domingo, 18 de julho de 2021

BOLSONARO VAI APROVAR O FUNDO ELEITORAL

 

Financiamento das eleições
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

Presidente Jair Bolsonaro pode vetar ou sancionar fundo eleitoral| Foto: Isac Nóbrega/PR

Apesar da pressão para que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vete o trecho da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 que prevê um fundo de R$ 5,7 bilhões para as eleições do ano que vem, a tendência é de que a matéria seja sancionada. Na avaliação de líderes partidários, o chefe do Executivo está em um momento de fragilidade política e deve evitar desgastes com o Legislativo.

A LDO foi aprovada pelo Congresso nesta semana e seguiu para a sanção presidencial. O fundo bilionário tem sido criticado por diversos eleitores e políticos nas redes sociais. As hashtags #VetaBolsonaro, #VetaPresidente e #FundãoDe6BilhõesNão figuram entre os assuntos mais comentados na internet desde a votação da matéria.

Internado em um hospital particular em São Paulo desde a última quarta-feira (14) para tratar de uma obstrução intestinal, o presidente Bolsonaro só deverá se manifestar sobre o tema após sua recuperação. Depois da aprovação da LDO, sete parlamentares entraram com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para proibir o aumento no fundo eleitoral.

O fundo de quase R$ 6 bilhões para bancar as eleições do ano que vem foi aprovado com ampla maioria dentro da Câmara e do Senado. Por isso, congressistas avaliam que um eventual veto poderia ser derrubado. Outro ponto apontado pelos congressistas para que Bolsonaro sancione o “fundão” é de que ele precisará de um orçamento “robusto” para sua candidatura à reeleição no ano que vem.

No caso de veto, uma forma de retaliação por parte dos congressistas seria, por exemplo, travar pautas de interesse do governo. Promessa de Bolsonaro para sua campanha eleitoral, a aprovação do novo Bolsa Família poderia ficar prejudicada, segundo deputados.

Bolsonaristas foram favoráveis
Além dos partidos do Centrão, que compõe a base do governo no Congresso, a votação do fundo eleitoral contou com o apoio de deputados e senadores bolsonaristas. Entre eles os deputados Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), Carla Zambelli (PSL-SP), Bia Kicis (PSL-DF), Marco Feliciano (Republicanos-SP) e Osmar Terra (MDB-RS).

Após a repercussão negativa, esses parlamentares tentaram justificar o “sim” nas redes sociais. De acordo com Carla Zambelli seu voto dizia respeito à LDO e que seria “de uma irresponsabilidade incrível” deixar o Brasil sem orçamento.

Já o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, afirmou que Bolsonaro poderá vetar o trecho do fundo eleitoral. “A matéria agora vai para a Presidência da República, que pode vetar esse dispositivo. Mas, ainda que esse dispositivo prospere, final do ano o relator do Orçamento poderá acatar, ou não, essa questão”, afirmou.

Durante a tramitação, apenas os partidos Cidadania, Psol, Podemos e PSL apoiaram uma mobilização feita pelo Novo para derrubar o fundo eleitoral. O partido apresentou ao plenário um pedido de alteração do texto-principal, o chamado “destaque”, para retirar das regras do Orçamento a previsão de um cálculo para o financiamento de campanha. Com isso, o montante teria de ser definido na Lei Orçamentária Anual (LOA), a ser entregue pelo governo ao Congresso até agosto. Como há necessidade de cortar recursos, isso dificultaria o aumento. O pedido, porém, não conseguiu convencer a maioria das legendas.

A votação desse destaque apresentado pelo Novo foi simbólica, ou seja, sem a contagem nominal de votos. Dessa forma, não é possível saber exatamente como votou cada parlamentar em relação a esse tema, especificamente. “Eu votei contra o aumento do Fundão e a favor da PSL. Tem gente querendo fazer confusão”, disse Bia Kicis (PSL-DF), que afirmou ter apoiado o destaque do Novo.

Bolsonaro sancionou fundão para 2020
A pressão sobre o montante do fundo eleitoral ocorreu também em 2019, quando o Congresso aprovou o montante de R$ 2 bilhões para as eleições municipais de 2020. Apesar das críticas, o presidente Jair Bolsonaro acabou sancionando a matéria.

Em transmissão nas redes sociais, Bolsonaro sugeriu que, se não sancionasse o fundão, poderia ser alvo de um processo de impeachment.  “O Congresso pode entender que eu, ao vetar [o fundo eleitora], atentei contra esse dispositivo constitucional [artigo 85 da Constituição, que trata de crimes de responsabilidade] e isso se tornar um processo de impeachment contra mim. Eu estou aguardando o parecer final da minha assessoria jurídica, mas o preliminar é que eu tenho que sancionar”, disse Bolsonaro naquela ocasião.

Agora, integrantes do Centrão avaliam que o desgaste do governo será momentâneo e que o valor precisou ser “turbinado”, pois as eleições nacionais são mais caras que as municipais. O montante de R$ 5,7 bilhões é o triplo do que foi aprovado pelo Congresso para as eleições de 2018, quando os partidos receberam R$ 1,8 bilhão para aquelas eleições.

PT e PSL serão os principais beneficiados
Se sancionado, os R$ 5,7 bilhões do fundo eleitoral serão distribuídos para os partidos de acordo com as suas bancadas dentro da Câmara dos Deputados. Com isso, PSL e PT serão os maiores beneficiados.

Com 53 deputados, o PSL, que abrigou a candidatura do presidente Jair Bolsonaro em 2018, terá cerca de R$ 600 milhões para financiar seus candidatos em 2022. Já o PT, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá receber cerca de R$ 595 milhões.

Já legendas como MDB, PSD, PP e PSDB receberam cerca de R$ 400 milhões cada. O Patriota, que está em negociações para receber a filiação de Bolsonaro para o ano que vem, poderá receber quase R$ 100 milhões. Nas eleições municipais de 2020 o partido recebeu pouco mais de R$ 35 milhões.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/quais-as-chances-de-bolsonaro-sancionar-o-fundo-eleitoral/
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A INFLAÇÃO É UM IMPOSTO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

05/12/2017- São Paulo- Impostômetro passa de 1 Trilhão Foto: Paulo Pinto

Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo.| Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Os tributos pagos pelas pessoas e pelas empresas no Brasil resultam da soma de impostos, taxas e contribuições, e são cobrados pelos três entes federativos: municípios, estados e União. A princípio, um sistema tributário deve ser estruturado de tal forma que uma fração de toda a renda nacional (idealmente, nunca mais que um terço) seja entregue ao setor público a fim de pagar os serviços coletivos oferecidos pelo governo. Nesses serviços coletivos estão, além de outros, a defesa nacional, a segurança pública, a justiça, a saúde, a educação, os programas sociais e as obras de infraestrutura que a sociedade convencionou deixar a cargo do setor estatal.

É comum na maioria dos países a imposição de tributos sobre rendas (salários, aluguéis, juros e lucros), consumo e propriedades. Por salários deve-se entender toda renda do trabalho, qualquer que seja o nome contábil ou jurídico que tenha. O Brasil introduziu distorções na lógica tributária. Como exemplo, há bens e serviços tributados quando são produzidos e vendidos e, de novo, quando são consumidos, o que de início já é uma bitributação, pois no preço do produto adquirido pelo consumidor já estão calculados todos os insumos que entraram na cadeia produtiva daquele produto. Mas há um fenômeno do qual pouco se fala e sobre o qual pouco se conhece: a multitributação. Um caso de multitributação é o automóvel.

Quando o resultado das contas públicas melhora em função de crescimento na arrecadação tributária derivado da inflação, quem paga é a sociedade – pessoas e empresas

Os fornecedores dos materiais que entram na fabricação do automóvel pagam vários tributos (inclusive contribuições sociais sobre as receitas); o fabricante paga outra carga de tributos quando produz e vende às revendedoras; estas pagam tributos quando vendem ao consumidor; todos pagam tributos sobre o faturamento e os lucros de suas atividades; e a carga é tão grande que o consumidor adquire o bem por um preço do qual quase metade se refere à carga tributária da cadeia produtiva e comercialização do veículo. No preço final de um automóvel, o total de tributos incidentes no processo completo é superior a 40%. Assim, quando o proprietário paga 3,5% sobre o valor do veículo a título de IPVA, sob o argumento de que esse imposto se destina a sustentar a infraestrutura de ruas e rodovias que o veículo utiliza, ele está pagando tributo sobre tributo.

Mas, além da multitributação no sistema de produção, circulação, consumo e posse, que sobrecarrega pesadamente a sociedade, outro fenômeno que aumenta a arrecadação do governo, mas passa despercebido para muitos, é a inflação. Como os impostos indiretos (como IPI e ICMS), as contribuições (como Cofins e PIS) e o imposto sobre propriedade (o IPVA) incidem sobre o valor de venda dos bens e serviços, a cada vez que os preços sobem, o governo leva sua fatia do faturamento que foi aumentado por força da inflação. O total de tributos arrecadados pelos municípios, estados e União é uma fração da expressão monetária do produto nacional (que é igual à renda nacional) e, se os preços sobem, maior é a arrecadação do governo.

VEJA TAMBÉM:
A inflação desacelera, mas não dá trégua (editorial de 9 de julho de 2021)
A segunda “fatia” da reforma tributária (editorial de 28 de junho de 2021)
Inflação: o inimigo que nunca desiste (editorial de 11 de abril de 2021)
Neste início de segundo semestre de 2021, tendo a inflação medida pelo IPCA atingido 8,35% nos últimos 12 meses, já se constatou aumento na arrecadação tributária do governo. Embora o Produto Interno Bruto (PIB) no início de 2021 tenha apresentado crescimento, a elevação da arrecadação tributária vai além do efeito PIB e teve a ajuda da inflação. Quando o governo gasta fazendo compras de insumos para suas obras e serviços, ele se prejudica com o aumento de preços. Porém, a maior rubrica de despesa pública é salário do funcionalismo, e é comum o governo não repassar a inflação simultaneamente para os salários dos servidores, evitando que o gasto com pessoal suba na mesma proporção da arrecadação.

Enquanto empresários lutam para repassar a inflação de custos nos preços de seus produtos e os trabalhadores lutam para obter reajuste salarial que reponha o poder de compra corroído pela inflação, a receita de tributos é indexada no exato momento em que a inflação ocorre e o governo tem sua receita aumentada no momento mesmo em que os preços dos bens e serviços sobem. O governo se defende da inflação e a repassa para a sociedade, pois os tributos, em sua maioria, incidem sobre receitas de vendas nominais. Outra forma de o governo se beneficiar com a inflação é pela redução do valor real dos títulos da dívida pública emitidos no passado e, também, por pagar menor taxa de juros real sobre seus títulos novos (taxa nominal de juros menos a taxa de inflação). Quando o resultado das contas públicas melhora em função de crescimento na arrecadação tributária derivado da inflação, quem paga é a sociedade – pessoas e empresas. Inflação é uma forma de imposto sem lei.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/como-a-inflacao-se-torna-um-imposto/
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Editorial
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05/12/2017- São Paulo- Impostômetro passa de 1 Trilhão Foto: Paulo Pinto

Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo.| Foto: Paulo Pinto/Fotos Públicas

Os tributos pagos pelas pessoas e pelas empresas no Brasil resultam da soma de impostos, taxas e contribuições, e são cobrados pelos três entes federativos: municípios, estados e União. A princípio, um sistema tributário deve ser estruturado de tal forma que uma fração de toda a renda nacional (idealmente, nunca mais que um terço) seja entregue ao setor público a fim de pagar os serviços coletivos oferecidos pelo governo. Nesses serviços coletivos estão, além de outros, a defesa nacional, a segurança pública, a justiça, a saúde, a educação, os programas sociais e as obras de infraestrutura que a sociedade convencionou deixar a cargo do setor estatal.

É comum na maioria dos países a imposição de tributos sobre rendas (salários, aluguéis, juros e lucros), consumo e propriedades. Por salários deve-se entender toda renda do trabalho, qualquer que seja o nome contábil ou jurídico que tenha. O Brasil introduziu distorções na lógica tributária. Como exemplo, há bens e serviços tributados quando são produzidos e vendidos e, de novo, quando são consumidos, o que de início já é uma bitributação, pois no preço do produto adquirido pelo consumidor já estão calculados todos os insumos que entraram na cadeia produtiva daquele produto. Mas há um fenômeno do qual pouco se fala e sobre o qual pouco se conhece: a multitributação. Um caso de multitributação é o automóvel.

Quando o resultado das contas públicas melhora em função de crescimento na arrecadação tributária derivado da inflação, quem paga é a sociedade – pessoas e empresas

Os fornecedores dos materiais que entram na fabricação do automóvel pagam vários tributos (inclusive contribuições sociais sobre as receitas); o fabricante paga outra carga de tributos quando produz e vende às revendedoras; estas pagam tributos quando vendem ao consumidor; todos pagam tributos sobre o faturamento e os lucros de suas atividades; e a carga é tão grande que o consumidor adquire o bem por um preço do qual quase metade se refere à carga tributária da cadeia produtiva e comercialização do veículo. No preço final de um automóvel, o total de tributos incidentes no processo completo é superior a 40%. Assim, quando o proprietário paga 3,5% sobre o valor do veículo a título de IPVA, sob o argumento de que esse imposto se destina a sustentar a infraestrutura de ruas e rodovias que o veículo utiliza, ele está pagando tributo sobre tributo.

Mas, além da multitributação no sistema de produção, circulação, consumo e posse, que sobrecarrega pesadamente a sociedade, outro fenômeno que aumenta a arrecadação do governo, mas passa despercebido para muitos, é a inflação. Como os impostos indiretos (como IPI e ICMS), as contribuições (como Cofins e PIS) e o imposto sobre propriedade (o IPVA) incidem sobre o valor de venda dos bens e serviços, a cada vez que os preços sobem, o governo leva sua fatia do faturamento que foi aumentado por força da inflação. O total de tributos arrecadados pelos municípios, estados e União é uma fração da expressão monetária do produto nacional (que é igual à renda nacional) e, se os preços sobem, maior é a arrecadação do governo.

VEJA TAMBÉM:
A inflação desacelera, mas não dá trégua (editorial de 9 de julho de 2021)
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Neste início de segundo semestre de 2021, tendo a inflação medida pelo IPCA atingido 8,35% nos últimos 12 meses, já se constatou aumento na arrecadação tributária do governo. Embora o Produto Interno Bruto (PIB) no início de 2021 tenha apresentado crescimento, a elevação da arrecadação tributária vai além do efeito PIB e teve a ajuda da inflação. Quando o governo gasta fazendo compras de insumos para suas obras e serviços, ele se prejudica com o aumento de preços. Porém, a maior rubrica de despesa pública é salário do funcionalismo, e é comum o governo não repassar a inflação simultaneamente para os salários dos servidores, evitando que o gasto com pessoal suba na mesma proporção da arrecadação.

Enquanto empresários lutam para repassar a inflação de custos nos preços de seus produtos e os trabalhadores lutam para obter reajuste salarial que reponha o poder de compra corroído pela inflação, a receita de tributos é indexada no exato momento em que a inflação ocorre e o governo tem sua receita aumentada no momento mesmo em que os preços dos bens e serviços sobem. O governo se defende da inflação e a repassa para a sociedade, pois os tributos, em sua maioria, incidem sobre receitas de vendas nominais. Outra forma de o governo se beneficiar com a inflação é pela redução do valor real dos títulos da dívida pública emitidos no passado e, também, por pagar menor taxa de juros real sobre seus títulos novos (taxa nominal de juros menos a taxa de inflação). Quando o resultado das contas públicas melhora em função de crescimento na arrecadação tributária derivado da inflação, quem paga é a sociedade – pessoas e empresas. Inflação é uma forma de imposto sem lei.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/como-a-inflacao-se-torna-um-imposto/
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sábado, 17 de julho de 2021

DIA 16/07/1951 LANÇAMENTO DO LIVRO "O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO"

 

  1. Cultura 

Gostaria de saber como os jovens de hoje reagem a ‘O Apanhador no Campo de Centeio’

Sérgio Augusto, O Estado de S.Paulo

Para brasileiros e uruguaios, 16 de julho é uma data histórica pelo que aconteceu no Maracanã no jogo decisivo da Copa de 1950. Na história da literatura, o dia de ontem pertence a Catcher in the Rye, o romance que celebrizou J.D. Salinger, lançado pela Little, Brown justo um ano depois do Maracanazo, e aqui traduzido, tempos depois, pela visionária Editora do Autor (de Rubem Braga e Fernando Sabino) com o título de O Apanhador no Campo de Centeio

O Apanhador no Campo de Centeio - J.D. Salinger
Publicado em 1951, ‘O Apanhador no Campo de Centeio’ causou polêmica nos EUA por retratar dilemas adolescentes sobre sexo, rebelião, angustia e usar palavras de baixo calão. Sucesso entre os jovens, o livro era criticado pelos pais e em 1981, chegou a ser a obra mais censurada do país. Foto: Editora do Autor

Muita gente lamenta não o ter lido na idade mais adequada: a de seu protagonista e narrador, Holden Caulfield – ou seja, aos 16 anos – para plenamente usufruí-lo. Tal purismo, como quase todo purismo, me parece altamente discutível. John Updike, por exemplo, só o leu aos 23, embora já lhe conhecesse alguns trechos que um companheiro de quarto na Universidade Harvard vivia a recitar obsessivamente. 

Sou desse grupo de “retardatários”. Era cinco anos mais velho do que Caulfield quando devorei o livro pela primeira vez.

Já conhecia algumas coisas de Salinger, publicadas na revista Esquire e o conto Um Dia Ideal Para os Peixes-Banana, publicado na revista Senhor, quando, em outubro de 1963, à procura de um pocket book no aeroporto que ainda se chamava apenas Idlewild (John Kennedy só seria assassinado no mês seguinte), para amainar o frisson de minha primeira viagem de Nova York a Los Angeles, bati os olhos em The Catcher in the Rye, na clássica edição da Signet, com o herói carregando uma mala numa rua de Manhattan. 

Se a revista The New Yorker já fizesse parte de minha vida, teria lido várias outras narrativas curtas depois reunidas em Nove Estórias, também traduzidas pela Editora do Autor. Década e meia mais tarde, ao folhear uma Esquire de outubro de 1945, comprada no sebo ambulante que fazia ponto na calçada do Teatro Municipal do Rio, deparei com o que me pareceu ter sido o primeiro conto de Salinger publicado num veículo de grande expressão. Com outro título intrigante (This Sandwich Has No Mayonnaise), era introduzido na abertura da revista com uma foto e um bilhete do autor. 

Salinger não se deixava fotografar, mas ali estava ele, fardado, na frente aliada. “Tenho 26 anos de idade e quatro de Exército”, dizia o bilhete. “Passei os últimos 17 meses além-mar. Desembarquei na praia de Utah, no Dia D, com a Quarta Divisão, e estive no 12º Batalhão de Infantaria até o final da guerra.” Era contista desde o 15 anos e no início sentira bastante dificuldade para “escrever de maneira simples e natural”. Fechando o bilhete, esta promessa, cinco ou seis anos depois desmentida: “Sou um velocista, não um fundista, e provavelmente nunca escreverei um romance”. 

Tendo como pano de fundo um campo militar debaixo de chuva, o “sanduíche sem maionese” tinha como narrador o soldado Vincent Caulfield, que deixara na América um irmão, Holden, e uma irmã, Phoebe. Pensei estar diante do embrião de Catcher in the Rye. Vincent, pouco depois descobri, efetivamente despontara num relato sobre o último dia de sua última folga no quartel, Last Day of the Last Furlough, publicado 15 meses antes na Saturday Evening Post.

Nesse conto, o soldado Vincent já se manifestava preocupado com o paradeiro de Holden no Exército. O irmão não desertara; apenas desaparecera, provavelmente morto em combate, com 19 anos. Porém, pelas minhas contas, Holden seria uma criança de 10 anos em 1944. Vincent morreria no conto The Stranger. Holden seria introduzido oficialmente, e já descrito como um típico adolescente neurótico do pós-guerra, em I’m Crazy, publicado na revista Collier’s.

Nenhum desses contos foi incluído em Nove Estórias, desprezo estendido, ainda mais inexplicavelmente, a Slight Rebellion on Madison. Publicado na última edição da The New Yorker de 1946, era quase um trailer do Apanhador, com Holden dotado de um sobrenome adicional (Morrissey), patinando com Sally Hayes na pista de gelo do Rockefeller Center e indo com ela assistir a uma peça na Broadway, com Alfred Lunt e Lynn Fontanne. 

“Esse rapaz é louco”, argumentou o primeiro editor nova-iorquino a devolver os originais de The Catcher in the Rye. Irritado, Salinger entregou-os à Little, Brown de Boston. Rompendo com sua regra de não selecionar obras de estreantes, o Livro do Mês americano indicou-o como leitura para o verão de 1951. Em cinco semanas, já era o livro do ano. Nunca deixou de ser um best-seller mundial.

De louco Caulfield nada tem. Personagem-símbolo da rebeldia teen dos anos Truman-Eisenhower, cheio de prevenções contra a impostura dos adultos, dos “phonies” de ambos os sexos, já o compararam a James Dean, Jesus, Hamlet e Don Quixote. 

Os “phonies” mais carolas encrencaram com os 237 “goddams”, os 58 “bastards”, os 31 “Chrissakes” e expletivos do gênero proferidos pelo personagem, contra o qual moveram uma campanha moralizante, tenaz, mas infrutífera. Faz tempo que o Apanhador é leitura obrigatória no ensino médio – com o egrégio timbre de Faulkner, Harold Bloom, Updike, entre outros. 

Gostaria de saber como os adolescentes de hoje reagem ao romance e se relacionam com Caulfield e sua desbocada impaciência com os adultos (“costumam dormir de boca aberta”), seu cinismo nervoso e sua opinião, para muitos preconceituosa e generalizante, mas inegavelmente divertida, sobre as mulheres (“sempre deixam a bolsa por onde a gente passa”), os professores (“ridículos”), as mães (“todas piradas”), e a Bíblia (“Jesus é legal, mas o resto é chato”).

Harold Bloom o releu. Achou-o ainda comovente, mas meio enjoativo. Eu ainda estou tomando coragem.

É JORNALISTA E ESCRITOR, AUTOR DE ‘ESSE MUNDO É UM PANDEIRO’

O QUE PODERIA TER SIDO E NÃO FOI

 

  1. Cultura 

Uma noite, em uma festa, olhei para Alda e percebi que estava apaixonado. Mas como declarar?

Ignácio de Loyola Brandão, O Estado de S. Paulo

Ao meio-dia, as classes deixavam o Ieba e corríamos para a esquina da Rua Quatro, ponto estratégico para observarmos a saída das alunas do Colégio Progresso. Havia centenas de jovens, mas cada um estava ali por causa de uma. Meu interesse era Alda, sempre junto à irmã Maria Ernestina, ambas Lupo. As duas, em seus uniformes brancos, avental xadrezinho preto e branco, passavam por nós e seguiam sem nos olhar, mas sabendo-se olhadas. Fazia parte do jogo. Não era o footing, onde se trocavam olhares prometedores, ou se paquerava. Para mim, a visão da Alda alegrava o dia. Era bonita, diáfana, parecia compenetrada, me dava a sensação de inacessível.

Caetano de Campos
Movimentação de estudantes no início dos anos 1970 Foto: Arquivo Estadão

Naquelas manhãs descobri a ansiedade doce da espera e a alegria do encontro, ainda que este encontro existisse apenas na minha mente. Isso me bastava. Atenção terapeutas! As duas irmãs provocavam sensação e anseios.

Mais tarde me aproximei delas. Era crítico de cinema e colunista social, tentava fazer uma crônica semelhante à de Jacinto de Thormes, que revolucionou o gênero no Brasil. Assim, eu as encontrava em festinhas, nos bailes do Araraquarense, em casamentos. Conversávamos, vez ou outra, elas me davam notícia de algum namoro, ou de quem estava interessado em quem, o que dava um tom atraente à coluna. Na época, ao frequentar os jantares do Rotary Club, fiz amizade com dois Lupos proeminentes, o Wilton e o Élvio, que tocavam a fábrica de meias. Uma noite, em uma festa na casa de Wilton, olhei para Alda e percebi que estava apaixonado. Mas como declarar? Ia além da timidez. Como frequentar o círculo dela? A certa altura daquele festa, ficamos lado a lado, Wilton passou e marotamente deixou escapar: “Vocês parecem se dar bem!”. Na hora pensei: é agora, fale. Travado, ela na dela, sem imaginar nada. Ou sabia?

Em uma festa no jardim da casa de Vera de Oliveira, Alda sentou-se ao meu lado. Acaso? Ou de propósito? Dançava-se ao som de Quizás, Quizás, Quizás, Besame Mucho, Love Me Forever, Dindi, Patricia, Only You (com The Platters), Marina, Diana, You Are My Destiny (Paul Anka ainda está vivo, vejam só). Fui buscar um cuba-libre, para ter coragem, e segui firme em direção a Alda, mas vi o jovem Peri Medina chegar antes. Meu mundo caiu, diria Maysa Matarazzo. Fiquei estatelado, Maria Ernestina percebeu: “Não é nada, não, a próxima pode ser sua”. Não foi. Não foi nunca, Alda e Peri se casaram mais tarde. Não sei se começou ali ou quando começou. Algum tempo depois, deixei a cidade.

Em São Paulo, envolvido em projetos determinados, ser jornalista e, talvez, escritor ou diretor de cinema, vida seguiu. Anos depois, já tendo publicado vários livros, editado jornais e revistas, encontrei-me com Alda, Maria Ernestina e Martha, a terceira irmã. Onde? Na mesma esquina da Rua Quatro com a Duque. Coincidência? Simultaneidade? Já então, mais seguro de mim, foi tudo solto, gostoso, sorrisos, lembramos daquelas saídas do colégio décadas antes. Pensava: ainda gosto dela? Sentia o mesmo? Não tinha sentido. A vida tinha corrido.

Uma ou duas décadas se passaram. Em Paris, certo dia, procuramos a casa de Rafael Lupo, na Place des Vosges, onde estava hospedado seu primo Gabriel, filho de Adriana Medina, amiga de infância de Márcia, minha mulher. Gabriel era primo de Rafael, segundo filho de Alda e Peri, e já um joalheiro conceituado da Cartier. Nesta altura, Alda tinha mais três filhos: Claudia, Aldo e Péricles.

A vida tem muitos pontos e vai ligando um a um, até o arremate. A frase não dita, o gesto que não aconteceu, a carta ou e-mail nunca enviados, o telefonema não dado, a visita não feita. O que poderia ter sido não existe. Meses atrás fui chamado para escrever o livro do primeiro centenário da Lupo e mantive intensa troca de e-mails com Liliana Aufiero, diretora-superintendente da empresa. Em meio a tantas conversas, o assunto Alda veio à tona e contei a história. Alda é prima dela. Certa manhã, estávamos ao telefone e Liliana disse “Espere um pouco”. Logo acrescentou: “Alda está no telefone, falem. E conte tudo”. Tinha feito uma conexão de linhas. Susto e prazer.

Do outro lado, a mesma voz me chegou, mais débil, agora de uma mulher de 80 anos. Conversa breve, sem nostalgias, muito pé no chão. Depois de 64 anos após ter deixado a cidade, a trava saiu da garganta. Contei da paixão reprimida. Alda riu suavemente, sempre me lembro do riso dela permeado de leve ironia: “Que louco! Você e eu? Curioso. E agora você me conta isso? Vou ter o que pensar nesta idade. Eu e você. O que seria? Nunca saberemos. Iremos embora os dois com essa dúvida. Mas foi bom saber-se amada”.

Domingo passado, Liliana Aufiero me ligou: Alda acabou de partir.

NETWORKING É MUITO IMPORTANTE NA VIDA

 

Saiba como construir e manter uma rede de contatos para avançar na carreira e nos negócios.

Por Sabrina Bezerra – StartSe

Se você pensa que networking é sobre pedir favores para outras pessoas, você está errado. “As relações de networking precisam de significado e nunca podem ser um interesse”, diz Carolina Martins, psicóloga e especialista em carreira, em entrevista à StartSe. Pois, trata-se de uma via de mão dupla. Você ajuda o outro, depois — ocasionalmente — será ajudado por ele no futuro.

O QUE É NETWORKING?

Networking é a prática de cultivo da rede de relacionamentos e contatos de um profissional, que pode abarcar diversos perfis, desde familiares, amigos, colegas de faculdade, de trabalho, gestores e até outras pessoas do campo de atuação do profissional ou aquelas que são de outras áreas, mas com interesses em comum”, conta Rafael Almeida, gerente de parcerias estratégicas da Robert Half.

QUAL É A DIFERENÇA ENTRE NETWORK E NETWORKING?

O network é a rede de contato — formada por pessoas que têm interesses similares — e é feita por meio de networking. Em outras palavras, “network é o nome que se dá à rede de contatos, propriamente dita. Já networking é a atividade de gestão da rede de relacionamentos”, diz Almeida. O networking serve, então, para construir e manter relacionamentos.

COMO FAZER UM BOM NETWORKING?

Fazer um networking de sucesso — naturalmente — traz mais oportunidades para o profissional. “Seja para indicação de emprego ou para fechar negócio com mais facilidade, por exemplo”, afirma Carolina. “Mas lembre-se: não é se aproximar para pedir coisas. É uma via de mão dupla em que as pessoas se ajudam mutuamente. O fato de pedir um favor descaracteriza completamente o processo de networking.”

Uma boa dica para fazer networking é participando de eventos e “cursos que conversem com os seus objetivos. [Essas são algumas] práticas que podem ampliar ainda mais a rede de contatos”, afirma Almeida. Para estabelecer a conexão, é importante que o profissional se importante com a outra pessoa. “Pergunte a empresa que ela trabalha, quanto tempo está no emprego, o que faz, o que estudou. Mostre que, de fato, você está interessado na conversa e não se aproximando para pedir algum tipo de favor.”

Além disso, vale lembrar que as pessoas que estão próximas a você fazem parte de sua primeira rede de contato. “Muitas vezes, o profissional ignora as pessoas que ele conhece e pensa que, para fazer networking, precisa conhecer pessoas novas. Mas não é bem assim. É bacana procurar formas de ativar e manter as pessoas que são próximas também, porque elas têm a própria rede de contatos e, com isso, podem conectar você com alguém que pode ser importante para a sua rede”, diz Carolina. “É bacana — antes de pensar para fora — conhecer mais a própria rede. Veja quem já esteve perto e ative esse contato.” Para retomar, é importante sempre se interessar pela pessoa primeiro. “Uma forma bacana de fazer isso — para a galera mais tímida que têm receio de reatar um contato de longa data — é esperar datas comemorativas, como o dia do aniversário ou da profissão”, conta Carolina.

COMO NÃO PARECER OPORTUNISTA?

Não mantenha contato apenas quando precisar. “Pergunte sobre a pessoa, como ela está e entenda também como você pode oferecer algo a ela”, afirma Carolina. “O ideal é que o contato seja constante, pois mesmo que a relação seja apenas profissional, é importante se manter presente. Afinal, o networking profissional só tem valor se o relacionamento for uma via de mão dupla, tanto online quanto presencial”, diz Almeida.

COMO FAZER NETWORKING ONLINE?

Quando falamos de networking online, é importante entender que não está associado à quantidade de conexões estabelecidas em redes sociais. “Os números são importantes, claro, mas a qualidade das conexões é mais relevante do que a quantidade”, afirma Almeida. Por isso, “é importante que o profissional estabeleça conexões com pessoas que têm algo para acrescentar à sua carreira, que podem fazer a indicação para uma vaga ou tenham interesse em compartilhar suas publicações”, conta Almeida. E vice e versa.

Outra dica, é atualizar os perfis das redes sociais “com informações relevantes sobre formação, experiência e qualificação.” Desta forma, será mais fácil manter por perto a rede de contato que faz sentido para você. “Outro ponto é se manter presente e visível. Desenvolver conteúdos relevantes e interagir em publicações estratégicas com comentários produtivos são duas opções interessantes. Se participar de cursos, palestras, lives, não deixe de compartilhar”, afirma o especialista.

PROBLEMAS QUE A STARTUP ValeOn RESOLVE:

A dinâmica empresarial cria fluxos no qual a população busca por produtos e serviços cada vez mais especializados. Desse modo a dinâmica e a rede comercial gera interferências em todas as cidades aqui do Vale do Aço.

Existem as mudanças de costumes e hábitos inseridos na sociedade que por meio das tecnologias acessíveis e do marketing chegam até aos menores lugares, levando o ideário de consumismo e facilitando que esses locais igualmente tenham oportunidade de acesso aos diversos produtos.

A facilidade no acesso as novas tecnologias, à propaganda e estímulo ao consumismo fazem com que mesmo, com o comércio físico existente nessas cidades, ocorra a difusão das compras por meio da internet.

O setor terciário agrega as atividades que não fazem e nem reestruturaram objetos físicos e que se concretizam no momento em que são realizadas, dividindo-se em categorias (comércio varejista e atacadista, prestação de serviços, atividades de educação, profissionais liberais, sistema financeiro, marketing, etc.)

Queremos destacar a área de marketing que é o nosso negócio que contribui na ampliação do leque de informações através da publicidade e propaganda das Empresas, Serviços e Profissionais da nossa região através do site que é uma Plataforma Comercial da Startup ValeOn.

A Plataforma Comercial da Startup ValeOn é uma empresa nacional, desenvolvedora de soluções de Tecnologia da informação com foco em divulgação empresarial. Atua no mercado corporativo desde 2019 atendendo as necessidades das empresas que demandam serviços de alta qualidade, ganhos comerciais e que precisam da Tecnologia da informação como vantagem competitiva.

Nosso principal produto é a Plataforma Comercial ValeOn um marketplace concebido para revolucionar o sistema de divulgação das empresas da região e alavancar as suas vendas.

A Plataforma Comercial ValeOn veio para suprir as demandas da região no que tange à divulgação dos produtos/serviços de suas empresas com uma proposta diferenciada nos seus serviços para a conquista cada vez maior de mais clientes e públicos.

O QUE FAZ A STARTUP ValeOn

A Startup ValeOn através do seu site que é uma Plataforma Comercial feita para fazer publicidade e propaganda online das Empresas, Serviços e Profissionais Liberais da região do Vale do Aço para as suas 27 (vinte e sete) cidades.

A nossa Plataforma de Compras e Vendas que ora disponibilizamos para utilização das Empresas, Prestadores de Serviços e Profissionais Autônomos e para a audiência é um produto inovador sem concorrentes na região e foi projetada para atender às necessidades locais e oferecemos condições de adesão muito mais em conta que qualquer outro meio de comunicação.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

CPI DA COVID TEM RECESSO DE DUAS SEMANAS

 

Investigação continua
Por
Olavo Soares – Gazeta do Povo
Brasília

Senadores Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros e Humberto Costa em visita à sala-cofre do Senado, que abriga acervo da CPI: comissão tem um terabyte de arquivos para analisar| Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Os senadores que integram a CPI da Covid planejam utilizar o período do recesso parlamentar para avaliar a grande quantidade de documentos que foi coletada pela comissão ao longo de quase três meses de atividade. O total de informações de posse do colegiado corresponde a um terabyte de memória, medida que equivale a um trilhão de bytes, a unidade básica de medidas na informática.

Os documentos de posse da CPI incluem elementos como informações enviadas por órgãos públicos e privados, relatórios de sigilos quebrados e gravações de vídeos e áudios. Os parlamentares, em especial os que fazem oposição ao governo de Jair Bolsonaro, acreditam que os conteúdos podem reforçar as linhas de investigação recentemente estabelecidas pela comissão.

“A quebra de sigilo bancário, fiscal e telemático é uma das prioridades de análise nos próximos dias. Nós vamos dedicar essas duas semanas para isso e não descartamos alguma eventual diligência”, declarou o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

A CPI não terá reuniões até o próximo dia 3, quando deve receber o empresário Francisco Maximiano, proprietário da Precisa Medicamentos, a empresa suspeita de intermediar a compra supostamente superfaturada da vacina Covaxin. O recesso parlamentar, que envolve Câmara e Senado e começa oficialmente neste sábado (17), está previsto na Constituição e ocorre quando os congressistas conseguem aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que regula os gastos federais para o próximo ano.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), autorizou a prorrogação da CPI por mais 90 dias — o prazo inicial para o término dos trabalhos do colegiado era o dia 7 de agosto. Randolfe, porém, descarta a utilização da totalidade da extensão. O senador acredita em uma prorrogação que fique entre 45 e 60 dias.

Randolfe também declarou que a CPI não terá relatórios parciais, e sim apenas um definitivo, feito por Renan Calheiros (MDB-AL). A hipótese de “sub-relatórios” havia sido colocada em pauta no início dos trabalhos da comissão, como alternativa para evitar que o colegiado ficasse disperso diante dos diferentes temas abordados.

De hospitais no Rio a contratos de logística
As sinalizações dos senadores de oposição — que são maioria na CPI — indicam que temas como tratamento precoce e “lentidão” para a compra de vacinas devem efetivamente ficar em segundo plano na nova etapa da comissão. O foco dos parlamentares deve ser mesmo a investigação sobre denúncias de corrupção que envolvem o Ministério da Saúde e outras suspeitas que envolvem a família Bolsonaro.

Segundo reportagem do jornal O Globo, a CPI analisará irregularidades na gestão de hospitais federais sediados no Rio de Janeiro. A linha de investigação foi aberta após o ex-governador fluminense Wilson Witzel falar à CPI. Na ocasião, Witzel disse que tinha conhecimento de suspeitas e que só poderia detalhá-las em uma reunião secreta com os integrantes da CPI. O senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente da República, seria responsável pela indicação de alguns dos responsáveis pelas irregularidades.

A apuração sobre os hospitais do Rio poderia conectar a CPI ao advogado Frederick Wassef. Ainda de acordo com O Globo, parlamentares da comissão estudam pedir a quebra dos sigilos de Wassef, que é o defensor de Flávio Bolsonaro e ganhou notoriedade após dar abrigo ao ex-policial Fabrício Queiroz, apontado como operador de um esquema de “rachadinhas” que existiria no gabinete de Flávio quando este era deputado estadual no Rio.

Outro ponto de possível investigação, e que também envolve Flávio Bolsonaro, é a relação entre a empresa VTCLog e o Ministério da Saúde, de acordo com informações da revista Crusoé. A VTCLog foi contratada pela pasta em 2016, quando o ministro era o hoje líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).

Na ocasião, Barros desmontou um segmento do ministério que fazia as atividades desempenhadas pela VTCLog — armazenamento e distribuição de medicamentos comprados pelo governo. A suspeita que envolve a VTCLog é a realização de contratos superfaturados com o ministério. O senador Randolfe Rodrigues chamou a VTCLog de “personagem novo” a ser abordado pela CPI.

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Governistas pressionam CPI por investigação em estados e municípios
Do lado dos parlamentares governistas, a expectativa é que o retorno da CPI simbolize o avanço de investigações sobre governos estaduais e municipais. Para os parlamentares mais alinhados com a gestão Bolsonaro, os principais problemas que o Brasil enfrenta em virtude da pandemia de coronavírus têm como motivo desvios ou equívocos praticados por prefeitos e governadores que receberam verbas do governo federal.

“Com essa prorrogação, eu espero que no segundo momento da CPI aqueles que hoje têm foco só no governo federal tenham interesse de investigar o que aconteceu com o dinheiro no Amazonas, Paraná, Nordeste, Santa Catarina, Brasil afora. Nós temos que parar de dar palco para bandido”, disse na quinta-feira (15) o senador Marcos Rogério (DEM-RO), em entrevista coletiva.

À Gazeta do Povo, o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) adiantou que uma estratégia que os governistas tentarão emplacar na CPI é o de buscar a convocação de prefeitos. Isso porque a presença de governadores é contestada pelo Judiciário. A CPI chegou a aprovar a presença de nove governadores, mas nenhuma sessão com eles se concretizou. Após Wilson Lima (PSC), do Amazonas, obter o direito de não comparecer, a comissão deixou de lado a prioridade de trazer os governadores. “Com base nisso, vamos tentar ouvir os municípios”, destacou Heinze.

O senador falou também que seu foco durante o recesso será o de aprofundar conhecimentos no campo científico. Ele é um dos principais defensores, na CPI, do tratamento precoce, e buscará ter mais informações sobre este procedimento e também sobre a vacinação. “Vou pegar a parte do tratamento e das vacinas e ficar interagindo”, declarou.

Heinze disse que não se focará nos sigilos e outros requerimentos coletados pela CPI por entender que as informações “alimentam narrativas”. “Eles [oposição] estão com narrativas para todos os depoentes, mas até agora não conseguiram nada”, afirmou.


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