domingo, 7 de fevereiro de 2021

O MUNDO DIGITAL É A SOLUÇÃO PARA ALVANCAR AS VENDAS DAS EMPRESAS

 

Como fazer o seu negócio dar certo no mundo digital

Revista Empresas e Negócios

E-commerce, teleconsulta, delivery, assinaturas, cursos à distância, venda nas redes sociais: conheça as melhores estratégias para ter sucesso em diferentes modelos digitais

(Foto: Pablo Saborido)

“Mude ou morra”, diz o guru Steve Blank em Estratégia de Sobrevivência ao Vírus, o melhor guia para o empreendedor que quer atravessar esses tempos de pandemia — e sair mais forte do outro lado (disponível em steveblank.com). Para o mestre do Vale do Silício, insistir apenas no negócio físico deixou de ser uma opção. Em um mundo onde usuários dos 5 aos 100 anos aprenderam a resolver sua vida online, o digital não é mais uma escolha. É um imperativo. Quem ainda não fez a transição precisa começar imediatamente, e quem já fez deve aprimorar suas estratégias todos os dias, sob pena de ficar para trás dos concorrentes, que podem vir de qualquer lugar — inclusive de outros setores da economia.

Boa parte dos empreendedores brasileiros já entenderam o recado. Dados da pesquisa “O impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae com MEIs, microempresas e empresas de pequeno porte, apontam que 800 mil empresas conseguiram reduzir a queda no faturamento usando plataformas digitais. Outro estudo, dessa vez realizado por PEGN, Resultados Digitais e Endeavor com donos de micro, pequenas e médias empresas mostra que 47,6% dos empreendedores levaram seu modelo de vendas para o ambiente digital. Desses, 36,5% disseram que vão adotar a mudança de forma permanente.

O primeiro passo foi dado. Mas é bom lembrar que a transformação digital traz armadilhas que podem ser fatais para os novatos nesse universo. “Para começar, o dono do negócio precisa entender que migrar para o mundo virtual não é simplesmente criar um site ou app. É repensar o negócio”, diz Ricardo Balkins, sócio-líder da Indústria de Consumer Business da Deloitte. “É possível construir essa transição aos poucos. Comece pequeno e teste tecnologias para sentir o que realmente precisa e o que funciona para você”, diz.

Outro equívoco é pensar de forma autocentrada, priorizando a empresa e o produto, em vez de ouvir o que diz o cliente. Segundo André Siqueira, cofundador da Resultados Digitais, isso é mais comum do que se pensa. “Ao levar o negócio para o digital, o empreendedor passa a falar só sobre o seu produto e a sua empresa, e deixa de lado a conversa com quem está do outro lado da tela. Esquece que é preciso engajar o cliente, manter contato frequente, fazer a abordagem comercial e avaliar os resultados”, diz Siqueira. Há também quem bata o pé e resista ao uso da tecnologia. “Esse comportamento ainda persiste. Mas tentamos mostrar aos empreendedores que a maioria das ferramentas digitais são intuitivas e fáceis de usar”, diz Caroline Minucci, especialista em marketing digital do Sebrae-SP.

Na migração, o empreendedor precisa escolher qual modelo digital irá adotar: e-commerce, teleconsulta, delivery, clube de assinaturas, cursos à distância e venda pelas redes sociais são algumas das opções, abordadas nesta reportagem. Cada modelo requer planejamento e estratégias próprias, mas algumas práticas são comuns a todos. Depois que o público-alvo é definido, é preciso criar um canal de comunicação nas plataformas digitais. “Ter perfis business no Instagram, Facebook e WhatsApp, estar presente no Google Meu Negócio e bem ranqueado no Google são providências básicas, que valem para todos”, afirma Caroline. Mas não basta fazer posts aleatórios e torcer para viralizar. “Entenda essas plataformas como um espaço de convivência com o cliente. Faça postagens humanizadas e personalizadas. Crie conteúdos exclusivos associados ao negócio. Não deixe que a loja e as redes virem apenas um catálogo online.”

O empreendedor que se criou no mundo físico terá uma grata surpresa ao entrar no universo online. Hoje, ferramentas como RD Station, Rock Studio, Harvest, Wix e Google Analytics permitem ao dono do negócio acompanhar cada etapa da jornada de compra do cliente, da pesquisa pelo produto à conversão da venda. É possível saber quando ele abandonou o carrinho, entrar em cena para ajudá-lo a fechar o negócio e ainda oferecer suporte para tirar dúvidas sobre especificações do produto. “É importante estabelecer uma relação de confiança, que é a base dos negócios virtuais. Mas, para que isso aconteça, é fundamental criar processos que deixem o cliente confortável e seguro. Só assim o negócio vai dar certo”, diz Ricardo Balkins. Confira a seguir as melhores estratégias dentro de cada modelo digital e as histórias de sucesso de quem já fez a transição.

E-commerce

Como adotar o modelo
Antes de mais nada, busque uma plataforma fácil de usar: existem várias no mercado. A desvantagem é que será preciso utilizar templates, com pouca margem para personalização. Mas, com preços acessíveis, atendem às necessidades dos micro e pequenos empreendedores — Loja Integrada, Olist Shops e Tray estão entre as opções. Outra boa estratégia é fazer parte de um marketplace. Colocar seus produtos nesses “shoppings virtuais” — como Mercado Livre, Magalu e Rededots — não fortalece a sua marca. Mas contribui para dar visibilidade aos produtos e gerar volume de vendas. A maioria dos marketplaces cobra uma pequena taxa mensal como o Marketplace da Valeon. .

No caso do e-commerce próprio, será necessário determinar se irá receber por cartão de crédito, boleto bancário ou opções para pagamento online, como PayPal, PagSeguro, PicPay e Mercado Pago: consulte as taxas de adesão e percentuais sobre transações. Para entregar, você pode usar os Correios ou fazer parceria com transportadoras.

Para que seu e-commerce deslanche, é fundamental investir em marketing digital. Um bom começo é apostar em SEO e usar bem as redes sociais — não só para mostrar seus produtos, mas também para oferecer conteúdo associado. “Essa tática ajuda a conseguir uma boa posição na pesquisa orgânica e nos sites de busca”, diz André Siqueira, cofundador da Resultados Digitais.

Quem já fez
Para divulgar seu e-commerce, a empreendedora Fernanda Sollito, 33 anos, costuma fazer posts com conteúdos sobre moda e estilo de vida, montando looks completos, por exemplo. Durante a pandemia, ela foi obrigada a fechar a loja física e a confecção que levam o seu nome em São Paulo e a investir com mais força no digital — o e-commerce existia desde 2011, mas não era o foco. Para vender online, concentrou-se em posts no Instagram. “Com a loja fechada, tive de criar outro tipo de vínculo. Foi essa conversa nas redes que me manteve próxima das clientes e me ajudou a trazê-las para o ambiente digital”, diz. Com o e-commerce vendendo tanto quanto a loja física, ela espera superar o faturamento de 2019, que foi de R$ 867 mil.

Positivo
• Escolha produtos que não estejam saturados no mercado, para não competir com as gigantes
• Capriche nas fotos e na descrição dos produtos, para aparecer bem nos buscadores
• Além de divulgar nas redes, trabalhe com SEO, mantenha o Google Negócio atualizado e considere investir em Google Ads

Negativo
• Deixar seu público sem resposta. Monitore SAC e redes sociais e atenda com agilidade o usuário
• Vender mais do que é capaz de entregar é um erro comum de quem coloca sua loja em um marketplace
• Transformar o site e as redes em um simples catálogo virtual. Faça postagens personalizadas e humanizadas

A plataforma Comercial da Startup Valeon da Região do Valeo do Aço é um Marketplace cujo site inovador e inédito em termos de divulgação de empresas foi projetado para atender às necessidades dos empresários da região e permite várias formas de busca: por cidades, por empresas, por produtos, por município, por serviços e por profissionais.

A Startup Valeon disponibiliza os seus serviços para todas as empresas do Vale do Aço para o desenvolvimento de soluções de tecnologia da Informação com foco em gestão empresarial

Com uma completa linha de produtos e serviços de divulgação empresarial atendemos às necessidades tecnológicas das empresas com a nossa equipe altamente especializada e qualificada com profundo conhecimento das particularidades e demandas do mercado e de cada segmento do comércio da região.

“Quando tudo parece estar indo contra você, lembre-se que o avião decola contra o vento, não a favor dele.”  (Henry Ford)

Site: https://valedoacoonline.com.br/ ou App Android valeon

Contato: Representante Comercial:  Engº./Prof. Moysés (31) 98428-0590

A ENERGIA SOLAR É A PREFERIDA DOS CONSUMIDORES PARA SAIR DO ALTO PREÇO DA ENERGIA ELÉTRICA DAS CONCESSIONÁRIAS

 

Avança a energia solar

Em 2020, a potência instalada em energia solar no País chegou a 7,5 GW, crescimento de 64% em comparação ao ano anterior

Celso Ming, O Estado de S.Paulo

O gráfico abaixo já diz quase tudo: em 40 anos, o preço da célula fotovoltaica, que compõe as placas que convertem energia solar em energia elétrica, caiu de US$ 76 para US$ 0,30. Foi o fator que ajudou a reduzir os custos dos investimentos e despertou grande interesse dos consumidores pela utilização desse tipo de energia.

Os investimentos privados seguem crescendo, com destaque para o segmento de geração distribuída, que é o da energia elétrica gerada no local de consumo por meio de sistemas de captação de luz solar instalados em telhados e fachadas de casas, condomínios, barracões, fábricas e edifícios.

Como apontam os dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), em 2020, o setor atraiu  R$ 13 bilhões em investimentos. Nada menos que 80% desses recursos se destinaram a pequenos sistemas de geração solar. Mesmo em meio à pandemia, o Brasil quase dobrou sua potência instalada em energia solar. Ao fim de 2019, contava com potencial de 4,6 gigawatts (GW). Um ano depois, já tinha 7,5 GW, crescimento de 64%.

Somente na geração distribuída, o crescimento na capacidade instalada em 2020 foi de 2,2 GW. Hoje, o Brasil possui mais de 350 mil instalações de energia solar fotovoltaica conectadas à rede. Para 2021, a expectativa da Absolar é de que a potência instalada no País chegue a 12,6 GW.

“Como os preços da energia elétrica de fonte convencional estão cada vez mais altos, o consumidor vem encontrando na energia solar uma dupla solução: redução dos custos e respostas socioambientais mais adequadas”, resume Rodrigo Sauaia, CEO da Absolar.

Ele acrescenta mais dois fatores que vêm puxando pelos investimentos: o retorno cada vez mais rápido do capital e os subsídios em créditos e desonerações, destinados a estimular o uso dessa energia.

Esse mercado despontou comercialmente apenas em 2012. De lá para cá, o investimento se pagou cada vez mais cedo, de três a cinco anos, a depender da região. É o que relata Fernando Costa, proprietário da Alba Energia Solar e presidente do Grupo G5 Solar, entidade criada por players do setor para fomentar o mercado. Ele é mais específico: em Minas Gerais, Estado com maior concentração de potência instalada em geração distribuída, o tempo de retorno varia entre três e quatro anos nos sistemas residenciais. Já em cidades em que a verticalização dos edifícios pode dificultar o aproveitamento das instalações solares para geração distribuída, caso de São Paulo, o retorno calculado hoje é na faixa de quatro a cinco anos.

Nem tudo é luz no sistema de energia de geração distribuída. Alguma sombra provém da pressão das distribuidoras para que o produtor dessa energia também pague a parte da conta cobrada do consumidor comum, que banca incentivos e políticas públicas no setor. Explicando melhor: quando a produção de energia é maior do que o consumo, o excedente é injetado na rede das distribuidoras. Esse fornecimento gera um crédito em energia que pode ser aproveitado à noite ou quando a insolação é menor, em consequência da chuva ou de nevoeiro. A ideia inicial da Aneel é de distribuir entre os produtores de energia fotovoltaica os custos pela utilização da rede.

geração distribuída é a energia elétrica gerada no local de consumo por meio de sistemas de captação de luz solar instalados em telhados e fachadas de casas e edifícios. Foto: Tiago Queiroz/ Estadão

O tema é cercado de divergências. Para alguns, a taxação desestimularia a produção de energia de fonte limpa numa hora em que o mundo inteiro se esforça para mudar a composição da matriz energética. Sauaia, da Absolar, argumenta nessa direção. Para outros, não se pode sobrecarregar o consumidor comum com todos esses custos e criar privilégios para outro segmento de consumidores. É o que pensa, por exemplo, Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

Essas indefinições criam incertezas num território sensível, e o marco legal deve dar piso firme ao setor. Para os novos dirigentes do Congresso, esse assunto deve ser objeto de votação definitiva nos próximos meses. A conferir. /COM PABLO SANTANA

*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA

LIRA EXONARA SERVIDORES CONTRATADOS DA CÂMARA FEDERAL

 

Lira exonera mais de 500 funcionários comissionados na Mesa Diretora da Câmara

Presidente da Câmara dos Deputados está promovendo uma limpa nos comissionados ligados ao grupo político derrotado para acomodar indicações de partidos aliados

Patrik Camporez, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – Para acomodar as indicações de partidos aliados, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), está promovendo uma “limpa” nos cargos comissionados ligados ao grupo político derrotado.

Um ato da Mesa Diretora, assinado por Lira, determinou a exoneração de todos os ocupantes de cargos em comissão, de natureza especial. As exonerações passaram a valer a partir desta sexta-feira, 5, e devem ter atingido mais de 500 funcionários, segundo cálculos do grupo de Lira.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL). Foto: Luis Macedo/Agência Câmara

Ao Estadão, o atual presidente da Câmara negou que a exoneração em bloco seja um ato autoritário ou uma espécie de revanchismo contra o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Casa. “Ato da mesa normal em início de legislatura.O correto era que a Mesa anterior tivesse exonerado na saída os cargos de livre nomeação. Ato impessoal”, argumentou.

O decreto resguarda somente o emprego de servidores efetivos ou que possuam cargos ligados aos gabinetes das lideranças da Câmara dos Deputados, além de gestantes e pessoas que estejam de férias.

“A Mesa precisa conhecer a realidade dos servidores e fazer os ajustes que achar necessário. Quando houve a transição do presidente anterior para o Rodrigo também houve exoneração e contratação. Absolutamente normal”, disse o deputado federal Marcelo Ramos (PL-AM), primeiro vice-presidente da Câmara.

Questionado sobre o total de exonerações abrangidas pelo Ato da Mesa, Ramos disse acreditar que são “mais de 500”. “Todos os cargos vinculados à Mesa Diretora, ainda que vinculados em lideranças ou gabinetes, foram exonerados. Todos. Não tem nada de revanchismo, é apenas uma forma de a gente entender qual cargo está ligado a quem”.

O ato assinado por Lira também justifica as exonerações como forma de promover uma “reorganização” da atual estrutura administrativa da Câmara. Apoiado pelo Palácio do Planalto, o deputado foi eleito na última segunda-feira, 1.º, presidente da Câmara para o período 2021-2023, com 302 votos, após uma disputa marcada por traições, recuos e denúncias de compra de votos.

A escolha de Lira representa a vitória do Centrão, grupo de partidos conhecido pela prática do “toma lá, dá cá”, e um novo capítulo para o governo de Jair Bolsonaro, que aposta em uma agenda mais conservadora do que liberal para conquistar um novo mandato.

Conforme mostrou o Estadãoo governo interferiu na disputa do Congresso ao  liberar, no fim de dezembro, R$ 3 bilhões em recursos “extras” do Ministério do Desenvolvimento Regional para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos eleitorais.

PRESIDENTE DO STF QUESTIONA O PRESIDENTE DA CÂMARA NA LINHA SUCESSÓRIA

 

Réu na linha sucessória não é ‘o melhor para o País’, afirma Fux

Presidente do Supremo Tribunal Federal fala sobre situação de Arthur Lira e diz que impeachment de Bolsonaro seria um ‘desastre’ para o Brasil

Entrevista com

Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal

Rafael Moraes Moura e Andreza Matais, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, avalia que não é o “melhor quadro para o Brasil” ter um réu na linha sucessória da Presidência da República. Em entrevista ao Estadão, Fux foi questionado sobre a situação do novo presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que responde a denúncias na Corte por corrupção passiva e organização criminosa – ainda em análise de recursos.

“Eu acho que realmente uma pessoa denunciada assumir a Presidência da República, seja ela qual for, é algo que até no plano internacional não é o melhor quadro para o Brasil”, afirmou o ministro.

Segundo na linha sucessória, Lira pode ser impedido de substituir o presidente Jair Bolsonaro e o vice Hamilton Mourão. Um precedente do tribunal já impediu o então presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), de ocupar interinamente a cadeira no Planalto por ser réu na época.

O presidente do STF, Luiz Fux, posa para fotos no hall das colunas do Supremo Tribunal Federal com vista do Congresso Nacional e Palácio do Planalto.  Foto: Dida Sampaio/ Estadão

Em sua primeira entrevista após a abertura do Ano Judiciário, Fux disse que o impeachment de Bolsonaro seria “um desastre” para o País.

O deputado Arthur Lira pode, eventualmente, substituir Bolsonaro e Mourão, mesmo com denúncias já recebidas pelo STF?

Nessas questões limítrofes, você tem duas posições. Uma que entende que, se já teve a denúncia recebida, e a nossa Constituição elege a moralidade no âmbito da política e das eleições como um valor principal, ele não possa assumir. E tem outro aspecto importante, a ação penal não teve ainda a eficácia de torná-lo réu porque há (em análise) embargos de declaração (um tipo de recurso) que impedem que a decisão (de tornar Lira réu) seja considerada definitiva.

E qual a opinião do senhor?

Eu falo em geral, abstrato. Pelo princípio da moralidade, eu entendo que os partícipes da vida pública brasileira devem ter ficha limpa. Sou muito exigente com relação aos requisitos que um homem público deve cumprir para a assunção de cargos de relevância, como a substituição do presidente. Eu acho que, realmente, uma pessoa denunciada assumir a Presidência da República, seja ela qual for, é algo que até no plano internacional não é o melhor quadro para o Brasil.

O STF tem tido um papel fundamental no sistema de freios e contrapesos. Com dois aliados de Bolsonaro no comando do Congresso, o protagonismo da Corte vai ser ainda maior?

É preciso que o Parlamento se autovalorize e saiba exercer as suas competências, em vez de empurrar para o Supremo uma função que não é dele. O Parlamento tem de procurar resolver os seus problemas.

Mas um Congresso alinhado a Bolsonaro não pode obrigar o Supremo a exercer ainda mais esse papel de contraponto?

Bem ou mal, o presidente foi eleito com 60 milhões de votos. Por que não se permitiu a reeleição (na cúpula do Congresso) agora, muito embora tanto Davi Alcolumbre quanto Rodrigo Maia tenham sido bons na função que exerceram? Porque, se o STF abrir a brecha da violação da Constituição, realmente nós perdemos todos os critérios. Aquela ação não deveria nem ter chegado ao Supremo.

A atuação do governo na pandemia reforçou o discurso a favor do impeachment de Bolsonaro. Qual a opinião do senhor?

O impeachment é um processo político que o Supremo não pode nem se intrometer no mérito. Mas, em uma pós-pandemia, em que o País precisa se reerguer economicamente, atrair investidores e consolidar a nossa democracia, eu acho que seria um desastre para o País. O Brasil não aguenta três impeachments. O Brasil tem de ouvir o povo e o povo é ouvido através de seus representantes que estão no Parlamento. Acho que o impeachment seria desastroso.

O senhor vê mobilização popular para o impeachment?

Pela leitura acadêmica e histórica que a gente faz, você verifica que o impeachment é uma situação política que também depende muito da mobilização social.

Bolsonaro já disse que, sem voto impresso, “nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”, em referência à invasão do Capitólio. No Brasil, as instituições serão fortes para evitar qualquer tipo de golpe?

Não tenho a menor dúvida. Eu não acredito que ocorra 10% do que aconteceu nos Estados Unidos. Uma minoria inexpressiva não vai ter apoio. Absolutamente, não. Em conversas espontâneas, os generais têm uma posição muito firme de que a democracia brasileira não pode sofrer nenhum tipo de moléstia. Todos eles. Eu acho o voto impresso uma coisa muito antiquada, completamente desnecessária, porque as urnas são superseguras. E o voto impresso gera uma despesa bilionária para o Brasil. A palavra do Supremo está dada (contra o voto impresso). Uma despesa bilionária, depois da decisão do Supremo, é inaceitável. Não tem sentido.

Bolsonaro repete que não pode fazer nada para enfrentar a pandemia porque foi impedido pelo STF. Não é um equívoco?

O que o STF disse foi o seguinte: todas as Unidades da Federação têm responsabilidade em relação à pandemia. É uma gestão compartilhada, mas tem um aspecto maior, porque a Constituição atribui à União uma competência de coordenação nos casos de calamidade pública. O STF nunca eximiu o governo federal, absolutamente. Ninguém exonerou ninguém de responsabilidade.

O STF virou uma espécie de bode expiatório dos negacionistas, que tentam culpar a Corte pelos efeitos da pandemia?

Houve má interpretação da decisão judicial por parte do estafe do governo. O Supremo tem função precípua de esclarecer aquilo que efetivamente julgou. A decisão ficou tão clara que não houve embargos de declaração do aparato jurídico do governo, que é muito bom. Foi uma decisão claríssima.

Luiz Fux, presidente do STF, durante sessão da Corte Foto: Rosinei Coutinho/STF

O senhor enxerga má-fé ou uma tentativa de usar isso politicamente?

Enxergo como uma percepção alternativa de uma ciência que foi preconizada até alhures pelo (então) presidente dos Estados Unidos (Donald Trump), alguns líderes mundiais também. Em um primeiro momento, eram contra o lockdown, contra o isolamento, e pagaram preço caro por isso.

É preciso uma apuração rápida no inquérito que investiga se houve omissão do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, no colapso da rede pública de Manaus?

É preciso deixar bem claro que o Supremo absolve inocentes e condena culpados. Não se tem ainda elemento para se formar uma convicção. O que houve, no meu modo de ver, foi o fator-surpresa, porque alguns países também foram surpreendidos com falta de oxigênio.

Esse inquérito deveria ser prioridade?

A prioridade no momento é decidirmos tudo que possa influir na questão da saúde. Saúde primeiro, e depois a verificação de fatos ilícitos que ocorreram de maneira despudorada. Na verdade, era inimaginável, num momento de pandemia, que os homens públicos ainda tivessem a ousadia de cometer ilícitos diante dessa dor e desse flagelo da população.

Um dos pontos destacados para investigar Pazuello é a distribuição de hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada. Isso não pode ser crime?

A grande verdade é que autoridades médicas do País, até médicos famosos, disseram que passaram pela doença e tomaram hidroxicloroquina. Eu fiquei doente e não tomei. Tive uma covid caprichada. Levei três, quatro meses para voltar a me exercitar, e ainda não estou no auge, não.

O senhor defende a volta do auxílio emergencial?

Tem de haver uma Justiça caridosa, e uma caridade justa. Nós hoje estamos pagando o preço de termos deixado 50 milhões de brasileiros à deriva. Isso era para ter sido visto há muito tempo. Não dá para ser feliz sem pensar no outro. Foi o consumo dessa gente que recebeu o auxílio emergencial que movimentou a economia. Se eu pudesse imaginar a possibilidade de o Brasil continuar com esse auxílio, eu seria superfavorável. É temerário nesse momento deixar essas pessoas à deriva. Nós já as deixamos há muito tempo.

Os escândalos de corrupção não cessam no País. Não é frustrante?

Quando terminou o julgamento do mensalão, eu dizia ‘o Brasil nunca mais vai voltar a ser o que era’. Depois da Lava Jato, eu falei, ‘bom, agora realmente o Brasil nunca mais vai voltar a ser o que era’. Agora, esse flagelo da corrupção, que desmoraliza o Brasil, parece que está introjetado na cultura de determinadas pessoas, porque a falta de amor à coisa pública é aberrante. É inaceitável que uma pessoa queira maximizar suas rendas através do desvio de bens públicos.

A Lava Jato nunca foi tão atacada quanto agora. Teme pelos resultados obtidos na investigação?

A Lava Jato trouxe transformações sem precedentes para o Brasil, que passou a ser respeitado internacionalmente pela atuação contra desvio de dinheiro público. É verdade que, ao longo dos últimos anos, esse movimento teve perdas. Mas o País já mudou. E, na minha avaliação, o combate à corrupção não vai retroceder.

O Judiciário acaba sendo um grupo privilegiado perante o País. O senhor defende uma reforma administrativa que também envolva a magistratura?

Tem de haver uma reforma com relação ao tamanho do Estado. O Estado é muito grande e as despesas públicas são muito grandes. Eu acho que a reforma administrativa tem de obedecer ao princípio da igualdade, tem de obedecer ao princípio da isonomia. O que é ruim para o Brasil tem de afastar para todo mundo também.

O que o senhor acha da ideia do presidente Jair Bolsonaro de escolher um nome “terrivelmente evangélico” para o STF?

Isso é uma prerrogativa do presidente da República. Agora, o Supremo é um tribunal pluri-religioso, tem gente de todas as religiões aqui. O que faria um juiz, terrivelmente evangélico, num colegiado de dez não evangélicos? É preciso ter em mente que, depois da assunção ao cargo, a independência jurídica do membro do Supremo é absolutamente olímpica.

TRANSPORTES É UM PROBLEMA SÉRIO DOS BRASILEIROS

 

Sem home office, periferia se expõe mais ao coronavírus no transporte público

Levantamento do laboratório de visualização urbana MedidaSP mostra que linhas de ônibus das zonas leste e sul têm nº de passageiros próximo ao pré-pandemia

Priscila Mengue, O Estado de S.Paulo

Antes também não era fácil. Chegava-se no trabalho cansado do trajeto longo e apertado durante uma, duas, até três horas. A pandemia trouxe o temor do contágio a esse cenário já exaustivo, em que a ventilação é insuficiente, o tempo de exposição alto e o distanciamento social impossível de praticar. O paulistano que mora na periferia pouco teve a possibilidade de aderir ao “fique em casa” e, majoritariamente dependente do transporte coletivo, enfrenta dificuldades para escapar da transmissão do coronavírus.

Embora o isolamento social tenha reduzido em toda a São Paulo nos últimos meses, a distribuição é desigual. No caso de usuários de ônibus, por exemplo, um levantamento do laboratório de visualização urbana MedidaSP, com dados de todo 2020, mostra que linhas das zonas leste e sul estão com um número de passageiros próximo ao pré-pandemia, diferentemente da zona oeste.

Em uma linha que vai do distrito da Pedreira até a Estação Jurubatuba, da CPTM, na zona sul, a quantidade de passageiros até superou a do período anterior à pandemia. Por outro lado, um coletivo que sai da Aclimação, no centro, até Perdizes, zona oeste, está atendendo 30,6% da demanda usual.

Igor (de máscara branca, à direita) pega ônibus, metrô e trem no trajeto de casa, em São Miguel Paulista, na zona leste, até o trabalho, na Avenida Faria Lima, zona oeste  Foto: Tiago Queiroz/Estadão

O urbanista Bernardo Loureiro, criador do MedidaSP, lembra que o isolamento de passageiros de ônibus chegou a quase 70% no início da quarentena, mas ficou em 26% em dezembro, puxada para baixo especialmente pela periferia. Isso se torna um fator de maior destaque porque o transporte coletivo segue com redução de veículos em circulação (cerca de 88% do total em dia útil). “Se está mais ou menos a mesma quantidade de pessoas do que era antes da pandemia e a frota está menor, então vai estar mais lotado.”

É o que relata o assistente financeiro Igor Esteves de Jesus, de 28 anos, que pega ônibus, trem e metrô para ir de São Miguel Paulista, na zona leste, até o trabalho, na Avenida Faria Lima, zona oeste. “Parece que o coronavírus só não existe para quem está de home office ou tem muito dinheiro.”

Para ele, a situação é revoltante, tanto que postou imagens nas redes sociais de um vagão de trem em que os passageiros ficavam comprimidos. “O espaço em que caberia uma pessoa vai cinco. Em Itaquera, tem de entrar empurrando, não tem como se mover. Eu me sinto bem impotente, não acho justo. Não tive covid por sorte.”

Uma pesquisa de setembro da Rede Nossa São Paulo com Ibope Inteligência mostra que a população com mais de 16 anos gasta 1h56 no transporte coletivo. Por outro lado, 35% não estão se deslocando para trabalhar, 52% com rendas de mais de 5 salários mínimos.

No caso da analista contábil Mariza Santos, de 32 anos, são 2h30 do distrito de Parelheiros, no extremo sul, até as imediações do Aeroporto de Congonhas. Como “qualquer horário é horário de pico”, passa álcool em gel o tempo todo. “Chego ao trabalho e já vou lavar as mãos e trocar de máscara.”

Linhas das zonas leste e sul estão com um número de passageiros próximo ao pré-pandemia, diferentemente da zona oeste Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Pós-doutoranda em Ciências Atmosféricas na USP, Milena Ponczek defende que os passageiros estejam em assentos intercalados e haja troca de ar. E ressalta: “não importa ter ‘recirculação’ de ar, janela aberta, se estiver superlotado”. Esse cenário propício à transmissão piora com o consumo de bebidas e alimento, conversas e outras ações que criam o espalhamento de aerossóis.

Poder público reconhece risco

Em materiais de conscientização, o poder público reconhece o risco de contágio no transporte coletivo nas condições atuais. No site da Câmara de São Paulo, por exemplo, uma das medidas indicadas é evitar utilizar esse meio de locomoção. Já os protocolos da Prefeitura preveem o estímulo à mobilidade a pé e com bicicleta e indicam, dentre outros pontos: evitar comer e conversar dentro do ônibus, aguardar veículo com menos passageiros e dar preferência para o uso fora dos horários de pico (especialmente idosos).

Procurada pelo Estadão, a Prefeitura disse que, nos ônibus, a oferta está acima da demanda e o ar-condicionado filtra o ar a cada 3 minutos. Ainda citou levantamento municipal de que não haveria relação do uso de transporte e o contágio da covid. Já o governo do Estado disse que o ar é trocado cerca de 22 vezes a cada hora, quando abrem as portas dos trens e dos ônibus intermunicipais da EMTU.

NA PRÓXIMA SEMANA SERÁ O JULGAMENTO DO IMPEACHMENT DO EX-PRESISENTE TRUMP NO SENADO

 

Julgamento do impeachment pressiona senadores do Partido Republicano

No processo que começa nesta semana, tudo indica que ex-presidente americano deve ser absolvido novamente; legenda luta pela sobrevivência política dividido entre conservadores moderados e grupos de extrema direita

Beatriz Bulla / CORRESPONDENTE / WASHINGTON, O Estado de S.Paulo

WASHINGTON – O julgamento do segundo impeachment de Donald Trump, que começa na terça-feira, deve trazer menos desafios para o ex-presidente do que para o futuro dos republicanos. Trump caminha para a absolvição graças aos senadores do partido. Já a legenda tenta sobreviver em uma capital dominada pelos democratas, diante do crescimento do extremismo de sua base, divisões internas e sob a influência política de Trump.

O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump  Foto: Andrew Caballero-Reynolds / AFP

“Há uma percepção entre os republicanos de que a ala trumpista controla a base do partido. Fora dos microfones, os republicanos que estão em Washington estão aliviados que Trump tenha ido embora, mas sabem que, no nível estadual e com a base, o trumpismo continua sendo muito influente”, afirma Oliver Stuenkel, coordenador da pós-graduação em relações internacionais da FGV-SP.

Os democratas já sabem que não terão 17 votos de republicanos no Senado contra o presidente, o necessário para condená-lo e torná-lo inelegível na próxima eleição. A previsível absolvição de Trump é sinal de que a base eleitoral do partido está mais próxima das visões do ex-presidente do que do conservadorismo moderado, afirma Stuenkel. “Aquele sonho do Lincoln Project de que a ala moderada voltaria a controlar o partido parece distante hoje.” O Lincoln Project é um dos grupos de republicanos dissidentes que romperam com Trump.

Durante a eleição, nomes tradicionais do partido apelaram para que eleitores votassem em Biden, num sinal da insatisfação de republicanos que se consideram moderados. “Em tempos normais, algo assim provavelmente não aconteceria. Mas estes não são tempos normais”, disse o ex-governador de Ohio John Kasich e republicano desde a juventude ao participar da convenção democrata que nomeou Joe Biden, no ano passado. Kasich foi crítico à escolha de Trump como candidato do partido em 2016, mas se recusou a votar em Hillary Clinton.

Para os congressistas, no entanto, há um cálculo imediato: a eleição de meio de mandato, que renova parte do Congresso, acontece em menos de dois anos. Um voto contra Trump pode representar uma derrota política junto à base de eleitores no futuro próximo. “O partido está se tornando algo mais próximo de um culto pessoal do que de uma organização com base em um conjunto de princípios comuns”, diz Michael Traugott, cientista político e professor da Universidade de Michigan. “A absolvição de Trump aumentará a influência dele no partido.”

Desde a invasão do Capitólio, no dia 6 de janeiro, os republicanos têm sido pressionados a se distanciar de teorias da conspiração e a condenar milícias de extrema direita. Os simpatizantes de Trump que invadiram o Congresso tentavam impedir um dos ritos de confirmação da eleição de Biden.

Apoiadores de Trump invadiram Congresso durante a sessão que validaria a vitória de Joe Biden   Foto: Erin Schaff/The New York Times

Muitos republicanos endossaram as teorias infundadas de Trump de que houve fraude na eleição, até mesmo mais de 150 deputados. Além de não contestar abertamente as teorias do ex-presidente, que serviram de base ao ataque ao Capitólio, alguns republicanos no Congresso têm laços com a extrema direita, conforme revelou o New York Times. Há investigações internas em andamento, mas nenhuma evidência de que algum dos parlamentares tenha ajudado os extremistas no ataque.

Republicanos negaram ter qualquer relação com os radicais, mas têm se recusado a expurgar membros que abertamente apoiam teorias da conspiração. O primeiro teste ocorreu na semana passada, quando a Câmara destituiu a deputada Marjorie Taylor Greene de duas comissões. Os republicanos na Câmara se opuseram à medida.

Greene foi eleita após defender abertamente ideias ligadas ao QAnon, teoria conspiratória segundo a qual Trump é um salvador que luta uma guerra secreta contra um Estado profundo globalista, empresários como George Soros, democratas, mídia e até Hollywood para defender os EUA de satanistas e pedófilos.

A reação dos democratas na Câmara veio depois que reportagens mostraram que ela endossou, nas redes sociais, posts que incitam a violência contra parlamentares democratas, incluindo uma publicação que defendia a execução da presidente da Casa, Nancy Pelosi.

O estrategista e cofundador do Lincoln Project, Steve Schmidt, aposta que os republicanos erraram na decisão sobre Greene. E isso terá um custo político. “Marjorie Taylor Greene será a cara do partido, a cara da eleição de meio de mandato, a cara dos extremistas”, disse Schmidt em entrevista à Associated Press.

Mas, na mesma semana, o partido se recusou a afastar de posição de liderança a deputada Liz Cheney, depois que ela votou a favor do impeachment de Trump, uma decisão lida nos bastidores como um sinal de que há divisões sobre como lidar com a influência do ex-presidente dentro do partido.

Diante de uma crise de identidade, os republicanos no Senado preferem ficar na zona de conforto e não arriscar perder os eleitores de Trump. “O comportamento de cada republicano não reflete o que eles acham que está certo ou errado, mas o cálculo que estão fazendo de para onde o partido está indo”, resumiu Stuenkel.

sábado, 6 de fevereiro de 2021

LIÇÕES E EXEMPLOS DE WINSTON CHURCHILL VALEM PARA OS TEMPOS DE CRISE COMO A PANDEMIA

 

Lições de Winston Churchill para líderes globais em tempos de crise

Em tempos de combate à pandemia, líderes mundiais deveriam se ater aos ensinamentos de ‘Memórias da Segunda Guerra Mundial’

Daniel Fernandes, O Estado de S. Paulo

Era 1945. A segunda grande guerra havia acabado. Havia acabado! E esse foi o sinal para uma explosão de alegria em todo mundo. O dever de deter o inimigo maior havia sido concluído com um desfecho pouco provável cinco anos antes, quando poucos se colocaram à frente de Hitler. Um desses homens era Winston Churchill. Naquele momento de vitória, se dirigindo à nação que havia sofrido o impensável, o primeiro-ministro surpreendeu. Como era habitual. “Gostaria de poder dizer-lhes esta noite que toda a nossa labuta e todos os nossos problemas estão terminados.” Não estavam, como a maioria testemunharia pelas décadas seguintes.

Nascido em 1874, morto em 1965, oito semanas após o seu 90º aniversário, a figura de Churchill bem que poderia emergir novamente para ensinar líderes que não sabem… liderar. Não conduzem a população mundial diante de outro inimigo mortal. Desta vez, um vírus. Um novo coronavírus.

‘Essa foi uma época em que toda a Inglaterra trabalhou e se esforçou até o limite máximo e esteve mais unida do que nunca’, disse Churchill quando tudo ia mal para os aliados  Foto: E. WING/INTERNATIONAL NEWS PHOTOS

Na falta que Churchill nos faz em vida, ler Memórias da Segunda Guerra Mundial – no Brasil há uma edição menor, resumida em dois volumes, editados em 2017 pela HarperCollins com 1,1 mil páginas – serviria como uma espécie de autoajuda de alto nível. De altíssimo nível, diga-se, aos políticos protagonistas da crise atual. Pensando em facilitar as coisas a eles, há uma série de passagens dessa autobiografia que merece destaque. Se a ONU fala que a pandemia é o maior desafio desde a Segunda Guerra, e a maioria dos países trata os tempos atuais como de guerra, nada melhor do que reler as ideias do seu principal protagonista.

O dia depois de amanhã

Devastadora e aterradora, e por mais que assim seja, a crise provocada pelo vírus passará. Assim como, muito mais devastadora à humanidade, a crise da segunda grande guerra também findou. Em 1948, ainda no prefácio da edição, Churchill relembra conversa que teve com o presidente Franklin Roosevelt. Eis o nosso primeiro ensinamento. O norte-americano o pergunta sobre como a guerra deveria se chamar. “Retruquei de pronto: ‘a Guerra Desnecessária’. Nunca houve guerra mais fácil de impedir do que esta que acaba de destroçar o que restava do mundo após o conflito anterior.” Churchill, talvez fazendo uma de suas pausas dramáticas, retoma o raciocínio. “A tragédia humana atinge seu clímax no fato de que, após todos os esforços e sacrifícios de centenas de milhões de pessoas, e após as vitórias da Boa Causa, ainda não encontramos Paz ou Segurança e estejamos sujeitos a perigos ainda maiores do que aqueles que superamos.”

Conheça seu inimigo

É de Churchill, neste mesmo livro, uma análise bastante precisa daquele que seria seu principal inimigo durante cinco longos invernos. Sobre Adolf Hitler, o cabo alemão que perdera momentaneamente a visão durante a Primeira Guerra, o inglês adianta tratar-se de um inconformado com a derrota. Derrota que teria sido causada, na visão deturpada do soldado, por processos não convencionais. Teria de ter ocorrido uma traição em algum lugar. “Sozinho e ensimesmado, o soldadinho ponderou e especulou sobre as possíveis causas da catástrofe, guiado apenas por sua reduzida experiência pessoal.” O problema era que Hitler não estava sozinho. Encontra pares, nacionalistas alemães e radicais que sabem a quem culpar pela derrota. Churchill prevê a tempestade perfeita. “Em Viena, ele se misturara com grupos nacionalistas alemães radicais e ali ouvira histórias de atividades sinistras e sabotadoras de uma outra raça, inimiga e exploradora do mundo nórdico – os judeus”, conclui Churchill.

Confiança para ir até o fim

Em outra passagem, já carregada pelo drama da guerra, Churchill havia acabado de conduzir com êxito a retirada de tropas – muitas delas, inúmeras delas, todas elas? – de Dunquerque. Poderia ter terminado ali, pouco depois de começar, a Segunda Guerra caso falhasse. Não falhou e, ao reunir-se com o parlamento, Churchill considera em suas memórias que era o momento de expor tudo que havia acontecido. A real situação das coisas, da hora mais escura. Ele conclui seu discurso assim: “Muito embora grandes pedaços da Europa e muitas nações antigas e famosas tenham caído ou venham a cair sob o jugo da Gestapo e de todo o odioso aparato de dominação nazista, não esmoreceremos nem fracassaremos. Vamos até o fim”. Foram.

Ouse pedir união

Em dado momento da guerra, quando tudo ainda ia mal para os aliados, Churchill escreveu indicando que o leitor deveria compreender “quão espesso e desconcertante é o véu do desconhecido”. E acrescentaria: “Agora, à plena luz da posteridade, é fácil discernir onde fomos ignorantes ou alarmados demais, e onde fomos descuidados ou inábeis”. No espírito do momento, o primeiro-ministro sentencia: “Essa foi uma época em que toda a Inglaterra trabalhou e se esforçou até o limite máximo e esteve mais unida do que nunca”.

Recomeçar e recomeçar

A França havia caído rapidamente diante da exuberante máquina de guerra conduzida por Hitler. Havia sido subjugada, porém, sem o disparo de quase nenhum tiro, quase sem resistência. Pelo rádio, devastado, Churchill não esconde a gravidade da situação. Mas reforça sua crença inabalável num futuro menos sombrio. “Defenderemos nossa ilha em casa e, junto com o Império Britânico, prosseguiremos na luta sem nos deixarmos conquistar, até que a maldição de Hitler seja retirada dos ombros da humanidade. Temos certeza que no fim tudo sairá bem.”

Aguentar…

Ainda assim, só discursos não bastavam para conter o inimigo. E Londres não parava de ser bombardeada. Noite após noite. E a cidade ousava aguentar. Noite após noite. No primeiro volume das memórias sobre a grande guerra, o primeiro-ministro relembra uma visita trivial a um vilarejo quando sobrevém um ataque aéreo. O líder foi se abrigar em um túnel. Um túnel onde um imenso número de moradores viviam permanentemente.

…e ajudar

Quando Churchill sai da proteção, quinze minutos depois, contempla a destruição. Um pequeno hotel fora atingido. Ninguém ficara ferido, mas o lugar fora reduzido a uma pilha de louças, utensílios e móveis quebrados. “O proprietário, sua mulher e os cozinheiros e garçonetes estavam em prantos. Onde estava seu lar? Onde estava seu ganha-pão? Eis aqui um privilégio do poder. Tomei uma decisão imediata. No caminho de volta, em meu trem, ditei uma carta para o ministro das Finanças, Kingsley Wood, estabelecendo o princípio de que todos os danos resultantes do fogo inimigo ficassem por conta do estado, e de que se pagassem indenizações integrais em caráter imediato. Assim, o ônus não recairia apenas sobre aqueles cujas casas e estabelecimentos comerciais fossem atingidos, mas seria equanimemente distribuído sobre os ombros da nação.”

Sobre liderar

Em meio à euforia da vitória, Churchill se dirige novamente à nação. Celebra, mas chama todos à responsabilidade que o amanhã reserva. “Mas, ao contrário, devo adverti-los, como fiz ao iniciar esta missão de cinco anos – e ninguém sabia, na época, que ela duraria tanto – de que ainda há muito por fazer, e de que vocês devem estar preparados para novos esforços da mente e do corpo e para novos sacrifícios em nome de causas grandiosas, se não quiserem recair na vala da inércia, da confusão de objetivos e do medo covarde de serem grandes.”

Por fim, sobre ser grande

Mesmo tão próximo da história, e como sabemos, é preciso distanciamento para compreender com exatidão qualquer acontecimento da natureza daquele confronto. Churchill entende o que foi e poderia ter sido do mundo – não foi, como todos testemunhamos. “É meu objetivo, sendo alguém que viveu e foi atuante nesses dias, mostrar com que facilidade a tragédia da Segunda Guerra Mundial poderia ter sido evitada; como a maldade dos perversos foi reforçada pela fraqueza dos virtuosos; como faltam à estrutura e aos hábitos das nações democráticas, a menos que elas se agreguem em organismos maiores, os elementos de persistência e convicção que são os únicos capazes de dar segurança às massas humildes; e como, mesmo nas questões de autopreservação, nenhuma política é seguida sequer por períodos de dez ou 15 anos de cada vez.”

Senhor de um outro tempo, seu Memórias da Segunda Guerra Mundial tem, inclusive, uma moral. É certamente para facilitar as coisas para nossos líderes leitores em tempo de coronavírus. “Na guerra: determinação; Na derrota: desafio; Na vitória: magnanimidade; Na paz: boa vontade.”

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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