sábado, 10 de outubro de 2020

O GOVERNO É A CASA DO CENTRÃO NA POLÍTICA

 

A casa do Centrão – Donos do governo

 

Marcos Strecker

 

Poucos nomes encarnam tão bem a degeneração política em Brasília quanto Roberto Jefferson. É uma espécie de Fênix fisiológica. Como a ave lendária, tem a habilidade extraordinária de renascer das cinzas. Foi da tropa de choque do governo Collor, no início dos anos 1990, quando o ex-presidente já enfrentava o colapso do seu governo, abandonado pelos políticos, rejeitado pela sociedade e encurralado pela Justiça. A segunda vida de Jefferson foi no governo Lula, quando integrou o condomínio de partidos comprados com dinheiro público, em pagamentos mensais, para dar sustentação ao petista.


© Ilustração sobre fotos: Fábio Motta/Estadão Conteúdo/AE; Kleitonamprim/Uol/Folhapress;         

                                                             


                                                                         Divulgação; A...© Divulgação Namoro firme O senador Ciro Nogueira (PP) participa das viagens de Bolsonaro para inaugurar obras

Trombou com o capitão do esquema, José Dirceu, e detonou o escândalo do Mensalão. Transmutou-se em uma Nêmesis, como uma figura mitológica devotada a exterminar o petismo — mesmo que isso tenha levado à sua cassação e à cadeia. Este ano, cativou Bolsonaro ao fazer uma defesa apaixonada do presidente, que estava acuado em sua cruzada antidemocrática contra o Congresso e o STF. Bolsonaro assistiu a cena pela TV. Encantado com o que viu, espalhou a manifestação do petebista. Na sua cabeça, essa foi a centelha para refundar seu governo, entregando-o ao Centrão. Já Jefferson iniciava sua terceira vida política. Passou a integrar a nova tropa de choque bolsonarista, inclusive posando com armas.

Esse é o novo retrato do governo Bolsonaro. O Centrão passou a comandar a interlocução com o Congresso e, aos poucos, assume a própria máquina do governo. Isso levará a um novo loteamento de cargos e à volta da multiplicação dos ministérios, recurso banalizado no governo Dilma. A nova pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior já foi oferecida ao presidente do Republicanos, Marcos Pereira. Devem renascer os ministérios da Previdência e do Trabalho — este último é o objeto de desejo do próprio Jefferson. O Ministério das Comunicações já voltou, entregue a Fábio Faria (PSD). Dnocs, Telebras, Ministério da Saúde e Funasa foram ocupados por nomes indicados pelo grupo, assim como o FNDE, que, sozinho, tem um orçamento de R$ 54 bilhões. Além de retalhar a pasta de Paulo Guedes, a turma já reforça a pressão pela guinada na economia, com a flexibilização do teto de gastos, ameaçando o ajuste fiscal.

Apoiam a volta do projeto desenvolvimentista, com a ampliação dos gastos públicos abastecendo programas populistas (como a agenda de inaugurações de Bolsonaro nos rincões) e assistencialistas (como o Renda Brasil). A subordinação do ministro da Economia ao grupo é evidente. Ganhou ares de pastelão em uma coletiva que abordava o fim do auxílio emergencial. O novo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP), mostrou na prática como será a nova articulação política ao puxar pelo braço o titular da Economia e interromper a entrevista em meio a repórteres incrédulos. “Combina primeiro, anuncia depois”, ensinou. Como o grupo se alimenta de verbas e cargos públicos, outro projeto vendido na campanha de Bolsonaro já foi rifado: a privatização. A venda da Eletrobras, pilar do processo de desinvestimento, foi para calendas. Já a Codevasf é representativa da volta escancarada no aparelhamento das estatais, com a criação de cargos para acomodar os novos aliados.

Combate à corrupção ameaçado



© Divulgação INSPIRAÇÃO Jair Bolsonaro assiste Roberto Jefferson defender seu governo. Depois disso, incorporou o Centrão ao governo

Mais do que tudo, o acordo com o Centrão significa abandonar escancaradamente o combate à corrupção. Bolsonaro deixou claro na última quarta-feira, 7, sua estratégia de combate aos crimes de colarinho branco. “É uma satisfação que eu tenho, dizer para essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Java Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo”, disse sem pudor. O ex-ministro Sergio Moro e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz (ex-Secretaria de Governo), defenestrados pelo presidente, protestaram. Mas não foi uma mudança de rota.

“Paradoxalmente eleito na esteira da Lavo Jato, esse é o governo que mais desmantelou o arcabouço de combate à corrupção construído nos últimos 20 anos. É uma aliança com notórios investigados “, diz Randolfe Rodrigues (Rede), líder da oposição no Senado. Ela inclui a expansão da “República da tubaína”, em referência à bebida artificial e açucarada que o presidente se orgulha de tomar com os amigos do peito. Fez parte desse movimento a nomeação do desembargador Kassio Nunes Marques para a vaga de Celso de Mello no STF, que teve o patrocínio do senador Ciro Nogueira (PP). O juiz piauiense é a grande esperança do Centrão para desequilibrar o jogo no STF e enterrar definitivamente a Lava Jato.

Por isso sua indicação foi saudada com alegria pelo notório Renan Calheiros (MDB), que se alinhou com todos os governos desde Collor e começa a se converter ao bolsonarismo. Assim como o presidente, ele traduziu de forma cristalina o novo espírito de combate à corrupção em Brasília. “O presidente já encadeou várias medidas, desde o Coaf, a questão da Receita, a nomeação do Aras para a chefia do Ministério Público, a demissão do Moro e, agora, a nomeação do Kassio. É o grande legado que ele pode deixar para o Brasil: o desmonte desse sistema”, afirmou o senador, que enfrenta pelo menos 17 processos no STF. O líder na Câmara, Ricardo Barros, que já exerceu essa função ou foi ministro de todos os presidentes desde FHC, concorda. Já disse que a Lava Jato quebrou o País. “A promessa de combate à corrupção de Bolsonaro nunca existiu de fato”, diz o cientista político Claudio Couto (FGV-EAESP).

“Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo”

Jair Bolsonaro, presidente

Nogueira, presidente do PP, apoiou a indicação de seu conterrâneo ao STF, mas não foi o único a celebrar a nomeação. O nome do desembargador foi levado ao presidente por Flávio Bolsonaro e por Fred Wassef, ex-advogado do próprio presidente que foi flagrado ao encobertar o ex-PM Fabrício Queiroz em um escritório em Atibaia (SP). Para comemorar o arranjo que levará um nome bolsonarista para o STF, foi organizado um convescote pelo ministro Dias Toffoli, que reuniu ainda Gilmar Mendes e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre. A indicação é mais um sinal de promiscuidade entre os poderes. Na presidência do STF, Toffoli celebrou um pacto político com Bolsonaro que rifava a independência do Poder Judiciário. Fora da cadeira de presidente, costura um acordão que pode garantir na Corte apoio às causas que mais interessam ao mandatário: proteger ele e os filhos, que são investigados em vários inquéritos, de interferência na PF à rachadinha no Rio de Janeiro, passando pela participação em atos antidemocráticos e a divulgação de fake news.

O novo arranjo já dá resultados. O deputado Arthur Lira foi beneficiado em setembro por uma auxiliar de Aras, que recomendou a rejeição de uma denúncia contra o líder do Centrão por propina de R$ 1,6 milhão na Lava Jato. E o rearranjo institucional continuará. Até o fim de seu mandato, o presidente terá direito a indicar pelo menos 13 nomes para o Poder Judiciário, inclusive mais um ministro do STF. Serão dez nomes nas cortes superiores e quatro nos Tribunais Regionais Federais. Indiferente à péssima repercussão do encontro que festejou a mudança no STF, Bolsonaro respondeu às críticas: “Preciso governar. Converso com todos em Brasília. Um abraço”.

Briga pela direção do Congresso

 


© Pedro Ladeira/Folhapress O ESCOLHIDO Arthur Lira (gesticulando), do PP, é o candidato de Bolsonaro para presidir a Câmara em 2021

A metamorfose em Brasília também atinge o Congresso, cuja direção será renovada em fevereiro de 2021. Bolsonaro sonha em garantir o controle da pauta legislativa na metade final de seu mandato, assim como afastar definitivamente o fantasma do impeachment. O seu candidato para presidir a Câmara em 2021 é justamente Arthur Lira. Já para a presidência do Senado, o presidente gostaria de ver a recondução de Davi Alcolumbre (DEM), que ainda tenta driblar a regra constitucional que impede a recondução em meio de mandato. Essa briga está por trás da atual disputa pela Comissão Mista de Orçamento, que determinará o Orçamento de 2021. Bolsonaro quer garantir o espaço do Centrão e evitar que o grupo de Rodrigo Maia (DEM) e Baleia Rossi (MDB) se fortaleça, unindo-se à oposição no Congresso para conquistar a direção da Câmara no próximo ano. Ambos estão unidos na campanha municipal paulistana de Bruno Covas (PSDB), que foi articulada por João Doria — na prática, esse é o embrião da candidatura do governador de São Paulo para a campanha presidencial de 2022. Bolsonaro sabe disso, e usa o Centrão para frear a ascensão do paulista.

Para recompor seu governo com o Centrão, Bolsonaro precisou jogar ao mar apoiadores de primeira hora. Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus em Cristo, reagiu enfurecido à indicação de Marques. “O PT, toda esquerda, o centrão, os corruptos e todos os que são contra a Lava Jato agradecem a nomeação de Bolsonaro para o STF”, disse. A líder das patrulhas extremistas bolsonaristas, Sara Winter, divulgou um vídeo indignada: “Não reconheço Bolsonaro. Não sei mais quem ele é. O homem que eu decidi entregar meu destino e vida para proteger um legado conservador. Não aguento mais”, afirmou. O guru Olavo de Carvalho está afastado, depois de ameaçar “derrubar o governo”, e seu pupilo Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, refugiou-se em um emprego em Washington, no Banco Mundial.

 

 


© Wallace Martins/Futura Press CABRESTO O líder na Câmara, Ricardo Barros (PP), interrompe coletiva do ministro Paulo Guedes e mostra quem manda na articulação política

O jogo agora é com os profissionais da velha política. E, ao contrário do que vendeu ao eleitorado, Bolsonaro se sente à vontade entre eles. Ele pertenceu historicamente ao grupo nos seus 27 anos de Câmara, apesar de sempre ter sido um elemento marginal, um ator do baixo clero. Já o Centrão, com seu antigo protagonista, deixou de ser um apoiador do governo de plantão para se tornar um acionista do poder. Desde a redemocratização, nenhum presidente foi tão refém do grupo. Resta saber se ele vai garantir a aprovação das pautas de seu interesse. “O governo Bolsonaro aprovou muito mais quando não tinha o Centrão do que agora, que tem base”, diz o deputado Marcelo Ramos (PL), que faz parte de um partido do grupo mas atua de forma independente. Ramos, que é ele mesmo candidato à presidência da Câmara em 2021, critica o atual arranjo bolsonarista e diz que o Parlamento está dividido por causa disso. A união com o Centrão antecipou a briga pela presidência das casas legislativas. “A Câmara está dividida por causa do processo sucessório. Quem paga a conta é o País. Tudo o que é importante está parado”, afirma.

O Centrão surgiu na Constituinte, quando o governo Sarney passou a distribuir rádios e TVs para cooptar aliados. Desde então se enraizou e espalhou. No governo Bolsonaro, o grupo fisiológico reúne mais de 200 deputados e une pelo menos dez siglas (PP, PL, PSD, Solidariedade, PTB, Avante, PROS, Republicanos, Patriota e PSC). “O Centrão teve participação em todos os governos desde 1985. Era fisiológico, do toma lá, dá cá. Evoluiu. Hoje é uma associação de perseguidos pela Justiça. É um grupo que se tornou predatório das estruturas do poder. Tem uma relação diferente em relação aos governos anteriores. O PSDB de Fernando Henrique tinha o controle.

“O Centrão é uma associação de perseguidos da Justiça. É um grupo

que se tornou predatório do poder”

Randolfe Rodrigues, senador

O governo Lula também usava até os limites do que queria. No momento atual, o Centrão manda diretamente no governo. São protagonistas centrais”, diz o senador Randolfe. O professor da FGV-EAESP acha que o casamento de Bolsonaro com o Centrão era inevitável. “Não é uma escolha, é uma contingência. O presidente não podia continuar na sua trajetória. Fez isso porque estava acuado, com inquéritos contra ele e os flhos”, diz Claudio Couto. Ele considera até que há benefícios nesse casamento de conveniências, já que foi afastado o risco de aparelhamento com os radicais, assim como a ameaça às instituições.

A própria nomeação do desembargador Kassio Marques para o STF seria um sinal de moderação. “Mas tenho dúvidas sobre quanto tempo isso vai durar. Quando Bolsonaro estiver seguro, pode retomar seu estilo disruptivo e perder o apoio que conquistou.” Mas o Centrão não se importa com o destino do governo Bolsonaro. Como já provou desde os anos 1980, está pronto para enfrentar o eventual naufrágio bolsonarista. Sabe que poderá contar com novos governantes em apuros para voltar ao poder.

O candidato fake

 


© Dida Sampaio/Estadao BASTIDORES Kassio Nunes Marques procura senadores para garantir apoio

A nomeação do desembargador Kassio Nunes Marques, do TRF-1 para o STF, estampou mais uma vez, ainda que não fosse necessária, a improvisação do governo Bolsonaro. Recém-anunciado, Marques precisou sair a campo justificando as inconsistências de seu currículo, seguindo o mesmo roteiro de Carlos Decotelli, o ministro da Educação abatido antes da posse. O desembargador diz que concluiu pós-graduação na Universidad de La Coruña, na Espanha, mas foi desmentido. Não é só. A sua dissertação de mestrado, defendida na Universidade Autônoma de Lisboa, tem trechos idênticos a artigos de outro autor. É um constrangimento para o STF, que nunca passou por um episódio semelhante.

 

BIDEN ELEITO VAI AUMENTAR OS IMPOSTOS NOS ESTADOS UNIDOS

 

Temendo mais impostos de Biden, ricos dos EUA mudam planejamento patrimonial

 

Por Suzanne Barlyn

 

 

© Reuters/KEVIN LAMARQUE .

(Reuters) - Norte-americanos ricos estão correndo para mudar seu planejamento patrimonial antes do final do ano por temer que o democrata Joe Biden vença a eleição presidencial e aumente impostos, dizem assessores financeiros.

O maior receio é a Casa Branca e o Congresso serem varridos por uma "onda azul" de vitórias democratas que daria a Biden o poder de propor e aprovar uma série abrangente de reformas tributárias.

Os ricos estão especialmente temerosos de que uma isenção que permite a indivíduos deixar até 11,58 milhões de dólares para seus herdeiros, livre de impostos sobre propriedade ou doações, seja descartada antes de expirar em 2025.

Os democratas querem aumentar os impostos sobre propriedade para a "norma histórica", de acordo com a plataforma do partido. Isto poderia significar reduzir a isenção para 5,49 milhões, a cifra em vigor antes de o presidente republicano Donald Trump sancionar um projeto de lei abrangente que incluiu benefícios para corporações e cidadãos abastados em 2017, disseram assessores.

Não está claro que rumo a eleição tomará e se alguma reforma tributária será aprovada, mas como Biden cresce nas pesquisas os ricos estão se apressando em criar trustes e revisar os existentes antes do final do ano para evitar possíveis reviravoltas tributárias em 2021, segundo assessores.

Biden também "colocará o imposto sobre propriedade de volta aos níveis de 2009" para financiar licenças familiares e médicas pagas, de acordo com seu site.

Seu plano inclui aumentar impostos sobre ganhos de capital de longo prazo, que é o lucro obtido com a venda de ativos cujos valores aumentaram.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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