Médico sério defende o que Bolsonaro condena e condena o que ele defende. E Queiroga?
O novo ministro vai ter a altivez de Luiz Mandetta, Nelson Teich e Ludhmila Hajjar, ou vai replicar Pazuello e jogar a ciência para o alto?
Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo
A médica cardiologista Ludhmila Hajjar é o oposto do general da ativa Eduardo Pazuello e deixou a demissão dele do Ministério da Saúde ainda mais humilhante. Ela conhece profundamente a situação da pandemia e tem noção clara não só do que fazer, mas sobretudo do que não fazer. E ele? O homem errado, na hora errada, passando vexame. Mas a grande diferença entre os dois nem é essa. É que ela tem brios.
Ao ser chamada a Brasília pelo presidente Jair Bolsonaro, Hajjar já tinha estratégia, equipe e estava pronta para a guerra – diferentemente do general. “Mas foi só um sonho”, desabafou a doutora, depois do encontro com Bolsonaro. O mais surpreendente é que ela sabia exatamente o que o presidente pensa da pandemia, mas ele nem sabia com quem estava falando. Só aí soube que os dois são como azeite e água.
Bastava fazer uma busca na internet e ouvir umas poucas pessoas para Bolsonaro saber que Hajjar é contra cloroquina, despreza o tal “tratamento precoce”, segue a ciência, defende o isolamento social e as máscaras e é obcecada pelas vacinas – e pela vida. Ou seja: ela defende tudo o que ele condena e condena tudo o que ele defende. Por isso, é mais uma a virar alvo de ataques covardes da tropa bolsonarista.
Isso, aliás, combina à perfeição com a provocação que uma alta fonte do governo me fez na semana passada, quando ficou claro que Pazuello não duraria muito na Saúde: “Quem pôr no lugar? Desafio você a sugerir um médico respeitável, com credibilidade, que aceite assumir a Saúde numa hora dessas!”
Pura verdade. Qualquer médico sério pensa como Hajjar. Logo, Bolsonaro ficou entre um nome do Centrão ou um doutor pronto a seguir a máxima de Pazuello: “um manda, outro obedece”. Assim, o novo ministro, Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, está no foco. Vai ter a altivez de Luiz Mandetta, Nelson Teich e Ludhmila Hajjar, ou vai replicar Pazuello e jogar a ciência para o alto?
O País está em polvorosa, caminhando para 300 mil mortos, com governadores e prefeitos tontos, médicos e enfermeiros no limite, mas o que fez Bolsonaro mudar o ministro e o discurso não foi nada disso. Foi a entrada do ex-presidente Lula em cena. Era preciso um bode expiatório rápido. E um general da ativa é um bode expiatório e tanto.
Depois de fritado pelo presidente e três generais de Exército, inclusive o ministro da Defesa, Pazuello ainda divulgou que, ao contrário das versões palacianas, ele não estava doente, não tinha pedido demissão e não tinha sido demitido. E, ontem, disse que 15% dos grupos prioritários estarão vacinados em março e 88% em abril. Convém guardar esses números, porque uma das marcas do general é fazer previsões que não se confirmam, nem de datas, nem de doses, nem de contratos, nem de testes…
E ele se “esqueceu” de dizer que, se 10 milhões de brasileiros foram vacinados até agora, é graças ao governador João Doria (SP), ao Butantan, ao laboratório Sinovac e à Coronavac, atacada como “aquela vacina chinesa do Doria”, quando Bolsonaro bateu no peito, disse que ele é que mandava e cancelou a compra de 46 milhões de doses que Pazuello anunciara.
Se dependesse de Bolsonaro, os brasileiros nem estariam se vacinando até agora, quando estão morrendo sem direito a UTI, dignidade, humanidade. É por isso, aliás, que a gestão da pandemia no Brasil foi parar na Conselho de Direitos Humanos da ONU, sofre investigações do STF, do TCU e do Ministério Público e pode virar alvo do Congresso.
Caso a CPI seja instalada, não há gabinete do ódio, carreatas e fake news que possam apagar todas as monstruosidades de Bolsonaro a favor do vírus, contra a vida. A dúvida é como Queiroga vai lidar com isso. E com a realidade.
*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA
O ano é 1986. Steve Jobs conhece Paul Rand , o gênio responsável pela marca IBM, UPS e Westinghouse. Tendo acabado de ser expulso da Apple, Steve pede a Rand para criar um logotipo para sua nova empresa, Next Inc. Rand aceita o trabalho. Nos meses e anos seguintes, Jobs aprenderia com Rand, que atingiu a maioridade em uma era muito diferente da construção de empresas. Essas lições incluiriam como marcar uma startup, mas também o que um logotipo pode – e não pode – fazer por uma empresa. Nesta entrevista de 1993, Jobs fala sobre a experiência.
Jobs conta que não sabia muito sobre o próprio Rand, mas ficou impressionado com seu trabalho, especialmente com o logotipo Eye-Bee-M “extremamente poderoso e emocional” . Mas depois de ler alguns livros sobre sua criação, ele decidiu não abordar nenhum outro designer sobre a possibilidade de promover a marca da nova empresa – ele só queria Rand.
Ele sabia que o lendário designer modernista não trabalhava para startups, apenas com corporações bem estabelecidas, como IBM ou Ford. Jobs sabia que não era uma questão de dinheiro; ele poderia facilmente pagar o preço de $ 100.000 de Rand, quase um quarto de milhão em dólares de 2017. Tratava-se do primeiro princípio de design de Rand: “Um logotipo deriva significado da qualidade daquilo que simboliza, não o contrário.” Em outras palavras, Rand acreditava que um logotipo só poderia ser tão bom quanto a empresa que representa. É como o nome de uma banda – se os Rolling Stones fossem uma merda, todos nós estaríamos rindo de seu apelido estúpido. Mas desde que eles arrasaram, o nome e o símbolo da língua são lembrados como incríveis.
Rand fez essa variação de seu famoso logotipo listrado da IBM em 1981 como um gráfico para a campanha Think da empresa. Steve Jobs achou isso poderoso, emocional e simplesmente encantador. [Imagem: IBM]
No entanto, Rand aceitou, talvez devido ao chamado Campo de Distorção da Realidade de Steve – seu infame talento para convencê-lo de qualquer coisa que ele quisesse. “Ele disse que adoraria”, explica Jobs na entrevista. Depois de aceitar, Rand fez muitas visitas aos escritórios da Next, cheios de ex-funcionários da Apple que seguiram seu amado capitão (na verdade, eles se chamavam um bando de piratas na época) da divisão Macintosh da Apple para esta nova aventura.
Jobs diz que Rand logo entendeu sua situação. A Next não queria apenas um logotipo, como qualquer outra empresa. Ela queria um símbolo também, uma “espécie de joia”, como ele a chama – o que os designers chamam de logomarca . Steve conseguiu o que queria e, no processo, aprendeu algumas lições cruciais sobre a marca que influenciariam seu trabalho posterior.
Evitando o problema de “uma década e US $ 100 milhões”
O problema com as logomarcas é que é preciso muito dinheiro para associar uma logomarca. Qualquer empresa que quiser ter um símbolo, diz Jobs, terá de “gastar 10 anos e US $ 100 milhões” para fazer a associação entre o símbolo e o nome da empresa na mente do consumidor – como o swoosh da Nike.
Talvez a obsessão de Jobs e sua gangue em ter um símbolo forte tenha vindo de seu passado em Cupertino. A logomarca da Apple era um símbolo poderoso e inconfundível, algo que personificava seu trabalho e orgulho. Jobs diz que o símbolo da Apple representa o nome da própria empresa, então era fácil para o público fazer a conexão sem gastar muito dinheiro e tempo associando-os. Esse pensamento foi repetido pelo designer de marca registrada da Apple, Rob Janoff, que diz que Steve não deu a ele nenhum brief, exceto o próprio nome. Janoff projetou o contorno da Apple e acrescentou a escala – para que as pessoas não pudessem confundi-lo com uma cereja. (A noção de que veio da maçã suicida carregada de cianeto de Alan Turing é uma lenda.)
Rand – que Jobs descreve como um mesquinho com um intelecto brilhante e um coração de ouro – ouviu seu desejo coletivo e, como resultado, Jobs acreditou que Rand abordou o projeto “como um problema que precisava ser resolvido, não como um desafio artístico por si só. ” Ele encontrou a solução para este dilema ao incorporar o logotipo em um cubo preto que tinha um ângulo de 28 graus, cumprindo com sucesso sua segunda regra de design ao mesmo tempo: “O único mandato no design de logotipo é que eles sejam distintos, memoráveis, e claro.”
Rand entregou um livro de padrões de marca de 100 páginas em que desenvolveu a identidade da marca e criou um mito para ela (“Apresentação é a chave” era sua terceira regra de design). Ele mudou a grafia da empresa para NeXT, dando ao “e” minúsculo um novo significado: excelência, expertise, excepcional ou entusiasmo. Até a educação, seu mercado-alvo. Por acaso, como não havia hardware NeXT quando Rand o criou, o próprio símbolo se tornou uma representação da primeira estação de trabalho da NeXT, um cubo preto de magnésio que estreou dois anos depois por $ 6.500, ou $ 13.400 em 2017 dólares. (Abaixo, você pode ver Rand entregando os livros aos funcionários da Next – incluindo Jobs, que estava animado, embora já tivesse visto o logotipo.)
A lição? Grandes logotipos não são feitos da noite para o dia – e as marcas que contêm o nome de uma empresa, como NeXT ou ABC, ou que o representam totalmente de forma gráfica, como Apple, oferecem um atalho. Evite logomarcas, se puder. Caso contrário, esteja preparado para gastar uma década e US $ 100 milhões em marketing.
O designer está lá para resolver um problema, não sugerir “opções”
Depois de tantas décadas de trabalho, Rand desenvolveu “conclusões” muito claras sobre como o relacionamento entre o designer e o cliente deve ser conduzido. Jobs lembra:
Perguntei-lhe se ele apresentaria algumas opções e ele disse: “Não, vou resolver o seu problema para você e você vai me pagar. E você não precisa usar a solução! Se você quiser opções, vá falar com outras pessoas! Mas eu vou resolver o seu problema pra você da melhor maneira que eu sei, e você usa ou não, depende de você, você é o cliente. Mas você me paga.”
Jobs diz que o processo de Rand teve uma “clareza que foi revigorante”. É algo que todo empresário faria bem em lembrar: não peça opções. Você está contratando alguém que sabe como resolver esses problemas melhor do que você – assim como você contrataria um contador ou um especialista em marketing.
Marcas não fazem empresas
Graças a esse processo – e ao gênio de Rand – o logotipo da NeXT é de fato uma peça brilhante de design. Ele exemplifica todas as quatro regras de design de Rand – incluindo a última: “Simplicidade não é o objetivo. É o subproduto de uma boa ideia e de expectativas modestas. ”
Mas no final, a marca não fez a empresa. Para Jobs, a primeira regra de design de Rand – lembra dos Rolling Stones? – estava sendo dramática quando ele deu esta entrevista. Sua empresa estava na corda bamba, forçada a abandonar totalmente o negócio de hardware – um processo que seus biógrafos dizem ter destruído sua alma. E assim, o logotipo legal que Rand havia criado tornou-se sinônimo da queda de um fundador e do fracasso dos computadores superfaturados e de baixa potência que ele tentou vender para universidades em todo o mundo. Claro, a Apple comprou a NeXT e seu software se tornou o coração de todo Mac, iPhone, iPad e Apple Watch, mas a empresa falhou como tal.
O logotipo, arquivado no MoMA, era lindo e marcante. Mas, em última análise, inútil. Essa é talvez a terceira e mais importante lição desta entrevista: não espere que o design da sua marca torne sua empresa ou produto melhor. Não vai, então não fique obcecado com isso. Claro, é importante pensar seriamente nisso e fazer com que pareça certo . Mas se sua empresa falir, isso não importa. E se tiver sucesso, você pode usar seus bilhões de dólares para aperfeiçoá-lo até o último pixel .
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Corte de salário e jornada e suspensão de contratos deverão atingir 3 milhões
Governo prepara uma revisão no programa do seguro-desemprego para tentar obter recursos para o pagamento do agora batizado ‘Bolsa Emergencial’, que deve ter um custo entre R$ 5,8 bi e R$ 6,5 bi, segundo estima o Ministério da Economia
Felipe Frazão e Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – A nova rodada do programa que permite às empresas cortarem jornada e salário e suspender contratos de trabalho deve ter custo total entre R$ 5,8 bilhões e R$ 6,5 bilhões para o governo, responsável por pagar um benefício emergencial aos trabalhadores. A estimativa considera que 2,7 milhões a 3,0 milhões de acordos serão firmados entre patrões e empregados nas duas modalidades, segundo documento obtido pelo Estadão/Broadcast.
Os dados constam em nota técnica produzida pela Subsecretaria de Políticas Públicas de Trabalho do Ministério da Economia em 9 de março de 2021. Os técnicos ainda podem refinar os números, sobretudo se o quadro de agravamento da pandemia de covid-19 indicar maior demanda pelo programa.
No desenho original do novo programa, governo só pagaria as primeiras duas parcelas do benefício. Foto: Washington da Costa/ME
Um desenho inicial do BEm previa que o governo bancaria com recursos públicos os primeiros dois meses de benefício, e os outros dois seriam uma antecipação do seguro-desemprego. No entanto, o governo mudou a estratégia e decidiu bancar integralmente os benefícios de quem tiver jornada e salário reduzido ou contrato suspenso, sem interferir no seguro-desemprego desse trabalhador, que manterá o direito de forma integral caso seja demitido após o fim do acordo.
O dinheiro do BEm sairá todo do FAT, mas sem necessidade de aportes adicionais pelo Tesouro Nacional. Com o aumento substancial da dívida pública em 2020, a equipe econômica tem buscado soluções para combater a crise da covid-19 que dependam menos de recursos obtidos via emissão de dívida pública. A economia obtida com a reformulação do seguro-desemprego abrirá espaço dentro do fundo para essas despesas.
Cenários
Os técnicos traçaram três cenários para o pagamento do BEm, agora chamado de “Bolsa Emergencial”. No cenário-base, que na visão do governo é o que tem mais chances de ocorrer, haveria 1,16 milhão de acordos de suspensão de contrato e 1,69 milhão de acordos de redução de jornada e salário (total de 2,85 milhões). Considerando o gasto médio esperado com cada trabalhador, o custo do programa ficaria em R$ 6,14 bilhões.
Na redução de jornada e salário, os acordos podem ser firmados com cortes de 25%, 50% ou 70%, nos mesmos moldes da primeira rodada do programa em 2020.
No cenário conservador, menos contratos são alvo de acordo, 1,1 milhão em suspensão e 1,6 milhão em redução de jornada e salário. A despesa ficaria em R$ 5,82 bilhões. Já no cenário agressivo, haveria 1,2 milhões de suspensões de contrato e 1,8 milhões de acordos de redução de jornada e salário, com custo de R$ 6,46 bilhões.
As projeções levaram em conta as adesões ao BEm no período de setembro a dezembro de 2020. Os técnicos usaram esse período, e não o do pico de acordos logo no início do programa, porque consideram que houve uma acomodação no número de empresas que precisam do instrumento para seguir operando sem prejuízos e sem precisar demitir seus funcionários.
No início da pandemia, ainda sem grandes informações sobre o modo de dispersão da doença, muitos Estados decretaram o fechamento geral de atividades, inclusive industriais, o que gerou forte demanda pelos acordos. Hoje, muitos governadores já atuam sob protocolos preestabelecidos, segundo os quais as restrições são mais severas para os setores de comércio e serviços e mais brandas na indústria, onde há mais condições de se manter protocolos de distanciamento.
Por isso, o período de setembro a dezembro de 2020 é considerado uma amostra mais fiel ao que deve suceder agora, em 2021, com o relançamento do programa. O governo tem recebido informações de que o maior demandante do novo BEm será o setor de serviços.
Os cálculos também levaram em conta projeções de qual deve ser a duração dos acordos por faixa de renda. Na nota, essa metodologia é defendida sob o argumento de proporcionar estimativas “mais ajustadas”. No ano passado, o governo destinou R$ 51,55 bilhões ao programa, mas foram utilizados R$ 33,5 bilhões.
Maior parte do público vai receber cota mínima de R$ 150 do novo auxílio emergencial
Cerca de 20 milhões de famílias, de um total de 46 milhões, vão receber o menor valor do benefício; maior cota, de R$ 375, será paga para 9,3 milhões de mulheres que são as únicas provedoras do lar
Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – A maior parte do público do auxílio emergencial deve receber a menor cota do benefício, no valor de R$ 150, segundo apurou o Estadão/Broadcast. Serão cerca de 20 milhões de famílias – 43% do total de contemplados estimado na nova rodada – na categoria “unipessoal”, isto é, composta por apenas uma única pessoa.
Outras 16,7 milhões de famílias têm mais de um integrante e vão receber R$ 250. Já a maior cota, de R$ 375, deve ser paga a cerca de 9,3 milhões de mulheres que são as únicas provedoras de suas famílias. O pagamento das novas parcelas do auxílio está previsto para começar em abril.
Pelo novo desenho do auxílio, o governo vai pagar quatro parcelas de R$ 150 a R$ 375 a cerca de 46 milhões de brasileiros. Apenas uma pessoa por família poderá ser contemplada. As regras são mais apertadas do que em 2020, quando o auxílio pagou cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, com cotas em dobro para as mulheres chefes de família. Até duas pessoas na família podiam receber o repasse.
Arthur Lira (E) e Rodrigo Pacheco na sessão do Congresso Nacional de promulgação da PEC emergencial. Foto: Dida Sampaio/Estadão
O governo tem evitado detalhar publicamente a divisão dos novos benefícios antes da edição de medida provisória que recriará o programa de assistência a vulneráveis, pois já tem sido alvo de críticas do Congresso e de organizações da sociedade civil pela redução nos valores mensais.
Em 10 de março, o presidente Jair Bolsonaro reforçou que a “média” seria de R$ 250, sem citar os demais valores e grupos de beneficiários. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, Bolsonaro já havia recebido os números preliminares do auxílio no início de março e, na época, as estimativas apontavam cerca de 18 milhões de famílias de uma única pessoa na mira do governo, número que cresceu nos últimos dias.
Na reunião do início de março, o valor mínimo para esses beneficiários também era menor: R$ 125, ou metade da cota média de R$ 250.
O texto da medida provisória que recria o auxílio e estabelece seus critérios de concessão já havia sido revisado por órgãos jurídicos e de controle até o início da tarde de ontem, mas ainda faltava a revisão final do órgão responsável pela política, o Ministério da Cidadania.
Após a publicação, a MP tem vigência imediata, e o Congresso pode aprová-la em até 120 dias, inclusive com alterações. A estratégia da equipe econômica é evitar que isso aconteça, uma vez que o período de vigência do texto é suficiente para a operacionalização das quatro parcelas do benefício. Com isso, o governo evitaria que os parlamentares elevem o valor ou ampliem o alcance do auxílio – o que geraria a necessidade de mais recursos.
O governo também precisa editar uma MP com o crédito extraordinário, fora do teto de gastos, que libera os recursos para o pagamento do benefício. Como mostrou o Estadão/Broadcast, o governo decidiu bancar todo o valor com esse crédito, inclusive no caso de beneficiários do Bolsa Família. Na prática, o Orçamento do Bolsa Família terá uma economia de recursos, que no segundo semestre deve ser direcionada à reestruturação do programa permanente de assistência. O governo tem planos para elevar o valor médio do Bolsa Família, hoje em cerca de R$ 190.
Presidente do Senado vai discutir com Paulo Guedes aumento de preços do comércio
População não pode ficar refém de ‘oportunistas’ altas, como de alimentos e material de construção, disse Rodrigo Pacheco
Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA – Após apoiar a aprovação da PEC do auxílio, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), cobrou do ministro da Economia, Paulo Guedes, medidas concretas para os brasileiros não ficarem reféns de “oportunistas” altas de preços, como de alimentos e material de construção.
Pacheco vai se reunir com Guedes para discutir o avanço dos preços. Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, deverão ser convidados para uma videoconferência para falar sobre o assunto na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
Alta dos preços tem incomodado o mundo político e agora Guedes terá que dar explicações. Foto: Dida Sampaio/Estadão
A pressão do presidente do Senado ocorreu ontem, na véspera da reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC), que deve aprovar amanhã uma alta da taxa Selic, os juros básicos da economia, para enfrentar a aceleração da inflação no Brasil.
Após a sua eleição para a presidência do Senado, Pacheco também puxou a pressão pela aprovação do auxílio emergencial rapidamente. Mas também ajudou Guedes ao fechar um acordo para que o benefício fosse incluído numa PEC com medidas fiscais.
O presidente do Senado quer também que a CAE se reúna rapidamente para discutir o problema, inclusive a falta de insumos no mercado que ameaçam a produção e encarecem os preços dos produtos no País.
O presidente da CAE, senador Otto Alencar (PSD-BA), informou que vai discutir com Pacheco como fazer esse debate. Ao Estadão, Alencar informou que deve organizar a videoconferência, mas argumentou que o problema da alta de preços depende da política pública do Executivo e que está relacionado, sobretudo, à elevação do dólar ante o real. “Por que o dólar está subindo? Um dos componentes é a insegurança jurídica, as crises políticas recorrentes, a maioria delas gestadas dentro do Palácio do Planalto”, criticou o senador baiano.
O presidente da CAE chamou a atenção para o problema também de falta de reposição de peças de máquinas, que deve afetar a colheita agrícola e a produção nacional. Esse é outro ponto que deverá ser debatido com Guedes. “Estão com dificuldade para repor as peças para a colheita que será muito boa”, disse, reconhecendo a dificuldade de fazer uma audiência pública virtual.
A alta dos preços tem incomodado o mundo político e sido alvo de comentários dos parlamentares em sessões. Na semana passada, ao falar sobre o aumento de preços de insumos da construção civil, Pacheco comentou sobre a necessidade de providências “mais radicais” serem tomadas em relação a esses aumentos, especialmente de insumos na construção. Não deu detalhes.
China se beneficia com necessidade do Brasil por vacinas
Saída de Trump e aumento do número de mortes pelo coronavírus ressuscitam chances da Huawei no leilão da rede brasileira de 5G
Ernesto Londoño e Letícia Casado / The New York Times, O Estado de S.Paulo
RIO – A China estava na defensiva no Brasil. O governo de Donald Trump alertou aliados em todo o planeta para evitar a Huawei, a gigante chinesa das telecomunicações, denunciando a empresa como um perigoso braço do sistema chinês de vigilância.
O Brasil, pronto para constituir uma ambiciosa rede de internet sem fio 5G avaliada em bilhões de dólares, ficou abertamente do lado do presidente Trump, com um dos filhos do presidente brasileiro – Eduardo Bolsonaro, um influente congressista, por sua vez – comprometendo-se, em novembro, a criar um sistema seguro, “sem espionagem chinesa”.
Então a política da pandemia inverteu tudo.
Com as mortes causadas pela covid-19 atingindo os maiores índices já registrados, e uma perigosa nova variante de vírus espreitando o Brasil, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi a Pequim em fevereiro, encontrou-se com executivos da Huawei em seus escritórios e fez uma solicitação muito incomum para uma empresa de telecomunicações.
Funcionária chinesa manuseia embalagens da Coronavac em Pequim Foto: Tingshu Wang/Reuters
“Aproveitei a viagem para pedir vacinas, o que todo mundo está implorando”, afirmou o ministro, ao relatar sua reunião com a Huawei.
Duas semanas depois, o governo brasileiro anunciou as regras para o leilão de 5G, um dos maiores do mundo. A Huawei, que poucos meses antes parecia barrada pelo governo, estará autorizada a participar.
A reviravolta é um sinal de como a política na região foi sacudida pela pandemia, assim como pela saída de Trump da Casa Branca – e como a China começou a virar a maré.
A China gastou meses rebatendo ressentimentos e desconfianças por ter sido o lugar onde a pandemia começou, mas, nas semanas recentes, seus diplomatas, executivos de farmacêuticas e outros intermediadores poderosos têm recebido numerosas solicitações de autoridades desesperadas na América Latina, onde a pandemia está causando um dano devastador, crescente dia a dia.
A capacidade da China de produzir vacinas em massa e enviá-las aos países em desenvolvimento – enquanto países ricos, incluindo os Estados Unidos, estão acumulando muitos milhões de doses para si mesmos – ofereceu aos chineses uma abertura diplomática e de relações públicas que Pequim prontamente aproveitou.
De repente, o governo chinês encontra-se exercendo uma enorme e renovada influência na América Latina, região onde a China possui uma vasta gama de investimentos e ambições para expandir comércio, parcerias militares e laços culturais.
No ano passado, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, um líder de direita que se aliou a Trump, desacreditou a vacina chinesa durante os testes clínicos no Brasil, e impediu um esforço do Ministério da Saúde de encomendar 45 milhões de doses.
“O povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM”, escreveu ele no Twitter.https://platform.twitter.com/embed/Tweet.html?dnt=false&embedId=twitter-widget-0&frame=false&hideCard=false&hideThread=false&id=1318909799505985537&lang=pt&origin=https%3A%2F%2Finternacional.estadao.com.br%2Fnoticias%2Fgeral%2Cchina-se-beneficia-com-necessidade-do-brasil-por-vacinas%2C70003649115&siteScreenName=Estadao&theme=light&widgetsVersion=e1ffbdb%3A1614796141937&width=550px
Mas, com Trump fora do jogo e os hospitais brasileiros sobrecarregados com a alta nas infecções, o governo de Bolsonaro se mexeu para restabelecer as pontes com os chineses e pediu a eles que apressem o envio de dezenas de milhares de carregamentos de vacinas, assim como de insumos para a produção em massa do imunizante no Brasil.
O impacto preciso da solicitação de vacinas à Huawei e da inclusão da empresa no leilão de 5G é incerto, mas sua cronologia é marcante, parte de uma mudança drástica na posição do Brasil em relação à China. O presidente, seu filho e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pararam subitamente de criticar a China, enquanto autoridades do governo federal com caminhos abertos entre os chineses, como Faria, trabalharam ferozmente pela aprovação de novos envios de vacinas. Milhões de doses chegaram nas semanas recentes.
“O desespero na América Latina em relação às vacinas cria uma posição perfeita para os chineses”, afirmou Evan Ellis, professor de assuntos latino-americanos do Colégio de Guerra do Exército dos Estados Unidos e especialista nas relações da região com a China.
Antes das primeiras vacinas saírem das fábricas, a Huawei parecia estar perdendo a competição do 5G no Brasil, jogada para escanteio pela campanha do governo Trump contra a empresa. O maior país da América Latina estava a poucos meses de fazer o leilão para a criação de sua rede de 5G, uma abrangente atualização que tornará as conexões sem fio mais rápidas e acessíveis.
A Huawei – juntamente com duas concorrentes europeias, Nokia e Ericsson – ambiciona um papel de protagonista na parceria com as empresas de telecomunicações locais para a construção da infraestrutura. Mas a empresa chinesa precisava da luz verde das autoridades reguladoras brasileiras para participar do mercado.
Keith Krach, subsecretário para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do Departamento de Estado dos EUA Foto: Adriano Machado/ Reuters
O governo Trump se mobilizou agressivamente para impedi-la. Durante uma visita ao Brasil, em novembro, Keith Krach, então a principal autoridade do Departamento de Estado para política econômica, qualificou a Huawei como pária da indústria que tinha de ser banida das redes de 5G.
“Não podemos confiar ao Partido Comunista Chinês nossas mais sensíveis informações e propriedades intelectuais”, afirmou ele em um discurso, dia 11 de novembro, no qual ele se referiu à Huawei como “o alicerce do estado de vigilância do PCC”.
Krach argumentou que “países livres” precisavam concordar em formar uma coalizão por uma “rede limpa”, que excluísse a Huawei, porque “nossa corrente de segurança é tão forte quanto seu elo mais fraco”.
Semanas após a visita, o Brasil parecia embarcado nos esforços de Washington de banir a Huawei. Em um comunicado emitido após a reunião com Krach, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro afirmou que o Brasil “apoia os princípios contidos da proposta ‘Clean Network’ (Rede Limpa) feita pelos Estados Unidos”.
Eduardo Bolsonaro, filho do presidente que liderava a Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, afirmou em um tuíte que o Brasil apoiaria o esforço de Washington.
Oportunidade de mudar
A China já tinha sido desprezada em alguns rincões da América Latina no início da pandemia, enquanto preocupações com a possibilidade de o país oriental ter sido descuidado por deixar o vírus ultrapassar suas fronteiras criavam raízes. A reputação de Pequim tomou um golpe adicional no Peru, após a China ter exportado testes de covid baratos e não confiáveis, que se tornaram um erro precoce nos esforços do país latino-americano de controlar o contágio.
Mas a China encontrou uma oportunidade de mudar essa narrativa no início do ano, quando sua CoronaVac se tornou a vacina mais barata e acessível para os países em desenvolvimento.
Com a pandemia sob controle na China, a Sinovac, fabricante da CoronaVac, começou a enviar milhões de doses para o exterior, oferecendo amostras grátis a 53 países e exportando para 22 países que fizeram encomendas.
No fim de fevereiro, quando as primeiras doses da vacina chinesa eram aplicadas no Brasil, a agência reguladora das telecomunicações do país anunciou as regras para o leilão de 5G, marcado para ocorrer em julho, que não excluem a Huawei.
Huawei diz nunca ter registrado um problema de violação de dados nos países em que atua. Foto: Tingshu Wang/Reuters
A mudança de posição do Brasil reflete como a campanha contra a Huawei liderada por Trump perdeu força desde que ele foi derrotado na eleição de novembro. O Reino Unido afirmou que não banirá equipamentos fabricados pela Huawei de sua nova rede de 5G de alta velocidade. A Alemanha sinalizou uma abordagem similar à dos britânicos.
Thiago de Aragão, analista de risco político com base em Brasília que estuda as relações da China na América Latina, afirmou que dois fatores pouparam a Huawei de uma derrota humilhante no Brasil. A eleição do presidente Biden, que criticou duramente o comportamento do Brasil na área ambiental, diminuiu o entusiasmo do governo brasileiro em relação ao alinhamento com Washington, afirmou ele, e a habilidade da China de viabilizar ou impedir a primeira fase do esforço de vacinação no Brasil, que tornou insustentável a perspectiva de o País enfurecer os chineses por banir a Huawei.
“Eles estavam diante da ruína certa em outubro e novembro e agora estão de volta ao jogo”, afirmou Aragão a respeito da Huawei.
Em uma entrevista, Faria afirmou que não houve nenhum toma-lá-dá-cá em seu pedido de ajuda à Huawei em relação às vacinas. Na verdade, afirmou, ele também pediu para executivos de empresas de telecomunicações da Europa ajudarem o Brasil a obter doses de imunizantes.
“Não foi colocada na mesa a condição de trocar as vacinas pelo 5G”, afirmou ele, qualificando o pedido de ajuda em relação aos imunizantes como apropriado.
Em 11 de fevereiro, Faria postou uma carta do embaixador da China no Brasil, na qual o chinês mencionou o pedido e escreveu que dá “grande importância a esse assunto”.
Em um comunicado, a Huawei não informou se vai fornecer vacinas diretamente, mas afirmou que a empresa poderia ajudar com a “comunicação aberta e transparente em algum tópico que envolva os dois governos”.
Bom andamento da vacinação contra covid no Chile ajudou a elevar as projeções do PIB do país Foto: Esteban Felix/AP
A China é também o principal fornecedor de vacinas ao Chile, que organizou a mais agressiva campanha de inoculação da América Latina, e está mandando milhões de doses a México, Peru, Colômbia, Equador e Bolívia.
Como um sinal de que a influência da China é crescente, o Paraguai, onde os casos de covid-19 estão aumentando, tem enfrentado dificuldades para obter acesso às vacinas chinesas, porque é um dos poucos países no mundo que mantêm relações diplomáticas com Taiwan, que a China considera parte de seu território.
Em uma entrevista, o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Euclides Acevedo, afirmou que seu país está buscando negociar acesso à CoronaVac por intermédio de outros países. Posteriormente, ele fez uma extraordinária proposta para a China, que há anos tenta convencer os poucos países que ainda reconhecem Taiwan a mudar suas alianças.
“Esperamos que a relação não se limite a vacinas, mas tome outra dimensão nas esferas econômica e cultural”, afirmou ele. “Devemos estar abertos a todos os países na busca por cooperação, e, para tanto, devemos de ter uma visão pragmática.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL