domingo, 23 de agosto de 2020

O BRASIL JÁ ESTAVA MAL MUITO ANTES DA PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

 

Não culpem só a pandemia. O Brasil já ia muito mal

 

Rolf Kuntz *

 

 

A pandemia forçou o governo a cuidar da economia real e até dos pobres, mas falta um plano para consolidar a retomada, combiná-la com o conserto das contas públicas e, sobretudo, reconduzir o País ao desenvolvimento. Falta um governo do tipo necessário a um país emergente. O Brasil já ia muito mal antes do novo coronavírus. Com o desastre ocasionado pela covid-19, muita gente parece haver esquecido aquele quadro sombrio. O desafio imediato é sair do buraco e retomar as condições anteriores ao grande tombo. Mas o problema real é muito maior e qualquer discussão séria – sem populismo e sem jogadas eleitorais – tem de partir desse ponto. Para onde rumava o País antes da tragédia de 2020?

Sinais vitais do comércio e da indústria têm melhorado, mas em junho a produção industrial continuou abaixo do nível de fevereiro. Se tivesse voltado àquele nível, ainda estaria 16,6% abaixo do pico alcançado em maio de 2011. A partir desse topo o declínio da indústria, até a recessão de 2015-2016, é bem visível nas séries do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Houve alguma reação em 2017 e 2018, mas o impulso acabou no primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro.

Depois de três anos de queda, a produção da indústria avançou 2,5% em 2017 e 1% em 2018, mas declinou 1,1% em 2019. Bolsonaro e equipe tiveram uma estreia desastrosa – mesmo sem contar a vergonha diplomática e o vexame da política ambiental. O produto interno bruto (PIB) cresceu 1,1% – menos que em cada um dos dois anos anteriores – e o desemprego permaneceu na faixa de 12% a 13%. De novembro a fevereiro, antes, portanto, da nova crise, a produção industrial foi sempre menor que no mês correspondente do ano anterior.

Com a pandemia, a partir de março ficou menos visível a diferença entre os novos desafios econômicos e os velhos problemas estruturais, exceto pelos detalhes mais chocantes. Quando foi preciso pensar em prevenção, isolamento, contenção do contágio e, enfim, socorro aos mais vulneráveis, mais luz foi lançada sobre a pobreza extrema e as condições de saneamento e de habitação de milhões de famílias. Dados abstratos, como o coeficiente de Gini, transformaram-se de repente em cenas assustadoras ao vivo e em cores.

A desigualdade passou de mero indicador a fato escancarado. A realidade confirmou a advertência do Fundo Monetário Internacional (FMI): para executar as políticas emergenciais os governos latino-americanos precisariam chegar a segmentos sociais ainda intocados pelas políticas públicas. A experiência brasileira comprovou de forma chocante essa previsão.

Mas nem seria preciso chegar às cenas de pobreza extrema para perceber o enorme desafio. Bem antes da pandemia e da recessão no primeiro semestre de 2020, o desenvolvimento brasileiro havia sido travado. A baixa qualidade do emprego, a informalidade e os níveis escandalosos de pobreza eram os sinais mais claros da interrupção de um longo processo.

Tinha havido alguma redução da desigualdade nas últimas décadas e crescente inclusão, embora os indicadores sociais continuassem ruins. A crise da indústria, visível antes da recessão de 2015-2016, realçou problemas cada vez mais graves: baixa produtividade, formação deficiente de capital humano, pouca inovação, ampla predominância dos segmentos de baixa tecnologia e escassa competitividade.

Protecionismo excessivo e insuficiente participação nas cadeias globais foram facilmente identificados, há anos, como entraves importantes. Burocracia, insegurança jurídica, tributação disfuncional e financiamento escasso também têm sido apontados, há muito tempo, como obstáculos à eficiência e à competitividade.

No mesmo período o agronegócio brasileiro se consolidou como potência mundial. A trajetória começou há décadas. Foi essencial a ação do setor público, por meio do trabalho da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e de sua cooperação com outras instituições. Também houve boas estratégias de financiamento, de logística, de zoneamento e de difusão de tecnologia. Com eficiência, em 30 anos a produção cresceu muito mais que a área ocupada. Poupando terras, o agronegócio tem garantido a segurança externa da economia brasileira.

Por que a agropecuária cresceu e ocupou espaços no mercado global, enquanto a indústria, com exceção de alguns segmentos e grupos empresariais, emperrou e até regrediu? Como programar a retomada industrial? Como ordenar as ações? Essas perguntas poderiam abrir um reexame do crescimento, da modernização e das funções das políticas públicas.

É inútil propor esse tipo de assunto ao presidente Bolsonaro. Ele repassará a questão ao seu “posto Ipiranga”, o ministro da Economia. Mas será uma surpresa se ele responder com algo diferente de seu discurso habitual. Aprovada a reforma da Previdência, ele se concentrou em duas missões, aparentemente essenciais, em sua opinião, para a prosperidade brasileira: eliminar os encargos da folha salarial e recriar com nova cara a CPMF. Para que complicar a conversa?

 

sábado, 22 de agosto de 2020

MISSÃO MARTE - 45 ANOS DE LANÇAMENTO DA SONDA VIKING

 

Pesquisa em Marte: 45 anos do lançamento da sonda Viking

 

Agência Brasil

/


Sonda foi primeiro artefato da Terra a pousar em solo marciano

O lançamento da sonda Viking 1, em 20 de agosto de 1975, há exatos 45 anos, marcou a primeira vez que um artefato da Terra pousou e fez experimentos em solo marciano. O evento fazia parte do Programa Viking, responsável por lançar outra sonda, a Viking 2, quase um mês depois. Ambas aterrissaram no ano seguinte, sendo responsáveis por coletar imagens, dados e realizar experimentos científicos no solo do planeta vermelho. Os aparelhos continuaram a transmitir informações para a Terra até 1982, quando um comando errado resultou na interrupção das comunicações com a primeira sonda lançada e última a ser desativada.

O lançamento da sonda Viking 1, em 20 de agosto de 1975, há exatos 45 anos, marcou a primeira vez que um artefato da Terra pousou e fez experimentos em solo marciano. O evento fazia parte do Programa Viking, responsável por lançar outra sonda, a Viking 2, quase um mês depois. Ambas aterrissaram no ano seguinte, sendo responsáveis por coletar imagens, dados e realizar experimentos científicos no solo do planeta vermelho. Os aparelhos continuaram a transmitir informações para a Terra até 1982, quando um comando errado resultou na interrupção das comunicações com a primeira sonda lançada e última a ser desativada.

“Ela (a Viking 1) também foi a primeira a mandar uma imagem do solo, onde conseguimos ver as rochas, ver a areia, imagens que para nós hoje são rotina, mas na época eram um novo mundo”, acrescenta o professor.

Ele diz ainda que se você quer entender o relevo e os processos maiores que deram origem aos acidentes geográficos, as imagens em órbita são as mais adequadas. Porém, outras informações podem ser observadas a partir de imagens mais próximas. “Pela própria forma da rocha você pode saber se houve água ou não, porque a gente sabe da Terra, por exemplo, que seixos arredondados são causados por erosão, principalmente de água.”

Desafios para aterrissar

Os desafios para que a missão fosse um sucesso não foram poucos. A entrada na atmosfera e o pouso em Marte envolveu riscos. Para começar, não era possível controlar a sonda em tempo real: Marte está há 227 milhões de quilômetros da Terra. Isso significa que quaisquer comandos transmitidos a partir das antenas da Nasa, a agência espacial norte-americana, mesmo viajando à velocidade da luz, demorariam vários minutos para chegar ao planeta vermelho.

A solução, informa o professor Alexandre, foi deixar todos os comandos e movimentos a serem realizados durante a aterrissagem programados ainda na Terra. Simples, em princípio, mas um procedimento fracassado várias vezes desde a primeira tentativa de pousar em Marte, feita pelos russos com a sonda Marte 2, em 1971. “Marte tem uma atmosfera muito rarefeita, isso traz dificuldades tremendas para o pouso”, observa. “É muito complicado desenvolver a frenagem da sonda na entrada do planeta com essa característica.”

Então, para evitar que todas as horas de trabalho dos engenheiros aeroespaciais acabassem pulverizadas em vários pedaços sobre o chão marciano foi preciso lançar mão de recursos para reduzir a velocidade da sonda. Um revestimento blindado e a abertura de paraquedas fizeram isso no primeiro momento. Ao se aproximar do solo, foi a vez de retropropulsores entrarem em ação para garantir que todo o equipamento pousasse de forma suave.

Não é à toa que a aterrissagem em Marte ficou conhecida como os sete minutos de terror. “Isso é uma sequência que até hoje não está bem dominada, tivemos recentemente sondas perdidas indo para Marte ou para a Lua”, lembra Alexandre. Para completar, só alguns minutos depois é possível saber se o pouso obteve êxito. Depois disso, segue a montagem da estação e o início da operação dos instrumentos que realizarão as medições e experimentos. É só aí, também, que será possível saber se algum deles foi danificado durante a descida.

Riscos
A tudo isso se somavam os perigos impostos pelo clima. O astrofísico da Universidade de Brasília (UnB) Ivan Soares explica que Marte é assolado constantemente por tempestades de areia. “As missões soviéticas deram errado porque caíram durante tempestades como essas, por causa disso a missão mais bem-sucedida deles só durou 14 segundos”, conta. Segundo ele, só foi possível contornar esse problema pelo trabalho realizado por missões anteriores. “Tivemos a sonda Mariner 9 que mapeou o solo e o clima marciano e assim foi possível prever o melhor momento e lugar para um pouso tranquilo”, explica o pesquisador. “Então a equipe que lançou a Viking 1 teve a chance de corrigir onde ela iria pousar.”

Assista explicação do prof. Alexandre Zabot sobre as conquistas do Programa Viking:

 

Viver em Marte?

Esta é uma das respostas que os pesquisadores buscam. Marte é o quarto em distância do Sol – está a 227 milhões de quilômetros da estrela – e possui características muito similares à Terra.

Adriano Leonês, membro do Clube de Astronomia de Brasília, professor de ciências e especializado em ensino de ciências pela UnB, está acostumado a observar o planeta. “Da mesma forma que a escolha do melhor momento para o lançamento de uma missão ao planeta, o período perfeito para observá-lo é quando Marte e a Terra estão em máxima aproximação um do outro”, esclarece. “Com telescópios um pouquinho mais robustos conseguimos ver as falhas geológicas e as calotas polares.” A olho nu, o brilho avermelhado do astro confunde-se com o da estrela Antares, cujo nome se origina justamente da expressão “rival de marte”, para mostrar essa semelhança.

Mas é a semelhança do planeta com a Terra que o faz tão interessante para a ciência. “É um planeta rochoso e, apesar da atmosfera ser tênue, ele tem sim uma carga atmosférica que tornaria possível um organismo viver lá”, afirma o professor. As características tão próximas fazem com que muitos cientistas considerem a possibilidade real de o ser humano habitar Marte um dia e, antes mesmo disso, explorá-lo. “O interesse científico nesse planeta advém das melhorias nas missões para que se possa habitá-lo em algum momento”, avalia Adriano.

Adriano Leonês, membro do Clube de Astronomia de Brasília, professor de ciências e especializado em ensino de ciências pela UnB, está acostumado a observar o planeta. “Da mesma forma que a escolha do melhor momento para o lançamento de uma missão ao planeta, o período perfeito para observá-lo é quando Marte e a Terra estão em máxima aproximação um do outro”, esclarece. “Com telescópios um pouquinho mais robustos conseguimos ver as falhas geológicas e as calotas polares.” A olho nu, o brilho avermelhado do astro confunde-se com o da estrela Antares, cujo nome se origina justamente da expressão “rival de marte”, para mostrar essa semelhança.

Mas é a semelhança do planeta com a Terra que o faz tão interessante para a ciência. “É um planeta rochoso e, apesar da atmosfera ser tênue, ele tem sim uma carga atmosférica que tornaria possível um organismo viver lá”, afirma o professor. As características tão próximas fazem com que muitos cientistas considerem a possibilidade real de o ser humano habitar Marte um dia e, antes mesmo disso, explorá-lo. “O interesse científico nesse planeta advém das melhorias nas missões para que se possa habitá-lo em algum momento”, avalia Adriano.

Pesquisas espaciais e tecnologia

Um benefício que a humanidade já colhe com as expedições a Marte é a tecnologia. “Entre os vários aspectos há a necessidade de miniaturizar tudo, porque você não vai levar um laboratório do tamanho de uma sala, vai ter que reduzir para uma caixa de 10 por 10 por 10 centímetros”, explica Ivan, cuja área de pesquisa inclui o uso de radiotelescópios para pesquisar as propriedades fundamentais no universo. O celular, que todos têm à mão nos dias de hoje, com componentes minúsculos que o fazem funcionar, tornou-se viável em grande parte em decorrência dos avanços da exploração espacial. Quem leu até aqui se lembra também que foi decisivo para missões como a Viking o uso de sistemas automáticos. “Um pesquisador pega uma amostra e fica anos analisando aquela amostra, mas lá no espaço não tem o pesquisador, então você tem que desenvolver o software”, explica Ivan.

Desde as primeiras sondas Viking, os experimentos seguiram caminhos semelhantes, mas agora o mundo está presenciando um grande avanço com o envio da missão Mars 2020, em que um veículo rover batizado de Perseverance – capaz de andar sobre a superfície do planeta – foi enviado a Marte, em um lançamento realizado no dia 30 de julho de 2020, com previsão de chegada em 18 de fevereiro de 2021. “Nós melhoramos muito o controle, o que permitiu missões mais audaciosas, pousar uma tonelada em Marte é algo extraordinário”, diz Alexandre, referindo-se ao peso total do rover da Mars 2020.

Entre os novos feitos previstos estão a coleta e armazenamento de amostras de solo que poderão, em missões futuras, serem enviadas de volta à Terra; o sobrevoo pioneiro de um veículo com hélices, um pequeno drone; e os primeiros experimentos de geração de oxigênio, pavimentando a estrada em direção às missões tripuladas ao planeta vermelho. E assim, segue a marcha do ser humano em direção às estrelas.

A CONQUISTA DO SOLO DE MARTE

A partir da primeira tentativa de pousar em marte, o ser humano enviou 17 missões aterrissadoras. Conheça abaixo seis delas:

1971
Marte 2


Lançada em 19 de maio de 1971 pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), era composta por um orbitador, que transmitiu dados sobre a superfície do planeta até 1972, e um aterrissador, que foi destruído ao chocar-se com o solo sem retornar nenhum dado. Carregava um pequeno robô chamado Prop-M, programado para andar 15 metros, parando a cada 1,5 metro para analisar o solo. Foi o primeiro objeto feito pelo homem a tocar a superfície de Marte.

1975
Programa Viking (Viking 1 e Viking 2)


O Programa Viking, da Nasa, consistia em uma missão orbitadora e aterrissadora. As sondas operaram durante vários anos, sendo as primeiras a funcionar em solo marciano. Nesse período, os orbitadores coletaram 52 mil magens e cartografaram 97% da superfície de Marte, enquanto os aterrissadores retornaram 4.500 imagens, dados da superfície, clima, atmosfera, mudanças sazonais, além de realizarem experimentos biológicos.

1996
Mars Pathfinder


Lançada em 4 de dezembro de 1996 pelos EUA, a Pathfinder inaugurou o uso de veículos rovers na superfície marciana. Os rovers Sojourner pesavam cerca de 10 kg, tinham 62 cm de comprimento, 47 cm de largura e 32 cm de altura e possuíam seis rodas. No total, a missão coletou 16 mil imagens do aterrissador e 550 dos rovers, 15 analises químicas das rochas e estudou o clima. Ao fim, cumpriu a totalidade de seus objetivos.

2003
Mars Exploration Rover A e B


A missão Mars Exploration Rovers lançou para marte em junho e julho de 2003 dois rovers maiores que os da Pathfinder, pesando 180 kg cada e podendo percorrer 100 metros em um dia marciano. As metas da missão incluíam realizar um estudo mineralógico e sobre a história do clima e da água de Marte em duas regiões que podem ter sido favoráveis ao desenvolvimento de vida: Gusev Crater e Meridiani Planum.

2011
Mars Science Laboratory (MSL)


O lançamento dessa missão aconteceu em 26 de novembro de 2011 e levou a Marte o rover Curiosity, tendo pousado em agosto do ano seguinte na cratera Gale. A sonda ainda está ativa e investiga a existência de vida em marte, o clima, a areologia, além de coletar dados para uma futura missão tripulada ao planeta vermelho.

2020
Mars2020


O lançamento da missão que levou o rover Perseverance e um pequeno helicóptero, batizado de Ingenuity, aconteceu em 30 de julho. A previsão é que a missão chegue a Marte e pouse na cratera Jezero em 18 de fevereiro de 2021. O rover está equipado com vários instrumentos, tendo entre suas missões a coleta de amostras geológicas do local. Ingenuity realizará pela primeira vez um voo programado sobre a superfície marciana
.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...