Opinião Democracia vai mal no Brasil e a culpa é do STF
Por J.R. Guzzo – Gazeta do Povo
Brasília – Manifestação em frente ao STF a favor da condenação do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (Valter Campanato/Agência Brasil)
Decisões equivocadas do STF e intromissões no dia a dia da política estão minando a democracia brasileira| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Faz parte do noticiário político de todos os dias a repetição de que a democracia no Brasil está sob ameaça direta e permanente. A oposição, a mídia e o “centro equilibrado”, que anuncia que quer salvar o país ficando distante dos “extremos”, estão convencidos que o culpado pelo desastre é o governo — claro, quem mais poderia ser? Ninguém foi capaz, até agora, de fazer uma relação objetiva e factual, uma por uma, dessas ameaças, mas e daí? O que interessa é o que se diz, não o que acontece.
Além da produção nacional, há também abundância de material estrangeiro; é obra dessas ONGs que, supostamente, monitoram a situação da democracia pelo mundo afora. O Brasil tem sido um freguês e tanto. As organizações de vigilância raramente se interessam pelo atual estado das liberdades democráticas na Venezuela, Cuba ou China, mas se escandalizam o tempo todo com o Brasil; num planeta com 200 países, vivem socando a gente entre o 190º e o 200º lugar na lista dos piores, ou coisa parecida. É uma piada, mas os nossos atuais defensores da democracia levam isso tudo terrivelmente a sério.
A única coisa que não se diz, naturalmente, é quem de fato ameaça a democracia no Brasil de hoje. Não é o Poder Executivo nem o governo federal: é o Supremo Tribunal Federal, que há bom tempo deu um golpe branco com o apoio maciço das elites, da maior parte da classe política e do mundo habitado pelos intelectuais e seus assemelhados. Cada vez mais, é o STF quem governa de fato o país: decide o que é a lei, sem levar em conta o que o Congresso possa ou não dizer, aproveita-se da subserviência, da cumplicidade e do medo que hoje reinam no Poder Legislativo, e dá a si mesmo o comando de uma ditadura de fato.
O STF prendeu um deputado federal no exercício do mandato, anulando a sua imunidade parlamentar, e um jornalista, ambos por delitos de opinião; isso faz do Brasil o único país da América Latina a ter presos políticos, ao lado da Venezuela e de Cuba. Um dos seus ministros conduz um inquérito inteiramente ilegal para apurar “atos antidemocráticos” — sem a participação do Ministério Público, operado por policiais pessoalmente comandados a ele, sem controle de ninguém, sem prazo para acabar, sem o pleno direito de defesa para os indiciados.
Agora, usando o STE, o Poder Supremo acaba de abrir um inquérito administrativo contra o presidente da República — e, ainda por cima, quer inclui-lo entre os investigados no processo ilegal sobre os “inimigos da democracia”, aquele que se coloca acima de todas as leis do Brasil. É mais um ato de guerra contra o Executivo, com a certeza de que todo mundo vai continuar de cabeça baixa.
O STF desfaz decisões do governo e leis aprovadas no Congresso, sob a alegação que são “inconstitucionais”. Interfere diretamente em qualquer área da administração pública. Opera como polícia. Investiga, acusa e julga, tudo ao mesmo tempo. Age como partido político — atendendo requerimentos da oposição, sempre que ela é derrotada em alguma votação, e mandando tanto o Executivo como o Legislativo obedecerem às ordens dos ministros.
O presidente do Senado não quer abrir a CPI da Covid, valendo-se do direito que lhe é conferido pela lei? O STF manda abrir, o Senado cala a boca e o governo passa a ser hostilizado todos os dias, durante seis meses, por uma operação política de extermínio — e que dá a si própria a licença de cometer qualquer tipo de delito na busca de seus objetivos.
A democracia, de fato, vai muito mal no Brasil de hoje — está no seu ponto mais baixo desde a revogação do Ato Institucional nº 5. O viés é de piora.
São Paulo – Usuários de drogas saem da Praça Princesa Isabel e voltam a ficar entre a Avenida Cleveland e rua Helvétia (Rovena rosa/Agência Brasil)
Guardas municipais diante de usuários de drogas na região da cracolândia, em São Paulo.| Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil / Arquivo
A defesa de certas corporações, tal como a dos jornalistas, dos professores e dos advogados, por vezes se confunde com a defesa da própria democracia. Há a confusão lícita e a ilícita. Um exemplo: se a corporação dos professores for obrigada a ensinar que não se nasce homem nem mulher, temos aí um ataque que é dirigido ao mesmo tempo contra a democracia e contra a corporação dos professores. Afinal, existe um grau de liberdade de consciência necessário aos professores para que possam trabalhar. Não cabe a políticos ou sindicalistas pelegos decidir o que é a verdade. Como a democracia precisa de liberdade para buscar a verdade, também o conjunto da sociedade seria atacado por uma proibição desse gênero. Do mesmo jeito, se um governo disser à corporação dos jornalistas que tudo o que ela publicar está sujeito a censura prévia, tem-se um concomitante ataque à imprensa e à democracia.
A confusão ilícita ocorre quando uma corporação, sabendo que o trabalho da sua profissão é essencial à democracia, trata qualquer ataque a qualquer indivíduo ou entidade como um ataque à democracia. Quando se pede que alguém explique de onde vem o dinheiro que banca a defesa de Adélio Bispo, a OAB trata isso como um ataque à democracia. Ora, qualquer um com bom-senso sabe que, em esquemas complexos, advogados corruptos servem para lavar dinheiro. Não é um ataque à democracia quebrar o sigilo de certos advogados para elucidar crimes. A contrário: ataque à democracia é deixar inexplicado o atentado à vida de um candidato à presidência que ora ocupa o Palácio do Planalto. Quem deu o álibi a Adélio Bispo na Câmara? Quem paga o seu advogado? Uma democracia deveria responder a isto.
No caso da imprensa, vimos que uma série de sites pseudonoticiosos pró-PT eram abastecidos com o dinheiro da Petrobrás, roubado pelo próprio PT. Tudo o que se diz do gabinete do ódio pode ser dito, com provas, do gabinete de Franklin Martins nos governos petistas: eram pagos pelo governo (com dinheiro roubado do povo) para dissimular “fake news” (chamadas à época simplesmente de mentiras, boatos ou meias-verdades). Seria portanto favorável à democracia a quebra do sigilo desses veículos. Não seria um ataque à liberdade de imprensa, haja vista que o motivo da quebra não era o conteúdo dos textos nem a orientação ideológica, senão o financiamento espúrio.
Novas formas de censura Como temos visto, nem sempre os ataques à imprensa vêm do poder Executivo, ou mesmo do governo. O caso do Sleeping Giants, por exemplo: eles dizem que o seu propósito é combater “fake news” e “discurso de ódio” por serem “fake news” e “discurso de ódio”, em vez de assumirem que têm preferências ideológicas e perseguem dissidentes. Seu modus operandi consiste em pedir algumas cabeças e, caso elas não sejam entregues, usar o Twitter e aplicativos de mensagem para constranger patrocinadores. As postagens do Twitter são públicas. As dos aplicativos de mensagem são de supostos ex-clientes que atendem à convocação do Twitter e dizem à empresa que vão boicotá-las por causa do patrocínio. Para mim é óbvio que é um monte de desocupado sem emprego sério que ganha umas mortadelas para fazer isso. Mas os empresários deixam na mão de departamentos de marketing, que são lotados de progressistas, e cedem.
Esta Gazeta do Povo já foi alvo dos Sleeping Giants por se recusar a entregar a cabeça de Rodrigo Constantino. Pegou mal pra eles. Depois viram Sikêra Júnior, que é bem povão, como alvo ideal. Ninguém liga pra povão, então dá pra bater. Felizmente, Sikêra e seu assessor Wallacy (vulgo Michele Obama) tramaram um ardil para pegar o Sleeping Giants: inventaram as Óticas Tambaqui, criaram uma conta nas redes sociais para ela e deram um número manauara com o WhatsApp. Em seguida, as “Óticas Tambaqui” anunciaram no programa de Sikêra. Resultado: um monte de lacrador achacou a ótica que não existia, dizendo que nem eles, nem a família jamais poriam os pés nas Óticas Tambaqui. Prova-se portanto que a força de boicote do Sleeping Giants é fake. Um fake e um engodo capaz de, na prática, censurar jornais.
O outro ataque à imprensa que temos visto é o daquela CPI em que Renan Calheiros posa de herói anticorrupção. Mais rastaquera, nem finge que há imparcialidade ideológica: diz que Bolsonaro é genocida, que mata todo mundo com fake news, de maneira que uma meia dúzia de veículos que não está contra eles é infame e deve ter o sigilo quebrado. Desta vez esta Gazeta do Povo passou incólume. A Jovem Pan foi alvejada, mas deram pra trás.
Se quebrarem o sigilo e encontrarem cidadãos e empresas, há alguma dúvida de que o Sleeping Giants vai atrás dos patrocinadores?
Até preventivamente, o ardil de Sikêra Jr. deveria ser espalhado aos quatro ventos. Ô Sikêra, deixe Polzonoff lhe entrevistar!
Descobertas possíveis Mas toda essa conversa de quebrar sigilo me traz à mente a descoberta mais podre que poderia haver por detrás de qualquer veículo de imprensa, ONG, partido político ou braço da Igreja: dinheiro de tráfico.
Em junho deste anos, a Folha de São Paulo fez uma matéria muito interessante sobre os lucros do PCC. A Inteligência da Polícia Civil de São Paulo descobriu que o PCC lucra mais com a venda de crack na Cracolândia do que com a venda de cocaína em Higienópolis: “o quilo do crack está sendo comercializado no varejo pelos criminosos por até R$ 45 mil. Em comparação, traficantes conseguem até R$ 30 mil com o quilo de cocaína em regiões nobres de São Paulo, como Higienópolis, Pinheiros ou Itaim Bibi –mesmo quando a cocaína tem alto grau de pureza, segundo especialistas. Espécie de sobra da produção da cocaína, o crack por muito tempo foi visto com certo temor pelo próprio PCC. Os chefes da facção proibiram por anos o acesso desse tipo de droga ao sistema penitenciário por causa de seu alto poder destrutivo. Embora seja subproduto da cocaína, seu valor elevado na cracolândia decorre de dois fatores: a falta de concorrência (só o PCC pode vender ali) e a sensação de segurança que os usuários sentem ao comprar e consumir entorpecentes no local sem serem incomodados pela polícia. ‘Por mais incrível que pareça, a pessoa tem a segurança de consumir na cracolândia. Olha que absurdo, que contrassenso. Ali, eles têm a polícia em volta. A GCM [Guarda Civil Metropolitana] e a Polícia Militar. Além de comida, serviço social. Eles têm ali todo um aparato público em que a pessoa tem a segurança de consumir muito maior do que em um biqueira’, disse o delegado Roberto Monteiro, delegado seccional da região central.”
Paralelo a isso, ganhou os noticiários mundo-cão (eu vi em Sikêra) o caso da Princesinha da Cracolândia. Uma moça bem bonita, de classe média, de apenas 19 anos, foi presa por envolvimento com o tráfico, e somos informados de que a criatura ganhava meio milhão de reais por mês segundo a polícia vendendo crack na cracolândia.
Então vocês têm uma ideia das dimensões do dinheiro do tráfico, bem como dos interesses que há na manutenção tanto das leis pró-bandido, quanto da crença de que tráfico surge por geração espontânea entre os pobres. Com tanto dinheiro, seria muito estranho que o tráfico não comprasse jornalistas, emissoras, partidos e religiosos. É apenas de lastimar que o MP não foque em descobrir indícios de tais coisas para, aí sim, pedir quebra de sigilo de maus jornalistas e maus veículos de imprensa, que trabalham contra a democracia.
Há cerca de 150 anos, os primeiros passos rumo a uma matriz energética global sustentável eram dados
Guy Perelmuter, O Estado de S.Paulo
A US Energy Information Administration (EIA, Agência de Informação de Energia) faz parte do Departamento de Energia dos Estados Unidos, e é responsável pela obtenção e análise de informações sobre o setor. De acordo com a entidade, em 2013 o mundo consumiu cerca de 567 EJ (um exajoule é aproximadamente equivalente à energia contida em 174 milhões de barris de petróleo). A energia solar absorvida pela atmosfera, oceanos e continentes a cada 90 minutos é de cerca de 660 EJ. Em outras palavras, a Terra recebe mais energia em uma hora e meia do que sua população consome em um ano. Os desafios tecnológicos para transformar este potencial em eletricidade residem, entre outros fatores, nos próprios painéis solares, que atualmente atingem entre 15% e 25% de eficiência na conversão da radiação solar em eletricidade (há casos em que taxas de 40% são alcançadas) e na capacidade de armazenamento de energia das baterias.
Vimos aqui que a primeira tentativa documentada de transformar energia solar em eletricidade é de 1883, quando Charles Fritts – morador de Nova Iorque – relatou que “revestir selênio com uma fina camada de ouro produz uma corrente contínua, constante e de força considerável”. A eficiência da conversão não chegava a 2%. Em setembro de 1888, o químico e engenheiro inglês naturalizado norte-americano Edward Weston (1850-1936) recebeu duas de suas trezentos e trinta e quatro patentes nos EUA por sua invenção para “transformar a energia radiante derivada do sol em energia elétrica ou, por meio da energia elétrica, em energia mecânica”. Menos de dez anos depois, em agosto de 1897, foi a vez de Harry Reagan patentear as baterias térmicas (que, como o próprio nome diz, armazenam energia térmica e não eletricidade).
Desafios tecnológicos para transformar o raio solar em eletricidade residem, entre outros fatores, nos próprios painéis solares. Foto: Felipe Rau/Estadão
Uma curiosidade científica pouco conhecida é que Albert Einstein (1879-1955) ganhou o Prêmio Nobel de Física de 1921 “por seus serviços à Física Teórica, e especialmente por sua descoberta da lei do efeito fotoelétrico”. Este é justamente o efeito observado quando luz com um nível mínimo de energia atinge um metal e “liberta” um elétron (que passa a ser chamado de fotoelétron), e é o motivo pelo qual painéis solares funcionam.
Foi em 1954 que Daryl Chapin, Calvin Fuller e Gerald Pearson – três cientistas do famoso Bell Labs, de onde surgiram múltiplas tecnologias revolucionárias como o transistor, o laser e o sistema operacional UNIX – criaram a primeira célula solar capaz de converter energia solar em quantidade suficiente para fornecer energia para um equipamento elétrico através de uma célula fotovoltaica de silício. A eficiência obtida na conversão da energia solar em energia elétrica era de cerca de 6%. Ao longo dos últimos cinquenta anos, avanços em ciências de materiais e em manufatura permitiram o incremento gradual deste percentual, que deve seguir aumentando. O custo por watt das células fotovoltaicas despencou de US$76,00 em 1977 para US$0,30 em 2015 – uma redução de 99,6% – segundo dados da Bloomberg New Energy Finance e da EnergyTrend.
No segmento de geração de energia, um dos conceitos fundamentais para avaliação de uma tecnologia é o “custo nivelado da energia” (LEC, levelized cost of energy), que procura representar a receita média necessária para recuperar os custos de construção e operação de uma usina. As decisões de investimento em fontes renováveis ou não-renováveis passam por esse conceito, e seus desdobramentos são importantes para que possamos atuar em um dos principais causadores do efeito estufa – quando gases na atmosfera impedem que raios solares refletidos a partir da superfície do planeta voltem para o espaço, causando assim o aquecimento global. Dados da plataforma Climate Watch indicam que em 2018 as emissões globais de gases de efeito estufa eram equivalentes a 48,94 bilhões de toneladas de CO2, sendo a geração de energia elétrica responsável por quase um terço deste valor (ou 15,59 bilhões de toneladas de CO2 equivalente).
A importância deste tema não pode ser subestimada, considerando-se a crescente demanda por energia em nossa sociedade. Na próxima coluna, iremos falar sobre as tecnologias e os custos de geração de eletricidade. Até lá.
*FUNDADOR DA GRIDS CAPITAL E AUTOR DO LIVRO “FUTURO PRESENTE – O MUNDO MOVIDO À TECNOLOGIA”, VENCEDOR DO PRÊMIO JABUTI 2020 NA CATEGORIA CIÊNCIAS. É ENGENHEIRO DE COMPUTAÇÃO E MESTRE EM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Votação na comissão especial ficou para esta quinta-feira
Felipe Frazão, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA — A comissão especial da Câmara sobre reforma política desistiu de analisar nesta madrugada a mudança no sistema de votação de deputados federais, estaduais e distritais para a eleição de 2022. O texto substitutivo da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 125/2011 institui a adoção do modelo “distritão” no lugar do atual sistema “proporcional”, mas não houve consenso para votação.
Sem acordo entre líderes dos partidos, o presidente da comissão especial da PEC, Luís Tibé (Avante-MG), sugeriu que fosse votado um requerimento de retirada de pauta, de forma simbólica. O debate será retomado nesta quinta-feira, 5, às 14 horas. “Vamos distensionar e tentar construir um acordo”, disse Tibé.
O plenário da Câmara dos Deputados em Brasília Foto: Pablo Valadares / Agência Câmara
Parte dos deputados tem interesse em levar a discussão direto para o plenário da Câmara, como disse Aluísio Mendes (PSC-MA), aliado do presidente Jair Bolsonaro. Para ter efeitos, a PEC precisa passar por duas votações no plenário, com pelo menos 308 votos em cada. O mesmo deve ocorrer no Senado. As mudanças nas regras têm de ser realizadas pelo menos um ano antes da eleição, marcada para outubro de 2022.
A sessão começou pouco antes das 23 horas e iria entrar pela madrugada, em horário incomum, o que dificultaria o acompanhamento pela sociedade. Deputados contrários ao sistema, governistas e oposicionistas, reclamaram da operação “na calada da noite”. Eles criticaram a discussão às pressas e alertaram que os parlamentares podem se arrepender.
“Essa discussão açodada e repentina, no momento em que diversos outros temas de interesse da população estão sendo discutidos, como a reforma tributária e a pandemia, nos constrange”, disse Capitão Wagner (PROS-CE).
A relatora da proposta, deputada Renata Abreu (SP), que é presidente nacional do Podemos, sugeriu alterações de última hora no texto, mas depois desistiu de formalizá-las por falta de consenso. Abreu chegou a propor a adoção do “voto preferencial”, o que implicaria o fim do segundo turno em eleições para presidente, governador e prefeito, mas recuou. Nesse modelo, o eleitor vota não apenas em um candidato a presidente, mas em até cinco, em ordem de preferência.
O “distritão” já foi rejeitado duas vezes pelo plenário da Câmara, durante votações de minirreformas eleitorais. Em 2015, atingiu somente 267 votos. Em 2017, foram apenas 238 votos.
No modelo “distritão”, os candidatos disputam votos em todo o Estado, que passam a ser considerados distritos, com a mesma quantidade de vagas no parlamento atual. No caso de São Paulo, seriam eleitos apenas os 70 mais votados da lista final para a Câmara, desprezando-se os votos recebidos pelos demais.
A tendência é que a campanha para deputado se assemelhe com a de governadores, prefeitos, senadores e presidente. Passa a ser majoritária e dificulta a representação da diversidade social no Legislativo.
“Esse modelo acaba com a fidelidade partidária. Será a anarquia total”, disse o deputado Henrique Fontana (PT-RS). “Esse sistema é a Disneylândia do abuso do poder econômico. É uma espécie de garantia da reeleição.”
No sistema proporcional, usado atualmente, o eleitor pode votar tanto em partidos quanto em candidatos. A Justiça Eleitoral calcula o quociente eleitoral, levando em conta somente os votos válidos e a quantidade de cadeiras em disputa em cada Estado. A partir desse quociente é feita a definição do número de vagas a que cada coligação ou partido isoladamente terá direito. Elas são ocupadas pelos mais bem votados das listas.
A expectativa de políticos é que esse sistema, se aprovado, venha a privilegiar candidatos famosos, os atuais “puxadores de voto”, como artistas em geral, líderes religiosos, jogadores de futebol, youtubers, influenciadores digitais, apresentadores de TV e locutores de rádio. Na contramão, a previsão é que reduza o poder de partidos políticos.
A pressão pela troca do sistema vem de dirigentes de partidos ameaçados de ficar sem acesso a recursos públicos por causa da cláusula de desempenho mínimo, vigente desde 2018, e que já levou à fusão de legendas. Os dirigentes de partidos médios e grandes são contra, pois tendem a perder poder político com a alteração.
As alterações nas regras eleitorais para 2022 ganharam fôlego depois que o presidente Jair Bolsonaro abriu o Palácio do Planalto ao Centrão, com a posse do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) como ministro da Casa Civil. Ele é aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e da deputada Margareth Coelho (Progressistas-PI), que encabeçou as discussões.
Em outros projetos, a Câmara também debate a adoção do voto impresso, bandeira de Bolsonaro, o veto à divulgação de pesquisas de intenção de voto às vésperas das eleições, autorização de uso do Fundo Partidário para qualquer tipo de despesa, redução de mecanismos de fiscalização e blindagem a candidatos de punições mais graves.
Não há como negar o fato de que quase todas as grandes empresas pretendem trabalhar ou já trabalham com marketing digital. Com o avanço cada vez mais rápido da tecnologia e a demanda por profissionais superando a oferta, existem muitas oportunidades para quem deseja estudar marketing digital.
Mas será que esse hype vai mesmo durar? Continue lendo para aprender mais sobre o marketing digital e entenda quais são as previsões para essa área.
O que é o marketing digital?
O marketing por si só tem a ver com as atividades e processos que criam, comunicam ou entregam ofertas de valor para os clientes ou consumidores. Quando ele se torna digital, a diferença é a plataforma em que ele opera (no caso, na internet).
O marketing digital é um campo bem grande, com muitas estratégias e especialidades para ajudar a conectar uma marca com o seu público.
Branding, marketing de conteúdo, anúncios, otimização de mecanismos de pesquisa (SEO) e e-mail marketing, por exemplo, fazem parte do marketing digital. Os resultados normalmente acabam sendo mais baratos para as empresas do que no marketing tradicional (como comerciais de TV, por exemplo).
Afinal, vale a pena estudar marketing digital?
É necessário lembrar o clichê que você já viu muito, mas é real: o mundo está se tornando mais conectado do que nunca.
O recente “boom” de dispositivos como smartphones, smartwatches e smart TVs aumentou o alcance dos departamentos de marketing digital e solidificou ainda mais sua importância dentro de uma empresa.
Algumas pessoas podem pensar que o hype do marketing digital pode ter saturado a área, mas não é bem assim. Como hoje muitas empresas estão disputando o “território online” e a atenção dos consumidores, as estratégias precisam ser cada vez mais refinadas e os setores de marketing só tendem a crescer.
Além disso, estudar marketing digital pode abrir muitas portas para outras oportunidades de carreira – e pode ser essencial para quem quer abrir ou já tem um negócio próprio.
Como estudar marketing digital sozinho?
Num mundo em que o Google nos mostra praticamente tudo, aprender marketing digital sozinho pode ser uma alternativa bem interessante.
Mas antes vale um aviso super importante: cuidado com suas fontes! Nos últimos anos surgiram muitos profissionais que se colocam quase como “gurus” do marketing digital e prometem ensinar métodos super eficazes em cursos e workshops, mas nem todos são realmente bons.
Veja algumas sugestões de como você pode aprender marketing digital sozinho de uma maneira mais eficiente:
1 – Blogs
Uma coisa que a internet faz bem é produzir conteúdo de qualidade, basta saber onde procurar. Algumas dicas de blogs bem legais para aprender mais sobre o assunto são: Think With Google, HubSpot e Neil Patel.
2 – Participar de eventos
Agora na pandemia, muitos profissionais estão se reunindo em webinars para falar sobre marketing digital e você pode conferir de perto várias discussões sobre o tema. O Facebook mesmo sempre faz esse tipo de evento.
3 – Cursos
Invista em cursos que irão te conectar com o mundo profissional. Isso é essencial para que o conhecimento seja consolidado e você “saia da teoria”. Além disso, vale também conferir se o curso é certificado pelo Ministério da Educação e quem são os professores e mentores.
Como se destacar no mercado?
Ainda que a área de marketing digital tenha muitas oportunidades em diversas frentes, os cargos mais altos e melhores salários pedem o óbvio: especialização e conhecimento. Com o “boom” desse mercado nos últimos anos, muitos profissionais entraram em empresas sem muito conhecimento e acabaram trazendo estratégias ineficazes.
Um profissional que se formou em Marketing na graduação, por exemplo, dificilmente terá todo o conhecimento necessário para liderar um projeto todo estruturado no Marketing Digital.
Por isso, para se destacar no mercado hoje é preciso ir além do conhecimento básico e estar sempre (sempre mesmo, é sério!) atualizado com as novas tendências do Marketing Digital.
A internet é extremamente rápida e as tendências vêm e vão num piscar de olhos. Bons profissionais de marketing não se lamentam por ter que mudar suas estratégias, mas conseguem enxergar oportunidades em todas as novidades que estão surgindo.
Esse curso foi desenhado para que os profissionais ligados ao Marketing – de líderes seniores a jovens changemakers – possam desenvolver suas grandes ideias e network, resolver problemas complexos, e conferir experiências superiores a seus clientes de maneira sustentável.
Os participantes são desafiados a desenvolverem insights críticos para qualquer tipo de negócio e a entender a fundo a dinâmica de métricas e indicadores de performance para o setor de marketing e para toda a organização.
5 motivos para estudar marketing digital
Se você ainda está em dúvida se vale a pena ou não estudar marketing digital, olha só esses dados sobre a área e veja alguns (bons) motivos para se especializar nela:
1 – Aumento do e-commerce
Uma pesquisa da empresa McKinsey descobriu que a pandemia acelerou a adoção do e-commerce em 10 anos em apenas 3 meses.
2 – Investimento no mercado
Segundo o relatório “Global Digital Advertising and Marketing Industry”, desenvolvido pela empresa Global Industry Analysts, estima-se que o mercado do marketing digital atingirá o valor de 640 bilhões de dólares em 2027 (ele ficou em $ 322,5 bilhões em 2020).
O marketing digital tem uma vantagem em relação às outras carreiras, que é a versatilidade. Com o conhecimento necessário você pode transitar da área criativa à área mais analítica com tranquilidade.
5 – Up na carreira
Mesmo que você não queira trabalhar diretamente com marketing digital, ele ainda pode te proporcionar um destaque no mercado de trabalho. Ele pode impulsionar o seu lado empreendedor e te ajudar na atração de clientes em qualquer área.
QUEM SOMOS
A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.
Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.
A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.
Diferenciais
Eficiência:A ValeOn inova, resolvendo as necessidades dos seus clientes de forma simples e direta, tendo como base a alta tecnologia dos seus serviços e graças à sua equipe técnica altamente capacitada.
Acessibilidade:A ValeOn foi concebida para ser utilizada de forma simples e fácil para todos os usuários que acessam a sua Plataforma Comercial , demonstrando o nosso modelo de comunicação que tem como princípio o fácil acesso à comunicação direta com uma estrutura ágil de serviços.
Abrangência:A ValeOn atenderá a todos os nichos de mercado da região e especialmente aos pequenos e microempresários da região que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.
Comprometimento:A ValeOn é altamente comprometida com os seus clientes no atendimento das suas demandas e prazos. O nosso objetivo será atingir os 766 mil habitantes do Vale do Aço e poder divulgar para eles os produtos/serviços das empresas das diversas cidades que compõem a micro-região do Valeo do Aço e obter dos consumidores e usuários a sua audiência.
Missão:
Oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes, respeitando a sociedade e o meio ambiente.
Visão:
Ser uma empresa de referência no ramo de prestação de serviços de Tecnologia da Informação na região do vale do aço e conquistando relacionamentos duradouros.
Valores:
Integridade – Ética e Transparência
Responsabilidade – Profissional, ambiental e social
Urna eletrônica x voto impresso Por Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Cerimônia de diplomação do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Presidente Jair Bolsonaro, durante cerimônia de diplomação no Tribunal Superior Eleitoral, em dezembro de 2018| Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
A mais nova ofensiva do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Jair Bolsonaro chamou a atenção da comunidade jurídica pelo ineditismo: pela primeira vez, a Corte abriu um inquérito administrativo contra o presidente da República e ainda pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) para inclui-lo entre os alvos do inquérito das “fake news”, aberto em 2019 para apurar ofensas e ameaças aos ministros.
A Gazeta do Povo consultou advogados que acompanham o caso para entender a legalidade desses atos, levando-se em conta, sobretudo, os diversos questionamentos sobre a regularidade da investigação do STF, aberta de ofício há dois anos, sem participação efetiva do Ministério Público e conduzido com mão de ferro pelo ministro Alexandre de Moraes. Nesta quarta-feira (4), o ministro aceitou a notícia-crime do TSE e incluiu o presidente como investigado no inquérito.
Quanto ao inquérito administrativo do TSE, a avaliação geral é de que ele tem embasamento legal mais sólido que o inquérito das fake news que tramita no Supremo.
Enquanto este último foi baseado exclusivamente num artigo do Regimento Interno da Suprema Corte — que permite a instauração para apurar infração ocorrida nas dependências do tribunal —, o novo inquérito do TSE está previsto num leque mais amplo de normas.
Ex-ministro do TSE, o advogado Henrique Neves, cita, por exemplo, dois artigos da Lei das Inelegibilidades, que dão ao corregedor-geral da Justiça Eleitoral o poder de investigar abuso do poder econômico ou político e uso indevido meios de comunicação social em benefício de candidato ou de partido político.
Diz o artigo 19 da Lei 64, de 1990: “as transgressões pertinentes à origem de valores pecuniários, abuso do poder econômico ou político, em detrimento da liberdade de voto, serão apuradas mediante investigações jurisdicionais realizadas pelo Corregedor-Geral”.
Já o artigo 22 segue linha semelhante: “qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político”.
A figura do corregedor é uma diferença crucial. Ele não existe no STF, mas está presente no TSE justamente para investigar ilícitos eleitorais. O Regimento da Corte Eleitoral diz que cabe a ele, que é um dos ministros, zelar pela fiel execução das leis, tomar providências para sanar ou evitar abusos e irregularidades e requisitar a colaboração de autoridades para essa missão.
“Não tem a mesma discussão que existe no Supremo, onde o inquérito é baseado em poderes implícitos, normas regimentais. Tem artigos na lei que dizem que o corregedor pode investigar qualquer abuso ou fraude”, explicou Henrique Neves à reportagem.
No STF, o inquérito das fake news foi questionado pela designação sem sorteio de Alexandre de Moraes como relator. Ao contrário do corregedor do TSE, o relator de um inquérito no Supremo não pode, por conta própria, determinar diligências de uma investigação, como buscas e apreensões e quebras de sigilo.
Em geral, essas medidas são pedidas pelo Ministério Público e pela polícia, cabendo ao relator somente autorizá-las se verificar que elas são necessárias e atendem a requisitos legais. No caso de Moraes, a maioria dessas diligências são pedidas por um grupo de policiais federais de sua confiança, designados por ele para tocar a investigação.
“Que existe a possibilidade de a Corregedoria fazer uma investigação preliminar sobre os fatos, não tenho dúvida. É diferente do inquérito das fake news. Um é feito pelo corregedor da Justiça Eleitoral, outro é o inquérito das fake news, em que a vítima, que é o ministro do Supremo, vai ser relator da investigação. O inquérito administrativo é diferente, para averiguar o que está sendo feito contra o sistema democrático e as eleições”, diz Danyelle Galvão, criminalista e doutora em processo penal pela USP.
Participação do Ministério Público Ao contrário do que ocorreu no inquérito das fake news, desta vez, ao menos até este momento, o Ministério Público não manifestou oposição ao inquérito aberto no TSE. A Gazeta do Povo apurou que a iniciativa de abrir a investigação, que partiu do corregedor-geral, Luís Felipe Salomão, pegou a Procuradoria-Geral da República (PGR) de surpresa.
Mesmo assim, nada indica que haverá contestação. Quem atua em nome do órgão no TSE é o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet Branco, recém-empossado no cargo. Ele ainda deve aguardar o inquérito chegar em suas mãos para avaliar de que modo o MP vai participar da investigação.
Na sessão da última segunda-feira (2), quando os ministros aprovaram por unanimidade a abertura do inquérito, sem tocar no assunto, Paulo Gonet fez uma breve manifestação. Apresentou-se, cobriu o tribunal de elogios e falou sobre o papel do MP Eleitoral.
“O Ministério Público também está pronto para reagir, por todos os meios próprios, contra os excessos ruinosos ao funcionamento das instituições eleitorais e à normalidade constitucional”, disse na sessão.
Analista do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão (TRE-MA) e secretário-geral da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), Volgane Carvalho diz que o MP vai poder participar da investigação, não como protagonista, mas para fiscalizar a legalidade dos atos.
Ele diz que a abertura do inquérito, mesmo sem iniciativa do MP, não configura abuso de poder. “Está de acordo com as normas regimentais que estão postas e tem embasamento sólido. E como a investigação, por si só, não tem possibilidade de gerar punição, não vejo problema”, diz Volgane, que é mestre em direito eleitoral pela PUC do Rio Grande do Sul.
Como mostrou nesta terça-feira (3) a Gazeta do Povo, a investigação serve somente para a coleta de provas de possível cometimento de atos ilícitos eleitorais, por Bolsonaro, nas acusações não comprovadas de fraude no sistema eletrônico de votação. Eventuais punições ao presidente na seara eleitoral — como multas e mesmo a inelegibilidade — só são possíveis dentro de ações separadas, que teriam que ser apresentadas a partir de julho do ano que vem, depois que ele for oficializado como candidato à reeleição.
Membro fundador da Abradep, o advogado eleitoralista Guilherme Barcelos defende a instauração do inquérito, por entender que é uma forma de defesa do próprio TSE, que, segundo ele, é quem garante a legitimidade do processo eleitoral. Ele diz, no entanto, ver com “certa inquietação” a abertura da investigação sem consulta ao MP.
“Não quer dizer que ações não deveriam ser tomadas ou, mais claramente, que a Justiça Eleitoral e o sistema de votação não necessitassem de uma defesa mais contundente. Porém, há mecanismos outros que poderiam ter sido acionados, pela Justiça Eleitoral ou por outros atores. Por exemplo: requisição de instauração de procedimento preparatório eleitoral direcionada ao Ministério Público Eleitoral, representação por propaganda eleitoral antecipada, etc. O próprio Código de Processo Civil possui um complexo sistema de tutelas inibitórias, plenamente aplicável ao processo judicial eleitoral. Há alternativas, várias alternativas”, diz Barcelos.
“Me preocupa, portanto, essa iniciativa, sobretudo porque, amanhã ou depois, o TSE poderá estar julgando demandas instruídas com elementos probatórios colhidos por ele próprio, como que a partir de uma espécie de confusão entre acusação e juiz”, conclui.
Bolsonaro no inquérito das fake news Apesar de questionarem severamente a existência e a forma de condução do inquérito das fake news, advogados consultados pela reportagem não apontaram problemas na notícia-crime enviada pelo TSE a Alexandre de Moraes para incluir Bolsonaro na investigação criminal, que corre no Supremo.
“Notícia-crime é a mesma coisa que boletim de ocorrência, não vincula a autoridade que vai receber. O que o TSE fez foi comunicar a existência de fatos, que podem ser criminosos para que o STF eventualmente apure. Em nenhum momento, o ministro Luís Roberto Barroso faz um julgamento que os fatos são criminosos ou que o Bolsonaro tem responsabilidade. Ele está comunicando sobre novos acontecimentos”, diz a criminalista Danyelle Galvão.
No documento, de apenas uma página, Barroso apenas encaminhou a Moraes o link da transmissão ao vivo de Bolsonaro da última quinta-feira (29), na qual o presidente apresentou uma série de suspeitas de fraude nas urnas eletrônicas já desmentidas pelo próprio TSE. Ele admitiu não ter provas, mostrando somente vídeos com indícios que circulam há anos na internet.
Na live, Bolsonaro ainda acusou Barroso de interferir no processo legislativo para que a Câmara rejeite o voto impresso. Em junho, o ministro foi à Câmara debater o assunto a convite dos deputados da comissão especial que analisa a proposta sobre o assunto.
“O encaminhamento é certíssimo. Talvez tenha sido o que faltou lá atrás na abertura do inquérito: o ofendido pedir a investigação sobre essa ofensa”, diz Marilda Silveira, advogada com larga experiência no TSE.
Ela ressalta, no entanto, que é possível à defesa de Bolsonaro questionar a inclusão do caso no inquérito das fake news, conduzida por Moraes, e pedir a livre distribuição para que outro ministro sorteado investigue.
“Essa investigação é muito específica, para apurar ofensas ao TSE relacionadas à prática de fraude nas urnas eletrônicas. Pode-se argumentar que não tem a ver com fake news e a ameaças à instituição do STF, objeto do inquérito das fake news”, diz Marilda Silveira.
“Estratégia ingênua” Advogado do PSDB em eleições passadas, Ricardo Penteado tem uma visão mais crítica da iniciativa do TSE. Do ponto de vista técnico, ele considera que a Corregedoria Eleitoral, quando investiga abuso de poder, o objetivo não é defender a Justiça Eleitoral, mas reequilibrar uma disputa eleitoral em que um dos candidatos tenta tirar vantagem de seus adversários.
Mas Penteado vai além: considera que a investigação aberta pelo TSE é um erro institucional. Ele considera que as acusações de Bolsonaro contra as urnas são mais graves, pois ameaçam, em sua visão, o próprio regime democrático. Por isso, mereceriam uma resposta do Congresso num processo de impeachment, e não uma reação do TSE.
“Malgrado tenha lindas intenções, essa ação lida de forma ingênua com algo muito mais grave. Estamos lidando com ataque ao sistema democrático. A resposta tem que ser institucional e não individual. Está tentando punir um só indivíduo e não o ataque. Bolsonaro está atacando um dos Poderes, a administração eleitoral, que só compete ao Judiciário. O mediador desse conflito, segundo a Constituição e a lei dos crimes de responsabilidade, é o Legislativo”, diz o advogado.
Para ele, a iniciativa do TSE tende a deixar o Congresso e a PGR ainda mais inertes para enfrentar as ameaças de Bolsonaro às eleições. Ele acha que interessa a Bolsonaro continuar acusando fraudes nas urnas, de modo a forçar o TSE a declarar sua inelegibilidade para alimentar o discurso de que foi vítima de uma perseguição do “sistema”.
“Para quem sabe que tem grande chance de perder a eleição, resta o discurso de que ‘fui roubado’. E se alguém pregar nele uma pena de inelegibilidade, é o que ele mais quer. As pessoas tentam estratégias ingênuas como essa, de que isso [a investigação] teria poder dissuasório. Não vai. Ele quer esticar a corda até arrebentar. Para dizer ‘agora sim, você está me tirando num ato de violência, porque eu não fiz nada’”, reflete Penteado.
A estratégia do presidente, para ele, ainda passa por transformar os ataques às urnas numa rixa individual com o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.
“Os políticos estão usando o TSE como boi de piranha e o TSE está aceitando esse papel. O Centrão está adorando, porque enquanto o Bolsonaro estiver brigando com o Barroso, eles fazem o que querem. Enquanto isso, a imprensa não está apertando o procurador-geral para denunciar o presidente, pressionando os deputados por impeachment. Foi a coisa mais desmobilizadora que poderia ter acontecido no nosso cenário”, afirma.
Para ele, caso o Congresso não se mobilize para abrir um impeachment de Bolsonaro, a saída passa pela pressão dos ministros sobre o PGR Augusto Aras para denunciar Bolsonaro por crimes comuns. “Representa para o procurador-geral, ele tem que fazer alguma coisa. Não está fazendo nada? Então pede o impeachment dele também”.