sábado, 13 de março de 2021

ACUSAM O GOVERNO DE NÃO TER PLANAOS E SER OMISSO

 

Um governo sem plano e sem força

O governo Bolsonaro não planeja bem e ainda se omite da articulação política. Descumpre, portanto, responsabilidades básicas do Executivo

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A tramitação da PEC Emergencial no Congresso mostra um governo incapaz de articular minimamente propostas responsáveis para o País. A rigor, não se pode nem mesmo acusar a oposição de irresponsabilidade fiscal, pois, como ficou evidente, a principal tolerância com o afrouxamento dos gatilhos fiscais veio do presidente Jair Bolsonaro, preocupado que estava em não desagradar aos grupos que formam sua base eleitoral. Uma vez mais observa-se na atuação deste governo a antítese de qualquer espírito reformista. 

Vale lembrar que a PEC Emergencial, prevendo restrições e mecanismos para conter os gastos públicos, foi proposta pelo governo federal no fim de 2019, dentro do pacote de medidas intitulado “Plano Mais Brasil”. No entanto, o governo logo se esqueceu dela, não fazendo nenhum esforço para sua aprovação.

Ao longo do segundo semestre de 2020, o então presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, alertou várias vezes para a necessidade de sua aprovação. “Sem a PEC Emergencial, (o governo) vai ter muita dificuldade de aprovar o Orçamento”, disse Maia. O fato é que no ano passado nem o Orçamento nem a PEC Emergencial foram aprovados.

Agora, com o recrudescimento da pandemia e a consequente necessidade de restabelecer algum auxílio à população mais carente, o governo incluiu na PEC Emergencial um dispositivo possibilitando o pagamento de um novo benefício emergencial, no valor total de R$ 44 bilhões. Foi sobre esse novo texto que Senado e Câmara se debruçaram nos últimos dias.

A história recente da PEC Emergencial também não é nada meritória para o governo Bolsonaro. Em primeiro lugar, tentou-se aproveitar a emergência do tema para aprovar de supetão uma medida drástica e especialmente sensível em tempos de crise – a desvinculação de receitas obrigatórias para educação e saúde. Em vez de abrir um debate sério sobre o tema, o governo tentou um atalho oportunista. O Congresso excluiu a mudança.

A fragilidade e as incoerências do governo Bolsonaro ficaram especialmente evidentes na discussão central relativa à nova versão da PEC Emergencial. Onde cortar gastos para tornar viável o pagamento do novo auxílio emergencial? A equipe econômica propôs alguns gatilhos, em especial a proibição de promoções e progressões das carreiras do funcionalismo.

Como era de esperar, houve resistência à medida. Nesse embate entre responsabilidade fiscal e interesse eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro optou pela via mais fácil, endossando a tentativa de fatiar a PEC Emergencial, o que excluía parte das medidas mais restritivas.

A saída irresponsável só não foi aprovada em razão do intenso trabalho do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, com os parlamentares. Conseguiu mostrar os efeitos desastrosos que essa medida teria sobre a confiança dos investidores e a recuperação econômica.

De toda forma, com o visível desinteresse do governo na defesa de uma mais intensa responsabilidade fiscal, tornou-se inviável politicamente a manutenção no texto da PEC Emergencial da proibição da progressão automática nas carreiras do funcionalismo público, com o respectivo aumento dos salários. Ou seja, mesmo durante os estados de calamidade ou emergência fiscal (quando há elevado comprometimento das finanças), os funcionários públicos continuarão dispondo de progressões e aumentos automáticos.

A agravar a história da PEC Emergencial, o programa do novo auxílio emergencial foi muito mal planejado. “O auxílio emergencial é um benefício grande demais, para um número de pessoas grande demais. Na entrada da crise, quando você não sabe o que vai acontecer, é uma boa ideia. Mas a gente não pode continuar com um programa essencialmente cego. (…) Se tiver um campeonato de programa mal desenhado, o auxílio emergencial ganha disparado”, disse ao Estado o economista Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Insper e um dos maiores especialistas do País em políticas sociais.

O governo Bolsonaro não planeja bem e ainda se omite da articulação política. Descumpre, portanto, responsabilidades básicas do Executivo. O País paga o preço.

LAVA JATO TERÁ O MESMO FIM DA OPERAÇÃO MÃOS LIMPAS NA ITÁLIA

 

‘Lava Jato vira Mãos Limpas se Moro for declarado parcial’, diz Fachin

Em entrevista ao Estadão, ministro do STF destacou que decisão que beneficiou Lula foi ancorada em 20 precedentes da Corte; sobre protestos que chegaram à sua vizinhança, afirmou que prefere ‘solidariedade dos colegas às ameaças e às intolerâncias’

Rafael Moraes Moura/ BRASÍLIA

Na véspera de a Lava Jato completar sete anos de existência, o relator da operação no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, disse ao Estadão que, se o ex-juiz Sérgio Moro for declarado parcial, a investigação terá o mesmo fim que a Operação Mãos Limpas teve na Itália. Fachin anulou nesta semana as condenações impostas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em um esforço para esvaziar as discussões na Segunda Turma sobre a suspeição do ex-magistrado na ação do triplex do Guarujá.

O ministro Gilmar Mendes, no entanto, contrariou o colega e, com o apoio da maioria, decidiu retomar o julgamento – o placar está empatado em 2 a 2, faltando o voto de Kassio Nunes Marques. A discussão pode sofrer uma reviravolta, já que a ministra Cármen Lúcia, que se posicionou em dezembro de 2018 contra o pedido de Lula, avisou que deve se manifestar novamente.

Confira abaixo os principais pontos da entrevista de Fachin, concedida por meio de videoconferência e e-mail.

A Lava Jato completa sete anos no próximo dia 17. Qual vai ser a história da investigação?

Depende do que for decidido nos próximos dias ou nos próximos meses. E, portanto, se continuar no caminho de entender que há suspeição (do ex-juiz federal Sérgio Moro), a história da Lava Jato será a história do que aconteceu com as Mãos Limpas na Itália (investigação conduzida por um time de procuradores que desvendou um esquema de corrupção sistêmico naquele país, expedindo mais de 3 mil mandados de prisão e investigando mais de 6 mil pessoas investigadas, incluindo empresários e parlamentares. A operação, no entanto, foi desmontada antes de completar três anos, após a eleição de Silvio Berlusconi.) É a história de uma derrocada, em que o sistema impregnado pela corrupção venceu o sistema de apuração de investigação e de condenação dos delitos ligados à corrupção. Portanto, esse é o diagnóstico que eu faço.

Quando o senhor assumiu a relatoria da Lava Jato em 2017, se comprometeu a agir com “prudência, celeridade, responsabilidade e transparência”. Quatro anos depois, como o senhor vê a sua atuação à frente dos casos da maior investigação contra corrupção que já existiu no País?

Entendo que para esse questionamento os números falam melhor que palavras. De acordo com o último levantamento feito pelo meu gabinete, com base em dados oficiais atualizados em 10/03/2021, desde o início da operação Lava-Jato, foram homologadas 120 colaborações premiadas e arrecadado cerca de R$ 1.369.665.781,61 (um bilhão, trezentos e sessenta e nove milhões, seiscentos e sessenta e cinco mil, setecentos e oitenta e um reais e sessenta e um centavos), isso para citar apenas o STF, sendo que há valores mais expressivos recuperados nos juízos de primeiro grau. Foram proferidos, desde 2016, mais de 12.800 atos decisórios (entre decisões monocráticas e despachos) e protocolados mais de 20.863 petições e expedientes pela defesa Ministério Público e outros órgãos.

Para além dos números, sempre tenho destacado que o enfrentamento à corrupção deve ser apartidário, democrático, efetivo e constante. É dever de todos lutar contra esse mal que assola o país e foi evidenciado nos últimos anos de maneira assombrosa.

Faço essa constatação não como lamento, mas como reconhecimento do valoroso trabalho prestado por instituições que, ao longo dos últimos anos, souberam profissionalizar e instrumentalizar o controle público. Graças a elas esse trabalho vai continuar e são altos os custos para quem se aventurar pelo desvio. A tarefa agora é evitar que o retrocesso pontual na política de combate à corrupção se transforme em retrocesso institucional.

Por que o senhor derrubou as condenações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agora?

A observância da jurisprudência do Tribunal traduz a máxima segundo a qual casos análogos devem ser tratados de forma análoga. Como dizia o juiz da Corte Suprema dos Estados Unidos Brandeis, ou temos igualdade e democracia, ou não temos democracia. Como Relator da Lava Jato no Tribunal, busquei defender a manutenção da competência da 13ª Vara para que ela apurasse os delitos contra a Petrobrás que tivessem sido praticados de modo semelhante. A maioria da Segunda Turma, no entanto, optou por restringir a competência apenas aos casos que envolvessem diretamente a estatal. A posição é respeitável e tem amparo na posição de grandes juristas. Ainda que mantenha reservas em relação a esse entendimento, não posso impor aos jurisdicionados a minha posição minoritária.

O presidente Jair Bolsonaro criticou a decisão, dizendo que o senhor “sempre teve forte ligação com o PT”. Como o senhor responderia?

Na decisão da última segunda-feira, destaco um histórico de precedentes firmados pelos órgãos colegiados, em especial da Segunda Turma do Tribunal, sobre a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba. Não se trata de um entendimento individual, ao contrário, trata-se da reiterada jurisprudência da Corte em que, em mais de 20 casos, entendeu pela retirada de processos da referida vara federal, dos quais, na maioria das vezes fiquei vencido. Como disse, em relação a outros agentes políticos que o Ministério Público acusa de praticarem condutas semelhantes à do ex-Presidente da República, o Plenário e a Segunda Turma entenderam pela retirada da competência do Juízo de Curitiba. Por força dos princípios da isonomia e do juiz natural, deve-se garantir o mesmo tratamento e interpretação a todos os investigados em situação análoga, independentemente de quem seja e de qual partido faça parte. Só assim estará garantida a imparcialidade da atuação jurisdicional.

A decisão do senhor repercutiu no mundo político.

A decisão, a rigor, embora seja de segunda, já está no passado. As repercussões fazem parte da vida democrática. E a vida democrática é um canteiro de obras, e não yn olhar contemplativo de um quadro como o da Monalisa em silêncio. Isso tudo integra exatamente uma sociedade democrática. Eu estou mesmo preocupado é com os ganhos institucionais que nós tivemos e eu lhe diria que os ganhos que tivemos nos últimos 30 anos, que foram propiciados pela Lava Jato, são inegáveis.

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

Quais foram esses ganhos institucionais?

Se você olhar, da Constituição Federal de 1988 pra cá, coisas institucionais extremamente positivas aconteceram. As carreiras públicas tiveram a regra do concurso público e isso gerou uma qualificação dos agentes públicos, do Ministério Público, da Polícia Federal… Eu estive em Brasília trabalhando em 1986, 1987, quando integrei um dos subgrupos que fazia parte do programa de governo do falecido presidente Tancredo Neves e conheci o procurador-geral da República, que respondia pela advocacia da União. Essa separação foi um ganho institucional muito grande. E leis que vieram, embora com alguma demora, a lei sobre lavagem de capitais, a adesão do Brasil a tratados e convenções internacionais, na área de direitos humanos, um conjunto de normas internacionais, foi internalizada regularmente no Brasil, foram ganhos extraordinários. A lei sobre colaboração premiada e organização criminosa, enfim, portanto, a Lava Jato não é uma chuva, enxurrada de um dia. É um percurso de um desejo de um Estado que seja ao mesmo tempo democrático, eficiente e evidentemente sem corrupção. Portanto, os ganhos institucionais que foram proporcionados a partir da Lava Jato são inegáveis. Vejam: você tem aí em mãos o relatório atualizado do nosso gabinete, é apenas uma franja, passamos à casa do bilhão, 120 delações homologadas. Quantas até agora foram declaradas nulas, anuladas? Tem alguns questionamentos, algumas revisões, tem 120 delações premiadas, mostrou-se um instituto eficaz e efetivo.

Mas também tivemos denúncias rejeitadas pela Segunda Turma, por decisão da maioria, contra a vontade do senhor.

Como tudo no plano do direito, abriu-se um espaço no canteiro de obras para a disputabilidade dos sentidos. Afinal de contas, qual o valor da colaboração premiada? Aí o tribunal começou a esculpir esse valor e gradativamente foi adelgaçando (diminuir de densidade, emagrecer), diminuindo o valor atribuído às delações premiadas, tanto que a orientação hoje majoritária na (Segunda) Turma é que sequer se recebe denúncia com base na colaboração premiada. Hoje a orientação no recebimento de denúncia é quase um julgamento, precisa quase estar demonstrada a culpa para começar a ação penal. Portanto, começou já há algum tempo, logo depois que eu assumi a relatoria, esse adelgaçamento.

A Lava Jato sofreu duras derrotas no plenário do STF, como a derrubada das conduções coercitivas e da prisão após condenação em segunda instâncias. Nesses dois casos, o senhor votou a favor das medidas, consideradas pilares da Lava Jato.

O mecanismo que eu continuo entendendo que é constitucional da prisão em segunda instância foi retirado por compreensão majoritária do pleno. A condução coercitiva, quiçá merecia, sem dúvida nenhuma, algum ajuste, mas praticamente foi retirada. Além disso, as prisões preventivas foram cada vez mais rechaçadas, especialmente pelo critério da denominada contemporaneidade. É uma coisa, digamos assim, que merece um olhar, porque se a pessoa é preventivamente presa, se o passar do tempo por si só esvazia o decreto da prisão, bom então isso significa que o sentido da prisão preventiva está sendo questionado. A questão é saber se o fundamento da prisão preventiva permanece. E quais são os fundamentos da lei? Ordem pública, instrução processual, portanto, enquanto eu não acabar a instrução processual, a prisão preventiva pode ser mantida. E isso tudo foi também, digamos assim, se adelgaçando.

Em março de 2019, o STF decidiu que Justiça Eleitoral julga corrupção quando houver caixa 2, também contra a vontade do senhor.

A minha posição não prevaleceu na remessa para a Justiça Eleitoral. A pergunta que eu faço é: quantas condenações houve na Justiça Eleitoral de lá para cá? Eu não tenho a notícia de nenhuma, é claro que deve existir, mas eu não tenho a notícia de nenhuma.

É culpa da Justiça Eleitoral, ministro?

Isso não é culpa da Justiça Eleitoral, porque a Justiça Eleitoral substancialmente se destina a outra coisa: fiscalizar eleições, administrar eleições, regulamentar eleições. Portanto, e aos poucos começou-a se deslocar a competência, dizendo, ‘bom isso, não é Lava Jato’, e num primeiro momento, me parecia ‘vamos ver então’. Eu mesmo redistribuí vários processos para colegas ministros. Esse tema vinha até chegar a interposição do habeas corpus (da defesa de Lula) em novembro (do ano passado), peguei o período do recesso e estudei essa circunstância. E ao lado disso, emergiu com força a questão da suspeição do magistrado e, portanto, a suspeição do magistrado.

Como o senhor vê a questão das mensagens obtidas por um grupo criminoso de hackers?

Eu não acho que a prova ilícita pode ser varrida para debaixo do tapete, agora é preciso saber o que fazer com ela.

Ministro, a residência onde o senhor mora foi alvo de buzinaços em Curitiba, e o STF acabou reforçando a sua segurança. Em 2017, o senhor já havia relatado ameaças contra familiares. Como o senhor avalia esses episódios? 

Eu prefiro o apoio institucional que sempre recebi dos ministros que durante esse período estiveram na Presidência do Tribunal e a solidariedade dos colegas às ameaças e às intolerâncias.

LULA CONTINUA AINDA FICHA SUJA

 

Processos anulados não invalidam provas contra Lula

Alan Bousso*

Alan Bousso. FOTO: ARQUIVO PESSOAL

A decisão monocrática do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Edson Fachin de anular os processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, definidos no âmbito da 13ª Vara Federal de Curitiba não representa o fim das acusações contra o ex-presidente. Fachin apenas considerou que o juiz federal Sergio Moro não tinha competência para julgar as ações contra Lula. Contudo, com sagacidade, conduziu sua decisão de modo a garantir que as provas amealhadas no processo continuem sendo válidas e possam ser reaproveitadas. Em outras palavras, a decisão restabelece o devido processo legal, livrando-nos do mal de um extremo jurídico, sem nos jogar imediatamente no polo oposto, das também indesejáveis insegurança jurídica e impunidade.

O ministro do STF recomendou que os processos julgados em Curitiba sejam remetidos à Justiça Federal do Distrito Federal, onde teriam que recomeçar do zero. Nesse caso, novos juízes responsáveis pelos casos do triplex do Guarujá, do sítio em Atibaia e do Instituto Lula teriam de avaliar se reaproveitariam as provas já produzidas na 13ª Vara Federal de Curitiba. O fato é que o ministro Fachin teve o cuidado de não entrar no mérito da suspeição do então juiz Sergio Moro. Assim sendo, as provas produzidas no processo que ele presidido são lícitas e válidas.

O artigo 567 do Código de Processo Penal (CPP) é claro ao definir que “a incompetência do juízo anula somente os atos decisórios, devendo o processo, quando for declarada a nulidade, ser remetido ao juiz competente”. Deste modo, não restam dúvidas de que, na atual conjuntura, não tendo sido Moro apontado como suspeito, mas apenas sem competência para julgar o caso, todas as provas reunidas nos processos por ele conduzido podem ser e devem ser reaproveitadas.

A necessidade de que as provas não sejam desconsideradas vai além da questão legal, consolidando-se, sobretudo, como uma demanda moral. E não se está aqui a fazer juízo de valor sobre o réu, em antecipada condenação. A questão é que para a obtenção de tais provas foram dispendidos tempo e dinheiro públicos. Ignorá-las a esta altura seria como atirar à lixeira os recursos obtidos dos impostos pagos a duras penas pelos brasileiros. Não havendo vício nas provas juntadas ao processo, não faz sentido tal menoscabo dos esforços empreendidos.

Independentemente da sentença a ser anunciada pela Justiça em cada um dos casos, é preciso que as provas sejam avaliadas. A Justiça, sabemos, não deve caminhar conduzida por clamores sociais ou pressões externas. Isso, no entanto, não significa que o Judiciário possa prescindir de coerência com princípios da boa administração pública, como a eficiência e a impessoalidade.

Como Lula tem mais de 70 anos, o tempo para prescrição dos processos é reduzido pela metade. Assim, a celeridade processual é crucial para que consolidemos a noção de segurança jurídica no país e, sobretudo, para que, independentemente do resultado final, seja dada uma resposta à sociedade e ao próprio réu em tempo adequado, sem que se perpetue ainda mais a visão de que no Brasil com manobras acessíveis somente aos hipersuficientes é possível escapar aos ditames legais.

*Alan Bousso, mestre em Direito Processual Civil pela PUC-SP, é sócio do escritório Cyrillo e Bousso Advogados

sexta-feira, 12 de março de 2021

STARTUPS RECEBEM INVESTIMENTOS

 

Fila de startups a caminho do IPO cresce e Bolsa brasileira se prepara para ‘modernização’ de perfil

Com o fenômeno da digitalização na pandemia, empresas de tecnologia ficaram no foco de investidores; lista de candidatas a abrir capital é grande

Fernanda Guimarães, O Estado de S.Paulo

O processo de digitalização imposto pela pandemia e o rápido crescimento das empresas de tecnologia, a reboque desse fenômeno, colocaram uma leva de startups a caminho da Bolsa brasileira (B3). O movimento rumo à oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) promete ganhar tração, se a volatilidade do mercado não mudar os planos dessas empresas.

O apetite dos investidores é grande, como ficou provado nas ofertas das empresas “tech” logo no início do ano. A Mosaico, por exemplo, dona dos buscadores Buscapé e Zoom, viu seu valor de mercado praticamente dobrar, marcando a maior disparada de uma ação no primeiro dia de negociação na história da Bolsa brasileira.

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Agora, a grande expectativa está em nomes como Movile, dona do iFood, e Nubank, que, por conta das características de suas rodadas de captação, tendem a abrir capital fora do Brasil.  Essas ofertas ainda devem levar um tempo, mas há diversas prestes a se concretizarem, entre elas a da companhia de comércio eletrônico Privalia e a da empresa de fidelidade Dotz. Estão também mais no início da fila para o IPO a Livetech, de criação de websites, e a Getninjas, maior aplicativo de serviços da América Latina, que ajuda a encontrar profissionais de uma infinidade de serviços.

Bolsa
Segundo especialista, maturidade dos investidores institucionais permitiu entrada das empresas de tecnologia na Bolsa. Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Há ainda a Bionexo, que pode ser a primeira “health tech” na Bolsa – a empresa desenvolveu um software que conecta hospitais e clínicas com fornecedores de suprimentos médicos. Segundo apurou o Estadão, a próxima “queridinha” dessa nova leva deve ser a Infracommerce, empresa de serviços para sites que já recebeu proposta de investimento de grandes fundos estrangeiros.

Segundo o sócio do BTG Pactual responsável pela área de renda variável, Fábio Nazari, uma das mudanças que abriram a porta para a chegada das empresas de tecnologia à Bolsa brasileira foi a maior maturidade dos investidores institucionais, que são, principalmente, os fundos de ações. “Eles começaram a entender o negócio e a forma de precificar uma empresa de alto crescimento”, comenta o executivo. O desempenho das ações depois da listagem dessas empresas, segundo Nazari, decorre do grande fluxo de investimento vindo das pessoas físicas. “Estamos com vários mandatos”, conta o executivo. A área dedicada no banco a esse setor está crescendo e novas contratações estão previstas para reforçar o time.

Apenas em 2021 chegaram à B3 a Bemobi, de assinaturas de aplicativos e games; a Westwing, de decoração; a companhia de cashback Meliuz; a desenvolvedora de software Neogrid; e a Mobly, de vendas de móveis online. A Eletromidia, considerada uma “adtech” (uma empresa de publicidade com perfil digital), também estreou, mas com menos euforia. Ano passado, fizeram oferta o brechó online Enjoei e a Locaweb – empresa que mais se valorizou em 2020, com 600% de ganho de valor de mercado e seis aquisições depois do IPO.

O chefe das áreas de atacado e banco de investimento do Itaú BBA, Cristiano Guimarães, destaca que no banco há uma área dedicada às empresas de tecnologia, em função da pujança que esse setor tem demonstrado. “Com o cenário de juros baixos e a migração de recursos da renda fixa para renda variável, o momento tem sido positivo para ofertas de ações. O setor de tecnologia se destaca pelo potencial de crescimento dos papéis e pela agenda de digitalização, que também ajudaram o desenvolvimento de muitas dessas companhias durante o ano passado”, explica Guimarães.

O responsável pela cobertura de tecnologia no banco de investimento da XP Investimentos, Lucas Chaise, diz que a pandemia, de fato, explica o ritmo de crescimento dessas empresas. “Elas já eram empresas de crescimento muito elevado, algo que se acelerou no momento pandêmico. Eram empresas muito boas que receberam um vento na popa”, afirma.  Agora, uma das mudanças que o mercado começará a verificar, diante desse novo fenômeno, são as empresas de tecnologia se alocando no principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa. Segundo ele, por conta da liquidez de negociação, a Locaweb deve logo estar no índice.

Segundo o fundador da São Pedro Capital, fundo atento ao setor de tecnologia, Alexandre Dias, o setor está em ebulição também por causa do grande movimento de aquisições que vem sendo observado por grandes companhias. “Isso estimula esse setor, traz mais dinamismo”, afirma o gestor, que é ex-presidente do Google no Brasil e ex-sócio do fundo de private equity Victoria Capital Partners.  “Estamos montando um terceiro fundo de empresas e continuamos olhando com muito interesse para o setor de tecnologia”, diz.

À frente

Com foco de atuação em compradores de empresas de tecnologia, a gestora KPTL (leia-se Capital, em inglês) tem na carteira algumas startups que são potenciais candidatas a um IPO na B3, especificamente dos setores de saúde (heath tech) e agrícola (agrotech). “Vai ser um caminho natural, não vamos ficar de fora dessa alternativa para desmontar a posição dos nossos fundos. Temos 60 empresas na carteira e vamos endereçar esse caminho”, prevê opresidente da KPTL, Renato Ramalho. Na sua carteira, há startups como a Agrotools, que leva solução digital ao agronegócio, e a Magnamed, que desenvolve e fabrica ventiladores pulmonares e aparelhos de anestesia modulares e viu os negócios crescerem muito na pandemia.

“Estamos ainda no início desse processo e isso vai perdurar por um longo período. Empresas de tecnologia são um tipo de produto que a gente nunca teve na Bolsa, e isso começa a ser viável agora”, afirma Ramalho. “Inovação e tecnologia são um caminho para geração de riqueza. Foi o setor responsável pela maior geração de riqueza do planeta. Obrigatoriamente, a Bolsa terá a cada dia mais empresas que estão na fronteira da tecnologia e inovação e o Ibovespa vai ter outro perfil.” Um ponto que merece ser levantado, segundo o executivo, é que os investidores que estão comprando tecnologia precisarão, em sua opinião, aprender a analisar uma empresa do setor e não ir apenas na “onda”. “Ele vai precisar olhar para os fundamentos da empresa”, comenta.

NOTÍCIAS DIVERSAS

 

Vacinas

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini

Há uma preocupação velada – e plausível – dentro do Governo Federal sobre a entrega das vacinas encomendadas dos laboratórios que já tiveram autorização da Anvisa para negociar com o Ministério da Saúde. Ocorre que o governo brasileiro entrou por último na fila das compras, diante dos impasses variados – até o negacionismo do presidente da República e a sua notória desconfiança sobre o produto. Países da Europa que lideram os pedidos mal receberam metade das encomendas. O Ministério divulga que comprou mais de uma centena de milhão de doses, mas não garante quando chegarão. É o maior mico da História da pasta. Não há confirmação da segunda dose suficiente.

Milhões no bolso
Enquanto isso, lobistas dos laboratórios estrangeiros que transitam no Ministério estão faturando US$ 0,50 (cerca de R$ 2,80) com a dupla dose negociada. 

O time todo
Pelo menos 11 funcionários da Comunicação (Assessoria, Marketing, Cerimonial) do Ministério dos Direitos Humanos estão com Covid-19. Todos foram para casa. A ministra Damares Alves mandou fechar os andares para limpeza ontem e hoje.

$pray
O senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde, pediu ao MPF uma investigação sobre os gastos da comitiva do Spray a Israel. 

Chance para MEI
O presidente Jair Bolsonaro consultou o ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre ampliar o piso de R$ 80 mil para R$ 160 mil de faturamento para o cadastro dos pequenos como Micro Empreendedores Individuais (MEI). A proposta foi levada pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, que o visitou no Palácio do Planalto.

Oi colega
Aliás, Jefferson segue no esforço de convencer Bolsonaro a se filiar ao PTB para disputar a Presidência ano que vem. O presidente iniciou sua carreira política há mais de 30 anos na legenda, no Rio de Janeiro.

Mário, Pelé, Zico..
Diretoria e conselheiros do Flamengo, clube que administra o estádio do Maracanã, não concordam com PL da Assembleia Legislativa do Rio que altera o nome da arena de Jornalista Mário Filho para Rei Pelé. Para eles, o rei do ‘Maraca’ é Zico.

Garoto propaganda
Sabem quem é um dos garotos-propagandas dos perfumes da Jequiti nos comerciais veiculados pelo SBT? O ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro do dono da emissora. Ele aparece abraçando a esposa, Patrícia Abravanel.

Cadeado no freezer
O prefeito de Araripina, a 682 km do Recife, na luta para manter o povo em casa diante da pandemia, baixou um decreto que proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas em qualquer estabelecimento da cidade, do último dia 10 até dia 18. Quem desobedecer, pagará multa de R$ 20 mil, e o estabelecimento será fechado. 

Saúde dos deputados
Depois que o MP Estadual concedeu auxílio-saúde de até R$ 2 mil a todos os seus funcionários, conforme divulgamos, a benesse ganhou as mesas da Assembleia Legislativa de Pernambuco. Deputados querem aumentar em 5% o subsídio usando esse artifício. Se passar, serão mais R$ 1.845 mensais na conta.

Fonte da juventude
Em Itaperuna (RJ), 112 anciãos com 120 anos se vacinaram em poucos dias. Depois o povo acusa as autoridades de inépcia na Saúde. Mas o MP e a Polícia já investigam isso.

Fogo na reserva
Dezenas de hectares já foram queimados num incêndio iniciado há uma semana na reserva indígena de 100 hectares da Aldeia Velha, no distrito de Arraial D’Ajuda, em Porto Seguro. Os fortes ventos de março contribuem para o avanço das chamas.{TEXT}

“O que mudar? Para que mudar? Como causar a mudança?“

 

Inovação e transformação digital

Artigo de Ricardo Leite, consultor da Goldratt Consulting Brasil. Versão original em seu Linkedin.

O escopo do que denominamos “inovação” se tornou bastante amplo. Atualmente há uma série de assuntos e derivações associadas à ele. Mesmo adicionando a palavra “digital” na tentativa de reduzir um pouco as possibilidades ainda teremos praticamente um mundo de interpretações possíveis. Praticamente tudo que é novo na área de tecnologia abre um leque enorme de oportunidades para novos negócios. Sejam em pequenas startups, sejam em gigantes estabelecidas. Sejam em empresas ponto com, sejam em corporações tradicionais. Desde a padaria da esquina até o maior fabricante mundial de automóveis. Todos, literalmente todos estão no jogo.

Neste contexto de novidades e de ideias promissoras, a maior parte do tempo os desafios estão relacionados a criar um ambiente propício a criatividade; fomentar o empreendedorismo e o sentimento de dono; aceitar e gerenciar o risco; promover o aprendizado continuo e sobretudo encorajar e organizar o trabalho em equipe. Mas não se engane, há também o lado da gestão dos processos e do portfolio, a limitação dos recursos, a preocupação constante com a escalabilidade e a necessidade de integração com uma realidade “legada”. Mesmo as iniciativas de caráter mais disruptivo mais cedo ou mais tarde terão de ser encaradas sob um prisma mais pragmático do retorno sobre o investimento.

É preciso ter cuidado. As promessas de uma nova realidade de modernidade e transformação nem sempre se materializam em termos de resultados concretos. É sabido que adotar métricas de medição tradicionais para iniciativas de inovação nem sempre é uma boa ideia. Eventualmente é preciso priorizar o aspecto conceitual de se estar introduzindo uma mudança tecnológica sobre o aspecto financeiro. Mas mesmo assim é importante ter clareza de onde se quer e se pode chegar. O direcionador definitivo para avaliar as iniciativas de inovação é o mesmo desde sempre no mundo corporativo. Valor para o cliente!

“Valor é criado através da remoção de uma limitação significativa para o cliente, de uma maneira que não era possível antes, em uma extensão que nenhum outro competidor pode entregar”

– Dr. Eliyahu M. Goldratt

Se você já estava no mercado de trabalho no final dos anos 80 deve se lembrar que naquele momento houve um grande movimento de aquisição e adoção de sistemas de gestão integrados, os ERP. Embaladas pela popularização da baixa plataforma (ou seja, processamento descentralizado), as empresas viam a possibilidade de conectar seus processos internos e automatizar o fluxo de dados. Uma indústria praticamente nova de TI surgiu naquele momento. Fabricantes de ERP nacionais e estrangeiros proliferaram no mercado em conjunto com um grande número de consultorias especializadas em projetos de implantação.

Se naquele momento os motores da mudança foram racionalização, padronização e a oportunidade de adotar melhores práticas globais embutidas nos processos padronizados dos sistemas agora o apelo é aumentar a entrega de valor ao cliente através de uma experiência de compra (muito) melhorada.

Apesar de separados por praticamente três décadas estas duas épocas têm muita semelhança e acredito que os parâmetros de avaliação e seleção das oportunidades são praticamente os mesmos. Por que inovar? O que se procura com novas tecnologias? O quanto importante é para a empresa adotar estas novas tecnologias? Como conseguir realmente mobilizar e motivar o time adequado para a inovação?

Na verdade, estas três questões sempre me vem a cabeça quando falo sobre melhorias e tecnologia:

“O que mudar? Para que mudar? Como causar a mudança?“

– Dr. Eliyahu M. Goldratt.

Eu creio que o ponto central desta discussão é como definir e implementar processos de governança capazes de controlar todos estes movimentos dentro da empresa sem tirar o cerne da inovação que é a capacidade de criar considerando uma realidade que ainda está em formação. Particularmente gosto de pensar em um framework de trabalho onde se possa contar com as pessoas certas no momento certo. Equipes de criação e concepção nem sempre são as mesmas de avaliação e adequação (nem deveriam). Enfim, acredito que cada empresa tenha as suas necessidades e capacidades distintas e achar o caminho de como abordar a Inovação Digital deve ser um assunto que se não está na pauta da gestão estratégica, deverá estar em breve.

Para encerrar esta breve reflexão escolhi duas citações de alguém que sempre me inspira quando converso sobre inovação:

“To turn really interesting ideas and fledgling technologies into a company that can continue to innovate for years, it requires a lot of discipline.“

Tradução:

“Para transformar ideias realmente interessantes e tecnologias incipientes em uma empresa que pode continuar a inovar por anos, é preciso muita disciplina.“

– Steve Jobs

“A lot of companies have chosen to downsize, and maybe that was the right thing for them. We chose a different path. Our belief was that if we kept putting great products in front of customers, they would continue to open their wallets.“

Tradução:

Muitas empresas optaram por reduzir o tamanho, e talvez essa seja a coisa certa para elas. Nós escolhemos um caminho diferente. Acreditávamos que, se continuássemos a apresentar produtos excelentes aos clientes, eles continuariam a abrir as suas carteiras. “

– Steve Jobs

Apresentamos a nossa Startup Valeon aqui do Vale do Aço pensada e feita para atender às necessidades do comércio empresarial da região por não ter um produto como o que estamos apresentando. Primeiro, que muitas empresas não divulgam os seus produtos e a sua logomarca para o público alvo, segundo algumas divulgam mais não conseguem atingir a sua clientela e terceiro, muitas empresas não fortalecem o vínculo com os clientes.

Pensando nesses problemas, fizemos a nossa Plataforma Comercial Valeon para atender a demanda cada vez maior das empresas da região e a sua empresa está incluída nesse projeto e sendo uma ideia inovadora achamos que merece uma melhor apreciação dessa empresa.

VOCÊ CONHECE A VALEON

A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A Valeon possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A Valeon já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A Valeon além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de Ipatinga-MG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

Nossos contatos: Fones: (31) 3827-2297 e (31) 98428-0590 (Wp)

E-MAIL: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

FORÇAS POLÍTICAS DE CENTRO QUEREM ESCOLHER O SEU CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

 

Lula no páreo pressiona centro a definir candidato para eleições de 2022

 Felipe Frazão – Jornal Estadão

BRASÍLIA – A entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no páreo eleitoral de 2022 pressionou partidos que tentavam construir uma alternativa de centro contra o presidente Jair Bolsonaro a agilizar a escolha de um candidato ao Palácio do Planalto. Líderes políticos avaliam que a anulação das condenações criminais que impediam Lula de se candidatar a presidente vão precipitar as conversas a partir de agora para alcançar o mais rápido possível o que ainda não conseguiram: definir um nome de baixa rejeição avesso aos extremos e evitar o fracasso dos esforços por uma frente ampla.

A perspectiva de polarização eleitoral entre Lula e Bolsonaro como antagonistas impõe decisões mais rápidas, admitem dirigentes partidários de centro. Eles passaram a ser mais cobrados para apresentar um candidato logo, tanto internamente quanto nas redes sociais, por militantes. Em público, dizem que a redução da campanha presidencial à dicotomia entre lulismo e bolsonarismo reforça a necessidade de apresentarem uma terceira via.

Um cacique do DEM disse, reservadamente, que se os partidos da centro-direita à centro-esquerda não conseguirem uma unificação, salvando a frente ampla, a pulverização praticamente os deixa de fora do segundo turno. A disputa viraria, nas palavras desse dirigente, uma “guerra de rejeições”. Para evitar esse cenário, pretendem escolher quem for capaz de aglutinar a maior parte das forças políticas em diálogo.

Na última terça-feira, dia 9, o PSDB marcou a realização de prévias nacionais para escolher um pré-candidato ao Planalto, com até o momento dois nomes cotados: os governadores João Doria, de São Paulo, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul. Sem condições de impor seu nome e se ver aclamado presidenciável tucano, Doria disse apoiar as prévias. Elas foram agendadas para 17 de outubro, com uma antecipação de quase um ano em relação às eleições de 2022. O processo interno é inédito para uma candidatura presidencial e nunca foi realizado com tanta antecedência. Doria já disputou e venceu prévias locais para a prefeitura e o governo de São Paulo.

O apresentador da TV Globo Luciano Huck, ainda sem partido, também se movimenta. Ele marcou novas conversas com dirigentes partidários para discutir o cenário agora alterado com Lula. Huck deve voltar a conversar nos próximos dias com ACM Neto, presidente nacional do DEM. Em sua única manifestação pública sobre o julgamento favorável ao petista no Supremo Tribunal Federal, Huck afirmou que “figurinha repetida não completa álbum”, numa indireta que procura lançar dúvidas sobre a aderência popular de uma nova candidatura de Lula. A publicação no Twitter foi interpretada por interlocutores como um sinal de que deseja se manter como opção.

Sérgio Moro, ex-juiz da Operação Lava Jato e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, tem se distanciado cada vez mais de uma candidatura presidencial. Na iniciativa privada, não quis comentar acerca dos recursos vencidos por Lula. Mantém apoio reduzido no Congresso, como setores do Podemos, mas ainda é popular e soma a simpatia de movimentos anticorrupção e de militares das Forças Armadas, principalmente aqueles desiludidos com Bolsonaro.

Moro perdeu fôlego político ao sair do governo Bolsonaro em litígio com o presidente, a quem acusou de interferir em órgãos como a Polícia Federal, e desgastou-se com a revelação de mensagens trocadas com procuradores da Lava Jato, hackeadas e apreendidas na Operação Spoofing. Agora, o STF pode chamuscar ainda mais Moro, com o julgamento de sua suspeição nos casos de Lula. O placar está empatado, e o voto decisivo será do ministro Kassio Nunes Marques, indicado à Corte por Bolsonaro. Marques interrompeu o julgamento para analisar o processo nesta terça-feira. O pedido de “vista” não tem prazo para terminar.

Partidos de esquerda, de centro e de direita conversavam na tentativa de formar uma frente ampla que simbolizasse o contraponto a Bolsonaro, papel que deverá agora ser personificado por Lula. Setores majoritários do PT resistiam em aderir à ideia da frente, abrindo mão de impor um nome próprio como cabeça de chapa. Com o restabelecimento dos direitos políticos do ex-presidente, dirigentes partidários avaliam que ele conseguirá galvanizar apoios à esquerda e reduzir espaço para nomes do mesmo campo político, como Guilherme Boulos, do PSOL, e o governador do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB. Mesmo sufocado no espectro de esquerda, o ex-ministro e ex-governador do Ceará Ciro Gomes, do PDT, promete manter a candidatura, depois de ficar em terceiro lugar em 2018.

Fazem parte das conversas da frente ampla o DEM, que testa a popularidade do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, o PSB, o Podemos, o PDT, o Cidadania, o PV e a Rede Sustentabilidade. Embora ainda não participe ativamente das conversas, o PSD é visto como um partido com chances de integrar a frente, apesar de fazer parte do bloco do Centrão e estar mais próximo a Bolsonaro.

Partidos envolvidos na frente ampla querem evitar ações precipitadas. Ecos da eleição interna na Câmara ainda fragilizam a continuidade das conversas com o MDB, o mais provável destino do ex-presidente da Casa, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ).

E foi Maia quem iniciou o movimento em direção a uma possível frente ampla com a participação de Lula. O deputado disse que ninguém precisa gostar do petista para entender a diferença entre ele e Bolsonaro. “Um tem visão de país; o outro só enxerga o próprio umbigo”, escreveu ele. A postagem não foi à toa: representa a tentativa de uma ala do centro de atrair o PT para a campanha de 2022.

Questionado ontem sobre o elogio do ex-presidente da Câmara, que participou das articulações para o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, Lula afirmou estar aberto a conversas.

Maia tem dito que o calendário ideal do campo de centro é chegar a um nome até o fim deste ano, mas ninguém garante que ele seja cumprido. A recente implosão da aliança na Câmara, com traições no DEM, no PSDB, no PSB e no PDT, esfriou os diálogos, sobretudo porque o presidente nacional do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), foi duramente derrotado.

Apesar disso, Baleia diz que a viabilidade de Lula não altera os esforços da frente ampla e que o MDB quer fazer parte da escolha “sem agonia”. “Não muda. Acho que avança. Mas avança sem agonia. Não adianta a gente lançar um nome sem conversa. E a conversa tem de começar ainda dentro dos partidos”, afirmou Baleia ao Estadão. “No MDB, vou iniciar uma série de conversas virtuais específicas sobre o tema. Vou ouvir todos os parlamentares, governadores e presidentes de diretórios”, completou. “O MDB é o partido de centro, e queremos um caminho para 2022 fora dos extremos.”

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