sábado, 22 de maio de 2021

COMO SER UMA PESSOA CRIATIVA

 

A criatividade facilita a resolução de problemas e a inovação. Confira hábitos e dicas para se tornar uma pessoa mais criativa.


Por Amanda Sales – Segredos do Mundo

Criatividade – De onde vem, tipos e como ser uma pessoa mais criativaFonte: Imagem Livre

Primeiramente, o que você considera ser criativo? Bem, a criatividade pode ser considerada uma capacidade humana de grande valor universal. Isso significa que, ser uma pessoa criativa não implica apenas em criar coisas novas, mas em achar a melhor maneira de executar ações cotidianas.

Desse modo, qualquer pessoa pode ser criativa. Mas, para isso, é preciso exercitar a criatividade que há em cada um de nós. Além disso, essa habilidade não está relacionada apenas à inspiração, como se pode imaginar. Sendo assim, há estímulos que podem fazer desenvolver um senso criativo em praticamente qualquer ser humano.

A criatividade pode ser definida ainda como um grande repertório de ideias, ao qual a pessoa pode recorrer sempre que precisar desenvolver algum projeto ou propor alguma solução, por exemplo. Sendo assim, imagine que ser criativo é ter à sua disposição uma grande biblioteca que vai te ajudar em ações cotidianas ou no trabalho. A fim de te ajudar a ser mais criativo ou criativa, vamos destrinchar o que é a criatividade e te dar dicas. Vamos lá!

De onde vem a criatividade?

Primeiramente, a criatividade sempre foi considerada algo próprio do ser humano. No entanto, muitos filósofos da antiguidade acreditavam que esse atributo era específico de alguns seres humanos. Apesar desse pensamento ter vigorado durante tantos anos, hoje acredita-se que qualquer pessoa pode ser mais criativa, basta exercitar essa habilidade.

Essa mudança de perspectiva acerca da criatividade aconteceu, em grande parte, devido ao avanço da psicologia e da neurociência. Isso porque, pesquisas acadêmicas dessas áreas mostram que essa habilidade está relacionada a outras, como flexibilidade, originalidade e fluência.

Mas, afinal como “conseguimos” a criatividade? Ao longo de nosso crescimento, temos a influência das pessoas que convivem conosco e isso, certamente, reflete no modo como nos comportamos. Além disso, passamos pelo medo do fracasso e desenvolvemos nossos próprios sonhos e desejos. Tudo isso impacta na maneira como nos tornamos, ou não, alguém criativo.

Por outro lado, nosso cérebro biológico trabalha no sentido de poupar energia, ou seja, de modo que a gente faça o menor esforço possível. Sendo assim, o funcionamento do nosso corpo vai contra a criatividade, já que está demanda sair do conformismo e tentar coisas novas. Por isso se torna importante praticar hábitos criativos.

Dicas para ser uma pessoa mais criativa

1-Organizar o ambiente

Fonte: Manual da Secretária

O ambiente que nos cerca influencia diretamente na forma como produzimos. De maneira geral, o local de trabalho deve ser livre de distrações como ruídos ou luzes excessivas. Dessa maneira, os profissionais se sentem mais aptos a trabalhar e desenvolver tarefas com mais criatividade e empenho.

Além disso, uma outro tendência é a de empresas como o Google, que busca criar espaços de lazer dentro do local de trabalho, a fim de que os funcionários se sintam acolhidos, relaxados e motivados, fatores que incentivam a criatividade. Mas, não é só em empresas que o espaço deve favorecer que as pessoas se expressem livremente.

Em casa, ter um local de estudo e trabalho organizado pode te favorecer até mesmo em seus hobbies.

2-Seja um observador

interest

Inicialmente, vivemos em uma época em que diversas telas brigam por nossa atenção todo o tempo. Desse modo, é importante saber observar o ambiente ao redor, encontrar suas peculiaridades. Além disso, outra boa dica é observar aqueles que estão ao seu redor e tentar perceber as características positivas, e até mesmo compreender o que faz daquele, um ser humano criativo.

3-Tenha um propósito

Fonte: PixaBay

Essa dica é essencial! Isso porque, para ser criativo e desenvolver novas ideias, é preciso saber aonde se quer chegar com elas ou mesmo qual o motivo pelo qual se está fazendo algo. Além disso, tendo seus objetivos em mente, se torna mais fácil traçar as etapas até a implantação da ideia.

4-Consuma arte

Fonte:PixeBay

A criatividade exige um pouco de inspiração, e esta, por sua vez, pode ser encontrada na arte. Além de fornecer novas maneiras de retratar o mesmo ponto de vista, os diversos tipos de arte podem te ajudar a ter um olhar mais delicado e apurado para resolver seus problemas e criar novas possibilidades.

Além das artes plásticas, você pode optar por ler, ver filmes, ouvir músicas, etc.

5-Tenha um repertório diversificado

Fonte:PixeBay

Comumente, devido ao trabalho, muitos profissionais leem livros e outro materiais apenas de sua área. No entanto, para ser criativo, é preciso consumir conteúdo de diversas áreas. Uma boa dica, é se manter atualizado nas principais notícias e se aprofundar em leituras relativas a hobbies e outros interesses.

6-Estude muito

Fonte:PixeBay

Não é por acaso que o primeiro passo da criatividade está relacionado com a pesquisa. A fim de desenvolver novos conhecimentos ou criar coisas novas, é precisar entender sobre o que estamos tratando.

Atualmente, não é difícil encontrar fontes de pesquisa para os mais variados temas, já que temos a internet. Desse modo, é muito mais fácil manter-se atualizado e estudar sobres temas que te interessam ou necessários para o seu trabalho.

7-Tenha momentos de ócio

Fonte:PixeBay

Apesar do estudo e do esforço serem importantes no desenvolvimento da criatividade, o ócio também é. Primeiramente, ócio não quer dizer preguiça ou protelar, mas saber tirar momentos de descanso. Mesmo que isso signifique fazer nada.

Isso porque, o corpo e a mente ficam cansados de trabalhar e o cansaço acaba atrapalhando o processo criativo. Além dos momentos clássicos de ócio como feriados ou férias, é importante reservar um momento de pausa durante o dia-a-dia.

8-Tenha um diário

Fonte:PixeBay

Além de estudar, é importante anotar ideias que surgem. Pode ser aquele pensamento que surgiu no banho ou um tema relevante que você gostaria de desenvolver. Por isso, é interessante manter um diário ou caderno de ideias para registrar o que vem à mente.

Por mais que você ache insignificante hoje, uma ideia pode ser desenvolvida de maneira melhor com o tempo. Sendo asism, tente escrever um pouco todos os dias, não precisa ter uma ordem, apenas registre para não esquecer.

9-Saia da sua zona de conforto

Fonte:PixeBay

Apesar de estarmos constantemente colocados diante de desafios, podemos entrar em uma zona de conforto, e isso atrapalha a criatividade. Além de arriscar e tentar coisas novas, é importante também ampliar o que sabemos sobre determinados temas.

Uma boa maneira de sair da zona de conforto é começar pelo trabalho. Por exemplo, se você já tem uma especialidade, pode tentar explorar novas áreas dentro de sua profissão.

10-Questionamento

Fonte:PixeBay

Assim como observar, questionar também é uma ótima maneira de exercer a criatividade. Isso porque, a partir do questionamento surgem novas possibilidades para resolver problemas e criar possibilidades.

Um dos ótimos exemplos de criatividade, Leonardo da Vinci, também era um exímio questionador. Mas, não precisa ser apenas fazer perguntas para outras pessoas, você pode questionar a si mesmo.

11-Ideias absurdas

Fonte:PixeBay

Inicialmente, algumas ideias novas podem parecer absurdas. Contudo, para ser mais criativo, é preciso ignorar esse adjetivo. Isso porque, apesar de parecerem estranhas algumas ideias podem ser melhor desenvolvidas, e isso exige tempo e estudo.

Mas, não ignore nenhuma ideia!

12-Crie desafios

Fonte:PixeBay

Uma boa maneira de exercitar a criatividade é criar pequenos desafios diários. Não precisa ser algo que exija muito esforço, mas uma tarefa que caiba na sua rotina e te faça querer ir além um pouquinho por dia.

Por exemplo: tente puxar assunto com alguém de seu trabalho; coloque uma meta diária de leitura; tente ver um filme novo por semana; sair para fazer exercícios mesmo sem muita vontade. Que tal começar hoje mesmo?

13-Socialize

Fonte:PixeBay

As pessoas são uma ótima fonte de criatividade. Isso porque, convivendo e socializando aprendemos muito mais sobre o mundo. Além disso, cada pessoa pode oferecer uma nova perspectiva sobre a mesma questão. Desse modo, empresas que investem em trabalho de equipe, obtêm resultados melhores.

No mais, conhecer novas pessoas pode ser importante para obter networking, termo usado para o ato de criar laços. Sendo assim, é mais fácil ter oportunidades de emprego e relacionamento profissional.

14-Modelo CREATES

Fonte:PixeBay

Além de técnicas individuais, há alguns modelos que podem ser seguidos. Alguns deles foram criados por especialistas e empresas e, desse modo, já possuem alguma eficácia.

Um desses modelos é o CREATES, foi criado pela neurocientista Dra. Shelley Carson, que cria sete padrões cerebrais relacionados à criatividade. O nome parte do termo formado pelas letras, onde cada parte da sigla é uma ação:

  • Conectar (Connect)- significa ter concentração e foco pra ser capaz de fazer ligação entre conceitos e objetivos;
  • Razão (Reason)- essa etapa exige pensamento lógico e organizado, é para para pensar exatamente sobre o que você pretende fazer;
  • Visualizar (Envision)- já nesse passo, você precisa deixar a razão um pouco de lado e utilizar a imaginação;
  • Absorver (Absorb)- aqui, a mente precisa estar clara, alerta e aberta a novas possibilidades, mesmo que isso signifique abrir mão de conceitos pré-estabelecidos;
  • Transformar (Transform)- esta técnica visa transformar sentimentos negativos como raiva, ansiedade e medo em inspiração para criar e produzir;
  • Avaliar (Evaluate)- nemt oda ideia pode ser aproveitada, dessa maneira é importante analisar o que pode ou não ser usado;
  • Corrente (Stream)nesse padrão, os pensamentos estão tão encadeados que fluem como as águas de um rio.

15-Faça um resumo sobre os livros que lê

Fonte:PixeBay

Os livros são uma inesgotável fonte de conhecimento e inspiração. No entanto, apenas ler pode fazer com que esqueçamos o conteúdo com o tempo. A fim de apreender melhor o material e mesmo ter ideias para usar em outros projetos, uma boa ideia é fazer um resume de leituras

O resumo pode ajudar a associar o conteúdo dos livros com outros materiais  e fazer conexões mentais de maneira mais fácil. Além disso, esse recurso exercita a escrita que também é um ótimo motor para a criatividade.

16-Não tenha medo de errar

Fonte:PixeBay

Certamente, errar é uma condição humana inerente. No entanto, os erros podem causar medo de tentar ou continuar um projeto. Essa paralisia por medo pode ser muito prejudicial à criatividade.

Por isso, antes de entrar de cabeça em um projeto, é importante ter em mente que erros podem acontecer e fazem parte do projeto. Além disso, arrepender-se dos erros é uma etapa importante da formação humana.

17-Cuide de mais de um problema de uma vez

Fonte:PixeBay

Mesmo que pareça estranho ou desafiador, resolver mais de um problema de uma vez pode ajudar sua criatividade. Isso porque, ao tentar lidar com todas as demandas, seu cérebro fica mais rápido e você passa a resolver as coisas com mais possibilidades.

Fonte: Neil PatelRock ContentComunidade Rock CntentManual da secretária

VALEON UMA STARTUP INOVADORA

A Startup Valeon é uma nova empresa da região do Vale do Aço que tem um forte relacionamento com a tecnologia.

Somos uma Startup daqui de Ipatinga que desenvolveu a Plataforma Comercial VALEON um Marketplace com o propósito de solucionar e otimizar o problema de divulgação das empresas daqui da região de maneira inovadora e disruptiva através da criatividade e estudos constantes aliados a métodos de trabalho diferenciados dos nossos serviços e estamos conseguindo desenvolver soluções estratégicas conectadas à constante evolução do mercado.

Em geral, elas se caracterizam por ser um negócio com ideias muito inovadoras e grande disposição para inovar e satisfazer as necessidades do mercado.

Seja nas formas de atendimento, na precificação ou até no modo como o serviço é entregue, as startups buscam fugir do que o mercado já oferece para se destacarem ainda mais.

Muitos acreditam que desenvolver um projeto de inovação demanda uma ideia 100% nova no mercado. É preciso desmistificar esse conceito, pois a inovação pode ser reconhecida em outros aspectos importantes como a concepção ou melhoria de um produto, a agregação de novas funcionalidades ou características a um produto já existente, ou até mesmo, um processo que implique em melhorias incrementais e efetivo ganho de qualidade ou produtividade ao negócio.

inovação é a palavra-chave de qualquer startup. Essas empresas buscam oferecer soluções criativas para demandas que sempre existiram, mas não eram aproveitadas pelo mercado.

As startups procuram resolver problemas e oferecer serviços inovadores no mercado.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wpp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

VOTO IMPRESSO NÃO PODE SER EVITADO

 

TRE-PR e TSE despertam ira do eleitor em campanhas contra voto impresso auditável

Por
Cristina Graeml – Gazeta do Povo

É certo a Justiça Eleitoral debochar de eleitores que pedem mais transparência nas eleições e ainda gastar dinheiro público para produzir uma peça de propaganda que ironiza uma proposta de emenda constitucional, a do voto impresso auditável?

Pois aconteceu. Esta semana o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) publicou um vídeo curto no aplicativo TikTok, o preferido dos adolescentes e jovens, insinuando que defender a impressão do voto para permitir auditoria das urnas é um pensamento medieval.

Isso na mesma semana em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lançou uma campanha em defesa das urnas eletrônicas, como se o sistema eleitoral estivesse sendo atacado só porque há uma discussão no país sobre voto impresso auditável e um pedido para que a apuração fique mais transparente.

Vídeo ironiza eleitores
O TRE-PR precisou de 8 segundos, apenas 8 segundos, para desagradar parte considerável do eleitorado, aqueles milhares de eleitores que foram para a rua nos dias 1 e 15 de maio para pedir, entre outras coisas, que o Congresso aprove a PEC do voto impresso auditável. Irritou também milhares de outros, que não participaram de manifestações, mas concordam com a pauta.

Um vídeo de 8 segundos publicado pelo TRE-PR no TikTok mostrava a imagem de uma adolescente cobrindo a cabeça e o corpo com um lençol, simulando o jeito de se vestir de mulheres na Idade Média. Ao fundo aparecia a imagem de um castelo medieval e um texto, também em linguagem jovem: “Quando a pessoa fala de voto impresso em pleno século XXI”, ou seja, insinuando que quem defende voto impresso hoje é antiquado.

No TikTok, TRE do Paraná diz que voto impresso é coisa da Idade Média
Além de ridicularizar os eleitores, a postagem é desinformativa, já que dá a entender que o voto impresso auditável é o retorno ao antigo sistema de votação em cédulas de papel, o que não é verdade. O TRE-PR nada mais fez do que corroborar uma mentira (fake news), espalhada por quem não quer eleições mais transparentes.

O que está em discussão na Câmara dos Deputados é uma mudança na Constituição, criando a obrigatoriedade de uma impressora junto das urnas para emitir um comprovante impresso na hora em que o eleitor registrar o voto. Depois de conferir o nome do candidato no voto impresso o eleitor precisa depositá-lo em outra urna, tornando a eleição passível de recontagem caso alguém desconfie do resultado.

Do jeito que é hoje existem dúvidas se o que aparece na tela da urna é mesmo o que fica registrado no sistema e se aquilo não pode ser modificado depois por violação no processo de leitura de dados e até por um ataque hacker.

Mesmo que fosse um pedido absurdo, o que não é caso para grande parte da população, o TRE-PR demonstrou desrespeito com os eleitores, especialmente os mais velhos ao optar pela publicação do vídeo numa plataforma usada só por jovens. Talvez não fosse a intenção original, mas isso cria mais uma polarização, fazendo o eleitor jovem achar que os mais velhos estão simplesmente de birra com a tecnologia. E deixando em segundo plano a importante discussão sobre a lisura do processo eleitoral.

Soou também como uma tentativa de doutrinar futuros eleitores, já que muitos dos que estão no TikTok nem votam ainda. E mesmo os que votam têm pouca experiência de votações, mal conhecem o histórico das eleições brasileiras. A repercussão negativa foi tamanha que o TRE acabou apagando o vídeo.

Os jovens até tinham achado graça na “brincadeira”. Deram 30 mil curtidas para o vídeo. Já a parcela do eleitorado favorável à aprovação da PEC do voto impresso auditável, obviamente, reclamou do desrespeito e da atitude antidemocrática da justiça eleitoral paranaense.

Fico pensando se quem fez o meme para o TRE e quem autorizou a publicação esqueceu das multidões nas ruas uma semana atrás e também no feriado do dia do trabalho. Uma das bandeiras das manifestações era o voto auditável. Dar murro em ponta de faca não deveria ser tarefa da justiça eleitoral.

Deprezar quem foi às ruas em dia de folga para deixar claro para os políticos quais são suas prioridades no momento? Justiça eleitoral debochando do contribuinte que a sustenta através do pagamento de impostos? Nada disso parece ético ou democrático.

TRE-PR e TSE: desconexão com eleitor
Além de zombar de quem pede voto auditável, como se fossem um bando de retrógrados, na publicação no TikTok o TRE divulgou uma afirmação que não é unanimidade no meio político e nem mesmo entre profissionais da computação: a de que “a urna eletrônica é 100% segura”.

Foi também essa a tônica das falas do ministro do STF, Luís Roberto Barroso, que acumula o cargo de presidente do TSE e acaba de lançar uma campanha nas redes sociais atestando a segurança das urnas eletrônicas.

O problema é que a população não acredita mais nisso, assim como também não anda acreditando muito na Justiça, depois de tantos episódios de anulação de processos e condenações, de libertação de presos, enquanto gente comum é perseguida e presa apenas por querer trabalhar ou por falar o que pensa, sem que o Judiciário se pronuncie a favor das vítimas dos arroubos autoritários.

Oportuno lembrar, aliás, que tudo isso é resultado da anuência da corte máxima de Justiça, já que foi o STF que deu aval para governadores e prefeitos fazerem o que bem entendessem para limitar a circulação de pessoas durante a pandemia.

Voltando ao ministro Barroso, ele gravou vídeos como garoto propaganda das urnas eletrônicas e conseguiu o oposto do que previa. No canal do YouTube da Justiça Eleitoral o vídeo mais assistido tem 400 mil visualizações; 4,5 mil likes e 70 mil dislikes. Até o momento tem também aproximadamente 30 mil comentários, a imensa maioria revelando desconfiança.

“Se o ministro Barroso garante, então temos que nos preocupar muito! Voto impresso já, STF vergonha nacional!”

Comentário em vídeo da Justiça Eleitoral
Houve quem associasse as duas cortes nas quais o ministro Barroso trabalha: “Eu não confio no STF, logo, tampouco no TSE. Urnas auditáveis via voto impresso já!” Um terceiro internauta perguntou: “Por que esse receio de termos uma forma de auditar os votos? Lembrando que nos USA as urnas foram alteradas para o voto impresso, pois eram passíveis de serem fraudadas”.

Eleições no exterior
Os Estados Unidos, como o próprio nome diz, são uma união de estados, não uma federação, como é o caso brasileiro. Isso quer dizer que a maior parte das leis é local. As regras eleitorais variam conforme a região, mas a maioria dos 50 estados americanos não usa urna eletrônica. E dos que usam, quase nenhum deixa de emitir o comprovante impresso.

Mais de 30 países aderiram a algum tipo de sistema eletrônico de votação, mas a maioria tem comprovante impresso, exatamente como o que é proposto agora pela deputada Bia Kicis (PSL-DF), autora da PEC do voto auditável.

Não foi à toa que isso foi implantado em vários países e, sim, por suspeita de que as urnas não sejam totalmente seguras, afinal hackers já invadiram um oleoduto, parando a produção por cinco dias, invadiram o Pentágono americano e diferentes instâncias do Judiciário brasileiro. Por que não teriam capacidade de invadir as urnas também?

Ética, democracia e Constituição
Sobre a irresponsabilidade da Justiça Eleitoral no caso do TRE-PR, convém fazer uma analogia com os parlamentos. Se tivesse um Conselho de Ética nos tribunais, este seria um caso para ser analisado, não?

Como não há, vale a reflexão: quem ganha com a propaganda desinformativa e o escárnio em cima do eleitor, com a tentativa de jogar eleitores jovens contra os mais velhos? A democracia é que não é, porque democracia preconiza transparência, respeito às diferenças e principalmente à Constituição.

E a Constituição traz logo no início a afirmação de que “todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Pois o povo está pedindo eleições auditáveis. Uma representante eleita pelo povo elaborou a PEC para estabelecer que o voto tenha uma comprovação impressa.

Como pode um tribunal eleitoral simplesmente ignorar o povo, do qual emana todo o poder, e ignorar um de seus representantes eleitos?

Voto auditável já
A questão do voto auditável é a mais importante do momento, porque tem prazo curto. Ela precisa ser votada até outubro para valer para as próximas eleições, no ano que vem.

Com o grau de polarização a que chegamos, bandido condenado sendo autorizado a concorrer, o país não pode correr o risco de ter uma eleição em que fiquem dúvidas sobre a possibilidade de manipulação dos resultados. 

A eleição de 2022 será crucial para o futuro do Brasil. É quando o país vai decidir se quer realmente seguir um caminho de prosperidade, enxugando a máquina pública, reformando e reduzindo o tamanho do Estado, eliminando privilégios ou se prefere voltar a ser governado por grupos que vivem afundados na prática da corrupção e dos conchavos?

Queremos no poder ministros técnicos ou aqueles políticos de sempre? Ser governados por gente séria ou pela turma que gosta de aparelhar as instituições, criar milhares de cargos, que pratica “economia criativa”, imprime moeda e sai endividando o país de forma irresponsável; dá pedaladas fiscais, financia obras no exterior, em países comunistas, com dinheiro dos brasileiros?

Vamos preferir continuar com estatais dando lucro ou queremos voltar aos bilhões de prejuízo? Quermos obras entregues ou obras superfaturadas e inacabadas? Juros estratosféricos, enriquecendo milionários amigos, ou selic sob controle? Emprego ou pobres ganhando migalha? A lista de erros do passado recente é gigantesca e são as eleições de 2022 que vão definir o destino do Brasil.

E ainda temos que pensar no Supremo Tribunal Federal, que vem atuando contra o país, desrespeitando a Constituição, abrindo inquéritos para perseguir pessoas. Temos hoje ministros agindo como se fossem investigadores ou delegados (e não juízes), investigando sem anuência do Ministério Público, mandando prender sem acusação.

Quem vamos eleger para indicar novos integrantes para o STF? Alguém que indique mais daquela turma que solta bandidos condenados, anula processos da Lava Jato para devolver os direitos políticos ao ex-presidente Lula (o maior corrupto que o país já viu)?

Não dá para querer que a população acredite que as coisas vão funcionar direito nas próximas eleições se não houver garantia de auditagem das urnas.

Nunca devemos esquecer que o próprio TSE sofreu um ataque hacker nas últimas eleições, em 2020, o que atrasou bastante a apuração dos votos. O presidente do TSE, que agora faz propaganda da segurança do sistema, na época demorou a explicar o que tinha acontecido e quando explicou, não convenceu. Não foi à toa que quando assumiu o papel de garoto propaganda das urnas eletrônicas recebeu uma avalanche de dislikes nos vídeos.

O TSE já não tem credibilidade junto à população desde o julgamento da chapa Dilma-Temer, que foi absolvida da acusação de abuso do poder econômico por excesso de provas, apesar daquele voto histórico do ministro Herman Benjamin, que disse que até as tribos não contactadas da Amazônia sabiam da existência de irregularidades na campanha eleitoral de 2014.

Seu voto, contrário ao dos demais, entrou para a história política com aquela frase desabafo ao ver que seria sepultada a chance de se fazer Justiça de fato: “Posso participar do velório, mas não carrego o caixão”.

Agora é o eleitor que está dando recados históricos nas ruas, nos vídeos do ministro Barroso no YouTube ou rejeitando a tentativa do TRE-PR de desmerecer uma demanda legítima. Mas a batalha é árdua e não vai terminar tão cedo.

O site do Senado abriu uma enquete para ouvir a opinião das pessoas sobre a PEC do voto impresso auditável. A esquerda está com uma campanha fortíssima nas redes sociais pedindo para as pessoas acessarem a enquete e votarem NÃO. Quando gravei a versão deste artigo em vídeo o SIM estava ganhando. Neste exato momento a situação inverteu: 660 mil votos são contra e 635 mil favoráveis à PEC. A consulta pública continua aberta e você pode votar clicando aqui.

Esquerda é contra voto auditável
Sei que esse texto já está cheio de interrogações, mas sigo questionando o que ouço e vejo. Por que a esquerda não quer voto auditável? Se o sistema é tão seguro e confiável, melhor provar isso por A mais B, não? Quem se recusa a provar que está certo diante do adversário tendo a chance de fazer isso?

Essa negativa é tão estranha quanto a afirmação de que o ex-presidente Lula, o maior candidato da esquerda, que não consegue nem sair na rua e é vaiado, está com a eleição garantida com um ano e meio de antecedência.

Embora muitos o tratem como bandido de estimação, a população em geral não esquece que ele foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro por três instâncias do Judiciário e não foi inocentado, apenas liberado para cooncorrer à presidência, graças a manobras do STF, capitaneadas por ministros amigos.

Vale lembrar a hipocrisia de alguns representantes da esquerda e mesmo da chamada “terceira via” ou “centro” do espectro político, que anos atrás diziam ser importante criar um sistema de voto que permitisse auditoria das urnas.

Na versão deste artigo em vídeo, que você pode acessar no topo da página, trago declarações antigas do ex-presidenciável João Amoedo, do partido Novo e do deputado do PSOL Glauber Braga (aquele que chamou o ex-ministro Sérgio Moro de bandido numa sessão na Câmara).

Não foi à toa que o nome de João Amoedo foi parar nos trending topics do Twitter essa semana. Ele e o deputado Glauber Braga são apenas dois dos que defendiam o voto auditável num passado recente e agora dizem que mudaram de ideia. O PSDB também defendia, inclusive porque houve muita suspeita naquela vitória apertada da Dilma sobre o Aécio em 2014.

Quando ouvir algum político se posicionando contra a PEC do voto impresso auditável faça uma pesquisa sobre o que ele dizia há alguns anos. É grande a chance de achar alguma declaração a favor, porque são raros os que nunca tiveram alguma dúvida sobre a segurança do sistema eleitoral 100% eletrônico.

O voto impresso auditável é mais uma ferramenta para a segurança da nossa democracia. Desconfie de quem é contra. Quanto ao TRE do Paraná e ao TSE, deviam guardar energia e dinheiro para fiscalizar as eleições. Se tiverem que contar os votos manualmente, que contem e mostrem que a eleição é justa, sem possibilidade de adulteração de resultados.

Termino com o comentário de um leitor da Gazeta do Povo na matéria que descreveu o vídeo publicado no TikTok pelo TRE-PR.

“Voto apenas eletrônico é obscurantismo. Após o encerramento da votação, os votos devem ser contados na própria seção eleitoral, diante dos eleitores e fiscais que quiserem observar; os resultados de cada seção devem ser disponibilizados em site para conferência de eleitores e partidos. O escrutínio deve ser público! Sem isso é fraude!”

Leiror da Gazeta do Povo
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/cristina-graeml/justica-eleitoral-causa-revolta-ao-se-opor-ao-voto-impresso-auditavel/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CONSIDERAÇÕES POLÍTICAS DO EX-PRESIDENTE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS

 

Por
Alexandre Garcia

Ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha.| Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Depois de quatro anos e meio preso, o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (MDB), falou por 50 minutos na CNN sobre o passado (impeachment de Dilma e Lava Jato), sobre o presente (comparação entre Lira e Maia na presidência da Câmara) e sobre o futuro da CPI e eleição do ano que vem. Os anos de isolamento serviram para produzir um livro e analisar à distância o evoluir da política. E tornar mais lúcida sua bola de cristal.

Sobre a CPI que tirou o tempo do noticiário pandêmico, o ex-presidente da Câmara tem visão semelhante à do observador atento e isento: um palanque eleitoral, com o ativismo de Renan Calheiros, que procura recuperar o poder perdido. Ele reforça a opinião de quem percebe que vai dar em nada, porque precisa produzir algo que possa ser levado ao Ministério Público. No alvo federal, os últimos tiros serão dados esta semana. Esta terça-feira no ex-ministro Ernesto Araújo – provavelmente tiros de festim – e na quarta-feira em alguém preparado para a guerra, o general Pazuello.

Sobre a eleição presidencial, o ex-deputado não vê futuro para uma terceira via. Ele lembra que a eleição está polarizada desde a primeira direta da redemocratização, que teve Collor x Lula. Desde então, foi PT x PSDB, até que Bolsonaro substituiu os tucanos no antipetismo e ganhou a eleição. Ele prevê enfrentamento entre Bolsonaro e Lula, bem distantes de uma eventual terceira via. E que um lado terá os bolsonaristas e os antipetistas. De outro, os petistas e os antibolsonaro.

Bolsonaro já está decidido a concorrer à reeleição; Lula é que ainda está sondando as chances. Embora esteja com um olho nas pesquisas que o dão como vencedor, ele deve estar com o outro olho no 1º de Maio da Av. Paulista e nas cidades brasileiras, e na demonstração de força pró-Bolsonaro do agro, no último sábado em Brasília. Ainda está assuntando, desconfiado. Para onde irá a terceira via no segundo turno? Para que lado vai o centro? Eduardo Cunha deve estar se divertindo com o que ele fez pensar com essa entrevista à CNN. Faz lembrar Chacrinha: “Eu vim para confundir e não para explicar”.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/alexandre-garcia/explica-ou-confunde/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CARDÁPIO DEMOCRÁTICO ENTRE FHC E LULA

 

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

FHC e Lula almoçaram juntos para salvar a democracia.| Foto: Reprodução/ Twitter

Antipasti
Para dar início aos acordos que salvarão nossa democracia da terrível força de ódio proveniente das forças retrógradas e fascistas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu uma tacinha de Massenez Poire-Williams, que bebericou nos intervalos de uma palestrinha sobre a importância de Ulysses Guimarães para a construção de um regime democrazzzzzzzzzzzz.

Desculpe. Peguei no sono. Ao despertar, ainda tive tempo de ouvir FHC dizendo que “poire é a bebida do povo” para um Lula que consultava desesperadamente o cardápio em busca da 51 perdida. “Num tem memo, cumpanheiro?”, perguntou ele ao garçom. Num tinha. “Então me vê uma garrafa de Romanée-Conti Grand Cru”.

De entrada, FHC pediu Sivam Gratinado ao Molho de Pasta Rosa, servido com Espuminha de Sudam e Sudene. Lula se desculpou pela fome descomunal (“É que, antes daqui, me encontrei com o Freixo e ele me deu um brownie que abriu meu apetite”) e foi logo pedindo um Impeachment. “É a força do hábito”, disse.

Primo piatto
As conversas prosseguiram com FHC intercalando o português e o francês para falar de teorias que Lula ignorava. “O cumpanheiro Jean é que gosta dessas coisas”, disse Lula, preferindo conversar sobre a mais recente contratação do seu Coringão. De repente, assim do nada, FHC deu um soco na mesa que assustou a todos no restaurante. E gritou: “Je ne regrette rien!”. Ao que Lula simplesmente respondeu: “Pra mim também. E mal passado!”.

Esclarecido o mal-entendido, FHC pediu uma Emenda de Reeleição daquelas bem suculentas e com a crosta queimadinha, sabe? Lula não pensou duas vezes e foi de Mensalão Flambado no Zé Dirça. “O prato até que me dá azia. Mas nada que um STF depois não resolva”, disse.

Secondo Piatto
A comida estava tão boa que nenhum dos dois falou muito. A certa altura, o celular de FHC tocou, mas ele não atendeu. “Era o Aecinho”, disse. “Manda um abraço para ele”, pediu Lula.

Entre uma garfada e um gole do Romanée-Conti Grand Cru, FHC mencionou Bolsonaro. O que revoltou Lula. “Ô FH, você tá me embrulhando o estômago”, disse. FHC pediu desculpas e desandou a explicar a Lula tintim por tintim o que é uma democracia. “Era uma vez um lugar chamado Atenas…”

FHC estava na Revolução Francesa quando foi interrompido por Lula. “Vamos pedir o segundo prato? Aquele brownie do Freixo realmente me abriu o apetite”, disse. FHC não gostou muito de ser interrompido, mas a fome era maior do que a vontade de reconstruir a democracia. Ele pediu Proer à la Cacciola. Lula, um tanto quanto confuso com o enorme cardápio do Le Pixòu-lê Coe, foi de Postalis ao Sugo, acompanhado por lascas de Waldomiro Diniz e Eurenice Guerra.

Dessert
Com os dois políticos de barriga cheia e com a vida para lá de ganha, a conversa chegou ao fim. Até onde entendi, ficou acordado que os dois uniriam forças para construir um Brasil mais justo e igualitário. “Quase uma China”, nas palavras de FHC.

De sobremesa, o ex-presidente tucano pediu Apagão de Chocolate. Lula foi de Dilma Caramelada mesmo. “Da última vez, isso me deu um piriri danado. Mas é tão bom. Faz cosquinha no céu da boca”, disse, mostrando que, além de perfeito, bate um bolão como gourmand.

Caffè
“Preciso ir. Tenho que atualizar minha memoir e, depois, fisio”, disse FHC, já se levantando e deixando a conta para o petista. Antes de sacar o Cartão Odebrecht Business Super Maxi Plus Trans Black, Lula não resistiu ao impulso, chamou o garçom e pediu R$50. “É pro cafezinho, sabe?”.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/polzonoff/qual-foi-o-cardapio-democratico-do-almoco-de-fhc-com-lula/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

A LIBERDADE DE EXPRESSÃO PERMITE A OFENSA?

 

O título é uma frase do Salman Rushdie que eu roubartilhei para tentar ofender alguém e ser livre.

Por
Madeleine Lacsko – Gazeta do Povo

| Foto: Pixabay

O artigo é sobre estudantes Justiceiros Sociais que estão querendo a demissão de um professor porque discordam do livro dele. E isso ocorre justo quando ele entra publicamente no debate sobre a lei britânica que pretende enfrentar a cultura do cancelamento nas universidades. Só que eu vou começar com outra figura importante no cenário britânico: Salman Rushdie.

No final dos anos 1980 e início dos anos 1990, nós acompanhávamos pela TV o drama cinematográfico do romancista autor de “Versos Satânicos”. Muçulmano da Índia, ele vivia na Inglaterra desde os 13 anos de idade, foi criado de forma cosmopolita. Só que os muçulmanos ficaram ofendidíssimos com o livro dele, acharam que debochava da religião. Começaram um cancelamento à moda deles.

Primeiro a Índia proibiu a importação do livro e daí começaram as primeiras ameaças de morte. Vários outros países fizeram proibições semelhantes. Sete mil muçulmanos promoveram um festival de queima do livro “Versos Satânicos” em Bolton, na Inglaterra. Depois de manifestações com mortes no Paquistão e na Cashemira em 1989 é que a coisa piorou mesmo.

O poderosíssimo Aiatolá Khomeini, líder da revolução muçulmana no Irã, emitiu uma fatwa determinando que todos os muçulmanos do mundo se dedicassem à missão de matar todas as pessoas envolvidas com a publicação do livro de Salman Rushdie. Ofereceu também alguns milhões de dólares de recompensa. O escritor teve de viver escondido por anos.

Salman Hushdie tornou-se um ícone mundial de defesa do pensamento livre. Na coletânea de ensaios Imaginary Homeland diz que “sem a liberdade de ofender não há liberdade de expressão”. O pior autoritarismo é o que tenta se disfarçar de virtude. A ideia de criar “espaços seguros” em que seja possível perseguir quem diga algo considerado ofensivo valida o comportamento autoritário.

Parece lógico que evitar determinadas palavras que ofendem seja saudável para a convivência. Realmente é. Se eu te chamar de algo que você não gosta e você me explicar que ficou triste ou simplesmente se irrita, vou procurar não fazer de novo. O que não tem nada de saudável é fingir que se trata disso e fazer outra coisa bem diferente, inventar um padrão do que pode ser dito e perseguir quem ousa questionar. Esse processo deteriora relações humanas, coloca as pessoas em constante tensão e eleva à liderança os mais maldosos.

Numa análise da história de Rushdie para a Areo Magazine, o escritor Daniel James Sharp conclui: “Sempre haverá pessoas que desejam impor seus pontos de vista aos outros e restringir o discurso de que não gostam, assim como sempre haverá pessoas dispostas a apaziguar esses fascistas, mesmo nas questões mais importantes, por uma variedade de razões – por medo covarde de ofensa a simpatia com os bandidos. A acomodação com as forças do ódio é tão inatingível quanto indesejável. A autocensura é suicídio. O fundamentalismo e a mágoa não são justificativas para a supressão da fala. A solidariedade é uma arma poderosa. Os princípios devem ser observados, não abandonados ao menor tremor de problema. E a firmeza é vital se desejamos resistir ao ataque da censura e afirmar os ideais de liberdade, literatura, secularismo, ciência, amor e amizade. Defender alguém sob ataque por princípio – mesmo alguém que não conhecemos pessoalmente – é um ato de amor”.

Gente que melhora o mundo é dura com o sistema e doce com as pessoas. Todos os que vivem de atacar pessoas estão muito bem acomodados no sistema, ainda que falem da boca para fora contra ele. Em muitas universidades está instalado um sistema de seleção de conteúdo feito por quem massacra os discordantes. A desculpa é criar espaços seguros contra ofensas.

Eric Kaufmann, professor de política no Birkbeck College, Universidade de Londres, entrou recentemente no debate público sobre a tentativa de uma lei de Liberdade de Expressão nos campi. A ideia do governo britânico é possibilitar a abertura de processo contra quem cancelar palestras para censurar discursos.

Eu não entendo que a iniciativa possa dar certo e expliquei as razões em um artigo passado, mas também não sei que iniciativa seria a bala de prata. Os professores britânicos tentam discutir o que daria certo e o que poderia ser feito para evitar o cerceamento de ideias, uma realidade atual. Daniel Finkelstein, ex-editor e colunista de The Times, membro da Câmara dos Lordes fez um artigo com uma sugestão.

Para o parlamentar só no debate as coisas se resolvem. A cultura do cancelamento só pode ser enfrentada na conversa. Então Erik Kaufmann fez uma carta ao editor questionando que conversa seria, já que cancelamento é justamente a interdição da conversa. Quanto menos conversa melhor. Questionou? Vai ser patrulhado e, se preciso, cancelado até repetir direitinho o que o grupo mandar. E isso é para o bem.

“Por três anos, acadêmicos críticos da ideologia de gênero argumentaram que o envolvimento de Stonewall (maior organização de defesa dos direitos LGBT do Reino Unido) no setor universitário resultou na repressão da liberdade acadêmica. Esses argumentos foram consistentemente ignorados. Agora, a Essex University publicou um relatório independente sobre as violações da liberdade acadêmica em seu campus, que concluiu que Stonewall havia deturpado a lei e que a universidade deveria reconsiderar seu relacionamento com Stonewall”, argumentou .

A militância pela população trans de Stonewall era feita de forma tão agressiva contra quem tentava entender as teses deles que a própria ONG trocou de presidente e mudou de tese no ano passado. Lançaram a campanha #TransWomenAreWomen, que se tratava mais de esculachar e carimbar como transfóbico quem tentava entender ou apontar distorções. A nova liderança foca em tornar a vida das pessoas trans mais fácil, não em empurrar goela abaixo do Reino Unido as visões de Stonewall sobre gênero.

No final das contas, a liberdade acadêmica para estudar as alegações de militantes sobre gênero fez muita falta nesses anos. O Reino Unido acabou adotando políticas públicas com base no que a militância dizia ser científico. Quem questionava era massacrado sistematicamente na opinião pública. Ano passado, a Suprema Corte descobriu que nunca houve pesquisa conclusiva sobre redesignação sexual em menores de idade e eles não eram acompanhados depois.

Recentemente, Erik Kaufmann lançou um livro chamado Whiteness, que fala sobre o processo de radicalização política e a mudança no padrão étnico da Europa e dos Estados Unidos. A grande maioria branca confiante já se tornou minoria em muitos lugares e a tendência é que nós tenhamos cada vez mais miscigenação. A qualidade humana aproxima mais que a raça, menos para os racistas e para a igreja identitária.

Ele também argumenta que, neste contexto em que brancos são minoria, os interesses deles terão de ser levados em conta na política para evitar uma situação constante de radicalização. Você pode concordar com ele ou discordar dele. Pode até xingar, achar que enlouqueceu ou que previu errado. Direito de todo mundo.

Alunos da Universidade de Londres decidiram demonstrar que Erik Kaufmann estava certo e não tem como acabar com cultura do cancelamento no debate. Resolveram mentir na cara dura, dizendo que o livro dele é de supremacia branca e inventando expressões que seriam “dog whistle” de supremacistas. Claro que ele precisa ser imediatamente calado e demitido e para isso tem um abaixo-assinado. Democratas do bem, né?

O Aiatolá Khomeini precisou derrubar o Xá da Pérsia e impor um regime religioso duríssimo para que lhe fosse reconhecido o poder de perseguir alguém que o ofende. Os censores brasileiros tinham de justificar por escrito as razões de censurar algo e a pessoa censurada ou sancionada tinha o direito de saber a razão. Mesmo assim, ficaram com uma fama terrível e uma imagem que não se tem conserto. Esse pessoal, onde quer que esteja, deve ter uma inveja danada dos canceladores. Não bastasse o trabalho fácil, ainda posam de bonzinhos.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/madeleine-lacsko/sem-a-liberdade-de-ofender-nao-ha-liberdade-de-expressao/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

CPI - QUEM NÃO TEM PECADO ATIRE A PRIMEIRA PEDRA

 

Poder-se-ia viver um momento bem diferente no Brasil, mas será preciso aguardar novas crises, sofrimentos, atrasos, desgraças, num país que tem pressa de crescer, melhorar, alinhar-se com os novos tempos

Não consigo, nem com todo esforço, assistir mais que um minuto de cobertura jornalística da CPI da Covid. Não interessa o canal de TV. Nessa paródia bufa, não há imparcialidade, vontade de esclarecer. Aproveita-se, no meio da maior tragédia dos últimos cem anos, tirar diretamente proveito político e eleitoreiro. Adotam-se métodos que fizeram sucesso em outros tempos, quando as motivações eram sustentadas por uma moralidade “natural”, quando os parlamentares eram de maior quilate. Na miudeza atual, se aniquilou a intenção de ajudar a encontrar saídas; propor soluções, nem pensar. Mas o repúdio maior dos espectadores imparciais é aos atores escalados para revirar as vísceras dos “condenados por antecipação”. A imunidade parlamentar, nota-se, é (ab)usada com agressividade, bazófia, truculência, atrofia intelectual e nanomoralidade. As limitações patéticas dos atores fazem das circunstâncias um espetáculo horripilante. Os inquisidores, ávidos de notoriedade, mostram-se dublês de Tomás de Torquemada, à procura de um sacrílego pretexto para condenar à fogueira os convidados e o presidente da República. Exercitam-se em prolixos e fátuos solilóquios, que ocupam tempo desnecessariamente.

Desperdiçam tempo de uma vida que passa depressa e não deixará para a posteridade, além de uma folha corrida, realização alguma.  

Embora o governo se equivoque na procura de soluções práticas e factíveis, o Congresso não mostra capacidade de propor soluções, de aproveitar-se das prerrogativas legais que possui. Apenas críticas destrutivas, algumas abestalhadas, e discussões patologicamente inúteis.  

Vivemos, por renúncia dos demais Poderes, no “Império do STF”, que ocupou o vácuo deixado pela desmoralização do Poder Legislativo, pelas fraquezas do Executivo, penalizados pelas improbidades, incompetência e rastejante analfabetismo político que esqueceu seu compromisso com o bem da população.    

Mas o que deixa intragável essa CPI são, em especial, as qualidades dos atores. Como dizia o Mestre, “quem está sem pecados, atire pedras”, e a sabedoria popular paralisou os presentes, mas o Congresso é o contrário. O primitivismo ético faz com que se atirem centenas de pedras pelos notórios pecadores sentados em seus castelos de areia.    

Com essa cobertura de CPI, a mídia perde; quem ganha são Netflix, Prime e YouTube, que servem de refúgio à intragável representação dos senadores.     

Poder-se-ia viver um momento bem diferente no Brasil, mas será preciso aguardar novas crises, sofrimentos, atrasos, desgraças, num país que tem como prioridade a pressa de crescer, melhorar, alinhar-se com os novos tempos.  

E o que dizer do profundo contentamento que poderia nascer de estarmos no caminho certo, dirigidos pela verdade, caridade e compaixão? Por compreendermos claramente a meta e a estrada que nos são dadas, e sabermos que o poder de ser útil aumenta em nós, e que a nossa natureza inferior vem perdendo pouco a pouco sua intensidade?  

E quão pouco se tem lido e ouvido, também, dos raios de alegria que caem sobre quem avança rumo aos níveis superiores de consciência e da glória celestial que acalma as almas puras. Mais ainda, da serenidade que as tempestades terrenas não abalam quando uma personalidade sincera se orienta pelo bem de todos. Quando é que não se perderá mais tempo e vida em intrigas mesquinhas e abusos da boa-fé dos inocentes?  

Para alguém que entrou no caminho devotado ao bem, como deveria ser um político, opções que nada custam e gratificam imensamente, bastaria uma firme vontade interior, o autocontrole nas escolhas. Nada paga a serenidade em equilíbrio; nem mesmo as tristezas abalam mais, são vistas e sentidas como momentos necessários e até concedem um prazer na hora da superação.   

Que ninguém se desespere por imaginar a tarefa grande demais para si. O que o homem fez, outro homem pode fazer, e, exatamente na proporção que dermos auxílio àqueles que podemos ajudar, nós teremos ajuda e satisfação.  

Apesar de este texto parecer um devaneio, a humanidade neste começo de milênio se encontra numa aceleração nunca experimentada, e uma onda está por vir para varrer castelos de areia.

sexta-feira, 21 de maio de 2021

VIVEMOS NO MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEIS

 

Filosofia
Por
Antonio Fernando Borges, especial para a Gazeta do Povo

GERMANY – CIRCA 1996: A stamp printed in Germany shows Gottfried Wilhelm Leibniz philosopher and mathematician circa 1996

Selo alemão estampa o filósofo Gottfried Wilhelm Leibniz| Foto: BigStock

Dizem (o que não é improvável) que os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras. O problema é que os piores deles nunca desistiram de tentar transformar a realidade, à custa de muitos estragos. Para sorte nossa, a plêiade desses piores sempre formou minoria, inclusive nos Compêndios de História mais engajados. Mas, para desgraça de todos e infelicidade geral, os danos suscitados foram extensos, exorbitantes e principalmente duradouros. A verdade é que um Descartes, um Kant e um Hegel (e mais um punhado de herdeiros: Marx, Gramsci & Cia.) já bastam para embaçar, mesmo que só em parte, o edifício luminoso do conhecimento. Variantes à parte, o objetivo é sempre o mesmo: destruir a realidade em favor de uma ideia, nesse pesadelo permanente de construir um “mundo melhor”.

Os historiadores da filosofia (o que é mais do que provável) costumam classificar seus biografados mediante uma série de critérios — em geral arbitrários e parciais. Os mais previsíveis opõem: realistas X racionalistas, materialistas X idealistas, otimistas X pessimistas – e alguns outros pares rimados. Mas a comparação mais inusitada costuma colocar a maioria dos transformadores do mundo, esses proverbiais “construtores de utopias e impérios”, frente e frente com o exército de uns poucos — especialmente de um só: o filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz, o insigne defensor da ideia de que “vivemos no melhor dos mundos possíveis”.

Polímata, notável por sua extraordinária erudição, é coisa que admira e consterna ver o grande Leibniz reduzido a um verbete curto nos livretos de autoajuda, e reparar que até seus defensores desdobram-se em contorcionismos (e sorrisos amarelos) para justificar a máxima leibniziana tão popularizada. Afinal, num mundo marcado por aquecimento global, injustiças, desigualdades, incêndios amazônicos e até uma inusitada pandemia viral, alguém pode ter ainda a ousadia de o definir como “o melhor dos mundos possíveis”?

Lamento contrariar maiorias e unanimidades e me incluir entre os ousados: arrisco dizer que só entendendo plenamente a frase de Leibniz decifraremos a chave capaz de abrir a porta para o mundo moderno. E, desde já, o melhor caminho é: otimistas e pessimistas, tratem de deixar de lado a pergunta sobre a quantidade de líquido no copo – meio cheio ou meio vazio? – e se preocupem em saber, afinal, que sabor ele tem.

Um Leibniz para chamar de seu
Em qualquer enciclopédia básica, o verbete Leibniz informa que o ilustre alemão nascido em Leipzig (1646-1716), foi matemático, engenheiro, filósofo, lógico, geólogo e (para encurtar a lista) um historiador sagaz e diplomata astuto. Deixou importantes contribuições para a física e para a tecnologia — além de antecipar uma série de noções que só viriam a se consolidar muito mais tarde em diversas outras áreas: filosofia, teoria das probabilidades, biologia, medicina, geologia, psicologia, linguística – e, precocemente, até informática.

Leibniz escreveu tratados sobre filosofia, política, direito, ética, teologia, história e filologia. E, sem exagerar, contribuiu inclusive para o campo da biblioteconomia: quando atuou como superintendente da biblioteca Wolfenbüttel (na Alemanha), desenvolveu um sistema de catalogação que serviria de guia para muitas das maiores bibliotecas da Europa. Escreveu em várias línguas, sobretudo em latim, francês e alemão. Foi também um um educador entusiasta, cuja capacidade empreendedora ajudou a fundar numerosas instituições de ensino pela Europa.

Por existirem “tantos Leibniz” no meio acadêmico, é costume que eruditos apelem para seus interesses imediatos na hora de escolher um Leibniz para chamar de “seu”. Mas o fato de que este currículo invejável e variado não livrou nosso polímata de ganhar a etiqueta majoritária de pensador otimista (mais uma vez, a famigerada frase…) já é motivo suficiente para deixarmos os outros aspectos de lado – e, em nosso breve artigo, tratarmos exatamente deste.

A Cruz ainda no centro
As datas costumam variar, e também alguns nomes próprios — mas quase todos concordam em definir o Renascimento como um período iniciado no século XV ou XVI e que trouxe grande progresso técnico e material — e, consequentemente, um grande desenvolvimento econômico, político, artístico, espiritual e cultural. Entre as presumíveis conquistas, todos destacam o fim do “obscurantismo religioso” e o nascimento da racionalidade científica.

A filosofia (nosso foco aqui) logo tratou de se adaptar aos “novos tempos”, cuidando de colocar o homem no centro das discussões e ressaltar as possibilidades “objetivas” da técnica, no lugar antes ocupado pela teologia. A Idade das Trevas cedeu terreno à Era das Luzes, como diziam os então  “novos pensadores”– passando ao largo de alguns detalhes “menores”, como por exemplo: chamar de Trevas uma época onde existiram a Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino, o monumento poético chamado A Divina Comédia e a magnitude das catedrais góticas. Em contraposição, as Luzes trataram de oferecer a Revolução Francesa e sua emblemática guilhotina.

Haveria ainda muito a dizer sobre este retrato caricato e mentiroso de uma etapa histórica tão fértil — a passagem da Idade Média à Renascença. Mas basta ressaltar que, no centro de tudo isso, teremos sempre uma questão incontornável: mais do que apenas criticado em teoria, o Deus Criador e Juiz estava ameaçado de perder o lugar matricial no conhecimento e no comportamento moral dos homens. Neste novo ambiente cognitivo, as Ciências ganhavam “letra maiúscula” e conteúdo técnico-teórico, jogando para escanteio os temas milenares que Aristóteles e Santo Tomás de Aquino consolidaram e deixaram de herança, como pilares fundantes da Civilização Ocidental.

Felizmente, alguns pensadores resistiam — com destaque especial para Sir Thomas Moore e Gottfried Wilhelm Leibniz.

Pois é precisamente neste sentido que Leibniz situa seu famoso enunciado de que “vivemos no melhor dos mundos possíveis” — defendido e explicado em mais de um livro, mas sobretudo nos volumes de Teodiceia e no breve e certeiro Discurso de Metafísica.

Longe de qualquer arroubo de um Doutor Pangloss (o personagem que Voltaire criou para satirizá-lo), quando Leibniz afirma, logo na abertura de Discurso…, que “Deus é um ser absolutamente perfeito” e que “existem várias perfeições diferentes e Deus as possui todas ao mesmo tempo”, está reconhecendo com humildade cristã a presença de um Criador que sabe o que está fazendo  — e que, por Misericórdia, faz sempre o melhor.

Precocidade reconhecida, e alguns detratores
O mais fascinante e desafiador na biografia de Leibniz é que ele não desprezou as pesquisas matemáticas e lógicas da época para privilegiar as reflexões teológicas. Para espanto nos simplistas, todos esses assuntos dividiam espaço em seu espírito Um resumo de sua biografia dá conta de sua pluralidade precoce:

  • Em 1666 (tinha apenas 20 anos) Leibniz se formou em direito, em Nuremberg (uma proeza para a época).
  • Em 1668, recusaram-lhe o grau de doutor, alegando que era “muito jovem”.
  • Em 1676 (antes de completar 30 anos), já tinha desenvolvido algumas fórmulas elementares dos cálculos diferencial e integral — e descoberto o teorema fundamental do cálculo, só publicado em 11 de julho de 1677. (De 1677 e 1704, o “cálculo leibniziano”, como ficou conhecido, ganhou força em todo o continente europeu.
  • Em 1685, criou uma máquina de calcular, considerada superior à de Blaise Pascal (porque realizava as quatro operações).

Mas se o nome de Leibniz desfruta até hoje de notoriedade e respeito reverencial na área das “ciências exatas”, o mesmo nunca se pôde dizer de seu pensamento filosófico e religioso — que já na época enfrentou grande resistência, num ambiente em que as fórmulas matemáticas, os cálculos e as máquinas de calcular pretendiam dar conta de tudo, e não apenas das questões do mundo físico.

Justamente porque, nesse mister, Leibniz constituía um ponto fora da curva: nele, Razão e Fé não se opunham, mas se complementavam e se justificavam, num sistema sofisticado e instigante. Sem temer a rejeição de seus pares, ele incorporou elementos fundamentais da filosofia escolástica que os homens do seu século desprezavam e já consideravam extinta e superada. Por conta disso, Leibniz amargou o exílio dentro da própria pátria — sobretudo, o exílio temporal.

Mas há dois outros motivos que atrapalham a “posteridade” de Leibniz — quer dizer, seu legado — fazendo dele até hoje uma espécie de “peixe fora d’água” na História da Filosofia. Avesso ao ambiente das Universidades, o filósofo foi ao mesmo tempo um ativo semeador de Academias científicas independentes, onde a liberdade de pesquisa não se submetessem à hierarquia dos diplomas e das convenções — e isso, convenhamos, não é muito bem visto entre os doutores da Cátedra…

Além disso, o filósofo de Leipzig nunca se preocupou em sistematizar sua filosofia em livros seriados: embora tenha escrito copiosamente, era difícil (e até hoje o é) extrair um método filosófico estruturado de tantos e tantos opúsculos, cartas e volumes que publicou ou deixou inéditos. Em suma, suas principais contribuições foram redigidas de forma nada meticulosa em francês ou latim, e poucas em seu alemão natal.

Só aos 40 anos ele se preocupou em escrever a primeira exposição organizada de seu pensamento: o brilhante mas breve (cerca de 100 páginas) Discurso de Metafísica. Nele, o mestre deixa explícita sua dívida espiritual com a escolástica — e sua absoluta independência em relação aos cartesianos que desde então começavam a dominar o mundo, transformando-o para pior.

Anacrônico em vida, Leibniz felizmente sobrevive, e de várias maneiras: não apenas nos gabinetes de engenharia e de cálculo – mas sobretudo no coração daqueles que creem serenamente viver no melhor dos mundos (este) que Deus criou e conduz. Só duram no tempo as coisas que não pertenceram ao tempo.

Deixe sua opinião
Como você se sentiu com essa matéria?

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/leibniz-sempre-esteve-certo-vivemos-no-melhor-dos-mundos-possiveis/
Copyright © 2021, Gazeta do Povo. Todos os direitos reservados.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...