segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

FRETE PARA A CHINA DISPARA

 

Efeitos da covid-19 fazem custo de frete para a China disparar

Preço para trazer um contêiner de Xangai está 4,5 vezes superior ao do início de 2020

Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo

RIO – A desorganização da economia mundial provocada pela covid-19 fez explodir o custo de frete marítimo no comércio com a China. O preço médio para trazer um contêiner de Xangai para a costa leste da América do Sul, cujo principal porto é o de Santos, chegou à terceira semana deste ano quatro vezes e meia acima do registrado no início de 2020 e 18 vezes mais caro do que em meados do ano passado, quando a pandemia quase paralisou o transporte marítimo. Isso deverá provocar reajustes no preço dos produtos, dizem setores da indústria.

As margens de lucro estão apertadas, sem espaço para novas elevações de custos. Ainda ano passado, o Indicador de Custos Industriais, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apontou alta de 8,6% no terceiro trimestre ante o segundo, informou a entidade na última sexta-feira. As matérias-primas, importadas e nacionais, foram citadas como vilãs.

Terminal do Porto de Santos Foto: Divulgação

A alta no preço do frete é global, mostra uma série histórica do Índice de Frete Conteinerizado de Xangai (SCFI, a sigla em inglês), obtida pelo Estadão. Calculado pela Bolsa de Navegação de Xangai, órgão do governo chinês, o índice é referência no setor de transporte marítimo. Além do trecho entre a China e a América do Sul, o SCFI aponta para fortes altas, desde meados de 2020, no transporte da China com a Europa, a África e os Estados Unidos.

Segundo Claudio Loureiro de Souza, diretor executivo do Centronave, entidade que reúne os principais armadores – como são chamadas as empresas de logística marítima – internacionais que atuam no Brasil, a inflação do frete ocorre num cenário de “tempestade perfeita”.

A pandemia desequilibrou os fluxos do comércio internacional. As restrições ao comércio e ao transporte e a queda na demanda paralisaram navios mundo afora no primeiro semestre. No segundo, a demanda por bens voltou mais rapidamente do que o esperado, levando a uma corrida pelos serviços de transportes, que provocou falta de contêineres e navios.

Flutuação de preços

Com isso, o preço do frete entre China e Brasil, que estava em US$ 1.989 por TEU (medida padrão de capacidade, que equivale a um contêiner de 20 pés) na terceira semana de 2020, despencou para US$ 500 por TEU, em meados do ano passado, conforme o SCFI. A partir de então, os preços voltaram a subir, até que explodiram no quarto trimestre. Na terceira semana deste ano, o preço estava em US$ 8.907 por TEU.

O SCFI é formado por uma média de preços de frete negociados semana a semana – chamado no mercado de “spot”, com contratação na hora. Entre empresas que atuam no comércio exterior, há relatos de contratações saindo na casa de US$ 10 mil por contêiner, afirma Sílvio Vasco Campos, presidente da Câmara Brasileira de Contêineres (CBC). Grandes companhias que importam muito, geralmente, têm contratos de longo prazo, que não seguem esses preços, mas também enfrentam reajustes.

A inflação do frete marítimo atinge, principalmente, a indústria que usa componentes importados. Os exportadores de matérias-primas passam ao largo do problema, porque produtos como soja e minério de ferro são transportados para a China em navios graneleiros, sem contêineres, explica José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Além disso, mesmo na exportação de manufaturados, muitos contratos de comercialização deixam o custo do frete com o comprador.

Para Souza, do Centronave, a normalização nos preços do frete poderá levar tempo, em função do ritmo da vacinação, pois a pandemia continua afetando a produtividade do transporte. A eficiência da logística depende de encadeamento. Um navio carregado que sai da China precisa ficar o menor tempo possível no Porto de Santos, onde recolhe outros contêineres cheios de exportações brasileiras. As trocas de tripulação precisam ser ágeis, mas as barreiras sanitárias têm feito os navios ficarem mais tempo parados. O quadro já foi pior, mas ainda não voltou ao normal.

MAIA NA IMINENTE DERROTA QUER PUNIR O BOLSONARO

 

Maia ameaça com impeachment de Bolsonaro; PSDB e Solidariedade devem rifar Baleia

Ao ser informado pelo presidente do DEM, ACM Neto, de que a maioria dos deputados do partido apoiaria a candidatura de Lira para o comando da Câmara, Maia cogitou até mesmo deixar a sigla

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A decisão da Executiva do DEM de desembarcar do bloco de apoio à candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) e a disposição do PSDB e do Solidariedade de seguir o mesmo caminho levaram o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a ameaçar aceitar um pedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. A eleição que vai escolher a nova cúpula da Câmara e do Senado está marcada para esta segunda-feira, 1.º.

O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) Foto: Dida Sampaio/Estadão

Ao ser informado pelo presidente do DEM, ACM Neto, na noite deste domingo, 31, de que a maioria dos deputados do partido apoiaria a candidatura de Arthur Lira (Progressistas-AL) para o comando da Câmara, e não Baleia, Maia ficou irritado. O presidente da Câmara ameaçou até mesmo deixar o DEM. A reunião ocorreu na casa dele, onde  também  estavam líderes e dirigentes de partidos de oposição, como o PT, o PC do B e o PSB, além do próprio MDB.

Maia encerra o mandato à frente da Câmara nesta segunda-feira, 1º, e, segundo apurou o Estadão, afirmou que, se o DEM lhe impusesse uma derrota, poderia, sim, sair do partido e  autorizar um dos 59 pedidos de afastamento de Bolsonaro. Integrantes da oposição que estavam na reunião apoiaram o presidente da Câmara e chegaram a dizer que ele deveria aceitar até mais de um pedido contra Bolsonaro.

ACM Neto passou na casa de Maia antes da reunião da Executiva do DEM justamente para informar que, dos 31 deputados da legenda, mais da metade apoiava Lira. Pelos cálculos da ala dissidente, 22 integrantes da bancada estão com Lira, que é líder do Centrão.

O PSDB e o Solidariedade têm reuniões marcadas para esta segunda-feira, 1º e, diante da fragilidade da candidatura de Baleia, também ameaçam rifá-lo. “Ou mostramos força e independência apoiando claramente o Baleia ou adeus às expectativas de sermos capazes de obter alianças e ganhar as próximas eleições. Se há algo que ainda marca o PSDB é a confiança que ele é capaz de manter e expressar. Quem segue a vida política estará olhando, que ninguém se iluda”, disse recentemente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em um grupo de WhatsApp da bancada tucana.

O ex-senador José Aníbal foi na mesma linha. “O PSDB assumiu compromisso com Baleia. Espero que cumpra. De outro modo, é adesão ao genocida”, afirmou Aníbal neste domingo, 31.

Maia lançou a candidatura de Baleia à sua sucessão em dezembro, com o respaldo de uma frente ampla, que incluiu  partidos de esquerda. Na ocasião, o líder do DEM, Efraim Filho (PB), assinou um documento no qual o partido avalizava o nome do MDB.

Diante do racha, ACM Neto atuou para amenizar a crise. Saiu da casa de Maia e foi direto para a sede do partido. Conduziu a reunião da Executiva pedindo para que o DEM ficasse oficialmente neutro. Além das ameaças de Maia, partidos de oposição afirmaram que, com o abandono de Baleia por parte do DEM, também a esquerda poderia desembarcar da candidatura de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao comando do Senado. Até agora, Pacheco é o favorito para a cadeira de Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Ao final da reunião, a cúpula do DEM decidiu não aderir mais ao bloco de Baleia nem ao de Lira, ao menos oficialmente, assumindo posição de “independência” e abrindo caminho para  traições, uma vez que o voto é secreto. O candidato do Progressistas, no entanto, divulgou em sua agenda que nesta segunda, 1.º, às 9h30, receberá o apoio do DEM.

Nos bastidores, deputados comentavam neste domingo que o racha pode afastar o apresentador Luciano Huck do DEM. Huck planeja entrar na política para disputar a eleição para a Presidência, em 2022, e tem flertado tanto com o DEM como com o  Cidadania ao defender uma frente de centro para derrotar Bolsonaro.

A PANDEMIA EXIGE CONSENSOS

 

Consenso já

Byvaleon

 FEV 1, 2021

Consenso já

Com a eleição das Mesas da Câmara e do Senado, teremos uma oportunidade de encontrar propostas convergentes para pagar a conta da luta contra a pandemia no Brasil, voltar a crescer e criar empregos

Luiz Carlos Trabuco Cappi*, O Estado de S.Paulo

Sempre em meio ao debate acirrado e franco, e respeitando os parâmetros da democracia, a sociedade brasileira já demonstrou que sabe buscar os consensos necessários para vencer seus momentos mais desafiadores. A partir de hoje, com a eleição das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, teremos pela frente mais uma oportunidade de exercer nosso talento em encontrar propostas convergentes para vencer mais um capítulo de importância histórica para a Nação: como pagar a conta fiscal da luta contra a pandemia no Brasil, voltar a crescer e criar milhões de empregos?

Embora parecessem impossíveis, em diferentes ocasiões, inclusive na quadra histórica atual, foi possível construir soluções, como na árdua e demorada costura política de entendimentos para o duradouro pacto de transição à democracia, que resultou na Constituição de 1988.

Outro exemplo clássico é o Plano Real, de 1994, que possibilitou o fim da inflação, graças e após um esforço majoritário e continuado de várias tentativas de estabilização da economia ao longo de uma década. Em outubro de 2019, foi aprovada pelo Congresso a reforma da Previdência, o que demonstrou que o bom senso pode prevalecer mesmo em um clima de polarização política.

As três costuras políticas se viabilizaram depois de muita negociação, compreensão dos limites e respeito às diferenças e divergências.

Neste 2021, a agenda objetiva está definida, mas exige desde já a noção pragmática de que o consenso de um não representa necessariamente o consenso do outro. As reformas tributária e administrativa, as privatizações e as medidas do controle da dívida pública são tarefas que sobressaem como óbvias. Mas o caminho para chegar a elas, é pleno em obstáculos.

O debate político é natural, mas não se pode colocar o País em compasso de espera. A questão é que consensos não se encontram em prateleiras, como produtos industrializados. São sim obras artesanais feitas a muitas mãos, demandam tempo, paciência e extrema dedicação.

A reforma tributária é um exemplo dessa lógica. Há dois projetos no Congresso, um do Senado e outro da Câmara, prontos para votação, mas ambos dependem de acordo com o governo federal e os governadores – e há outra do Executivo.

É possível, mas desde que todos se empenhem na ideia de que a reforma tributária não tem um protagonista, nem dono intelectual – ao contrário, este é um projeto altruísta, que pertence a todos.

Concessões farão a diferença, e não as imposições.

Em relação à conjuntura, é consenso a renovada pauta ambiental, social e de governança. Hoje, em contraste com o que se via poucos anos atrás, não se pode ignorar os princípios ESG (Sustentabilidade, Transparência e Boa Governança).

No campo social, em ataque à desigualdade secular e ao racismo estrutural, sucedem-se mobilizações que apontam para o aumento da tomada de consciência, na sociedade, pela condenação tanto à inação frente a violências quanto a supressão de direitos civis.

Há poucas dúvidas, em adendo ao tema, sobre a importância de uma política de criação de empregos no País. Milhões de postos de trabalho foram suprimidos durante a pandemia. Não haverá resgate social bem sucedido se o Congresso não contribuir para ajudar em salvar a dignidade das famílias.

É nesse contexto que se dá a renovação das Mesas do Congresso. Pode estar aí o ponto de largada para construção e execução de uma agenda inclusiva e racional para o Brasil.

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal são o principal fórum de consolidação dos consensos da nossa democracia representativa – uma síntese da nossa sociedade, que reflete seus anseios e realidades. Caberá a cada parlamentar e, em especial, aos novos dirigentes do Poder Legislativo, estabelecerem prioridades sobre que é imediato e o que poderá esperar.

Que os sacrifícios dos momentos que passamos abram espaço para a busca dos consensos necessários em 2021. Essa é a esperança de todos os brasileiros.

*PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO BRADESCO. ESCREVE A CADA DUAS SEMANAS

ELEIÇÃO HOJE DE LIRA E PACHECO NO CONGRESSO

 

Governistas, Lira e Pacheco têm mais apoio que rivais

Candidatos com aval de Jair Bolsonaro aparecem à frente dos principais rivais na Câmara e no Senado, aponta placar ‘Estadão’

Adriana Ferraz e Bianca Gomes, O Estado de S.Paulo

Os candidatos apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro para o comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal chegam ao dia da eleição com ampla vantagem sobre seus concorrentes diretos, em quase todas as bancadas. É o que mostram os números atualizados do placar EstadãoTanto o deputado Arthur Lira (PP-AL) como o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG) somam mais votos declarados e, em tese, têm mais chances de vitória nesta segunda-feira, 1º, em Brasília.

Candidatos à presidência da Câmara e do Senado, respectivamente, Arthur Lira e Rodrigo Pacheco Foto: Agência Câmara; Pedro França/Agência Senado

Com mais de cem votos declarados à frente de Baleia Rossi (MDB-SP) na enquete publicada pela primeira vez em 15 de janeiro, Lira “ganhou” 89 apoios públicos de lá pra cá. Segundo o placar, o líder do Centrão só não tem vantagem em cinco Estados – tem menos apoios declarados no Acre e no Ceará e empata com Baleia em São Paulo, Mato Grosso e Paraíba. As outras 22 bancadas lhe dão vantagem na eleição. O voto, porém, é secreto.

Com a campanha oficial na rua desde 9 de dezembro, o deputado alagoano rodou o País visitando políticos com a promessa de dar “voz novamente à Câmara”, em uma crítica indireta à condução da Casa por Rodrigo Maia (DEM-RJ). Maia deixa o cargo nesta segunda após quase quatro anos consecutivos e sai em atrito direto com o governo Bolsonaro. Ele deixa para trás 59 pedidos ativos de impeachment ainda não analisados.

Baleia Rossi, candidato de Rodrigo Maia, e Arthur Lira, apoiado por Bolsonaro, lideram corrida pela presidência da Casa; siga distribuição de votos por deputado, partidos e Estados

O governo federal passou a ser pressionado cada vez mais por sua atuação na pandemia de covid-19 – o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, por exemplo, virou alvo de um inquérito da Polícia Federal por omissão a mando do STF. Ao mesmo tempo, Bolsonaro usou a máquina para interferir na disputa nesta reta final de campanha.

O acordo com Lira e Pacheco não inclui, segundo o Estadão apurou, apenas verbas, cargos ou mesmo dificuldades para a oposição avançar com pedidos de impeachment. Ambos não se comprometem com a instalação ou a continuidade de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) com potencial de atingir o governo.

Rodrigo Pacheco (DEM), Simone Tebet (MDB), Major Olímpio (PSL) e Jorge Kajuru (Cidadania) são os candidatos à presidência da Casa; saiba como estão distribuídos os votos para a sucessão de Davi Alcolumbre por Estado e por partido

Uma delas, já em curso, é a CPI das Fake News, que tem como alvo o “gabinete do ódio” e filhos de Bolsonaro. A outra é a CPI da Saúde, proposta por adversários para investigar falhas do governo na condução da pandemia de covid-19.

Apesar das costuras feitas pelo Planalto para viabilizar suas candidaturas, ambos os candidatos prometem, caso vençam, gestões independentes. Senador em primeiro mandato, Pacheco também coloca como prioridade a aprovação de reformas e de pautas que preservem vidas humanas e gerem renda.

Senado

Apoiado pelo presidente, Davi Alcolumbre (DEM-AP), o candidato governista do Senado já soma os 41 votos necessários para vencer a disputa, segundo placar do Estadão. Se o resultado se confirmar, Pacheco chegará à presidência do Congresso Nacional com o apoio não só dos bolsonaristas, mas de partidos de oposição, como PT PDT. Em relação às bancadas, venceria em ao menos 15 Estados.

A candidata rival, Simone Tebet (MDB-MS), perdeu força na última semana depois que seu próprio partido deixou de apoiá-la. Oficialmente, no entanto, os senadores emedebistas não mudaram o voto na enquete e ela segue com 26 votos declarados, sendo 14 da legenda. Mas a quantidade de votos ainda não revelados (9) já não são suficientes para que a senadora ultrapasse Pacheco.

Já na Câmara, o total de deputados que não quiseram dizer em quem votarão pode, em tese, fazer Baleia virar o jogo. Neste caso, ele precisaria do apoio de 93% desse grupo.

Além de Lira e Baleia Rossi, ao menos outros sete deputados lançaram candidatura à presidência da Casa. Entre eles, a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL), que está em seu sexto mandato como deputada federal. A decisão de lançar a candidatura causou atritos no PSOL, após integrantes do partido terem declarado apoio à candidatura de Baleia Rossi.

No Senado, além de Pacheco e Simone, outros três senadores lançaram candidaturas: Major Olimpio (PSL-SP), Jorge Kajuru (Cidadania-GO) e Lasier Martins (Podemos-RS).

INICIADA A GREVE DOS CAMINHONEIROS SEM MUITA ADEÃO

 

Greve dos caminhoneiros: rodovias têm fluxo livre, dizem ministério e Polícia Rodoviária

Lideranças dos caminhoneiros autônomos, transportadores de cargas, convocaram motoristas para uma paralisação a partir desta segunda-feira

Redação, O Estado de S.Paulo

Ministério da Infraestrutura e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) divulgaram comunicado no qual informam que, às 6h desta segunda-feira, 1º, todas as rodovias federais, concedidas ou sob gestão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), encontram-se com o livre fluxo de veículos, não havendo nenhum ponto de retenção total ou parcial.

Manifestação na Castello Branco, na manhã desta segunda-feira  Foto: Werther Santana/Estadão

Lideranças dos caminhoneiros autônomos, transportadores de cargas, convocaram motoristas para uma paralisação a partir desta segunda-feira. Entre outras reivindicações, os caminhoneiros querem redução de cobrança de PIS/Cofins sobre o óleo diesel, o aumento e cumprimento da tabela do piso mínimo do frete, estabelecido em 2018 após a paralisação de 11 dias, modificação da redação do projeto 4199/2020, o BR do Mar, sobre cabotagem, aposentadoria especial para o setor, um marco regulatório do transporte, entre outros pedidos.

No domingo, 31, um áudio de uma conversa entre o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, e uma liderança local de caminhoneiros, circulou em grupos de Whatsapp, no qual o ministro afirma não ter possibilidade de atender alguns dos principais pedidos do segmento. Tarcísio de Freitas confirmou ao Estadão a autenticidade do áudio e confirmou que a conversa ocorreu no sábado, 30, mas disse que se tratava, apenas, de esclarecer o papel do governo em cada demanda, o que é possível fazer e o que não é.

O Ministério da Infraestrutura informa, ainda, que boletins sobre o fluxo de veículos serão atualizados periodicamente e “estão baseados em informações do centro de controle da Polícia Rodoviária Federal”.

Manifestações no País

Algumas manifestações de caminhoneiros são vistas no Brasil na manhã desta segunda. Na rodovia Castello Branco, de acordo com a CCR ViaOeste, concessionária que administra o local, na altura do KM 27, região de Barueri, no sentido para a capital paulista, há lentidão de veículos. Apenas as faixas 1 e 2 estão liberadas, por conta dos protestos. Duas faixas estão bloqueadas. Os manifestantes estão em movimento e se deslocam no sentido para São Paulo.

No Nordeste do País, na BR-116, altura dos KMs 522 e 528, na região de Itatim, caminhoneiros protestam, de maneira pacífica, em postos de combustível do local. De acordo com a Via Bahia, concessionária do trecho da pista, não há bloqueios por parte dos manifestantes. Durante a madrugada, por volta da 1h, houve interdições na região de Vitória da Conquista, altura do KM 814. Mas, segundo a Via Bahia, a situação já foi normalizada.

domingo, 31 de janeiro de 2021

BOLSONARO TINHA SIMPATIA PELO HUGO CHAVES

 

O bê-á-bá do chavismo

Jair Bolsonaro já fez rasgados elogios ao ditador Hugo Chávez e do defunto caudilho venezuelano pegou vários cacoetes.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Os fanáticos camisas pardas bolsonaristas costumam dizer que “Bolsonaro sempre tem razão”, não por acaso uma das divisas do fascismo italiano. Mas a inspiração do movimento extremista liderado pelo presidente Jair Bolsonaro está bem mais próxima no tempo e no espaço: é o chavismo.

Os bolsonaristas podem não querer se lembrar, mas Bolsonaro já fez rasgados elogios ao ditador venezuelano Hugo Chávez, a quem hoje trata como demônio. Em entrevista ao Estado, em 1999, Bolsonaro disse que Chávez era uma “esperança para a América Latina” e que “gostaria muito que sua filosofia chegasse ao Brasil”.

Do defunto caudilho venezuelano, de fato, Bolsonaro pegou vários cacoetes: o profundo ódio pela imprensa livre, o desprezo pela democracia representativa, a militarização do governo, o apreço pelas teorias da conspiração e a mendacidade sistemática como política de Estado.

A afinidade é tanta que, enquanto Bolsonaro receita a inócua cloroquina como elixir mágico contra a covid-19, o atual tirano chavista, Nicolás Maduro, anunciou a fabricação de um certo “carvativir”, suposto antiviral que, em suas palavras, são “gotinhas milagrosas” que “neutralizam 100% o coronavírus”.

Nada disso, é claro, faz do Brasil sob Bolsonaro automaticamente um congênere da Venezuela chavista, mas há sinais evidentes de que o presidente está estudando com afinco a cartilha de Chávez – em especial os capítulos referentes ao modo como o chavismo tomou o Estado de assalto e subjugou o Legislativo e o Judiciário.

“Vamos, se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara”, informou Bolsonaro, sem meias-palavras, na quarta-feira, dia 27, em referência à sucessão no comando da Câmara dos Deputados. Para o presidente, isso é necessário “para que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”.

Por “relacionamento pacífico e produtivo” o presidente certamente entende como subserviente e caudatário. Praticamente desde a posse de Bolsonaro, o Congresso tem sido uma barreira razoavelmente sólida para as pretensões autoritárias do presidente, graças ao perfil democrático e reformista de sua atual liderança.

Mas a eleição para a presidência da Câmara, na próxima segunda-feira, pode alterar drasticamente esse quadro em caso de vitória do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), explicitamente apoiado por Bolsonaro. Fina flor do Centrão, com robusta ficha corrida e igualmente expressiva desenvoltura para angariar apoio em troca de favores, verbas e cargos, o parlamentar, se eleito, será a cabeça de ponte de Bolsonaro para conquistar o Congresso.

Se a cidadela da Câmara cair, o bolsonarismo terá removido um obstáculo crucial para avançar na tomada institucional do Estado, tal como fez o chavismo. Outros já ficaram pelo caminho: a Procuradoria-Geral da República é comandada por um fiel servidor de Bolsonaro e o bolsonarismo se espraia entre policiais e militares. É só o começo.

Profundo conhecedor do baixo estrato do Congresso, pois fez parte dele por três décadas, Bolsonaro sabe como ninguém o que faz brilhar os olhos de parlamentares que mercadejam o voto. Graças a essa habilidade e ao poder da caneta que preenche cargos e libera verbas, Bolsonaro conseguiu cooptar deputados de partidos que não estão em sua base, como DEM e PSDB.

Consta que alguns correligionários do próprio presidente do DEM, ACM Neto, decidiram votar no bolsonarista Arthur Lira porque este lhes prometeu manter apadrinhados em cargos na máquina federal. O fato de uma vitória de Arthur Lira representar enorme risco para a independência da Câmara, com consequências funestas para o País, não lhes pareceu relevante.

Cada um tem o lugar na História que merece: Bolsonaro já assegurou o dele, como o mais nocivo presidente do Brasil; já os parlamentares que elegerão o presidente da Câmara ainda podem escolher como querem ser lembrados, se como políticos responsáveis que honram o mandato que receberam ou como aqueles que, em troca de uma boquinha, entregaram o Congresso de bandeja ao Chávez de Eldorado.

CRÍTICAS AO MINISTRO DA SAÚDE NÃO PROCEDEM

 

A folha de serviços do intendente

Eduardo Pazuello se presta ao papel de títere de um presidente negacionista.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Seguramente, não é pelo talento administrativo que o intendente Eduardo Pazuello é o mais longevo ministro da Saúde desde a eclosão da pandemia de covid-19. Ele foi alçado ao cargo para que o presidente Jair Bolsonaro, enfim, tivesse à frente da pasta não um ministro da Saúde à altura do desafio de coordenar as ações do governo federal no curso da mais severa crise de saúde pública dos últimos cem anos, mas sim um títere sem brilho – e brio – que se dispusesse a cumprir ordens sem questioná-las, por mais estapafúrdias, ilegais ou imorais que fossem.

Ecoarão pela história desses tempos dramáticos no Brasil duas declarações de Pazuello, dadas em outubro do ano passado, que dizem muito sobre quem ele é e a que veio.

“Eu nem sabia o que era SUS (antes de assumir o Ministério da Saúde)”, disse o ministro durante o lançamento da campanha Outubro Rosa. Dias depois, ao ser desautorizado publicamente por Bolsonaro após anunciar tratativas com o governo de São Paulo para incorporar 46 milhões de doses da Coronavac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), Pazuello assimilou a humilhação – “Um manda, o outro obedece, é simples assim” – em vez de apresentar imediatamente a sua carta de demissão, como faria um ministro imbuído de espírito público e amor-próprio.

Um ministro com esse perfil se mostra disposto a tudo, mesmo que os resultados de sua atuação sejam desastrosos para a população.

A inabalável submissão de Pazuello aos delírios persecutórios e aos cálculos políticos de Bolsonaro ensejou a abertura de inquérito policial contra o ministro para apurar sua possível omissão no colapso do sistema de saúde de Manaus, que levou dezenas de pacientes de covid-19 à morte por asfixia em decorrência da falta de cilindros de oxigênio nos hospitais da cidade.

No âmbito administrativo, a situação do intendente não é menos desconfortável. Desde o início da pandemia, o Tribunal de Contas da União (TCU) tem elaborado relatórios de acompanhamento da gestão da crise sanitária pelo governo federal e é nítida a debacle do Ministério da Saúde a partir da posse de Eduardo Pazuello.

Na sessão do TCU de quarta-feira passada, na qual o colegiado analisou mais um dos relatórios produzidos pelo ministro Benjamin Zymler, o vice-presidente da Corte de Contas, ministro Bruno Dantas, fez um dos mais enfáticos discursos contra o descalabro em que se tornou a gestão da crise pelo governo federal.

“O Ministério da Saúde já gastou R$ 250 milhões para distribuir o chamado ‘kit covid’ por meio do programa Farmácia Popular. Este valor seria suficiente para comprar cerca de 13 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca”, disse o ministro Dantas.

O tal “kit covid” é formado por medicamentos que não têm eficácia cientificamente comprovada contra a covid-19, como a cloroquina. O que o ministro Dantas não disse, mas é possível inferir, é que o ministro da Saúde jogou milhões de reais no lixo ao concentrar suas ações na produção e distribuição do tal kit. E não fez isso, por óbvio, desobedecendo a Bolsonaro, o mais ardoroso defensor dessa mandinga.

O ministro Dantas afirmou, com razão, que o Ministério da Saúde foi tomado por negacionistas da gravidade da emergência que se abateu sobre o País e está completamente alheio às reais necessidades da população. “A sociedade brasileira clama por vacinas já. Se existem ‘terraplanistas’ no Ministério da Saúde (que propõem tratamentos ineficazes), essa gente precisa ceder espaço para a ciência. Não é possível que um tratamento como esse seja dado a famílias que estão perdendo seus entes queridos”, concluiu o ministro.

Em que pese a presença de valorosos servidores de carreira, que só Deus sabe a que tipo de pressões estão resistindo, Bolsonaro reduziu o Ministério da Saúde a um valhacouto de “terraplanistas” sob a chefia do intendente. Isto tem custado bem mais do que recursos públicos. Tem custado vidas.

AFAGO DO BOLSONARO AO CONGRESSO

 

Governo também privilegiou caciques no Congresso na reforma da Previdência

Estratégia revoltou o baixo clero no Congresso. ‘Você não pode colocar um deputado com R$ 3 milhões e outro com R$ 40 milhões. É discriminação’, afirmou o deputado Fabio Ramalho, candidato avulso à presidência da Câmara

Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A estratégia do Palácio do Planalto de privilegiar os “caciques” partidários na distribuição de recursos “extras” para cooptar votos nas eleições no Congresso provoca insatisfação no chamado baixo clero. Como revelou o Estadão, o governo de Jair Bolsonaro inovou na troca de verbas por apoio ao dar predileção a lideranças, mesmo sem mandato. A prática não começou agora. O atual candidato governista na disputa pelo comando da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), já tinha sido favorecido em 2019. Na votação da reforma da Previdência, ele foi contemplado com R$ 75 milhões do Ministério da Saúde, conforme planilha interna da pasta a que o Estadão teve acesso.

Além de Lira, o deputado Elmar Nascimento (BA), na época líder do DEM, pode direcionar R$ 78,5 milhões para seu reduto eleitoral e o líder do PL, deputado Wellington Roberto (PB), R$ 71,1 milhões. Os três, que votaram a favor da reforma do INSS, uma das primeiras vitórias do governo no Congresso, aparecem com os maiores valores distribuídos pela pasta da saúde.

A revelação é mais um fator de descontentamento do baixo clero. A Secretaria de Governo, liderada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, despejou verbas especialmente em redutos de lideranças influentes para garantir que Lira seja eleito em primeiro turno – ele teria que obter pelo 257 votos. Até agora, Lira diz contar com 217 votos. Por outro lado, Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trabalha com empate no primeiro turno, 232 votos de cada lado.

O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA); parlamentar, que votou a favor da reforma da Previdência, pode direcionar R$ 78,5 milhões para seu reduto eleitoral Foto: Dida Sampaio/Estadão

O descontentamento de deputados do baixo clero pode reduzir o favoritismo do candidato do Planalto e levar a disputa na Câmara para o segundo turno. Sem prioridade na planilha de recursos extras do governo, o grupo tem candidato próprio.

Fábio Ramalho (MDB-MG) concorre de maneira avulsa, sem aval do partido e confirma a insatisfação do setor com a planilha de controle de recursos do governo. Ele aposta no basta à “discriminação” para garantir votos. “Você não pode colocar um deputado com R$ 3 milhões e outro com R$ 40 milhões. É discriminação”, afirmou o parlamentar mineiro. “Existe o baixo clero e temos que acabar com essa discriminação que existe no Orçamento, dentro da Casa e na falta de chamar essas pessoas para discutir as matérias.”

Os deputados do baixo clero já vinham incomodados com o escanteamento ao qual foram submetidos por conta da suspensão dos trabalhos das comissões temáticas ao longo de 2020. Nesses colegiados, eles podem debater os temas nos quais militam.

Oficialmente, Baleia tem apoio do DEM, do PSDB e do PT

Numa situação inédita desde a redemocratização, partidos de campos ideológicos diferentes integram uma Frente Ampla, abrindo caminho de diálogo entre opositores de Bolsonaro no processo sucessório de 2022. Traições à parte, a candidatura de Baleia Rossi na Câmara tem, até agora, apoio oficial do DEM, do PSDB e do PT. O governo, porém, bombardeia o grupo com verbas extras para arrancar votos de dissidentes. A maior parte dos recursos, porém, fica com os caciques. Só Arthur Lira foi contemplado com R$ 109,5 milhões na planilha informal do governo.

Às vésperas da votação da reforma da Previdência, em 2019, o deputado foi o integrante do Progressistas que mais pôde escolher as bases que receberiam verbas federais. Na ocasião, o valor de R$ 75 milhões liberados em emendas para Lira foi quase quatro vezes maior do que a liberação obtida pelo segundo correligionário mais favorecido. Aguinaldo Ribeiro (PB) teve R$ 22 milhões para destinar às bases eleitorais.

Apenas com as emendas publicadas em julho de 2019, dias antes da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno pela Câmara, Lira beneficiou 36 cidades do seu Estado. E ainda pôde destinar R$ 1 milhão para Boa Vista (RR) e Ibirité (MG).

A reportagem do Estadão revelou que uma planilha de controle do Ministério do Desenvolvimento Regional indica R$ 3 bilhões em dinheiro extra para 285 congressistas – 250 deputados e 35 senadores.

Até o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que não tem mandato, aparece como beneficiário. A maior parte do recurso foi entregue ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que trabalha para emplacar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como seu sucessor, candidato apoiado pelo Palácio do Planalto. A lista de repasses da “caixinha” paralela contempla, ainda, líderes partidários como os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Wellington Roberto (PL-PB) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Estadão procurou os deputados Arthur Lira, Elmar Nascimentos e Wellington Roberto sobre os valores que receberam após a aprovação da reforma da Previdência, mas eles ainda não se manifestaram até a publicação deste texto.

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