quarta-feira, 28 de julho de 2021

BALANÇO DOS 100 DIAS DA NOVA DIRETORIA DA PETOBRAS

 

Por
Isabelle Barone – Gazeta do Povo

O Diretor-Geral da Itaipu Binacional, Joaquim Silva e Luna, participa de audiência pública na comissão de minas e energia da Câmara dos Deputados.

O general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A gestão do general da reserva Joaquim Silva e Luna à frente da Petrobras completou 100 dias nesta terça-feira (27). Ele foi indicado ao cargo em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro, que estava insatisfeito com a política de preços dos combustíveis realizada pela presidência anterior, sob comando do economista Roberto Castello Branco, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A chegada do general ao comando da petroleira marcou uma mudança significativa na composição do conselho da petroleira e de boa parte da diretoria da estatal. A transição, num primeiro momento, pegou o mercado de surpresa e gerou temores entre os stakeholders sobre possíveis interferências do Planalto na política de preços. Interlocutores também especulavam sobre como seria conduzida a agenda de desinvestimentos e investimentos sob o comando do novo presidente da estatal.

Mas já na posse Silva e Luna afirmou que buscaria reduzir a volatilidade de preços, sem desrespeitar o alinhamento com os preços internacionais dos combustíveis. Ele indicou a intenção de conciliar interesses dos consumidores e de acionistas, valorizando os trabalhadores. Afirmou ainda que sua administração focaria na redução da dívida e no investimento em pesquisa e desenvolvimento.

“Vamos buscar reduzir a volatilidade [mudanças bruscas dos preços nas refinarias, em curtos prazos], sem desrespeitar a paridade internacional [alinhamento com os preços externos]”, disse o general à época, citando a principal causa dos preços mais alto nas bombas de combustível.

Agora, em um balanço dos 100 dias de gestão, analistas avaliam que a troca não tem sido satisfatória do ponto de vista da paridade de preços, como havia sido sugerido pelo presidente Jair Bolsonaro à época da indicação de Silva e Luna.

Bolsonaro ainda se vê num dilema de tentar agradar investidores, num aceno à agenda liberal, e à população, em especial aos caminhoneiros autônomos, importante base eleitoral do bolsonarismo.

Em julho, a gasolina e o diesel atingiram seu preço mais alto nos postos de combustível desde o início do ano, e os caminhoneiros já ameaçam realizar uma nova greve. A categoria critica o governo federal por não propor medidas que viabilizem a redução do preço do óleo diesel, e a Petrobras, por manter a política de preços. A gasolina, por exemplo, já subiu 27,8% e o diesel, 27,3%, em 2021.

Muitos analistas esperam pelo lançamento do novo plano estratégico da petroleira, normalmente feito na virada de novembro, quando, segundo eles, será possível ter uma noção mais clara quanto à estimativa de curva de produção, demanda e recursos que vão ser investidos no pré-sal sob a gestão de Silva e Luna. O último plano quinquenal feito pela gestão de Castello Branco, por exemplo, dava peso significativo ao setor de exploração e produção, especialmente do pré-sal.


Paridade internacional de preços e previsibilidade na gestão
Para analistas, a política de Silva e Luna, em comparação com a de Castello Branco, embora tente atenuar a volatilidade nos preços, continua seguindo os parâmetros do petróleo do mercado internacional, o que pressiona os valores dos combustíveis na bomba. Na prática, houve apenas uma ampliação do espaçamento das divulgações dos reajustes dos preços da gasolina e do diesel no país.

“Não há dúvidas de que o nível de dinamicidade da atualização na gestão Castello Branco era bem maior. Havia movimentos muito mais intensos”, avalia Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. “E, de fato, a questão da paridade não mudou. A Petrobras segue tendo como objetivo maior estar no mesmo nível do preço internacional”. Levantamento da Ativa Investimentos revela uma defasagem de 16% nos preços praticados hoje, ou seja, os combustíveis tendem a ficar ainda mais caros.

O que mudou, na perspectiva do especialista, foram os gatilhos. Isso é, antes, se praticavam os reajustes de forma mais rápida; hoje, de forma mais espaçada. Mas é difícil que a dinâmica do reajuste de preços deixe de ser volátil.

“Especialmente a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] é muito centralizadora, funciona como cartel, que visa o melhor para os seus membros. E lá tem país, por exemplo, que tem 60% do seu PIB dependente do petróleo. É muito difícil classificar qualquer mudança como efêmera ou substancial, conjuntural ou estrutural. Ou seja, preferimos aceitar que as mudanças no preço dos derivados da Petrobras serão feitos de forma mais lenta”, diz o especialista da Ativa.

Essa também é a opinião, por exemplo, da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), que afirma que mesmo em meio à troca na gestão, “praticamente, nada mudou” com relação à condução anterior.

A própria Petrobras teria sinalizado a interlocutores que deve manter a política de preços, com alinhamento ao preço de paridade de importação (PPI), mas tentando evitar repassar a volatilidade aos preços domésticos. O Brasil não integra a Opep, mas sofre influência da política de controle da oferta praticada pela organização.


Desinvestimentos e investimentos
Ainda para muitos analistas, a gestão de Silva e Luna tem mostrado alinhamento quanto à continuidade do plano de desinvestimentos e da venda de ativos non-core (não-essenciais). Não houve, portanto, para eles, ruptura no objetivo foco de ter a estatal com uma estrutura mais enxuta e rentável.

“Quando houve a troca, havia medo de que isso fosse desprosseguido de alguma forma”, admite Arbetman, da Ativa Investimentos, quanto à expectativa dos investidores.

A Petrobras tem mantido um programa robusto, tanto com a desalienação do Campo Papa-Terra, por exemplo, como de águas rasas, que tem o custo de extração maior, muitas vezes acima de US$ 10 por barril. No pré-sal, hoje, sem frete e custos governamentais, o preço chega a US$ 2,50.

“Desde que assumiu, a gestão Silva e Luna foi bem clara quanto à sua visão positiva a respeito da continuidade do plano dos desinvestimentos. É normal que, especialmente no momento da troca, a pessoa que entrou tenha algum receio, e por isso houve um freeze, um momento de adequação, até para que processos fossem revisitados”, avalia.

A preocupação com agenda de desinvestimentos ajuda a estatal com o seu principal objetivo, que é ter uma dívida menor, para ser capaz de distribuir riqueza, via dividendos ou de forma mais perene. “Não há dúvidas de que, hoje, o estoque de dívidas é maior, especialmente se levarmos em consideração os pares, e isso faz com que a Petrobras possa distribuir menos proventos. A indústria de petróleo é madura e tem uma demanda muito grande por dividendos e rentabilidade”, diz Arbetman.

“Do tripé ‘desinvestimentos, investimentos e paridade’, o que mais segue trazendo dúvida é a questão de preços. Hoje, sentimos alguma dose de assimetria nessa política, e essa assimetria é uma das principais responsáveis por vermos ela sendo negociada com desconto frente aos pares. Quando projetamos para frente, e vemos um novo ciclo eleitoral, seguimos com dúvidas no radar quanto à política de preços”, explica o analista da Ativa Investimentos.

Uma última expectativa dos stakeholders é com relação à condução da Petrobras frente à agenda verde, à transição energética. “É um processo que não tem volta, já começou, e precisa ser abordado da forma mais transparente possível. Esse é mais um ponto para ficarmos de olho e independente da cor do partido, sabemos que Petrobras, por ter governança exercida pelo Executivo, fica muito as vezes dependente de preferências de quem está no comando”, avalia Arbetman.

Mas já na posse Silva e Luna afirmou que buscaria reduzir a volatilidade de preços, sem desrespeitar o alinhamento com os preços internacionais dos combustíveis. Ele indicou a intenção de conciliar interesses dos consumidores e de acionistas, valorizando os trabalhadores. Afirmou ainda que sua administração focaria na redução da dívida e no investimento em pesquisa e desenvolvimento.

“Vamos buscar reduzir a volatilidade [mudanças bruscas dos preços nas refinarias, em curtos prazos], sem desrespeitar a paridade internacional [alinhamento com os preços externos]”, disse o general à época, citando a principal causa dos preços mais alto nas bombas de combustível.

Agora, em um balanço dos 100 dias de gestão, analistas avaliam que a troca não tem sido satisfatória do ponto de vista da paridade de preços, como havia sido sugerido pelo presidente Jair Bolsonaro à época da indicação de Silva e Luna.

Bolsonaro ainda se vê num dilema de tentar agradar investidores, num aceno à agenda liberal, e à população, em especial aos caminhoneiros autônomos, importante base eleitoral do bolsonarismo.

Em julho, a gasolina e o diesel atingiram seu preço mais alto nos postos de combustível desde o início do ano, e os caminhoneiros já ameaçam realizar uma nova greve. A categoria critica o governo federal por não propor medidas que viabilizem a redução do preço do óleo diesel, e a Petrobras, por manter a política de preços. A gasolina, por exemplo, já subiu 27,8% e o diesel, 27,3%, em 2021.

Muitos analistas esperam pelo lançamento do novo plano estratégico da petroleira, normalmente feito na virada de novembro, quando, segundo eles, será possível ter uma noção mais clara quanto à estimativa de curva de produção, demanda e recursos que vão ser investidos no pré-sal sob a gestão de Silva e Luna. O último plano quinquenal feito pela gestão de Castello Branco, por exemplo, dava peso significativo ao setor de exploração e produção, especialmente do pré-sal.


Paridade internacional de preços e previsibilidade na gestão
Para analistas, a política de Silva e Luna, em comparação com a de Castello Branco, embora tente atenuar a volatilidade nos preços, continua seguindo os parâmetros do petróleo do mercado internacional, o que pressiona os valores dos combustíveis na bomba. Na prática, houve apenas uma ampliação do espaçamento das divulgações dos reajustes dos preços da gasolina e do diesel no país.

“Não há dúvidas de que o nível de dinamicidade da atualização na gestão Castello Branco era bem maior. Havia movimentos muito mais intensos”, avalia Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. “E, de fato, a questão da paridade não mudou. A Petrobras segue tendo como objetivo maior estar no mesmo nível do preço internacional”. Levantamento da Ativa Investimentos revela uma defasagem de 16% nos preços praticados hoje, ou seja, os combustíveis tendem a ficar ainda mais caros.

O que mudou, na perspectiva do especialista, foram os gatilhos. Isso é, antes, se praticavam os reajustes de forma mais rápida; hoje, de forma mais espaçada. Mas é difícil que a dinâmica do reajuste de preços deixe de ser volátil.

“Especialmente a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] é muito centralizadora, funciona como cartel, que visa o melhor para os seus membros. E lá tem país, por exemplo, que tem 60% do seu PIB dependente do petróleo. É muito difícil classificar qualquer mudança como efêmera ou substancial, conjuntural ou estrutural. Ou seja, preferimos aceitar que as mudanças no preço dos derivados da Petrobras serão feitos de forma mais lenta”, diz o especialista da Ativa.

Essa também é a opinião, por exemplo, da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), que afirma que mesmo em meio à troca na gestão, “praticamente, nada mudou” com relação à condução anterior.

A própria Petrobras teria sinalizado a interlocutores que deve manter a política de preços, com alinhamento ao preço de paridade de importação (PPI), mas tentando evitar repassar a volatilidade aos preços domésticos. O Brasil não integra a Opep, mas sofre influência da política de controle da oferta praticada pela organização.


Desinvestimentos e investimentos
Ainda para muitos analistas, a gestão de Silva e Luna tem mostrado alinhamento quanto à continuidade do plano de desinvestimentos e da venda de ativos non-core (não-essenciais). Não houve, portanto, para eles, ruptura no objetivo foco de ter a estatal com uma estrutura mais enxuta e rentável.

“Quando houve a troca, havia medo de que isso fosse desprosseguido de alguma forma”, admite Arbetman, da Ativa Investimentos, quanto à expectativa dos investidores.

A Petrobras tem mantido um programa robusto, tanto com a desalienação do Campo Papa-Terra, por exemplo, como de águas rasas, que tem o custo de extração maior, muitas vezes acima de US$ 10 por barril. No pré-sal, hoje, sem frete e custos governamentais, o preço chega a US$ 2,50.

“Desde que assumiu, a gestão Silva e Luna foi bem clara quanto à sua visão positiva a respeito da continuidade do plano dos desinvestimentos. É normal que, especialmente no momento da troca, a pessoa que entrou tenha algum receio, e por isso houve um freeze, um momento de adequação, até para que processos fossem revisitados”, avalia.

A preocupação com agenda de desinvestimentos ajuda a estatal com o seu principal objetivo, que é ter uma dívida menor, para ser capaz de distribuir riqueza, via dividendos ou de forma mais perene. “Não há dúvidas de que, hoje, o estoque de dívidas é maior, especialmente se levarmos em consideração os pares, e isso faz com que a Petrobras possa distribuir menos proventos. A indústria de petróleo é madura e tem uma demanda muito grande por dividendos e rentabilidade”, diz Arbetman.

“Do tripé ‘desinvestimentos, investimentos e paridade’, o que mais segue trazendo dúvida é a questão de preços. Hoje, sentimos alguma dose de assimetria nessa política, e essa assimetria é uma das principais responsáveis por vermos ela sendo negociada com desconto frente aos pares. Quando projetamos para frente, e vemos um novo ciclo eleitoral, seguimos com dúvidas no radar quanto à política de preços”, explica o analista da Ativa Investimentos.

Uma última expectativa dos stakeholders é com relação à condução da Petrobras frente à agenda verde, à transição energética. “É um processo que não tem volta, já começou, e precisa ser abordado da forma mais transparente possível. Esse é mais um ponto para ficarmos de olho e independente da cor do partido, sabemos que Petrobras, por ter governança exercida pelo Executivo, fica muito as vezes dependente de preferências de quem está no comando”, avalia Arbetman.

O “NOVO NORMAL” DO MERCADO DE TRABALHO
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/como-foram-100-primeiros-dias-de-silva-e-luna-no-comando-da-petrobras/
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Isabelle Barone – Gazeta do Povo

O general Joaquim Silva e Luna, presidente da Petrobras.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A gestão do general da reserva Joaquim Silva e Luna à frente da Petrobras completou 100 dias nesta terça-feira (27). Ele foi indicado ao cargo em fevereiro pelo presidente Jair Bolsonaro, que estava insatisfeito com a política de preços dos combustíveis realizada pela presidência anterior, sob comando do economista Roberto Castello Branco, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A chegada do general ao comando da petroleira marcou uma mudança significativa na composição do conselho da petroleira e de boa parte da diretoria da estatal. A transição, num primeiro momento, pegou o mercado de surpresa e gerou temores entre os stakeholders sobre possíveis interferências do Planalto na política de preços. Interlocutores também especulavam sobre como seria conduzida a agenda de desinvestimentos e investimentos sob o comando do novo presidente da estatal.

Mas já na posse Silva e Luna afirmou que buscaria reduzir a volatilidade de preços, sem desrespeitar o alinhamento com os preços internacionais dos combustíveis. Ele indicou a intenção de conciliar interesses dos consumidores e de acionistas, valorizando os trabalhadores. Afirmou ainda que sua administração focaria na redução da dívida e no investimento em pesquisa e desenvolvimento.

“Vamos buscar reduzir a volatilidade [mudanças bruscas dos preços nas refinarias, em curtos prazos], sem desrespeitar a paridade internacional [alinhamento com os preços externos]”, disse o general à época, citando a principal causa dos preços mais alto nas bombas de combustível.

Agora, em um balanço dos 100 dias de gestão, analistas avaliam que a troca não tem sido satisfatória do ponto de vista da paridade de preços, como havia sido sugerido pelo presidente Jair Bolsonaro à época da indicação de Silva e Luna.

Bolsonaro ainda se vê num dilema de tentar agradar investidores, num aceno à agenda liberal, e à população, em especial aos caminhoneiros autônomos, importante base eleitoral do bolsonarismo.

Em julho, a gasolina e o diesel atingiram seu preço mais alto nos postos de combustível desde o início do ano, e os caminhoneiros já ameaçam realizar uma nova greve. A categoria critica o governo federal por não propor medidas que viabilizem a redução do preço do óleo diesel, e a Petrobras, por manter a política de preços. A gasolina, por exemplo, já subiu 27,8% e o diesel, 27,3%, em 2021.

Muitos analistas esperam pelo lançamento do novo plano estratégico da petroleira, normalmente feito na virada de novembro, quando, segundo eles, será possível ter uma noção mais clara quanto à estimativa de curva de produção, demanda e recursos que vão ser investidos no pré-sal sob a gestão de Silva e Luna. O último plano quinquenal feito pela gestão de Castello Branco, por exemplo, dava peso significativo ao setor de exploração e produção, especialmente do pré-sal.


Paridade internacional de preços e previsibilidade na gestão
Para analistas, a política de Silva e Luna, em comparação com a de Castello Branco, embora tente atenuar a volatilidade nos preços, continua seguindo os parâmetros do petróleo do mercado internacional, o que pressiona os valores dos combustíveis na bomba. Na prática, houve apenas uma ampliação do espaçamento das divulgações dos reajustes dos preços da gasolina e do diesel no país.

“Não há dúvidas de que o nível de dinamicidade da atualização na gestão Castello Branco era bem maior. Havia movimentos muito mais intensos”, avalia Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos. “E, de fato, a questão da paridade não mudou. A Petrobras segue tendo como objetivo maior estar no mesmo nível do preço internacional”. Levantamento da Ativa Investimentos revela uma defasagem de 16% nos preços praticados hoje, ou seja, os combustíveis tendem a ficar ainda mais caros.

O que mudou, na perspectiva do especialista, foram os gatilhos. Isso é, antes, se praticavam os reajustes de forma mais rápida; hoje, de forma mais espaçada. Mas é difícil que a dinâmica do reajuste de preços deixe de ser volátil.

“Especialmente a Opep [Organização dos Países Exportadores de Petróleo] é muito centralizadora, funciona como cartel, que visa o melhor para os seus membros. E lá tem país, por exemplo, que tem 60% do seu PIB dependente do petróleo. É muito difícil classificar qualquer mudança como efêmera ou substancial, conjuntural ou estrutural. Ou seja, preferimos aceitar que as mudanças no preço dos derivados da Petrobras serão feitos de forma mais lenta”, diz o especialista da Ativa.

Essa também é a opinião, por exemplo, da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), que afirma que mesmo em meio à troca na gestão, “praticamente, nada mudou” com relação à condução anterior.

A própria Petrobras teria sinalizado a interlocutores que deve manter a política de preços, com alinhamento ao preço de paridade de importação (PPI), mas tentando evitar repassar a volatilidade aos preços domésticos. O Brasil não integra a Opep, mas sofre influência da política de controle da oferta praticada pela organização.


Desinvestimentos e investimentos
Ainda para muitos analistas, a gestão de Silva e Luna tem mostrado alinhamento quanto à continuidade do plano de desinvestimentos e da venda de ativos non-core (não-essenciais). Não houve, portanto, para eles, ruptura no objetivo foco de ter a estatal com uma estrutura mais enxuta e rentável.

“Quando houve a troca, havia medo de que isso fosse desprosseguido de alguma forma”, admite Arbetman, da Ativa Investimentos, quanto à expectativa dos investidores.

A Petrobras tem mantido um programa robusto, tanto com a desalienação do Campo Papa-Terra, por exemplo, como de águas rasas, que tem o custo de extração maior, muitas vezes acima de US$ 10 por barril. No pré-sal, hoje, sem frete e custos governamentais, o preço chega a US$ 2,50.

“Desde que assumiu, a gestão Silva e Luna foi bem clara quanto à sua visão positiva a respeito da continuidade do plano dos desinvestimentos. É normal que, especialmente no momento da troca, a pessoa que entrou tenha algum receio, e por isso houve um freeze, um momento de adequação, até para que processos fossem revisitados”, avalia.

A preocupação com agenda de desinvestimentos ajuda a estatal com o seu principal objetivo, que é ter uma dívida menor, para ser capaz de distribuir riqueza, via dividendos ou de forma mais perene. “Não há dúvidas de que, hoje, o estoque de dívidas é maior, especialmente se levarmos em consideração os pares, e isso faz com que a Petrobras possa distribuir menos proventos. A indústria de petróleo é madura e tem uma demanda muito grande por dividendos e rentabilidade”, diz Arbetman.

“Do tripé ‘desinvestimentos, investimentos e paridade’, o que mais segue trazendo dúvida é a questão de preços. Hoje, sentimos alguma dose de assimetria nessa política, e essa assimetria é uma das principais responsáveis por vermos ela sendo negociada com desconto frente aos pares. Quando projetamos para frente, e vemos um novo ciclo eleitoral, seguimos com dúvidas no radar quanto à política de preços”, explica o analista da Ativa Investimentos.

Uma última expectativa dos stakeholders é com relação à condução da Petrobras frente à agenda verde, à transição energética. “É um processo que não tem volta, já começou, e precisa ser abordado da forma mais transparente possível. Esse é mais um ponto para ficarmos de olho e independente da cor do partido, sabemos que Petrobras, por ter governança exercida pelo Executivo, fica muito as vezes dependente de preferências de quem está no comando”, avalia Arbetman.



CORRUPÇÃO ENDÊMICA O GRANDE MAL DO BRASIL

 

Um sistema podre

Por
Thaméa Danelon – Gazeta do Povo

Protesto / 10 Medidas – 20-11-2016 – A manifestação pelas 10 medidas anticorrupção ocorreu neste domingo na frente da Justiça Federal de Curitiba. Um ônibus foi plotado com as 10 medidas.

Manifestação em Curitiba a favor das Dez Medidas de Combate à Corrupção, em 2016, no auge da Lava Jato.| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

A corrupção e a má gestão são as grandes responsáveis pelo atraso do nosso país. Embora o Brasil seja considerado pobre, recursos não faltam, pois temos um solo fértil; minérios; pedras preciosas; petróleo; pré-sal; um excelente solo e clima para plantações, além de um território extremamente extenso que propicia diversidade na produção de inúmeros itens.

E por que diante de todos esse aspectos favoráveis o Brasil ainda é considerado um país de terceiro mundo? Com analfabetismo; pobreza extrema; falta de tratamento de esgoto e água encanada; e com uma educação de péssima qualidade? Por que temos um sistema de saúde equiparado ao caos; e uma imensa falta de segurança pública?

Os grandes responsáveis por esses problemas são dois: a corrupção e a má gestão. Foi constatado que a corrupção desvia por ano no Brasil R$ 200 bilhões, valor que equivale a quase três vezes o orçamento da educação e da saúde, e a cinco vezes o da segurança pública. E essa corrupção que enlameia o nosso país é muito antiga; tendo se iniciado no Brasil império, quando D. João VI e a família real evadiram-se de Portugal para o Brasil, fugindo do Império Napoleônico.

Ao chegar em nosso país, D. João VI recebeu a Quinta da Boa Vista, para que a Corte ali se abrigasse, e esse presente foi dado por Elias Antonio Lopes, um grande traficante de escravos. Em contrapartida pelo “favor” prestado a D. João VI, Elias se tornou um dos homens que mais enriqueceu nessa época, tendo recebido, inclusive, títulos e honrarias nos 13 anos da Corte Portuguesa no Brasil.

Como dizia padre Antonio Vieira, Portugal não estava interessado no bem do Brasil, mas em seus bens. Em 1644, ele escreveu “O Sermão do Bom Ladrão”, e o proferiu na Igreja da Misericórdia de Lisboa  perante D. João IV e sua corte, onde teceu críticas aos governantes que se valiam da máquina pública para enriquecer ilicitamente.

De forma profética, padre Antonio Vieira advertia aos reis sobre o pecado da corrupção e a cumplicidade do silêncio permissivo. Na época de D. João VI, surgiu o seguinte ditado popular “Quem furta pouco é ladrão; quem furta muito é barão; quem mais furta e esconde; passa de barão a visconde”.

De acordo com os dicionários, a palavra corrupção significa decompor; depravar; desmoralizar; tornar podre. Corrupção deriva do latim corruptus, que tem o significado de apodrecido, pútrido. A corrupção deteriora os poderes; causa uma grande instabilidade no país; e resulta na insegurança jurídica.

Um país onde a corrupção é desenfreada e sistêmica, e em que há substancial impunidade, se torna um arriscado local para receber investimentos estrangeiros, os quais são tão importantes para o avanço de uma nação considerada de terceiro mundo.

Além disso, a cada conduta corrupta não punida, outras ainda mais graves se proliferam, nos levando à conclusão que a impunidade é o sólido alicerce da corrupção. Essa corrosão do poder estatal afeta imensamente a economia de um país, gerando drásticos efeitos no desenvolvimento social dos cidadãos que habitam um país fortemente corrupto, pois os custos econômicos da corrupção no Brasil são de 2% a 5% do PIB.

Além disso, a corrupção mina a confiança nas instituições; nos políticos; e na própria democracia; afetando diretamente a qualidade do Poder Judiciário, e resultando na sensação de impunidade por parte dos cidadãos, aumentando, assim, o estímulo ao desrespeito das leis.

Uma das formas de se minimizar a prática da corrupção se dá através da redução do Estado, principalmente no que se refere à atividade econômica, e também conter a distribuição indiscriminada de verbas públicas para áreas que poderiam ser custeadas com valores exclusivamente particulares, como o abominável fundão eleitoral que  foi aumentado para quase R$ 6 bilhões pelo Congresso Nacional e depende de sanção/veto do presidente da República.

Agora cabe à sociedade analisar quais parlamentares votaram favoravelmente a esse aumento e refletir se nas próximas eleições esse políticos merecem ser reeleitos, pois, segundo Mahatma Gandhi, “você nunca sabe que resultados virão da sua ação, mas se você não fizer nada, não existirão resultados”.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/thamea-danelon/corrupcao-o-grande-mal-do-brasil/
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É PRECISO VALORIZAR O VOTO

Suspeita de agressão

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Deputada Joice Hasselmann contou à polícia que suspeita ter sido agredida dentro do próprio apartamento.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

A Polícia Legislativa da Câmara dos Deputados emitiu nesta terça-feira (27) duas notas informativas sobre o caso Joice Hasselmann, a deputada do PSL de São Paulo que diz ter sido agredida dentro de casa. A primeira nota informa que do dia 15 (quinta-feira) ao dia 20 de julho (terça-feira) ela não saiu do seu apartamento. É praticamente uma clausura?

A nota diz ainda que ninguém alheio entrou ou saiu do imóvel da Câmara onde ela estava. Também informa que foram examinadas imagens de 16 câmeras, que há vigilância armada, porteiros, ronda frequente e segurança no prédio, o que impediria qualquer tentativa de atentado contra um parlamentar.

Na terça-feira, Joice diz ter saído para o hospital. Ou seja, ela entrou em casa na quinta-feira, na noite de sábado para domingo teria acontecido o “atentado”, e só na terça-feira ela procurou auxílio médico. É tudo muito estranho!

Joice teria sofrido cinco fraturas no rosto, na costela, na cervical, joelho e dois dentes. Ela foi até a Polícia Civil e teria levado um objeto, segundo ela sem marcas de sangue, que encontrou no sofá do apartamento. Não sei como apareceu um objeto lá se não entrou ninguém. E agora, nove dias depois do incidente, ela fez exame toxicológico e de corpo delito no IML.

E como eu havia previsto, a Polícia Legislativa mandou o caso para o Ministério Público Federal (MPF), porque trata-se de alguém com um mandato parlamentar federal. Só que o promotor devolveu dizendo que quer mais laudos. É uma questão muito grave porque envolve a suspeita de um atentado a uma representante do povo.

Cresce apoio ao voto impresso
Uma pesquisa do PoderData mostrou que nos dias 25 e 26 de maio, 46% das pessoas não queriam voto impresso e 40% queriam. Agora, no dia 21 de julho, inverteu: 46% querem voto impresso e 40% não querem.

Está acontecendo uma virada. As pessoas estão tomando consciência de que precisam valorizar seu próprio voto. O voto é secreto, a apuração tem que ser transparente e entendida por todos. Não é botar em uma caixa preta digital e depois as decisões serem tomadas lá dentro sabe lá com que algoritmo. A gente não sabe. Eu me baseio muito em um tribunal alemão que diz que o eleitor comum tem que entender o processo de apuração.

Notícia auspiciosa
O Ministério da Saúde mostrou que, de 25 de junho para 25 de julho, os casos de Covid-19 no Brasil caíram 40% e as mortes caíram 42%. É uma notícia auspiciosa.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/cameras-do-predio-mostram-apenas-clausura-da-deputada-joice/
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QUAIS REGIMES POLÍTICOS SOBREVIVERÃO APÓS A PANDEMIA

 

Geopolítica cognitiva

Por
Daniel Lopez – Gazeta do Povo

“No princípio era o verbo”. Assim se inicia o Evangelho de João, trazendo a ideia de que a linguagem é a base de tudo que há. Pensando com calma, percebemos que nossas decisões e o entendimento que temos sobre nós mesmos e sobre o mundo são permeados pela palavra. Dessa forma, entendemos o poder da linguagem sobre a constituição da personalidade, assim como para a organização da sociedade e o exercício do poder.

Há séculos os gregos perceberam essa força, e criaram métodos para usar o verbo com o fim do convencimento e da persuasão. Essa técnica recebeu o nome de retórica. Desde então, muitos tem se dedicado ao uso da palavra como instrumento de domínio das massas. Ignorar essa realidade e desconhecer tal realidade significa estar sujeito a ser subjugado.

O problema é que as pessoas, em geral, superestimam sua habilidade de não serem persuadidas. Julgam que, independentemente de estudo ou treinamento especial, seriam capazes de resistir a uma argumentação bem executada. Este é o chamado efeito Dunning-Kruger. Este conceito seria mais ou menos assim: quanto menos uma pessoa sabe sobre um determinado assunto, mais ela acha que sabe. Imagine esse efeito funcionando sobre a própria existência da pessoa, que julga pensar por conta própria, fazer suas escolhas com autonomia e decidir seu próprio futuro. Significa que, quanto mais ela se achar livre, menos livre seria.

George Orwell entendeu muito bem esse princípio, e o descreveu brilhantemente nas obras “Revolução dos Bichos” e “1984”. Ali temos uma descrição detalhada das inúmeras técnicas de persuasão por meio da linguagem. Um leitor que tenha vivido nos tempos sombrios da Alemanha de Hitler ou da União Soviética de Stalin veria no texto de Orwell uma fiel representação de sua experiência. Porém, um leitor ocidental contemporâneo poderia encontrar dificuldade em estabelecer uma correlação entre a leitura do 1984 e sua vivência pessoal. Julgaria tudo como mera ficção ou exercício especulativo. Pelo menos até 2019. O ano de 2020 colocou para o Ocidente, um pouco mais acostumado à democracia e à liberdade, uma excelente oportunidade de reler a obra orwelliana. Quarentenas, isolamentos, fechamento do comércio e a enorme invasão estatal na vida privada tornaram a leitura de uma atualidade visceral.

A história narrada no livro se passa na Inglaterra, e foram exatamente os ingleses que nos ofereceram o mais recente exemplo de como a linguagem poder ser usada da forma mais covarde possível. Seguindo os conselhos de seu “especialista em alimentação saudável”, o primeiro-ministro Boris Johnson cogitou aplicar a aparentemente nobre ideia de ajudar os britânicos a melhorarem seus padrões alimentícios, por meio do aumento de impostos sobre dois “bichos-papões” da saúde: o sal e o açúcar. A reação dos conservadores foi incisiva, o que levou o premier a bolar um novo plano. Em vez de aumentar os impostos, a ideia seria oferecer um “presente”. O governo concederia recompensas para as famílias que comprassem alimentos mais saudáveis. Mas como o Estado controlaria isso? O monitoramento dos gastos nos supermercados seria feito por meio de um aplicativo. Ganharia “pontos” quem comprasse mais frutas, vegetais e refeições menos calóricas, praticasse exercícios físicos ou fosse para a escola a pé. A pontuação poderia ser trocada por uma série de benefícios, como descontos ou ingressos gratuitos para eventos. Ou seja, eles apresentaram primeiro uma ideia muito ruim (aumento de impostos), de forma que a segunda ideia (ainda pior) pudesse ser vista como uma opção interessante e amistosa.

É claro que para o “avarento cognitivo”, seria impensável imaginar que o governo estaria com segundas intenções num projeto “tão nobre” como este. O único objetivo seria combater a obesidade crescente entre ingleses após a pandemia, e não monitorar os comportamentos de consumo dos cidadãos e utilizar essa informação em desfavor do indivíduo em momento oportuno. E quando falo em avareza cognitiva, estou me referindo ao termo criado, exatamente em 1984, por Susan Fiske e Shelley Taylor, que teve considerável influência na teoria da cognição social. O “avarento cognitivo” seria aquele que tende a pensar e resolver problemas da forma sempre mais simples e menos exigente, evitando soluções elaboradas. Enquanto o avarento evita gastar dinheiro, o avarento cognitivo evita fazer esforço mental. Eles não pensam racionalmente ou com a devida atenção, preferindo dispor dos chamados “atalhos cognitivos” para tirar conclusões e formar opiniões.

O problema é que, em geral, quem não sabe nada sobre um assunto não tem nenhuma dúvida sobre ele. Isso pode ser usado para o bem ou para o mal. Sócrates percebeu, ao se debruçar sobre um tema, que não possuía conhecimento suficiente sobre ele. Por isso, procurou os maiores especialistas de sua época. A surpresa foi que, ao conversar com os maiores peritos sobre ética, leis, poesia e política, concluiu que os experts não conheciam realmente os temas que julgavam dominar, e desconheciam sua própria ignorância. Foi por esta razão que o importante Oráculo de Delfos declarou, à época, que Sócrates era o homem mais sábio de toda a Grécia. O filósofo poderia ter respondido: “mas não sei nada. A única coisa que sei é que nada sei”. A sacerdotisa de Apolo poderia responder: “exatamente por isso você é o mais sábio. Foi o único que reconheceu a própria ignorância”.

Sócrates estava imune ao efeito Dunning-Kruger e à avareza cognitiva. Infelizmente, poucos hoje estão dispostos a pensar um pouco mais e reconhecer suas próprias limitações. Mas o fato de o livro “1984” estar sendo cada vez mais vendido, depois de tantos anos de sua publicação, pode nos dar um fio de esperança de que, no final, Orwell vencerá Marx.


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ARGENTINOS FOGEM PARA O BRASIL DEVIDO A IMPLANTAÇÃO DO SOCIALISMO NAQUELE PAÍS.

 

Por
Bruna Frascolla – Gazeta do Povo

Geographical map location of country Brazil Brasil in South American continent on atlas

Como líbios famélicos rumo à Europa, argentinos têm enfrentado travessias perigosas para tentar a vida num paraíso improvável: o Brasil.| Foto: Bigstock

O recém falecido professor Antonio Paim era muito gentil e cortês com jovens que o procurassem. O Instituto Mises acabou legando uma espécie de resumo autobiográfico num podcast em que ele conta, dentre outras coisas, que aprontou uma confusão dos diabos na União Soviética durante os seus tempos de bolchevique. Tudo porque se apaixonara pela tradutora russa e queria trazê-la para o Brasil, como de fato trouxe.

Tive ocasião de perguntar a ele, por telefone, por que isso deixara o Partido tão bravo com ele. Explicou-me os comunistas se empenhavam ao máximo em evitar que, atrás da Cortina de Ferro, o povo soubesse como era o mundo livre. Era preciso que o povo acreditasse que a União Soviética era o melhor lugar do mundo e que não havia salvação fora do comunismo.

Quando ele contou isso, lembrei-me do depoimento de um sul-coreano com cidadania norte-americana que passou um tempo preso na Coreia do Norte. O guarda correu o risco de conversar com ele e queria saber como eram os Estados Unidos. O prisioneiro respondeu, mas não houve jeito: o guarda ficou perplexo e incrédulo; não queria acreditar que nos Estados Unidos o povo não passava fome.

E eu me lembrei dessas duas histórias quando conheci o canal de Silvia e Marcelo Taormina, os argentinos que orientam os seus compatriotas a fugirem da argentina e se estabelecerem no Brasil dentro da legalidade.

Direito de ir e vir se perdeu
Como o casal residente em Itanhaém, na Baixada Santista, e faz caridade com a ajuda de brasileiros, eles na certa são gente conhecida no local. O canal faz vídeos com a história de famílias que estão tentando imigrar e propagandeia as suas habilidades. A história do marceneiro Alejandro e seus cinco filhos foi a que mais comoveu o público do canal e fez com que o casal aparecesse na rádio Jovem Pan, que tem alcance nacional.

A história de Alejandro (contada neste vídeo) é a seguinte: a família saiu ilegalmente da Argentina pela Bolívia atravessando um rio caudaloso numa balsa precária de madeira e pneus. Segundo explica Alejandro, desde dezembro os argentinos que querem fugir do país vão para a cidade de Aguas Blancas, na província de Salta, atravessam o Rio Bermejo e chegam à cidade de Bermejo, na Bolívia. Dezessete vidas já foram perdidas na travessia, segundo a imprensa local. Por isso Alejandro esperou uma época em que o rio estivesse mais baixo. De Bermejo, a família de Alejandro foi para Assunção, no Paraguai, e entrou no Brasil por Foz do Iguaçu.

Por que dar essa volta toda? Por que não atravessar direto a fronteira da Argentina com o Brasil por terra, sem se arriscar numa travessia precária e letal? Marcelo, o argentino veterano, manda que Alejandro explique, pois os brasileiros não entendem isso. A resposta: “Porque a democracia já não existe mais e a última coisa que restava ao povo argentino […] era o direito de ir e vir. Esse direito se perdeu quando um policial ou um guarda de alfândega disse: ‘você não pode sair.’ Você tem que escapar como um criminoso.”

No Brasil, vimos por alto notícias de fechamento da fronteira argentina. Mas não nos demos conta do drama social que isso acarretou. E, pensando bem, é um drama bem previsível, já que, como frisou com muita clareza Alejandro, na Argentina está sem trabalhar há mais de um ano. Enquanto isso, o governo ainda aumentou os impostos. Ele acha que a pandemia foi apenas um pretexto para acabar de vez com a democracia no país.

E bom, com esse cenário, é perfeitamente compreensível que as pessoas entrem num bote para escapar do país e ir a outro onde não sejam proibidos de trabalhar.

Por que o Brasil?
As imagens de Alejandro no bote mostram que havia muitas outras pessoas fazendo a mesma travessia, mas não há alusão a elas. É possível que tenham escolhido outros países para tentar a sorte – quem sabe já não há uma comunidade de argentinos na Bolívia, ou quem sabe não vão de lá para o Chile, que é uma economia farta.

Ao que parece, o Brasil não é uma escolha óbvia para os Argentinos. Alejandro só veio porque um dos filhos gostava muito do Brasil (a família já viajara de férias para o Rio de Janeiro) e começou a pesquisar no Youtube até encontrar os vídeos do casal Taormina. No canal, podemos ver que o casal se empenha em desfazer ideias falsas que os argentinos porventura tenham do Brasil. Por exemplo, explica que aquela declaração do Papa, sobre muita cachaça e pouca oração, é sem pé nem cabeça, pois o Brasil é muito, muito religioso. Explica que há uma profusão de religiões convivendo por aqui, explica o que é cachaça (“a bebida quente dos brasileiros”), que aqui se toma muita cerveja, que é comum se embebedar na sexta-feira, mas que nas segunda todos estão trabalhando.

Há também um vídeo especialmente dedicado a desmentir a imprensa argentina, que mostra imagens de manifestantes de verde-e-amarelo dizendo que são brasileiros pedindo o impeachment de Bolsonaro. O argentino veterano explica que no Brasil as manifestações pró Bolsonaro usam verde-e-amarelo, que as contra usam vermelho, e resume as pautas daquela manifestação que apareceu na TV argentina como pró-impeachment. (Num dado momento ele fala que recusou convites de candidatura. Para que o leitor mais prudente não veja aí um mentiroso, explico que Marcelo Taormina nasceu no Brasil filho de pais argentinos e foi para a Argentina criança. O que faz dele, tecnicamente, um brasileiro nato.)

Pelos Taormina, aprendemos que a Argentina diz aos seus cidadãos-prisioneiros que o Brasil está um caos, com filas e mais filas em cemitérios e que, por isso, os brasileiros estão clamando pela expulsão de Bolsonaro do governo. Aprendemos que também as redes sociais são usadas na Argentina para fazer propaganda negativa do Brasil: pegaram a foto de uma homenagem aos mortos da Covid no Rio de Janeiro, com cruzes fincadas na praia, e disseram que faltava espaço no Brasil para enterrar tantos mortos que até as praias viraram cemitério.

Os Taormina negam tudo isso e contam que no Brasil se trabalha; que, embora haja decretos proibindo algumas coisas, os brasileiros desobedecem e a economia do país tem crescido mesmo durante a pandemia. Mandam os argentinos não confiarem na própria imprensa e, em vez disso, usarem a internet para pesquisar notícias em outras línguas.

Por que trancar os argentinos?
Quando um país passa fome, não faz sentido que queira se livrar de habitantes? Afinal, se as ditaduras socialistas impedem as pessoas de trabalhar, elas naturalmente se tornam bocas a alimentar.

Os Taormina acham que a imprensa argentina mente por Fernández ser de esquerda, enquanto Bolsonaro é de direita. Discordo. Imaginem que o Brasil fosse, hoje, governado por Lula com Palocci, e vivesse a mesma bonança do começo do governo Lula. Seria de interesse de Fernández que os argentinos vissem o país vizinho na melhor? Penso que seria pior ainda para a esquerda argentina, pois o Brasil seria exemplo de um governo de esquerda próspero. Agora, todo o sucesso econômico do Brasil pode ser atribuído ao fato de termos um presidente mau como um pica-pau: um genocida. E aí cola aquela conversa de sacrificar a economia para salvar vidas.

A Argentina precisa trancar os seus moradores para que eles não tenham contato com lugares melhores. Se eles virem o Brasil dando certo, verão que a culpa da desgraça argentina não é do vírus, mas dos políticos. Assim, é preciso trancá-los e bombardeá-los com propaganda e desinformação.

Outro aspecto da segurança
Silvia e Marcelo costumam causar controvérsia quando dizem que o Brasil é seguro, frisando que o país é grande demais e nem tudo é o Rio de Janeiro. De fato, a capilarização das facções narcotraficantes nos impede de dizer que o Brasil é um país seguro em termos absolutos. Mas, como este é hoje um problema das Américas, os termos relativos se tornam mais importantes do que os absolutos.

É possível que alguém saia de Buenos Aires e se sinta seguro em alguma cidade do interior brasileiro, assim como eu saí da capital da Bahia para o interior e não trombo mais com cracudo agressivo na rua. Como o Brasil tem uma economia menos centralizada do que a Argentina, é factível que ter uma vida interiorana de classe média, sem a violência das capitais, seja mais fácil por aqui. Ainda mais agora, com a difusão do home office.

Mas eu queria fechar voltando para Alejandro. Ele destaca a sensação de segurança que a cultura brasileira passa. Isso é algo valioso que não costumamos apreciar – pelo contrário, a tradição marxista costuma deplorar nossa escassa propensão a convulsões sociais.

Vejam a queima da estátua de Borba Gato. No dia 18 de julho, algum vagabundo fez o primeiro tuíte da conta da Revolução Periférica. Na mesma semana, um caminhãozinho fretado deixa os mesmos vagabundos na frente da estátua, todos paramentados, com os fotógrafos já a postos. Nenhum observador se envolve. A coisa não cresce. Foi assim com o caso do Carrefour também. Tentaram criar um George Floyid brasileiro, mas deu nada. Antes, em junho de 2020 já tinham tentado emplacar um Black Lives Matter com a Gaviões da Fiel, mas deu em nada. Mesmo com o apoio das corporações, político e imprensa, nada.

Ingerências externas tentam lançar nossa sociedade em chamas, mas não conseguem. Isto é segurança.


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terça-feira, 27 de julho de 2021

A VERDADE SOBRE O BANDEIRANTE BORBA GATO

 

História
Por
Jones Rossi – Gazeta do Povo

Estátua de Borba Gato incendiada em protestos no dia 24 de julho de 2021: ele viveu entre os índios| Foto: Reprodução

Os bandeirantes não eram flor que se cheire. Como nos conta Eduardo Bueno em seu livro “Brasil: Uma História”, apenas nas três primeiras décadas do século XVII, eles mataram ou escravizaram 500 mil indígenas. A alcunha de “maiores criminosos de seu tempo” é mais do que merecida: assassinaram crianças, mulheres e idosos, arrasaram vilas e as famosas missões jesuíticas, o que lhes rendeu a antipatia de Roma — o papa os excomungou no atacado e varejo. Mas, curiosamente, o alvo de tantos ataques de radicais de extrema-esquerda, que chegaram a incendiar sua estátua no bairro de Santo Amaro, em São Paulo, acusado de ser um genocida e escravizador de indígenas, Manuel de Borba Gato é um dos poucos bandeirantes que nunca fez nada disso.

Muito de sua fama deve-se às crueldades praticadas por outros bandeirantes famosos, como Antônio Raposo Tavares e Fernão Dias Pais. Foi Raposo Tavares, Manuel Preto e sua tropa de dois mil índios, 900 mamelucos e 69 paulistas que pela primeira vez atacaram uma redução jesuítica, em 1629. Em apenas uma missão, escravizaram dois mil índios e mataram quem não se rendeu ou tentou fugir.

Os paulistas “com espadas, machetes e alfanjes lhes derribavam as cabeças, truncavam braços, desjarretavam pernas, atravessavam corpos. Provavam os aços de seus alfanjes em rachar os meninos em duas partes, abrir-lhes as cabeças e despedaçar-lhes os membros”, conforme descreveu um jesuíta. Ao voltar para São Paulo, os bandeirantes matavam velhos, crianças e doentes que atrasassem a viagem, e davam seus restos mortais de comer aos cães. Raposo Tavares afirmava ser cristão, mas por seus crimes foi excomungado. Morreu pobre e abandonado.

Fernão Dias Pais foi atrás da lenda indígena de Sabarabuçu, uma mítica serra cheias de pedras preciosas. Para perseguir esse sonho, abandonou a mulher doente e vendeu as joias das seis filhas para financiar a viagem, deixando-as na miséria. Não hesitou em enforcar o próprio filho, José Dias Pais, quando este se rebelou e liderou um motim. Morreu vitimado pela malária, acreditando piamente que tinha encontrado esmeraldas na lagoa de Vupabuçu, em Minas Gerais — eram apenas turmalinas.

Borba Gato foi um assassino. Mas não de índios
O Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), grupo radical de extrema-esquerda, publicou um tuíte afirmando que “Borba Gato foi um assassino que entrou para a história por dizimar e escravizar a população indígena originária do Brasil.” Assassino, sim, mas não de indígenas.

Borba Gato era casado com Maria Leite, filha de Fernão Dias, e, após a morte do sogro, em 1681, decidiu continuar à procura de esmeraldas e ouro na região do rio das Velhas, em Minas Gerais. De olho no possível tesouro, a Coroa Portuguesa enviou à região Dom Rodrigo Castelo Branco, que ocupava o cargo de Superintendente Geral das Minas. Castelo Branco não foi exatamente bem recebido por Borba Gato, que se sentiu ameaçado pela presença do cobrador de impostos vindo de Portugal. O resultado da arenga foi desastroso para ambos.

“Por ocasião da ida do administrador-geral das minas d. Rodrigo de Castelo Branco àquele sertão, teve desinteligências com êsse delegado régio, resultando assassiná-lo de emboscada, numa estrada que ia ter à feitoria do Sumidouro, em 28 de agosto de 1682”, escreveu o historiador Francisco de Assis Carvalho Franco em seu clássico “Dicionário de Bandeirantes e sertanistas do Brasil”. O historiador paulista Pedro Taques deu mais detalhes sobre o acontecido: Borba Gato, “arrebatado de furor”, deu “um violento empuxão” em Dom Rodrigo, lançando-o da beira de um buraco “ao fundo do qual caiu morto”.

No livro “Negros da Terra: Índios e Bandeirantes na Origem de São Paulo”, o americano John Manuel Monteiro, especialista em história indígena, afirma que é “bastante provável que esta expedição tenha descoberto ouro, o que explica em parte o assassinato de D. Rodrigo Castelo Branco pela mão de Manuel da Borba Gato.”

Após o assassinato, Borba Gato passou nada menos que 18 anos escondido entre indígenas — estes que ele dizimou e escravizou, de acordo com o MTST. Ele se refugiou entre a tribo dos Mapaxós (atualmente denominados Botocudos) “vivendo entre eles, respeitado como um cacique”.

Diferentes versões sobre a data na qual ele voltou a São Paulo circulam entre os historiadores, mas todas se situam entre 1697 e 1700, quando o assassinato de d. Rodrigo foi perdoado pelo governador Arthur de Sá e Meneses, em troca, é claro, da localização das minas de ouro. Além do perdão, Borba Gato recebeu dois anos mais tarde o título que antes pertencia ao assassinado, e se tornou superintendente geral das minas do rio das Velhas. Sá e Meneses fundamentou o perdão afirmando que foram desconhecidos que mataram D. Rodrigo. Em 1834, o historiador baiano Baltazar da Silva Lisboa colocou a culpa do assassinato em um criado de Borba Gato.

Borba Gato faleceu em 1718, quando ocupava o posto de juiz ordinário da Vila de Sabará.


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OS ANIMAIS SÃO MAIS CIVILIZADOS QUE NÓS HUMANOS?

 

Por
João Pereira Coutinho – Gazeta do Povo

| Foto: Alexas Fotos/Pixabay

Se o destino dos seres humanos dependesse dos animais, será que eles teriam compaixão de nós? Ou, pelo contrário, os animais tratariam os humanos tal como os humanos os tratam? Sim, invertendo os papéis, haveria animais que teriam humanos como companhia devidamente enfeitados com lacinhos e outros adornos. Mas a maioria dos humanos seria obrigada a trabalhar para os animais, a servir de cobaias para as suas pesquisas científicas – e como fonte de alimento, lógico.

Não estou delirando. Essa é a premissa do romance de Nick McDonell, The Council of Animals, uma fábula em que a sobrevivência da espécie Homo sapiens depende da generosidade dos bichos. Não conto o final. Confesso só que fui incapaz de suspender a minha descrença durante a leitura: alguém duvida que, em caso de necessidade, os animais tratariam os humanos como os humanos tratam os animais?

A pergunta soa abstrata. Passemos a um caso prático. O leitor, defensor dos direitos dos animais, não tolera a forma como eles são usados na pesquisa científica. Isso significa que, em caso de necessidade, o leitor recusaria qualquer tratamento que tivesse envolvido experimentação animal?

Meus princípios são bastante limitados em matéria de direitos dos animais. Como órfão de um doente neurológico, sou a última pessoa do mundo a quem deve se perguntar se trocaria o seu pai pelo bem-estar dos macacos

Vamos tornar o cenário ainda mais realista: existe 1 bilhão de pessoas no mundo que sofrem de doenças neurológicas. Seu pai, sua mãe, você pode ser uma delas. Se amanhã a experimentação com primatas produzir um tratamento eficaz para travar doenças neurológicas degenerativas, você recusaria esse tratamento? Essas são as questões que importam. Gostar de animais, como eu gosto, não está em causa. Desejar que eles sofram o menos possível também não. O que está em causa é saber até onde você vai em nome dos seus princípios.

A revista The Economist, na sua mais recente edição, oferece alguns fatos. Na Europa e nos Estados Unidos, o uso de macacos para pesquisa científica é prática cada vez mais rara. Em contrapartida, ele aumenta nos países asiáticos, como a China e o Japão. O motivo é simples: pela alteração do genoma dos primatas, é possível obter uma fisiologia mais aproximada aos seres humanos. Isso permite um estudo do cérebro que traz resultados mais eficazes no conhecimento e no tratamento das doenças neurológicas.

Claro: há quem afirme que é possível uma substituição total de animais por testes in vitro, por simulação de computador e até pelo uso de seres humanos voluntários. Mas mesmo que isso fosse possível com igual eficácia – pessoalmente, não conheço nenhum cientista que afirme algo tão radical –, há também quem defenda o contrário: a importância da experimentação animal, não apenas para doenças determinadas, mas para descobertas inesperadas. A revista, a esse respeito, lembra o nome de Vittorio Erspamer, que na década de 1930 descobriu a serotonina nos intestinos de coelhos e sapos. Dizer que a serotonina salvou a vida de milhões de seres humanos com transtornos psiquiátricos seria um eufemismo.


Nós, os decadentes
Até onde estou disposto a ir em nome dos meus princípios? Sou onívoro. Meus princípios são bastante limitados em matéria de direitos dos animais. Aliás, essa evidência me lembra a reação dos meus alunos, sobretudo dos autoproclamados defensores desses direitos, quando os informo que não é possível defender os animais e continuar a ter um filé no prato. O direito à vida, logicamente, é o valor mais importante na hierarquia dos direitos. Alguns não tinham pensado nisso – e raros são aqueles que abandonam o churrasco.

Por outro lado, como alguém que já esteve numa sala de operações (na condição de doente), posso testemunhar que prefiro a anestesia geral a qualquer recusa ética pelo fato de milhares de animais terem sido cobaias desse apagamento momentâneo. Finalmente, e como órfão de um doente neurológico, sou a última pessoa do mundo a quem deve se perguntar se trocaria o seu pai pelo bem-estar dos macacos.

Mas admito que possa estar errado no meu egoísmo humano, demasiado humano. Admito que o leitor possa ser bastante mais virtuoso do que eu, sacrificando a sua vida e a vida dos seus por uma questão de princípio. E quem sabe? Talvez o futuro, pelo menos no Ocidente, possa chegar a um compromisso: viveremos menos, viveremos pior, mas viveremos sem transferir para os outros seres vivos o preço da civilização.


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AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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