sábado, 6 de março de 2021

NA POLÍTICA ATRAVÉS DO VOTO OS ELEITORES PUNEM OS CULPADOS

 

Cabe ao eleitor encontrar o culpado

Nos regimes presidencialistas, o mordomo costuma ser o próprio presidente

João Gabriel de Lima, O Estado de S.Paulo

De quem é a culpa por nossas tragédias simultâneas – a da pandemia e a da economia? Na semana passada, o presidente Jair Bolsonaro acusou os governadores de mau uso de repasses federais. Os governadores responderam – em entrevistas, nas redes sociais e até num manifesto – afirmando que Bolsonaro mente. Segundo eles, o presidente, além de falsear números, atrapalha o combate à pandemia ao ignorar a ciência. “Será que os principais países do mundo, que adotaram o distanciamento e a vacinação como estratégia de combate ao vírus, estão errados – e o Brasil, com 260 mil vidas ceifadas, está certo?”, perguntou no Twitter o governador gaúcho Eduardo Leite

As duas tragédias se expressam em números eloquentes. Na quarta-feira, o Brasil contabilizou 74 mil novos casos de infecções pelo coronavírus, assumindo a triste liderança nessa estatística, à frente dos Estados Unidos. No mesmo dia soube-se que a economia encolheu 4,1% em 2020. Segundo cálculos de Claudio Considera, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas e personagem do minipodcast da semana, a retração tira o Brasil do “top ten” da economia. Éramos o sétimo do mundo depois do ciclo social-democrata de Fernando Henrique e Lula. Com Dilma, caímos para o nono lugar. Sob Bolsonaro, passamos para décimo segundo. De quem é a culpa? 

Manaus
Em Manaus, profissionais trabalham no enterro de uma vítima de covid-19 no Cemitério de Nossa Senhora Aparecida nesta terça,2  Foto: EFE/Raphael Alves

Não importa se a crise é mundial. Os números doem na vida do eleitor. O Brasil hoje tem 32 milhões de desempregados, maior contingente dos últimos dez anos. E a inflação vem voltando aos poucos – o arroz subiu 74,1% e a carne, 22,8%, de acordo com dados do IPCA. O brasileiro está com medo de sair à rua e de perder o emprego, e falta dinheiro para comprar comida. De quem é a culpa? 

O jogo de empurra-empurra para livrar-se dela remete a um debate em curso na ciência política: o da responsabilização. Nas democracias, os cidadãos usam o voto para recompensar ou punir os governantes. Avalia-se principalmente o desempenho econômico – aquilo que sentimos no bolso. Mas o que acontece quando a responsabilidade é difusa? 

Pesquisas recentes mostraram que, durante a crise do euro, parte dos cidadãos da União Europeia relevou a responsabilidade de seus governantes, culpando os burocratas de Bruxelas. Em países semipresidencialistas, como França e Portugal, o crédito pelos sucessos e insucessos costuma se dividir entre Executivo e Legislativo. 

Em regimes presidencialistas, no entanto, o eleitor não costuma ter dúvidas. Estudos feitos nos Estados Unidos mostram que o presidente costuma ser responsabilizado pelo desempenho econômico, para o bem ou para o mal. No Brasil, é só olhar para o passado recente. Fernando Henrique e Lula foram recompensados com reeleições em períodos de crescimento. Collor e Dilma, que presidiram crises graves, enfrentaram ruas cheias e sofreram impeachments. 

Para Claudio Considera, o Brasil teria mais chance de voltar a crescer se adotasse as duas condutas-padrão no combate à pandemia: fechamento rigoroso por tempo limitado e vacinação em massa. Bolsonaro já zombou da vacina, e até hoje questiona o isolamento social. Se conseguir responsabilizar os governadores pela derrocada do País, será um caso de estudo em ciência política. Nas democracias, cabe ao eleitor o papel do detetive nos filmes policiais: encontrar o culpado. As evidências mostram que, nos regimes presidencialistas, o mordomo costuma ser o próprio presidente. 

*ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

VARIANTE DO CORONAVIRUS BRASILEIRA DEVE SER COMBATIDA PELOS CIENTISTAS BRASILEIROS

 

Combater variante verde-amarela é um problema a ser resolvido pelos cientistas brasileiros

O fato de possuirmos a própria cepa do vírus tem consequências importantes. Antes, todas as informações, tratamentos e vacinas descobertas em qualquer lugar do mundo se aplicavam ao Brasil; agora não

Fernando Reinach*, O Estado de S.Paulo

Em 2020 o Brasil foi invadido pelo Sars-CoV-2. Juntamente com o resto do planeta, batalhamos contra um único inimigo, o Sars-CoV-2 original. Em 2021 as coisas mudaram, o Brasil está enfrentando a própria variante do coronavírus, o Sars-CoV-2-P1, ou P.1, que surgiu em Manaus e já é responsável por mais da metade dos casos na maioria dos Estados. 

Isso significa que agora o Brasil enfrenta uma variante específica do País, verde-amarela, gerada e selecionada aqui. Mas não estamos sozinhos: a Inglaterra também está enfrentando uma variante que surgiu por lá (inglesa ou de Kent), com propriedades diferentes das do vírus original. Em 2021 vamos ser forçados a trilhar o mesmo caminho, descobrindo como melhor combater a P.1.

Emílio Ribas
Paciente com covid-19 internado no Hospital Emilio Ribas. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O fato de possuirmos a própria variante tem consequências importantes. Antes, todas as informações, tratamentos e vacinas descobertas em qualquer lugar do mundo se aplicavam ao Brasil. Se na China o Sars-CoV-2 levava 20% dos infectados ao hospital e causava a morte de 0,5 a 1%, isso provavelmente valia para o Brasil. Se na Itália descobriram que a mortalidade aumentava com a idade e era maior em homens, isso valia para o Brasil. 

Agora isso mudou. A P.1 não deve ser radicalmente diferente do Sars-CoV-2 original, mas muitas de suas características podem ser distintas e exigir providências diferentes. Exemplos: a P.1 se espalha mais rapidamente e com maior facilidade; será que o nível de isolamento usado em 2020 bastará para controlá-la? Os hospitais reportam a presença de mais jovens nas UTIs; será que isso se deve ao comportamento dessas pessoas ou a uma propriedade da P.1? As perguntas iniciais precisarão ser respondidas novamente. 

O mais difícil nessa tarefa é que as investigações terão de ser feitas por cientistas brasileiros e seus colaboradores internacionais. Uma coisa é certa: em 2021 os países terão como prioridade investigar as variantes de seus territórios. 

Os cientistas brasileiros já começaram a caracterizar a P.1. Os dados de um dos primeiros trabalhos são preocupantes. Os cientistas mediram a capacidade de neutralização dos anticorpos produzidos por uma infecção pelo Sars-CoV-2 e os produzidos pela vacina Coronavac frente ao vírus original e a variante P.1. O soro de 18 pessoas que se recuperaram de casos moderados de covid causados pela linhagem original e o de 8 pessoas vacinadas com a Coronavac foi usado no estudo. 

No primeiro experimento foi medida a capacidade dos anticorpos das 18 pessoas que se recuperaram de inibir a penetração do Sars-CoV-2 original e da variante P.1 em células humanas. O resultado foi o esperado. O soro dos curados tem uma capacidade alta de inibir a entrada do vírus original, mas essa capacidade é 75% menor quando a variante P.1 é usada. Isso significa que os infectados pelo vírus original devem possuir uma capacidade reduzida de combater a P.1 e podem ter nova infecção.

Em seguida os cientistas repetiram o experimento com o soro das oito pessoas vacinadas com a Coronavac. Esse é o resultado mais preocupante. Os anticorpos presentes em 6 das 8 pessoas vacinadas têm capacidade de bloquear o vírus original. Mas nenhuma das oito pessoas vacinadas com a Coronavac possui anticorpos capazes de bloquear a entrada da variante P.1 nas células. 

Esse resultado levanta a possibilidade de a Coronavac não proteger contra a P.1. Claro que esse é um estudo preliminar, feito em tubos de ensaio, com muito poucos vacinados (somente oito), e que ainda não foi revisado por pares. Mas os pesquisadores envolvidos são competentes e muito conhecidos. A AstraZeneca comunicou que sua vacina é capaz de neutralizar a P.1, mas ainda não mostrou os dados. 

Combater um coronavírus verde-amarelo é um problema que tem de ser resolvido por brasileiros. Mais do que nunca vamos precisar dos nossos cientistas.

*É BIÓLOGO, PHD EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR PELA CORNELL UNIVERSITY E AUTOR DE A CHEGADA DO NOVO CORONAVÍRUS NO BRASIL; FOLHA DE LÓTUS, ESCORREGADOR DE MOSQUITO; E A LONGA MARCHA DOS GRILOS CANIBAIS

CONVOCAÇÃO DE GUERRA PARA COMBATER O INIMIGO DA PANDEMIA

 

Se o lockdown não resolve, sobram só as vagas em cemitérios; leia a análise

‘Infelizmente, vejo que vamos ter aumento da mortalidade nas portas dos hospitais, em ambulâncias, esperando a abertura de um leito de UTI e isso é responsabilidade do governo federal’

Gonzalo Vecina*, O Estado de S.Paulo

Não há como construir leitos de UTI na velocidade em que as pessoas estão morrendo neste momento. Muitos leitos foram desativados e a reativação significa reagrupar equipamentos que foram distribuídos, chamar profissionais não presentes agora. Até pode ser feito aumento de capacidade de leitos em alguns hospitais, mas uma resposta eficaz com essas ações é impossível no prazo de que dispomos.

Infelizmente, vejo que vamos ter aumento da mortalidade nas portas dos hospitais, em ambulâncias, esperando a abertura de um leito de UTI e isso é responsabilidade do governo federal, que diminuiu o número de leitos que estavam sendo financiados. O governo federal também sabia que havia condições de existir esse impacto que estamos vendo. A vigilância sanitária e a vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde deveriam ter dado esse alerta. Dados não faltam para isso.

hospital
Paciente da UTI sendo removido no Hospital Albert Einstein  Foto: Nilton Fukuda/ Estadão

É culpa do ministério estarmos despreparados para enfrentar este momento. O único instrumento que temos hoje não é aumentar a oferta de leitos, é tentar, em alguns dias, diminuir a demanda, fazendo lockdown. Se for feito lockdown sério, vamos conseguir diminuir o número de novos casos daqui a dez dias. Agora, os casos que chegam hoje na rede hospitalar são de dez dias atrás. Esses vão continuar chegando, porque não tomamos nenhuma providência.

O presidente, em várias ocasiões, teve a oportunidade de se manifestar, dizendo que “lockdown não resolve”. Se lockdown não resolve e não há leitos de UTI, só sobram vagas no cemitério. 

É MÉDICO SANITARISTA E COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’NOTÍCIAS RELACIONADAS

sexta-feira, 5 de março de 2021

DEFESA DE LULA ESTÁ TENTANDO TURVAR AS ÁGUAS DO LAGO

Moro errou ou não com Lula? Juristas dão sua opinião

Sonia Racy

SERGIO MORO

SERGIO MORO. FOTO: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO

As relações entre Sergio Moro e os desembargadores do TRF-4 responsáveis pelas condenações do ex-presidente Lula estarão no centro do debate no STF em julgamento virtual pautado para começar hoje. “No Brasil, as discussões sobre a perda de imparcialidade dos juízes são tratadas como se fossem ofensivas aos magistrados, ou afetassem a imagem da Justiça”, afirma o criminalista Antônio Pitombo.

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Ele entende que o debate é fundamental “para evolução do Judiciário”.

Dia D 2

Para declarar a quebra de imparcialidade de juiz por suspeição, segundo Roberto Livianu, seria necessária prova cabal de “amizade íntima entre Moro e desembargador”, o que não parece ser o caso.

O presidente do Instituto Não Aceito Corrupção acredita que a defesa de Lula pode estar tentando “turvar as águas do lago”.

Dia D 3

Já Ives Gandra Martins tem a impressão de que não houve cerceamento de defesa dos advogados de Lula nos processos que culminaram na sua condenação. “Não percebo um quadro que justifique a anulação de decisões.”

De forma geral, fala que houve “acesso diferenciado de membros do MP a Moro” mas que “ele deferiu corretamente à luz da prova e com fundamento jurídico”.

E lembra que a amizade entre advogados, juízes e procuradores é comum na sala de aula e na universidade.

Desconstrução

Assistente de Adriana Varejão por dez anos, Jeane Terra abre exposição segunda, Dia da Mulher. A artista traz instalações, esculturas, obras de sua “pintura seca” ou “pele de tinta”.

Batizada de “Escombros, peles, resíduos”, estará na Simone Cadinelli Arte Contemporânea.

Pelo mundo

Chega ao Brasil o projeto “Out of the Margins”, da ONG britânica Stonewall – ação global pela defesa dos direitos LGBTQIA+. A Change.org fica a cargo da versão brasileira em parceria com o Instituto Brasileiro de Transmasculinidades.

Esforço de imagem

Depois da trágica e incompreensível morte por espancamento em Porto Alegre, o Carrefour deflagra ação de combate à violência contra a mulher. O resultado da venda de pães franceses, dia 8, será doado à Utopiar.

 

DIZEM QUE O BOLSONARO SEGUE A CARTILHA DE BANNON

 

A cartilha de Bannon e as aberrações de Bolsonaro

Coluna do Estadão

Foto: Eduardo Munoz Alvarez/AP

Uma das estratégias vocalizadas por Steve Bannon e colocada em prática na primeira campanha de Donald Trump dizia mais ou menos o seguinte: o “personagem” deve dar declarações diárias, polêmicas, mesmo que absurdas e contraditórias, com um único objetivo, o de disputar espaço no noticiário. Em termos simples, sobra menos espaço na imprensa e na atenção dos receptores para as notícias críticas em relação ao “personagem” ou a seu governo. Quanto mais absurda a declaração, mais chamará a atenção e mobilizará as audiências.

Falem mal… Conforme esse receituário, aberrações retóricas como as produzidas por Jair Bolsonaro no Triângulo Mineiro podem não se tratar apenas de destempero, ausência de empatia ou cortina de fumaça, mas de disputa por espaço no noticiário completamente carregado e desfavorável a ele dos últimos dias.

…mas de mim. Quem não gosta de Bolsonaro se indigna. Porém, com base nas pesquisas é possível suspeitar que a parcela de apoiadores do presidente não move sobrancelha de reprovação às declarações desumanas. Já quando o assunto é o casarão de Flávio Bolsonaro, sondagens têm detectado insatisfação.

Xi… A crise na Petrobrás também não agrada a parte dos apoiadores.

Livre. Claro, sem qualquer tipo de fiscalização do Congresso (o Senado nem sequer consegue instalar uma CPI) e da PGR, Bolsonaro testa os limites e sobe cada vez mais o tom.

São os outros. Bolsonaro disparou no WhatsApp mensagens para aliados com trecho de uma enquete segundo a qual mais de 90% dos participantes afirmam que os responsáveis pela queda no PIB são os governadores e prefeitos.

Ação. A deputada estadual Marina Helou (Rede) é uma das autoras de projeto que garante prioridade para profissionais da educação em São Paulo. “Escolas têm que ser as últimas a fechar e as primeiras a abrir. Isso é garantir o direito de crianças e adolescentes a um futuro”, diz.

SINAIS PARTICULARES.
Marina Helou, deputada estadual (Rede-SP)

Ilustração: Kleber Sales

CLICK. O ex-ministro da Saúde José Serra, de 78 anos, recebeu a 1ª dose da vacina contra a covid-19. Ficou feliz, mas lamentou o ritmo lento da vacinação no País.

Coluna do Estadão

Pegadinha… Apesar de o nome de Bia Kicis (PSL-DF) estar bem encaminhado para presidir a CCJ, há uma estratégia para tentar derrotá-la no voto, sem candidatura adversária. Como? Votando em branco.

…do malandro. Como o voto é secreto, os partidos não seriam acusados de descumprir acordo. Uma vez derrotada, ela não poderia se recandidatar.

Coletivo? Do líder do DEMEfraim Filho (PB): “Há um acordo. Portanto, deve ser a Bia (Kicis) na presidência da CCJ. A gestão vai ser compartilhada. Se ela partir para uma agenda mais específica dela, nada andará na comissão”.

Memória. Duas missas serão celebradas no próximo fim de semana em memória de Mário Covas, morto há 20 anos. Ambas serão online e transmitidas no Facebook da fundação que leva o nome do governador e fundador do PSDB: amanhã (sábado), 6, às 10h30, e domingo, 7, às 18h.

Memória 2. “Ele nos deixou há 20 anos, mas o legado de seu ideário, tão atual nos dias de hoje, não pode ser esquecido”, afirma Sergio Kobayashi, presidente da Fundação Mário Covas.

PRONTO, FALEI!

Foto: João Mattos/Brazil Photo Press

Jaques Wagner, senador (PT-BA): “Chega a ser risível ver a base do governo pedindo para os senadores colocarem freio no presidente. Na verdade, querem frear o valor do auxílio emergencial e não têm coragem de assumir.”

COM REPORTAGEM DE ALBERTO BOMBIG, MARIANA HAUBERT E MARIANNA HOLANDA.

EMPRESAS ÁGEIS

Sentir e responder – Empresas ágeis

É necessário ser ágil. Mas o que é exatamente uma organização ágil?

A Plataforma Comercial da Startup Valeon já nasceu ágil e adaptada para responder com precisão e qualidade às demandas de divulgação das empresas do Vale do Aço facilitando o ambiente de negócios online.

 A única forma de prosperar em um ambiente que é volátil, incerto, complexo e ambíguo,(VUCA) é ser ágil.

 Como a transformação digital acaba sendo uma das principais forças desestabilizadoras desse ambiente de negócios, impedindo que as empresas tenham sossego e possam se basear em estratégias estáticas.

E que essa situação tende a se intensificar ainda mais nesse cenário de Covid-19, que soma, a tudo que falamos, novos comportamentos – dos consumidores e da sociedade em geral – ainda totalmente desconhecidos e com resultados imprevisíveis.

É, necessário, portanto, ser ágil. Mas o que é exatamente uma organização ágil?

Uma definição bastante simples e direta da agilidade organizacional é a seguinte: uma empresa ágil é aquela capaz de sentir e responder, muito rápida e continuamente, ao que acontece no ambiente em que está inserida.

Por ambiente, entenda-se todo contexto: clientes, concorrentes, tecnologias, cultura, colaboradores, etc. Uma organização ágil, portanto, é capaz de se adaptar – ela se parece mais com um ser vivo do que com uma máquina.

É muito fácil enxergar organizações que tem essa capacidade quando pensamos em diversas empresas nativas digitais com as quais lidamos cotidianamente.

A Netflix surgiu com um modelo de entrega de DVDs nas residências, evoluiu para um modelo de streaming e hoje produz séries e filmes de forma independente! Uma incrível capacidade de adaptação, demonstrada pela aquisição de novas competências, em muitos casos, não relacionadas com as que já praticava com maestria, além de capacidade de abrir mão do que não era mais necessário – como a logística de bens físicos, por exemplo. E essa capacidade de adaptação continuará sendo vital, pois os desafios no mercado de entretenimento via streaming são imensos.

A Amazon é a própria expressão da experimentação levada ao extremo. Consegue fazer milhares de experiências para entender o comportamento de seus consumidores, diariamente, e tirar proveito disso para personalizar ofertas e preços. E tudo isso atuando em um mercado de varejo, onde a excelência operacional é fundamental. Consegue, portanto, balancear inovação e excelência operacional… mas isso já assunto para outra coluna!

O que Netflix e Amazon têm em comum – e todas empresas ágeis – é a capacidade de manter uma conversa bi-direcional contínua com seus clientes e, a partir dessa conversa, saber rapidamente o que fazer para melhorar e continuar relevante. Essa conversa bi-direcional é o “sentir e responder” na prática.

No entanto, fazer uma organização “sentir e responder” é muito mais difícil do que parece à primeira vista. Pois, definitivamente, nós – e os principais executivos e lideranças – não aprendemos que a melhor forma de resolver um problema, ou lidar com um determinado contexto, é “sentir e responder”.

Pelo contrário, aprendemos, desde cedo, que devemos lidar com os problemas a partir de uma visão analítica, que nos permitirá decompor esse problema em pequenas partes e encontrar claras relações de causa e efeito.

E, a partir desse entendimento, conseguiríamos definir as prescrições necessárias para lidar com o problema. Um problema pode até ser complicado, e requerer um alto grau de especialização e experiência para sua solução mas, de qualquer forma, será possível antecipar e prescrever as soluções.

Padecemos, portanto, de uma certa arrogância, que não nos permite enxergar que há determinados tipos de problemas que não serão resolvidos pela nossa capacidade analítica e inteligência. Mas o fato é que muitos contextos não possuem relações de causa e efeito claras, ou só as apresentam em retrospectiva.

E para esses contextos não há como agir analiticamente, mas sim experimentalmente: formulando certas hipóteses, testando o que acontece, percebendo comportamentos inesperados e definindo práticas e soluções de forma emergente… sentindo e respondendo!

Tentei simplificar, nos parágrafos anteriores, um modelo de tomada de decisão, denominado Cynefin, criado pelo pesquisador e consultor David Snowden. O que Snowden procura mostrar nesse modelo é que não adianta tentar lidar com o que ele chamou de problemas “complexos” (diferente de “complicados”!) com os ferramentais tradicionais com os quais estamos acostumados a lidar. Recomendo fortemente o estudo desse modelo para quem quiser se aprofundar nesse tema.

Temos, portanto, uma contradição fundamental no topo das organizações. Empresas imersas em ambientes VUCA, lideradas por executivos que usam ferramentas analíticas totalmente inapropriadas para esse contexto. Ou, de outra forma, executivos que querem tornar suas empresas ágeis, mas com a previsibilidade e eficiência das ferramentas com as quais estão acostumados a lidar.

Vimos, então, que uma empresa ágil é aquela capaz de sentir e responder. Mas, claro, quem pode sentir e responder são as pessoas da empresa. E, para isso, elas precisam de espaço. E esse espaço só será obtido se os líderes e executivos entenderem que, nesse mundo VUCA, devem partir da uma perspectiva de resolução de problemas totalmente diferente – e disseminar esta perspectiva por toda organização.

Isso é fundamental. Mas é só o começo.

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GOVERNO PERDE BILHÕES COM AUXÍLIO EMERGENCIAL

 

Guedes vê perda estrutural em PEC emergencial aprovada pelo Senado

No entanto, equipe econômica respira aliviada com trava de R$ 44 bilhões aprovada pelos senadores, medida que vinha sendo cobrada pelo mercado para controlar a trajetória de endividamento público

Adriana Fernandes, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Era por volta de uma e meia da tarde de ontem, quando o ministro da EconomiaPaulo Guedes, e sua equipe puderam respirar mais aliviados. O plenário do Senado havia acabado de manter o texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) emergencial com o limite de R$ 44 bilhões para a despesa com o pagamento da nova rodada do auxílio para os mais vulneráveis.

Se tecnicamente foi desconcertante incluir no texto constitucional um valor fixo para o pagamento do auxílio, a trava de gastos acabou sendo a forma encontrada pelo Ministério da Economia para impedir que mais tarde os parlamentares aumentassem o valor do benefício e o seu alcance sem que houvesse uma contrapartida de economia de despesas. Afinal, a proposta foi aprovada sem ajuste no curto prazo nem caso seja decretado novamente estado de calamidade para novos gastos para o combate dos efeitos do recrudescimento da pandemia em 2021.

Paulo Guedes
Presidente apoia no momento decisivo, diz Guedes. Foto: Edu Andrade/ME

O risco de cair a barreira de R$ 44 bilhões estava no radar na votação em segundo turno e era mais uma batalha a ser superada para aprovação da PEC, após a queda de braço do ministro Paulo Guedes e seus principais secretários para evitar a exclusão do programa Bolsa Família do teto de gastos (a regra que impede que as despesas cresçam em ritmo superior à inflação), manobra que foi patrocinada pelo próprio Bolsonaro e lideranças governistas no Congresso, como mostrou ontem o Estadão.

Com o mercado derretendo por causa da aposta no teto de gastos como âncora fiscal para controle da trajetória de endividamento, o presidente foi alertado dos riscos e desistiu de levar adiante a proposta, que tinha apoio dos aliados e da oposição. Senadores não alinhados com o presidente, porém, dispararam alertas para o risco de não darem um “cheque em branco” para o presidente garantir a sua reeleição. Se o ministro Luiz Eduardo Ramos, articulador político do governo, avisou aos líderes a decisão do presidente de recuar, coube ao presidente da CâmaraArthur Lira (DEM-PL), garantir aos investidores que não haveria medidas.

Nas horas que antecederam a votação em primeiro turno, Guedes partiu para o tudo ou nada para evitar não só o fura-teto, mas o fatiamento e desidratação da PEC, mantendo-se apenas o auxílio. Em meio ao vaivém e uma ida ao Tribunal de Contas da União, ao lado do ministro da Casa CivilBraga Netto, para uma reunião com o ministro Bruno Dantas, Guedes avisou às lideranças governistas que não “contassem com ele” para a mudança no teto. Não chegou, porém, a ameaçar demissão do cargo.

No dia seguinte, agradeceu a Bolsonaro. “O presidente sempre nos apoia no momento decisivo”, afirmou em vídeo gravado ao lado do relator da PEC, senador Márcio Bittar (MDB-AC).

Se o discurso oficial ontem foi de vitória pelo resultado que evitou, na opinião de auxiliares do ministro, um “desastre” maior com a mudança da PEC, o sentimento na equipe, por outro, foi de perda de uma dos pontos estruturais da PEC: a possibilidade de acionamento dos gatilhos em caso de calamidade por mais dois anos seguintes. A economia da PEC foi baseada nesse dispositivo. “Que ajuste se faz em um ano?”, resumiu um auxiliar de Guedes, que admite que o momento continua muito delicado para as contas públicas e que nova batalha vem pela frente na Câmara, onde a PEC ainda será analisada na semana que vem, e na definição e tramitação da medida provisória (MP) que vai definir valores e regras para o pagamento do auxílio. 

A primeira batalha, no entanto, não foi perdida porque há na PEC medidas importantes que fortalecem o arcabouço institucional das regras fiscais. Uma vitória que foi comemorada entre 10 e 10 técnicos do Ministério da Economia foi a liberação de superávit financeiro de fundos públicos para o pagamento da dívida pública. Uma medida que pode abater mais de R$ 100 bilhões do estoque da dívida, melhorando a sua gestão pelo Tesouro.NOTÍCIAS RELACIONADAS

CORONAVIRUS POR EQUANTO ESTÁ VENCENDO

 

A vitória parcial do coronavírus

O desprezo pelo conhecimento fez do Brasil campo fértil para a devastação

Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo

Ainda não é hora do balanço final, mas já é possível afirmar que o Brasil foi devastado pelo coronavírus, com possibilidade de se tornar o país que mais sofreu com a pandemia. Sem mencionar as outras razões que nos isolam no mundo, o território brasileiro tornou-se um campo de observação para a humanidade, pois aqui surgiram perigosas mutações do vírus e nada garante que outras variantes não estejam em curso.

Com todo o respeito aos médicos e demais trabalhadores da saúde que batalham na linha de frente, comunicadores que tentam transmitir a dimensão do drama sanitário e grupos que se dedicam diuturnamente à solidariedade, todos combateram o bom combate, mas o saldo nacional é um grande fracasso.

Como é possível que um vírus triunfe sobre uma comunidade humana, neste momento de fácil comunicação e avanço da ciência? O que torna o Brasil tão vulnerável a um vírus mutante? Uma das razões é exatamente a nossa incapacidade de mudar com rapidez para enfrentar a nova situação.

Nenhum país teve um negacionista tão ativo na Presidência como o Brasil de Bolsonaro. Ele imaginou que o vírus seria uma grande ameaça ao seu governo, o impacto econômico poderia derrubá-lo. Daí seu esforço em negá-lo. E não apenas quanto à gravidade da contaminação, mas, sobretudo, no tocante às medidas necessárias para combatê-lo, como isolamento social e suspensão de algumas atividades.

Quando o novo coronavírus apareceu em Wuhan, na China, escrevi que ao chegar ao Brasil a única forma de combatê-lo seria uma resposta nacional e solidária. O comportamento de Bolsonaro mandou para o espaço a esperança de uma resposta nacional. Um passo importante nessa direção foi decapitar ministros da Saúde que reconheciam a importância do vírus e buscavam uma resposta articulada.

Graças ao STF, governadores e prefeitos tiveram reconhecido seu papel constitucional no combate ao vírus. Mas as constantes denúncias de corrupção enfraqueceram sua liderança em muitos Estados do País. No Rio, Witzel perdeu o cargo. A Polícia Federal fez incursões no Pará e no Amazonas. Respiradores foram comprados em lojas que vendem vinho. Em Santa Catarina o escândalo abalou o governo.

Esse processo na cúpula fortaleceu o ceticismo na base. O comportamento coletivo para atenuar os efeitos da pandemia não foi conseguido. Faltaram estímulos. Poucas foram as iniciativas de oferecer lugar para a quarentena, ou para levar água e facilitar a higiene. Poucas também para estabelecer conexão e facilitar aulas para as crianças, diversão para os adultos.

O negacionismo de Bolsonaro desarmou grande parte das iniciativas que a ciência aconselha. Testes foram esquecidos num depósito em Guarulhos. Para que testar? Não houve intenso esforço tanto para sequenciar o vírus quanto no caso das vacinas. Então o Brasil ocupou um lugar único: o presidente se opunha a elas, seja por ignorância científica ou por ignorância política, bloqueando os melhores produtos ocidentais e ironizando os do Oriente vermelho.

A luta contra o coronavírus numa população como a do Brasil é difícil. O vírus é invisível. Mesmo na Europa, os problemas radioativos provocados pelo desastre de Chernobyl encontraram muito ceticismo precisamente porque não eram visíveis.

Mas a ignorância de Bolsonaro não influencia apenas os 30% que o apoiam. Ela se estende por uma faixa da população que não se interessa por ele nem por nenhum outro político. Uma faixa que não vê benefícios em se ter um governo, muito menos em se sacrificar por um coletivo.

Quando Bolsonaro, na sua campanha obscurantista contra a vacina, insinuou que ela poderia transformar pessoas em jacarés, não estava pregando no vazio. Ele conta com a superstição popular. E não está totalmente equivocado. A ideia de pessoas se transformarem em bichos é presente no Brasil. A mula sem cabeça, por exemplo, é um mito que percorreu a nossa infância. Diziam que era uma linda mulher que virou animal porque transou com um padre. E quem se dedicar a estudar a religião tupi verá que os caraíbas, espécie de sacerdotes, difundiam suas crenças contra a religião colonial, mas se diziam capazes de transformar gente em bicho.

O Brasil perdeu a guerra contra o vírus porque ela dependia não só de disciplina, mas de conhecimento. Não somos disciplinados como os vietnamitas, por exemplo.

Mas, para além do individualismo, o desprezo pelo conhecimento fez do Brasil um campo fértil para a devastação. O governo subestimou remédios consagrados, como a vacinação em massa, e optou por falsas saídas, como a hidroxicloroquina.

Em todos os momentos o conhecimento foi espancado. Até mesmo na batida musical das festas clandestinas o Brasil celebrou a ignorância.

Pode ser que no balanço final alguns desses termos se alterem. Mas vista de agora, nossa derrota para o vírus foi a derrota de nossas lacunas educacionais, entendidas em sentido mais amplo, desde o estudo convencional, que nos faça acreditar no invisível, até o flagelo do obscurantismo oficial, a corrupção e uma incipiente cidadania que não acredita na ideia de um país.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...