domingo, 14 de março de 2021

OS AMIGOS SE BENEFICIAM DAS BENESSES DO GOVERNO

 

Para os amigos, tudo

Minas está envergonhada e é preciso esclarecer se o modus operandi que frauda a verdade se estende a outras obrigações públicas

 Vittorio Medioli – Jornal o Tempo

Nunca como agora o covid bateu tão  forte no Brasil. Mostra que entre tantas disputas políticas, midiáticas, oportunistas, desarrazoadas  faltou a necessária maturidade para unir as forças de todos, preparar a população para um enfrentamento que seria duro e cruel numa guerra declarada por um inimigo invisível que mata, desemprega e leva a miséria e a ruína.

Os debates em volta da pandemia ocorreram de forma mais contaminante que o próprio covid. Desinformação, foco no desgaste de rivais, idiotas torcendo para o pior que se refletiria em ganhos pessoais. Como diz o ditado, “já que não consigo crescer em mérito, melhor ceifar os inimigos”. Rasteiros, impostores.

 Contaminação cerebral da massa que depende de orientação e amparo, no lugar de conceder-lhe um esclarecimento e estímulo para união.

Medidas enfiadas goela abaixo, taxando de não essenciais atividades que empregam e mantêm milhões de famílias. Não essenciais para quem? Para salvar um se matam dezenas?

Não há como suportar nesse momento, depois de alguns trilhões gastos para ficar parados, como compensar as atividades paralisadas. Esse é caminho que se trilha até a falência.

 O Congresso levantou os patamares de valores das ajudas emergenciais em 2020, prevista para R$ 300, até o limite de R$ 600, sabendo-se que isso seria insuportável para os cofres públicos, sem outras medidas compensatórias, como poderia ser a diminuição de despesa do legislativo e entes que nadam na fartura.

O Brasil parece conduzido por idiotas se digladiando, sem questionar e perder prerrogativas e privilégios. Assiste-se ao combate ideologizado, com persistente presença de despreparados para tomar decisões.

O caso do secretário de saúde do estado de Minas Gerais, que na surdina aplicou para si e 827 assessores de primeiro escalão a vacina, isso “para dar o exemplo” que manteve escondido, até a casa cair.

Um “exemplo” sigiloso, como seria um existente inexistente, um metal espiritual, líquido que não molha.  Entretanto, reflete a qualidade de pessoas escolhidas para tratar de assuntos sérios, em momento de criticidade extrema. Uma figura sem conhecimento de saúde pública, de relações institucionais e, como mostrou, de ética. Se ele era incompetente, e de longe se via isso, pelos pronunciamentos sem conteúdo, disseminador de incertezas, descumpridor de obrigações.

A maior “qualidade” dele, aparentemente foi economizar através de cortes de repasses ao município dos recursos constitucionalmente e contratualmente devidos. Ultimamente fora de sintonia com a escalada do covid, negando abertura de novos leitos que agora fazem falta fatal. Montou um hospital de campanha na Gameleira que serviu para tirar fotos e jogar fora uma fortuna até ser desmontada sem receber um único paciente.  Refratário aos apelos e a realidade. Uma presença ausente, uma faca que não corta, um balde furado.

Saiu sem pedir desculpa, achando que fez correto, e quase arrastando para a cova um inteiro governo razoavelmente bem avaliado.

Os planos de vacinação e os critérios de distribuição nunca foram claros em Minas, e não poderiam com alguém que foi o primeiro a desrespeitá-los.

O Estado passou vergonha, e ainda ganhou uma CPI pelo atraso em despedir o secretário vacinado. Este episódio mostra que nem tudo pode ser novo, tem que ter experiência, conhecimento e capacidade de enfrentamento de realidades complexas. Para o governador ter recusado a vacina não é suficiente para deixá-lo ao reparo de crítica pela permanência do secretário depois da proposta, ou, ao menos, de medidas que contivessem o que consumou.

Minas teve um desempenho razoável na pandemia em comparação a outros estados, se deve mais às situações morfológicas, de distribuição demográfica e costumes de sua população, mais que as confusões do ex-secretário. Boas atuações de prefeitos que vivendo próximos da população captaram mais corretamente as necessidades para prevenir e organizar.  

A salvação nessa altura seria vacinar em massa, mas nem isso a secretaria de saúde do Estado se preocupou com seriedade, ficando sentada e vacinada em seu castelo de marfim que ruiu pela sua trágica incompetência.

O desabafo de indignação do presidente da Assembleia, deputado Agostinho Patrus contra o secretário de saúde é um episódio único, até então desconhecido na história do legislativo e do próprio Estado. Uma erupção, até tardia, contra o tratamento sórdido dado aos municípios lesados pelos não repasses de recursos, distribuídos como vacinas, tudo para os amigos.   

Esse episódio mancha o governo do Estado, e muitos dos que neles se encontram.  

LULA CONTINUA COM A MESMA FICHA SUJA

 

A mesma ficha

A extravagante decisão do ministro Fachin não inocentou Lula de coisa nenhuma

J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

Estado de S. Paulo num editorial recente, resume com notável exatidão tudo o que é realmente preciso dizer sobre o golpe judicial que anulou, de uma vez só, as quatro ações penais envolvendo o ex-presidente Lula, inclusive a sua condenação em três instâncias pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro: “A ficha moral de Lula é suja”. O STF pode até zerar o prontuário criminal que proíbe a candidatura de Lula à Presidência da República. Mas “para todos os efeitos – morais e políticos”, diz o Estadão, o chefe do PT “terá seu nome indelevelmente vinculado a múltiplos escândalos de corrupção, que nenhuma chicana será capaz de apagar”. Como achar outra coisa? Não há como.

De fato, a extravagante decisão do ministro Edson Fachin, algo jamais registrado nos 130 anos de história republicana do STF, não inocentou Lula de coisa nenhuma; ele diz, é claro, que reconheceram a sua “inocência”, mas isso é só mais uma bobagem sem nenhum contato com a realidade. Tudo o que Fachin disse, numa descoberta que levou cinco anos para fazer, é que Lula não deveria ter sido julgado em Curitiba e sim em Brasília. O que interessa, segundo o ministro, não é se houve crime, mas onde o crime foi praticado – se foi aqui vale, se foi ali não vale. “É como se o juiz resolvesse marcar no final do segundo tempo um pênalti supostamente cometido no primeiro”, diz o editorial.

Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em discurso nesta quarta-feira. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

O STF pode decidir o que quiser – pode declarar que Lula é o presidente vitalício do Brasil, ou mandar a Polícia Federal prender o triângulo escaleno. Mas nada vai apagar o fato de que Lula comandou o governo mais corrupto que o Brasil já teve desde 1500. Foi o governo em que reinou o empreiteiro Marcelo Odebrecht, réu confesso de crimes que o tornaram um dos maiores corruptores do planeta. Foi o governo do ex-ministro Antonio Palocci, que, além de confessar tudo, delatou até os Doze Apóstolos. Foi o governo em que brilhou o ex-governador e aliado íntimo Sérgio Cabral, condenado a mais de 300 anos de cadeia por ladroagem – e por aí vamos. 

Lula diz, o tempo todo, que é uma “vítima pessoal” de Sérgio Moro. É um disparate. Ele foi julgado e condenado por nove juízes independentes uns dos outros, em três instâncias diferentes, num processo que não tem mais para onde ir. Todos disseram que as provas dos crimes são suficientes; não há mais o que provar. A ficha continua suja.

Os cidadãos de São Paulo estão proibidos de praticar seus cultos religiosos. As crianças não podem ir à escola. É proibido estar na rua depois das oito horas da noite. É obrigatório trabalhar em casa, com um computador, para quem exerce a sua profissão em escritórios. É proibido andar num parque público e ir à praia. É obrigatório alimentar-se por sistemas de entrega a domicílio, ou retirar sua comida à porta de quem a serve – e isso só durante o dia, porque à noite não pode nada. É proibido entrar numa loja para comprar um fio elétrico, uma panela ou uma peça de roupa – e por aí vai, até onde o Estado consegue proibir e obrigar. As autoridades fracassaram no combate à pandemia: depois de tudo o que fizeram durante um ano inteiro, nunca houve tantas infecções e mortes como agora. 

Sua resposta está sendo o mais devastador ataque aos direitos individuais, às liberdades públicas e ao império da lei que o Brasil já conheceu em toda a sua história – incluindo os piores períodos de ditadura explícita. Com a aprovação e a cumplicidade integrais do sistema judiciário, os comitês de médicos-burocratas que hoje governam o País em nome das autoridades legais só têm estímulo para agredirem cada vez mais a democracia.

*JORNALISTA

BOLSONARO VIRA AGORA CAPITÃO GOTINHA

 

Bolsonaro, agora ‘Capitão Gotinha’, muda a retórica, assume as vacinas e vai abrir as torneiras

O Brasil vai assistir a uma guerra do populismo de esquerda contra o populismo de direita, com Lula ressentido e disposto a tudo e Bolsonaro cada vez mais sem escrúpulos, massacrando os fatos

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

À deriva, à mercê do coronavírus e exportando novas cepas para o mundo, o Brasil vai assistir – e sofrer – uma guerra do populismo de esquerda contra o populismo de direita, com o camarada Lula ressentido e disposto a tudo e o capitão Jair Bolsonaro cada vez mais sem escrúpulos, massacrando os fatos. Acaba de surgir o “Capitão Gotinha”, o maior defensor da vacina no planeta. Acredita quem quer. E o pior é que tantos acreditam em qualquer coisa.

Os dois lados estão armados até os dentes e só nos resta torcer para que a imagem de retórica não vire realidade na era de um presidente com delírios autoritários e fetiche por armas. Depois de papai Jair combater incansavelmente as vacinas, a família presidencial assume um slogan oposto: “Nossa arma agora é vacina”. Mas deixaram rastro, fantasiando o doce Zé Gotinha de miliciano, com um fuzil em forma de seringa. Argh!https://platform.twitter.com/embed/Tweet.html?dnt=false&embedId=twitter-widget-0&frame=false&hideCard=false&hideThread=false&id=1370485501145284609&lang=pt&origin=https%3A%2F%2Fpolitica.estadao.com.br%2Fnoticias%2Fgeral%2Cbolsonaro-agora-capitao-gotinha-muda-a-retorica-assume-as-vacinas-e-vai-abrir-as-torneiras%2C70003646955&siteScreenName=Estadao&theme=light&widgetsVersion=e1ffbdb%3A1614796141937&width=550px

E a deputada Carla Zambelli (PSL-SP)? Ao assumir a emblemática Comissão de Meio Ambiente da Câmara, a bolsonarista posou para o Estadão com cara de brava e… uma pistola 380. Não, não é contra desmatadores, traficantes, invasores de terras indígenas e criminosos em geral. Seus alvos são as ONGs!

Tudo isso num ambiente contaminado pelos recados velados e ameaças explícitas de Bolsonaro após a entrada de Lula no campo de batalha. Nervoso, o presidente deu um salto triplo carpado a favor das vacinas e atacou, além de Lula, governadores inimigos, como João Doria (SP), e amigos, com Ibaneis Rocha (DF). E acenou com insurreição, saques em supermercados… Eu, hein?! É convocação? Guerra civil?

Lula calibrou milimetricamente o confronto com Bolsonaro e a bandeira branca para o resto, enquanto Bolsonaro perdeu as estribeiras. Mas, afora táticas e estratégias, a polarização vai mostrar o quanto os extremos se aproximam, se parecem e se alimentam mutuamente, inclusive com métodos semelhantes de destruição de adversários, tratados como inimigos, e causas surpreendentemente comuns, camufladas pela ideologia.

JAIR BOLSONARO
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia para sanção dos projetos de lei que ampliam a aquisição de vacinas Foto: MARCELO CAMARGO/AG. BRASIL

PT e Bolsonaro, unha e carne no cerco a Sérgio Moro e à Lava Jato, trabalharam pelo mesmo candidato à presidência do Senado e estavam muito mais próximos na disputa na Câmara do que parecia à luz do dia. Agora, esquartejam a Lei das Improbidades – não para proteger os probos. Na campanha, sítio, triplex, rachadinhas e mansões milionárias farão a festa em palanques e na internet. Pior para Lula, que carrega os fardos do mensalão e do petrolão.

Na economia, PT e bolsonarismo caminham de mãos dadas no “nacionalismo” anacrônico, estatizante e corporativista. As corporações petistas estão na educação, cultura, ambientalismo, sindicatos. As bolsonaristas são mais “hard”: militares, policiais, reinos universais, quartéis e cultos. (Lula, lembre-se, jamais teve arroubos contra a democracia, ao contrário de seu oponente, com esse exército.)

Os dois lados douram a pílula para atrair o capital, mas gostam mesmo da boa e velha mão pesada em Petrobrás, BNDES, BB, Caixa, Eletrobrás e Correios. Nada como manipular preços politicamente, alardear a “função social” das estatais e ter o Centrão a bordo. Mas, quando entra o “social”, a balança pesa a favor de Lula. Além de correr desesperado atrás de vacinas, Bolsonaro será obrigado a mudar a retórica, acampar no Nordeste e abrir as torneiras.

Se o centro é uma incógnita, o Centrão (ou direitão) é fácil. Quem está com Bolsonaro e já esteve com Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer irá para onde os ventos soprarem. Como define um expert em Centrão, eles são garçons diligentes e cuidam bem da louça suja, não estão nem aí se o menu é comida chinesa ou pizza napolitana. Querem boa remuneração e nacos de poder, que Lula, Bolsonaro e centro dão de bandeja. Quem dá mais?

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

VACINAÇÃO COMEÇA A FAZER EFEITO POSITIVO EM IDOSOS

 

Internações de idosos com 90 anos ou mais caem 20% após início da vacinação

Queda ocorre na contramão do aumento de hospitalizações pela covid no País; faixa etária de 30 a 39 anos teve alta de 50%. Especialistas afirmam que ainda é cedo para atribuir mudança só à imunização, mas reconhecem que podem ser os primeiros resultados da campanha

Fabiana Cambricoli, O Estado de S.Paulo

O número de novas internações de idosos com 90 anos ou mais por covid caiu 20% após pouco mais de um mês do início da campanha de vacinação, o que contrasta com a alta de 10% no número geral de hospitalizações pela doença observada no mesmo período no País. Na faixa etária dos 30 aos 39 anos, o aumento foi de 50%. Os dados indicam que a imunização dos grupos mais vulneráveis, iniciada em 18 de janeiro, pode já estar causando impacto positivo na evolução da pandemia nessa população e reforçam a necessidade de aceleração da campanha.

Os índices foram calculados pelo Estadão com base nos dados do Sivep-Gripe, sistema do Ministério da Saúde que traz os dados sobre internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). Selecionando só os registros com confirmação para covid por faixa etária, a reportagem verificou que o número de novas hospitalizações de pessoas com 90 anos ou mais caiu de 528 na última semana epidemiológica (SE) de janeiro – primeira após o início da campanha – para 425 na última SE de fevereiro, quando o programa de imunização completava cinco semanas.

Se considerado todo o grupo de idosos, ou seja, brasileiros com 60 anos ou mais, também houve uma queda nas internações, ainda que tímida: 2,7% (de 9.327 para 9.073 casos entre as semanas analisadas). Já o número de novas internações por covid em todas as faixas etárias subiu de 16.699 para 18.347 (alta de 10%). Entre a população de 30 a 39 anos, na qual foi registrado o maior aumento porcentual (50%), as novas internações passaram de 1.292 para 1.767 no intervalo analisado.

Vacina
Proteção. Cerca de 43,4 mil idosos tomaram 1ª dose da vacina em janeiro; reclusão dos mais velhos em casa também pode explicar redução de internações Foto: Taba Benedicto/Estadão

A análise foi feita até a última semana epidemiológica de fevereiro (SE 8) porque a notificação dos casos no sistema federal costuma demorar dias ou semanas, o que faz os dados mais recentes, de março, estarem incompletos ou defasados. Por essa razão, o Estadão também decidiu não analisar os dados de óbitos por faixa etária, pois como a morte costuma ocorrer semanas após a infecção, os dados do final de fevereiro provavelmente seriam referentes a infecções prévias à vacina.

A campanha de imunização no País teve início em 18 de janeiro com a vacinação de profissionais de saúde, indígenas e idosos que vivem em instituições de longa permanência. No começo de fevereiro, a maioria dos Estados ampliou a campanha para qualquer idoso a partir de 90 anos.

Especialistas dizem que ainda é cedo para atribuir a redução somente à vacinação, principalmente pelo fato de as vacinas precisarem de três a seis semanas, dependendo do imunizante, para conferir proteção. Mas admitem que os primeiros resultados da campanha podem já estar aparecendo. “Uma diminuição de 20% nas hospitalizações já é um número que nos anima, em especial em um grupo que a gente sabe ser muito vulnerável. Esse dado, ainda que preliminar, confirma estudos de efetividade feitos em países com vacinação mais acelerada e que viram quedas nas mortes e hospitalizações. São resultados da vida real que mostram que a vacina funciona”, diz Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Ele se refere a análises feitas na Europa com os resultados de efetividade da aplicação em massa dos imunizantes da Pfizer/BioNTech e Oxford/AstraZeneca, esta última disponível em Brasil. Cunha explica que, embora ainda não tenhamos estudos do tipo para a Coronavac, é comum que imunizantes com mais de uma dose já comecem a provocar alguma resposta imune mesmo antes de concluído o esquema vacinal. “Em todas as vacinas que têm esquema de mais de uma dose, a imunidade vai num crescente a partir da primeira e chega ao índice máximo, aquele visto no estudo clínico, depois da conclusão de todas as doses.”

Segundo estudos, a vacina Covishield, desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca, tem eficácia de 76% após três semanas da aplicação da primeira dose. Já a Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, alcança a eficácia ideal duas semanas após a segunda dose (o tempo total entre a primeira dose e a proteção varia de 5 a 6 semanas, dependendo do intervalo entre as duas doses). Isso não quer dizer, como explicou Cunha, que antes disso não haja nenhuma proteção, mas esses dados ainda não estão disponíveis.

Pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Leonardo Bastos pondera que, embora os dados possam já demonstrar uma tendência de queda nas hospitalizações de indivíduos dos grupos vacinados, o comportamento dos mais jovens também pode explicar por que as hospitalizações caem entre idosos e sobem em outras faixas etárias. “Os idosos ainda parecem estar mais reclusos do que os mais jovens, que estão se expondo mais ao risco. Há também as novas variantes, cujo papel ainda não sabemos. Pode já ter um efeito da vacina (na queda das hospitalizações entre idosos), mas acredito que ele seja pequeno”, opina o especialista.

Para Juarez Cunha, a aceleração da vacinação é imprescindível não só para salvar vidas, mas também para reduzir a pressão sobre o sistema de saúde em momentos críticos como o atual. “Mesmo que seja uma redução de 10% de internações de idosos, já alivia a demanda”, diz.https://arte.estadao.com.br/uva/?id=zM61Oy

Vacinados

De acordo com análise feita pelo Estadão a partir dos microdados de vacinação do Ministério da Saúde existentes no portal de dados abertos Brasil.io, cerca de 43,4 mil idosos com 90 anos ou mais (institucionalizados ou não) tomaram a primeira dose da vacina ainda em janeiro, o que poderia já significar algum nível de proteção no fim de fevereiro. Desse total, 23,5 mil receberam a Coronavac e outros 19,9 mil, a Covishield. Até a última quinta-feira, dia 10, 583 mil idosos dessa faixa etária haviam sido vacinados, dos quais 262 mil já receberam também a segunda dose.

CAMPANHA À PRESIDENCIA DA REPÚBLICA JÁ COMEÇOU

 

Entrada de Lula projeta eleição menos pulverizada

Possibilidade de petista concorrer novamente à Presidência alterou projeções e acelerou articulações partidárias para definição de nomes alternativos à polarização

Pedro Venceslau, O Estado de S.Paulo

O restabelecimento dos direitos políticos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva impactou as estratégias e alterou a projeção que líderes políticos envolvidos com a sucessão presidencial vinham fazendo do cenário de 2022. De imediato, além de acelerar o processo de articulação de futuras candidaturas, a entrada de Lula no jogo eleitoral estreitou o espaço para candidatos. Por dois motivos: por um lado porque o ex-presidente cria uma expectativa de aliança na esquerda e por outro porque fica mais restrita a viabilidade de candidaturas que queiram se oferecer como alternativa à polarização.

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Ciro Gomes, Luciano Huck, João Doria e Sérgio Moro Foto: ABA BENEDICTO, FELIPE RAU, NILTON FUKUDA/ESTADÃO E MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

Doria já admite disputar reeleição em São Paulo, em vez de campanha ao Planalto

No contexto atual, há três nomes que se apresentam no chamado “centro expandido” da política nacional: Ciro Gomes (PDT), Luciano Huck e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Como mostrou o Estadão, em meio à novidade Lula, Doria admitiu pela primeira vez que pode deixar de lado o projeto presidencial e optar por disputar a reeleição no ano que vem.

A raia mais estreita da corrida eleitoral afeta também as articulações de Huck e Ciro. O ex-ministro e presidenciável do PDT terá agora de partir para negociações mais efetivas no campo do centro, já que a esquerda passa a gravitar na órbita de Lula. No caso do empresário e apresentador da TV Globo, as tratativas com o PSB ficam mais incertas e um dos pilares de sua retórica – o combate à desigualdade social – passa a ter forte concorrência.

“A entrada de Lula acelerou o processo sucessório e também acelerou para o Huck. A pressão agora não é mais só profissional”, disse o ex-deputado Roberto Freire, presidente do Cidadania. “Lula força uma discussão mais profunda sobre a criação de um polo alternativo.”

Freire tem conversado com Ciro e dirigentes do PDT não descartam que o Cidadania se alie ao ex-ministro caso Huck decida não concorrer.

Huck deverá, até meados do ano, tomar a decisão de renovar ou não o contrato com a Globo, indicando sua disposição de manter ou não o projeto eleitoral para 2022. Ele voltou a conversar com o DEM e abriu diálogo com emedebistas – a senadora Simone Tebet (MDB-MS) jantou recentemente na casa do apresentador. Seu grupo político, porém, agora tem dúvidas se o PSB vai caminhar para um convite formal e público a Huck.

A interlocução entre Huck e os pessebistas tem sido feita pelo prefeito do Recife, João Campos. A avaliação é que o rumo do partido em 2022 será ditado justamente pelo arranjo que melhor favorecer os interesses eleitorais da ala dominante do PSB, concentrada em Pernambuco – onde Lula é forte catalisador de votos (mais informações na página ao lado).

“Já estamos conversando com o centro. O Ciro tem aprofundado o diálogo com o PSD, DEM, PV e Rede”, afirmou o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, para quem Huck “perde base popular” com a volta de Lula. Ciro tem, prioritariamente, investido na construção de uma ponte mais sólida na ala nordestina do DEM – um dos seus interlocutores mais frequentes é o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, presidente nacional do partido.

Caso mantenha os direitos políticos até a eleição do ano que vem, Lula também impacta o projeto do PSOL. O apoio ao petista ainda sofre resistências internas, especialmente dos líderes da legenda que foram expulsos do PT, mas o debate ganha volume na sigla. O presidente nacional do PSOLJuliano Medeiros, disse ao Estadão que “a presença de Lula no debate público reforça a luta da oposição contra Bolsonaro”. “Queremos criar um espaço formal para discutir a unidade com os partidos.”

Moro

Analistas e líderes partidários ainda avaliam, e também divergem, a respeito do impacto que o fato da última semana tem sobre o ex-ministro Sérgio Moro. Apesar da decisão do ministro Edson Fachin de anular as condenações de Lula na Lava Jato em Curitiba, a Segunda Turma da Corte manteve o julgamento que analisa a suspeição do ex-juiz titular da operação.

Recolhido desde que deixou o governo federal, Moro se tornou sócio-diretor da consultoria americana Alvarez & Marsal no ano passado. Mantém conversas com Huck e Doria, mas sem indicar pretensão de ser protagonista no ano que vem. Diante do fator Lula, o ex-juiz é visto por dois ângulos: um cenário em que é considerado parcial e perde capital político para uma investida eleitoral e outro em que a presença do ex-presidente revitaliza também o antipetismo e abre uma “estrada” para Moro.

Seus apoiadores confiam na segunda hipótese e reforçaram a pressão para que ele tome o mais rápido possível uma decisão sobre 2022. “Moro está sendo convocado à luta para defender a causa do combate à corrupção, que se enfraquece. Esta é uma decisão muito pessoal: aceitar a convocação para o enfrentamento ou se acomodar. A Lava Jato está sendo golpeada de forma fatal. Vejo como uma convocação ao enfrentamento”, disse o senador Alvaro Dias (PR), principal interlocutor entre o ex-ministro e o Podemos.

No campo governista, parte dos aliados de Jair Bolsonaro admite que o retorno de Lula pode dividir o apoio que o presidente tem hoje dos partidos que integram o Centrão. Aliados articulam a volta dele ao PSL e pregam que, para enfrentar Lula, é preciso entrar na disputa com uma sigla bem estruturada – ou seja, com dinheiro em caixa e tempo de televisão.

“O tsunami que elegeu Bolsonaro em 2018 não vai se repetir em 2022. Vai voltar o jogo da estrutura partidária”, disse ao Estadão o deputado bolsonarista Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), que integra o círculo político mais próximo da família Bolsonaro. As conversas entre o PSL e o presidente foram retomadas e o partido isolou a ala de oposição ao governo no Congresso.

O PODER CORROMPE AQUELES QUE O EXERCEM?

 

2022, o ano que vem chegando mais cedo

Aung San Suu Kyi:‘O temor de perder o poder corrompe aqueles que o exercem’

Pedro S. Malan, O Estado de S.Paulo

“Creio que nenhum homem tem plena consciência das engenhosas artimanhas a que recorre para escapar à sombra terrível do conhecimento de sua própria pessoa” (Joseph Conrad). Seria possível imaginar o mesmo de um país? Dizer, como o personagem de Shakespeare (em Macbeth): “Ai de ti, pobre país, quase com medo de conhecer a si próprio”. O Brasil sob o bolsonarismo parece cada vez mais enredado no autoengano e na autocomplacência, empenhado em perder-se em engenhosas artimanhas para escapar ao conhecimento de si próprio.

Mas a terrível sombra está a ficar mais visível com o agravamento da pandemia, e com suas consequências. Paradoxalmente, é o que poderá talvez permitir que escapemos, nos próximos 18 meses, do autoengano coletivo, que seria trágico. Terrível como possa ser, o Brasil, a duras penas, pode estar se conhecendo melhor. Afinal, Bolsonaro e sua grei são parte integrante de nossa realidade. Cumprirá a cada um de nós procurar construir coalizões – de pessoas, de partidos – aptas a apresentar-se à sociedade em geral (não apenas a nichos identitários, corporações estabelecidas e interesses consolidados) como alternativas de poder viáveis e construtivas.

Não será fácil. No presidencialismo à brasileira o poder incumbente dispõe de enormes vantagens, particularmente quando a busca da reeleição constitui sua inequívoca prioridade. O poder que detém o presidente de nomear, demitir, vetar e cooptar não deve ser subestimado. Nem sua presença nas redes sociais ou o expressivo contingente do eleitorado que lhe confere o status de mito.

Em algum momento será preciso convergir para nomes, a política assim o exige. Mas tão importante quanto o quem é com quem mais (pessoas, partidos, grupos sociais), com que tipo de proposta sobre os principais desafios do País, com que tipo de interpretação sobre onde estamos, como até aqui chegamos e para onde se está propondo que caminhemos.

Carlos Pereira, em artigo recente (Folha 8/2), comenta a diferença entre montar uma coalizão para uma disputa eleitoral e gerenciar uma coalizão para efetivamente governar, à luz das dificuldades de coordenação, custos de governabilidade e perspectivas de sucesso legislativo. Após um ano e meio de recusa, Bolsonaro foi obrigado a aceitar uma coalizão e a empenhar-se pessoalmente na eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado. Mas, como notou o autor, “estando o presidente disposto a jogar o jogo do presidencialismo multipartidário, precisa aprender a gerir a sua coalizão de forma profissional e não amadora”. Sua forma de gerir a coalizão alcançada tem se mostrado volátil e estouvada, mas claramente concentrada em sua reeleição. Que depende da consolidação e ampliação de seu eleitorado fiel, do cultivo das corporações que tem como suas e da transferência de responsabilidades para governadores, prefeitos e para a mídia profissional.

A extraordinária disfuncionalidade do Executivo federal no combate à covid é o exemplo mais flagrante e doloroso dessa inépcia, mas não o único. Afinal, é de nosso presidente a afirmação: “O País está quebrado, e eu não consigo fazer nada”. Eis a continuação da mensagem, implicitamente sugerida: porque não me deixam fazer o que eu gostaria, ou o que precisaria ser feito, a culpa não é minha. Em outra fala, saiu-se com variante muito mais grave: “Alguns acham que posso fazer tudo. Se tudo tivesse que depender de mim, não seria este o regime que nós estaríamos vivendo”. Nada surpreendente para quem em janeiro afirmara que “quem decide se um povo vive sob uma democracia ou uma ditadura são as Forças Armadas”. As duas frases não deveriam surpreender a quem conheça sua trajetória, no Exército e no Congresso, ou a quem se dê ao trabalho de assistir, na íntegra, ao vídeo da famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2020, verdadeira ressonância magnética de um organismo disfuncional.

A História ensina que uma sociedade enjaulada em acerbas polarizações é particularmente vulnerável a populismos fraudulentos. Existem sempre instigadores que despertam e incendeiam a ambição de populistas e tiranos em potencial. Como existem sempre os facilitadores que, ainda que percebam o perigo representado por aquela ambição, imaginam-se capazes de controlar os arroubos autoritários do populista (ou do tirano) enquanto se beneficiam de seu estilo de assalto a instituições estabelecidas. Como aponta com pertinência Aung San Suu Kyi, “não é o poder que corrompe, mas o medo. O temor de perder o poder corrompe aqueles que o exercem. E o medo do açoite do poder corrompe aqueles que estão sujeitos a ele”. Persio Arida retomou o tema em excelente live recente, a propósito do Brasil de hoje.

Nos próximos 18 meses o Brasil deverá decidir se afinal deseja assumir-se como uma democracia vibrante, reconhecida como tal pelo resto do mundo; ou se persistirá na trajetória de incerteza crescente sobre nosso futuro econômico, social e político. E a correr sério risco, à luz de eventos dos últimos dias, de reeditar o tipo de polarização que marcou tanto nossa experiência em 2018 como os últimos trágicos 12 meses de pandemia.

ECONOMISTA, FOI MINISTRO DA FAZENDA NO GOVERNO FHC E-MAIL: MALAN@ESTADAO.COM

sábado, 13 de março de 2021

NA EMERGÊNCIA DA PANDEMIA A UNIÃO DOS CIDADÃOS É ESSENCIAL

 

Emergência

Byvaleon

 MAR 13, 2021

Emergência

Até que a vacinação deslanche, a união dos cidadãos é fundamental para salvar vidas

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

O Brasil passa pelo momento mais dramático da pandemia de covid-19. O País caminha para chegar ao final de março tendo perdido cerca de 300 mil de seus cidadãos para a doença. Novas cepas do coronavírus, mais contagiosas, são disseminadas sem qualquer tipo de controle ou medidas de contenção. Resultado disso é que os hospitais das redes pública e privada, seja nos Estados mais ricos, seja nos mais pobres, entraram em colapso ou estão prestes a saturar sua capacidade de lotação. É grande o risco de se generalizar os casos de pessoas que precisam de atendimento médico morrerem em casa ou na porta de hospitais lotados. Em algumas cidades isso já ocorre.

O que poderia interromper esta escalada da morte – uma massiva campanha de vacinação da população – ainda está longe de ser a realidade do País. As poucas doses que há são aplicadas numa velocidade muito aquém da velocidade de espalhamento do vírus. É uma luta desigual, decorrente em grande medida da desídia do governo de Jair Bolsonaro em coordenar no âmbito federal a imunização dos brasileiros.

As autoridades ciosas de sua responsabilidade têm praticamente implorado à população para que permaneça em casa. E se houver absoluta necessidade de sair às ruas, que isto seja feito com os cuidados sobejamente conhecidos a esta altura. Em poucos momentos da história do País foi tão necessária a união da sociedade para superar um mal que afeta todos os cidadãos.

No dia 10 passado, foram registradas 2.349 mortes por covid-19 em apenas 24 horas, sem contar a subnotificação. É estarrecedor. As atuais gerações jamais passaram por algo remotamente parecido com esta tragédia. E nada garante que este terrível número de mortes diárias não aumente nos próximos dias.

São Paulo, o mais populoso Estado da Federação, é um dos que mais padecem com o recrudescimento da pandemia no País. Para evitar o pior, ou seja, cidadãos morrendo por falta de atendimento nos hospitais, o governo estadual criou uma nova categoria de restrições no Plano São Paulo ainda mais severa do que a fase vermelha. Embora fossem as mais rigorosas até então, as medidas da fase vermelha não puderam deter o vertiginoso crescimento do número de casos e mortes no Estado.

O Palácio dos Bandeirantes decidiu chamar o novo pacote de medidas de fase emergencial, sem alusão a cores, o que mostra quão grave é a situação do Estado. Trata-se, de fato, de uma situação de emergência, de vida ou morte.

A fase emergencial valerá de 15 a 30 de março e implicará a paralisação das atividades escolares, o fechamento de lojas de materiais de construção, restrições de retirada de pedidos em bares e restaurantes (o chamado “take away”), suspensão de atividades esportivas coletivas, como os jogos de futebol do Campeonato Paulista, e de celebrações religiosas que gerem aglomeração de fiéis.

O objetivo do governo paulista é aumentar o porcentual de isolamento social na fase emergencial para um patamar superior a 50%, considerado pelas autoridades sanitárias o mínimo necessário para deter o avanço do vírus. Estima-se que neste período de 15 dias cerca de 4 milhões de pessoas sairão das ruas.

É de suma importância que cada cidadão se una ao esforço coletivo de frear a disseminação do coronavírus em sua cidade, no seu Estado, no País. Por melhores e bem-intencionadas que sejam as medidas determinadas pelos governos nas três esferas, de nada elas valerão se a população não se engajar firmemente no seu cumprimento. Ao poder público, por sua vez, cabe fiscalizar com máximo rigor a observância às determinações legais.

Espera-se que atos de força jamais tenham de se sobrepor à consciência cidadã. Diante de um quadro tão terrível, a união dos cidadãos é vital para salvar vidas, como bem disse o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn. E até que a vacinação deslanche, devemos contar uns com os outros.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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