sábado, 13 de março de 2021

LEGADO DA OPERAÇÃO LAVA JATO ESTÁ EM RISCO

 

Dano à Lava Jato será maior com eventual suspeição de Moro do que com decisão de Fachin

Deltan Dallagnol, ex-coordenador da Lava Jato, afirma que anulação de condenações de Lula é menos danosa para demais processos, afirma que “há uma reação” contra o modelo de combate à corrupção no Brasil adota e questiona se os bilhões de reais recuperados vão ser devolvidos aos condenados e delatores, se operação for anulada por completo

Ricardo Brandt, Fausto Macedo e Raysssa Mota

O procurador da República Deltan Dallagnol: ex-coordenador da força-tarefa. Foto: Gabriela Biló / Estadão

O ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, acredita que se o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitar o pedido da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e declarar a suspeição do ex-juiz federal Sérgio Moro, as consequências para os processos são “mais graves”, do que os gerados pela decisão do ministro Edson Fachin desta semana. O relator da Lava Jato decidiu anular as condenações do  petista e tirar os processos de Curitiba.

“O pano de fundo dessa decisão (de Fachin) era a perspectiva de declaração de suspeição do ex-juiz federal Sérgio Moro, que teria consequências mais graves ainda para esses e talvez outros casos (da Lava Jato)”, afirmou Dallagnol, em entrevista ao Estadão.

Fora das apurações do caso Petrobrás, desde o final de 2020, Dallagnol afirma que ‘há uma reação’ contra o combate à corrupção no Brasil, diz não acreditar que toda Lava Jato seja anulada, defende a publicidade dada aos processos e alerta sobre a possibilidade de retrocessos no combate à corrupção no País. Afirmou ainda que tem a consciência tranquila, diante dos que acusam a operação de ter ajudado a eleger o presidente, Jair Bolsonaro. “Bolsonaro se apropriou da bandeira anticorrupção, mas não foi o único candidato a fazer isso, o que mostra que esse não foi o fator determinante para sua eleição.”

LEIA A ENTREVISTA:

Como recebeu a notícia de anulação das condenações do ex-presidente Lula?

Deltan Dallagnol: Com surpresa como todos. A Segunda Turma, ficando vencido frequentemente o ministro Fachin, vinha retirando de Curitiba os crimes que não têm ligação direta com a Petrobrás. O ministro aplicou esse entendimento majoritário porque a denúncia contra o ex-presidente descreve um esquema mais amplo de corrupção envolvendo vários órgãos federais, para além da estatal. É importante ressaltar que o ministro não disse que a denúncia estava errada.

O efeito disso foi a anulação das decisões proferidas nos casos, que poderão ser retomados em Brasília, aproveitando-se as provas produzidas, embora com riscos reais de prescrição. O pano de fundo dessa decisão era a perspectiva de declaração de suspeição do ex-juiz federal Sérgio Moro, que teria consequências mais graves ainda para esses e talvez outros casos. Pessoalmente, discordo de ambas as teses, de incompetência e de suspeição, mas a primeira é menos danosa e deve prejudicar o exame da segunda.

A incompetência da 13.ª Vara Federal declarada no caso Lula pode gerar um efeito em cadeia em outras ações?

Dallagnol: É difícil que isso aconteça por duas razões. Primeiro, em grande parte dos outros casos, a competência já foi discutida e definida em todas as instâncias, inclusive no Supremo. Em segundo lugar, o ministro Fachin tratou esse caso como bastante peculiar, porque se imputou ao ex-presidente o papel de “figura central do grupo criminoso organizado”, que atuou em vários órgãos, sendo a Petrobrás apenas um deles. Contudo, não podemos assegurar que a decisão não será estendida porque em Direito tudo é discutível, o sistema de Justiça brasileiro não favorece a segurança jurídica e até o passado é incerto no Brasil.

É o pior revés para a Lava Jato?

Dallagnol: Toda anulação dos casos de corrupção comprovada na Lava Jato nos gera indignação porque buscamos Justiça e nosso trabalho respeitou as regras do jogo. Isso já aconteceu com outros casos, como o do Aldemir Bendine (ex-presidente da Petrobrás) e o caso da refinaria de Pasadena. Contudo, sem dúvidas, o pior revés para a Lava Jato foi a proibição da prisão em segunda instância.

A Lava Jato foi um ponto fora da curva, ou ela também segue o mesmo caminho, das operações anticorrupção que foram anuladas, como a Castelo de Areia?

Dallagnol: Operações do passado foram derrubadas por inteiro. É difícil derrubarem a maior parte dos casos da Lava Jato por uma razão peculiar, que me faz lembrar uma anedota: certa vez, juízes de um tribunal discutiam um caso de tráfico de drogas e decidiram anular as provas e libertar os criminosos, por conta de uma formalidade, uma filigrana; após fazerem isso, um dos juízes perguntou aos outros ‘e agora, vamos devolver as drogas?’. Se a Lava Jato for anulada, a questão que fica é: vamos devolver para os corruptos, para as contas secretas na Suíça, os R$ 5 bilhões que foram recuperados de criminosos confessos? Vamos isentar as empresas que fizeram acordo de pagar os mais de R$ 10 bilhões já compromissados para os próximos anos?

Existe uma ‘impunidade institucionalizada’ no Brasil?

Dallagnol: As instituições devem ser respeitadas e são essenciais para a democracia. Contudo, devem ser aperfeiçoadas. É evidente que existe uma impunidade sistêmica e, nesse sentido, institucionalizada. O foro privilegiado não funciona. Basta perguntar a cada gabinete de ministro do Supremo, quantos mandados de prisão já foram emitidos contra pessoas com foro privilegiado. A primeira vez que o Supremo prendeu alguém foi em 2013. A maioria dos gabinetes provavelmente nunca emitiu nenhum mandado, apesar de ter conduzido dezenas de investigações de corrupção. Pesquisas mostram que grande parte dos casos de foro privilegiado prescrevem.

Já os casos que tramitam na primeira instância em regra eram anulados ou prescreviam e, desde a decisão que proibiu a prisão após o julgamento em segunda instância, as chances de se alcançar justiça se tornaram menores ainda. Quando a Lava Jato rompeu a impunidade sistêmica, isso gerou forte reação e movimentos intensos para retaliar os investigadores. Não é difícil prever um longo período de impunidade se não houver mudanças drásticas no cenário.detan_dallagnol_tcu_auditor_nivaldo_dias_filho

Deltan: ‘impunidade sistêmica’. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag. Brasil

Uma das críticas à Operação Lava Jato foi que ela foi midiática. Houve excessos na hora de dar publicidade das investigações e dos resultados?

Dallagnol: Midiáticos foram os crimes. São os números. Quando você tem desvios de até R$ 40 bilhões, por dezenas de parlamentares, políticos e empresários da mais alta relevância no País, em dezenas de órgãos públicos, os fatos despertam imenso interesse público. O Brasil foi saqueado. A demanda por informação exigiu ampla transparência, que ao mesmo tempo serviu de antídoto, enquanto a atenção da sociedade se manteve no caso, para manobras que esvaziassem investigações, processos e punições. Todos os grandes casos de corrupção deveriam ser públicos e ser objeto de prestação de contas e relatórios, como aconteceu na Lava Jato.

O conteúdo obtido pelos hackers das trocas de mensagens da força-tarefa foi onde a Lava Jato esbarrou? Como viu a autorização, pelo STF, do uso do conteúdo em processos ?

Dallagnol: Essas mensagens, com origem criminosa e que foram editadas e distorcidas, são apenas parte do arsenal utilizado, na reação contra a operação, por poderosos que se veem ameaçados pela Lava Jato, quer porque eles ou seus aliados são investigados, quer porque têm medo de ter o mesmo destino. Essas pessoas procuram pelo em ovo nas mensagens, editando-as ou distorcendo-as para gerar notícias, minar a credibilidade e cavar nulidades. Passados dois anos, nunca as mensagens foram usadas para apontar a inocência de ninguém, mas sim para alegar supostos excessos que ninguém jamais demonstrou nos atos e decisões. Tudo sempre foi revisado e confirmado por três instâncias independentes do Judiciário.

Como viu a decisão do presidente do STJ de abrir de ofício investigação para apurar se a Lava Jato tentou investigar ilegalmente ministros da Corte?

Dallagnol: Respeito o Tribunal da Cidadania, que é responsável por definir a interpretação das leis no nosso país, assim como seu presidente. Contudo, a vontade do julgador se sobrepôs à lei por cinco razões. Primeiro, se quiséssemos investigar, poderíamos investigar na área cível de improbidade administrativa, mas não fizemos isso. Essas mensagens que são atribuídas a nós mostram apenas cogitações. Segundo, se tivéssemos cometido o erro de investigar criminalmente os ministros, isso não seria crime pela lei brasileira e não tem como instaurar um inquérito sem crime para apurar. Terceiro, o tribunal responsável pela investigação de procuradores seria o Tribunal Regional Federal e não o STJ. Além disso, a lei determina que o procurador-geral designe um procurador para conduzir a investigação perante o tribunal, e não um magistrado, para proteger a independência do Ministério Público. Quarto, a única base do inquérito são supostas mensagens de origem ilícita e inautênticas. Investigar com base em provas ilícitas é definido como crime pela Lei de Abuso de Autoridade. Por fim, nosso sistema não permite que essa investigação seja instaurada por um investigador que é simultaneamente investigador e vítima e que não haja livre distribuição dela entre os ministros.

Se a Operação Lava Jato tivesse instaurado uma investigação com base em provas ilícitas para apurar corrupção gravíssima, e o juiz tivesse presidido a investigação, seria prontamente trancada e anulada, o juiz seria considerado suspeito e responderíamos a processos administrativos, cíveis e criminais. É surpreendente o que está acontecendo.

A Lava Jato abriu caminho para a ascensão do ‘bolsonarismo’?

Dallagnol: Bolsonaro se apropriou da bandeira anticorrupção, mas não foi o único candidato a fazer isso, o que mostra que esse não foi o fator determinante para sua eleição. Quando movemos nossas investigações e processos, defendendo valores e princípios constitucionais e legais, de modo apartidário, não controlamos as consequências políticas disso. Os caminhos ou descaminhos do País são fruto da ação e omissão na sociedade de uma série de atores: políticos, jornalistas, empresários, outros líderes e entidades de todo tipo. Não controlamos os resultados. Só o que podemos fazer é lutar por bandeiras, causas e valores. Temos a consciência tranquila por termos feito isso e precisamos perseverar.

Sob o mais duro ataque, a falta de apoio institucional do PGR à operação pesou ?

Dallagnol: Cabe ao PGR assegurar a independência da atuação de membros do Ministério Público, assim como protegê-los contra represálias. No caso do inquérito instaurado pelo STJ, o procurador-geral determinou seu acompanhamento por um colega respeitado e independente. Há outras questões que devem merecer atenção do procurador-geral, como a composição incompleta do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público), a reclamação que tramita no Supremo perante o ministro (Ricardo) Lewandowski, e que pode ter implicações negativas sobre as regras estabelecidas de cooperação internacional, o pedido de ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) para analisar as mensagens ilegais mesmo sem qualquer indicativo concreto de ilegalidade a ser apurado. Além disso, a redução da capacidade de trabalho das forças-tarefas, incorporadas nos Gaecos, mostra a importância de se ampliar o apoio para o combate à corrupção.

O legado da Operação Lava Jato está sob risco?

Dallagnol: Ou o brasileiro acorda ou, quando perceber, teremos regressado 30 anos no tempo no combate à corrupção e à lavagem de dinheiro. A quem interessa isso? Há uma reação contra a Lava Jato com uma série de mudanças já feitas ou sendo articuladas que desmontam o modelo de combate à corrupção que permitiu o sucesso da operação. Será uma tragédia que anunciamos desde 2015, quando alertamos para o perigo de acontecer no Brasil o mesmo que ocorreu na Itália, após a Operação Mãos Limpas. O único caminho para barrar isso passa pelo voto consciente em políticos comprometidos com propostas concretas contra a corrupção.

A IMPORTÂNCIA DE UMA REDE DE CONTATOS PESSOAL

 

A importância de um networking de qualidade

Para se conectar com pessoas, é preciso estar aberto a elas

Lúcio Júnior – Open Mind Brazil

O networking nada mais é do que criar uma rede de contatos. Parece banal, mas isso serve não só para atuar em uma nova área ou ir para outra empresa, como até mesmo para conseguir uma promoção ou outra boa colocação profissional no local onde você já trabalha.

A verdade é que hoje em dia apenas as suas habilidades e um bom currículo não são suficientes para alcançar os grandes objetivos no meio profissional. É preciso manter contato com outros profissionais. Engana-se quem pensa que para isso basta entrar no Facebook ou no LinkedIn ou sair distribuindo os seus cartões de visitas. A ferramenta do networking vai além e, se bem utilizada, permite você trocar experiências e potencializar as oportunidades em todos os âmbitos da vida.

De início é importante entender que para se conectar com pessoas, principalmente no mundo corporativo, é preciso estar aberto a elas. Para desenvolver e gerenciar uma boa rede de contatos profissionais não basta entrar em um jogo de número de interações. A força e a longevidade da sua rede de contatos dependem mais da qualidade das conexões estabelecidas do que da quantidade de pessoas que estão nela.

Para ser memorável preocupe-se em escutar e focar sua atenção em pessoas com potencial de construção de um relacionamento futuro seja como fornecedor, parceiro de negócios, funcionário ou até mesmo sócio. Com isso é possível construir uma rede de contatos para trocar experiências e informações, aumentando assim as oportunidades por meio de relacionamentos.

Um erro muito comum no universo do networking é o de só se preocupar com ele apenas quando precisa usá-lo. Atitudes como essa podem resultar em efeitos negativos, pois as aproximações podem soar como falsas. O ideal é criar vínculos profissionais desde a formação acadêmica. Palestras, reuniões e conferências são ótimos meios de conhecer pessoas interessantes, bem como eventos sociais, esportivos e culturais.

Mas você deve estar se perguntando: e com a pandemia e isolamento social? O networking digital tem se tornado cada vez mais tendência. Grupos de relacionamento que surgem nas redes sociais e aplicativos conversacionais têm crescido e atendido a essa demanda de maneira até mais inclusiva que a tradicional e, claro, com maiores possibilidades de formatos e canais.

Para garantir que esteja no caminho certo, entenda como criar e fomentar essas conexões:

Busque pessoas com interesses em comum;
Esteja em palestras e masterminds;
Compartilhe ideias e convide pessoas para opinar;
Esteja presente em redes de networking como o Clubhouse;
Seja fiel e verdadeiro com seus contatos. Uma das piores coisas que existem é ser visto como interesseiro.

Já deu para entender que o networking pode ser fundamental para o crescimento do seu negócio. Porém ele também pode ser um processo de construção de amizades motivadas por interesses mútuos. Criando e cultivando conexões reais, sua rede de contatos pode ser ampliada inclusive de forma espontânea, conforme você e seu negócio causam boas impressões e são referenciados.

Com um pouco de tempo e prática, seu capital social vai se tornando cada vez mais valioso, expandindo sua capacidade de formar relacionamentos sólidos.

Aqui no Brasil, para se conseguir qualquer coisa, seja na política ou nas empresas e para conseguir um bom emprego, precisa do QI (quem indicou).

Existem hoje no mercado de trabalho as chamadas indicações (Q.I – Quem Indicou) muito conhecidas como sátiras, pois muitas vezes os novos colaboradores não passam por testes dentro da Gestão de Pessoas e se tem como um forte concorrente pois a indicação vem até de profissionais nomeados dentro da organização, fazendo assim que a Gestão de Pessoas fique engessada na tomada de decisão.

Mais ai vem a pergunta; Todas essas indicações são negativas para as organizações? ; Não que elas sejam negativas, sem generalizar, mais independente das indicações e investigações dos novos colaboradores toda Gestão de Pessoas tem a autonomia de aplicar testes realmente de (Q.I – Quociente Intelectual) ; entre outros testes já existentes no mercado para se analisar melhor a capacidade de cada candidato á vaga concorrida.

A Contratação por competências com testes técnicos e práticos é uma porcentagem maior de certeza que a Gestão de Pessoas está contratando o profissional correto para a vaga certa.

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A CAMPANHA PRESIDENCIAL DE 2022 JÁ COMEÇOU

 

Só os ingênuos acham que a campanha será em 2022

Se postulantes não colocarem logo os blocos na rua, Lula e Bolsonaro brincarão sozinhos o carnaval das eleições

João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo

A ideia de que é cedo para iniciar uma campanha presidencial, dado que temos uma pandemia para combater, é politicamente ingênua. Em democracias, os eleitores estão sempre julgando potenciais candidatos. Para os governantes, fazer a coisa certa em situações de crise é parte da campanha. Se os resultados aparecem, aumentam as chances de reeleição. 

O raciocínio vale para os opositores. Nas situações de crise, eles têm a oportunidade – e a obrigação – de fiscalizar e criticar. Devem também apresentar alternativas, para que o eleitor acredite que farão melhor caso conquistem o poder. 

Tal regra básica das democracias merece ser lembrada nesta semana, em que o ex-presidente Lula, para usar uma expressão dele próprio, colocou seu bloco na rua. Fez um discurso clássico de candidato dois dias depois da decisão do juiz Edson Fachin – tão clássico que não assumiu ser candidato. Em sua fala, colocou-se na posição de antagonista preferencial do atual presidente, Jair Bolsonaro – que está em campanha desde o primeiro dia de governo. 

Lula
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz pronunciamento em São Bernardo do Campo, na Grande SP Foto: REUTERS/Amanda Perobelli (10/3/2021)

O editor Daniel Bramatti, da área de jornalismo de dados do Estadão, analisou no domingo, dia 7, uma pesquisa em que Lula lidera o potencial de voto para 2022. Em segundo lugar aparece Bolsonaro. No levantamento feito pelo instituto Ipec, os dois têm uma certa folga sobre o segundo pelotão – composto por Sérgio Moro, Luciano Huck, Fernando Haddad e Ciro Gomes. Teríamos um segundo turno já desenhado para 2022? 

A resposta é não se considerarmos outra pesquisa – esta qualitativa, realizada nas classes A e B e patrocinada pela fundação alemã Friedrich Ebert. Ela mostra falta de convicção entre os potenciais eleitores de Lula e Bolsonaro. No levantamento, feito no fim do ano passado, o eleitor à direita já criticava Bolsonaro pelo desastre no combate à pandemia. 

Do outro lado, segundo a pesquisa, há desconforto com o projeto hegemônico do PT e a falta de renovação nas esquerdas. “Políticos jovens como Guilherme Boulos aparecem como opções até entre eleitores de centro”, diz a cientista política Camila Rocha, coordenadora do levantamento ao lado da socióloga Esther Solano. Ela é a personagem do minipodcast da semana. 

Camila Rocha transita por várias correntes ideológicas, com interlocutores à esquerda e à direita. Ela é autora de “Menos Marx, Mais Mises”, uma tese de doutorado sobre os liberais brasileiros da nova geração (um livro baseado na tese sairá no segundo semestre pela Editora Todavia). O sentimento que captou entre integrantes dos dois campos foi de “orfandade”. “Há ainda muitos eleitores em busca de candidatos que os representem”, diz Camila Rocha. 

O cruzamento das duas pesquisas, a quantitativa e a qualitativa, sugere que o presidente e o ex-presidente lideram porque foram os primeiros a “colocar o bloco na rua”. Os levantamentos mostram que muitos brasileiros votarão em Lula ou Bolsonaro. Há, no entanto, um enorme contingente em busca de alternativas. Cabe aos demais partidos suprir a demanda dos “órfãos”. No Brasil os pleitos são livres e quem não se apresenta ao escrutínio do eleitor não tem o direito de reclamar. Assumir a candidatura é o primeiro passo, mas não basta. É preciso apresentar ideias. 

Em plena pandemia, a campanha está a todo vapor. Se os postulantes não colocarem logo seus blocos na rua – e se não perceberem a urgência dessa tarefa –, Lula e Bolsonaro brincarão sozinhos o carnaval das eleições. 

*ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

PACOTE DE ESTÍMULOS DE BIDEN NOS EUA

 

The Economist: Estímulo de Biden é uma aposta para os EUA e o mundo

Pacote de US$ 1,9 trilhão é parte de um experimento econômico em 3 vertentes; perigo é de superaquecimento da economia americana

The Economist,

Quando a pandemia surgiu foi natural temer a possibilidade de a economia mundial ficar estagnada por anos. Os Estados Unidos estão desafiando esse pessimismo. Tendo superado as sombrias expectativas de crescimento previstas em meados do ano passado, o país está jogando combustível de foguete fiscal em uma já inflamada mistura de políticas econômicas. O pacote de estímulos de US$ 1,9 trilhão do presidente Joe Biden, que ele deveria sancionar após o fechamento desta matéria, eleva a aproximadamente US$ 3 trilhões (14% do PIB anterior à crise) o montante de gastos relacionados à pandemia desde dezembro, e para cerca de US$ 6 trilhões o total gasto com a crise desde seu início. 

Segundo o planejamento atual, o Federal Reserve e o Departamento do Tesouro também injetarão aproximadamente US$ 2,5 trilhões no sistema bancário este ano, e as taxas de juros permanecerão próximas a zero. Por uma década, após a crise financeira global de 2007 a 2009, os formuladores de políticas econômicas americanos foram tímidos demais. Agora, estão trabalhando à toda.


Joe Biden
Pacote de Biden eleva para cerca de US$ 3 trilhões o montante de gastos relacionados à pandemia desde dezembro de 2020. Foto: Jabin Botsford/Washington Post

O resultado provável é uma recuperação que seria impensável no segundo trimestre de 2020. Em janeiro, as vendas de varejo nos EUA já estavam 7,4% mais altas do que no ano anterior, enquanto a maioria dos americanos recebia os cheques de US$ 600 do governo, como parte da rodada anterior de estímulos. Presos em casa e incapazes de gastar o que gastariam normalmente em restaurantes, bares e cinemas, os consumidores acumularam US$ 1,6 trilhão em poupança excedente durante o ano passado. 

O estímulo de Biden dará para a maioria dos americanos outros US$ 1,4 mil. De uma maneira incomum para um país rico, uma grande porção dessa pilha de dinheiro será poupada pelas famílias pobres, que deverão gastar apenas quando a economia reabrir totalmente. Se as vacinas continuarem a chegar aos braços dos americanos e o país evitar um terrível encontro com novas variantes do vírus, a taxa de desemprego deverá cair confortavelmente abaixo dos 5% até o fim deste ano.

A boa nova não se restringe aos EUA. Pesquisas em produção mostram um quadro otimista mesmo em relação à zona do euro, que está atrás em termos de vacinação e na luta contra novas variantes – e está concedendo menos estímulos. Os gastos de Biden vão elevar ainda mais a demanda por mercadorias. O déficit comercial dos EUA já está mais de 50% maior do que antes da pandemia, enquanto a economia do país consome itens importados. 

Mas o restante do mundo não acompanhará o ritmo alucinante do Tio Sam. Em 9 de março, a OCDE, um clube de países ricos, previu que, no fim de 2022, a economia americana será maior do que a entidade previu antes da pandemia – a única entre as grandes economias a apresentar tal resultado. De abril a setembro, os EUA provavelmente crescerão mais do que a própria China, que está endurecendo sua política monetária e cuja Bolsa de Valores sofreu uma queda de 9% desde meados de fevereiro.

Triunfo

Ascender após uma crise que em seu momento mais grave cortou o número de pessoas empregadas em 15% será um triunfo para os EUA, e contrastará com a fraca recuperação após a crise financeira. O pacote de estímulos de Biden aliviará aqueles cujas vidas foram viradas de ponta-cabeça – atualmente, 9,5 milhões de postos de trabalho cortados pela pandemia ainda não foram recuperados. Graças ao dinheiro extra concedido à maioria dos pais, a persistente e disseminada pobreza infantil cairá drasticamente.

Ainda assim, apesar de os atuais formuladores de políticas terem garantido seu lugar na história da economia, talvez não sejam vistos como heróis. Isso porque os EUA estão aplicando um imprevisível experimento econômico em três vertentes que apresenta níveis históricos de estímulos fiscais, uma atitude mais tolerante do Fed em relação a picos de inflação maiores que os previstos e enormes poupanças, que ninguém sabe se os consumidores acumularão ou gastarão. Não há paralelo para um experimento desse tipo desde a 2.ª Guerra. O perigo para os EUA e para o mundo é que a economia superaqueça.

Esse é um risco que os investidores estão avaliando. Os pagamentos de obrigações com vencimento em dez anos da dívida dos EUA, que se movimentam na razão inversa à dos preços, aumentaram cerca de 1 ponto porcentual desde meados do ano passado, diante da expectativa de inflação em alta e taxas de juro mais elevadas. 

Em razão do papel crucial dos EUA no sistema financeiro global, sua expectativa de política monetária repercute além das fronteiras. Nas semanas recentes, o banco central da Austrália teve de aumentar suas compras de obrigações para evitar uma elevação excessiva nos rendimentos. O Banco Central Europeu estava decidindo se realizaria uma intervenção similar. Mercados emergentes com grandes déficits, como o Brasil, ou com grandes dívidas em dólar, como a Argentina, têm motivo para temer um endurecimento nas condições financeiras globais após a virada na política monetária americana.

O Fed está inflexível em sua decisão de manter baixa a taxa de juros e continuar a comprar ativos até que a recuperação da economia esteja bem mais garantida. A inflação aumentará, enquanto a queda nos preços das commodities ocorrida no início da pandemia seria um ponto fora da curva em comparação com o ano anterior, mas o Fed vai ignorar esse movimento. Sob seu novo regime de “meta de inflação média”, adotado no ano passado, está buscando trazer a inflação para uma meta de 2%, para conseguir compensar déficits passados. Isso é particularmente desejável porque, na maior parte da década passada, o problema da economia mundial era inflação baixa demais, não o contrário. Mesmo se a economia acabar superaquecendo, Jerome Powell, presidente do Fed, argumenta que isso também será temporário. A dinâmica de inflação a longo prazo, argumenta ele, “não muda em nada”.

Mas será que eles poderiam recusar trilhões de dólares? Não temos razão para duvidar dos planos a curto prazo do Fed, mas nem o banco central americano nem os mercados são capazes de prever o resultado final do experimento dos EUA. O Fed pode ter de jogar um balde de água fria na economia, elevando a taxa de juros para reduzir a inflação. Isso seria constrangedor, dada a tamanha ênfase que o banco deu à sua obrigação de buscar fortalecer de maneira “ampla e inclusiva” o mercado de trabalho. Uma taxa de juros mais elevada prejudicaria os mercados de ativos e também precipitaria um conflito com o cada vez mais endividado governo.

Todas as fichas no vermelho

O pacote de estímulos de Biden é uma grande aposta. Se for vencedora, os EUA evitarão a triste armadilha da baixa inflação com juros baixos em que o Japão e a Europa parecem empacados. Outros bancos centrais podem copiar a nova meta do Fed. Estímulos fiscais maciços podem se tornar a resposta normal para recessões. O risco, porém, é que os EUA acabem com dívidas crescentes, problemas com a inflação e um banco central submetido a um teste de credibilidade.

Os autores desta matéria preferem um pacote menor de estímulos. Lamentavelmente, a conturbada política americana não permite uma sintonia fina em se tratando da elaboração de políticas, e os democratas quiseram tudo que podiam conseguir. A aposta de Biden é melhor do que a inação. Mas ninguém deve subestimar o tamanho dessa aposta. /TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL 

© 2021 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

ACUSAM O GOVERNO DE NÃO TER PLANAOS E SER OMISSO

 

Um governo sem plano e sem força

O governo Bolsonaro não planeja bem e ainda se omite da articulação política. Descumpre, portanto, responsabilidades básicas do Executivo

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A tramitação da PEC Emergencial no Congresso mostra um governo incapaz de articular minimamente propostas responsáveis para o País. A rigor, não se pode nem mesmo acusar a oposição de irresponsabilidade fiscal, pois, como ficou evidente, a principal tolerância com o afrouxamento dos gatilhos fiscais veio do presidente Jair Bolsonaro, preocupado que estava em não desagradar aos grupos que formam sua base eleitoral. Uma vez mais observa-se na atuação deste governo a antítese de qualquer espírito reformista. 

Vale lembrar que a PEC Emergencial, prevendo restrições e mecanismos para conter os gastos públicos, foi proposta pelo governo federal no fim de 2019, dentro do pacote de medidas intitulado “Plano Mais Brasil”. No entanto, o governo logo se esqueceu dela, não fazendo nenhum esforço para sua aprovação.

Ao longo do segundo semestre de 2020, o então presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, alertou várias vezes para a necessidade de sua aprovação. “Sem a PEC Emergencial, (o governo) vai ter muita dificuldade de aprovar o Orçamento”, disse Maia. O fato é que no ano passado nem o Orçamento nem a PEC Emergencial foram aprovados.

Agora, com o recrudescimento da pandemia e a consequente necessidade de restabelecer algum auxílio à população mais carente, o governo incluiu na PEC Emergencial um dispositivo possibilitando o pagamento de um novo benefício emergencial, no valor total de R$ 44 bilhões. Foi sobre esse novo texto que Senado e Câmara se debruçaram nos últimos dias.

A história recente da PEC Emergencial também não é nada meritória para o governo Bolsonaro. Em primeiro lugar, tentou-se aproveitar a emergência do tema para aprovar de supetão uma medida drástica e especialmente sensível em tempos de crise – a desvinculação de receitas obrigatórias para educação e saúde. Em vez de abrir um debate sério sobre o tema, o governo tentou um atalho oportunista. O Congresso excluiu a mudança.

A fragilidade e as incoerências do governo Bolsonaro ficaram especialmente evidentes na discussão central relativa à nova versão da PEC Emergencial. Onde cortar gastos para tornar viável o pagamento do novo auxílio emergencial? A equipe econômica propôs alguns gatilhos, em especial a proibição de promoções e progressões das carreiras do funcionalismo.

Como era de esperar, houve resistência à medida. Nesse embate entre responsabilidade fiscal e interesse eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro optou pela via mais fácil, endossando a tentativa de fatiar a PEC Emergencial, o que excluía parte das medidas mais restritivas.

A saída irresponsável só não foi aprovada em razão do intenso trabalho do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com os parlamentares. Conseguiu mostrar os efeitos desastrosos que essa medida teria sobre a confiança dos investidores e a recuperação econômica.

De toda forma, com o visível desinteresse do governo na defesa de uma mais intensa responsabilidade fiscal, tornou-se inviável politicamente a manutenção no texto da PEC Emergencial da proibição da progressão automática nas carreiras do funcionalismo público, com o respectivo aumento dos salários. Ou seja, mesmo durante os estados de calamidade ou emergência fiscal (quando há elevado comprometimento das finanças), os funcionários públicos continuarão dispondo de progressões e aumentos automáticos.

A agravar a história da PEC Emergencial, o programa do novo auxílio emergencial foi muito mal planejado. “O auxílio emergencial é um benefício grande demais, para um número de pessoas grande demais. Na entrada da crise, quando você não sabe o que vai acontecer, é uma boa ideia. Mas a gente não pode continuar com um programa essencialmente cego. (…) Se tiver um campeonato de programa mal desenhado, o auxílio emergencial ganha disparado”, disse ao Estado o economista Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Insper e um dos maiores especialistas do País em políticas sociais.

O governo Bolsonaro não planeja bem e ainda se omite da articulação política. Descumpre, portanto, responsabilidades básicas do Executivo. O País paga o preço.

LAVA JATO TERÁ O MESMO FIM DA OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS NA ITÁLIA

 

‘Lava Jato vira Mãos Limpas se Moro for declarado parcial’, diz Fachin

Em entrevista ao Estadão, ministro do STF destacou que decisão que beneficiou Lula foi ancorada em 20 precedentes da Corte; sobre protestos que chegaram à sua vizinhança, afirmou que prefere ‘solidariedade dos colegas às ameaças e às intolerâncias’

Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA

Na véspera de a Lava Jato completar sete anos de existência, o relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, disse ao Estadão que, se o ex-juiz Sérgio Moro for declarado parcial, a investigação terá o mesmo fim que a Operação Mãos Limpas teve na Itália. Fachin anulou nesta semana as condenações impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um esforço para esvaziar as discussões na Segunda Turma sobre a suspeição do ex-magistrado na ação do triplex do Guarujá.

O ministro Gilmar Mendes, no entanto, contrariou o colega e, com o apoio da maioria, decidiu retomar o julgamento – o placar está empatado em 2 a 2, faltando o voto de Kassio Nunes Marques. A discussão pode sofrer uma reviravolta, já que a ministra Cármen Lúcia, que se posicionou em dezembro de 2018 contra o pedido de Lula, avisou que deve se manifestar novamente.

Confira abaixo os principais pontos da entrevista de Fachin, concedida por meio de videoconferência e e-mail.

A Lava Jato completa sete anos no próximo dia 17. Qual vai ser a história da investigação?

Depende do que for decidido nos próximos dias ou nos próximos meses. E, portanto, se continuar no caminho de entender que há suspeição (do ex-juiz federal Sérgio Moro), a história da Lava Jato será a história do que aconteceu com as Mãos Limpas na Itália (investigação conduzida por um time de procuradores que desvendou um esquema de corrupção sistêmico naquele país, expedindo mais de 3 mil mandados de prisão e investigando mais de 6 mil pessoas investigadas, incluindo empresários e parlamentares. A operação, no entanto, foi desmontada antes de completar três anos, após a eleição de Silvio Berlusconi.) É a história de uma derrocada, em que o sistema impregnado pela corrupção venceu o sistema de apuração de investigação e de condenação dos delitos ligados à corrupção. Portanto, esse é o diagnóstico que eu faço.

Quando o senhor assumiu a relatoria da Lava Jato em 2017, se comprometeu a agir com “prudência, celeridade, responsabilidade e transparência”. Quatro anos depois, como o senhor vê a sua atuação à frente dos casos da maior investigação contra corrupção que já existiu no País?

Entendo que para esse questionamento os números falam melhor que palavras. De acordo com o último levantamento feito pelo meu gabinete, com base em dados oficiais atualizados em 10/03/2021, desde o início da operação Lava-Jato, foram homologadas 120 colaborações premiadas e arrecadado cerca de R$ 1.369.665.781,61 (um bilhão, trezentos e sessenta e nove milhões, seiscentos e sessenta e cinco mil, setecentos e oitenta e um reais e sessenta e um centavos), isso para citar apenas o STF, sendo que há valores mais expressivos recuperados nos juízos de primeiro grau. Foram proferidos, desde 2016, mais de 12.800 atos decisórios (entre decisões monocráticas e despachos) e protocolados mais de 20.863 petições e expedientes pela defesa Ministério Público e outros órgãos.

Para além dos números, sempre tenho destacado que o enfrentamento à corrupção deve ser apartidário, democrático, efetivo e constante. É dever de todos lutar contra esse mal que assola o país e foi evidenciado nos últimos anos de maneira assombrosa.

Faço essa constatação não como lamento, mas como reconhecimento do valoroso trabalho prestado por instituições que, ao longo dos últimos anos, souberam profissionalizar e instrumentalizar o controle público. Graças a elas esse trabalho vai continuar e são altos os custos para quem se aventurar pelo desvio. A tarefa agora é evitar que o retrocesso pontual na política de combate à corrupção se transforme em retrocesso institucional.

Por que o senhor derrubou as condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora?

A observância da jurisprudência do Tribunal traduz a máxima segundo a qual casos análogos devem ser tratados de forma análoga. Como dizia o juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos Brandeis, ou temos igualdade e democracia, ou não temos democracia. Como Relator da Lava Jato no Tribunal, busquei defender a manutenção da competência da 13ª Vara para que ela apurasse os delitos contra a Petrobrás que tivessem sido praticados de modo semelhante. A maioria da Segunda Turma, no entanto, optou por restringir a competência apenas aos casos que envolvessem diretamente a estatal. A posição é respeitável e tem amparo na posição de grandes juristas. Ainda que mantenha reservas em relação a esse entendimento, não posso impor aos jurisdicionados a minha posição minoritária.

O presidente Jair Bolsonaro criticou a decisão, dizendo que o senhor “sempre teve forte ligação com o PT”. Como o senhor responderia?

Na decisão da última segunda-feira, destaco um histórico de precedentes firmados pelos órgãos colegiados, em especial da Segunda Turma do Tribunal, sobre a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Não se trata de um entendimento individual, ao contrário, trata-se da reiterada jurisprudência da Corte em que, em mais de 20 casos, entendeu pela retirada de processos da referida vara federal, dos quais, na maioria das vezes fiquei vencido. Como disse, em relação a outros agentes políticos que o Ministério Público acusa de praticarem condutas semelhantes à do ex-Presidente da República, o Plenário e a Segunda Turma entenderam pela retirada da competência do Juízo de Curitiba. Por força dos princípios da isonomia e do juiz natural, deve-se garantir o mesmo tratamento e interpretação a todos os investigados em situação análoga, independentemente de quem seja e de qual partido faça parte. Só assim estará garantida a imparcialidade da atuação jurisdicional.

A decisão do senhor repercutiu no mundo político.

A decisão, a rigor, embora seja de segunda, já está no passado. As repercussões fazem parte da vida democrática. E a vida democrática é um canteiro de obras, e não yn olhar contemplativo de um quadro como o da Monalisa em silêncio. Isso tudo integra exatamente uma sociedade democrática. Eu estou mesmo preocupado é com os ganhos institucionais que nós tivemos e eu lhe diria que os ganhos que tivemos nos últimos 30 anos, que foram propiciados pela Lava Jato, são inegáveis.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Quais foram esses ganhos institucionais?

Se você olhar, da Constituição Federal de 1988 pra cá, coisas institucionais extremamente positivas aconteceram. As carreiras públicas tiveram a regra do concurso público e isso gerou uma qualificação dos agentes públicos, do Ministério Público, da Polícia Federal… Eu estive em Brasília trabalhando em 1986, 1987, quando integrei um dos subgrupos que fazia parte do programa de governo do falecido presidente Tancredo Neves e conheci o procurador-geral da República, que respondia pela advocacia da União. Essa separação foi um ganho institucional muito grande. E leis que vieram, embora com alguma demora, a lei sobre lavagem de capitais, a adesão do Brasil a tratados e convenções internacionais, na área de direitos humanos, um conjunto de normas internacionais, foi internalizada regularmente no Brasil, foram ganhos extraordinários. A lei sobre colaboração premiada e organização criminosa, enfim, portanto, a Lava Jato não é uma chuva, enxurrada de um dia. É um percurso de um desejo de um Estado que seja ao mesmo tempo democrático, eficiente e evidentemente sem corrupção. Portanto, os ganhos institucionais que foram proporcionados a partir da Lava Jato são inegáveis. Vejam: você tem aí em mãos o relatório atualizado do nosso gabinete, é apenas uma franja, passamos à casa do bilhão, 120 delações homologadas. Quantas até agora foram declaradas nulas, anuladas? Tem alguns questionamentos, algumas revisões, tem 120 delações premiadas, mostrou-se um instituto eficaz e efetivo.

Mas também tivemos denúncias rejeitadas pela Segunda Turma, por decisão da maioria, contra a vontade do senhor.

Como tudo no plano do direito, abriu-se um espaço no canteiro de obras para a disputabilidade dos sentidos. Afinal de contas, qual o valor da colaboração premiada? Aí o tribunal começou a esculpir esse valor e gradativamente foi adelgaçando (diminuir de densidade, emagrecer), diminuindo o valor atribuído às delações premiadas, tanto que a orientação hoje majoritária na (Segunda) Turma é que sequer se recebe denúncia com base na colaboração premiada. Hoje a orientação no recebimento de denúncia é quase um julgamento, precisa quase estar demonstrada a culpa para começar a ação penal. Portanto, começou já há algum tempo, logo depois que eu assumi a relatoria, esse adelgaçamento.

A Lava Jato sofreu duras derrotas no plenário do STF, como a derrubada das conduções coercitivas e da prisão após condenação em segunda instâncias. Nesses dois casos, o senhor votou a favor das medidas, consideradas pilares da Lava Jato.

O mecanismo que eu continuo entendendo que é constitucional da prisão em segunda instância foi retirado por compreensão majoritária do pleno. A condução coercitiva, quiçá merecia, sem dúvida nenhuma, algum ajuste, mas praticamente foi retirada. Além disso, as prisões preventivas foram cada vez mais rechaçadas, especialmente pelo critério da denominada contemporaneidade. É uma coisa, digamos assim, que merece um olhar, porque se a pessoa é preventivamente presa, se o passar do tempo por si só esvazia o decreto da prisão, bom então isso significa que o sentido da prisão preventiva está sendo questionado. A questão é saber se o fundamento da prisão preventiva permanece. E quais são os fundamentos da lei? Ordem pública, instrução processual, portanto, enquanto eu não acabar a instrução processual, a prisão preventiva pode ser mantida. E isso tudo foi também, digamos assim, se adelgaçando.

Em março de 2019, o STF decidiu que Justiça Eleitoral julga corrupção quando houver caixa 2, também contra a vontade do senhor.

A minha posição não prevaleceu na remessa para a Justiça Eleitoral. A pergunta que eu faço é: quantas condenações houve na Justiça Eleitoral de lá para cá? Eu não tenho a notícia de nenhuma, é claro que deve existir, mas eu não tenho a notícia de nenhuma.

É culpa da Justiça Eleitoral, ministro?

Isso não é culpa da Justiça Eleitoral, porque a Justiça Eleitoral substancialmente se destina a outra coisa: fiscalizar eleições, administrar eleições, regulamentar eleições. Portanto, e aos poucos começou-a se deslocar a competência, dizendo, ‘bom isso, não é Lava Jato’, e num primeiro momento, me parecia ‘vamos ver então’. Eu mesmo redistribuí vários processos para colegas ministros. Esse tema vinha até chegar a interposição do habeas corpus (da defesa de Lula) em novembro (do ano passado), peguei o período do recesso e estudei essa circunstância. E ao lado disso, emergiu com força a questão da suspeição do magistrado e, portanto, a suspeição do magistrado.

Como o senhor vê a questão das mensagens obtidas por um grupo criminoso de hackers?

Eu não acho que a prova ilícita pode ser varrida para debaixo do tapete, agora é preciso saber o que fazer com ela.

Ministro, a residência onde o senhor mora foi alvo de buzinaços em Curitiba, e o STF acabou reforçando a sua segurança. Em 2017, o senhor já havia relatado ameaças contra familiares. Como o senhor avalia esses episódios? 

Eu prefiro o apoio institucional que sempre recebi dos ministros que durante esse período estiveram na Presidência do Tribunal e a solidariedade dos colegas às ameaças e às intolerâncias.

LULA CONTINUA AINDA FICHA SUJA

 

Processos anulados não invalidam provas contra Lula

Alan Bousso*

Alan Bousso. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin de anular os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, definidos no âmbito da 13ª Vara Federal de Curitiba não representa o fim das acusações contra o ex-presidente. Fachin apenas considerou que o juiz federal Sergio Moro não tinha competência para julgar as ações contra Lula. Contudo, com sagacidade, conduziu sua decisão de modo a garantir que as provas amealhadas no processo continuem sendo válidas e possam ser reaproveitadas. Em outras palavras, a decisão restabelece o devido processo legal, livrando-nos do mal de um extremo jurídico, sem nos jogar imediatamente no polo oposto, das também indesejáveis insegurança jurídica e impunidade.

O ministro do STF recomendou que os processos julgados em Curitiba sejam remetidos à Justiça Federal do Distrito Federal, onde teriam que recomeçar do zero. Nesse caso, novos juízes responsáveis pelos casos do triplex do Guarujá, do sítio em Atibaia e do Instituto Lula teriam de avaliar se reaproveitariam as provas já produzidas na 13ª Vara Federal de Curitiba. O fato é que o ministro Fachin teve o cuidado de não entrar no mérito da suspeição do então juiz Sergio Moro. Assim sendo, as provas produzidas no processo que ele presidido são lícitas e válidas.

O artigo 567 do Código de Processo Penal (CPP) é claro ao definir que “a incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente”. Deste modo, não restam dúvidas de que, na atual conjuntura, não tendo sido Moro apontado como suspeito, mas apenas sem competência para julgar o caso, todas as provas reunidas nos processos por ele conduzido podem ser e devem ser reaproveitadas.

A necessidade de que as provas não sejam desconsideradas vai além da questão legal, consolidando-se, sobretudo, como uma demanda moral. E não se está aqui a fazer juízo de valor sobre o réu, em antecipada condenação. A questão é que para a obtenção de tais provas foram dispendidos tempo e dinheiro públicos. Ignorá-las a esta altura seria como atirar à lixeira os recursos obtidos dos impostos pagos a duras penas pelos brasileiros. Não havendo vício nas provas juntadas ao processo, não faz sentido tal menoscabo dos esforços empreendidos.

Independentemente da sentença a ser anunciada pela Justiça em cada um dos casos, é preciso que as provas sejam avaliadas. A Justiça, sabemos, não deve caminhar conduzida por clamores sociais ou pressões externas. Isso, no entanto, não significa que o Judiciário possa prescindir de coerência com princípios da boa administração pública, como a eficiência e a impessoalidade.

Como Lula tem mais de 70 anos, o tempo para prescrição dos processos é reduzido pela metade. Assim, a celeridade processual é crucial para que consolidemos a noção de segurança jurídica no país e, sobretudo, para que, independentemente do resultado final, seja dada uma resposta à sociedade e ao próprio réu em tempo adequado, sem que se perpetue ainda mais a visão de que no Brasil com manobras acessíveis somente aos hipersuficientes é possível escapar aos ditames legais.

*Alan Bousso, mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP, é sócio do escritório Cyrillo e Bousso Advogados

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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