quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

A INFLAÇÃO ALTA ESTÁ CORROENDO OS SALÁRIOS

 

A inflação está na mesa

Alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento econômico muito complicado

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

A inflação está na mesa

Comida, a principal despesa para a maioria das famílias, continua puxando a inflação, num ambiente de alto desemprego e condições agravadas pelo fim do auxílio emergencial. Sem essa ajuda, mais de 60 milhões de pessoas afundaram em dificuldades, enquanto os preços, já muito inflados, continuaram em alta. O custo da alimentação subiu 14,81% em 12 meses, mas esse número, já muito ruim, é apenas uma média. O arroz encareceu 74,14%. O feijão carioca, 18,53%. As carnes, 22,82%. Mesmo com algum alívio em janeiro, a pressão acumulada é muito forte. No mês passado a inflação ficou em 0,25% e o custo da alimentação subiu 1,02%. Foram taxas menores que as de dezembro – mas em cima de grandes aumentos em meses anteriores. Esses dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Convém levar em conta esses aumentos para avaliar o alívio, real ou aparente, ocorrido em janeiro. A taxa do mês foi bem menor que as de dezembro (1,35%) e da maior parte dos meses a partir de julho. Mas apenas dois itens, habitação e vestuário, ficaram mais baratos que no mês anterior, com recuos de 1,07% e 0,07%. O custo da habitação foi derrubado pela tarifa de eletricidade, com redução de 5,60%, resultante da passagem da bandeira vermelha para a amarela. Nos outros sete grandes itens pesquisados houve altas de preços.

O aumento maior e de maior efeito foi o do custo da alimentação, de 1,02%, com impacto de 0,22 ponto na formação do resultado geral (0,25%). Os preços no varejo teriam sido bem mais altos, em janeiro e no segundo semestre de 2020, se produtores e distribuidores tivessem conseguido repassar as altas ocorridas no atacado.

Essas altas continuam. Na primeira prévia do Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de fevereiro os preços ao produtor subiram 2,54%, acumulando variação de 6% no ano e de 39,10% em 12 meses. Mas o repasse vem sendo contido pelas condições da demanda final, enfraquecida pelo desemprego e pelas dificuldades das famílias. Os preços ao produtor formam o principal componente do IGP-M, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas.

No atacado, os aumentos têm refletido as condições do mercado internacional e a cotação do dólar, muito pressionada desde o começo de 2020. Os dois fatores explicam a maior parte da alta de preços das matérias-primas, como o petróleo, o minério de ferro e os alimentos.

O dólar tende a subir em relação ao real quando aumenta, no mercado, a insegurança quanto às contas do governo e à dívida pública. Esse efeito foi facilmente perceptível, nos últimos dias, durante as discussões, em Brasília, sobre fórmulas para retomada do auxílio emergencial e sobre a possível violação do teto de gastos. A indefinição do governo sobre a gestão de suas contas em 2021 tem sido uma importante fonte de dúvidas para o mercado.

Pressionando o dólar e os preços, a insegurança dos investidores em relação às finanças federais acaba, indiretamente, complicando a vida dos consumidores, especialmente dos mais pobres, já prejudicados pelas más condições do mercado de trabalho e pela perda de renda. Quem conseguiu juntar alguma reserva no ano passado, graças à ajuda emergencial, tem usado esse dinheiro – se ainda houver algum – para as compras essenciais.

Os grandes saques da poupança, no mês passado, são em grande parte explicáveis pela piora das condições dos mais pobres. Mas também a classe média juntou alguma poupança em 2020 e pode agora estar usando esse dinheiro.

A alta de preços, principalmente dos alimentos, assombra as famílias num momento muito complicado, com o governo incapaz de dizer como vai tocar a política econômica. No meio do nevoeiro, a inflação avança. Em 2020 o IPCA subiu 4,52% e ultrapassou o centro da meta oficial, de 4%. Nos 12 meses até janeiro a variação chegou a 4,56%. Neste ano será preciso um esforço maior de ajuste para atingir o centro do alvo, rebaixado para 3,75%. Se depender só do Banco Central, a resposta poderá ser uma alta de juros, um remédio com perigosos efeitos colaterais para as contas públicas e o emprego.

ESPÍRITO PÚBLICO DEVE AJUDAR NO AUXÍLIO EMERGENCIAL

 

Antes de dinheiro, falta espírito público

Desinteresse pela sorte dos brasileiros preside a discussão sobre a volta do auxílio emergencial

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

É excruciante a demora do governo e do Congresso para encontrar as fontes de financiamento para retomar o auxílio emergencial para os milhões de cidadãos destituídos de renda em razão da pandemia de covid-19. O auxílio acabou em dezembro, mas a pandemia não – e lá se vão dois meses e meio sem que o poder público tenha sido capaz de se entender sobre tão urgente demanda.

Do mesmo modo, causa indignação a notícia de que caiu em 76% o total de leitos hospitalares para tratamento de covid-19 em São Paulo que são financiados pelo governo federal. O motivo é tão prosaico quanto assombroso: terminou em 31 de dezembro a validade da emenda constitucional que criou o chamado “orçamento de guerra”, que previa recursos extraordinários para o enfrentamento da pandemia. Sem a emenda, faltou dinheiro.

Nos dois casos, espanta a incapacidade do governo de Jair Bolsonaro de se antecipar a problemas com data marcada para acontecer. Ante a óbvia escalada da pandemia – em Manaus, por exemplo, já se fala em uma “terceira onda” –, é simples irresponsabilidade deixar de tomar providências tempestivas. A esta altura, nada disso era imprevisível – ao contrário, o recrudescimento da pandemia foi antecipado insistentemente pelos cientistas.

Como o governo é liderado por um presidente inimigo da ciência e indiferente ao sofrimento de seus governados, nada disso deveria espantar. Enquanto o mundo civilizado passou boa parte de 2020 na corrida por uma vacina, Bolsonaro e o intendente que responde pelo Ministério da Saúde dedicaram-se a fazer propaganda de remédios sem eficácia contra a covid-19 e potencialmente perigosos, ao mesmo tempo que o presidente questionava a segurança dos imunizantes. A vacina só se tornou prioritária para o governo quando passou a ser vista por Bolsonaro como um possível ativo eleitoral.

É esse desinteresse pela sorte dos brasileiros que preside a discussão bizantina sobre a volta do auxílio emergencial. “Acho que vai ter uma prorrogação”, disse Bolsonaro, como se fosse um comentarista político, e não o presidente da República. Um presidente não “acha” nada: ordena de acordo com a lei. É para isso que serve o poder que as urnas lhe conferiram em 2018. Se a volta do auxílio emergencial é indispensável – e é –, então cabe ao presidente mandar que aconteça o mais rápido possível, tomando as decisões políticas necessárias.

Mas é precisamente isso o que Bolsonaro não quer fazer, porque tomar decisões políticas acarretam ônus diversos. Quando era deputado do baixo clero, Bolsonaro não tinha esse problema: podia exercer sua irresponsabilidade à vontade. Como presidente, contudo, deve enfrentar o peso de suas escolhas e indicar ao País uma direção clara.

Talvez o maior símbolo atual da falta de direção do governo Bolsonaro seja o incrível atraso da aprovação do Orçamento, que deveria ter sido votado no ano passado. Sem o Orçamento, não há planejamento possível, algo especialmente grave numa pandemia.

O caso da obscena queda do financiamento federal de leitos para tratamento de covid-19, que atinge vários Estados além de São Paulo, é exemplar: “Não houve planejamento. O Orçamento de 2021 é o mesmo de 2019. Simplesmente desconsiderou o Orçamento de 2020, como se a pandemia tivesse terminado em 31 de dezembro”, disse o presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, Carlos Lula. Segundo a Secretaria da Saúde paulista, a situação obrigou os gestores locais a gastarem mais de uma hora para outra.

Ao contrário das aparências, nada disso é de improviso. A pandemia serve aos demagogos como argumento para a irresponsabilidade fiscal, que hipoteca o futuro do País, mas rende votos. Como o Estado noticiou, os novos comandantes do Congresso, apadrinhados de Bolsonaro, querem relançar o auxílio emergencial fora do teto de gastos e sem cortar nenhuma outra despesa. Fala-se de novo em reeditar a famigerada CPMF como forma de financiar o auxílio. Seria o coroamento da desfaçatez, mas, a esta altura, já se sabe que o problema não é falta de dinheiro, mas de espírito público.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

A OPOSIÇÃO AO GOVERNO ESTÁ DESARTICULADA COM A ELEIÇÃO DOS PRESIDENTES DA CÂMARA E DO SENADO

 

DEM, PSDB e MDB desarticularam a oposição e a resistência institucional

Processo rumo ao atraso vive melhor momento com implosão do DEM, decadência do MDB e falta de rumo do PSDB

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

Em baixa nas pesquisas e na sociedade, mas em alta na política e no Congresso, o presidente Jair Bolsonaro promove alianças tácitas com praticamente todo o leque partidário, desde o PT e o centro até a extrema direita e os aproveitadores de sempre. Resultado: é incrível como tudo parece andar para trás, de marcha à ré.

A Lava Jato e o ex-juiz Sérgio Moro se transformam nos grandes vilões do Brasil. Em simbiose com o Centrão, o bolsonarismo raiz se infiltra em vistosos cargos do Congresso. A pauta conservadora, de armas e excludente de ilicitude, domina o debate nacional. Até as discussões sobre auxílio emergencial deixaram de ser movidas pela tragédia social e a preocupação econômica para atender interesses políticos.

Esse processo rumo ao atraso não é novidade, mas teve grande impulso com as eleições para as presidências da Câmara e do Senado e vive seu melhor momento com a súbita perda de relevância de Rodrigo Maia, a implosão humilhante do DEM, a estridente decadência do MDB e a falta de rumo e de juízo do PSDB, um partido sem líderes.

Bolsonaro tem todos os defeitos que nós sabemos e só não vê quem não quer, mas ele não é fraco, não. O capitão, que subjugou os generais e cooptou os escalões inferiores das Forças Armadas, também desarticulou a oposição política e a resistência institucional. O caminho está livre para tocar o projeto de Jair, Eduardo, Carlos e Flávio Bolsonaro, sob inspiração do tal guru.

Governos, parlamentos e entidades estrangeiras, fundos de investimentos internacionais, ex-ministros, ex-chanceleres, ex-presidentes do Banco Central, centenas de padres católicos e pastores batistas, anglicanos, presbiterianos indignam-se com o que ocorre no Brasil, mas a realidade anda para um lado e a política vai na direção oposta.

Quem vai botar o pé na porta quando Bolsonaro atacar a democracia e as instituições? Arthur Lira, o presidente da Câmara que é líder do Centrão e cheio de problemas no Supremo? DEM, PSDB e MDB, que venderam a alma ao diabo e os votos por verbas, cargos e promessas de ministérios?

E quem vai garantir maioria pró-Lava Jato, já oscilante, no Supremo? O presidente Luiz Fux faz a parte dele, mas até quando um Alexandre de Moraes terá respaldo para segurar as investidas golpistas que vêm do outro lado da Praça dos Três Poderes?

O cenário é preocupante e DEM, PSDB e MDB têm grande responsabilidade nisso. Para além dos ataques estéreis entre Rodrigo Maia e ACM Neto, vamos aos fatos: DEM levou longos anos construindo uma imagem, renovando suas lideranças, equilibrando o liberalismo econômico com foco social e, assim, conquistou força e destaque na política nacional. Na hora decisiva para o País, porém, demoliu tudo num estalar de dedos.

DEM e PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab surgiram do racha do PFL, que tantos serviços prestou à redemocratização. Agora, tantos anos depois, eles voltam a se encontrar na mesma raia, que não é pragmática, só oportunista. Se Bolsonaro está forte politicamente e leiloando cargos, estão com ele. Se mais adiante tropeçar e despencar nas pesquisas, pulam fora.

ACM Neto tem pedigree, não é amador e não erraria de forma tão primária. Logo, é um risco calculado que não faz jus, digam o que quiserem, à história do PFL nem ao legado de Jorge Bornhausen, Marco Maciel e Guilherme Palmeira. E o mais triste é que os novos dissidentes não têm saída. PSDB? MDB? É trocar seis por meia dúzia.

Tudo sempre pode mudar, mas, neste momento, o tal candidato de centro é quase uma piada e Bolsonaro dá risadas ao se preparar para enfrentar o PT em 2022. Ou melhor, para enfrentar o próprio Lula. O caminho já poderá ser aplainado, hoje, pela Segunda Turma do Supremo.

CRÍTICAS AO PRESIDENTE POR NÃO ENTENDER A RELAÇÃO ENTRE IMPOSTO E PREÇO

 

Patacoada presidencial

Sem entender relação entre imposto e preço, Bolsonaro insiste em mexer na tributação

Notas&Informações, O Estado de S.Paulo

O mais despreparado e mais incompetente chefe de governo da história brasileira, Jair Bolsonaro, voltou a falar bobagens sobre preços e impostos, depois do novo reajuste para combustíveis anunciado pela Petrobrás. Ele continua misturando impostos e aumentos de preços, como se a alta dos valores cobrados pela gasolina, pelo diesel e pelo gás de cozinha fosse causada pela tributação.

O objetivo evidente é acalmar uma parte de seu eleitorado, especialmente os caminhoneiros por ele apoiados, em 2018, quando bloquearam estradas e prejudicaram milhões de pessoas. Os desinformados, como aqueles do cercadinho, podem até aplaudir a patacoada presidencial, mas nenhuma criança treinada nas quatro operações e habituada a raciocinar engolirá a baboseira.

Complicado para o presidente e seus assemelhados, o assunto, no entanto, é razoavelmente simples. Calculado como porcentagem sobre um valor básico, o tributo estadual – porque disso se trata – simplesmente segue a variação do preço, assim como um passageiro acompanha o sobe e desce de um avião. Enquanto o tributo for calculado sobre um preço base, um dado essencial permanecerá: o imposto indireto seguirá atrelado às oscilações desse valor.

O besteirol nem é novidade, embora o presidente de vez em quando amplie seu repertório. Há muito tempo ele fala em mexer no Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o maior tributo estadual. A conversa tem aparecido, de modo geral, quando o encarecimento dos combustíveis causa incômodo mais sensível. Os caminhoneiros têm reclamado e o presidente Bolsonaro se empenha, normalmente, em tratar muito bem esses eleitores.

Desta vez ele propôs, entre outras alterações, a cobrança de um valor fixo, em vez de uma porcentagem sobre o preço base. Outra ideia foi a concentração da cobrança na refinaria, com eliminação do imposto nas fases seguintes da comercialização. O presidente mencionou também uma possível diminuição do PIS/Cofins. Nesse caso, a solução ficaria no âmbito federal.

Todas essas propostas são baseadas numa confusão grosseira. O presidente parece incapaz de perceber alguns fatos básicos sobre o mercado. Os preços de petróleo e derivados, assim como os de outras commodities, como soja, trigo e minério de ferro, são determinados, em primeiro lugar, pelas condições internacionais de oferta e demanda. Quando trazidos ao mercado interno, esses preços ainda são afetados pela taxa de câmbio – basicamente, pela cotação do dólar. Com ou sem impostos, é esse o processo básico.

Como qualquer outra empresa envolvida no mercado de commodities, a Petrobrás deve seguir o jogo internacional e a partir daí fixar seus preços. O presidente Bolsonaro já tentou intervir na política de preços da companhia. Basicamente errada, essa interferência é mais grave quando se trata de uma empresa de capital aberto, com ações negociadas em bolsa. Ele parece haver percebido o erro, mas de forma incompleta. Continua falando sobre preços, demagogicamente, e impondo novos sustos ao mercado.

Sem poder controlar os preços da Petrobrás, o presidente procura mexer na tributação, como se impostos causassem a alta de preços. Podem até causar, quando as alíquotas são aumentadas, mas nada parecido com isso ocorreu no caso dos combustíveis.

Além de grosseira, a ideia de mexer na tributação é perigosa. Estados e poder central dependem de tributos para funcionar. Diminuir um imposto sem cuidar de alguma compensação – aumento de outra receita ou redução de gastos – pode ser desastroso. Mas isso é um tema de administração, assunto estranho às preocupações e à competência do presidente Bolsonaro.

Ele só tem razão quanto a um ponto. O ICMS e outros impostos indiretos são muito altos. Mas para mexer nisso será preciso reformar o sistema e dar maior peso aos tributos diretos, principalmente ao Imposto de Renda. Mas esperar do presidente algum conhecimento dessas questões também é otimismo excessivo. Já seria bom se alguém, no seu entorno, tentasse conter seus impulsos mais perigosos.

CIENTISTAS BUSCAM VESTÍGIOS DE CORONAVIRUS NOS MORCEGOS DA TAILÂNDIA

 

Um local predileto de morcegos, turistas e agora de rastreadores da covid

Um complexo de cavernas em um templo na Tailândia há muito tempo atrai turistas, peregrinos e colecionadores de guano. Agora, os cientistas chegaram procurando qualquer ligação potencial com o coronavírus

Hannah Beech e Adam Dean, The New York Times – Life/Style

TAILÂNDIA – As cavernas fedem a morcegos. Na escuridão das grutas, numa caverna a oeste de Bangkok, tailandeses com faróis e lanternas fazem seu trabalho.

Peregrinos chegam ao templo, que é proprietário do complexo, e oram diante das estátuas de Buda, cuja expressão não indica  nenhuma reação às fezes dos morcegos que caem em seus ombros.

O complexo de cavernas em um templo na Tailândia atrai turistas, peregrinos e colecionadores de guano.  Foto: Adam Dean / The New York Times

Os que chegam em busca das fezes dos morcegos as recolhem para vender como fertilizantes, carregando consigo sacos do estrume através de um caminho repleto de estalactites e estalagmites.

E os pesquisadores médicos, supervisionados por um dos mais destacados virologistas especializados em morcegos, aprisionam os animais em busca de vestígios do coronavírus responsável pela covid-19. Os cientistas acreditam que ele teve origem nos morcegos.

Fora do complexo, o abade do templo budista que se intitula o “templo de centenas de milhões de morcegos”, usa um megafone para dizer aos visitantes que esses mamíferos voadores do local são inofensivos.

“Não se preocupem. Esses morcegos não transportam doenças porque comem insetos, diz Phra Kru Witsuthananthakhun. “Todos sabem que quando os morcegos comem frutas eles as dividem com outros animais, como ratos, e é assim que a doença se propaga”.

Ele está certo ao afirmar que os morcegos que se alimentam de frutas têm ligação com os vírus graves que atingem a população humana. Mas aqueles que comem insetos também já transmitiram doenças graves. Muitos virologistas acham que o morcego-ferradura, ávido comedor de insetos, pode estar ligado ao coronavírus. E um estudo de um parque nacional tailandês identificou morcegos desta espécie nas cavernas.

A área em torno das grutas, no bairro de Photharam, na província de Ratchaburi, enriqueceu graças aos morcegos – atraindo turistas, empresas de fertilizantes e, mais importante, os quiropterologistas, cientistas que estudam os morcegos.

No centro da pequena e palpitante economia local está o Templo de Khao Chong Phran, proprietário das cavernas de pedra calcária onde os morcegos se refugiam durante o dia. Só numa dessas grutas existem três milhões de morcegos de 10 espécies diferentes.

Hordas de morcegos saem da caverna Khao Chong Phran ao anoitecer, perto do distrito de Photharam na província de Ratchaburi. Foto: Adam Dean / The New York Times

Quase um quarto das espécies mamárias são morcegos e sua capacidade de voar carregando uma placa de Petri de vírus os tornam maravilhas zoológicas e vetores de doenças. Doenças infecciosas nas últimas décadas que se acredita tiveram origem nos morcegos, incluem os coronavírus que causaram a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e a MERS – síndrome respiratória do Orinte Médio, junto com outros vírus como o Nipah, Hendra e Ebola.

Muitos desses vírus foram transferidos dos morcegos para um hospedeiro intermediário, como o macaco, a civeta asiática ou o camelo, para depois chegarem aos humanos.

Embora o coronavírus responsável pela covid-19 e que despertou a atenção pública no final de 2019 não esteja conclusivamente ligado aos morcegos, na província de Yunnan, a sudoeste da China, um pesquisador encontrou em morcegos-ferradura evidências de um vírus que se assemelha muito a ele. As fezes desse morcego do Camboja também mostraram existir alguma ligação. E a mesma família de morcegos foi o reservatório natural do coronavírus da SARS.

A descoberta de uma possível conexão entre os morcegos-ferradura e o coronavírus responsável pela covid-19 levou o Dr. Supaporn Watcharaprueksadee, vice-diretor do Centro de Doenças Infecciosas Emergentes da Tailândia, e especialista em vírus transportados por morcegos, a investigar se essas espécies da Tailândia, que não está distante de Yunnan e do Camboja, podem ter uma similar carga viral.

Segundo o especialista, sua equipe não encontrou nenhum traço de algum coronavírus similar ao que causa a covid-19 nos morcegos do templo de Khao Chong Phran, embora tenham sido descobertos outros coronavírus ali.

Testes feitos em humanos que moram na região e em torno do tempo, incluindo os que recolhem o estrume dos animais e já passaram décadas em proximidade com os morcegos não registraram nenhuma evidência de anticorpos do vírus.

Embora a Tailândia tenha sido o primeiro país fora da China a confirmar um caso de covid-19 – num turista chinês que visitou a região no início de janeiro do ano passado, o país desde maio parecia ter sufocado a transmissão local. No geral os tailandeses têm se mostrado vigilantes, usando máscaras, e as fronteiras tailandesas foram fechadas para impedir que o vírus chegasse de fora.

Mas, nas últimas semanas, o vírus começou a se propagar pelo país depois de ser primeiramente identificado em comunidades de imigrantes que trabalham ao longo da porosa fronteira com Mianmar. Em questão de meses, de nenhum caso registrado de transmissão local, a Tailândia contabilizou centenas de infecções por dia no final de dezembro e em janeiro.

Uma equipe de ecologistas e estudantes de ecologia da Universidade de Kasetsart coleta amostras de um morcego em um laboratório perto da caverna Khao Chong Phran. Foto: Adam Dean / The New York Times

Na visão dos que recolhem as fezes dos morcegos em Khao Chong Phran, que não fica distante da fronteira com Mianmar, a inquietação causada pelos morcegos é exagerada. Existem 17 espécies de morcegos na área e somente duas são de morcegos que se alimentam de frutas, ligados ao coronavírus. O resto consome insetos.

“Mesmo antes da geração do meu avô nós recolhemos o estrume das cavernas”, disse Jaew Yemcem, 65 anos. “Eles não tiveram problemas e nós também não”.

Todas as manhãs aos sábados, antes do alvorecer, o templo permite que as pessoas que vêm recolher o esterco entrem no local, algumas usando um balaclava, gorro de malha que cobre a cabeça, o pescoço e os ombros, para se protegerem, entrarem nas cavernas e recolherem o material que será usado na produção de um fertilizante rico em nitrogênio. Muitos caminham descalços para caminhar melhor pelo terreno escorregadio por causa da condensação e das fezes dos animais.

O templo compra o esterco recolhido e o leiloa para fazendeiros ou intermediários agrícolas, que afirmam que o fertilizante deixa as goiabas mais doces e as papaias mais gordas.

Os coletores recebem 85 centavos por cada balde de esterco e conseguem recolher uma dezena de baldes por dia se tiverem sorte.

Em alguns países do Sudeste Asiático os morcegos são uma iguaria. Embora os armazéns do templo de Khao Chong Phran outrora vendessem morcegos para churrasco, os moradores da localidade não os consomem mais porque são animais protegidos, disse Supaporn, que pesquisa há décadas os morcegos da região.

Mas Prangthip Yencem, que trabalha como ajudante de cozinheiro numa escola local durante a semana, disse que o consumo, embora menor, continua. A carne do morcego dá um gosto bom em vários pratos, disse ela, como no caso de um salteado com pimenta e manjericão ou frito com alho e pimenta branca.

E o sangue do morcego, com uma dose de bebida alcoólica é um coquetel revigorante, acrescentou.

Os moradores da área não mais caçam morcegos desde que o abade os advertiu contra a prática. Mas se por acaso um morcego acabar voando e pousando num poste de telefone e despencar no chão, quem vai rejeitar uma comida grátis?

“Mesmo agora as pessoas consomem morcegos e elas não pegaram a covid”, disse ela. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

DECISÃO DA ÁFRICA DO SUL DE SUSPENDER A VACINA OXFORD É PREOCUPANTE

 

Decisão da África do Sul de suspender vacina de Oxford lança alerta para risco de variante no Brasil

Medida foi adotada após estudo mostrar baixa eficácia de imunizante contra cepa local do Sars-CoV-2; OMS diz que pesquisa tem número limitado de participantes

Giovana Girardi, O Estado de S.Paulo

A decisão da África do Sul de suspender temporariamente a vacinação contra covid-19 com o imunizante da Oxford/Astrazeneca por ele apresentar uma eficácia baixa contra a nova variante do vírus encontrada no país fez a Organização Mundial da Saúde (OMS) reavaliar sua produção pelo consórcio Covax. A situação também lança um alerta para o Brasil sobre o risco da rápida disseminação das novas variantes do coronavírus Sars-CoV-2.

Voluntário recebe vacina de covid-19 da AstraZeneca na África do Sul. Foto: Siphiwe Sibeko/AP

Em coletiva à imprensa, o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse nesta segunda-feira, 8, que a suspensão temporária do uso da vacina pelos sul-africanos é preocupante, mas fez ressalvas. A primeira é que a decisão foi tomada em cima de um estudo pequeno, que mostrou uma eficácia mínima, de apenas 22%, do imunizante em prevenir doenças leves a moderadas causadas pela nova variante. “Considerando o tamanho limitado da amostra e o perfil jovem e saudável dos participantes, é importante determinar se a vacina se mantém efetiva (como já é hoje) em prevenir casos mais severos”, destacou.

Nesta segunda, o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização da ONU (Sage) se reuniu para revisar as evidências sobre a vacina de Oxford – incluindo seu desempenho contra as variantes virais – e para considerar o impacto do produto e avaliar a relação risco/benefício de uso em casos com dados limitados. As recomendações serão apresentadas por Ghebreyesus nesta terça e devem também ter impacto sobre a produção das vacinas que está sendo feita pelo consórcio.

Países no início da campanha de vacinação precisam ficar mais atentos

A capacidade da variante sul-africana de driblar a vacina de Oxford traz uma preocupação extra para países que ainda estão muito no início do seu processo de imunização, como é o caso do Brasil. “Esses resultados (da África do Sul) são uma lembrança de que nós precisamos fazer tudo o que pudermos para reduzir a circulação do vírus com medidas de saúde pública comprovadas”, alertou Ghebreyesus.

O surgimento de mutações é algo esperado pela própria natureza dos vírus, mas tende a acontecer mais quanto maior é sua circulação. É justamente quando o vírus se replica que as mutações podem ocorrer. Por isso, tanto a OMS quanto pesquisadores e médicos têm insistido que a melhor forma de garantir que a vacina nos proteja é protegendo a própria vacina ao evitar que as novas variantes surjam.

“Todos temos um papel em proteger as vacinas. Toda vez que você decide ficar em casa, evitar multidões, usar máscara ou lavar as mãos, você está negando ao vírus a oportunidade de se espalhar, de mudar de maneiras que poderiam deixar as vacinas menos efetivas”, disse o diretor da OMS.

Instituto Serum, onde está sendo produzida a vacina contra o novo coronavírus da AstraZeneca e Oxford, em Pune, na Índia.Instituto Serum, onde está sendo produzida a vacina contra o novo coronavírus da AstraZeneca e Oxford, em Pune, na Índia. Foto: Sam PANTHAKY / AFP

A epidemiologista brasileira Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin Vaccine, lembra que a África do Sul pôde tomar a decisão de suspender temporariamente a vacina de Oxford não por achar que ficar sem nada era melhor do que usá-la, mas porque o país tinha à disposição outros imunizantes que se mostraram menos impactados pela mutação.

Nesta segunda, a Pfizer divulgou que sua vacina com a BioNTech permaneceu efetiva contra a variante. A vacina da Novavax também demonstrou ser eficaz. Já a Coronavac, do Instituto Butantan e do laboratório chinês Sinovac, ainda não foi avaliada diante das novas cepas, assim como nenhuma vacina ainda foi testada ante à variante que surgiu em Manaus e que é mais próxima da mutação da África do Sul.

“Isso tem de servir para nos despertar a consciência do que é preciso nessa fase da pandemia: vacinar o mais rápido possível o maior número de pessoas, principalmente porque no Brasil ainda se acredita que a nova variante pode não estar tão disseminada, apesar de estarmos voando praticamente às cegas, com pouca vigilância”, alerta a pesquisadora. “Somente diminuindo a transmissão viral vamos conseguir evitar mutações e mais variantes futuras. Quanto mais for transmitido, mais surpresas poderemos ter.”

FORMAS DE FAZER O SEU NEGÓCIO IR PARA UMA RECESSÃO

 

Administração de empresas

9 formas de preparar o seu negócio para uma recessão

Embora prever crises econômicas seja difícil, existem maneiras de estar mais preparado para uma

Existem maneiras de uma empresa estar mais preparada para uma possível recessão (Foto: Reprodução/Pexels)

A pandemia mostrou que uma crise econômica devastadora pode acontecer a qualquer momento — e é importante que as empresas estejam sempre preparadas.

“Há muitas etapas que você pode seguir para manter sua empresa forte, independentemente do que o futuro reserva”, afirma Adam Jacobs, diretor executivo da agência de talentos Bubblegum Casting.

Ele diz que não só conseguiu manter seu trabalho, como também viu sua agência ficar mais forte do que antes da Covid-19. No Entrepreneur, ele deu dicas de como as empresas podem estar sempre preparadas para uma possível recessão:

1. Repense sua equipe

Você provavelmente começa a contratar mais pessoas conforme sua empresa está crescendo — mas sem pensar no quadro geral. Isso, segundo Jacobs, faz com que sua equipe não seja o mais eficiente possível. É importante observar a estrutura do trabalho e as responsabilidades de cada um. Talvez você até perceba que é possível reduzir as horas de trabalho.

2. Adaptação às tecnologias

Jacobs conta que foi muito importante que sua equipe já estivesse adaptada às reuniões por vídeo antes mesmo que elas se tornassem obrigatórias. “Isso nos permitiu continuar com nossos negócios de forma eficiente, apesar das circunstâncias inesperadas da pandemia”, afirma.

O conselho dele é que, antes mesmo de aparecer uma necessidade real, é fundamental pensar em maneiras de usar a tecnologia para otimizar os negócios.

3. Desenvolvimento constante

Muitas empresas diminuem seus planos de desenvolvimento de negócios quando as coisas estão indo bem — mas isso não é o ideal. Segundo Jacobs, o desenvolvimento de negócios estabelece as bases para vendas futuras, então é importante sempre reservar tempo para pensar em novas estratégias para crescer.

4. Planos com antecedência

Jacobs acredita que a maioria das empresas espera até que os negócios sofram grandes perdas para tentar encontrar uma solução. Mas, na verdade, é melhor já ter um plano com antecedência.

“Faça uma lista de tarefas concretas que você deve realizar sempre que seus negócios ficarem mais lentos”, diz ele. Dessa forma, se houver necessidade, você terá uma lista de tarefas claras para começar a trabalhar assim que o seu negócio der o primeiro indício de problemas.

5. Mantenha contato contínuo

Suas estratégias de marketing e publicidade não devem se concentrar apenas em alcançar novos clientes — é preciso cultivar continuamente o relacionamento com os clientes antigos. Mantenha o negócio em suas mentes para que eles continuem voltando. Uma das formas de fazer isso é enviar e-mails e newsletters para sua lista de contatos regularmente.

6. Acompanhe o marketing

Um dos erros mais comuns é cortar o orçamento de marketing durante uma recessão. “Uma recessão é um momento em que o seu marketing é mais importante, porque você precisa atrair novos negócios”, afirma Jacobs.

Apesar de não ser recomendado cortar totalmente o orçamento dessa área, pode haver momentos em que você precisará reduzir o orçamento. Para fazer isso corretamente, você precisa de um longo histórico de dados, acompanhando todas as campanhas para ver quais estratégias são mais bem-sucedidas. Se precisar fazer cortes durante uma recessão, você já saberá quais pode cortar porque sabe quais têm menos sucesso.

7. Invista em um planejador financeiro

Antes mesmo de uma recessão, um planejador financeiro especializado em finanças empresariais pode ser muito útil para gerenciar seu fluxo de caixa.

“Contrate um planejador quando sua receita for alta. Dessa forma, o planejador pode ajudá-lo a planejar um dia ruim e encontrar formas financeiras de proteger o negócio da recessão.”

8. Mantenha uma lista de ideias de expansão em execução

A pandemia está fazendo várias empresas adaptarem seus serviços e produtos para atender às necessidades da crise atual. Com os clientes gastando menos dinheiro em roupas, por exemplo, várias empresas de moda passaram a oferecer máscaras.

Por isso é sempre importante ter várias ideias extras. Tenha uma lista de maneiras de como sua empresa pode se ajustar às necessidades de seus clientes durante uma recessão.

9. Aumente o seu crédito

Pedir crédito não é algo que todas as empresas querem fazer, mas nunca está fora de questão. E é ainda mais frustrante quando você realmente precisa de um empréstimo, mas descobre que o seu crédito é muito baixo para obtê-lo.

“Proteja seu futuro construindo o crédito de seu negócio. Existem várias etapas que você pode seguir agora para facilitar a obtenção de um empréstimo acessível no futuro”, diz Jacobs.

A “regra dos 70%” é um guia para tomar decisões mesmo sem ter todas as informações necessárias. Saiba como praticar esta técnica do fundador da Amazo

Existem companhias que tomam decisões rapidamente e se arrependem. Outras demoram para se decidir e também enfrentam o fracasso. Jeff Bezos, fundador da gigante de comércio eletrônico Amazon, segue uma regra que soluciona essas duas situações.

Em uma carta anual a acionistas, Bezos contou como ele toma decisões pela “regra dos 70%“. Segundo o site americano Inc.com, empresário reconhece que os empreendedores nem sempre têm acesso a todas as informações em que poderiam basear uma decisão e que, na maioria dos casos, esperar por elas é um problema.

“A maioria das decisões deveria ser tomada com cerca de 70% das informações que você gostaria de ter. Se você esperar pelos 90%, você provavelmente está sendo lento demais”, escreveu Bezos.

Saber se você já tem 70% das informações é a parte mais difícil. É uma questão de experiência e de tempo até você descobrir quando é hora tomar decisões ou de esperar.

Pense se você tem cerca de 70% dos dados necessários antes de ir a uma reunião. Por exemplo, você analisou prós e contras que alguma decisão teria no seu negócio e qual o tamanho da oportunidade?

Considere também o risco de estar errado. Como diria Jeff Bezos: se você tem certeza de que está tomando a decisão correta, provavelmente perdeu tempo.

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   A Valeon é uma caixinha de possibilidades. Você pode moldar ela em torno do negócio. O que é muito importante. O nosso é colocar o consumidor no centro e entender o que ele precisa. A Valeon possibilita que você empresário consiga oferecer, especificamente para o seu consumidor, a melhor experiência. A Valeon já é tradicional e reconhecida no mercado, onde você empresário pode contar com a experiência e funcionalidades de uma tecnologia corporativa que atende as principais operações robustas do mundo essencial e fundamental. A Valeon além de trazer mais segurança e credibilidade para o seu negócio, também resulta em muita troca de conhecimento e ótimos resultados para ambos os lados, como toda boa parceria entre empresas deve ser. Lembrem-se que a Valeon é uma Startup Marketplace de IpatingaMG que tem a responsabilidade de levar o cliente até à sua empresa e que temos potencial para transformar mercados, impactar consumidores e revirar empresas e indústrias onde nossos produtos e serviços têm capacidade de escala e de atrair os investimentos corretos para o nosso crescimento.

USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE REDUZ VAZÃO DO RIO XINGÚ

 

Ibama cede à Belo Monte e Rio Xingu volta a conviver com vazão mínima de água

Acordo prevê liberação de 1.600 metros cúbicos em uma área que, conforme mostra o histórico do Xingu, deveria receber mais de 14 mil m³/s neste mês

André Borges, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Depois de ter sido pressionado pelo Ministério de Minas e Energia e por toda a cúpula do setor elétrico, o Ibama cedeu às investidas do governo e do setor empresarial e vai permitir que a concessionária Norte Energia, dona de Belo Monte, volte a liberar o volume mínimo de água para o Rio Xingu, no Pará.

Durante todo o mês de janeiro e nos primeiros dez dias de fevereiro, 41 dias ao todo, o órgão ambiental impôs a determinação de sua área técnica e, a contragosto do próprio governo, exigiu que a empresa liberasse a quantidade de água que seus especialistas haviam apontado como necessária para manter a sobrevivência na região conhecida como Volta Grande do Xingu, uma extensão de 130 quilômetros do rio que vive o drama da falta de água, por causa da retenção pela barragem da usina.

Reservatório da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Foto: Marcos Corrêa/PR – 27/11/2019

Em janeiro, a Norte Energia previa, em seu “hidrograma B”, liberar 1.100 metros cúbicos por segundo (m³/s) de água, mas teve que acatar a decisão do Ibama e autorizar a passagem de 3.100 m³/s. Em fevereiro, a empresa previa 1.600 metros cúbicos de liberação, mas o órgão ambiental impôs 10.900 m³/s, até a próxima quarta-feira, 10.

Com o acordo firmado agora com a Norte Energia, porém, volta a valer toda a programação prevista no “hidrograma B” da empresa, ou seja, a vazão mínima de 1.600 metros cúbicos em uma área que, conforme mostra o histórico do Xingu, deveria receber mais de 14 mil m³/s neste mês. Essa vazão já deve ser aplicada a partir desta quinta-feira, 11.

O Ibama se comprometeu a manter o hidrograma B da Norte Energia até 31 de janeiro de 2022, data em que será feita a análise dos estudos complementares exigidos.

A reportagem teve acesso à íntegra do “termo de compromisso” que o Ibama assinou com a Norte Energia. O acordo prevê 15 novas medidas de compensação ambiental, fiscalização e apoio à população local. As medidas somam um investimento de R$ 157,5 milhões, que deverão ser executados nas ações, ao longo de três anos.

A lista de medidas inclui, por exemplo, alocação de R$ 18 milhões para contratação de dois helicópteros, com 1 mil horas de voo por ano, durante três anos. O programa mais caro, com orçamento de R$ 30,4 milhões, prevê um “projeto de incentivo à pesca sustentável”.

A maior parte das medidas, apesar de declaradas como novas, prevê ações que reforçam o monitoramento e fiscalização das condições de vida dentro e fora das águas do Xingu, algo que, a rigor, já era obrigação da Norte Energia entregar, independentemente dos novos acordos.

Pelo termo de compromisso, a Norte Energia terá de apresentar, até 31 de dezembro de 2021, estudos complementares sobre a vazão e a qualidade ambiental do rio. No acordo, Ibama e empresa afirmam que o objetivo é “garantir a produção energética e a preservação do meio ambiente e dos modos de vida das populações na região denominada como Volta Grande do Xingu”.

Como parte do compromisso, a Norte Energia já fez um depósito inicial de R$ 50 milhões para iniciar os programas. O restante será garantido por meio da contratação de um seguro-fiança.

Está prevista a de relatórios mensais ao Ibama com o detalhamento da evolução das medidas. “Além dos estudos requeridos pelo Ibama, deve a Norte Energia apresentar todos os estudos e dados aptos a demonstrar a segurança do hidrograma de consenso enquanto vazão adequada para manter a qualidade ambiental do trecho de vazão reduzida até a data limite de 31/12/2021”, informa o termo de compromisso.

Desde o ano passado, a área técnica do Ibama, especialistas independentes e o Ministério Público Federal em Altamira têm demonstrado, com dezenas de estudos já aprofundados, que não há condições de manter a vida no rio com a adoção do hidrograma B. Não por acaso, é grande a diferença entre a programação mensal prevista pela Norte Energia e aquela que o Ibama passou a impor neste ano.

Em março, por exemplo, a vazão que a Norte Energia fará será de 4 mil metros cúbicos por segundo, quando o hidrograma do Ibama, agora descartado, exigia 14.200 m³/s. Em abril e maio, quando a concessionária vai liberar 8 mil e 4 mil m³/s, respectivamente, o órgão ambiental tinha programado, da mesma forma, 13.400 e 5.200 m³s nos dois meses.

Histórico

A usina de Belo Monte, que custou R$ 44 bilhões, tem uma potência total de 11.233 megawatts (MW), mas sua geração média no ano chega a 4.571 MW, por causa da oscilação do nível de água da Rio Xingu. Não por acaso, a viabilidade da usina foi questionada por ambientalistas e engenheiros credenciados na construção de barragens. Durante quatro a cinco meses do ano, a hidrelétrica tem que ficar praticamente desligada, por causa da baixa vazão do rio na época de seca.

Em novembro de 2015, a Norte Energia fechou a barragem principal da usina, desviando uma média de até 80% da água para um canal artificial de mais de 20 quilômetros, onde foram instaladas as grandes turbinas da hidrelétrica. Com esse desvio, um trajeto de 130 km, que há milhares de anos convivia com um regime natural de seca e cheia, passou a ser submetido a um regime reduzido e constante de água, o que tem acabado com dezenas de espécies de peixes, tartarugas e frutos, além de comprometer a subsistência de milhares de famílias espalhadas em 25 vilas do trajeto do rio, entre indígenas e não indígenas.

O controle sobre a quantidade de água que passa ou não pela barragem é feito pela Norte Energia, por meio de “hidrograma de consenso” que prevê os volumes que devem ser liberados. Ocorre que esse documento técnico foi elaborado pela própria empresa, quando do seu licenciamento, em 2009, sem nenhum consenso com o Ibama.

No ano passado, após uma vistoria local realizada por diversos órgãos públicos e especialistas, foi novamente comprovado que “não está demonstrada a garantia da reprodução da vida, com riscos aos ecossistemas e à sobrevivência das populações residentes”, por causa da pouca água no trecho.

Há mais de dez anos, Ibama, Fundação Nacional do Índio (Funai), universidades públicas e o Ministério Público Federal alertam para a situação de tragédia ambiental que poderia ser imposta aos 130 quilômetros de corredeiras, cachoeiras, ilhas, canais, pedrais e florestas aluviais que formam a Volta Grande do Xingu. Hoje, o MPF chama a atenção para “evidências científicas de que um ‘ecocídio’ fulminará um dos ecossistemas da Amazônia de maior  biodiversidade”.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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