. Vivemos num regime em que essas coisas funcionam. Caso contrário, vai valer a força do mais forte.

“Não há motivo histórico para incendiar a estátua de Borba Gato”
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) mandou soltar o responsável pelo incêndio à estátua Borba Gato e a juíza que mandou prender em prisão temporária converteu a prisão em preventiva, para ele não sair tocando fogo em tudo por aí.

Naquele episódio, havia uma barreira de pneus atravessando a rua e que terminava em um posto de gasolina. E foi onde tocaram fogo. Imaginem só o perigo, o atentado que foi isso. Além de não ter nenhum motivo histórico pra fazer isso. Aliás, inverteram a história, chamando Borba Gato de genocida. Ele matou um representante da corte portuguesa, para defender os índios. E conviveu com os índios, morou com eles durante quase 20 anos.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/pec-do-voto-impresso-uma-garantia-extra-e-necessaria/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

RETORNO DA ESCRAVIDÃO NA PRODUÇÃO

 

Luiz Felipe Pondé
Só iniciantes se encantam com ‘avanços’ atípicos dos últimos 200 anos
Por
Por Luiz Felipe Pondé – Gazeta do Povo

| Foto: Dimitris Vetsikas / Pixabay

Não vou falar de racismo, nem do seu justo combate. Deixo o tema para aqueles que reclamam seu lugar de fala e que, aos poucos, vão constituindo um novo nicho no mercado corporativo de consultorias, palestras, workshops e MBA.

O destino da chamada esquerda identitária é repousar no marketing, no compliance e na violência corporativa clássica. E encontrará aí seu lugar de fala, como tudo que recebe as bençãos da mercadoria. Entretanto, que os afoitos da vitória das identidades não esqueçam que o capital nunca será de confiança.

Reflito aqui sobre a escravidão dissociada da ideia de raça ou da sua forma mais recente conhecida nas Américas como a escravidão dos africanos e seus descendentes.

Escravidão é um modo de produção. E como tal, poderá voltar a qualquer instante em que a economia entre em colapso e retorne aos seus modos primitivos de organização. Essa realidade, de forma alguma, diminui o necessário combate a ela enquanto forma de violência social, nem tampouco diminui o valor do esforço histórico de eliminá-la das Américas ao longo do século 19.


Catástrofe
A luta pelos direitos humanos permanece na sua inteira validade enquanto ferramenta moral e política, entretanto, em nada essa luta afeta o fundo da realidade humana em que, dadas certas circunstâncias materiais, todo o edifício reconhecido como moralmente justo pode ruir de um momento para o outro. É desse ponto de vista que olho aqui a questão da escravidão. Só iniciantes se encantam com “avanços” atípicos dos últimos 200 anos.

Reconhecer que a escravidão é um modo de produção sempre à mão carrega algumas consequências para quem queira pensar na sua existência numa chave histórica de longa duração, como diria o historiador francês Fernand Braudel (1902-1985).

Por outro lado, quando retiramos Hegel (1770-1831) do centro do materialismo histórico de Marx (1818-1883), nos resta uma forma peculiar de consciência histórica que se caracteriza por perceber que os modos materiais de produção determinam a supraestrutura social sem nenhum pressuposto de evolução ou aperfeiçoamento da relação entre senhor e escravo.

A miséria pode retomar a relação primitiva entre senhor e escravo a qualquer momento em que ela, a miséria, volte a se impor como modo de organização da produção das sociedades. Dito de outra forma: os conflitos sociais não levam a lugar nenhum a não ser a sua repetição de formas distintas e circulares.

Precisamos extirpar Hegel do coração do marxismo para reabilitá-lo como ferramenta de entendimento do mundo, caso contrário, em breve, Marx será patrono das fintechs.

Durante anos se repetia uma frase supostamente atribuída ao físico Albert Einstein (1879-1955) que era a seguinte: “Não sabemos a totalidade das armas da terceira guerra mundial, mas as da quarta serão o arco e a flecha”. Essa frase carrega em si o sentido implícito de que a destruição da ordem social conhecida dos últimos anos poderia nos levar de volta a práticas consideradas superadas no âmbito das guerras. Mas ela vale para outros âmbitos relacionados às técnicas de produção social.

A conclusão necessária dessa forma de pensamento é que não há barreiras morais ou políticas para o retorno da escravidão se, em algum momento específico da história, grandes diferenças de poder se espalharem por um mundo em desordem política e econômica. Povos mais poderosos escravizarão povos menos poderosos para atingir os mesmos fins que pareciam tão normais a homens inteligentes como Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.) e outros antigos.

Entre os séculos 16 e 19, os africanos estavam justamente nessa condição: uma reserva de vulneráveis à disposição para o uso das “plantations” das Américas. O que acabou a escravidão, por enquanto, foi o avanço técnico dos modos de produção da vida, só isso, nada mais. O combate ao preconceito é (quase) inócuo diante desse fato.

A humanidade não evolui moralmente. A ideia dessa falsa evolução, hoje tão cantada em prosa e verso, é apenas a nova forma da velha promessa de que o capitalismo seja o clímax da vida moral.

domingo, 8 de agosto de 2021

SAUDADES DE UM AMIGO

 

Saudade

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Old telephone on wooden table in front of green background. Vintage phone with taken off receiver. Vintage style photo.

Ligava toda semana. Foi o único que, apesar da distância, não me abandonou naqueles anos tenebrosos. Até que não ligou mais.| Foto: Bigstock

Ele ligava toda semana. Falávamos da vida, mais da minha do que da dele; de trabalho, mais do dele do que do meu; de política e de futebol. Eram conversas longas, entremeadas por piadas que não levavam a lugar nenhum. Ele dizia que a gente precisava registrar aquilo, que nossos diálogos eram verdadeiras “sopas de tamanco”.

Foi o único que, apesar da distância, não me abandonou naqueles anos tenebrosos. Em retrospecto, me lembro do constrangimento dele quando eu expressava alguma tragédia definitiva – que não era definitiva coisa nenhuma. Muito mais experiente do que eu, ele ria das minhas aflições. Profetizava o óbvio que eu insistia em não ouvir: vai passar. E dizia, jocosamente, que eu estava sofrendo de polzonoffite. “Mas é aguda, e não crônica”, esclarecia.

Até que não ligou mais. Demorei a perceber. Naquela época, depois de me arrastar por anos no Vale das Sombras, buscava me reerguer. E essa busca por alguma redenção passava necessariamente pela escrita. Daí porque um dia, lá pelos idos de março ou abril, decidi voltar a me arriscar na arte imprecisa de juntar lé com cré. Joguei o moletom fora; vesti calça, camisa e até gravata, me sentei numa cadeira de executivo como se fosse sério e me pus a escrever: “Este aí de pé no sofá, a corda no pescoço, pensando se dá ou não o passo definitivo, é Ernesto Unslovt, nosso protagonista e o homem que matou Luiz Inácio”.

Quando dei por mim, o romancete (novela, como me corrigiram um sem-número de chatos) estava pronto e duas ou três semanas de silêncio entre nós tinham se passado. Talvez ele estivesse viajando para entrevistar um astronauta ou um ex-líder da União Soviética. Talvez estivesse mergulhado na obra de Glauber Rocha. Talvez estivesse apenas de férias, desligado do mundo. Liguei e nada. Mandei e-mail e nada. Mensagem de texto e? Nada.

Estranhando o silêncio e o sumiço, recuperei os super poderes do repórter investigativo que nunca fui e me pus a procurar um contato em comum. Algo surpreendentemente difícil. Foi quando percebi que, apesar da nossa amizade, pouco sabia da vida pessoal dele. Fuça daqui e fuça dali, encontrei um telefone que possivelmente me esclareceria o mistério. Curioso: jamais passou pela minha cabeça que o silêncio pudesse ter a ver com uma desavença qualquer. Não tinha mesmo.

Ele havia sofrido um acidente vascular e estava internado. O pior já tinha passado, me assegurava o interlocutor. Ele deve estar em casa na semana que vem. Me lembrei imediatamente de nossas raras e superficiais conversas sobre a morte. Ele havia me falado de uma crise renal que sofrera em pleno voo. Eu já tinha ultrapassado minha quota de menções a Cioran ou aos poetas românticos do século XIX, aqueles que morriam ou de tédio ou de tuberculose.

Uma semana mais tarde, toca o telefone. É ele. Que vai me contando com excepcional leveza seu périplo. Ele conta que se lembra só de passar mal, de sentir que fazia força para resistir a um desmaio, da sala de cirurgia – e só. “Eu podia ter morrido”, disse, como se tivesse se dado conta disso só naquele momento. “Mas agora está tudo bem. E como vai a vida?”, perguntou.

Ansioso para contar ao amigo que tinha voltado a escrever e que decidira me curar de uma vez por todas da polzonoffite, falei e falei. “Me manda o livro quando estiver pronto”, pediu ele. Claro que mandaria. Falamos também de política e, sem que eu percebesse, logo estamos pondo mais pimenta na nossa tradicional sopa de tamanco.

Aí, por algum motivo que até hoje me escapa, antes de desligar ousei dizer a ele algo absurdo. “Cara, preciso te dizer uma coisa”, anunciei, aumentando o suspense. Ele esperou em silêncio. “Olha, só posso te agradecer por tudo. Por você ter ficado ao meu lado. Esse negócio aí que te aconteceu me assustou. Sei que você vai achar que é exagero, mas queria que você soubesse que te amo, cara. Você é muito importante para mim”, disse, sem esconder algum constrangimento.

Do outro lado, ele riu sua risada mais aberta. “Para com isso, rapá”, disse. Parei. Desligamos. Mandei o livro. Ficamos de conversar nos dias seguintes. E fui tratar de me reerguer. Até que, no final de uma tarde qualquer de inverno, assistindo a um telejornal, escutei da apresentadora “agora uma notícia triste” e esperei pelo pior. Que não tardou.

Faz cinco anos que meu amigo morreu.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/tem-dias-em-que-ainda-espero-o-telefone-tocar/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

SISTEMA DE SAÚDE DE CUBA FRACASSA NA PANDEMIA

 

Ditadura

Por
Helen Mendes – Gazeta do Povo

Pessoas com máscaras de proteção contra o coronavírus caminham por rua de Havana, Cuba, 29 de julho| Foto: EFE/ Ernesto Mastrascusa

Os recentes protestos em Cuba evidenciaram o descontentamento da população com as condições de vida no país. Os cubanos saíram às ruas pedir por liberdades básicas e também movidos pela insatisfação com a crise, agravada pela pandemia, que deixou muitos sem acesso a medicamentos e serviços médicos.

O sistema de saúde em Cuba é reconhecido na comunidade internacional como um caso de sucesso. Entre os dados mais celebrados estão a baixa mortalidade infantil e a alta expectativa de vida na ilha caribenha, taxas que são comparáveis às de países desenvolvidos.

Segundo as cifras oficiais, Cuba tem uma das menores taxas de mortalidade infantil do mundo, com cerca de 4,2 mortes por mil nascidos vivos. A expectativa de vida de um cubano é de 78,98 anos, maior do que a de brasileiros e similar à de nascidos nos Estados Unidos.

Porém, os dados de um regime autoritário como a ditadura cubana devem ser vistos com cautela, e há evidências de que essas estatísticas não retratem fielmente a realidade.

Dados manipulados
Há estudos que argumentam que as conquistas da saúde cubana são alcançadas com manipulação de dados e por métodos repressivos do regime. Uma pesquisa de 2018 relata que médicos em Cuba falsificam estatísticas de mortalidade infantil para manter essas taxas artificialmente baixas.

“Médicos cubanos estavam recategorizando mortes neonatais como mortes fetais tardias com o objetivo de alcançar as metas do governo para mortalidade infantil”, dizem os autores.

Além disso, médicos pressionam mulheres a fazer um aborto – ou mesmo realizam abortos sem o claro consentimento das mães – quando são detectadas anomalias fetais, que poderiam resultar em um aumento da taxa de mortalidade infantil, relata outro estudo anterior. Reduzir artificialmente os números de mortes infantis tem ainda o efeito de aumentar a taxa nominal de expectativa de vida.

Acesso desigual
Em Cuba existem hospitais de excelência, que atraem estrangeiros em busca de cuidados médicos por preços mais acessíveis do que em seus países de origem. Mas o sistema ao qual tem acesso o cidadão cubano comum é bem diferente, conforme numerosos relatos na imprensa, testemunhos e documentações.

Jaime Suchlicki, diretor do Instituto para Estudos Cubanos da Universidade de Miami (EUA), explicou a divisão do sistema de saúde na ilha.

Existem três sistemas de saúde em Cuba: o primeiro é o de serviços oferecidos para estrangeiros, parte do chamado turismo médico, que traz uma importante fonte de renda para o regime e cria a fama de superioridade do sistema de saúde do país. Os turistas pagam em dólares e são tratados em hospitais bem-equipados e comparáveis aos de “primeiro mundo”. Esses locais oferecem também tratamentos estéticos e cirurgias plásticas.

A segunda camada é a das elites cubanas: autoridades do Partido, militares, intelectuais, entre outros, recebem atendimento de excelência como o oferecido aos turistas.

Em terceiro está o sistema disponível para a população comum, que sofre com a escassez de itens básicos.

Uma reportagem da Efe em junho mostrou a situação da saúde pública no país, onde quem adoece não tem remédio para se tratar. As despensas de farmácias e hospitais da ilha estão praticamente vazias, deixando a população ainda mais vulnerável a doenças que são tratáveis.

Sem medicamentos, os cubanos contam com a solidariedade de vizinhos, que compartilham o que podem, com redes para distribuição de medicamentos com a ajuda de quem vive em outros países, e com o mercado negro – analgésicos, antibióticos, anticoagulantes e outros são encontrados por um preço até dez vezes mais alto do que o original em grupos online de venda.

A Covid-19 agravou ainda mais a situação. Cuba enfrenta o seu pior momento da pandemia, com números recordes de casos diários registrados nessa semana.

Mayi Del Valle, uma bibliotecária moradora de Ceballos, na província central de Ciego de Ávila, disse à Associated Press na quarta-feira (4) que há “cada dia mais doentes, mais mortos, um familiar, um amigo, um vizinho”.

Ela disse que há escassez de medicamentos de todo tipo e que a infraestrutura sanitária está sendo superada pela quantidade de pessoas que não encontram leitos ou não são atendidas com rapidez. “Há pessoas que estão passando pela Covid em casa a base de ervas”, lamentou.

Entrevistados disseram nesta semana à Radio Televisión Martí, uma emissora financiada pelo governo dos EUA que transmite notícias em espanhol para Cuba, que a crise aumentou o mercado negro de medicamentos e causa a superlotação de hospitais, que não têm leitos e oxigênio suficientes.

O jornal Diário de Cuba também relata a situação precária dos locais que servem para o isolamento de pessoas com suspeita de Covid-19 em Havana. São escolas e outros locais que foram convertidos em centros de isolamento e que enfrentam falta de medicamentos, equipamentos e pessoal de saúde.

Segundo a reportagem, a “péssima situação nos centros de isolamento e a falta de medicamentos está contribuindo para que cada vez mais cubanos com sintomas de Covid-19 os ocultem e façam o autoisolamento em casa, para passar a enfermidade com o apoio da família, usando medicamentos alternativos e tratando de encontrar medicamentos paliativos em grupos de vendas na internet”.

Ainda no contexto da pandemia, Cuba foi reverenciada por ser o primeiro país da América Latina a desenvolver imunizantes contra a Covid-19. São cinco vacinas, duas das quais – Soberana 02 e Abdala – estão sendo amplamente usadas na campanha de imunização da ilha. Apesar do feito científico, há muitas dúvidas sobre eficácia e segurança do fármaco.

A ditadura afirma que a Soberana 02 tem eficácia de 62% após a aplicação de duas doses, e que a Abdala – exportada para a Venezuela – tem eficácia de 92% após a aplicação de três doses. Esses dados, porém, não foram verificados por nenhuma agência reguladora renomada ou pela Organização Mundial da Saúde. Também não foram publicados em nenhuma revista científica.

Denúncia de abandono
Ativistas cubanos e jornalistas independentes denunciaram recentemente o caso de Jacqueline Borrego Cuesta, uma integrante do Movimento Opositores por uma Nova República que morreu em 10 de maio, em Havana. De acordo com essas denúncias, a mulher de 50 anos não estava recebendo atenção médica especializada por causa de seu posicionamento político e morreu desnutrida, após meses acamada em casa.

Segundo reportagem do jornalista Héctor Luis Valdés Cocho, repórter do ADN Cuba, a ativista deu entrada em hospital em 2018 após acidente vascular cerebral múltiplo que afetou grande parte de seu corpo, e fazia mais de um ano que não recebia os cuidados que a sua condição de saúde exigia. A família de Jacqueline disse ao jornalista que considera que o abandono ocorreu “porque ela era ativista”.

Segundo Valdés Cocho, sempre que o marido da ativista ia buscar ajuda na unidade de saúde de seu bairro, ouvia as mesmas “desculpas”: o pessoal do departamento de neurologia de sua localidade estava em missão ou estava atendendo pacientes de Covid-19 em outros lugares.

“Ela faleceu no próprio hospital onde supostamente deveriam prestar-lhe todos os cuidados para combater a doença que sofreu. Eles pretendem seriamente continuar a nos vender o discurso de potência médica? Pensam seriamente em continuar nos enganando?”, questionou o jornalista. “Não me cansarei jamais de desmentir o absurdo discurso de potência médica que tanto predica internacionalmente o regime cubano”.

Um outro caso similar foi denunciado em abril por ativistas cubanos. A ativista de direitos humanos Lisset Naranjo Girón, de 36 anos, morreu por insuficiência renal, “em meio ao abandono e à precariedade”, segundo a denúncia.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/protestos-e-pandemia-expoem-os-mitos-sobre-o-sistema-de-saude-de-cuba/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...