sábado, 10 de julho de 2021

TECNOLOGIA NUM OUTRO UNIVERSO


Por
Fernando Pasquini Santos – Gazeta do Povo


Alvin Plantinga usou, em certa ocasião, a expressão “antirrealismo criativo” para referir o construtivismo social e cognitivo radical que domina amplos setores da vida acadêmica moderna, e que trata os valores humanos como meras projeções da mente humana na tela branca da realidade (para explicar Plantinga com uma figura de Charles Taylor). O resultado disso é uma visão de mundo na qual há um ser humano cheio de significados, num mundo inóspito e vazio deles.

Do ponto de vista da militância emancipacionista, a ortopraxia universitária contemporânea, o que se mira com o antirrealismo criativo são as estruturas de dominação, a exploração e os arbítrios dos poderosos, com a virgem intenção de desfazê-las. Ocorre, no entanto, que desnaturalizando as normas, estereótipos, categorias e instituições, a militância atira no poder constituído, mas acerta algo mais: a bala ricocheteia e acorda a fera do puro arbítrio! Pois, não havendo uma ordem da realidade, mas apenas o poder puro, por que haveria esse poder puro de se esconder? Por que temer a luz, se não existe o sol? O antirrealismo criativo não enfraquece o arbítrio; apenas cicatriza a sua consciência e lhe dá mais autoconfiança.

São muitos os lugares nos quais o colapso da realidade desorganiza moralmente e espiritualmente o ser humano. É assim com as leis, com as artes, com o sexo; mas um campo no qual esse processo é subexplorado é o campo da tecnologia. O modo como construímos dispositivos e sujeitamos pragmaticamente as coisas a nós mesmos é como que um equivalente ou contrapartida ética do antirrealismo criativo; pois, se não há uma realidade que se imponha a nós, por que não criar a realidade que desejamos por meio da tecnociência? E se com isso destruirmos esse planeta, isso não importa; em 50 anos colonizaremos Marte, o planeta vermelho e vazio. E lá vamos construir nossa própria realidade!

Na coluna de hoje abro novamente o espaço a Fernando Pasquini Santos, da Universidade Federal de Uberlândia, para um breve passeio pelo desafio de reimaginar a tecnologia como se existisse noutro universo – num universo no qual a realidade não é mera invenção humana.

Tecnologia a serviço da realidade
Fernando Pasquini Santos

“Deus fez o homem tal que ele fosse capaz de ter contato com a realidade – e que nenhum homem separe aquilo que Deus uniu.” (G. K. Chesterton)

Desde a minha graduação em Engenharia de Computação, em 2012, tenho sido incomodado por uma pergunta um tanto óbvia para alguém da minha área, porém nada fácil: o que deveríamos estar fazendo com a tecnologia, afinal? Ou seja: quais os rumos para o desenvolvimento e inovação tecnológica, para a regulamentação e uso de novas tecnologias, e mesmo para o abandono ou mudança dos paradigmas sociotécnicos atuais?

Confesso que, com 22 anos, um diploma de graduação e nenhuma leitura minimamente crítica sobre isso (afinal, tinha lido apenas livros técnicos até então), eu me via completamente perdido, sem saber por onde começar. É claro que tinha uma vaga noção de que essa pergunta já havia sido discutida por muita gente em toda a história, e que a resposta não seria simples ou incontroversa. Mas, ao mesmo tempo, não fazia ideia de qual autor ou abordagem começar estudando, e não conhecia pessoas que pudessem me indicar uma direção. Espantava-me também o desinteresse da grande maioria dos meus colegas pela questão. As respostas sempre foram vagas, coisas como “ajudar pessoas enquanto se ganha um sustento financeiro”. No entanto, eu perguntava: o que é “ajudar pessoas”? Meu ambiente sempre foi muito pobre nessas discussões. Anos depois, lendo Langdon Winner, um filósofo da tecnologia, pude constatar o problema. Ele escreve, em Engineering Ethics and Political Imagination:

“Nossas instituições educacionais hoje em dia enganam os alunos ao evitar tais questões, negligenciando o estudo focado nos alicerces morais e políticos da vida profissional. […] Chega a ser uma surpresa, por exemplo, para alguns alunos quando eles percebem que projetos de engenharia tendem a refletir alguns interesses econômicos e sociais e não outros. Eles não aprendem praticamente nada sobre a história de suas áreas, sobre quem trabalha para quem e como tudo isso veio a ser. Estes são segredos muito bem guardados. No momento em que alguém consegue o diploma, tudo o que ele ou ela pode vir a querer saber é: onde estão aquelas pessoas legais com todos os trabalhos que pagam bastante?”

Na desistência da tentativa de chegarmos a um acordo sobre a boa vida e o bem comum, resta-nos apenas o know how, sem qualquer know why que o acompanhe

De forma mais fundamental ainda, no entanto, Winner chama atenção para a incapacidade – não só de engenheiros e tecnólogos, mas de todas as pessoas – de pensar sobre questões de bem comum e a boa vida, e suas relações com desenvolvimento tecnológico. Diz ele:

“De fato, não é fácil buscar clarificar as noções básicas que devem guiar o desenvolvimento e uso de nossos meios técnicos. As pessoas têm entendimentos muito diferentes acerca do significado e aplicação apropriada de termos como liberdade, justiça, segurança, direitos humanos, bem estar, bem público, e outros conceitos-chave. Mas é crucial que tais ideias sejam continuamente discutidas e debatidas ao longo de nossas deliberações sobre escolhas tecnológicas cruciais. Se não fizermos isso, ideias sobre ‘como’ começarão a ser nosso único pensamento. De fato, como Jacques Ellul argumentou, parece ser o destino do pensamento moderno substituir qualquer preocupação viva com as finalidades humanas por discussões estéreis sobre instrumentalidade e eficiência.”

Ou seja: na desistência da tentativa de chegarmos a um acordo sobre a boa vida e o bem comum, resta-nos apenas o know how, sem qualquer know why que o acompanhe. Isso não é estranho a vários críticos da filosofia liberal, que inclusive atrelam o desenvolvimento da tecnologia moderna a um ideal da definição do bem como algo puramente ligado a uma preferência e escolha pessoal. A sociedade tecnológica – e todas as suas infraestruturas – parece apenas preocupada em construir a sociedade humana como uma grande prateleira de supermercado, ou, diríamos, uma app store, onde o bem individual é escolhido e adquirido. Ou, como diz Taylor Dotson em Technology, Choice and the Good Life: questioning technological liberalism, a filosofia liberal que subjaz ao estilo de vida contemporâneo assume “que a boa vida é puramente uma questão de responsabilidade individual. Ou seja, se houver um problema com a tecnologia e a busca da felicidade ou florescimento humano, é simplesmente que o espaço neutro necessário para os indivíduos explorarem e construírem pessoalmente a boa vida tecnológica para si mesmos pode estar ameaçado por algo como má conduta governamental ou desigualdade de renda”.


Hoje, como professor de Engenharia, vejo essa mentalidade em grande parte dos alunos, ao pedir que elaborem propostas de inovação. A forma como respondem à pergunta “o que devo fazer com tecnologia?” envolve, basicamente, apenas a ideia de desenvolvimento de um produto ou serviço, empacotado numa solução pronta, e distribuído ou disponibilizado em um espaço neutro de opções, para serem escolhidos por indivíduos livres e autodeterminados com necessidades que, como prega o tal ideal do “projeto centrado no usuário”, são sempre absolutas. Não há uma noção abrangente de bem comum ou boa vida: são apenas facilidades, confortos, ganhos e preferências particulares, desconectados de qualquer ideal mais amplo de uma vida direcionada (coletivamente) a um telos.

Assim, como poderíamos começar a articular melhor a relação entre tecnologia e a boa vida?

Tecnologia e a boa vida na obra de Albert Borgmann
Posso narrar uma parte da minha trajetória ao buscar respostas. Prossegui com algumas leituras durante meu doutorado em Engenharia Elétrica e posterior admissão como professor de Engenharia Biomédica na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Comecei, lá em 2013, com Jacques Ellul, o sociólogo e teólogo francês e sua maior obra, A Técnica e o Desafio do Século, e sua importante reflexão sobre o fenômeno técnico dominando a totalidade da vida humana e suas consequentes distorções na vida social. Avancei por Carl Mitcham, o grande sistematizador da área de filosofia da tecnologia, que em seu livro Thinking Through Technology realiza uma excelente e acessível história do pensamento sobre tecnologia, indicando vários autores e suas ideias. Conheci algumas linhas de pensamento na área dos science studies, como as reflexões de Bruno Latour sobre tecnociência e a teoria das ações e da automação de Harry Collins e Martin Kusch. Por fim, cheguei à tradição heideggeriana de pensamento sobre tecnologia, que acabou por me influenciar definitivamente na forma de pensar sobre tecnologia e a boa vida.

Veja bem: mesmo me aventurando pela filosofia, ainda sou um professor de Engenharia, com aulas, projetos e pesquisas, e sem muita oportunidade para encarar uma obra como Ser e Tempo de Heidegger. Meu contato com o alemão sempre foi de forma indireta, por meio de autores na própria filosofia da tecnologia, elaborando e mesmo divulgando seu pensamento. Foram esses, efetivamente, que mais me influenciaram: Hubert Dreyfus, Byung-Chul Han, Albert Borgmann, Hartmut Rosa. Apesar das diferenças, o que mais me chama a atenção em todos eles, bem como no próprio Heidegger, é a percepção do ser humano como ser-no-mundo; ou seja, o caráter essencialmente situado da existência humana – situado no corpo, na ação, no horizonte da experiência (veja, por exemplo, o belíssimo documentário Being in the World, de Tao Ruspoli, para entender do que estou falando). A partir dessa percepção, Heidegger preocupava-se muito com o afastamento da experiência plena da realidade, e o empobrecimento da vida humana, apontando como uma das causas disso uma forma tecnológica de se aproximar e “enquadrar” (Gestell) as coisas – ou seja, encará-las como meros depósito de recursos disponíveis para serem apoderados e explorados como meros meios ou instrumentos, sem finalidades ou sentidos próprios.

Borgmann argumenta que a vida contemporânea é marcada por um paradigma de dispositivo, ou seja, uma propagação sem fim de dispositivos em todas as esferas da vida humana

Mas acredito que foi Albert Borgmann, professor de Filosofia na Universidade de Montana, que desenvolveu essas ideias iniciais de Heidegger acerca da tecnologia e conseguiu conectá-la a uma reflexão um tanto explícita sobre o tema da boa vida, a qual ele incorpora ao que eu chamaria de uma filosofia do engajamento com a realidade. Em sua maior obra, Technology and the Character of Contemporary Life, de 1987, Borgmann argumenta que a vida contemporânea é marcada por um paradigma de dispositivo, ou seja, uma propagação sem fim de dispositivos em todas as esferas da vida humana. Para ele, o dispositivo, em contraste com o que ele denomina “coisas”, apresenta uma separação radical entre meios e fins – ou, como ele prefere chamar, entre maquinários ocultos e experiências finais. Pense, por exemplo, no seu próprio computador: você não faz a menor ideia do maquinário que lhe entrega a experiência de navegar na web. Da mesma forma, você também não sabe como o pão de forma que comprou e comeu foi feito. E ainda mais, você também não tem o menor contato com burocracias que administram serviços e infraestruturas das quais você recebe benefícios. Tudo isso, argumenta Borgmann, se desenvolve sob ideais de disponibilidade, facilidade (“agora você não precisa mais”) e maior controle sobre as nossas experiências; algo que ele reconhece como bom e útil, de fato, porém que se torna tão marcante e presente (paradigmático) que atenua nosso engajamento com as coisas e nos lega um vazio existencial:

“Nosso contato com a realidade foi atenuado pelo pressionar de botões e o giro de manivelas. Assim, a tecnologia, em seu glamour desconectado e insubstancial, provoca desorientação e distração, que são precariamente situados entre o ressentimento mal-humorado e o esforço hiperativo.”

Mas, após diagnosticar o problema, Borgmann também oferece um contrapeso ao paradigma do dispositivo. O autor nos chama a uma atenção redobrada àquilo que ele chama de coisas e práticas focais, que promovem um profundo engajamento com o mundo e seu sentido. São tanto coisas focais, que impõem o que ele chama de uma presença eloquente (como um pôr-do-sol ou uma catedral gótica), como práticas focais, que demonstram padrões de excelência humana – seja ela física ou intelectual (como cozinhar ou andar a cavalo). Borgmann argumenta, em Power Failure: Christianity in the Culture of Technology, que precisamos garantir um espaço maior para essas coisas em nossas vidas:

“Quando se trata do problema de preparar uma refeição e juntar nossos queridos em volta da mesa, nós o aceitamos não apenas na prática, mas também em princípio porque a alimentação, se separada de sua preparação real e o envolvimento pessoal, perderia seu horizonte sacramental. Similarmente, o problema de se levantar cedo, dirigir até a entrada de uma trilha e, mais importante, a dor e o cansaço de uma subida íngreme são as formas insubstituíveis de perceber a elevação imponente de uma montanha.”


Borgmann, que também é cristão católico romano, percebe que o engajamento com a realidade tem uma dimensão sacramental: o próprio Deus é revelado no mundo criado, de forma que engajar-se mais plenamente com ele significa, em linguagem teológica, contemplá-lo e participar de sua vida. Isso se dá tanto por meio do contato com o mundo criado por Deus, quanto por meio do próprio exercício da excelência da habilidade humana – pois, como diz o profeta Isaías ao descrever a engenhosidade do trabalho do agricultor: “também isso procede do Senhor dos Exércitos; ele é maravilhoso em conselho e grande em sabedoria” (Isaías 28,29).

E, antes que se pense que sua proposta seja simplesmente uma atitude “natureba”, ingenuamente romântica, que exclui e se coloca contra qualquer nova tecnologia, é importante ressaltar que, com essa reflexão, Borgmann quer, na verdade, promover uma reforma da tecnologia. Borgmann propõe que desenvolvamos tecnologia de forma que ela nos direcione cada vez mais para as coisas e práticas focais, e não para longe das mesmas. Em outras palavras: Borgmann quer que busquemos uma tecnologia a serviço da realidade.

Tecnologia e acriacionismo
Mas, afinal, o que seria uma tecnologia que não esteja a serviço da realidade, ou, ainda, uma tecnologia que nos afasta dela? Norman Wirzba, teólogo cristão, tem uma pista interessante: em sua obra From Nature to Creation, Wirzba chama atenção para a forma como nossa cultura material pode refletir ou 1. um desejo de receber a criação de Deus com gratidão, aproximando-se dela e santificando-a, ou 2. um desejo rebelde de rejeitá-la e substituí-la com nossa própria ordem, produzida apenas por nossas próprias vontades corruptas. Neste último caso, teríamos, nas palavras de Egbert Schuuman, um projeto babélico de contracriação, um acriacionismo.

Chamo de acriacionismo uma forma de viver como se certas realidades não existissem, não fossem importantes ou mesmo não tivessem um sentido intrínseco (o próprio Wirzba associa a atitude acriacional ao desencantamento do mundo trazido com a modernidade, esvaziando as coisas de suas essências). Ou seja: passamos a desprezar – ou refazer ao nosso próprio gosto – vários aspectos do mundo real, como tempos, lugares, corpos, relacionamentos.

Somos educados nessa ideia. Como diz Anthony Esolen, em Dez Maneiras de Destruir a Imaginação de Seu Filho, o objetivo da educação moderna é “impedir as [crianças] de travarem uma relação profunda com a realidade” (p. 126). Os “métodos” dessa educação se manifestam em dez imperativos, que formam os dez capítulos de seu livro: 1. afaste as crianças do ar livre, 2. afaste-as das outras crianças, 3. afaste-as das máquinas, maquinistas e artesãos (perceba: tecnologias também são realidade!), 4. afaste-as dos contos de fadas, 5. afaste-as da sua terra, país e nacionalidade, 6. afaste-as dos heróis, 7. afaste-as do amor, 8. afaste-as das diferenças entre os sexos, 9. afaste-as do silêncio e 10. afaste-as do divino. E, é claro, preencha isso com qualquer coisa superficial e narcisista, que não permita um encontro autêntico com “o mundo além de sua cabeça”.

Nossa tecnologia também tem levado a uma rejeição do corpo, limitando-o a apenas cadeiras e telas. O trabalho com as próprias mãos é desvalorizado e tomado como uma ineficiência a ser superada pelas máquinas

Podemos dar milhares de exemplos. Nossa tecnologia se coloca profundamente contra a realidade do tempo quando despreza os ritmos criacionais, e passa a estressar as estruturas temporais do homem e da sociedade por meio de um processo de aceleração, como aponta o sociólogo alemão Hartmut Rosa. Não existe tempo para dormir, para estar à toa – o que recai em nossa sociedade do cansaço e do burnout –; não existe tempo para cura e restauração, nossa e da natureza (levando à nossa crise ambiental). A modernidade secular expurgou o tempo, rasgando e queimando o capítulo 3 do livro de Eclesiastes.

Rejeitamos, também, a realidade do espaço e do lugar, e passamos a viver em não lugares, como já refletiu a obra de Marc Augé. Não temos mais pontos de orientação espacial a partir dos quais obtemos sentido – a tal Topofilia descrita por Yi-Fu Tuan –, e ficamos perdidos no ciberespaço e na cosmologia moderna, sem referenciais. As coisas não têm mais posição e distância; tudo está igual e uniformemente disponível ao alcance do dedo, dentro de nossos quartos, como na realidade distópica de A Máquina Parou, de E. M. Forster. O espaço público desaparece, e dá lugar apenas à aridez dos muros, pistas, cabos, antenas e monoculturas.

Nossa tecnologia também tem levado a uma rejeição do corpo, limitando-o a apenas cadeiras e telas. O trabalho com as próprias mãos é desvalorizado e tomado como uma ineficiência a ser superada pelas máquinas – ou seja, não há mais sentido no uso de nossas capacidades físicas para a realização de ações no mundo físico (exceto, claro, por motivos de manutenção da máquina – comer, exercitar-se e dormir), e passamos a ignorar a própria possibilidade de florescimento humano e desenvolvimento em virtude por meio da techné – elementos que poucos profetas como Richard Sennett (O Artífice) e Matthew Crawford (The Case for Working with Your Own Hands) continuam a ressaltar. Comida, como lamenta Michael Pollan em Cooked, se torna mero combustível.


A tecnologia também pode levar à rejeição dos relacionamentos e do senso de comunidade, como apontaram Sherry Turkle, em Life on the Screen, ou a recente obra de Taylor Dotson, em Technically Together: Reconstructing Community in a Networked World. Afastamo-nos uns dos outros, da relação com o Tu (Martin Buber), e promovemos uma profunda perda de capital moral – ou seja, capacidade de alianças, compromissos, autodoação e solidariedade. O individualismo liberal corrói o senso de comunidade (como já apontaram tantos, começando por Robert Nisbet), tanto a cívica como a própria realidade da família e do lar. O senso de domesticidade é abolido e tomado como inútil, enfadonho, estúpido: casas e bairros tornam-se meros dormitórios e centros de entretenimento, relegados a trabalhadores-dispositivos terceirizados durante a maior parte da semana.

Assim, diante desse acriacionismo, como poderíamos pensar numa reforma da tecnologia, colocando-a a favor da realidade – do tempo, do espaço, do corpo, da comunidade? Esse é o desafio. Há muito a ser articulado e pensado. Mas veja bem: já temos um princípio norteador para nossos projetos e pesquisas. “Essa minha proposta tecnológica nos aproximará ou nos afastará da realidade?”: esta é a pergunta que deveríamos estar fazendo. É a pergunta que estou fazendo na minha própria área de pesquisa, por exemplo, ao estudar sobre uma maior presença do corpo na interação humano-computador (IHC).

O mundo além de sua cabeça
Estou consciente de que, diante da minha proposta, alguém ainda poderia perguntar: por que usar esse termo “realidade”? Afina, o que não é real? Não estamos o tempo todo em contato com a realidade? De certa forma, sim, concordo com isso. No entanto, digamos que há coisas “mais reais” que outras. Subscrevo a proposta feita por L. M. Sacasas em In Search of the Real:

“Talvez seja melhor falar do real não como o oposto do virtual, mas como aquilo que está além de nossa manipulação, o que não pode ser diferente.”

Em outras palavras: podemos definir realidade como aquilo que se apresenta como algo fora de nós, que não está sob nosso controle e vontade, que nos interpela, ou que, como disse C. S. Lewis, nos arranca de nós mesmos. Viver na realidade é responder a, e estar numa relação de dependência para com um Outro, fora de nós mesmos; em contato com a fonte de vida, o Espírito de Deus que nos sopra fôlego nas narinas e nos sustenta a cada instante. Nesse sentido, portanto, há, sim, uma dualidade fundamental entre estar na presença de Deus – ou seja, em contato com a realidade – ou fora dela, em direção ao vazio. (C. S. Lewis capturou isso muito bem em O Grande Abismo).

Hartmut Rosa, filósofo e sociólogo alemão, dá a isso o nome de ressonância. Seu conceito, ao que me parece, aproxima-se muito da ideia de Borgmann de coisas e práticas focais. Para ele, uma relação de ressonância possui quatro elementos centrais: a afetação (um “chamado” que vem de fora), a resposta autoeficaz, a transformação (tanto do eu como do mundo, a partir do relacionamento), e a indisponibilidade (no sentido de não poder ser imposta, e também no sentido de não se poder prever os resultados). É por meio da ressonância que recebemos a incontrolabilidade do mundo e, com isso, suas maravilhas.

“Essa minha proposta tecnológica nos aproximará ou nos afastará da realidade?”: esta é a pergunta que deveríamos estar fazendo

Alguém também poderia perguntar: “mas isso não significaria um tipo de estocismo, de aceitação passiva das circunstâncias, impedindo o desenvolvimento de tecnologias que possam modificá-las? Será que, com essa ideia de recebermos e afirmarmos a realidade, não estaríamos dizendo que não podemos controlar nada nela?”

Creio que não, e nem Borgmann, nem Wirzba, nem Rosa quiseram dizer isso. É claro que podemos modificar, alterar, criar, inovar. Mas tudo isso deve começar com a consciência clara de nossa finitude e responsabilidade (Hans Jonas). J. R. R. Tolkien pode nos ajudar aqui, com a ideia de que somos subcriadores: nós criamos coisas novas e modificamos circunstâncias, mas sempre partindo de um horizonte daquilo que é dado; um horizonte criacional. O próprio Tolkien fala da fantasia como uma atividade de “escape de um prisioneiro”, e não uma “fuga do desertor”: ou seja, nós agimos para tornar a realidade melhor, e não fugir dela. E, se é que vamos tornar algo melhor, temos de reconhecer e afirmar a realidade em primeiro lugar.

Os antigos reconheciam isso muito bem: agir na realidade é também deixar que a realidade aja em nós. O processo criativo é sempre mútuo – é ressonância. Veja o que diz Carl Mitcham sobre a techné antiga em Thinking about Technology:

“A ontologia clássica ou pré-moderna envolve olhar para a matéria como uma realidade viva direcionada a tomar uma forma – de acordo com a forma que ela já possui e as potencialidades que ela contém. […] Nenhuma matéria […] é algo puramente neutro ou sem vida a que se pode impor algo segundo a própria vontade; ela busca ou está relacionada a uma forma […] É por isso que Aristóteles pode falar de forma quase legítima de um ‘desejo’ por parte da matéria. É também por isso que, tradicionalmente, a disciplina moral não podia ser separada da atividade de produção; é a disciplina moral, em vez da intelectual, que cultiva a receptividade humana às necessidades e desejos de outro, que desenvolve a habilidade de respeitar outros seres (sejam humanos ou não) por aquilo que eles são em si mesmos. Incidentalmente, é também por isso que a alquimia é um empreendimento sagrado em vez de um profano: é um ‘trabalho’ que tem lugar tanto no sujeito como nos materiais. A transmutação de um metal base em ouro é apenas o correlato exterior de uma espiritualização interior ou divinização da alma.” (p. 131–132)

Sem uma essência criacional humana, dada previamente, a ideia de melhoria ou aprimoramento não faz qualquer sentido

Filosofias como a do transumanismo e pós-humanismo parecem rejeitar essa ideia de uma ordem criacional prévia na qual nos movemos, vivemos e existimos, insistindo na ideia de que são conceitos limitantes ou até mesmo imposições de poder (vide, por exemplo, Donna Haraway e outros na teoria crítica; ou mesmo o que se poderia apontar como uma raiz gnóstica nesses movimentos). Muitos dos seus proponentes criticam a atitude dos autores chamados “bioconservadores”, acusando-os de um tipo de estocismo, que aceita qualquer circunstância e não se esforça para mudá-las. E, embora não pense que essa acusação se aplique a muitos deles, creio que o argumento tem força: de fato, nós podemos e devemos, sim, agir com sabedoria e coragem para modificar circunstâncias e florescer melhor como seres humanos.

No entanto, veja bem do que estamos falando: florescer como seres humanos. Sem uma essência criacional humana, dada previamente, a ideia de melhoria ou aprimoramento não faz qualquer sentido. O pós-humanismo só pode pregar, para usar os termos de C. S. Lewis, a abolição do homem; no entanto, onde encontraremos outra coisa para nos apegar, além do próprio homem? Certamente nossos desejos individuais, limitados como são e inevitavelmente moldados pelo milieu sociopolítico, não parecem ser uma saída muito libertadora. Buscar relações livres com o poder, de “autoestilização criativa”, como as propostas de um Foucault ou um Sartre, também não parece um caminho convincente; se me permitem a franqueza, são apenas palavras vãs que, na prática, ainda nos deixam escravos de nossos desejos limitados. É preciso um toque vindo do lado de fora: “onde há o Espírito, aí há liberdade”. Somente por meio dessa extroversão espiritual poderemos saber o que desejar e buscar em nossa tecnologia, recebendo uma sabedoria humilde, que aceita e se submete ao sentido primitivo da realidade, sentido que está fora e além de nós; uma sabedoria que responde à realidade e que vive para santificá-la


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/guilherme-de-carvalho/tecnologia-e-realidade-fuga-ou-engajamento/
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DEPUTADO PODE TER GRAVADO CONVERSA COM BOLSONARO

 

  1. Política 

Há suspeitas de que presidente também cite Lira e Ciro Nogueira, líderes do Centrão, no áudio

Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) afirmou nesta sexta-feira, 9, que foi gravada a conversa entre o deputado Luis Miranda (DEM-DF), o servidor público Luis Ricardo Fernandes Miranda e o presidente Jair Bolsonaro, no dia 20 de março. Em uma publicação no Twitter o petista escreveu que “são 50 minutos de muita informação e baixaria”. A  pessoas próximas, Pimenta disse que Miranda exibiu um trecho da gravação a um grupo restrito de parlamentares, em Brasília.

Auxiliares de Bolsonaro têm certeza de que existe esse áudio e temem os desdobramentos da crise. Segundo o site O Antagonista, o presidente não teria mencionado apenas o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), como responsável pelo esquema de corrupção que envolveu o contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), e o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, também teriam sido citados. Os três formam o núcleo do Centrão, bloco que sustenta Bolsonaro no Congresso.

Luis Miranda
Deputado Luis Miranda durante depoimento à CPI da Covid. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Os irmãos Miranda disseram à CPI da Covid que relataram a Bolsonaro, na reunião ocorrida no Palácio da Alvorada, em 20 de março, cobrança de propina e outras irregularidades na compra da Covaxin, vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech.

No depoimento, o deputado afirmou que Bolsonaro atribuiu os problemas a “mais um rolo” de Ricardo Barros. No Congresso, a avaliação é a de que, se esta declaração for confirmada, a governabilidade estará comprometida e o grupo de Barros poderá se voltar contra o Palácio do Planalto. Suspeitas de falcatruas nas negociações para a aquisição de vacinas estão hoje no foco da CPI.

Duas semanas depois de Miranda ter afirmado que Bolsonaro fez o comentário desabonador sobre Barros, o silêncio impera no Planalto. Provocado por meio de uma carta enviada pela cúpula da CPI a rebater a versão do deputado, um ex-aliado, o presidente disse que vai ignorar a missiva. “Caguei para a CPI. Não vou responder nada”, afirmou ele na quinta-feira, 8, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.

Até o momento,  Miranda tem negado, publicamente, que tenha gravado Bolsonaro. Mas sempre faz a ressalva de que não estava sozinho no encontro e que, na CPI da Covid, seu irmão Luis Ricardo não foi perguntado sobre isso

Estadão apurou que o deputado já está sendo abastecido com pareceres jurídicos sobre consequências de eventual divulgação de conversa gravada sem anuência do interlocutor. As análises jurídicas recebidas por seu gabinete consideram possíveis implicações criminais e políticas. Procurado, Miranda disse apenas que a decisão de confirmar ou não a existência do áudio “deve ser técnica, jurídica e política, e não midiática”.

Nos pareceres estão observações de que poderá haver crime, caso a gravação contenha algum segredo de Estado. Do contrário, à luz da lei 9.296/96, o deputado não estaria cometendo qualquer infração criminal ou administrativa. Mesmo assim, o uso da gravação em algum inquérito é passível de questionamento judicial.

Outro aspecto dos pareceres aponta para uma possível consequência política a Miranda. Ele foi alertado de que, caso tenha gravado o presidente, deverá ser alvo de representação no Conselho de Ética da Câmara. A punição extrema lhe custaria o mandato.

Em 2019, o deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) foi processado no colegiado por ter gravado e divulgado uma reunião da bancada do partido na qual foram feitas críticas a Bolsonaro. O fato levou o conselho a suspender o mandato dele por dois meses.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

CPI HOUVE HOJE SERVIDOR DA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA

 

  1. Política 

Sobre pressões na negociação da Covaxin

William Amorim Santana já foi foi citado nos depoimentos do servidor Luis Ricardo Miranda e da fiscal de contratos da Pasta, Célia Regina


Cássia Miranda, O Estado de S.Paulo

Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid recebe nesta sexta-feira, 9, mais um servidor do Ministério da Saúde. Desta vez, quem depõe é o técnico da divisão de importação da Pasta, William Amorim Santana. A sessão está marcada para 9h. 

A expectativa é de que o servidor apresente esclarecimentos sobre possíveis pressões no contrato firmado entre o governo federal e a Bharat Biotech, representada no Brasil pela Precisa Medicamentos para o fornecimento de 20 milhões de doses da vacina Covaxin

CPI da Covid
Senadores em sessão da CPI da Covid. Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

A previsão inicial da comissão para hoje era ouvir reservadamente, no Rio de Janeiro, o ex-governador fluminense Wilson Witzel (PSC). A oitiva seria uma continuidade do depoimento prestado por ele à comissão, em 16 de junho, quando afirmou aos senadores ter “fatos graves” a relatar e garantiu que a corrupção na área da Saúde do Estado continuou após seu impeachment. 

No entanto, após a oitiva da fiscal de contratos do Ministério da Saúde, Regina Célia Oliveira, na última terça, 6, o comando da comissão decidiu priorizar nesta semana a linha de investigação sobre a compra da Covaxin. 

A convocação de William foi feita a pedido do vice-presidente da CPI da Covid, Randolfe Rodrigues (Rede-AP). “O convocado  é servidor do Ministério da Saúde e, nessa condição, tem conhecimento de informações relevantes sobre esse contrato, daí a importância do depoimento”, destacou o senador no requerimento. 

Segundo Regina Célia, William teria sido designado para fiscalizar os valores e especificações do “invoice” (espécie de faturas para negociações internacionais) da Covaxin.

Também em depoimento à CPI, o chefe do órgão, Luis Ricardo Miranda, a quem William é subordinado, afirmou que se recusou a assinar a autorização para importação do imunizante em função dos indícios de irregularidades. Segundo relatou o irmão do deputado Luis Miranda (DEM-DF), houve “pressão atípica” de seus superiores hierárquicos para aprovação rápida da negociação com a Bharat. 

Aos senadores, Luis Ricardo afirmou ainda que na análise das invoices foram encontradas informações diferentes daquelas do texto original do contrato. Algumas dessas divergências: a forma de pagamento, a quantidade de doses e a indicação de uma empresa intermediária, a Madison Biotech, com sede em Cingapura.

APOSENTADORIA DO MINISTRO MARCO AURÉLIO É FORMALIZADA

 

  1. Política 

Presidente já adiantou que vai indicar o advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga na Corte

Redação, O Estado de S.Paulo

A aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), foi oficializada nesta sexta-feira, 9. A saída do ministro está publicada no Diário Oficial da União (DOU) de hoje e é assinada pelo presidente Jair Bolsonaro. O ministro, que está no posto há 31 anos, deixará o cargo na próxima segunda, quando completará 75 anos.

Para a vaga, o chefe do Executivo já declarou que irá indicar o advogado-geral da União (AGU), André Mendonça. Para ser nomeado, ele ainda precisará passar por sabatina e aprovação no Senado.

ministro Marco Aurélio Mello
Ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF) Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Há dois dias, Bolsonaro, que já havia prometido a indicação de um nome “terrivelmente evangélico para o cargo”, disse em entrevista à Rádio Guaíba que “uma pitada de religiosidade, de cristianismo, dentro do Supremo, é bem-vinda.”

A saída de Marco Aurélio, que se dá pelo atingimento de idade-limite para a aposentadoria compulsória, já estava programada. O anúncio da data foi feito em maio e, em meados de junho, o decano enviou ofício à presidência da Corte confirmando a data de retirada.

Conhecido como o ministro dos votos contraditórios, Marco Aurélio chegou ao STF em 1990, por indicação do ex-presidente Fernando Collor de Mello, de que é primo. 

O mais recente dos casos em que o decano foi voto vencido na Corte foi a decisão monocrática de conceder, em outubro passado, liberdade ao traficante André do Rap, ligado à facção criminosa PCC em São Paulo.

André Mendonça

Ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública, Mendonça acumulou desgastes com o Congresso e o Judiciário ao requisitar à Polícia Federal (PF) a abertura de uma série inquéritos contra adversários de Bolsonaro com base na Lei de Segurança Nacional (LSN), considerada por parlamentares um “entulho” da ditadura. As ações de Mendonça, feitas por ordem de Bolsonaro, têm sofrido reveses no Ministério Público e em tribunais onde são julgados.

O atual AGU é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança, localizada em Brasília. “Além de ser evangélico – ele é evangélico, mas não quer dizer que seja uma virtude; é um direito dele acreditar na Bíblia –, Mendonça tem notável saber jurídico. É uma pessoa humilde”, definiu Bolsonaro na entrevista da última quarta, 7.

Nos últimos meses, Mendonça se encontrou com diversos senadores para diminuir a resistência a seu nome na Casa, conforme relatou o Estadão. O indicado de Bolsonaro precisa de ao menos 41 votos no Senado. 

Confiante da aprovação da indicação de Mendonça, Bolsonaro propôs, na entrevista, que, com o ingresso do advogado-geral da União na Corte, as sessões do Supremo deveriam incluir agora ritos religiosos. “É bom que uma vez por semana, nessas sessões que são abertas no STF, (os ministros) começassem com uma oração do André (Mendonça)”, disse. 

Wesley Galzo, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Último dos ministros indicados pelo ex-presidente Fernando Collor de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF), o decano Marco Aurélio Mello aposenta a toga que vestiu nos últimos 31 anos no dia 12 de julho, quando completa 75 anos – idade-limite para a função. Em três décadas, o juiz carioca e primo de Collor foi uma voz dissonante e autor de votos que provocaram reações duras dos pares e da opinião pública.

Desde 1990 no Tribunal, Marco Aurélio teve seu nome ligado à alcunha de “o ministro do voto vencido” e dos habeas corpus impopulares. O mais recente foi a decisão monocrática de conceder, em outubro passado, liberdade ao traficante André do Rap, ligado à facção criminosa PCC em São Paulo.

Marco Aurélio Mello
Ministro Marco Aurélio Mello, que deixa o Supremo Tribunal Federal (STF) após 31 anos. Foto: Dida Sampaio/Estadão – 02/10/2019

Na ocasião, o ministro argumentou havia expirado o prazo da prisão preventiva sem que tivesse ocorrido renovação da decisão, ou sentença condenatória definitiva. O traficante foi solto e, agora, encontra-se foragido. O caso foi levado ao plenário, que isolou Marco Aurélio: foram nove votos favoráveis ao retorno de André do Rap à prisão. Foi assim também quando o plenário julgou os habeas corpus concedidos pelo decano ao ex-banqueiro Salvatore Cacciola; ao goleiro Bruno e a Suzane Von Richthofen.

Num caso de decisão individual que resultou em crise entre os poderes, Marco Aurélio concedeu, em 2016, liminar provisória para afastar o senador Renan Calheiros (MDB-AL) do cargo de presidente do Senado. O ministro fez valer a jurisprudência da Corte de que réus não podem ocupar a linha sucessória da Presidência da República. Dois dias depois, porém, o plenário desfez a medida e reconduziu Renan ao posto, com a condição de que não assumisse o controle do País. 

Levantamento feito pelo pesquisador Jeferson Mariano, doutor em ciência política pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e estudioso do Judiciário, aponta que Marco Aurélio apresentou votos isolados do restante do colegiado em 13,52% das ações que tratam da constitucionalidade dos atos ou omissões de outros Poderes. O estudo considerou os 3.738 julgamentos colegiados entre 1988 e 2017 – o decano participou de 3.098 votações.

Mariano avalia que Marco Aurélio se dedicou mais a expor para o público aquilo que lhe pareciam as fragilidades das decisões da Corte do que em colaborar com a formação de maiorias. “O ministro acabou se tornando uma espécie de ombudsman no Tribunal”, afirma Mariano. “A marca de sua atuação foi a decisão de falar preferencialmente para fora do Supremo.”

Marco Aurélio foi um dos criadores da TV Justiça e é um dos integrantes da Corte com maior interlocução com a imprensa. A lei que criou o canal foi sancionada simbolicamente por ele, em maio de 2002, no período de sete dias em que ocupou a cadeira de presidente da República. 

No STF, Marco Aurélio já teve embates com colegas. Em outubro de 2004, ele chamou o ex-ministro Joaquim Barbosa para resolver uma discussão “na rua”. No ano passado, acusou o atual presidente da Corte, Luiz Fux, de ser “autoritário”, e Alexandre de Moraes de “xerife”. 

Mas não só de dissenso e embates viveu o ministro. Em novembro de 2019 o plenário revogou a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância. Com o resultado de seis votos a cinco, o relator Marco Aurélio capitaneou a formação de maioria pela consolidação da jurisprudência sobre o tema – após idas e vindas da pauta ao longo de mais de duas décadas.

Desde que vestiu a toga pela primeira vez, o ministro defendeu que os réus só fossem presos após esgotarem todos recursos cabíveis. Naquele mês, o movimento de Marco Aurélio levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a deixar a carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, após 580 dias preso.

Na derradeira sessão no Supremo, Marco Aurélio abandonou o estilo que marcou sua atuação na Corte e fez acenos aos “candidatos” mais cotados a ocupar sua vaga, manifestando apoio ao ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, e ao procurador-geral da República, Augusto Aras.

CRIAR PÁGINAS DE VENDAS DE ALTA CONVERSÃO

 

LANDING PAGE POR ANGELA DE OLIVEIRA

Se você chegou neste artigo, eu acredito que você provavelmente está passando por uma destas duas situações:

  • você está organizando o seu primeiro lançamento ou funil de vendas e você quer garantir que está fazendo tudo certo e não vai cometer nenhum erro na sua página de vendas.
  • ou, então, todas as etapas do seu lançamento ou funil de vendas funcionam bem, mas quando chega na página de vendas, o seu cliente não finaliza a compra…

Se você está no segundo grupo, eu consigo imaginar o tamanho da sua frustração. Talvez você até se pergunte: “onde foi que eu errei?”

Seja qual for a sua situação (começando agora ou buscando otimizações), eu não posso deixar de te alertar sobre um ponto indispensável para a sua página de vendas.

É a falta dele que faz com que o segundo grupo fique se perguntando “onde foi que eu errei?”.

E ele pode passar despercebido pelo primeiro grupo.

Vou te explicar o que é.

Mas primeiro me responda uma coisa: ao se deparar com um produto ou serviço novo quantas vezes você já pensou ou ouviu alguém falando uma dessas frases:

“Será que funciona?”

“Isso é bom demais para ser verdade!”

“É muito caro!”

“Não tenho tempo para isso.”

É bem provável que não tenha acontecido só uma vez, mas várias. Isso porque todo mundo tem uma voz na cabeça que fica falando frases desse tipo.

Principalmente quando tem uma super promessa envolvida, algo que parece mesmo muito bom para ser verdade.

E com o seu cliente não é diferente.

Enquanto ele está lendo ou pesquisando sobre o seu produto ou serviço, vários pensamentos podem surgir na mente dele e, geralmente, eles são de incredulidade de que o produto ou serviço não consegue cumprir 100% do prometido.

O nosso cérebro foi treinado para não gastar energia. Então qualquer coisa que exija um pouco mais de esforço, ele vai dar desculpas para você não fazer.

No marketing digital essas desculpas são chamadas de objeções e, você querendo ou não, são elas que impedem o seu cliente de comprar o seu produto ou serviço.

Agora… Já imaginou conseguir quebrar todas essas objeções a tempo de o potencial cliente aceitar a sua oferta?

É isso que não pode faltar na sua página de vendas no site da ValeOn.

E esse ponto não fica concentrado em apenas um elemento da página não, mas faz parte de todo o conteúdo dela.

Por isso, nas próximas linhas, eu vou te explicar onde quebrar as objeções do seu potencial clientes, além de:

  • o que é uma página de vendas;
  • qual a importância dela para o seu negócio;
  • como criar uma página de vendas de alta conversão;
  • quais os elementos que uma página de vendas deve ter;
  • e 12 dicas para melhorar os seus resultados.

Vamos lá?

O que é uma página de vendas?

A página de vendas é onde você anuncia na Plataforma Comercial da ValeOn, onde um produto ou serviço é ofertado com o objetivo de persuadir o visitante a fazer uma compra.

É nela que você vai explicar todos os benefícios, resolver as dúvidas ou objeções, provar a eficiência do seu produto ou serviço, falar do preço, das formas de pagamento e garantia.

Ela é a última etapa antes de o potencial cliente colocar os dados do cartão ou de outra forma de pagamento e finalizar a compra na página de checkout.

Ou seja, é um dos pontos mais cruciais do seu lançamento ou funil de vendas.

O objetivo da página de vendas é que, após ver o conteúdo dela, o seu potencial cliente não tenha dúvidas de que o seu produto ou serviço é a solução que ele está procurando e vá decidido para a loja, onde a compra é finalizada.

Funciona mais ou menos como se a página de vendas fosse o vendedor de uma loja física que te fala sobre o produto e convence a levar e a página de checkout é o caixa.

Qual a importância da página de vendas para o seu negócio?

Em primeiro lugar, é com ela que você vai convencer o seu cliente a comprar seu produto ou serviço.

Como eu disse, é um dos pontos mais cruciais do seu lançamento ou funil de vendas.

Sem uma excelente página de vendas, que não é o caso do site da ValeOn, você pode acabar por repelir até mesmo os potenciais clientes que já estavam meio convencidos de que seu produto ou serviço é a solução que eles procuravam.

Por isso, essa página não pode ser criada de qualquer jeito e a valeOn sabe disso e capricha nas páginas de vendas dos seus clientes.

Em segundo lugar, a página de vendas é uma ótima maneira de você ter um portfólio completo dos seus produtos ou serviços sempre que quiser.

Já que a página de vendas permite fazer uma descrição mais completa e ainda mostrar um pouco mais sobre os benefícios do que você está oferecendo.

Além disso, ela é uma ótima maneira para você filtrar quem realmente está interessado no seu produto ou serviço e fazer métricas das quantidades de clientes interessados.

Então, para evitar transtornos ou pessoas insatisfeitas a página de vendas da ValeOn  é onde você pode deixar claro o que está oferecendo e para quem serve o seu serviço.

Descrição do produto ou serviço

É importante que você também descreva o seu produto ou serviço na sua página de vendas da ValeOn.

Na descrição, você não deve falar só o que é que você está vendendo, mas também mostrar que aquilo que você está oferecendo é exatamente o que o visitante está procurando.

Isso é importante porque ninguém quer comprar um produto ou serviço e sim a solução que aquilo irá trazer para a vida dele.

Benefícios do seu produto ou serviço

Um dos principais focos da sua página de vendas deve estar aqui.

Pois mesmo que você faça uma ótima descrição do seu produto ou serviço, há grande chances de você não convencer o visitante só falando que o seu produto é muito bom.

Isso porque as características ou funções são apenas dados que mostram o que é o seu produto ou serviço e, geralmente, uma pessoa toma uma decisão depois de saber quais são os benefícios.

Assim você explica para o seu visitante as vantagens do serviço de uma forma que ele entenda como você pode ajudá-lo.

Preço e formas de pagamento

Depois de falar sobre o que é seu produto ou serviço, mostrar os benefícios e trazer prova dos resultados que seus potenciais clientes podem alcançar, chegou a hora de amarrar a sua oferta.

Durante os outros elementos, você deu foco no valor do seu produto ou serviço. Isso é em como a sua oferta pode transformar a vida dos seus clientes.

Se esse valor for muito bem construído, será fácil falar em preço.

Porque o potencial cliente enxergará que vale a pena pagar cada centavo pela solução que você oferece. Ele até verá como um investimento e não um gasto.

Conclusão

Nas últimas linhas você viu a importância da página de vendas para quebrar as objeções dos seus potenciais clientes e levá-los a concluir a compra.

Esta página é onde você vai dar as informações sobre seu produto ou serviço, explicar os benefícios, tirar as dúvidas e fazer uma oferta para converter os visitantes em clientes.

Nós te explicamos que para criar uma página de vendas na Startup ValeOn,  você não precisa esquentar a cabeça com nada,  você só fornece os dados necessários e o resto a equipe da ValeOn  providencia toda a divulgação dos seus produtos ou serviços no seu site e em todas as redes sociais e onde for possível a sua divulgação nas diversas mídias.

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A ValeOn é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A ValeOn possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A ValeOn já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A ValeOn além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a ValeOn é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

A ValeOn está lutando com as empresas para MUDAREM DE MENTALIDADE referente à forma de fazer publicidade à moda antiga, rádio, tv, jornais, etc., quando hoje em dia, todos estão ligados online através dos seus celulares e consultando as mídias sociais a todo momento.

Somos PROFISSIONAIS ao extremo o nosso objetivo é oferecer serviços de Tecnologia da Informação com agilidade, comprometimento e baixo custo, agregando valor e inovação ao negócio de nossos clientes e respeitando a sociedade e o meio ambiente.

Temos EXPERIÊNCIA suficiente para resolver as necessidades dos nossos clientes de forma simples e direta tendo como base a alta tecnologia dos nossos serviços e graças à nossa equipe técnica altamente especializada.

A criação da startup Valeon adveio de uma situação de GESTÃO ESTRATÉGICA apropriada para atender a todos os nichos de mercado da região e especialmente os pequenos empresários que não conseguem entrar no comércio eletrônico para usufruir dos benefícios que ele proporciona.

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Dessa forma estamos APROVEITANDO AS OPORTUNIDADES que o mercado nos oferece onde o seu negócio estará disponível através de uma vitrine aberta na principal avenida do mundo chamada Plataforma Comercial Valeon 24 horas por dia e 7 dias da semana.

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FORÇAS ARMADAS INTERPRETAM ASSOCIAÇÃO COM MILÍCIAS

 

 Marcelo Godoy – Jornal Estadão

Quando o senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid, usou a expressão “lado podre das Forças Armadas” para designar envolvidos com supostas falcatruas no governo de Jair Bolsonaro, de imediato começaram as consultas entre os chefes militares. Os comandantes e o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, viram na fala de um ex-secretário da Segurança Pública – Aziz ocupou o cargo no Amazonas – uma referência à “banda podre” das polícias, uma generalização considerada “inaceitável” pela cúpula militar.Senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid. © Edilson Rodrigues/Agência Senado Senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid.

Mesmo o comandante do Exército, Paulo Sérgio de Oliveira, que estava visitando unidades no Rio Grande do Sul, contribuiu com a redação do documento. No fim, a expressão “lado podre” não entrou na nota. Mas ela provocou a reação, assim como a palavra “genocídio”, usada pelo ministro Gilmar Mendes ao comentar a atuação dos militares na pandemia, provocara outra nota, em 2020. Os comandantes decidiram reagir ainda que a ação fosse interpretada como adesão a Bolsonaro ou como ameaça, conforme acusaram ontem 60 entidades reunidas no Pacto pela Democracia. Também não mencionaram as denúncias contra os coronéis da Saúde. Disseram apenas que as Forças se “pautam pela observância da lei”.

Historicamente, toda vez que as Forças são confrontadas por civis, as divisões entre generais são esquecidas e eles procuram agir unidos – nesta quinta-feira, 8, até o ex-ministro Carlos Alberto Santos Cruz criticou a expressão “lado podre”. Mas ao tentarem impedir novos ataques às Forças Armadas na CPI, os comandantes permitiram a Bolsonaro e aos bolsonaristas usarem o episódio para vincular mais uma vez os militares ao governo. Símbolo disso foi o fato de o presidente e bolsonaristas terem distribuído a nota dos generais antes mesmo de o Ministério da Defesa divulgar o documento.

* É REPÓRTER ESPECIAL DO ‘ESTADÃO’

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...