sexta-feira, 12 de março de 2021

STARTUPS RECEBEM INVESTIMENTOS

 

Fila de startups a caminho do IPO cresce e Bolsa brasileira se prepara para ‘modernização’ de perfil

Com o fenômeno da digitalização na pandemia, empresas de tecnologia ficaram no foco de investidores; lista de candidatas a abrir capital é grande

Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo

O processo de digitalização imposto pela pandemia e o rápido crescimento das empresas de tecnologia, a reboque desse fenômeno, colocaram uma leva de startups a caminho da Bolsa brasileira (B3). O movimento rumo à oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) promete ganhar tração, se a volatilidade do mercado não mudar os planos dessas empresas.

O apetite dos investidores é grande, como ficou provado nas ofertas das empresas “tech” logo no início do ano. A Mosaico, por exemplo, dona dos buscadores Buscapé e Zoom, viu seu valor de mercado praticamente dobrar, marcando a maior disparada de uma ação no primeiro dia de negociação na história da Bolsa brasileira.

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Agora, a grande expectativa está em nomes como Movile, dona do iFood, e Nubank, que, por conta das características de suas rodadas de captação, tendem a abrir capital fora do Brasil.  Essas ofertas ainda devem levar um tempo, mas há diversas prestes a se concretizarem, entre elas a da companhia de comércio eletrônico Privalia e a da empresa de fidelidade Dotz. Estão também mais no início da fila para o IPO a Livetech, de criação de websites, e a Getninjas, maior aplicativo de serviços da América Latina, que ajuda a encontrar profissionais de uma infinidade de serviços.

Bolsa
Segundo especialista, maturidade dos investidores institucionais permitiu entrada das empresas de tecnologia na Bolsa. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há ainda a Bionexo, que pode ser a primeira “health tech” na Bolsa – a empresa desenvolveu um software que conecta hospitais e clínicas com fornecedores de suprimentos médicos. Segundo apurou o Estadão, a próxima “queridinha” dessa nova leva deve ser a Infracommerce, empresa de serviços para sites que já recebeu proposta de investimento de grandes fundos estrangeiros.

Segundo o sócio do BTG Pactual responsável pela área de renda variável, Fábio Nazari, uma das mudanças que abriram a porta para a chegada das empresas de tecnologia à Bolsa brasileira foi a maior maturidade dos investidores institucionais, que são, principalmente, os fundos de ações. “Eles começaram a entender o negócio e a forma de precificar uma empresa de alto crescimento”, comenta o executivo. O desempenho das ações depois da listagem dessas empresas, segundo Nazari, decorre do grande fluxo de investimento vindo das pessoas físicas. “Estamos com vários mandatos”, conta o executivo. A área dedicada no banco a esse setor está crescendo e novas contratações estão previstas para reforçar o time.

Apenas em 2021 chegaram à B3 a Bemobi, de assinaturas de aplicativos e games; a Westwing, de decoração; a companhia de cashback Meliuz; a desenvolvedora de software Neogrid; e a Mobly, de vendas de móveis online. A Eletromidia, considerada uma “adtech” (uma empresa de publicidade com perfil digital), também estreou, mas com menos euforia. Ano passado, fizeram oferta o brechó online Enjoei e a Locaweb – empresa que mais se valorizou em 2020, com 600% de ganho de valor de mercado e seis aquisições depois do IPO.

O chefe das áreas de atacado e banco de investimento do Itaú BBA, Cristiano Guimarães, destaca que no banco há uma área dedicada às empresas de tecnologia, em função da pujança que esse setor tem demonstrado. “Com o cenário de juros baixos e a migração de recursos da renda fixa para renda variável, o momento tem sido positivo para ofertas de ações. O setor de tecnologia se destaca pelo potencial de crescimento dos papéis e pela agenda de digitalização, que também ajudaram o desenvolvimento de muitas dessas companhias durante o ano passado”, explica Guimarães.

O responsável pela cobertura de tecnologia no banco de investimento da XP Investimentos, Lucas Chaise, diz que a pandemia, de fato, explica o ritmo de crescimento dessas empresas. “Elas já eram empresas de crescimento muito elevado, algo que se acelerou no momento pandêmico. Eram empresas muito boas que receberam um vento na popa”, afirma.  Agora, uma das mudanças que o mercado começará a verificar, diante desse novo fenômeno, são as empresas de tecnologia se alocando no principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa. Segundo ele, por conta da liquidez de negociação, a Locaweb deve logo estar no índice.

Segundo o fundador da São Pedro Capital, fundo atento ao setor de tecnologia, Alexandre Dias, o setor está em ebulição também por causa do grande movimento de aquisições que vem sendo observado por grandes companhias. “Isso estimula esse setor, traz mais dinamismo”, afirma o gestor, que é ex-presidente do Google no Brasil e ex-sócio do fundo de private equity Victoria Capital Partners.  “Estamos montando um terceiro fundo de empresas e continuamos olhando com muito interesse para o setor de tecnologia”, diz.

À frente

Com foco de atuação em compradores de empresas de tecnologia, a gestora KPTL (leia-se Capital, em inglês) tem na carteira algumas startups que são potenciais candidatas a um IPO na B3, especificamente dos setores de saúde (heath tech) e agrícola (agrotech). “Vai ser um caminho natural, não vamos ficar de fora dessa alternativa para desmontar a posição dos nossos fundos. Temos 60 empresas na carteira e vamos endereçar esse caminho”, prevê opresidente da KPTL, Renato Ramalho. Na sua carteira, há startups como a Agrotools, que leva solução digital ao agronegócio, e a Magnamed, que desenvolve e fabrica ventiladores pulmonares e aparelhos de anestesia modulares e viu os negócios crescerem muito na pandemia.

“Estamos ainda no início desse processo e isso vai perdurar por um longo período. Empresas de tecnologia são um tipo de produto que a gente nunca teve na Bolsa, e isso começa a ser viável agora”, afirma Ramalho. “Inovação e tecnologia são um caminho para geração de riqueza. Foi o setor responsável pela maior geração de riqueza do planeta. Obrigatoriamente, a Bolsa terá a cada dia mais empresas que estão na fronteira da tecnologia e inovação e o Ibovespa vai ter outro perfil.” Um ponto que merece ser levantado, segundo o executivo, é que os investidores que estão comprando tecnologia precisarão, em sua opinião, aprender a analisar uma empresa do setor e não ir apenas na “onda”. “Ele vai precisar olhar para os fundamentos da empresa”, comenta.

NOTÍCIAS DIVERSAS

 

Vacinas

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini

Há uma preocupação velada – e plausível – dentro do Governo Federal sobre a entrega das vacinas encomendadas dos laboratórios que já tiveram autorização da Anvisa para negociar com o Ministério da Saúde. Ocorre que o governo brasileiro entrou por último na fila das compras, diante dos impasses variados – até o negacionismo do presidente da República e a sua notória desconfiança sobre o produto. Países da Europa que lideram os pedidos mal receberam metade das encomendas. O Ministério divulga que comprou mais de uma centena de milhão de doses, mas não garante quando chegarão. É o maior mico da História da pasta. Não há confirmação da segunda dose suficiente.

Milhões no bolso
Enquanto isso, lobistas dos laboratórios estrangeiros que transitam no Ministério estão faturando US$ 0,50 (cerca de R$ 2,80) com a dupla dose negociada. 

O time todo
Pelo menos 11 funcionários da Comunicação (Assessoria, Marketing, Cerimonial) do Ministério dos Direitos Humanos estão com Covid-19. Todos foram para casa. A ministra Damares Alves mandou fechar os andares para limpeza ontem e hoje.

$pray
O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, pediu ao MPF uma investigação sobre os gastos da comitiva do Spray a Israel. 

Chance para MEI
O presidente Jair Bolsonaro consultou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre ampliar o piso de R$ 80 mil para R$ 160 mil de faturamento para o cadastro dos pequenos como Micro Empreendedores Individuais (MEI). A proposta foi levada pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, que o visitou no Palácio do Planalto.

Oi colega
Aliás, Jefferson segue no esforço de convencer Bolsonaro a se filiar ao PTB para disputar a Presidência ano que vem. O presidente iniciou sua carreira política há mais de 30 anos na legenda, no Rio de Janeiro.

Mário, Pelé, Zico..
Diretoria e conselheiros do Flamengo, clube que administra o estádio do Maracanã, não concordam com PL da Assembleia Legislativa do Rio que altera o nome da arena de Jornalista Mário Filho para Rei Pelé. Para eles, o rei do ‘Maraca’ é Zico.

Garoto propaganda
Sabem quem é um dos garotos-propagandas dos perfumes da Jequiti nos comerciais veiculados pelo SBT? O ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro do dono da emissora. Ele aparece abraçando a esposa, Patrícia Abravanel.

Cadeado no freezer
O prefeito de Araripina, a 682 km do Recife, na luta para manter o povo em casa diante da pandemia, baixou um decreto que proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas em qualquer estabelecimento da cidade, do último dia 10 até dia 18. Quem desobedecer, pagará multa de R$ 20 mil, e o estabelecimento será fechado. 

Saúde dos deputados
Depois que o MP Estadual concedeu auxílio-saúde de até R$ 2 mil a todos os seus funcionários, conforme divulgamos, a benesse ganhou as mesas da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Deputados querem aumentar em 5% o subsídio usando esse artifício. Se passar, serão mais R$ 1.845 mensais na conta.

Fonte da juventude
Em Itaperuna (RJ), 112 anciãos com 120 anos se vacinaram em poucos dias. Depois o povo acusa as autoridades de inépcia na Saúde. Mas o MP e a Polícia já investigam isso.

Fogo na reserva
Dezenas de hectares já foram queimados num incêndio iniciado há uma semana na reserva indígena de 100 hectares da Aldeia Velha, no distrito de Arraial D’Ajuda, em Porto Seguro. Os fortes ventos de março contribuem para o avanço das chamas.{TEXT}

“O que mudar? Para que mudar? Como causar a mudança?“

 

Inovação e transformação digital

Artigo de Ricardo Leite, consultor da Goldratt Consulting Brasil. Versão original em seu Linkedin.

O escopo do que denominamos “inovação” se tornou bastante amplo. Atualmente há uma série de assuntos e derivações associadas à ele. Mesmo adicionando a palavra “digital” na tentativa de reduzir um pouco as possibilidades ainda teremos praticamente um mundo de interpretações possíveis. Praticamente tudo que é novo na área de tecnologia abre um leque enorme de oportunidades para novos negócios. Sejam em pequenas startups, sejam em gigantes estabelecidas. Sejam em empresas ponto com, sejam em corporações tradicionais. Desde a padaria da esquina até o maior fabricante mundial de automóveis. Todos, literalmente todos estão no jogo.

Neste contexto de novidades e de ideias promissoras, a maior parte do tempo os desafios estão relacionados a criar um ambiente propício a criatividade; fomentar o empreendedorismo e o sentimento de dono; aceitar e gerenciar o risco; promover o aprendizado continuo e sobretudo encorajar e organizar o trabalho em equipe. Mas não se engane, há também o lado da gestão dos processos e do portfolio, a limitação dos recursos, a preocupação constante com a escalabilidade e a necessidade de integração com uma realidade “legada”. Mesmo as iniciativas de caráter mais disruptivo mais cedo ou mais tarde terão de ser encaradas sob um prisma mais pragmático do retorno sobre o investimento.

É preciso ter cuidado. As promessas de uma nova realidade de modernidade e transformação nem sempre se materializam em termos de resultados concretos. É sabido que adotar métricas de medição tradicionais para iniciativas de inovação nem sempre é uma boa ideia. Eventualmente é preciso priorizar o aspecto conceitual de se estar introduzindo uma mudança tecnológica sobre o aspecto financeiro. Mas mesmo assim é importante ter clareza de onde se quer e se pode chegar. O direcionador definitivo para avaliar as iniciativas de inovação é o mesmo desde sempre no mundo corporativo. Valor para o cliente!

“Valor é criado através da remoção de uma limitação significativa para o cliente, de uma maneira que não era possível antes, em uma extensão que nenhum outro competidor pode entregar”

– Dr. Eliyahu M. Goldratt

Se você já estava no mercado de trabalho no final dos anos 80 deve se lembrar que naquele momento houve um grande movimento de aquisição e adoção de sistemas de gestão integrados, os ERP. Embaladas pela popularização da baixa plataforma (ou seja, processamento descentralizado), as empresas viam a possibilidade de conectar seus processos internos e automatizar o fluxo de dados. Uma indústria praticamente nova de TI surgiu naquele momento. Fabricantes de ERP nacionais e estrangeiros proliferaram no mercado em conjunto com um grande número de consultorias especializadas em projetos de implantação.

Se naquele momento os motores da mudança foram racionalização, padronização e a oportunidade de adotar melhores práticas globais embutidas nos processos padronizados dos sistemas agora o apelo é aumentar a entrega de valor ao cliente através de uma experiência de compra (muito) melhorada.

Apesar de separados por praticamente três décadas estas duas épocas têm muita semelhança e acredito que os parâmetros de avaliação e seleção das oportunidades são praticamente os mesmos. Por que inovar? O que se procura com novas tecnologias? O quanto importante é para a empresa adotar estas novas tecnologias? Como conseguir realmente mobilizar e motivar o time adequado para a inovação?

Na verdade, estas três questões sempre me vem a cabeça quando falo sobre melhorias e tecnologia:

“O que mudar? Para que mudar? Como causar a mudança?“

– Dr. Eliyahu M. Goldratt.

Eu creio que o ponto central desta discussão é como definir e implementar processos de governança capazes de controlar todos estes movimentos dentro da empresa sem tirar o cerne da inovação que é a capacidade de criar considerando uma realidade que ainda está em formação. Particularmente gosto de pensar em um framework de trabalho onde se possa contar com as pessoas certas no momento certo. Equipes de criação e concepção nem sempre são as mesmas de avaliação e adequação (nem deveriam). Enfim, acredito que cada empresa tenha as suas necessidades e capacidades distintas e achar o caminho de como abordar a Inovação Digital deve ser um assunto que se não está na pauta da gestão estratégica, deverá estar em breve.

Para encerrar esta breve reflexão escolhi duas citações de alguém que sempre me inspira quando converso sobre inovação:

“To turn really interesting ideas and fledgling technologies into a company that can continue to innovate for years, it requires a lot of discipline.“

Tradução:

“Para transformar ideias realmente interessantes e tecnologias incipientes em uma empresa que pode continuar a inovar por anos, é preciso muita disciplina.“

– Steve Jobs

“A lot of companies have chosen to downsize, and maybe that was the right thing for them. We chose a different path. Our belief was that if we kept putting great products in front of customers, they would continue to open their wallets.“

Tradução:

Muitas empresas optaram por reduzir o tamanho, e talvez essa seja a coisa certa para elas. Nós escolhemos um caminho diferente. Acreditávamos que, se continuássemos a apresentar produtos excelentes aos clientes, eles continuariam a abrir as suas carteiras. “

– Steve Jobs

Apresentamos a nossa Startup Valeon aqui do Vale do Aço pensada e feita para atender às necessidades do comércio empresarial da região por não ter um produto como o que estamos apresentando. Primeiro, que muitas empresas não divulgam os seus produtos e a sua logomarca para o público alvo, segundo algumas divulgam mais não conseguem atingir a sua clientela e terceiro, muitas empresas não fortalecem o vínculo com os clientes.

Pensando nesses problemas, fizemos a nossa Plataforma Comercial Valeon para atender a demanda cada vez maior das empresas da região e a sua empresa está incluída nesse projeto e sendo uma ideia inovadora achamos que merece uma melhor apreciação dessa empresa.

VOCÊ CONHECE A VALEON

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A Valeon possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A Valeon já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A Valeon além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

FORÇAS POLÍTICAS DE CENTRO QUEREM ESCOLHER O SEU CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

 

Lula no páreo pressiona centro a definir candidato para eleições de 2022

 Felipe Frazão – Jornal Estadão

BRASÍLIA – A entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no páreo eleitoral de 2022 pressionou partidos que tentavam construir uma alternativa de centro contra o presidente Jair Bolsonaro a agilizar a escolha de um candidato ao Palácio do Planalto. Líderes políticos avaliam que a anulação das condenações criminais que impediam Lula de se candidatar a presidente vão precipitar as conversas a partir de agora para alcançar o mais rápido possível o que ainda não conseguiram: definir um nome de baixa rejeição avesso aos extremos e evitar o fracasso dos esforços por uma frente ampla.

A perspectiva de polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro como antagonistas impõe decisões mais rápidas, admitem dirigentes partidários de centro. Eles passaram a ser mais cobrados para apresentar um candidato logo, tanto internamente quanto nas redes sociais, por militantes. Em público, dizem que a redução da campanha presidencial à dicotomia entre lulismo e bolsonarismo reforça a necessidade de apresentarem uma terceira via.

Um cacique do DEM disse, reservadamente, que se os partidos da centro-direita à centro-esquerda não conseguirem uma unificação, salvando a frente ampla, a pulverização praticamente os deixa de fora do segundo turno. A disputa viraria, nas palavras desse dirigente, uma “guerra de rejeições”. Para evitar esse cenário, pretendem escolher quem for capaz de aglutinar a maior parte das forças políticas em diálogo.

Na última terça-feira, dia 9, o PSDB marcou a realização de prévias nacionais para escolher um pré-candidato ao Planalto, com até o momento dois nomes cotados: os governadores João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Sem condições de impor seu nome e se ver aclamado presidenciável tucano, Doria disse apoiar as prévias. Elas foram agendadas para 17 de outubro, com uma antecipação de quase um ano em relação às eleições de 2022. O processo interno é inédito para uma candidatura presidencial e nunca foi realizado com tanta antecedência. Doria já disputou e venceu prévias locais para a prefeitura e o governo de São Paulo.

O apresentador da TV Globo Luciano Huck, ainda sem partido, também se movimenta. Ele marcou novas conversas com dirigentes partidários para discutir o cenário agora alterado com Lula. Huck deve voltar a conversar nos próximos dias com ACM Neto, presidente nacional do DEM. Em sua única manifestação pública sobre o julgamento favorável ao petista no Supremo Tribunal Federal, Huck afirmou que “figurinha repetida não completa álbum”, numa indireta que procura lançar dúvidas sobre a aderência popular de uma nova candidatura de Lula. A publicação no Twitter foi interpretada por interlocutores como um sinal de que deseja se manter como opção.

Sérgio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, tem se distanciado cada vez mais de uma candidatura presidencial. Na iniciativa privada, não quis comentar acerca dos recursos vencidos por Lula. Mantém apoio reduzido no Congresso, como setores do Podemos, mas ainda é popular e soma a simpatia de movimentos anticorrupção e de militares das Forças Armadas, principalmente aqueles desiludidos com Bolsonaro.

Moro perdeu fôlego político ao sair do governo Bolsonaro em litígio com o presidente, a quem acusou de interferir em órgãos como a Polícia Federal, e desgastou-se com a revelação de mensagens trocadas com procuradores da Lava Jato, hackeadas e apreendidas na Operação Spoofing. Agora, o STF pode chamuscar ainda mais Moro, com o julgamento de sua suspeição nos casos de Lula. O placar está empatado, e o voto decisivo será do ministro Kassio Nunes Marques, indicado à Corte por Bolsonaro. Marques interrompeu o julgamento para analisar o processo nesta terça-feira. O pedido de “vista” não tem prazo para terminar.

Partidos de esquerda, de centro e de direita conversavam na tentativa de formar uma frente ampla que simbolizasse o contraponto a Bolsonaro, papel que deverá agora ser personificado por Lula. Setores majoritários do PT resistiam em aderir à ideia da frente, abrindo mão de impor um nome próprio como cabeça de chapa. Com o restabelecimento dos direitos políticos do ex-presidente, dirigentes partidários avaliam que ele conseguirá galvanizar apoios à esquerda e reduzir espaço para nomes do mesmo campo político, como Guilherme Boulos, do PSOL, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB. Mesmo sufocado no espectro de esquerda, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, do PDT, promete manter a candidatura, depois de ficar em terceiro lugar em 2018.

Fazem parte das conversas da frente ampla o DEM, que testa a popularidade do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o PSB, o Podemos, o PDT, o Cidadania, o PV e a Rede Sustentabilidade. Embora ainda não participe ativamente das conversas, o PSD é visto como um partido com chances de integrar a frente, apesar de fazer parte do bloco do Centrão e estar mais próximo a Bolsonaro.

Partidos envolvidos na frente ampla querem evitar ações precipitadas. Ecos da eleição interna na Câmara ainda fragilizam a continuidade das conversas com o MDB, o mais provável destino do ex-presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

E foi Maia quem iniciou o movimento em direção a uma possível frente ampla com a participação de Lula. O deputado disse que ninguém precisa gostar do petista para entender a diferença entre ele e Bolsonaro. “Um tem visão de país; o outro só enxerga o próprio umbigo”, escreveu ele. A postagem não foi à toa: representa a tentativa de uma ala do centro de atrair o PT para a campanha de 2022.

Questionado ontem sobre o elogio do ex-presidente da Câmara, que participou das articulações para o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, Lula afirmou estar aberto a conversas.

Maia tem dito que o calendário ideal do campo de centro é chegar a um nome até o fim deste ano, mas ninguém garante que ele seja cumprido. A recente implosão da aliança na Câmara, com traições no DEM, no PSDB, no PSB e no PDT, esfriou os diálogos, sobretudo porque o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), foi duramente derrotado.

Apesar disso, Baleia diz que a viabilidade de Lula não altera os esforços da frente ampla e que o MDB quer fazer parte da escolha “sem agonia”. “Não muda. Acho que avança. Mas avança sem agonia. Não adianta a gente lançar um nome sem conversa. E a conversa tem de começar ainda dentro dos partidos”, afirmou Baleia ao Estadão. “No MDB, vou iniciar uma série de conversas virtuais específicas sobre o tema. Vou ouvir todos os parlamentares, governadores e presidentes de diretórios”, completou. “O MDB é o partido de centro, e queremos um caminho para 2022 fora dos extremos.”

CÂMARA DOS DEPUTADOS CONCLUIU A VOTAÇÃO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

 

Câmara conclui votação de PEC do auxílio emergencial; Lira diz que promulgação deve ser nesta sexta

Parlamentares votaram em peso para manter o limite de R$ 44 bi para o benefício; após a promulgação pelo Congresso, governo vai editar duas medidas provisórias de vigência imediata estabelecendo a volta da ajuda

Idiana Tomazelli, Anne Warth e Camila Turtelli, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A Câmara dos Deputados concluiu a votação da PEC emergencial, que vai abrir caminho à nova rodada do auxílio a vulneráveis na pandemia e criar instrumentos de ajuste nas despesas em momentos de comprometimento severo das finanças de União, Estados ou municípios ou de calamidade nacional.

Após a desidratação que impôs uma derrota à equipe econômica na quarta, 10, e permitiu que servidores públicos continuem com o direito à progressão automática nas carreiras e o respectivo aumento nos seus salários mesmo no caso de crise fiscal severa ou calamidade, o governo manteve a base mobilizada para barrar novas mudanças.

Os parlamentares votaram em peso para manter o limite de R$ 44 bilhões para o pagamento do auxílio emergencial, o plano de redução dos subsídios e incentivos tributários à metade em um prazo de oito anos e a possibilidade de usar recursos presos no caixa do governo para abater mais de R$ 100 bilhões da dívida pública.

Câmara dos Deputados
Câmara passou a quinta-feira analisando os destaques do texto da PEC. Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados

Com o encerramento da votação, o próximo passo é a promulgação do texto pelas mesas diretoras do Congresso Nacional. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o ato deve ocorrer o mais rápido possível. Segundo ele, o entendimento da Consultoria Legislativa da Câmara é o de que a PEC pode ser promulgada já nesta sexta, 12, mesmo com as mudanças feitas pelos deputados em relação ao texto que veio do Senado.

“Houve destaques supressivos, mas que não alteram a essência da PEC, não alteram o mérito do texto, e a nossa assessoria e os consultores da Casa entendem que, da nossa parte, ela está pronta para promulgação”, afirmou Lira. 

A decisão final, porém, dependerá da Consultoria Legislativa do Senado.

Após a promulgação, o governo está pronto para editar duas Medidas Provisórias, com vigência imediata: uma para estabelecer as regras da nova rodada do auxílio, outra para abrir o crédito extraordinário que libera os recursos que bancarão o programa.

Após a edição das MPs, o governo assina novos contratos com Caixa e Dataprev para a prestação de serviços ligados à operação do auxílio. Depois, a Dataprev finaliza os cruzamentos, e então a Caixa efetua o pagamento aos beneficiários.

O desenho prevê quatro parcelas mensais de R$ 150 para famílias de uma pessoa só, R$ 250 para a média das famílias e R$ 375 para mulheres que são únicas provedoras da família. O governo prevê contemplar cerca de 45 milhões de pessoas.

Os cálculos foram feitos de acordo com o limite de R$ 44 bilhões e há hoje “pouca gordura” para fazer qualquer alteração no valor dos benefícios, como mostrou o Estadão/Broadcast.

O texto da MP deve conter um artigo que permitirá a prorrogação do período de quatro meses de pagamento do auxílio. No entanto, segundo apurou o Estadão/Broadcast, o limite de R$ 44 bilhões na prática impede o acionamento dessa extensão. “Precisa de Orçamento para uma prorrogação”, alertou uma fonte que participa das negociações.

Na área econômica, o trabalho é para manter o texto com os R$ 44 bilhões. Há a avaliação de que ainda é muito cedo para saber se o governo precisará ou não lançar uma nova rodada do auxílio para além dos quatro meses que já estão nos planos atuais. Segundo uma fonte ouvida pela reportagem, a doença precisa ser monitorada diante dos sinais de piora em indicadores de casos e óbitos, mas “não dá para ser oportunista”.

Além disso, a área econômica conta com um avanço mais significativo no calendário de vacinação, sobretudo com a promessa da Pfizer de tentar antecipar doses do imunizante para o Brasil.

Na avaliação de duas fontes, é muito cedo para dizer hoje se o governo precisará ou não de mais parcelas do auxílio. Caso elas sejam necessárias, haveria dois caminhos: nova mudança na Constituição, para elevar o limite de R4 44 bilhões, ou decretação de calamidade, uma vez que a PEC já estará promulgada com o novo protocolo para crises agudas.

Acordo

Durante a votação nesta quinta, 11, o governo honrou o acordo feito com os deputados para evitar uma desidratação total na PEC. Eles liberaram no texto promoções e progressões das carreiras do funcionalismo mesmo em momentos de crise. Por outro lado, reajustes salariais, inclusive para repor a inflação, poderão ser congelados. Foram 444 votos a favor da mudança no texto e 18 contra.

Na sessão de quarta, com medo de não ter os votos para barrar um destaque do PT, que derrubaria todos os gatilhos, incluindo o congelamento de salários de servidores e outras despesas do governo, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), propôs manter a possibilidade de progressões e promoções nas carreiras, mesmo durante os estados de calamidade ou emergência fiscal (quando há elevado comprometimento das finanças).

A estratégia da equipe econômica foi baseada em cálculos internos sobre o quanto cada uma dessas medidas poderia render de economia aos governos estaduais, municipais e à própria União.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast, técnicos calculam que o impacto das progressões na União pode ficar entre R$ 500 milhões a R$ 2 bilhões, a depender da quantidade de servidores com ascensão na carreira programada para o ano. Na média, o impacto é calculado em R$ 1,2 bilhão ao ano. Já nos Estados e municípios, o custo com as progressões é mais elevado e fica entre R$ 10 bilhões e R$ 14 bilhões ao ano, porque muitos ainda possuem benefícios como triênios ou quinquênios (reajuste automático a cada três ou cinco anos de serviço, respectivamente).

Embora bilionários, esses impactos são menores se comparados à economia potencial com o congelamento de salários de servidores. Só na União, essa medida tem potencial para poupar de R$ 10 bilhões a R$ 15 bilhões ano ano, valores que precisariam ser gastos caso fosse concedida a reposição da inflação. Nos governos regionais, esse valor é ainda maior. Por isso, a “troca” foi considerada um mal necessário para evitar um desfecho dramático na votação.

Câmara já tinha barrado desvinculação de fundos

O governo já tinha sido derrotado na votação que tirou da PEC o trecho que tirava o carimbo de R$ 65 bilhões em receitas hoje atreladas a fundos ou despesas específicas. A medida daria maior flexibilidade na gestão do Orçamento e da dívida pública.  Os parlamentares derrubaram um dispositivo que daria mais flexibilidade ao governo na gestão do Orçamento ao aprovar destaque do PDT, que retirava do texto a possibilidade de desvinculação de receitas hoje carimbadas para órgãos, fundos ou despesas específicas. Foram 178 votos a favor e 302 contra a retirada – eram necessários 308 votos contrários para manter o texto do relator.

“O governo cedeu um pouco, o plenário da Câmara ajustou”, disse o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). “É importantíssimo que nós terminemos hoje essa PEC, para dar tempo de se tomar as providências necessárias e passarmos para outros assuntos, que são justamente a reforma administrativa, com a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) já instalada, e a liberação do relatório (da reforma tributária).”

A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) criticou o fato de a PEC não trazer os detalhes do auxílio, enquanto “constitucionaliza o arrocho” nos gastos do governo.

Bolsonaro comemora aprovação

O presidente Jair Bolsonaro comemorou a aprovação do texto-base em segundo turno. Ele agiu para desidratar a PEC, abrindo uma negociação para liberar promoções e progressões de funcionários públicos quando houver congelamento de despesas em períodos de crise fiscal para proteger especialmente as carreiras de segurança.  A atuação do presidente foi na linha oposta da sua equipe econômica. Guedes e também o presidente do Banco CentralRoberto Campos Netoatuaram para barrar as modificações e evitar a perda de economia potencial com o texto.

Bolsonaro afirmou que “às vezes, a gente não pode ganhar de 3 a 0, 4 a 0, 5 a 0. Se tiver 2 a 1, foi uma vitória”. “Foi uma vitória que tivemos hoje que soma para que a nossa população tenha dias melhores. Soma para que os investidores tenham cada vez mais confiança”, disse o presidente durante evento online da Frente Parlamentar da Micro e Pequena Empresa, com a participação do Sebrae.

POPULAÇÃO PRECISA DE UMA PLANO NACIONAL DE VACINAÇÃO QUE ATINJA TODOS

 

Estamos tomados por uma doença coletiva que nos cega e confunde

País teria um plano de vacinação sério se instituições funcionassem como deveriam

Laura Karpuska*, O Estado de S.Paulo

Estamos doentes. Não é apenas o vírus da covid-19 que nos faz adoecer e que nos mata. Estamos tomados também por uma doença coletiva que nos cega e confunde, deixa-nos sem ação. A esperança é tirada de nós a cada dia, com mais brasileiros morrendo. Somos distraídos pelos absurdos promovidos pelo governo federal. É como se estivéssemos todos bebendo de um poço envenenado, que nos deixa inebriados. 

A política tem tomado conta das nossas vidas. Mas não de forma eficiente. Pessoas que nunca saberiam dizer em quem votaram para deputado – ou talvez até para presidente – emitem opiniões fortíssimas a respeito de política de preços de combustíveis, de regulação de monopólio e de estratégias de contenção em uma pandemia. O papel do especialista é sufocado pelo suposto conhecimento que muitos obtiveram pelas redes sociais. Conhecimento objetivo se mistura com ideologia.

Vacinação no Brasil
Enquanto exigir um plano de vacinação for considerado militância, a democracia não funcionará no Brasil. Foto: Joedson Alves/Efe

Um conhecido, que não se interessava por política, agora fala com desenvoltura sobre as medidas tomadas pelo governo. Ele também discursa sobre não haver ninguém “mais experiente” para governar o Brasil e “acabar com a corrupção” do que Jair Bolsonaro. Quando perguntado sobre os mais variados assuntos, sempre tem uma resposta. “E se a pessoa X for candidata?”; “Não tem experiência”; “Não acha ruim intervenção na Petrobrás?”; “É por conta dos governos anteriores que essas coisas precisam ser feitas”; “Mas e a falta de um programa de vacinação federal?”. Culpa dos governadores e dos comunistas. O discurso pronto foi entregue a ele em algum grupo de WhatsApp, em que os apoiadores do governo aprendem tudo isso e desaprendem a realidade. 

Do outro lado, ficamos enfurecidos a cada loucura cometida. É contrato de vacina rejeitado, é ema, é leite condensado, é mansão, é minimização da dor das famílias que perderam entes queridos na pandemia. Reclamamos, trocamos indignações, alguns memes, pois sem um cigarro ninguém aguenta esse rojão, mas, além disso, nada fazemos. Em uma conversa recente com amigos, perguntei se eles não estavam indignados com a falta de um plano de vacinação nacional factível e sério. Muito, responderam. Por que, então, nada faziam? As respostas foram que não eram militantes e que tinham receio de sofrer alguma repercussão negativa no trabalho. Alguns são funcionários públicos e por lei não podem se manifestar politicamente, outros são de empresas privadas e não querem ter seu nome atrelado a um confronto com o governo. Alguns, empresários, não querem se expor. 

Enquanto exigir um plano de vacinação nacional for considerado militância partidária, a democracia não funcionará no Brasil. Engajamento não é estar obcecado com cada ação tomada pelo governante, nem mesmo compartilhar vídeos contra ou a favor do governo nas redes sociais. Engajamento também nada tem a ver com preferência pela política A ou B. Alguns podem priorizar uma reforma da Previdência. Outros, um aumento da carga tributária. Há custos e benefícios em todas essas políticas, que podem ser debatidos de forma técnica e moral em um ambiente político saudável. Todos temos nossas preferências e vestiremos a camisa que as representa. Mas estou falando de outra coisa, estou destacando a importância do engajamento no ambiente político, do espaço comum que todos ocupamos, ou que deveríamos ocupar. 

Vemos o governo federal brasileiro não priorizando um plano de vacinação nacional e nada fazemos. Precisamos ocupar esse espaço político que nos pertence. Precisamos ocupar o “polity”. Não podemos nos deixar vencer pelo medo de que o Estado nos reprima simplesmente porque monitorarmos seu desempenho.

Esta é a minha primeira coluna neste espaço. Pensei em escrever sobre temas como democracia, cidadania, accountability eleitoral, checks and balances, fake news, o papel do establishment na saúde da democracia. Mas foi impossível não começar com o principal: nossa depressão coletiva, que nos deixa inertes. Nenhum governante está acima da cadeira que ocupa. Numa democracia, as instituições estão acima dos indivíduos que as representam para que o bem-estar social seja o objetivo. Tenho dúvidas se as instituições brasileiras estão funcionando como deveriam. 

Nossa inação é um exemplo material disso. Se estivessem, nem o povo nem o establishment econômico estariam tão calados diante da falta de um programa de vacinação nacional sério. Algo fundamental para a vida e, claro, para a economia.

*DOUTORA EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DO ESTADO DE NOVA YORK E PESQUISADORA DA EESP-FGVTudo o que sabemos sobre:economia

DESENVOLVIMENTO DO BRASIL DEPENDE DA VACINA E DA ECONOMIA

 

Vacina e economia

A maneira mais eficaz de combater o coronavírus e de reerguer a economia é a vacina, porém, em diversos momentos, o presidente Bolsonaro desprezou qualquer coordenação do contra-ataque ao vírus

Celso Ming, O Estado de S.Paulo

Uns entendem que o presidente Jair Bolsonaro não tem estratégia na sua política econômica. Outros, que não tem rumo. Outros, ainda, que ele não sabe o que quer.

É bom começar por discordar desses últimos. Bolsonaro sabe o que quer. Mais que tudo, ele quer se reeleger em 2022. Porém, a partir daí, fica tudo muito confuso, especialmente desde segunda-feira, quando inesperadamente o Supremo limpou a ficha do ex-presidente Lula e o tornou elegível.

Para garantir sua chance de se reeleger, Bolsonaro sabe que tem de mostrar serviço na economia. Não poderá pretender sucesso nas eleições se o desemprego continuar atingindo 13,5% da população ativa, se a renda continuar despencando, se continuar o ritmo de falência de milhares de empresas, se tantas e tradicionais fábricas começam a ser fechadas, como aconteceu com a Ford em Santo André, com a Mercedes Benz em Iracemápolis, com a 3M em São José do Rio Preto e com a Sony em Manaus.

A razão pela qual Bolsonaro se rebelou contra as medidas de distanciamento social para enfrentar a covid-19 e se rebelou nesta quinta-feira diante da nova “fase emergencial” decretada pelo governo do Estado de São Paulo é o fato de que elas derrubam o consumo, o faturamento do comércio e da indústria, produzem desemprego. É uma atitude imediatista e contraproducente, porque a melhor forma de conter o contágio e de retomar a atividade e o emprego é isolar temporariamente a população.

Bolsonaro recomendou remédios sem eficácia contra a covid-19, como a cloroquina, e desprezou qualquer coordenação do contra-ataque ao vírus. Até mesmo na sua especialidade, a logística, o atual ministro da Saúde, o general intendente  Eduardo Pazuello, teve atuação desastrada. Faltou UTI, faltou oxigênio, faltaram seringas, falta vacina, faltou tudo, sobrou incompetência.

Bolsonaro
Para garantir sua chance de se reeleger, Bolsonaro sabe que tem de mostrar serviço na economia e mudar sua postura em relação à vacina para ajudar a dar coerência à política econômica. Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters – 10/03/2021

Se admira a política sanitária de Israel, como afirma, Bolsonaro teria feito o que Israel vem fazendo: depois de ter isolado a população, acelerou a vacinação. Hoje Israel apresenta o maior índice de vacinação do mundo: 104,81 doses ministradas por 100 habitantes.

A maneira mais eficaz de combater o coronavírus e de reerguer a economia é a vacina. O ministro da Economia tem lançado todos os dias advertências nesse sentido. Mas também nesse ponto, Bolsonaro teve atitude desastrosa. Boicotou as vacinas e impediu a importação de suprimentos enquanto estiveram disponíveis.

Nas últimas semanas parou de meter medo na população e parece ter mudado em alguma coisa sua atitude. Parece ter entendido que devesse adotar uma espécie de plano vacina, tomou a iniciativa de reunir-se com representante da Pfizer e encomendou um lote de 14 milhões de doses ao Brasil até junho. Nesta quarta-feira, sancionou projeto de lei aprovado pelo Congresso que autoriza o setor privado a comprar vacinas.

Ainda é pouco e muito tarde. E sabe-se lá se essa repentina conversão é para valer. O País se aproxima das 300 mil mortes pela covid-19. Apesar da forte recuperação mundial, a atividade econômica interna ainda não encontrou sustentação, a renda vai se desmilinguindo, o desânimo se espalha. E não fica claro como essa nova postura de Bolsonaro em relação à vacina pode ajudar a dar coerência à política econômica.

CONFIRA

>>> Salto da inflação 

Em 12 meses, a inflação medida pelo IPCA disparou para 5,2%. Nada menos que 63% dos itens que compõem o índice de preços sofreram alta. A meta para 2021 é de uma inflação de 3,75%.

A inflação ganhou força, apesar da contração do consumo pela queda da renda e pelo desemprego. Tem muito a ver com o salto dos preços dos combustíveis e dos alimentos, itens que foram empurrados pelo avanço do dólar. Inevitável agora a alta dos juros básicos (Selic), decisão a ser tomada dia 17.

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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