terça-feira, 8 de setembro de 2020

REFORMA ADMINISTRATIVA ANTES DE SER VOTADA ESTÁ SENDO JUDICIALIZADA

 

Estabilidade, remuneração, promoções: reforma administrativa está sob batalha judicial

STF e servidores se preparam para ações contra as mudanças nas regras do serviço público consideradas inegociáveis, como estabilidade. Entidades pretendem pressionar o Congresso


VB

Vera Batista e Jorge Vasconcellos

 

''A proposta de reforma administrativa foi feita para ser aprovada, não para ser judicializada'' - Ricardo Barros, líder do governo na Câmara(foto: VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL)

Brasília - Antes mesmo de passar por votação no Congresso, Proposta de Emenda à Constituição 32/2020da reforma administrativa já encontra barreiras jurídicas. O Supremo Tribunal Federal (STF) se prepara para analisar o texto do governo, que, na prática, pode resultar no fim da estabilidade para novos servidores, inclusive do Legislativo e do Judiciário, e mudar o quadro de remunerações e a forma de provimento de cargos públicos.


Entre os pontos com maior chance de judicialização estão a possibilidade de ampliação das vagas que são preenchidas por indicação nos três poderes, alterações nos princípios da administração pública e a possibilidade de o presidente ganhar mais poder para extinguir órgãos públicos via decreto – e não por meio de projeto de lei, como ocorre atualmente.

 

A avaliação nos bastidores do Supremo, é de que o Judiciário precisa dar sua contribuição para a reforma, com o objetivo de reduzir despesas. Essa proposta deve surgir em meio ao julgamento de ações dos partidos de oposição e entidades representativas dos servidores questionando a legalidade de diversos itens da proposta. A PEC. A maioria dos críticos concorda que alterações são necessárias para reduzir os gastos públicos e elevar os investimentos em saúde, educação e segurança, mas diz que a fonte de onde jorram os recursos públicos, na forma de supersalários, não foi obstruída: Judiciário e sLegislativo.

 

''É lamentável os dois principais poderes com o maior número de privilégios não serem alcançados pelas novas regras'' - Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas(foto: JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A.PRESS)

A defesa do presidente do STF, Dias Toffoli, de alterações na magistratura, no Ministério Público e nas defensorias públicas, com salários menores no início da carreira para reduzir privilégios, deve ser mantida na gestão do sucessor, Luiz Fux. O texto final da PEC será resultado dos interesses dos deputados e senadores e da pressão dos lobbies das carreiras de Estado. Para o economista Gil Castello Branco, fundador e secretário-geral da Associação Contas Abertas, “é lamentável que os dois principais poderes, onde se encontra o maior número de privilégios, não tenham sido alcançados pelas novas regras”. “Sabemos que é possível enxurrada de ações. Não é uma reforma fácil, principalmente em ano eleitoral. Mesmo atingindo só os novos servidores, as associações já demonstram que não estão a favor. Isso por si só já dá o caráter político da reforma”, enfatiza.

 

O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), rebateu as críticas de que a proposta do governo é branda. “Disseram que a proposta é leve demais. Mas não é leve demais, foi feita para ser aprovada, não para ser judicializada. Então, queremos aprovar a reforma. Não vamos fazer uma coisa que a gente ache que tem risco de judicialização, de paralisação, de debates que inviabilizem a sua aprovação. Vamos votar rapidamente a reforma administrativa na Câmara e no Senado este ano”. Afirma.

 

A guerra já começou e vai se espraiar pelo Congresso. Servidores do topo e da base remuneratória do serviço público se uniram contra a proposta. Na semana passada, logo após a apresentação da PEC, os servidores se reuniram em assembleias virtuais para dissecar o assunto. Uma enxurrada de eventos tomou conta das redes sociais, para convocar ao debate os mais de 12 milhões de funcionários em todo o país (federais, estaduais, municipais e distritais). O Fórum Nacional das Carreiras de Estado (Fonacate), a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas), entidades dos Tribunais de Contas, da Câmara e do Senado iniciaram articulação conjunta.

 

O enfrentamento, daqui em diante, será em quatro frentes: jurídica, comunicação, parlamentar e produção técnica. O fim do regime jurídico único é uma das preocupações. “A criação de vários segmentos de servidores deixará o serviço público sujeito a ingerências políticas”, avalia Marques. Frentas e Fonacate voltam a se reunir esta semana, para analisar a proposta com mais detalhes. O deputado federal e coordenador da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público, Professor Israel Batista (PV/DF), opina que este é o início de uma das mais duras guerras de narrativa e de comunicação.

 

Também foi lançada a Jornada em Defesa dos Serviços Públicos, em ato online com a participação de centrais, entidades sindicais e parlamentares, contra a proposta. A Jornada é uma campanha para mostrar à população a importância do Estado e dos servidores públicos para o bem-estar social, saúde, educação e garantia de direitos, como os previdenciários. Um Ato Nacional em Defesa dos Servidores e Serviços Públicos acontecerá no dia 30. “Não tem estado mínimo, se depender do presidente Bolsonaro o estado é zero”, enfatizou Sérgio Ronaldo, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

Entrevista/TIAGO MITRAUD  - Deputado federal

“Sou a favor do fim dos supersalários”

 

O deputado Tiago Mitraud (Novo-MG), coordenador da Frente Parlamentar da Reforma Administrativa, é um dos defensores de mudanças significativas no funcionalismo. Para ele, as alterações no setor, ao contrário do que propõe o governo, devem atingir não só os futuros servidores públicos, mas também os atuais. Mitraud é favorável a que a reforma elimine todas as distorções, a exemplo dos supersalários pagos à elite do funcionalismo, que foir preservada na PEC da reforma. Nesse sentido, o parlamentar anunciou que tem trabalhado pela aprovação, na Câmara, do Projeto de Lei PL 3123/2015, que propõe a extinção das altas remunerações no funcionalismo e está pronto para ser votado em plenário.

 

A proposta de reforma do governo tem sido muito criticada por não atacar as principais distorções do funcionalismo, como os supersalários. Qual sua opinião?

 

Primeiramente, é bom a gente realçar o ponto positivo. E lembrando o atual contexto. A gente tem um governo em que o presidente não tinha nenhum apreço pela reforma administrativa e, quando falava dela, era dizendo que ela seria adiada para 2021 ou, sabe-se lá, quando. Estou, nesse sentido, procurando ver a metade cheia do copo. É claro que essa PEC não resolve todos os problemas, e eu também não tinha nenhuma expectativa de que essa primeira PEC resolveria. O governo tinha essa estratégia de mandar a primeira PEC para mexer na parte dos vínculos, e foi isso que ele fez. Certo ou errado, pelo menos eles se posicionaram e permitiram que agora a gente começasse a trabalhar. Então, a apresentação da PEC é um avanço, especialmente porque eu já tinha a expectativa de que ela seria somente um primeiro passo. Porque, hoje, realmente, é muito ruim essa estabilidade irrestrita dos servidores, como se fossem uma coisa só, e acho que é bem numa linha correta identificar a natureza de cada cargo e, de acordo com a natureza de cada cargo, se posicionar.

 

O senhor, ou o seu partido, pretendem apresentar alguma proposta para acabar com os supersalários no funcionalismo?

 

Ainda há pouco entendimento, em geral, sobre o que esse texto está falando. A gente está falando, nesse texto, de mudanças na estrutura de vínculos do servidor com o Estado, uma autorização para que haja uma melhor organização interna do Executivo, e tem a parte das vedações a certas distorções e benefícios. Nesse texto não se fala de supersalários, porque há um outro texto que está prestes a ser votado na Câmara, e eu, obviamente, sou a favor do fim dos supersalários. Você tem um projeto de origem no Senado, que foi aprovado lá em 2016, da relatoria da senadora Katia Abreu, e que veio para a Câmara e foi apensado a um projeto do governo da ex-presidente Dilma [PT], e hoje o relator é o deputado Rubens Bueno (Cidadania-PR). Esse projeto [PL 3123/2015] está pronto para ser votado em plenário. Quando a gente fala em acabar com os supersalários, eu concordo, mas não é nessa PEC. É nesse projeto de lei que está pronto para ser votado.

 

Por que esse projeto não foi votado ainda?

 

Há pressão, desde o primeiro semestre, para que o projeto seja votado. O presidente Rodrigo Maia chegou a colocá-lo em pauta no primeiro semestre, e teve uma pressão do Judiciário para que ele saísse de pauta, e o projeto foi retirado. Estamos aguardando, desde então. Mas penso que tem que votar esse projeto. Especialmente diante dessa pressão agora, da sociedade, para isso, acho que tem que votar. E aí a gente vai atingir todo mundo, o Judiciário, principalmente, que tem supersalários. Fizemos um pedido para que o projeto seja votado, mas ainda não há uma sinalização de que vai ser votado em breve. Já deveria ter sido votado há muito tempo. Particularmente, acho que as mudanças devem ser estendidas aos membros de poder, que são, justamente, promotores, parlamentares, magistrados, por exemplo.

 

 

 

 

 

ESCOLAS BRASILEIRAS SÃO AS QUE ESTÃO MAIS TEMPO FECHADAS DEVIDO À PANDEMIA

 

Brasil está entre países que fecharam escolas por mais tempo na pandemia: 'É uma das decisões mais difíceis'

Relatório da OCDE avalia impactos da covid-19 sobre educação no mundo e aponta desafios e potenciais da retomada

 


 

Em média, os países da OCDE haviam mantido suas escolas fechadas por 14 semanas até o fim de junho; no Brasil, foram 16 semanas ate essa data(foto: Reuters)

pandemia do novo coronavírus tem sido como um "abalo sísmico" na educação global, aponta relatório divulgado nesta quinta-feira (8/9) pela OCDE, que coloca o Brasil no grupo dos países já com mais tempo de escolas fechadas desde o início da pandemia.


Até o fim de junho, de 46 países avaliados no relatório, 52% deles haviam fechado suas escolas por 12 a 16 semanas e 28% as mantiveram fechadas por 16 a 19 semanas. O Brasil, onde a maioria das escolas permanecem fechadas, está bem no limiar — com 16 semanas contabilizadas até 30 de junho.

Em média, porém, os países da OCDE haviam mantido suas escolas fechadas por 14 semanas até o fim de junho.

Outros 17% dos países iniciaram a reabertura de suas escolas após no máximo 12 semanas fechadas.

A OCDE destaca, porém, que os dados devem ser vistos com cautela, uma vez que muitas vezes a situação varia dentro de cada país (já que autoridades municipais têm autonomia sobre seus sistemas educativos locais) e porque algumas redes incluíram férias e feriados durante os períodos de fechamento.

Além disso, muitos países no hemisfério Norte reiniciaram seu ano letivo agora em setembro, ficando de fora dos números acima.

No relatório anual Education At Glance, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o chamado "clube dos países ricos" avalia aspectos da educação de seus 38 países-membros e de países parceiros, que é o caso do Brasil.

 


Escola sendo preparada para reabertura no Camboja; tamanho das turmas é critério crucial, diz OCDE(foto: EPA)

 

A edição de 2020 focou no impacto da covid-19 sobre a educação mundial, mas também em diferentes segmentos de políticas educacionais, como ensino técnico e preparação de jovens para o mercado de trabalho.

Tamanho das turmas e desafios da reabertura

O tamanho das turmas é, segundo a OCDE, "um parâmetro crítico" para a reabertura das escolas, já que "países com turmas menores podem ter mais facilidade em cumprir com as novas exigências de distanciamento social".

Nesse ponto, o Brasil tem uma situação mais desafiadora que a maioria da OCDE: aqui, o tamanho médio das turmas dos anos iniciais do ensino fundamental é de 24 alunos nas escolas públicas, contra 21 na média de países da organização.

Esse número sobe para 28 alunos por turma nos anos finais do ensino fundamental (contra média de 23 na OCDE).

No entanto, destaca o relatório, "a necessidade de reduzir o tamanho das turmas pode depender de outros fatores, como espaço físico, disponibilidade de salas e de funcionários e decisões pessoais de estudantes e educadores sobre o retorno às aulas".

Como e quando reabrir escolas, lembra o relatório, "é uma das decisões mais difíceis e sensíveis das agendas políticas" da atualidade, destacando que diferentes países foram forçados a tomar diferentes medidas com base nos estágios da pandemia e nas possibilidades de novas ondas de contágio.

 

Como e quando reabrir escolas, lembra o relatório, "é uma das decisões mais difíceis e sensíveis das agendas políticas" da atualidade(foto: Reuters)



"Na maioria dos países onde as escolas reabriram, a presença não é obrigatória para todos os estudantes, para levar em consideração os que estão doentes ou têm parentes no grupo de risco, ou porque as escolas não conseguiriam receber todos os estudantes por causa das novas medidas sanitárias que exigem distanciamento social", prossegue o relatório.

A maioria também reabriu gradualmente — em muitos países europeus, priorizando a volta da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, antes dos alunos mais velhos. Já a Coreia do Sul, por exemplo, deu preferência aos estudantes dos anos finais do ensino médio, prestes a prestar exames finais e se preparar para a universidade.

'Esnobado', ensino técnico é reforço para preparar jovens na crise

Em um contexto de crise econômica aguda, os jovens tendem a ser os mais afetados pelo desemprego. O ensino técnico, defende a OCDE, pode ser um escudo protetor, ajudando o aluno a entrar no mercado de trabalho em empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Mas é uma modalidade que não recebe a atenção necessária.

"O ensino técnico oferece habilidades técnicas e profissionais para a força de trabalho. Comumente negligenciado em favor de rotas acadêmicas mais prestigiosas, esse tipo de ensino muitas vezes é deixado de lado em debates de políticas educacionais", diz o relatório.

Em média, diz o relatório, 11% dos estudantes de ensino médio do Brasil optam por programas técnicos ou vocacionais, número bem inferior à média da OCDE (42%).

A educação profissionalizante faz parte do Plano Nacional de Educação, conjunto de metas previsto em lei para serem atingidas (embora muitas já tenham sido descumpridas) pelo Brasil até 2024.

No caso, a meta é ter 5,2 milhões de matrículas de ensino profissional no ensino médio. Em 2017, porém, o Brasil tinha apenas 1,8 milhão dessas vagas.

"Durante a quarentena, a dependência de serviços vitais de manufatura e saúde, muitos dos quais fincados na educação vocacional, joga luz, mais do que nunca, que precisamos olhar para ela com novos olhos e implementar medidas para aumentar sua atratividade para aprendizes em potencial", diz, no relatório da OCDE, o secretário-geral da entidade, o mexicano Angel Gurría.

Um ponto positivo aferido pelo relatório da OCDE é que aumentou, entre 2009 e 2019, a quantidade de jovens brasileiros com diploma de ensino superior. No entanto, no ano passado, enquanto 21% dos brasileiros de 25 a 34 anos tinha curso universitário completo, esse índice é de 45% na média dos países da OCDE.

Em artigo no relatório, Angel Gurría lembra que a pandemia de covid-19 já aumentou as dificuldades dos alunos mais vulneráveis e, por conta da crise econômica, deve comprimir os gastos públicos com educação.

Enquanto as perspectivas futuras são incertas, diz Gurría, "a pandemia expôs nossa vulnerabilidade a crises e revelou o quão precárias e interdependentes são as economias que criamos. (...) Nossa capacidade de reagir efetiva e eficientemente no futuro dependerá da preparação dos governos. Por meio de seu papel em desenvolver as competências e habilidades necessárias para as sociedades do amanhã, os sistemas educacionais precisarão estar no âmago desse planejamento."


AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...