Ministro Gilmar Mendes preside sessão da 2ª turma realizada por videoconferência
A Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) rebateu, nesta quarta-feira (10), as críticas do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sobre a Justiça Federal. Na terça-feira (9), em julgamento sobre a parcialidade do ex-juiz Sergio Moro em processo em que condenou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilmar afirmou que as supostas irregularidades da Operação Lava Jato são a “maior crise que já se abateu sobre a Justiça Federal do Brasil desde a sua fundação”.
A Ajufe afirmou, por meio de nota, que reitera “seu compromisso com a defesa intransigente da independência judicial e do livre convencimento dos magistrados em todas as suas decisões” e que “eventuais equívocos ocorridos durante a tramitação de qualquer processo judicial podem ser resolvidos por meio do sistema recursal vigente”.
A entidade disse considerar “inadmissível que a instituição Justiça Federal seja atacada de forma “genérica e agressiva por qualquer pessoa”, sobretudo por um ministro do Supremo Tribunal Federal em uma sessão de julgamento da corte. “Nosso trabalho é reconhecido e respeitado por toda a sociedade brasileira pela seriedade, eficiência e correção”, afirmou.
A entidade também se manifestou sobre crítica indireta feita por Gilmar ao juíz Marcelo Brettas ao citar a 7ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro, comandado pelo magistrado. Gilmar afirmou não saber ainda como não veio à tona escândalo envolvendo essa divisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, e afirmou que lá ocorrem coisas de “corar frade de pedra”.
A Ajufe disse não concordar com “ilações desprovidas de qualquer elemento de prova contra juízes federais que atuam em outros processos, estranhos ao que estava sendo analisado pela 2ª Turma da Suprema Corte. Desferir críticas infundadas somente afrontam o equilíbrio das instituições e atentam contra a segurança jurídica”, disse.
Outra entidade a se manifestar foi a Apajufe (Associação Paranaense dos Juízes Federais), que manifestou apoio ao trabalho desenvolvido com pelos juízes federais, desembargadores e ministros que atuaram e atuam na Lava Jato. “É inconcebível, em um estado democrático de direito, que um ministro da Corte de maior hierarquia do Judiciário, ao julgar a suspeição de um magistrado, ataque a instituição da Justiça Federal como um todo. Como refere o próprio Ministro: ´é preciso dizer que todo atentado a qualquer instituição democrática é um atentado à democracia'”.
Para enfrentar Lula e Bolsonaro, as lideranças precisam se organizar para construir, já, uma candidatura capaz de sensibilizar o eleitorado
Notas&Informações, O Estado de S.Paulo
Lula da Silva e Jair Bolsonaro nunca desceram do palanque. O petista, nem quando esteve preso; o presidente, nem diante de uma pilha de mortos. Logo, os dois saem em considerável vantagem na disputa eleitoral de 2022, cuja campanha, totalmente fora de hora, começou no exato instante em que saiu o resultado da eleição de 2018.
Para enfrentá-los – e evitar que o País tenha que encarar no mínimo mais quatro anos de pesadelo –, as lideranças políticas, sociais e empresariais interessadas na democracia precisam urgentemente se organizar para construir, já, uma candidatura capaz de sensibilizar o eleitorado, em especial a parte – seguramente majoritária – que está farta da briga de rua em que se transformou a política brasileira nos últimos tempos.
Esse objetivo, que nada tem de trivial, implica necessariamente que as forças do centro democrático sejam capazes de deixar as vaidades de lado e costurar uma candidatura única. No atual cenário, quando há quatro ou cinco possíveis candidatos desse campo para disputar uma eleição, é porque não há nenhum.
Algo, contudo, parece ter se movido, especialmente depois que, por uma espantosa decisão judicial, o chefão petista Lula da Silva recuperou seus direitos políticos e deve ser candidato em 2022.
Em entrevista ao Estado, o governador de São Paulo, João Doria, que trabalha há tempos para se candidatar à Presidência pelo PSDB, disse que “nada deve ser excluído”, ao ser questionado sobre a possibilidade de seu partido apoiar um candidato de outra legenda. “Uma aliança pelo Brasil não pode estabelecer prerrogativas de nomes”, declarou Doria. Para o governador, “o fracionamento (de candidaturas de centro) só atenderá ao interesse dos extremos”, e o centro precisa de “juízo” – isto é, de “capacidade de dialogar, formular um programa econômico e social para o Brasil e escolher um candidato que seja competitivo para disputar a eleição e, ao vencer, governar a Nação”.
Outro político que já manifestou desejo de ser candidato, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, do DEM, foi na mesma linha do governador paulista quando disse ao jornal Valor que acredita na possibilidade de que seja encontrado ainda neste ano “o nome de quem vai levar a mensagem diferente das de Lula e de Bolsonaro”. Para Mandetta, agora é a hora de construir uma candidatura centrista “moderada” e “convergente”.
É evidente que Mandetta, como Doria e outros, pretende ser o cabeça de chapa dessa candidatura “convergente”, e é legítimo que acalente o projeto. Todos os que se julgam capazes de tirar o Brasil da rota do desastre, por meio de políticas públicas racionais e competentes, emanadas de um governo que respeite as liberdades e as instituições, devem se apresentar para a tarefa publicamente, o mais rápido possível.
Só assim será possível começar a discutir a sério quem, desses diversos postulantes, será o catalisador dos anseios dos brasileiros ajuizados, para construir uma candidatura capaz de emocionar os eleitores cansados tanto da corrupção antipolítica de Lula como da loucura antipolítica de Bolsonaro.
Aos que, como o apresentador Luciano Huck, vacilam diante da pugna eleitoral – que deverá ser especialmente feroz numa disputa que envolverá dois veteranos da desfaçatez e da truculência, Lula e Bolsonaro –, resta rogar que anunciem sem demora sua decisão, dizendo em voz alta o que pretendem para o País e preparando o estômago para, se for o caso, enfrentar o vale-tudo dos palanques.
O fato é que, a despeito das perspectivas sombrias, o País tem salvação – não obviamente pelo messianismo dos populistas autoritários e oportunistas que atormentam o Brasil há tempos, mas pelo respeito à lei, à coisa pública e à racionalidade econômica.
Seja quem for o candidato designado para enfrentar os arruaceiros da democracia, deve ser um que aposte no Brasil ordeiro e pacífico, capaz de ser o País civilizado e desenvolvido com o qual sempre sonhamos.
Bolsonaro e Lula vão disputar o mesmo eleitorado, num faroeste sem mocinhos
William Waack, O Estado de S.Paulo
11 de março de 2021 | 03h00
Nos fenômenos políticos brasileiros dos últimos 20 anos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro exibem uma importante característica em comum: foram vendedores de esperanças frustradas. As diferenças ideológicas e de estilo entre eles empalidecem diante do fato de que assumiram prometendo grandes transformações e acabaram governando com a mesma massa amorfa de forças políticas empenhadas em acomodar interesses setoriais, cartoriais, corporativistas e regionais às custas dos cofres públicos ou de pedaços da máquina pública – plus/minus a roubalheira petista.
O fator excepcional agora é o alargamento e aprofundamento de crises simultâneas de saúde pública, economia estagnada e liderança política. Elas são causa e consequência ao mesmo tempo do esgarçamento do tecido social (perigo de anomia), da deterioração do equilíbrio dos poderes (Judiciário emasculando os demais) e da incapacidade generalizada de elites econômicas de enfrentar a estagnação de produtividade e competitividade da economia (já nem se fala mais de PIB ruimde ano para ano, mas de PIB ruim de década para década).
Diante da tragédia da saúde e de seu impacto na economia – claudicante já antes da pandemia –, o problema para Bolsonaro e Lula é qual esperança vão vender. As bandeiras do lulopetismo estão manchadas não só pela corrupção adotada como forma de governo, mas, e ainda mais decisivos, pelo espetacular fracasso no intervencionismo e dirigismo da economia e a incapacidade de resolver mazelas sociais. São graves pois derivam de ideias equivocadas, em boa parte abraçadas por setores das elites empresariais.
Sem ideias próprias, Bolsonaro abandonou sucessivamente qualquer conjunto coerente de postulados emprestados por Paulo Guedes, além de deixar para lá ou atuar contra as bandeiras da luta anticorrupção, da reforma e enxugamento do Estado e, de forma também espetacular, parou de se empenhar por destravar a economia do País. Que, ainda por cima, enfrenta o agravamento do sufoco fiscal, questão não meramente conjuntural (gastos com pandemia).
A tripla crise é particularmente grave para a vida nacional, pois reforça um angustiante estado de paralisia no qual se destaca a percepção generalizada de que nada anda direito – inclusive criar alternativas políticas aos fracassados vendedores de esperanças. Paira um sentimento (sim, coisa subjetiva, mas política é coisa subjetiva também) de que impera por toda parte uma extraordinária hipocrisia: um STF que só toma decisões ao sabor da política, dizendo que não toma decisões políticas. Um Centrão que só pensa nos próprios interesses setorializados, quando fala que defende interesses do País. Um presidente que só pensa na reeleição e na própria família, quando diz falar pela coletividade, cujo sofrimento pouco o comove.
Por uma desagradável ironia, Bolsonaro e Lula (ou as forças que representam) estão hoje na situação de terem de disputar a mesma parcela do eleitorado mais dependente de assistencialismo, mais arriscada a cair na miséria total se faltar a mão do Estado, mais ignorante e com a situação agravada pela falta de acesso a serviços básicos e educação de qualidade. Quadro piorado pela pandemia.
É uma dura constatação, mas que até aqui não levou as diversas elites dirigentes brasileiras (entendidas como os grupos “que pensam” na economia, no ambiente cultural no sentido amplo e na condução de agrupamentos políticos) sequer a um diagnóstico comum, quanto mais a linhas de ação. A noção de que “a corrupção” seria a grande causa e a explicação para o nosso atraso relativo foi derrubada agora com o “desmascaramento” da Lava Jato (juntando na mesma trincheira safadeza com defesa de princípios da ordem democrática). “Mais saúde e educação”, as palavras de ordem de 2013 viraram slogans vazios de conteúdo.
Dizer que estamos vivendo um faroeste sem mocinhos é repetir Maquiavel, cuja originalidade estava na afirmação de que em política não se consegue realizar princípios. O problema é quando vira um faroeste sem esperanças.
Bolsonaro exonera Fábio Wajngarten da Secom e nomeia militar para o cargo
Almirante Flávio Rocha, que hoje comanda a Secretaria de Assuntos Estratégicos, assume interinamente a vaga e acumula as duas funções; demissão e nomeação foram publicadas em edição do DOU na madrugada desta quinta, 11
Redação, O Estado de S.Paulo
O presidente Jair Bolsonaro exonerou Fábio Wajngarten do cargo de Secretário Especial de Comunicação Social do Ministério das Comunicações. A demissão foi oficializada em edição do Diário Oficial da União (DOU) na madrugada desta quinta-feira, 11.
Rocha será o terceiro nome a comandar a área de comunicação do governo. O primeiro chefe da Secom foi o publicitário Floriano Amorim, substituído por Wajngarten em abril de 2019.
Desentendimentos
A mudança, conforme apuraçãodo Estadão de 25 de fevereiro, deve colocar um fim aos desentendimentos dentro da área de comunicação do governo, especialmente entre Wajngarten e o ministro das Comunicações, Fábio Faria.
Havia também muita queixa interna no governo em relação à comunicação na questão da pandemia do coronavírus. O Palácio do Planalto considera que tem acumulado seguidos desgastes nessa área por não conseguir mostrar o que está fazendo no setor.
Mesmo fora da secretaria, Wajngarten não deve deixar o entorno de Bolsonaro, que gosta pessoalmente do empresário. Ele é visto pelo presidente como um aliado fiel e uma pessoa inteligente, que pode seguir ajudando numa assessoria especial.
Com um perfil oposto, o almirante Flávio Rocha é chamado dentro do governo de “bom de jogo” e “habilidoso”. Considerado um militar conciliador e de diálogo, Rocha ampliou sua proximidade com Fábio Faria nos últimos tempos.
Miguel Nicolelis: “É um consenso mundial que o Brasil hoje é a maior bomba-relógio da pandemia”
Morris Kachani
Desde dezembro, o neurocientista e professor titular da universidade Duke Miguel Nicolelis vem propondo que se crie uma Comissão de Salvação Nacional, contando com lideranças do Congresso, STF, governadores, entidades científicas e da sociedade civil, para que se tomem as decisões mais adequadas no manejo da pandemia em todos os aspectos. É preciso ouvi-lo.
Assista à entrevista: https://youtu.be/4hvpA2VnB6ohttps://www.youtube.com/embed/4hvpA2VnB6o?feature=oembed&enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fbrasil.estadao.com.br
“O momento é absolutamente crítico, é como se estivéssemos em Fukushima há alguns anos e o cara na sala de controle percebesse que o reator nuclear saiu completamente de controle e havia se iniciado uma reação em cadeia irreversível. É mais ou menos essa a metáfora que eu faria neste momento. É uma situação cataclísmica, e a OMS sabe disso”.
“Nós somos o maior laboratório a céu aberto do mundo para que um número de mutações gigantesco, estamos falando de bilhões de mutações, levem a possibilidade do aparecimento de variantes mais infecciosas, mais transmissíveis e mais letais. Nós temos a possibilidade de sermos pioneiros na confecção de um novo vírus, um covid3 aí, porque se você começar a misturar RNA de diferentes vírus e haver um processo de hibridização, você pode facilmente criar uma espécie, um novo vírus que aí sim seria uma ameaça a todo o planeta, porque nenhuma das vacinas teria ação”
“Nós precisamos de um lockdown nacional rígido real de pelo menos 21 dias. Isso é apoiado pela comunidade internacional científica. Um lockdown onde você restrinja o fluxo pelas rodovias e o espaço aéreo brasileiro e internacional, para evitar novas variantes. Nós recebemos a variante da Califórnia semana passada, muito provavelmente vamos receber a de Nova Iorque também, já temos a do Reino Unido, da África do Sul, temos a nossa própria, provavelmente vamos ter mais variantes brasileiras. Junto com isso precisamos aumentar o número de pessoas vacinadas na ordem de dez vezes”
“As escolas deveriam estar fechadas, elas nunca deveriam ter aberto. A maior irresponsabilidade cometida nesse país foi a abertura de escolas no meio de uma pandemia fora de controle. Essa decisão é condenada internacionalmente pelos maiores centros de pesquisa do mundo”
“Os óbitos e casos americanos estão caindo para o que foi o equivalente à primeira onda deles, no começo do ano passado. Bem abaixo do que aconteceu no começo do inverno. Então nós somos nesse momento o epicentro da pandemia mundial e com os números contrários ao resto do mundo. Aqui estão subindo e com a possibilidade de milhões de mutações ocorrerem e diversas variantes surgirem por causa desse descontrole do espalhamento do vírus.
Enquanto isso, a maioria das sociedades e economias equivalentes ao Brasil fizeram medidas corretas, como o lockdown na Europa – que perdura na Alemanha, pela terceira vez seguida, e no Reino Unido. Você só precisa ver as curvas e como as medidas funcionaram na contenção do vírus. E agora com a vacina melhorou mais”.
“O Brasil tinha plenas condições de ter sido um dos melhores exemplos do mundo por causa do SUS e nossa campanha de vacinação, que traz vários cases de sucesso. Esta expectativa não era só minha, mas da comunidade científica internacional”.
“O governo é completamente responsável. Há razões para várias aberturas de processo na Corte Internacional. Ninguém esperava a calamidade e a inépcia com a qual o governo brasileiro tratou essa pandemia. Vai ser um case oposto, negativo, do que não fazer na pandemia. A única coisa que Bolsonaro poderia fazer era renunciar porque claramente não tem dignidade para o cargo que ocupa. Tava na hora dele pedir o boné”.
“Tirando o genocídio indígena e a escravidão, este é o evento mais danoso do ponto de vista humanitário e de perda de vidas de nossa história. A sociedade brasileira precisa deixar o hedonismo de lado porque o hedonismo parece ser maior que o instinto de sobrevivência por aqui. Além do desmando do governo federal, nossa atitude enquanto nação e sociedade deixa muito a desejar nesse momento”.
“Ninguém quer vir pra cá. E quem é brasileiro e viaja pelo mundo está sendo tratado como se fosse proveniente de uma colônia de leprosos da Idade Média. É isso que vai acontecer daqui pra frente”.
“Não estou apreensivo com o presente, estou apreensivo com o futuro, se nada fizermos. Se a gente deixar o braço solto nós vamos chegar a 500 mil óbitos no começo do ano que vem ou mais rápido que isso”.
“Temos 500 mil funcionários de saúde infectados, é um recorde mundial. Uma morte a cada 19 minutos. A cada perda, perdem-se dezenas de atendimentos que poderiam ser feitos por dia”.
“Um dos erros gigantescos na conduta da pandemia, enumerados por especialistas ouvidos pelo New York Times, foi o de se criar comitês científicos nos quais membros da comunidade de negócios detêm mais poderes em decidir que a voz da ciência e medicina. Isso foi repetido no Brasil por alguns governos que ainda acham que podem manter escolas e cultos em aberto com as UTIs próximas do colapso. Quando Biden empoderou o comitê cientifico, mudou tudo no país. Os EUA estão começando a ver uma luz”.
“A cidade mais rica do Brasil nunca teve um lockdown real. Nunca fez o que era preconizado nem mesmo pelo seu comitê científico, que foi rejeitado pelos políticos, pelo governador, que tem na assessoria econômica a voz mais alta do controle da pandemia”
“Quando a história sobre esta pandemia for contada, São Paulo surgirá como um dos piores manejos da crise desde o começo. Se São Paulo tivesse se fechado como Wuhan, teríamos evitado grande parte dos problemas. Até junho do ano passado São Paulo foi o grande disseminador do vírus pelo país”
“Governador Doria, é preciso ouvir seu comitê e trancar São Paulo, não tem como evitar. Se o HC colapsar -e a taxa de ocupação da UTI já está acima de 80%-, o Brasil colapsa integralmente e aí vai ser bem difícil. Não quero nem comentar a série de colapsos que se seguiria, porque traria coisas irreversíveis por muito tempo”.
“É evidente que o governo federal rateou, fez todas as besteiras possíveis. Nós poderíamos ter dezenas de milhões de doses da Pfizer e de outras vacinas que foram oferecidas ao Brasil.
As vacinas querem vir para cá porque o índice de adesão é muito mais alto proporcionalmente per capita do que em outros países, como por exemplo nos EUA. Então todas as empresas farmacêuticas têm o Brasil como um mercado preferencial porque elas sabem que elas vão vender um número de doses muito grande, e como tudo leva a crer que será uma vacina que precisa ser renovada anualmente, como a da gripe, você garantir o mercado brasileiro é um grande breakthrough para sua empresa, você está falando de bilhões de dólares anuais. O Brasil tem uma das maiores reservas em dólar no mundo. Pra que serve essa reserva? Entre outras coisas pra comprar vacinas como essas”.
“O Brasil pode ser um dos últimos países do mundo a sair desse problema [pandemia]”.
“Os cientistas confirmaram que a AstraZeneca, a Pfizer e aqui no Brasil a Coronavac, as três neutralizam a variante brasileira. A verdade é que isso pode ser uma notícia boa temporariamente, porque se outras variantes aparecerem, as vacinas podem deixar de ter efeito”.
“Não foi a variante da Amazônia que criou o que nós estamos vivendo. Foram as eleições. Ninguém se opôs à realização delas. Os cientistas falaram que elas tinham que ser adiadas, mas ninguém nos deu ouvidos. Depois vieram os eventos natalinos, as festas de final de ano e o carnaval. Mesmo com 1.500 pessoas morrendo – e talvez hoje e amanhã a gente bata o recorde, é muito provável que nos próximos dias a gente passe a 2000 óbitos por dia -, as pessoas continuam a festejar. Nós estamos jogando futebol. Amanhã começa campeonato com times indo pra cima e pra baixo e ninguém fala nada, sendo que estes podem ser eventos disseminadores gigantescos”.
Miguel Nicolelis: “É um consenso mundial que o Brasil hoje é a maior bomba-relógio da pandemia”
Morris Kachani
Desde dezembro, o neurocientista e professor titular da universidade Duke Miguel Nicolelis vem propondo que se crie uma Comissão de Salvação Nacional, contando com lideranças do Congresso, STF, governadores, entidades científicas e da sociedade civil, para que se tomem as decisões mais adequadas no manejo da pandemia em todos os aspectos. É preciso ouvi-lo.
Assista à entrevista: https://youtu.be/4hvpA2VnB6ohttps://www.youtube.com/embed/4hvpA2VnB6o?feature=oembed&enablejsapi=1&origin=https%3A%2F%2Fbrasil.estadao.com.br
“O momento é absolutamente crítico, é como se estivéssemos em Fukushima há alguns anos e o cara na sala de controle percebesse que o reator nuclear saiu completamente de controle e havia se iniciado uma reação em cadeia irreversível. É mais ou menos essa a metáfora que eu faria neste momento. É uma situação cataclísmica, e a OMS sabe disso”.
“Nós somos o maior laboratório a céu aberto do mundo para que um número de mutações gigantesco, estamos falando de bilhões de mutações, levem a possibilidade do aparecimento de variantes mais infecciosas, mais transmissíveis e mais letais. Nós temos a possibilidade de sermos pioneiros na confecção de um novo vírus, um covid3 aí, porque se você começar a misturar RNA de diferentes vírus e haver um processo de hibridização, você pode facilmente criar uma espécie, um novo vírus que aí sim seria uma ameaça a todo o planeta, porque nenhuma das vacinas teria ação”
“Nós precisamos de um lockdown nacional rígido real de pelo menos 21 dias. Isso é apoiado pela comunidade internacional científica. Um lockdown onde você restrinja o fluxo pelas rodovias e o espaço aéreo brasileiro e internacional, para evitar novas variantes. Nós recebemos a variante da Califórnia semana passada, muito provavelmente vamos receber a de Nova Iorque também, já temos a do Reino Unido, da África do Sul, temos a nossa própria, provavelmente vamos ter mais variantes brasileiras. Junto com isso precisamos aumentar o número de pessoas vacinadas na ordem de dez vezes”
“As escolas deveriam estar fechadas, elas nunca deveriam ter aberto. A maior irresponsabilidade cometida nesse país foi a abertura de escolas no meio de uma pandemia fora de controle. Essa decisão é condenada internacionalmente pelos maiores centros de pesquisa do mundo”
“Os óbitos e casos americanos estão caindo para o que foi o equivalente à primeira onda deles, no começo do ano passado. Bem abaixo do que aconteceu no começo do inverno. Então nós somos nesse momento o epicentro da pandemia mundial e com os números contrários ao resto do mundo. Aqui estão subindo e com a possibilidade de milhões de mutações ocorrerem e diversas variantes surgirem por causa desse descontrole do espalhamento do vírus.
Enquanto isso, a maioria das sociedades e economias equivalentes ao Brasil fizeram medidas corretas, como o lockdown na Europa – que perdura na Alemanha, pela terceira vez seguida, e no Reino Unido. Você só precisa ver as curvas e como as medidas funcionaram na contenção do vírus. E agora com a vacina melhorou mais”.
“O Brasil tinha plenas condições de ter sido um dos melhores exemplos do mundo por causa do SUS e nossa campanha de vacinação, que traz vários cases de sucesso. Esta expectativa não era só minha, mas da comunidade científica internacional”.
“O governo é completamente responsável. Há razões para várias aberturas de processo na Corte Internacional. Ninguém esperava a calamidade e a inépcia com a qual o governo brasileiro tratou essa pandemia. Vai ser um case oposto, negativo, do que não fazer na pandemia. A única coisa que Bolsonaro poderia fazer era renunciar porque claramente não tem dignidade para o cargo que ocupa. Tava na hora dele pedir o boné”.
“Tirando o genocídio indígena e a escravidão, este é o evento mais danoso do ponto de vista humanitário e de perda de vidas de nossa história. A sociedade brasileira precisa deixar o hedonismo de lado porque o hedonismo parece ser maior que o instinto de sobrevivência por aqui. Além do desmando do governo federal, nossa atitude enquanto nação e sociedade deixa muito a desejar nesse momento”.
“Ninguém quer vir pra cá. E quem é brasileiro e viaja pelo mundo está sendo tratado como se fosse proveniente de uma colônia de leprosos da Idade Média. É isso que vai acontecer daqui pra frente”.
“Não estou apreensivo com o presente, estou apreensivo com o futuro, se nada fizermos. Se a gente deixar o braço solto nós vamos chegar a 500 mil óbitos no começo do ano que vem ou mais rápido que isso”.
“Temos 500 mil funcionários de saúde infectados, é um recorde mundial. Uma morte a cada 19 minutos. A cada perda, perdem-se dezenas de atendimentos que poderiam ser feitos por dia”.
“Um dos erros gigantescos na conduta da pandemia, enumerados por especialistas ouvidos pelo New York Times, foi o de se criar comitês científicos nos quais membros da comunidade de negócios detêm mais poderes em decidir que a voz da ciência e medicina. Isso foi repetido no Brasil por alguns governos que ainda acham que podem manter escolas e cultos em aberto com as UTIs próximas do colapso. Quando Biden empoderou o comitê cientifico, mudou tudo no país. Os EUA estão começando a ver uma luz”.
“A cidade mais rica do Brasil nunca teve um lockdown real. Nunca fez o que era preconizado nem mesmo pelo seu comitê científico, que foi rejeitado pelos políticos, pelo governador, que tem na assessoria econômica a voz mais alta do controle da pandemia”
“Quando a história sobre esta pandemia for contada, São Paulo surgirá como um dos piores manejos da crise desde o começo. Se São Paulo tivesse se fechado como Wuhan, teríamos evitado grande parte dos problemas. Até junho do ano passado São Paulo foi o grande disseminador do vírus pelo país”
“Governador Doria, é preciso ouvir seu comitê e trancar São Paulo, não tem como evitar. Se o HC colapsar -e a taxa de ocupação da UTI já está acima de 80%-, o Brasil colapsa integralmente e aí vai ser bem difícil. Não quero nem comentar a série de colapsos que se seguiria, porque traria coisas irreversíveis por muito tempo”.
“É evidente que o governo federal rateou, fez todas as besteiras possíveis. Nós poderíamos ter dezenas de milhões de doses da Pfizer e de outras vacinas que foram oferecidas ao Brasil.
As vacinas querem vir para cá porque o índice de adesão é muito mais alto proporcionalmente per capita do que em outros países, como por exemplo nos EUA. Então todas as empresas farmacêuticas têm o Brasil como um mercado preferencial porque elas sabem que elas vão vender um número de doses muito grande, e como tudo leva a crer que será uma vacina que precisa ser renovada anualmente, como a da gripe, você garantir o mercado brasileiro é um grande breakthrough para sua empresa, você está falando de bilhões de dólares anuais. O Brasil tem uma das maiores reservas em dólar no mundo. Pra que serve essa reserva? Entre outras coisas pra comprar vacinas como essas”.
“O Brasil pode ser um dos últimos países do mundo a sair desse problema [pandemia]”.
“Os cientistas confirmaram que a AstraZeneca, a Pfizer e aqui no Brasil a Coronavac, as três neutralizam a variante brasileira. A verdade é que isso pode ser uma notícia boa temporariamente, porque se outras variantes aparecerem, as vacinas podem deixar de ter efeito”.
“Não foi a variante da Amazônia que criou o que nós estamos vivendo. Foram as eleições. Ninguém se opôs à realização delas. Os cientistas falaram que elas tinham que ser adiadas, mas ninguém nos deu ouvidos. Depois vieram os eventos natalinos, as festas de final de ano e o carnaval. Mesmo com 1.500 pessoas morrendo – e talvez hoje e amanhã a gente bata o recorde, é muito provável que nos próximos dias a gente passe a 2000 óbitos por dia -, as pessoas continuam a festejar. Nós estamos jogando futebol. Amanhã começa campeonato com times indo pra cima e pra baixo e ninguém fala nada, sendo que estes podem ser eventos disseminadores gigantescos”.
Chinesa Huawei está descartada para fornecer rede privada de 5G para governo, diz ministro
Segundo Fábio Faria, exclusão da chinesa de redes governamentais é algo visto em vários países do mundo; produtos da empresa, no entanto, poderão integrar as redes de 5G que atenderão empresas e consumidores brasileiros
Anne Warth, O Estado de S.Paulo
09 de março de 2021 | 19h16
BRASÍLIA – O ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que a chinesa Huawei não poderá fornecer equipamentos para a rede privativa de comunicação do governo. Líder mundial na tecnologia 5G, a empresa tem sido excluída de redes governamentais por diversos países do mundo, disse o ministro. Os produtos da Huawei, no entanto, poderão integrar as futuras redes 5G que atenderão empresas e consumidores brasileiros.
“Hoje a Huawei não está apta a participar da rede privativa do governo”, disse o ministro, em audiência pública sobre o 5G na Câmara dos Deputados. “Já são vários os países que estão fazendo redes privativas e a Huawei não entrou em nenhuma até agora.”
Apesar das pressões norte-americanas sobre diversos países para banir a Huawei das redes 5G, o governo brasileiro decidiu não vetar a companhia, o que somente poderia ser feito por decreto presidencial. Por outro lado, o governo decidiu impor às operadoras, entre as obrigações que elas deverão cumprir no leilão, a construção de uma rede segura de uso exclusivo do governo.
Para fazer esta rede, uma portaria do Ministério das Comunicações estabelece que as teles deverão optar por fornecedores que atendam aos requisitos mínimos de segurança e padrões de governança corporativa exigidos no mercado acionário brasileiro, como regras de governança, transparência e visibilidade sobre as decisões da companhia. Não será obrigatório que as empresas tenham capital aberto.
As exigências levaram a interpretações de que essa alternativa evitou um banimento mais amplo da Huawei nas redes do 5G que serão usadas pela população, como queriam as operadoras e a área econômica do governo, mas impediu que equipamentos da fornecedora sejam utilizados para transportar informações do governo – como desejavam as alas militar e ideológica.
De acordo com o ministro, a restrição não afeta em nada a companhia chinesa, que não teria manifestado interesse em integrar essa rede segura nem em fazer adequações que permitissem sua eventual participação. “Estive na China e eles não têm interesse em fazer a rede privativa do governo”, disse.
Procurada para comentar as declarações do ministro, a Huawei evitou polêmica. “A Huawei está no Brasil há mais de 23 anos, sempre trabalhando com integridade, ética e transparência. Estamos comprometidos com nossos clientes, parceiros e com a transformação digital do País”, disse a empresa.
Faria disse que a finlandesa Nokia tem se especializado nesse tipo de solução para governos e foi a fornecedora escolhida para a rede privativa dos Estados Unidos. Ele disse ainda que a rede segura “não é para o governo Bolsonaro“, mas para o País e para as próximas administrações também.
“Como é comunicação sensível, colocamos pré-requisitos nessa comunicação, como um acordo de acionistas que seja o mesmo do mercado acionário brasileiro”, afirmou o ministro. “É direito do governo escolher que parceiro vai querer”, acrescentou.
Telebrás
Faria disse ainda que as teles manifestaram preocupação com o fato de que a Telebrás poderá operar a rede privativa do governo, pois a estatal teria privilégios e poderia até mesmo vir a concorrer com as teles privadas no mercado.
Ao se referir à rede privativa, a portaria do ministério faz remissão a um decreto que deixa claro que a função de gerenciamento da rede seria da Telebrás, mas o ministro disse que um novo decreto será editado para mudar essa atribuição. O Ministério da Economia também vê com restrições essa possibilidade, pois quer privatizar a estatal.
“Só será a Telebrás em último caso, se não tiver ninguém interessado em operar a rede”, afirmou o ministro. “Quem vai fazer a rede é o setor privado, e quem vai gerir é o privado também.
O Ministério das Comunicações propôs à Anatel que inclua no edital do 5G um teto de R$ 1 bilhão para a construção da rede privativa. A infraestrutura será de fibra óptica e deverá alcançar todo o território nacional onde houver órgãos públicos federais. No caso específico do Distrito Federal, sede do Executivo, as redes deverão ser móveis, e para os outros locais, fixa.
Além dos órgãos públicos, a rede segura deverá atender a todas as atividades de segurança pública, defesa, serviços de socorro e emergência, resposta a desastres e outras atribuições críticas que envolvam comunicação estratégica de Estado. Para isso, ela deverá conter criptografia. Segundo o ministro, os outros poderes, como o Legislativo e o Judiciário, além do Ministério Público, poderão usar a rede do governo caso desejem.