domingo, 16 de maio de 2021

CADEIA FAMILIAR

 

Surgem muitas novas fortificações e os campos outrora desertos ao redor agora se povoam de novos habitantes

Leandro Karnal, O Estado de S.Paulo

Constituir família é uma luta. Você precisa criar um lugar seguro, pagar por ele, edificá-lo pedra a pedra. Finalmente surge a “cidadela”, o lugar fortificado. É preciso ter defesas contra o mundo e harmonizar o grupo atrás das muralhas. A estratégia é delicada. A primeira etapa da cidadela é o casal fundador e o esforço do baluarte. 

Quase sempre, a segunda etapa é a mais feliz. O protocasal gerou filhos e as festas internas são boas. Há agregados, porém o núcleo existe ali, unido. Os Natais são, em particular, notáveis e serão memória eterna nas atas da cidadela. 

A terceira etapa é um desafio. Os filhos crescem e surgem namoradas e namorados. Aparecem alguns atritos no convívio forçado com enxertos variados. Há fugas: alguns querem passar o Natal na casa alheia. A mãe pressiona: “Vocês estão namorando há um mês e você vai abandonar sua família de toda a vida?”. Os estranhos penetram no espaço defendido pela porta da frente. Alguns querem até dormir ali. A cidadela sofre ataques internos. Surgem cavalos de Troia. 

Cena de ‘O Rei Leão’, dirigido por Jon Favreau Foto: Walt Disney Studios

A história daquela acrópole original avança. A quarta etapa é quando a segunda geração se reproduz e o casal original passa de fundador a avô e avó. Mais soldados na defesa do núcleo: alegrias para os comandantes. A cidadela volta a ter Natais fortes e com risos de crianças. Algo da segunda etapa ressurge, um vínculo viçoso e prenhe de esperanças. Porém, os experientes sabem que é uma aurora-crepúsculo. Noras e genros não são mais atacantes noturnos querendo aliciar seus filhos: são cidadãos e cidadãs naturalizados com direitos de herança e voto.

O casal fundador envelheceu muito. Há sustos médicos. A autonomia declina e cochichos familiares viram conspirações. A cidadela original é o lugar da memória da segunda geração, a terceira já começa a incorporar estrangeiros. Novo surto de xenofobia. A quinta etapa implica novas negociações. 

Na sexta e penúltima fase da cidadela familiar, o casal fundador partiu. Sempre há a sugestão de que sejam organizadas festas no lugar original que marcou a existência das, agora, estátuas de generais. A segunda geração tornou-se a mais velha e insiste na busca de melodias de Natais passados com bustos de bronze simbólicos na sala. Surgem muitas novas fortificações e os campos outrora desertos ao redor agora se povoam de novos habitantes. 

Há pouco sentido em manter a cidadela original. Desponta a sétima etapa. Cresce a pressão pela venda. Novos espaços demandam capitais que estão empatados ali, naquele museu de memórias. Há quem cultive mais a memória das festas originais e sinta a melancolia do presente. 

O tempo avançou e o poder gerador do passado se esgotou. É hora de demolir a velha cidadela e cada um partir para sua cidade nova. A história passa a se repetir em outros espaços. 

Toda família parece enfrentar esse ciclo de estações com variantes, claro. Dinheiro é um fator decisivo para saber sobre tranquilidade ou angústia no destino da antiga e das novas cidadelas. Difícil ser sábio e equilibrado com tantos sentimentos e memórias, tantos projetos, rendas variáveis e distintos cunhados, noras e genros. A memória da segunda fase tende a ser aumentada e melhorada. Talvez, os dramas das fases finais sejam causados pela memória reinventada de uma infância plena e feliz. Falecidos e imersos em azinhavre, os pais fundadores ficam mais sábios. Envelhecidas as crianças originais, a magia do pretérito é narrada com emoção. 

Administrar o tempo e suas sequelas é o maior desafio de toda construção familiar. Aceitar que tudo passa e que a cada etapa somos diferentes é um imperativo complexo. A âncora dá estabilidade ao navio no porto. Se ela atrasar a viagem, deve ser cortada. Há melancolia nas metamorfoses, claro, porém existe libertação. Ela pode ser entendida como na lição biológica do Rei Leão ao filho: tudo é um círculo/ciclo permanente (música Circle of Life). Na música de Elton John e letra de Tim Rice, tudo deve seguir até que encontremos nosso lugar (‘Till we find our place’). Se Rei Leão for muito pop para sua percepção do mundo, fique com os versos mais antigos do Eclesiastes 1,9: “O que foi tornará a ser, o que foi feito se fará novamente; não há nada novo debaixo do sol”. Entre o apelo teatral da Disney e a sabedoria ligeiramente amarga do Eclesiastes, podemos encerrar com um rumo diferente sobre as memórias da cidadela familiar. Drummond pensou no tempo que passa e escreveu: “O meu tempo e o teu, amada, transcendem qualquer medida. Além do amor, não há nada, amar é o sumo da vida. São mitos de calendário tanto o ontem como o agora, e o teu aniversário é um nascer a toda hora. E nosso amor, que brotou do tempo, não tem idade, pois só quem ama escutou o apelo da eternidade”. 

É difícil para alguns a compreensão de que a herança não era a cidadela, mas o amor. Aquele era um ninho para aprender a voar e criar novos ninhos. A melancolia é uma forma de preguiça pelo ninho antigo pronto. O objetivo das muralhas não é a pedra em si, todavia conservar o que vai dentro. Para quem vive na memória dos lugares dos Natais passados, vale a lembrança: nem Jesus voltou para visitar a manjedoura. A vida avança e segue porque a missão da cidadela foi realizada. Que cada um leve uma pedra do muro original para construir os seus. O resto, Simba, é o rumor do vento. Boa semana! 

É HISTORIADOR, ESCRITOR, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, AUTOR DE ‘O DILEMA DO PORCO-ESPINHO’, ENTRE OUTROS

RECORDANDO OS FILMES DE FAROESTE

 

Westerns, ou, como dizíamos por aqui, filmes de bangue-bangue, eram parte da minha infância

Marcelo Rubens Paiva, O Estado de S.Paulo

Pelo que rola nos Estados Unidos, depois do luto terão um verão interminável: vacina sobrando, gente nas ruas, retomada de atividades sociais, turistas. O recordista mundial de mortes mudou de governo na hora certa. 

O Reino Unido, apesar da variante, teve média de sete mortes diárias na semana. Em Londres, nenhuma. Em Israel, também zero. Pode ser a reedição do Verão do Amor de 1967.

Aqui, que adotou como política de Estado a imunidade de rebanho, com um projeto liberal para secar o SUS, bloquear verba da educação, pesquisa, e economizar dinheiro na compra de vacina, somado ao negacionismo presidencial, o inverno será longo e tenso. 

No futuro, a pandemia acabará. Restará uma lição: a vantagem de ficar mais tempo com os filhos e participar da educação. Vejo o meu mais velho cantando Ennio Morricone no banheiro e tenho um déjà-vu. 

Westerns, ou, como dizíamos por aqui, filmes de bangue-bangue, eram parte da minha infância, cujo boom foi nos anos 1960. Morricone era a trilha dos filmes de Sérgio Leone e de intervalos dos cinemas, do hall às salas, na fila do banheiro, na pipoca. 

Western
Westerns, ou, como dizíamos por aqui, filmes de bangue-bangue, eram parte da minha infância, cujo boom foi nos anos 1960. Foto: Xiang Gao/ Unsplash

Maestro Morricone estava para Leone o que Nino Rota, para Fellini. Tarantino o apresentou às novas gerações. 

Apesar de não ter colocado os pés nos Estados Unidos, Leone recriava o Velho Oeste, livrando seus personagens do maniqueísmo do passado, em que o bonzinho era limpinho e vestia roupas claras, e o malvado era sujinho e vestia tons escuros. Eram todos intempestivos. Em toda parte, ruínas, sintomas de uma civilização decadente, injusta, desigual.

O diretor romano arrebentava nas bilheterias mundiais com uma estética própria e imitada: closes, rostos com barba por fazer, suados e sujos, planos longos, muitas externas, personagens solitários e complexos, moscas, sujeira, tiros com o famoso ricocheteio, que toda criança imitava. 

Seus cavalos eram impecáveis e sempre estavam em modo galope. O cenário, seco, árido, ensolarado, com insetos, animais peçonhentos em planícies cercadas por montanhas. Os personagens não tomavam água, mas uísque sem gelo. Eram inspirados em Kurosawa, que por outro lado se inspirou em Dashiell Hammett e inspirara John Sturges (diretor do deslumbrante Sete Homens e um Destino de 1960).

A Trilogia Dólar, ou Trilogia do Homem sem Nome, era estrelada por um desconhecido, Clint Eastwood: Por um Punhado de Dólar (1964), inspirado em Yojimbo, Por uns Dólares a Mais (1965) e Três Homens em Conflito (1966), com o lendário Klaus Kinsky. Todos filmados na Espanha, onde era mais barato (orçamento médio de US$ 200 mil).

Os três se passam logo no final da Guerra Civil americana. O país estava armado, sob um caos social. Civis tinham que sobreviver como podiam no meio do fogo cruzado.

Me parece que Leone, que não falava inglês, traduzia a infância passada numa Roma dominada por fascistas, ocupada por nazistas e atacada por americanos. Quem não tinha nada com isso, o povo, se lascando para conseguir uns trocados e o que comer. 

Clint veste o mesmo poncho puído com uma estampa indígena em todos, tem sempre uma cigarrilha no canto da boca. Ninguém tem residência fixa, família, apenas o cavalo e habilidades com um revólver Colt. Todos estão de passagem, são forasteiros e de caráter dúbio.

O diretor foi contratado pela Paramount e fez Era uma Vez no Oeste (1968), com Henry Fonda, Jason Robards, Charles Bronson e Claudia Cardinale, a protagonista, prostituta de Nova Orleans que arruma um casamento à distância, se mete no meio do nada, descobre que o marido que nem conheceu morrera, fica na sua terra, a defende da especulação, manipulando os cowboys ao redor. 

O filme de três horas e US$ 5 milhões virou cult. Foi um fracasso de bilheteria nos EUA, mas um baita sucesso na Europa. Só a bilheteria francesa rendeu três vezes o orçamento.

No filme seguinte, Quando Explode a Vingança, de 1971, ele tomou partido: cowboys participam indiretamente da Revolução Mexicana. O longa começa com uma citação de Mao Tsé-tung: “A revolução não é um jantar social, um evento literário, um desenho ou um bordado, não pode ser feita com elegância e cortesia. A revolução é um ato de violência”. Indiretamente, explica a sua estética, rechaçada pelo público americano. 

Na primeira cena, em close, cupins numa madeira podre são atingidos por um jato de mijo. Bandidos atacam e humilham líderes religiosos. Me lembrou o ditado do meu avô italiano: O se sei cattolico o comunista, e alcuni si odiano (ou se é católico ou comunista, e uns odeiam os outros).

Leone foi assistente de Vittorio de Sica no filme que revolucionou o cinema, Ladrões de Bicicleta, de 1948. Algo que chama a atenção é a sensibilidade a temas sociais, emancipação feminina, e o preconceito. Seus filmes estão no Telecine, Amazon, Netflix. 

Que bom que a pandemia me deu a chance e tempo de revê-los com meus filhos. Especialmente porque há uma interrupção nas produções, e streamings descobriram os clássicos. Uma das poucas vantagens desses tempos.

É ESCRITOR E DRAMATURGO, AUTOR DE ‘FELIZ ANO VELHO’

DESEMPREGADO PODE TORNAR-SE EMPRESÁRIO

Mauro Condé*

“Quando você não sabe e não pensa que não pode, você vai e faz e dá certo!
Pela lei da aerodinâmica, a abelha não deveria nunca conseguir voar. Mas como ela não sabe disso, voa do mesmo jeito.
Um dos segredos do sucesso é você se recusar a deixar que as adversidades temporárias te derrotem”
Mary Kay Ash

Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes livros sobre Administração.

Eles me levaram para dentro da sede da Singularity University, nos Estados Unidos, onde fui recebido por Michael Malone e Salim Ismail, aos quais fui logo pedindo:

Ensinem-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

– Estruture-se para um dia montar a sua própria empresa – essa é a sua maior chance de sobreviver no futuro.

Malone e Ismail são autores do livro “Organizações Exponenciais”.

Nele, revelam por que as empresas mais jovens têm sido 10 vezes mais bem sucedidas, melhores, mais rápidas, mais enxutas e mais baratas do que as tradicionais empresas já estabelecidas há muitos anos.

Outro dia eu encontrei na rua um amigo, o José Luiz, um pedreiro experiente, profissional de mão cheia, desempregado e pai de uma numerosa família.

Curioso, quando viu o livro em minhas mãos, quis saber do que se tratava.

Fiz para ele um resumo dos conceitos do livro, ele abriu um sorriso e me disse:

-Uai, então quer dizer que ao invés de ficar para lá e para cá tentando arrumar um emprego que não aparece no meio dessa crise, eu posso montar uma empresa assim?

Lógico que pode, respondi!

Basta você usar o que você gosta e o que você sabe fazer para conseguir qualquer coisa na vida, desde que isso ajude as pessoas ou as empresas a conseguir o que elas tanto querem e precisam.

Descubra os problemas que mais afligem ou tiram o sono delas e se ofereça para resolvê-los usando todo o seu conhecimento e habilidades.

Elas aceitarão te pagar por isso, principalmente se o valor da solução que você apresentar for muito maior do que o investimento delas no seu trabalho.

Você não precisa de um patrão como intermediário.

José Luiz abriu um largo sorriso e saiu mais leve daquela conversa.

Outro dia, voltamos a nos encontrar na rua e ele veio logo me contar que por causa do meu incentivo abriu uma empresa na modalidade MEI e passou a oferecer serviços de manutenção predial para residências e empresas e até já contratou alguns ajudantes.

A crise nunca é um sinal de derrota, de obstáculos e de dificuldades, quando você olha bem para dentro dela e descobre um mundo de oportunidades.

*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco

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CPI PODE MANDAR PRENDER

 


Por
Gazeta do Povo

Presidente da CPI da Pandemia, Omar Aziz (PSD-AM), negou pedidos de prisão de Fabio Wajngarten feitos por integrantes da Comissão, mas encaminhou o depoimento ao Ministério Público.| Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
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O agitado depoimento do ex-secretário de Comunicação do Governo Federal, Fábio Wajngarnten, à CPI da Covid-19 na última quarta-feira (12) teve bate-boca, troca de acusações e até ameaça de prisão.

Parlamentares alegaram que Wajngarten mentiu no depoimento e que isso justificaria a ordem de prisão. O ex-secretário, no entanto, não saiu preso da CPI. O presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), disse que não iria agir como “carcereiro”.

Mesmo assim, Aziz decidiu enviar o depoimento ao Ministério Público, para “tomada de providências e, se for o caso, a responsabilização, inclusive com a aplicação de penas restritivas de direito por eventual cometimento do crime de falso testemunho” perante a Comissão.

De qualquer maneira, Wajngarten poderia sim ter saído preso da sessão. Pelo menos de acordo com a legislação. Uma CPI tem poder de investigação próprio de autoridades judiciais, podendo mandar prender em casos de flagrante delito.

Quando a CPI mandou prender?
Dois casos de prisão ocorridos em CPIs, no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, chamaram a atenção.

Em 1999, o ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes, conhecido como Chico Lopes, compareceu para depor na chamada CPI dos Bancos, que investigava denúncias de irregularidades no sistema financeiro

Antes de começar a falar, Lopes se recusou a assinar o termo de compromisso de só falar a verdade, argumentando que cumpria uma determinação dos seus advogados.

O presidente da Comissão, senador Bello Parga, que era do PFL (atual DEM), do Maranhão, deu então ordem de prisão ao ex-presidente do BC por desacato e desobediência, com base no artigo 206 do Código de Processo Penal.

Francisco Lopes havia sido convocado como testemunha pela CPI e seria questionado sobre a decisão de vender dólares, a preços favorecidos, aos bancos Marka e FonteCindam. Acabou sendo levado direto do Senado à sede da Polícia Federal, em Brasília.

Ex-prefeito de São Paulo foi preso em CPI
Em 2004, foi a vez de Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, ser preso em uma sessão. Pitta recebeu voz de prisão do então senador Antero Paes de Barros, que era do PSDB do Mato Grosso e presidia a CPI do Banestado.

O ex-prefeito de São Paulo foi detido após desacatar Paes de Barros. Como mostra o registro do site do Senado à época, os dois políticos tiveram uma ríspida discussão, que acabou em troca de acusações e a ordem de prisão.

Diante da insistência de Celso Pitta em não responder a maioria das indagações de senadores e deputados na Comissão, Antero Paes de Barros indagou se o ex-prefeito, diante de tantas evidências de corrupção envolvendo o seu nome, “não se considerava uma pessoa corrupta”.

Pitta então se considerou ofendido com a pergunta feita pelo presidente da CPI e retrucou indagando a Antero como ele se sentiria “se alguém perguntasse se ele continua batendo na sua mulher”.

Paes de Barros considerou que houve desacato à autoridade e determinou a imediata prisão de Pitta. O ex-prefeito acabou conduzido à Polícia Federal. Ele ficou detido por cerca de duas horas, prestou depoimento e foi solto.

Celso Pitta estava na CPI do Banestado para prestar depoimento no caso que investigava evasão de divisas por meio das chamadas contas CC-5.

Pitta foi à CPI com liminar do STF
Como mostra reportagem da Agência Brasil da época, Celso Pitta compareceu para depor perante a Comissão amparado por uma liminar do então ministro Cezar Peluso, do Supremo Tribunal Federal.

O ex-prefeito paulistano poderia permanecer em silêncio para evitar responder a perguntas que o auto-incriminassem. Ele também não poderia ser preso, nem tampouco seria considerado desrespeito aos trabalhos da Comissão o seu silêncio.

Mas, após consultar membros da CPI e a assessoria jurídica do Senado, Antero Paes de Barros entendeu que o desacato à autoridade não estava amparado pela liminar do STF.

Celso Pitta, que foi prefeito de São Paulo entre 1997 e 2000, eleito pelo PPB (hoje PP), morreu em 2009, vítima de um câncer no intestino.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/cpi-pode-mandar-prender-dois-nomes-que-sairam-detidos/
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LAVA JATO DEU ESPERANÇAS NO COMBATE À CORRUPÇÃO

 


Por
Tiago Cordeiro, especial para a Gazeta do Povo

Deputada federal Adriana Ventura (Novo-SP)| Foto:

Em seu primeiro mandato como deputada federal, Adriana Ventura (Novo-SP), professora de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), liderou, em março de 2019, a criação da Frente Ética Contra a Corrupção (FECC). A entidade vem buscando mobilizar o Congresso Nacional a respeito de pautas que fortaleçam o combate à corrupção – é da deputada o projeto de lei 1485/2020, que duplica as penas por corrupção na calamidade pública.

Em abril deste ano, a frente organizou na Câmara dos Deputados o seminário “Lava Jato: a maior operação contra corrupção do mundo”, que rendeu um vídeo em que políticos e membros da sociedade civil expressam seu apoio à Operação Lava Jato.

Na entrevista à Gazeta do Povo, Adriana Ventura faz um balanço da operação, avalia as ações recentes do Supremo Tribunal Federal (STF) e faz o alerta: “A pauta do combate à corrupção precisa ser central no pleito eleitoral do ano que vem”.

Que balanço pode ser feito da operação Lava Jato?

Incontestavelmente, é a maior operação de combate à corrupção da história do Brasil. Os números mostram isso: mais de 70 fases, com 1.343 buscas e apreensões, 130 prisões preventivas, 163 prisões temporárias, 118 denúncias, 500 pessoas acusadas, 52 sentenças e 253 condenações (165 nomes únicos) a 2.286 anos e 7 meses de pena. Partidos de várias ideologias foram investigados. Mais de R$ 6 bilhões foram devolvidos por meio de 185 acordos de colaboração e 14 acordos de leniência, a devolução de cerca de R$ 22,4 bilhões foi ajustada.

Além disso, a operação deu esperança para os brasileiros de que o país pode mudar para melhor, de que o Brasil tem jeito. E fica claro que a Lava Jato deve resistir diante dos ataques que vem sofrendo nos últimos anos.

Ainda existe uma operação Lava Jato, nos moldes do que era antes?

É certo que alguns casos ainda devem ter andamento até o fim deste ano. Mas a incorporação da Lava Jato ao Gaeco significa, na prática, um freio nas investigações e redução do número de procuradores disponíveis. Posso dizer, sem sombra de dúvidas, que a Operação Lava Jato, como a conhecíamos nos anos anteriores, não existe mais. E isso é muito ruim para o Brasil.

A incorporação aos Gaecos enfraquece as investigações?

Pode frear o combate à corrupção, não por culpa do modelo dos Gaecos em si, mas sim pelas tentativas políticas de minar o combate à corrupção. No caso da Lava Jato, houve redução do número de procuradores dedicados. E no momento, o grupo pode não estar devidamente estruturado para dar vazão à complexidade da operação, e não ser capaz de trazer a celeridade necessária. De qualquer forma, é necessário aguardamos o andamento desses grupos. Ainda é cedo para afirmar que os Gaecos não trarão avanços para o combate à corrupção, apesar da clara intenção de fragilizar os esforços neste sentido.

A operação cometeu erros? Se cometeu, esses erros justificam as decisões recentes do STF a respeito da operação?

É impossível que uma operação dessa magnitude tenha sido operacionalizada sem nenhum erro. Entretanto, a narrativa que se constrói é a de que a operação foi ilegal, mal intencionada. Alguns excessos podem ter ocorrido? Não sei. E não é com provas hackeadas e não legítimas que saberemos. Afinal, o laudo da Polícia Federal não foi conclusivo sobre a veracidade das mensagens. A questão é: vamos deslegitimar a maior operação contra a corrupção do mundo por conta de alegações fundadas em provas ilícitas? Não faz sentido. Isto é uma narrativa mentirosa e canalha, que interessa a poucos.

Qual o impacto do questionamento que o STF vem fazendo, tanto da competência de realizar a operação em Curitiba, quanto da declaração de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro?

É um impacto sem precedentes no combate a corrupção no país. A Suprema Corte está em vias de deslegitimar a operação, sem nenhuma responsabilidade com as consequências. E abrindo terríveis precedentes. Do meu ponto de vista, nada justifica as recentes decisões do STF sobre a operação, principalmente no tocante à suspeição do ex-juiz Sérgio Moro. Estes são os meios para um fim. E o fim é cristalino: desmontar toda a operação. O impacto de toda essa atuação do STF é extremamente negativo. A mensagem que a corte parece passar para toda a sociedade, em última instância, é: no Brasil, o crime compensa.

Que projetos em tramitação no Congresso são os mais importantes para o combate à corrupção?

São muitos, mas é importante focarmos em dois centrais neste momento. A PEC 199/2019, da prisão após condenação em segunda instância. e a PEC 333/2017, do fim do foro privilegiado. A PEC 199, que já tem o relatório pronto, vai permitir que condenação e a execução já possam se dar na segunda instância, porque a interposição de um recurso especial ou extraordinário não vai impedir que já seja declarado o trânsito em julgado da ação.

A PEC também vai ensejar maior segurança jurídica e restaurar a credibilidade do Poder Judiciário perante a população, sem vaivém de infindáveis recursos que ninguém é condenado de fato. Diante disso, a expectativa é que, talvez, vejamos culpados sendo condenados de fato! Estamos lutando arduamente para ver essa matéria ser levada a plenário o mais rápido possível.

Já com relação a PEC 333/2017, popularmente chamada de PEC do fim do foro privilegiado, é outra das pautas essenciais para avançarmos no combate à corrupção. O foro especial por prerrogativa de função surgiu, com a abrangência atual, na Constituição de 1988. Naquele contexto histórico de saída da ditadura, até fazia sentido esta proteção mais para o mandato do que para o mandatário.

Mas, ao invés de proteger o mandato, criou uma categoria de brasileiros para os quais a justiça é mais especial. O que surgiu para garantir a liberdade, a democracia e a Justiça, acabou por garantir a liberdade de um grupo de 58 mil pessoas, o espírito antidemocrático e a desigualdade perante a lei.

Considero que estas duas propostas são os principais marcos no combate à corrupção dentro do Congresso. Mas ainda temos outros projetos em trâmite que também poderão trazer atualizações relevantes para o ordenamento jurídico. São eles a PEC 329/2013, que altera a forma de composição dos Tribunais de Contas, o PL 1485/2020, que prevê dupla pena crimes contra a corrupção, o PL 5612/2020, que tipifica a rachadinha, e o PL 1202/2007, que regulamenta o lobby.

Quais têm maior chance de aprovação?

É certo que há resistência por parte de muitos políticos, o que trava a aprovação desses projetos. De qualquer modo estamos agindo para que a PEC 199 seja finalmente votada na Comissão Especial, e depois seja levado ao plenário. Quanto à PEC 333, solicitei em vários momentos ao presidente da Câmara para pautar a proposta, que já foi aprovada no Senado.

O PL 1485 está no Senado aguardando a pauta. Já reuni mais de uma vez com o presidente daquela casa para pedir a aprovação do PL. Já fizemos vários eventos pela Frente Ética Contra Corrupção, já pedimos e pressionamos aqueles que têm o poder de pautar matérias. A luta contra a corrupção é árdua, e não irei desistir.

Qual a importância da pauta do combate à corrupção para as eleições de 2022?

Altíssima. O que observamos nessa última legislatura, desde o começo de 2019, são vários movimentos de desmonte dos grandes avanços conquistados nos últimos anos no combate à corrupção. Os retrocessos têm acontecido em todos os Poderes. No Judiciário, o desmonte da Lava Jato é o principal marco. No executivo, temos observado uma clara falta de preocupação com o tema.

Aqui dentro do Congresso, vários grupos têm se movimentado para alterar marcos legais importantes, improbidade administrativa, alterações no código de processo penal, mudanças na lei de lavagem do dinheiro, reformas eleitorais, e por aí vai. Diante desse cenário, é essencial que em 2022 a sociedade esteja alerta. A pauta do combate à corrupção precisa ser central no pleito eleitoral do ano que vem, sob a pena de observarmos nos próximos anos um desmonte generalizado de combate à corrupção no Brasil.
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/lava-jato-frente-congresso-mobilizacao-contra-corrupcao/
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MANIFETANTES PRÓ-BOLSONARO FORAM ÀS RUAS NESSE SÁBADO


Por
Gabriel de Arruda Castro, especial para a Gazeta do Povo

Manifestantes se reúnem na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, neste sábado (15).| Foto: Reprodução / Dep. Junio Amaral

Manifestantes foram às ruas em todos os estados do país neste sábado, na segunda edição da Marcha da Família Cristã pela Liberdade. O protesto foi mais forte em Brasília, onde representantes do agronegócio juntaram forças com os integrantes da marcha em uma manifestação que pediu, dentre outras reivindicações, a adoção do comprovante impresso do voto já nas eleições de 2022. Conforme havia prometido ao longo da semana, o presidente Jair Bolsonaro esteve no local e discursou diante de uma plateia pró-governo.

Na capital federal, a movimentação começou já durante a manhã. Dezenas de caminhões se concentraram na Esplanada dos Ministérios, ao mesmo tempo que um carro de som alternava entre discursos em favor do governo e apresentações de músicos cristãos. Mas o público se multiplicou no período da tarde, quando milhares de pessoas ocuparam o gramado central da Esplanada. “Foi muito positivo, com o público esperado e sem nenhum registro de ocorrência”, resumiu à Gazeta do Povo Wellington Macedo, um dos organizadores do ato em Brasília.

Bolsonaro andou a cavalo próximo aos manifestantes, embora separado do público por uma barreira de metal. Ele cumprimentou algumas pessoas e ouviu gritos de “Eu autorizo”. O grito se refere à “autorização” do povo para que o presidente tome medidas que impeçam os lockdowns e as outras medidas restritivas impostas pelos governos estaduais como estratégia de combate ao coronavírus.

Mais cedo, o presidente havia ido ao encontro dos ruralistas em um clube de Brasília no qual eles estavam concentrados. Lá, houve gritos de “Renan vagabundo”, em referência ao relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL). Bolsonaro estava acompanhado de ministros e deputados aliados.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/manifestantes-vao-as-ruas-por-voto-impresso-e-contra-lockdowns/
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A ORIGEM DA COVID

 


Por
Jimmy Quinn
National Review – Gazeta do Povo

| Foto: Pixabay

Por mais de um ano, um certo grupo de pesquisadores ridicularizou a ideia de que a Covid-19 pode ter inicialmente escapado de um laboratório em Wuhan, na China, tratando-a como uma teoria da conspiração. Agora, o controle deles sobre essa narrativa dentro da comunidade científica está diminuindo, à medida que um número cada vez maior de especialistas pede um olhar mais atento para essa hipótese de vazamento de laboratório.

Em uma carta publicada nesta sexta-feira na Science, 18 cientistas pedem uma investigação sobre as origens da pandemia que não descarte a possibilidade de um vazamento de laboratório. “Tanto a teoria de liberação acidental de um laboratório quanto a de transbordamento zoonótico [quando um patógeno é transmitido de animais para humanos] permanecem viáveis”, eles escrevem. “Saber como a Covid-19 surgiu é fundamental para orientar as estratégias globais de mitigação do risco de surtos futuros.”

Esses pesquisadores incluem o Dr. Ralph Baric, um importante especialista em coronavírus que tem pesquisas sobre coronavírus em morcegos com a Dra. Shi Zhengli, do Instituto de Virologia de Wuhan, e vários outros virologistas proeminentes. Eles se juntaram ao diretor-geral da OMS, autoridades de inteligência e outros especialistas do governo dos EUA para afirmar que tal vazamento continua sendo uma explicação possível, apesar das conclusões de um estudo conjunto da OMS e da China de que tal teoria é “extremamente improvável”. Assim como o governo do presidente dos EUA, Joe Biden, e 13 outros países que assinaram uma declaração liderada pelos EUA após a publicação do relatório, eles levantam preocupações sobre como o painel chegou às suas conclusões.

A carta dos pesquisadores é publicada no momento em que membros do Congresso americano começam a intensificar o escrutínio de um possível vazamento de laboratório como origem do novo coronavírus. A carta dos cientistas já chamou a atenção dos legisladores americanos envolvidos nas ações de investigação da Covid. Os representantes Cathy McMorris Rodgers, Brett Guthrie e Morgan Griffith disseram em um comunicado: “Estamos ansiosos para trabalhar com eles e com todos os que seguirão a ciência para completar esta investigação”.

Jamie Metzl, consultor da OMS e membro sênior do Atlantic Council, grupo de pesquisas sobre questões internacionais, explicou o significado da carta no Twitter. “A mordaça sobre a consideração pública de um acidente de laboratório como uma possível origem da pandemia acaba de ser quebrada. Após a publicação da carta à Science, será irresponsável para qualquer periódico científico ou veículo de comunicação não representar detalhadamente esta hipótese viável”.

Os autores da carta da Science consideram que o relatório conjunto da OMS e da China é falho e avalia as probabilidades das diferentes teorias sobre a origem do vírus que o painel avaliou: “Embora não tenha havido nenhuma descoberta que corrobore claramente com o transbordamento natural e nem com um acidente de laboratório, a equipe avaliou a hipótese de transbordamento zoonótico de um hospedeiro intermediário como ‘provável a muito provável, e um incidente de laboratório como ‘extremamente improvável'”.

Os autores da carta acrescentam: “Além disso, as duas teorias não foram consideradas de maneira equilibrada. Apenas 4 das 313 páginas do relatório e seus anexos abordaram a possibilidade de um acidente de laboratório”.

A carta não afirma que a hipótese de vazamento de laboratório é mais viável do que a teoria da origem zoonótica. É significativo, no entanto, que uma carta em uma importante revista científica está colocando essas duas teorias em pé de igualdade.

O Lancet, outro periódico científico, rejeitou uma carta submetida por 14 biólogos e geneticistas em janeiro, que argumentava que “a origem de laboratório não pode ser descartada formalmente”.

Algumas figuras associadas ao Lancet descreveram o cenário de vazamento de laboratório como uma teoria da conspiração, incluindo Jeffrey Sachs, presidente da comissão de Covid da revista médica, e Peter Daszak, presidente do subcomitê sobre as origens da Covid da comissão. Daszak, cujo grupo de pesquisa sem fins lucrativos recebeu centenas de milhares de dólares dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA para estudos sobre coronavírus de morcegos no Instituto de Virologia de Wuhan, era membro do painel conjunto da OMS e da China e enfrentou acusações de que não revelou potenciais conflitos de interesse.

Richard Ebright, professor de biologia química da Rutgers University, disse ao National Review no mês passado que as iniciativas deles ajudaram a criar a falsa impressão de que existe um consenso científico contra a possibilidade de uma origem por vazamento de laboratório. “Não existia tal consenso à época. Não existe tal consenso agora”, disse ele.

Esta última participação no debate, nas páginas de um jornal científico proeminente, mostra que as bases estão se afastando de uma narrativa vazia que tem sido muito difundida desde o início da pandemia.

©2021 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês
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PANDEMIA AFETOU AS EMPRESAS

 

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo

Segmento de viagens e turismo foi o mais afetado pela pandemia, aponta pesquisa da PwC| Foto: Skitterphoto/Pixabay

Sete em cada dez negócios no mundo foram impactados negativamente pela pandemia da Covid, aponta um estudo feito pela consultoria internacional PwC. No Brasil, o reflexo foi um pouco menor: 62% tiveram os negócios prejudicados. A pesquisa ouviu a percepção de mais de 2,8 mil executivos, de 29 setores e de 73 países – 135 dos entrevistados atuam no Brasil.

Um dos setores mais afetados foi o de viagens e hospitalidade, prejudicado pela forte exposição às políticas de distanciamento social e aos lockdowns.

A estimativa do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) é que, no ano passado, o setor tenha deixado de obter US$ 4,5 trilhões em receitas – o equivalente a três PIBs brasileiros. Cerca de 62 milhões de empregos, ou 18,5% do total, foram perdidos. O turismo doméstico encolheu 45% e o internacional, 69,2%, comparativamente a 2019.

No Brasil – onde, segundo o WTTC, as viagens e turismo responderam em 2019 por 10,3% do PIB e por um em cada dez empregos –, os serviços de alojamento e alimentação tiveram uma queda de 33,9% na sua receita, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O transporte terrestre encolheu 10,1% e o aéreo, 49,1%.

Outro segmento que teve fortes impactos negativos foi o de educação superior. A pesquisa da PwC aponta que 83% dos negócios foram impactados negativamente. “Eles foram afetados também pela política de distanciamento social, pela queda da confiança e pela queda na renda”, explica Adriano Vargas, sócio da consultoria.

A produção industrial e as montadoras de veículos completam o pódio dos impactados negativamente pela Covid. Oito em cada dez empresas foram afetadas.

No Brasil, a produção industrial caiu 4,5%, de acordo com o IBGE. Um dos segmentos mais afetados foi a indústria automobilística. Dados da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que em 2020 as montadoras produziram 1,6 milhão de unidades, patamar próximo ao de 2003.

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Os principais impactos
Os principais impactos na atividade econômica foram no modelo de operação das cadeias produtivas, na forma do trabalho e na saúde financeira das empresas.

Muitas cadeias acabaram sofrendo problemas de estruturação com a queda abrupta da produção e a aceleração da demanda, passados os piores momentos da crise. No Brasil, por exemplo, o preço das matérias primas aumentou 66,6% nos 12 meses encerrados em abril, aponta a Fundação Getulio Vargas (FGV).

A forma de trabalhar é um dos impactos mais evidentes das transformações registradas no último ano, aponta Vargas. “Houve uma migração, em muitos casos, da força de trabalho do ambiente presencial para o remoto. E, com isso, houve uma conjugação da vida profissional com a pessoal.”

Outro impacto relevante foi na saúde financeira e na liquidez das empresas. Receitas deixaram de entrar no caixa das empresas e, diante do aumento das incertezas, uma das estratégias adotadas, lembra o executivo, foi a suspensão e o adiamento dos investimentos.

A resposta das empresas
Segundo a pesquisa, 71% dos líderes no Brasil trabalharam com um plano de resposta a crises durante a pandemia, ante 62% dos entrevistados no mundo; e 88% dos brasileiros declararam ter reagido à crise levando em conta as necessidades físicas e emocionais dos empregados, ante 80% dos respondentes globais.

Por outro lado, apenas 54% dos líderes brasileiros modificaram a estratégia corporativa em resposta à crise, ante 77% dos entrevistados internacionais. Em um exercício de autocrítica, 98% dos líderes de negócios no Brasil afirmaram que seus recursos de gestão de crises precisam ser melhorados, índice pouco acima dos 95% observados globalmente.

A natureza da crise – inicialmente sanitária e que depois teve reflexos econômicos e políticos – acabou assustando muita gente. “Ela teve efeitos profundos sobre a estratégia das empresas”, diz Vargas.

Uma pesquisa feita pela consultoria em 2019 revelava que 95% dos executivos ouvidos pela PwC esperavam por uma crise em um horizonte de dois anos, mas uma pandemia não estava entre as principais ameaças identificadas.

E muita gente foi pega desprevenida. Só 35% das organizações tinham um plano bem estruturado de resposta à crise. “A maioria não se preparou. A pesquisa convida à reflexão e propõe que todos apostem na resiliência como forma de superar tempos difíceis”, diz Leonardo Lopes, sócio da PwC Brasil.

Lições de estratégia que ficam da pandemia
As organizações que hoje estão em melhor situação têm uma probabilidade significativamente maior de terem dado atenção substancial à resiliência organizacional e planejaram como responder a interrupções significativas de seus negócios.

Segundo a pesquisa, 92% das empresas que tinham um processo de revisão de suas ações em vigor antes da Covid-19 e que realizaram uma revisão formal de sua resposta à pandemia também planejam ter um processo em vigor para crises futuras. Sete em cada dez organizações estão planejando aumentar seus investimentos na construção de resiliência e, entre líderes de risco, esse número chega a nove em cada dez.

“A crise deflagrada pela pandemia mostrou que as empresas não precisam investir em uma ‘receita de bolo’, mas em formas efetivas de resiliência operacional. Isto passa por desenvolver, como alicerce, protocolos de gestão de crises; treinamento e conscientização das pessoas e a integração desses planos à estratégia das empresas”, conclui Vargas.
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS E CONTRIBUIÇÃO DOS PAÍSES

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